Você está na página 1de 4

CUIDADOS DE SAÚDE E PROLONGAMENTO DE VIDA:

O PROBLEMA DA DISTANÁSIA
Trabalho escrito de Filosofia – Ensaio filosófico

Daniela Wang, N.º8, 11.ºA

20 de outubro, Torres Vedras, 2023/2024

Professor Fábio Martins, EITV


Escola Internacional de Torres Vedras

Os melhoramentos tecnológicos, especialmente na medicina, são,


indiscutivelmente, uns dos maiores motivos pela qual a longevidade humana tem
aumentado, como diz Luciana Zaterka no excerto dado: “é inegável que
tratamentos antes imagináveis tornaram-se uma realidade quotidiana”. Com isto,
pretendo introduzir o seguinte problema: serão os tratamentos experimentais
realmente um forma de prolongar a vida?

Acredito que a insistência no prolongamento de vida através da distanásia,


resulta, paradoxalmente, no prolongamento de morte. A distanásia, derivada dos
termos gregos dýs (mal) e thanatos (morte) significando então “má morte”,
consiste no prolongamento de vida de um doente em fase terminal, sem
perspetiva de cura ou melhoras sensíveis, recorrendo a procedimentos e/ou
tratamentos desproporcionados. Esta abordagem médica, apesar de ser
considerada uma má prática, não deixa de ser feita, como é possível verificar-se
no caso de Hisashi Ouchi. A 30 de setembro de 1999, Hisashi Ouchi de 35 anos,
torna-se vitima de uma explosão acidental de uma solução de urânio, causada
pelo mesmo e mais dois trabalhadores da fábrica de combustível JCO. Por
vontade da sua família, os médicos repetidamente reviveram Ouchi quando o
seu coração parou, mesmo quando era claro que os danos sofridos no incidente
eram irreversíveis. A esposa de Ouchi esperava que ele sobrevivesse até pelo
menos o ano novo, já que era a chegada dos anos 2000, mas acaba por falecer
a 21 de dezembro de 1999 após uma paragem cardíaca irrecuperável, marcando
assim 83 dias desde o acidente. Este exemplo demonstra como o prolongamento
excessivo de vida pode ser impulsionado pelo egoísmo e como o mesmo impacta
negativamente a qualidade da morte.

No entanto, há quem contra argumente que o prolongamento de vida


trata-se de uma escolha, seja ela autónoma ou feita pelos familiares do paciente
e, consequentemente, os profissionais de saúde são obrigados a respeitar os
desejos dos familiares ou do paciente. No caso de Ouchi, de acordo com a lei
japonesa, os médicos eram legalmente obrigados a prosseguir com o tratamento
até que nada mais pudesse ser feito, com exceção da permissão expressa de
Ouchi para suspender o tratamento, permissão que não foi concedida durante o
período em que ele ainda era capaz de se comunicar. Este contra argumento
pode ser justificado através do utilitarismo de Mill, já que a escolha de prolongar

1
Escola Internacional de Torres Vedras

a vida (seja ela feita pelos familiares ou pelo próprio paciente) pode ser a que
promove a maior felicidade, tornando assim o prolongamento de vida eticamente
correto.

Contudo, esta objeção não é bem-sucedida, pois o prolongamento de vida,


como mencionei previamente, é um paradoxo para o prolongamento de morte
que, inequivocamente, é proporcionado pela persistência do sofrimento e falta
de dignidade perante o paciente. Mesmo que o paciente escolha sofrer, o mesmo
torna-se inútil quando não existem perspetivas reais de recuperação, tornando o
sofrimento desnecessário. Para além disso, essa escolha impede que haja uma
morte mais tranquilo que, naturalmente, pode ajudar as famílias a lidar melhor
com a perda do paciente.

Concluo com este ensaio que o prolongamento de vida é desnecessário


e que, como uma sociedade, devíamos aceitar a morte como uma parte natural
da vida em vez de negar essa realidade através de métodos dolorosos. Se nos
focarmos maioritariamente em cuidados paliativos em vez do prolongamento de
algo inevitável, até podemos aproveitar o utilitarismo de Mill a nosso favor, já que
o mesmo pode vir a trazer ainda mais felicidade se proporcionarmos conforto e
apoio ao paciente e à sua família durante o processo de fim de vida.

576 palavras

2
Escola Internacional de Torres Vedras

Bibliografia
• GAMA, Ana da. et al. 2021. Como Pensar Tudo Isto? Filosofia – 10.º Ano.
Lisboa: ASA.
• PIRES, Catarina. 2023. Ponto De Fuga 11; Filosofia – 11.º Ano. Lisboa:
Areal Editores.

Webgrafia
• distanásia | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa:
https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/distan%C3%A1sia
(17 de outubro)
• END OF LIFE CARE:
https://www.globalfamilydoctor.com/site/DefaultSite/filesystem/document
s/resources/ENG_Acompanyar_Mort_RPQ_MAQ3bis%20APM.pdf (17
de outubro)
• Hisashi Ouchi Suffered an 83-day Death By Radiation Poisoning:
https://science.howstuffworks.com/hisashi-ouchi.htm (17 de outubro)
• O que é a eutanásia, distanásia ou ortotanásia?:
https://www.dn.pt/portugal/o-que-e-a-eutanasia-distanasia-ou-
ortotanasia-9386909.html (17 de outubro)

Você também pode gostar