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DIREITO E MEIO AMBIENTE

1. ELEMENTOS DE ECOLOGIA

- O termo Ecologia foi cunhado originalmente em 1866 pelo biólogo e médico alemão
Ernst Heinrich Haeckel (1834-1917), a partir dos radicais gregos “oikos” (casa) e
“logia/logos” (estudo).

- Portanto, Ecologia significava originalmente o estudo do meio onde se vive sob o


ponto de vista eminentemente biológico e naturalista. Em português o termo Ecologia
foi utilizado pela primeira vez por Pontes de Miranda em 1924.

- Ecologia é a ciência que estuda as relações dos seres vivos entre si e com o seu meio
físico. O meio físico, nesse contexto, deve ser entendido como o cenário natural em que
esses seres vivos se desenvolvem. O meio físico é composto por elementos abióticos,
como o solo, relevo, recursos hídricos, ar e clima.

- Ecologia é o ramo da ciência concernente à inter-relação dos organismos com seus


ambientes, manifestada em especial por: ciclos e ritmos naturais; desenvolvimento e
estrutura das comunidades; distribuição geográfica; interações dos diferentes tipos de
organismos; alterações de população. É o modelo ou a totalidade das relações entre os
organismos e seu ambiente. (WEBSTER’s in Américo Martis da Silva, v.1, p. 45)

- Ecologia atualmente passou a significar o movimento ativista voltado para a proteção


ambiental, inclusive com conotações intelectuais, artísticas, sociais e políticas. A
Ecologia foi escapando dos limites estritos das biociências para ganhar novos
parâmetros científicos interdisciplinares. Sugiram assim a “ecologia humana” (estuda a
correlação do homem com o meio ambiente), a “ecologia social”, a “ecologia urbana”, e
outras.

- Ecologia não é sinônimo de meio ambiente. O objeto de estudo da ecologia é


descobrir e relacionar os princípios e fatores ambientais que regulam o ecossistema,
proporcionando o equilíbrio da atividade de todos os organismos vivos de uma
comunidade, humanos ou não. Por sua vez, meio ambiente trata da soma das condições
externas e influências que afetam a vida, o desenvolvimento e a sobrevivência de um
organismo (The World Bank, in Américo Martins da Silva, v.1, p. 54).

- Fritjof CAPRA da Universidade de Berkeley – Califórnia, EUA (in Édis Milaré, p.


111) aborda os Princípios de Ecologia:

. Nenhum ecossistema produz resíduos, já que os resíduos de uma espécie são o


alimento de outra;
. A matéria circula continuamente pela teia da vida;
. A energia que sustenta estes ciclos ecológicos vem do sol;
. A diversidade assegura a resiliência (capacidade de um material voltar ao seu
estado normal depois de ter sofrido tensão);
. A vida, desde seu início há mais de três bilhões de anos, não conquistou o planeta
pela força, e sim através de cooperação, parcerias e trabalho em rede;

1.1- Meio ambiente e recursos naturais

- O conceito de meio ambiente é mais abrangente que o conceito de ecologia. Não


compreende apenas o meio físico biológico, mas, também, o meio social e cultural, e
relaciona os problemas ambientais com os modelos de desenvolvimento adotados pelo
homem (Conclusão da UNESCO, 1974, in Américo Martins da Silva, v.1, p. 56).

- Definição ampla de meio ambiente:

. Meio ambiente constitui o conjunto de todos os fatores físicos, químicos,


biológicos e sócio-econômicos que atuam sobre um indivíduo, uma população
ou uma comunidade (Interim Mekong Comitee in Américo Martins da Silva,
v.1, p. 54).

. Meio ambiente é a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e


culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as
suas formas (José Afonso da Silva in Édis Milaré, p. 114)
- Definição de Recursos naturais - A categoria dos recursos naturais é parte de um
conjunto mais amplo, a dos recursos ambientais.

. A CF de 1988 em vários de seus dispositivos tratou dos recursos ambientais,


conferindo a propriedade dos mesmos à União ou aos Estados, estabelecendo
também a competência para legislar sobre os mesmos.

. São recursos naturais: a água (art. 20, III e 26, I); as ilhas (art. 20, IV e 26, III);
os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva
(art. 20, V); o mar territorial (art. 20, VI); as cavidades naturais subterrâneas (art.
20, X); as florestas, a fauna e a flora (art. 23, VII, e 24, VI); as praias (art. 20,
IV); os sítios arqueológicos, pré históricos, paleontológicos, paisagísticos,
artísticos e ecológicos (art. 20, X e 216, V), os espaços territoriais especialmente
protegidos (art. 225, §1°, III e §4°).

- CONCLUSÃO: Portanto, percebe-se que todo recurso natural é um recurso ambiental.


Porém, nem todo recurso ambiental será natural. Em outras palavras, está claro que o
Direito Constitucional brasileiro também estende sua proteção sobre seres (biosfera =
vegetais e animais), bens culturais e históricos (art. 20, X e 216, V), que também se
inserem entre as espécies do gênero “recursos ambientais”.

(08.08.2011)

- A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL não se resume tão somente à água, ao ar, ao


solo ou ecossistemas naturais, mas também os sítios arqueológicos, pré-históricos,
paleontológicos, paisagísticos, artísticos e ecológicos.

- LEI N° 6938/1981: Definição legal de recursos ambientais

Art° 3°. Para os fins previstos nesta lei, entende-se por:


[...]
V- Recursos ambientais (não deveria ser “naturais”?): a atmosfera, as águas
interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o
subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.
1.2- Dinâmica interna, externa e intemperismo

- DEFINIÇÃO DE RELEVO: O relevo corresponde ao conjunto de formações


apresentadas pela litosfera (camada superficial sólida da terra). Essas formas são
definidas pela estrutura geológica combinada com as ações da dinâmica interna e
externa da Terra.
A estrutura geológica diz respeito ao tipo de rocha — magmática, sedimentar ou
metamórfica –, bem como à idade que elas apresentam — mais antigas ou mais
recentes. As características tais rochas condicionam a ação dos fatores modificadores do
relevo os chamados agentes de erosão ou de intemperismo.

- FATORES DO RELEVO

(a) Os fatores de dinâmica internos (tectonismo, vulcanismo e abalos sísmicos) são


responsáveis pela elevação ou rebaixamento da superfície da crosta terrestre;

(b) Os fatores de dinâmica externos: A ação do sol e do calor, o resfriamento das


chuvas, das águas correntes, do vento, do mar, do gelo, dos seres vivos, dentre outros,
são fatores do fenômeno denominado INTEMPERISMO, causando fragmentação das
rochas e pela alteração das propriedades físico-químicas do solo e outras modificações
na sua superfície.

- Os fatores externos são as chuvas, a água corrente, o vento, o gelo, o calor, além da
própria gravidade, que desgastam e modificam o relevo terrestre, tendendo a
uniformizá-lo. Isso só não ocorre por causa da endodinâmica, isto é, a atuação dos
fatores internos. Além disso, o desgaste das formas de relevo está associado à maior ou
menor resistência da rocha à erosão. As rochas sedimentares, por exemplo, formadas
por sedimentos originários de outras rochas, geralmente dispostos em camadas, são
menos resistentes à erosão que as rochas magmáticas, originárias da solidificação do
magma, e as metamórficas, que são rochas transformadas por variações de pressão e
temperatura.

- O intemperismo é seguido pela erosão, transporte e sedimentação, ou seja, deposição


dos sedimentos nas áreas mais baixas do terreno. Isso é feito pelos agentes externos, que
podem ser a água das chuvas, dos mares ou dos rios, o gelo, o vento, além da própria
gravidade, por meio de desmoronamentos.

1.3- Minerais, Cristais, Rochas e Solos

- A biosfera (em sentido amplo) compreende todos os elementos da superfície da terra,


ou seja, é o conjunto de regiões do planeta que possibilitam a existência permanente dos
seres vivos. Pode ser dividida em três regiões distintas:
(a) litosfera: camada superficial sólida da terra (crosta terrestre), situada acima do nível
das águas, composta de rochas, solo e subsolo;
(b) hidrosfera: ambiente líquido (rios lagos e oceanos) que cobrem 71% da superfície da
terra
(c) atmosfera: camada gasosa que circunda a superfície da terra.
(d) biosfera (em sentido estrito): representada por todas as formas de vida, animais e
vegetais;

a) SOLO: Reúne os quatro elementos da biosfera. É o produto da desagregação das


rochas da superfície da Terra (intemperismo). É resultado líquido da ação do clima e
dos organismos, especialmente da vegetação e dos microrganismos existentes em sua
composição, sobre a rocha mãe na superfície da terra;
No solo as rochas se desintegram e fraturam-se em partículas cada vez menores,
onde sofrem reações químicas.. É recurso ambiental previsto na Lei n° 6938/81

. DEFINIÇÃO: Terra, território, superfície considerada em função de suas qualidades


produtivas e suas possibilidades de uso, exploração ou aproveitamento.

. A defesa do solo é objeto da competência concorrente da União, Estados e Distrito


Federal (CF, art. 24, VI).

. LEGISLAÇÃO DE PROTEÇÃO DO SOLO AGRÍCOLA: Código Florestal (Lei n°


4771/65 – APP’s e RL); Lei de Política Agrícola (Lei n° 8171/1991); Lei de
Agrotóxicos (Lei n° 7802/1989, regulamentada pelo Decreto n° 4074/2002 – O STJ
afirma a competência dos entes federativos para legislar sobre a matéria, menos os
municípios); Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12305/2010).

b) MINERAÇÃO: Ocorre na forma de jazidas ou garimpagem, possuindo elevada


importância na economia e relevante papel social. Contudo, é fonte de perturbações
ecológicas, pois seu processo de exploração pode contaminar os mananciais (ex.
mercúrio) e abrir verdadeiras crateras.
Os recursos minerais são bens da União (CF, artigos 20, IX e 176). A exploração
dos recursos minerais exige ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL (CF
artigo 225, IV e §2°), bem como obrigação de recuperar o meio ambiente degradado, de
acordo com a solução técnica exigida pelo órgão público competente.
No nível da legislação ordinária temos:

. Código de Mineração (Decreto n° 62934/1968)


. Lei n° 6938/1981 (artigo 2°, VIII, sobre recuperação de áreas degradadas),
regulamentado pelo Decreto n° 97632/1989, que exige dos empreendimentos
que explorem recursos minerais PLANO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREA
DEGRADADA, quando da apresentação do EIA.

1.4- Recursos hídricos, ecossistemas e biodiversidade

a) Recursos hídricos: A água está distribuída de forma desigual pela superfície da


terra. A maior parte está no mar (97%). O restante (3%) é água doce, principalmente em
geleiras. O depósito de águas subterrâneas (ex.: Aqüífero Guarani) é maior que o de
águas superficiais.
. O cultivo de alimentos consome 69% da água do planeta. As indústrias
consomem outros 21%. Apenas 10% vão para o consumo doméstico1.

. São necessários 2.800 a 4.500 litros de água para produzir 1 quilo de carne de
frango. Outros 4.600 a 5.900 litros para produzir um quilo de carne de porco e
13.500 a 20.700 litros para um quilo de carne de boi2.

1
ADEODATO, Sérgio. Líquido precioso. <http://www.planetasustentavel.com.br> Disponível na
internet. Acesso 26.03.2009.
2
Anúncio do site <http://www.planetasustentavel.com.br> veiculado na Revista Veja. Abril: São Paulo.
Edição n° 2105, 25.03.2009.
. Até 2030, quando a produção mundial tiver aumentado 3,5 vezes, a água será
tão escassa que a disputa pela sua posse será motivos de conflitos,
principalmente na África, onde hoje existe maior pobreza.

. BEM DIFUSO: A CF considera a água é um bem difuso, bem tipicamente ambiental


de uso comum do povo, “bem essencial à qualidade de vida” (artigo 225 da CF);

. As águas pertencem à União (lagos, rios e quaisquer correntes de água em


terrenos de seu domínio; também quaisquer correntes de água que banhem mais
de um estado, sirvam de limite, que se entendam ou provenham de estados
estrangeiros; terrenos marginais e praias fluviais), aos Estados (águas
superficiais, subterrâneas, fluentes emergentes e em depósito) e ao Distrito
Federal, de acordo com a localização dos corpos hídricos.

. A água constitui recurso ambiental tutelado pelo poder público. É bem imóvel
de domínio público, adstrito a um regime jurídico de bem público, tendo em
vista sua importância para a vida (consumo humano e ecossistemas) e também
como insumo de processos produtivos (energia elétrica e indústria).

. Potencial hídrico é da União (CF artigo 20, VIII e 176), assim como o mar
territorial.

. Compete ainda privativamente à União legislar sobre águas e energia (artigo


22, IV da Constituição Federal de 1988).

. A água é um recurso ambiental (art° 3°, V, da Lei 6938/81 e 2°, IV da Lei


9985/2000)

. POLUIÇÃO DA ÁGUA: “É qualquer alteração química, física ou biológica que possa


importar em prejuízo à saúde, à segurança e ao bem-estar das populações, causar dano à
flora e fauna, ou comprometer o seu uso para finalidades sociais e econômicas” (Artigo
13, §1° do Decreto 70030/73 e artigo 3°, III da Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente).
. CÓDIGO DE ÁGUAS (Decreto n° 24.643 de 10.07.1934): Não menciona a expressão
recursos hídricos e não estabelece a distinção deste com o termo “águas”.

. ÁGUAS NO CC DE 2002: repetiu a visão do CC de 1916, considerando a


possibilidade de apropriação da mesma pelo regime da propriedade privada, conforme
definido nos códigos civilistas, pesadamente influenciados pelo Código Napoleônico.
Assim, após o advento da CF de 1988, a água não é mais um “bem público”, conforme
definições contidas nos artigos 99, I e 100 do CC.

. LEI N° 9433/1997: instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, regulamentando


o inciso XIX do artigo 21 da CF; Dispõe que a água é um bem de domínio público,
recurso natural limitado, dotado de valor econômico (art 1°). Previu a cobrança pelo uso
de recursos hídricos (art.° 19).

. LEI N° 4771/1965: Código Florestal, APP’s.

a.1) Mar Territorial:

. O mar territorial e seus recursos naturais são bens da União (artigo 20, V e VI).

. LEI N° 7.661/88: Regulamentada pelo Decreto federal 5.300/2004. Instituiu o plano


nacional de gerenciamento costeiro – PNGC, dispondo sobre as regras de uso e
ocupação da zona costeira e estabelece critérios de gestão da orla marítima. Este é o
instrumento legal de proteção contra a ocupação desordenada da orla marítima
brasileira, considerada patrimônio nacional pela CF 1988 (§4°, artigo 225).

. AGUAS MARINHAS: São constituídas pelo mar territorial, zona contígua e alto mar;

. MEIO MARINHO: É formado pelas águas marinhas, pela plataforma continental e


pela zona econômica exclusiva;

. MAR TERRITORIAL: É a extensão do Estado soberano brasileiro, composto da faixa


de mar de 12 milhas marítimas de largura. Até 1982 prevalecia o entendimento de que o
mar territorial era de 200 milhas marítimas (antigo Decreto 1098/1970). Com a
Convenção da ONU naquele mesmo ano (Montego Bay, Jamaica) estabeleceu-se por
tratado que este não poderia ir além das 12 milhas marítimas. O Brasil assinou tal
tratado. A Lei que estabelece tal limite é a Lei n° 8617/1993.

. ZONA CONTÍGUA: Estende-se da linha da base do mar territorial (12 milhas) até 24
milhas marítimas. O alto-mar consiste nas águas situadas além da zona contígua.
Nesta zona o Estado costeiro pode tomar as medidas de fiscalização necessárias
para evitar ou reprimir infração às leis e regulamentos.

. ALTO MAR: Constituído das águas para além da zona contígua. Nem todo ele é
aberto a todos os Estados. Isso só ocorre em relação às partes do mar não incluídas na
zona econômica exclusiva, no mar territorial ou nas águas interiores de um Estado.

. PLATAFORMA CONTINENTAL: Conforme referida no texto constitucional


compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do mar
territorial, alcançando até 200 milhas marítimas.

. ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA: Compreendida além do mar territorial, em que o


Estado costeiro exerce soberania e jurisdição. Não superará as 200 milhas.

b) Ecossistemas:

DEFINIÇÃO: “São sistemas de plantas, animais e microorganismos interagindo com os


elementos inanimados do seu meio. A biosfera é constituída de um mosaico de
ecossistemas. [...] Não há lugar em que não se identifique um ecossistema: rios, mares,
lagos, lagoas, estuários, pântanos, brejos, florestas, cerrados, campos, serras, montes e
montanhas são exemplos dos mais importantes ecossistemas.” José Afonso da Silva, p.
93

Cada ecossistema começa onde termina o outro. Ambiente (parte física: ex. floresta) e
ecossistema (parte biológica) não são a mesma coisa.
A CF impõe ao dever público o dever de “prover o manejo ecológico dos ecossistemas”
(artigo 225, §1°, I da CF).

c) Biodiversidade:

DEFINIÇÃO: “Biodiversidade ou diversidade ecológica significa a variedade entre os


organismos vivos de todas as fontes, incluindo, entre outras, ecossistemas terrestre,
marítimo e outros aquáticos e os complexos de que eles sejam partes; isso inclui
diversidade dentro das espécies, entre as espécies e de ecossistemas.” (Convenção sobre
Biodiversidade, ECO Rio 1992 in José Afonso da Silva, p. 91).

15.08.2001

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