Treinamento por Reforço Positivo: Arara-azul-grande (Anodorhynchus

hyacinthinus)

1. Introdução
A arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus) é uma das espécies mais
emblemáticas e ameaçadas de extinção da fauna brasileira. Esta ave, que pode chegar a
medir até um metro de comprimento e pesar cerca de 1,5 kg, possui uma plumagem
predominantemente azul, com um anel amarelo ao redor dos olhos e uma mancha
amarela no queixo. Ela é encontrada em áreas do Cerrado, Pantanal e Amazônia, sendo
encontrada em países como Brasil, Bolívia e Paraguai.
Apesar de sua beleza e imponência, a arara-azul-grande é uma espécie ameaçada
de extinção e, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza
(IUCN), a principal ameaça para a espécie é a perda de habitat, causada principalmente
pelo desmatamento e pela conversão de áreas naturais em pastagens e plantações de
monoculturas. Além disso, a captura para o comércio ilegal de animais silvestres também
é uma ameaça significativa, especialmente na região amazônica. Estima-se que, nos
últimos 15 anos, mais de 10.000 araras-azuis foram retiradas da natureza para o
comércio de animais de estimação e que atualmente existam apenas cerca de 6.500
indivíduos na natureza.
Diante dessas problemáticas, a conservação da arara-azul-grande, tanto
ecologicamente quanto culturalmente, é essencial para garantir a sobrevivência a longo
prazo da espécie e para a manutenção da biodiversidade dos ecossistemas em que ela
habita. Ecologicamente, ela é um importante dispersor de sementes de árvores e
palmeiras, o que contribui para a manutenção da biodiversidade das florestas tropicais,
além disso, a presença dessas aves indica a existência de ecossistemas saudáveis e em
equilíbrio. Culturalmente, ela é um símbolo da fauna brasileira e tem grande valor para as
populações indígenas da região, que a consideram um animal sagrado e que tem um
papel importante em suas crenças e tradições, sendo também, um importante atrativo
para o turismo de natureza, gerando renda e empregos em várias regiões do país.
Dentre as estratégias para a conservação da arara-azul-grande e outras espécies
ameaçadas, a educação ambiental é uma ferramenta crucial para a conscientização da
população sobre a importância da preservação do meio ambiente e da biodiversidade. Ela
tem como objetivo conscientizar as pessoas sobre a importância da preservação do meio
ambiente e da biodiversidade, além de promover ações concretas para a proteção desses
recursos. Os zoológicos desempenham um papel importante na conscientização e
proteção, uma vez que são espaços onde as pessoas podem conhecer de perto diversas
espécies animais e participar de ações de educação ambiental.Nesse contexto, o
treinamento de arara-azul-grande através do reforço positivo pode ser uma ferramenta
valiosa para a educação ambiental e a conservação da espécie.
Sendo assim, para tornar essa educação ambiental ainda mais efetiva, é
fundamental que ela seja baseada em técnicas de treinamento positivo, como o reforço
positivo. Esse método consiste em recompensar os comportamentos desejados dos
animais com algo que eles considerem valioso, como comida, brinquedos ou elogios.
Dessa forma, os animais são incentivados a repetir esses comportamentos, o que facilita
o treinamento e a realização de atividades que contribuam para a conservação da
espécie.
O reforço positivo teve sua origem na psicologia comportamental, sendo aplicado
inicialmente em humanos e posteriormente adaptado para o treinamento de animais.
Atualmente, ele tem sido aplicado com sucesso em diversas espécies, incluindo
mamíferos, aves, répteis e peixes, para ensinar comportamentos simples ou complexos,
como a aproximação dos tratadores, a permanência em determinadas áreas do recinto, a
realização de exames de rotina e a apresentação de comportamentos naturais. No caso
da arara-azul-grande, o treinamento com reforço positivo pode contribuir para a educação
ambiental e para a conservação da espécie, permitindo que esses animais participem de
programas de reprodução em cativeiro e de outras atividades que visem a sua proteção.
Além disso, o treinamento positivo pode ser uma ferramenta importante para melhorar o
bem-estar dos animais em cativeiro, reduzindo o estresse e a ansiedade associados.
Assim, o presente trabalho tem como objetivo explorar o potencial do treinamento
com reforço positivo na gestão de arara-azul-grande em cativeiro e na promoção da
educação ambiental. Serão apresentados os princípios e técnicas do treinamento com
reforço positivo, exemplos de comportamentos que podem ser treinados em
arara-azul-grande, estratégias de aplicação na educação ambiental e resultados
preliminares de um projeto piloto em um zoológico brasileiro. Espera-se que este estudo
contribua para o conhecimento sobre o manejo e conservação da arara-azul-grande e de
outras espécies ameaçadas de extinção, bem como para a disseminação de práticas
sustentáveis e conscientização ambiental.
 As araras-azuis são animais inteligentes e altamente sociáveis, e são capazes de
aprender e exibir uma grande variedade de comportamentos através do condicionamento.
Quando treinadas com reforço positivo, que envolve recompensar comportamentos
desejados com uma recompensa, as araras-azuis podem ser ensinadas a executar
truques e tarefas complexas.
Durante o treinamento, as araras-azuis geralmente exibem comportamentos como
vocalizações, agitação das asas, curiosidade e interação com o treinador. Conforme o
treinamento avança, elas começam a exibir comportamentos mais direcionados ao
objetivo, como pegar objetos com o bico, subir em um poleiro, ou ficar na mão do
treinador.
A frequência da recompensa é um fator crítico no sucesso do treinamento. As
araras-azuis são animais altamente motivados por comida, e, portanto, as recompensas
alimentares devem ser entregues com frequência suficiente para manter a motivação e o
interesse do animal no treinamento. A duração da sessão de treinamento também é
importante, já que as araras-azuis podem se cansar facilmente se as sessões forem muito
longas.
As araras-azuis também podem ser treinadas em uma variedade de ambientes, o
que pode ajudar a manter o interesse e a motivação do animal. É importante lembrar, no
entanto, que novos ambientes podem ser estressantes para as araras-azuis, portanto, a
introdução a novos locais deve ser feita gradualmente.
Para garantir que o treinamento por reforço positivo seja eficaz, é importante que o
treinador acompanhe de perto o comportamento da arara durante o processo. Para isso,
algumas informações devem ser registradas durante o treinamento, assim será possível
avaliar o progresso da arara e fazer ajustes na estratégia de treinamento, conforme
necessário. O registro dessas informações pode ajudar a identificar padrões de
comportamento, entender as preferências da arara e adaptar o treinamento às suas
necessidades individuais.
A seguir, serão apresentados os fatores que devem ser registrados durante o
treinamento para garantir o sucesso e o bem-estar da arara-azul.

1. Dia da semana: Indica o dia da semana em que o treinamento foi realizado. Essa
informação pode ser importante para avaliar se há variações no comportamento da
arara ao longo da semana.
 2. Peso: Indica o peso da arara no momento do treinamento. O peso pode influenciar
o nível de energia e disposição da arara para o treinamento.
3. Etapa do treinamento: Indica a fase atual do treinamento em que a arara se
encontra. Neste caso, são duas etapas, a primeira é a associação das sementes
com o clicker e a segunda é o condicionamento para ficar na mão.
4. Comportamento observado: Descreve os comportamentos exibidos pela arara
durante o treinamento, como, por exemplo, pegar a semente ou se aproximar da
mão do treinador. Frequência de recompensa: Indica a quantidade de vezes que a
arara recebeu uma recompensa (semente) durante o treinamento.
5. Frequência de treinamento: Indica a quantidade de vezes que o treinamento foi
realizado naquele dia da semana. Isso pode ajudar a avaliar o impacto da
frequência no progresso da arara.
6. Nível de motivação: Avalia o nível de motivação da arara para o treinamento,
podendo ser alto, médio ou baixo. Duração da sessão: Indica quanto tempo durou
cada sessão de treinamento. Isso pode ajudar a avaliar se a arara tem uma
capacidade de concentração maior ou menor.
7. Variedade de ambientes: Indica se o treinamento foi realizado em diferentes
ambientes (ex: dentro da gaiola, no poleiro, em outro cômodo da casa), o que pode
influenciar o comportamento da arara e sua capacidade de generalizar o
comportamento aprendido.
8. Progresso geral: Indica o progresso geral da arara no treinamento, incluindo quais
comportamentos ela já aprendeu e quais precisam de mais trabalho. Isso permite
que o treinador avalie o progresso da arara e faça ajustes no treinamento conforme
necessário.
Durante o treinamento por reforço positivo com araras-azuis, o tipo de recompensa
alimentar utilizada é um fator crítico para o sucesso do treinamento. Como mencionado
anteriormente, as araras-azuis são altamente motivadas por comida, e recompensas
alimentares são frequentemente utilizadas para incentivá-las a exibir comportamentos
desejados.
No entanto, é importante levar em conta o ranking alimentar das araras-azuis ao
escolher as recompensas a serem usadas no treinamento. Algumas espécies de araras,
como a arara-azul-grande, têm preferências alimentares muito específicas e podem
rejeitar recompensas que não estejam de acordo com seu ranking alimentar.
 Portanto, é importante que o treinador conheça as preferências alimentares
específicas da arara-azul que está sendo treinada e use recompensas que sejam
altamente valorizadas por ela. Isso pode incluir frutas como açaí, caju e banana, além de
nozes e sementes como amendoim, girassol e castanha do Pará.
Ao usar recompensas alimentares durante o treinamento, é importante lembrar de
equilibrar a quantidade de alimento dado com a quantidade de exercício físico que a
arara-azul recebe. Uma dieta saudável e equilibrada é essencial para manter a saúde e o
bem-estar da arara-azul, além de ajudá-la a executar os comportamentos aprendidos com
sucesso.

Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira Segunda-feira Terça-feira

Data
(22/02/2022) (23/02/2022) (24/02/2022) (28/02/2022) (29/02/2022)

Jack - 1194g
Peso (g)
John - 1398g

Etapa do Associação
treinamento sementes/clicker

Jack e John
ficam
Comportamento
apreensivos com
observado
o barulho do
clicker.

Frequência de
10/10
recompensa

Frequência de
1x/dia
treinamento

Nível de
Médio
motivação

Duração da
10
sessão (min)

Variedade de Poleiro dentro do

ambientes recinto

Jack e John
estão fazendo
progresso no
treinamento,
Progresso geral
ambos estão
associando o
clicker com a
recompensa