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LOTEAMENTO PARA INCORPORAÇÕES

Estudo de Viabilidade Urbanística

Leonardo Urbano Sobrinho


Orientação:

Prof. Dr. João Fernando Pires Meyer


Prof. Dr. Sílvio Soares Macedo

FAU USP, 2015


LEONARDO URBANO SOBRINHO

LOTEAMENTO PARA INCORPORAÇÕES


Estudo de Viabilidade Urbanística

Orientação: Prof. Dr. João Fernando Pires Meyer


Prof. Dr. Sílvio Soares Macedo

Trabalho de conclusão de curso apresentado à


Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de São Paulo
para obtenção do título de
arquiteto-urbanista.

São Paulo, janeiro de 2015


DEDICATÓRIA
Às populações dos municípios brasileiros vítimas do descaso e incompetência de certos planejadores públicos e privados
AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Khaled Ghoubar


Ao Prof. João Meyer
Ao Cláudio Zomignan
Ao Prof. Sílvio Soares Macedo
Ao Hélio Mítica Neto
Ao Prof. Ângelo Salvador Filardo Jr.
Ao José Rocha Filho
Ao Rubens Urbano Filho
Ao Renan Mandai
Ao Raoni Cursi A. do Nascimento
RESUMO ABSTRACT

Loteamento para Incorporações: Estudo de Viabilidade Urbanística Urban Settlement for Land Development: Urbanistic Feasibility Study

O objetivo do trabalho é criar e registrar o processo de criação de um plano diretor de uso e ocupação em This work intents to create a master-plan for a mixed-use neighborhood on a 300 ha land (741 acre)
uma área de 300 ha localizada na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e, dentro de um recorte located on São Paulo’s Metropolitan Area (RMSP) and also register the creation process on four chapters:
do plano, criar o projeto básico do sistema viário local e o ensaio de volumetria do bairro planejado. law reading, site selection, site analysis and project. Beyond the master-plan, the project includes the
basic road system and the building’s volumetric study on a portion of the master-planned area.
No primeiro capítulo é apresentada e interpretada parte da legislação vigente aplicável até novembro
de 2014. Entendê-la será de fundamental importância para a correta modelagem do empreendimento. The first chapter presents part of the applicable laws edited until November 2014, which regulate
the urbanization acts in Brazil and in São Paulo State. The correct law’s comprehension will be quite
O segundo capítulo apresenta o processo de escolha do terreno, baseado em critérios legais, ambientais important to correct enterprise modeling.
e urbanísticos, sendo esse terreno objeto da análise desenvolvida no terceiro capítulo, que indicará e
organizará através de mapas as restrições descritas na lei. The second chapter presents the site selection process, based on legal, environmental and urbanistic
criteria. One land is chosen, being the analysis object of the following chapter, which indicates on maps
As informações obtidas nessa análise são sobrepostas então numa matriz de aptidões, que sintetizará the restrictions imposed by law.
os potenciais e limitações do terreno escolhido e apoiarão as principais decisões de projeto. A seguir,
a análise externa visará à compreensão do entorno e sua articulação com o terreno, dando subsídio à All information obtained on site analysis will be overlapped on a suitability matrix, which will synthesize
definição dos acessos viários e à configuração do plano diretor. potentials and limitations for the chosen land and will support project decisions. Later, the external
analysis will aim the comprehension of the lands’ neighborhood, helping the structural decisions, like
O último capítulo é dedicado ao projeto, elaborado a partir de duas abordagens: a primeira, na escala the definition of road access and the whole master-plan’s configuration.
regional, obedece à sequência lógica da análise e tem como produto o plano diretor e, num recorte de
69 ha, o projeto geométrico do sistema viário. A segunda, na escala local, conceitua a quadra a partir Project of the last chapter is developed from two approaches: the first, on a regional scale, follows the
da unidade e sua replicação no terreno, tendo como produto o estudo volumétrico numa área de 32 ha. logical sequence of analysis, having the master-plan as final product and, on a 69 ha (171 acre) section,
the geometric design of the road system. The second approach, on a local scale, defines the block from
the unit and its replication on the ground, resulting on the volumetric study of a 32 ha (79 acre) area.

Palavras-Chave: Bairro Planejado; Desenho Urbano; Loteamento; Parcelamento de Solo; Plano Diretor. Keywords: Land Development; Masterplan; Urban Design; Urban Settlement.

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LISTA DE FIGURAS Figura Descrição Página

Figura Descrição Página 5.6 Croqui da concepção geral do projeto de terraplanagem. 76


5.7 Cruzamento típico (abaixo) e atípico (acima). 77
1 Modelo ideal genérico para projeto de loteamento unifamiliar. 13 5.8 Cruzamento de vias e suas concordâncias. 77
1.1 Análise de aptidão para empreendimento de lazer em Campos de Jordão. 14 5.9 Trecho da adutora que cruza a SP-332 e passa pela cota mais alta do terreno. 77
2 As modalidades de parcelamento do solo expressas na Lei nº 6.766/79. 18 5.10 Áreas loteadas e remanescentes. 80
2.1 O lote mínimo e a infraestrutura básica da Lei nº 6.766/79. 19 5.11 Perspectiva artística do “Residencial Essence”. 82
2.2 Exemplo de APP relacionadas aos corpos hídricos e algumas das hipóteses de intervenção. 20 5.12 Planta baixa de unidade do “Residencial Essence” (sem escala). 82
2.3 Delimitação de APP de topo de morro ou montanha sobre espelho d’água adjacente. 21 5.13 Vista aérea do empreendimento. 90
2.4 Percentuais mínimos de vegetação preservada de acordo com a Resolução SMA nº 31/09. 23 5.14 Idem. 91
3 Abrangência geográfica da pesquisa na RMSP. 27 5.15 Vista a partir da SP-332. 92
3.1 Terreno 1. 28 5.16 Vista a partir do talvegue da esquerda. 93
3.2 Terreno 2. 28 5.17 Posição das sombras às 9h30 durante o solstício de inverno. 94
3.3 Terreno 3. 29 5.18 Posição das sombras às 15h30 durante o solstício de inverno. 95
3.4 Terreno 4. 29 5.19 Posição das sombras às 9h30 durante o equinócio de primavera. 96
3.5 Terreno 5. 30 5.20 Posição das sombras às 15h30 durante o equinócio de primavera. 97
3.6 Terreno 6. 30 5.21 Posição das sombras às 9h30 durante o solstício de verão. 98
3.7 Terreno 7. 31 5.22 Posição das sombras às 15h30 durante o solstício de verão. 99
3.8 Terreno 8. 31 5.23 Visão a partir de apartamento no 6º andar da quadra 6. 100
4 Inserção da gleba no município e sua relação com rodovias e ferrovia. 34 5.24 Visão a partir da área verde pública da Via Coletora nº 3. 100
4.1 Mapa de macrozoneamento, anexo I do PDM. 36 5.23 Numeração das quadras da terceira fase do empreendimento. 101
4.2 Gleba e seu entorno imediato. 39
4.3 Centro, área aproximada de 1.426.412 m² (142 ha). 40
LISTA DE FOTOGRAFIAS
4.4 Loteamento Nova Caieiras, área aproximada de 950.261 m² (95 ha) 41
4.5 Vila Rosina, área aproximada de 665.794 m² (67 ha). 42
Fotografia Descrição Página
4.6 Portal das Laranjeiras, área (da parte visível na foto) de 1.046.450 m² (105 ha). 43
4.7 Elevação (à esq.) e depressão (à dir.). 46
1 Vista aérea da boçoroca do Loteamento Parque Bauru, 1993. 14
4.8 Espigão. 46
2 Viaduto sobre estação de trem da CPTM, outubro de 2013. 40
4.9 Corredor. 46
2.1 Hospital Municipal, R. Awerhanser, março de 2011. 40
4.10 Talvegue. 46
2.2 Av. 14 de dezembro, dezembro de 2013. 40
4.11 Tipos de vale. 46
2.3 R. Ambrosia C. Buonaguide, março de 2011. 40
4.12 Pontos de sela. 46
2.4 Faculdade Metropolitana de Caieiras, Av. Colômbia, março de 2011. 41
4,13 Divisor de águas. 46
2.5 Portaria do Loteamento Nova Caieiras, SP-332, março de 2011. 41
4.14 Tipos de dorso. 46
2.6 Clube poliesportivo, R. Vitório Olímpio, dezembro de 2014. 41
4.15 Posição das fotografias na gleba. 65
2.7 R. Antonio Jorge Pereira, dezembro de 2014. 41
5 Concordância vertical de vias. 74
2.8 Galpão da fabricante de malas Primicia, Av. Davi Kaziysky, dezembro de 2013. 42
5.1 Implantações de casas no lote em aclive. 75
2.9 Trevo de acesso à Vila Rosina, SP-332, dezembro de 2013. 42
5.2 Lotes com dimensão maior paralela às curvas de nível. 75
2.10 R. Ricardo Zaneti, abril de 2011. 42
5.3 Tipos de centralidade. 75
2.11 Mercado local, Av. Otávio Spigarollo, abril de 2011. 42
5.4 Relação entre edifícios e rua. 75
2.12 Garagem da Viação Caieiras, Av. João Casarotto, abril de 2011. 43
5.5 Formas de implantar a rua em terreno íngrime. 76

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Fotografia Descrição Página Quadro Descrição Página

2.13 Centro Cívico Municipal, Av. João Casarotto, março de 2010. 43 12 Critérios de destinação no plano diretor para as áreas classificadas na matriz de aptidão. 74
2.14 Praça com equipamentos de lazer, março de 2010. 43 13 Relação das áreas do projeto de loteamento. 80
2.15 Estabelecimentos comerciais na Av. Pauliceia, março de 2010. 43 14 Nomenclatura da tipologia. 82
2.16 Vista geral da plantação de eucaliptos (vegetação exótica). 64
2.17 Idem. 64 LISTA DE TABELAS
2.18 Vista geral do divisor de águas na porção norte da gleba. 64
2.19 Vista de encosta situada na porção norte da gleba. 66 Tabela Descrição Página
2.20 Divisa com Av. Dr. Olindo Dártora. 66
2.21 Vista do talvegue. 66 1 Relação entre largura do leito e faixa de protação mínima. 20
2.22 Vista do Bolsão nº 2, a partir de um dos pontos mais altos da gleba. 67 2 Loteamentos aprovados em municípios de São Paulo no 1º trimestre de 2014. 26
2.23 Vista de dentro do anfiteatro do talvegue. 67

LISTA DE MAPAS

Mapa Título Página

1 Registro. 45
2 Planialtimetria. 47
3 Hipsometria. 48
4 Declividade. 50
5 Drenagem e Hidrografia. 52
6 Restrições. 54
7 Zoneamento e Diretrizes Municipais. 56
8 Sobreposição #1. 58
9 Sobreposição #2. 60
10 Matriz de Aptidão. 63
11 Estratégia de Desmembramento. 71
12 Plano Diretor de Uso e Ocupação. 73
13 Projeto Geométrico 79
14 Projeto de Loteamento 81
15 Plano Urbanístico 88

LISTA DE QUADROS

Quadro Descrição Página

9 Índices urbanísticos. 37
10 Dimensões das vias. 37
11 Classificação das áreas na matriz de aptidão. 62

10
INTRODUÇÃO 12 Levantamento Planialtimétrico 46
Hipsometria 48

CAPÍTULO 1 - LEGISLAÇÃO 17 Declividade 50


Drenagem e Hidrografia 52
Lei nº 6.766/1979 (Lei Federal de Parcelamento do Solo) 18 Restrições 54
Lei nº 12.651 (Código Florestal Brasileiro) 20 Zoneamento e Diretrizes Municipais 56
Resolução Conama nº 01/1986 (Estudo de Impacto Ambiental) 22 Sobreposição #1 58
Resolução Conama nº 369/2006 (Casos de intervenção em APP) 22 Sobreposição #2 60
Resolução SMA nº 31/2009 (Casos de supressão de vegetação nativa) 23 Método de Análise de Aptidão 62
Decreto Estadual nº 52.053/2007 (Graprohab) 23 Leitura da Matriz de Aptidão 62
Aptidão Geotécnica 62

CAPÍTULO 2 - SELEÇÃO 25 Matriz de Aptidão 63


Registro Fotográfico da Gleba 64
Introdução 26
Terreno 1 28 CAPÍTULO 4 - PROJETO 69
Terreno 2 28
Terreno 3 29 Introdução 70
Terreno 4 29 Produtos 70
Terreno 5 30 Estratégia de Desmembramento 70
Terreno 6 30 Plano Diretor de Uso e Ocupação 72
Terreno 7 31 Projeto Urbano: Critérios, Problemas e Soluções 74
Terreno 8 31 Projeto Geométrico 76
Projeto de Loteamento 80

CAPÍTULO 3 - ANÁLISE 33 Quadro de Áreas 80


Justificativa 80
Introdução 34 Tipologia 82
Município 34 Ensaio de Volumetria 87
Plano Diretor Municipal (Lei Complementar nº 4.538/2012) 36 Resultado Quantitativo 99
Revisão do Zoneamento Municipal (Lei Ordinária nº 4.546/2012) 36
Entorno Imediato 38 CONSIDERAÇÕES FINAIS 100
Análise Interna 44
Transcrição e Matrícula 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 102
Situação Fundiária 44

11
INTRODUÇÃO dentro de suas possibilidades técnicas, financeiras e intelectuais.
A falta de comunicação entre os lados é evidente, bem como a generalizada falta de preocupação
O primeiro objetivo do trabalho é selecionar e compreender uma gleba para desenvolvimento urbanística dos projetos construídos país afora. Os cuidados se limitam apenas às pesquisas de intenção
urbano. O segundo objetivo é desenvolver para essa gleba um plano diretor geral de uso e ocupação e, de compra, para definir produto e preço, e terminam com a responsabilidade legal de cada empresa
dentro de um recorte desse plano, montar o ensaio de volumetria do bairro planejado. atuante, que, isenta de ônus, pouco se importa com a vida útil e a operabilidade do empreendimento.
É requisito necessário para criar o masterplan urbanístico o desenvolvimento de uma visão geral A existência de advogados mais bem pagos do que profissionais técnicos neste ramo é sintoma
sobre a cidade e seus agentes transformadores (sejam eles humanos ou naturais), algo muito além da de uma cultura corporativa calcada na forte blindagem jurídica, em detrimento da constante melhoria
simples adequação do relevo ao projeto. Trata-se da interação entre a escala da cidade e do edifício: o técnica do produto, respeitando assim o cliente final, seja o loteador, incorporador ou o próprio usuário,
masterplan norteia o ordenamento de espaços vazios e construídos, urbanizados e não urbanizados. que construirá sua edificação por conta própria sem saber, por exemplo, que seu lote pode estar em um
Ele deve equacionar todas as necessidades e expectativas do empreendedor e do usuário final, um aterro de alta plasticidade e, portanto, péssimo para locar as fundações, gerando riscos geotécnicos
devendo também contemplar externalidades do processo, como a adequação ambiental e urbanística e custos extraordinariamente altos e inesperados.
do empreendimento. Entretanto, a falta de critério na habilitação e contratação de mão-de-obra técnica Essa situação também é reflexo da filosofia da “boa engenharia”, muito fortemente embasada
qualificada dá margem ao surgimento de produtos imobiliários que, idealizados pelos mais diversos nos números e em condições ideais de execução, muitas vezes ignorando a má qualidade dos serviços
tipos de profissionais, possuem qualidade urbanística e adequação ambiental no mínimo questionáveis, prestados no canteiro, algo recorrente nas obras brasileiras de infraestrutura. O Poder Público também
cujos exemplos serão vistos a seguir. possui grande parcela da responsabilidade, pela sua inércia e incapacidade de legislar e regulamentar
Mais do que conceber um projeto e mostrar seu processo de criação, este trabalho pretende ser, os assuntos pertinentes ao desenvolvimento urbano dentro do território nacional.
ainda que no âmbito acadêmico, um pequeno passo rumo à prática de land development. Amplamente Começa com a histórica sobreposição das atribuições profissionais: a Lei Federal nº 12.378/2010,
difundida na América do Norte, ela consiste na unificação de toda a cadeia produtiva do empreendimento que legisla sobre as atividades privativas do arquiteto-urbanista e a criação de seu respectivo conselho,
em torno de uma única empresa, responsável pela concepção do plano urbanístico até a construção da encontra-se parcialmente sem efeito, pois a Resolução CAU nº 51/2013, que regulamentaria o disposto
unidade, dentro dos padrões previamente definidos no masterplan. no Art. 3º da supracitada lei1, foi suspensa por decisão judicial2 após ação impetrada pela Associação
Tal prática de projeto, quando fundada em rigoroso controle de qualidade, resulta num excelente Brasileira de Engenheiros Civis (ABENC), amparada em suposto vício de legalidade do dispositivo, que
produto, que tenderá a gerar baixíssimos custos de operação ao longo de sua vida útil, uma vez que tanto cercearia atividades já atribuídas aos engenheiros por instrumentos anteriores, como a Lei Federal nº
as quadras quanto as infraestruturas são dimensionadas sob medida para as edificações. Entretanto, 5.194/1966 e a Resolução CONFEA nº 218/1973.
o land development ainda é uma realidade distante do cenário brasileiro. Este trabalho é portanto uma O que se vê é uma grande planificação das competências, genericamente distribuídas entre os
contraproposta à prática de loteamento ora vigente no País, no sentido de, mais do que simplesmente arquitetos, engenheiros civis e agrimensores, permitindo que profissionais sem formação em desenho
parcelar o solo, criar e incentivar a criação de vizinhanças e comunidades. urbano criem planos urbanísticos, os quais, apoiados em fracas legislações de uso e ocupação do solo,
se reproduzem abundantemente nas periferias das cidades brasileiras, destinados sobretudo para uso
JUSTIFICATIVA residencial. O princípio gerador desses “projetos de prancheta” é o princípio capitalista de maximização
do lucro, que, quando aplicado ao produto lote unifamiliar, obedece aos seguintes postulados:
Os anos de estagnação econômica e hiperinflação que marcaram as duas últimas décadas do
século XX no Brasil minaram a prática do planejamento de longo prazo em segmentos da economia, 1) O projeto geométrico será tão ortogonal quanto possível, gerando o maior número de lotes
como o setor imobiliário. O mercado de loteamentos foi significativamente afetado, uma vez que é um retangulares, evitando-se ao máximo os lotes irregulares com área superior à média;
modelo de negócio deveras rígido (se comparado à incorporação), e baseado em longos cronogramas 2) As ruas deverão ter traçado retilíneo para baratear a instalação de tubulações sanitárias;
de obra e grande exposição de caixa das empresas, reféns de carteiras de recebíveis que se estendem 3) O projeto terá o menor número possível de acessos, evitando criar nas bordas da propriedade
por anos e também da falta de linhas próprias de financiamento para a construção de seus projetos.
Aprofundou-se então a divisão do mercado entre os que loteiam (loteadores) e os que constroem 1 O Art. 3º da Lei nº 12.378/2010 define atividades privativas do arquiteto-
urbanista, entre elas o projeto urbanístico, de parcelamento do solo mediante loteamento,
(incorporadores). Em regra o loteador apenas abre o sistema viário com a infraestrutura exigida por lei compatibilização com projetos complementares, relatório técnico urbanístico referente a
dentro da gleba, preocupando-se unicamente em produzir o lote urbanizado. Daí o incorporador atua a memorial descritivo e desempenho de cargo e função técnica de elaboração e análise de
seguir, onde, de forma independente, contrata o projeto, a construção e a comercialização ou, quando projeto urbanístico.
não há o incorporador, o lote é vendido diretamente para o consumidor final, que construirá seu imóvel 2 Vide Decisão nº 518/2013 da 9ª Vara Federal.

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mais área de contato com o exterior por sistema viário do que o necessário; Muitas críticas podem ser feitas a esse modelo, seja pela esterilidade paisagística ou pelos altos
4) O lote terá a frente mínima exigida por lei, para maximizar a relação de lotes por metro linear custos de construção. Contudo, os problemas mais sérios surgem com sua implantação indiscriminada
de sistema viário construído, reduzindo custos; nas áreas de encosta, por um simples motivo: a geometria regular do loteamento é incompatível
5) Os dois lados de cada via deverão servir lotes, para dividir ao meio seu custo de implantação; com altas declividades, demandando enormes movimentos de terra para adequar o relevo aos lotes.
6) As quadras serão tão longas quanto a legislação municipal permitir; e quando possível serão Infelizmente, isso ainda é uma prática comum entre os loteadores brasileiros, afinal a “boa engenharia”
separadas apenas por vielas sanitárias, que não exigem pavimentação asfáltica; se diz capaz de garantir a estabilidade do solo terraplanado (vide postulado nº 12).
7) Serão destinadas como áreas verdes apenas aquelas com inclinação natural maior que 30%, Contudo, SANTOS (2012)4 mostra que: “Via de regra, os loteamentos regulares são implantados
as que possuírem restrições legais, onde exista vegetação nativa que não possa ser suprimida, através de extensas terraplanagens, arrasando morros e encostas e aterrando vales, com a venda
ou onde não se consiga colocar mais lotes obedecendo aos cinco primeiros postulados. e início de ocupação dos lotes antecedendo a instalação completa da infraestrutura urbana básica
8) Caso seja possível embutir nas áreas verdes também o sistema de lazer, este será destinado (ruas pavimentadas, sistemas de drenagem de águas pluviais, saneamento básico, proteção de taludes
também obedecendo aos critérios do postulado nº 7; contra a erosão) [...] Uma prática nociva e nem um pouco criativa do ponto de vista técnico,
9) Caso não seja possível embutir o sistema de lazer na área verde, ele será destinado nas áreas pela qual persistentemente se privilegia a adaptação dos terrenos aos projetos ao invés de
não edificantes de rodovias e ferrovias ou em qualquer outro local onde a edificação seja vetada; adequar os projetos às características naturais dos terrenos”.
10) As vias terão mínima largura e infraestrutura exigida pela lei e, quando necessário, a máxima FARAH (2003)5 complementa: “Em terraplenagens extensas, seja para a criação de loteamentos
inclinação longitudinal admitida por lei, o mesmo sendo aplicado aos lotes; [...] é comum a permanência de grandes áreas de solo expostas por períodos longos, dando espaço
11) Serão destinadas como áreas institucionais as porções de quadra com geometria irregular e, ao desenvolvimento de erosões. É também frequente, em loteamentos, a execução dos denominados
se necessário, com a maior declividade tolerada por lei, ficando em segundo plano sua posição desbastes de quadras, cuja finalidade é a de nivelar as testadas de lotes com o viário, o que acaba
dentro do empreendimento; também por expor solos mais suscetíveis, dando origem a intensos processos erosivos, além
12) O relevo natural tem influência mínima ou nula no projeto geométrico3. de patrocinar o assoreamento de bacias e cursos d’água a jusante”.
Não é à toa que, desde suas origens, as cidades brasileiras são palco de inúmeras catástrofes
Quanto mais o projeto obedece tais postulados, mais aproxima-se do exemplo ideal da Figura 1. geológicas. SANTOS6 diz que: “Diferentemente de países castigados por fenômenos de origem totalmente
natural, como terremotos, vulcões e furacões, no Brasil essas reincidentes tragédias [...] estão direta e
intimamente associadas à ação humana, especialmente no que toca ao enorme descompromisso
Faixa non-aedificandi
Via pública oficial com que as administrações públicas e privadas têm tratado as relações entre a expansão urbana e as
Área institucional características naturais dos terrenos ocupados”.
O episódio do Parque Bauru (Fotografia 1) é um bom exemplo. Em 1993, uma boçoroca engoliu
partes inteiras desse loteamento, arruinando o sistema viário e nove casas. De acordo com IPT (1994)7,
Área verde / Sistema de lazer

“a boçoroca do Jardim Bauru movimentou cerca de 300.000m³ de solos, equivalente a cerca de 50 mil
Ferrovia

caminhões de terra, que causaram um impressionante assoreamento de dois lagos situado num clube
de campo vizinho e de um curso d’água a jusante”.
Por mais prejuízos humanos e materiais causados por esses fatos ao longo da história, muitas
vezes elas ocorrem com total anuência das leis. Tudo porque essas leis foram feitas para terrenos
planos e ideais, quase nunca utilizando a declividade do terreno aliada a demais diretrizes geotécnicas
4 SANTOS, Álvaro Rodrigues dos. “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”
1. ed. São Paulo: Editora Pini, 2012, p. 2.
Faixa non-aedificandi
5 FARAH, Flávio. “Habitações e Encostas”, Coleção HABITARE/FINEP, 1ª Edição, IPT,
São Paulo, 2003, p. 57.
Figura 1 - Modelo ideal genérico para projeto de loteamento unifamiliar. (Escala 1 : 2.000 m)
6 SANTOS, p. 13.
3 Ruas retilíneas, redução da frente do lote, lotes dos dois lados da rua e grandes
quadras são de fato medidas redutoras de custos, mas devem ser adotadas com critério, 7 IPT. “Relatório nº 32.207 - Plano de obras de contenção das erosões urbanas do
principalmente em áreas com relevo acidentado. município de Bauru, SP - 2ª fase” São Paulo: 1994.

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de cada terreno. Surgiu nos Estados Unidos na década de 1960 e é conceituada por AZEVEDO (2004)9
como: “a integração da análise de condicionantes como solos, relevo, hidrografia, cobertura vegetal, insolação
e pontos de destaque da paisagem em uma matriz espacial, cujo foco é determinar a adequação do programa e
do produto imobiliário proposto, e os locais mais adequados para sua implantação”.
Essa matriz espacial (também chamada de “matriz de aptidão”) é gerada a partir da sobreposição
de uma série de informações sobre o terreno, como o relevo, declividade, aptidão geotécnica, ocorrência
de vegetação nativa e demais áreas de proteção definidas em lei. Assim, cada setor da matriz é avaliado
por meio de notas ou classes, indo da aptidão nula até a aptidão máxima, passando por um gradiente
de situações. A matriz fornece ao projetista uma inigualável visão de conjunto para a definição do plano
diretor, o qual basicamente é traçado por cima da matriz.
O uso da matriz ajuda a reduzir significantemente os custos operacionais, pois o adensamento
das áreas mais aptas à ocupação dispensa o avanço pelas áreas inaptas, tornando o empreendimento
muito menos impactante ao meio ambiente, o que, além de contribuir para a rapidez no licenciamento,
resulta em paisagens muito mais estáveis e agradáveis, pois também são incorporados no projeto os
aspectos naturais e singulares do terreno.
Na Figura 1.1, os mapas menores mostram informações isoladas, as quais são sobrepostas no
mapa maior, a matriz de aptidão, que indica onde estão os locais aproveitáveis e inaproveitáveis.

Fotografia 1 - Vista aérea da boçoroca do Loteamento Parque Bauru, 1993. Fonte: IPT (1994)

para impor restrições aos projetos.


A Constituição8 passou aos municípios a competência de executar a política de desenvolvimento
urbano, com base nas diretrizes fixadas em lei, sendo obrigatório o Plano Diretor Municipal para cidades
com mais de vinte mil habitantes. É clara a intenção do Poder Constituinte de dar maior autonomia ao
município, para que este se organize melhor dentro de suas especificidades locais. No entanto, poucas
são as cidades que dispõem de corpo técnico qualificado para elaborar a legislação de uso e ocupação
de solo e também analisar e aprovar os novos empreendimentos urbanísticos.
Não é raro encontrar servidores administrativos sem qualquer habilitação técnica responsáveis
pela análise e aprovação de projetos e municípios com planos diretores copiados de outro município
ou comprados de empresas terceirizadas. Soma-se a isso a propina e as interferências tempestivas de
agentes públicos não executivos, os quais forçam a modificação dos projetos.
Figura 1.1 - Análise de aptidão para empreendimento de lazer em Campos de Jordão. Fonte: AZEVEDO (2004)
Dentro desse cenário pouco otimista, o loteador deve ainda licenciar seu produto junto aos órgãos
e entidades estaduais de meio ambiente, procedimento caro e demorado. Dentre tantas dificuldades, Este é o embrião da comunidade planejada (do inglês masterplanned community), modalidade
é portanto condição necessária a verdadeira adequação ambiental do projeto, não somente para de empreendimento com forma jurídica idêntica ao loteamento convencional, mas que se difere desse
diminuir entraves no processo de aprovação, mas principalmente para não colocar vidas em risco. por trazer em seu desenho uma série de elementos que procuram despertar nos seus usuários o senso
É obrigação ética do empreendedor não patrocinar a ocorrência desses tipos de desastres. Para de pertencimento ao lugar, através da criação de centros cívicos e eixos de caminhabilidade.
evitá-los, é fundamental entender corretamente o terreno onde será implantado o projeto. Nesse sentido
a análise de aptidão é uma ferramenta muito eficaz para identificar e mapear potenciais e limitações 9 AZEVEDO, Joaquim Rondon da Rocha. “A Análise de Aptidão como instrumento de
planejamento de empreendimentos imobiliários e de lazer de base natural” Latin America
8 Art. 182 da Constituição Federal de 1988. Real Estate Society, 2004, p. 1.

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A caminhabilidade ganha papel central na conceituação do projeto, que deve encurtar distâncias como as Áreas de Preservação Permanente (APP) e de Uso Restrito. Elas definirão as áreas verdes e o
para incentivar o deslocamento não motorizado, colocando de novo o pedestre como elemento central sistema de espaços livres do bairro. A Resolução nº 01/1986 do Conselho Nacional de Meio Ambiente
do projeto urbano. Trata-se de um dos pilares do Novo Urbanismo, movimento surgido no sul dos Estados (Conama) institui o Estudo de Impacto Ambiental e os seus critérios de exigência, cujo conhecimento é
Unidos nos anos 1980, que, grosso modo, pretende reverter a tendência de dispersão suburbana das importantíssimo para definir a estratégia de desmembramento da gleba, que será aqui apresentada.
cidades norte-americanas, resgatando o urbanismo praticado antes da popularização do automóvel. A Resolução Conama nº 369/2006 regulamenta os casos de intervenção em APP, enquanto
Sua ideia principal é recompactar a cidade, diminuindo a dependência de combustíveis fósseis (e que a Resolução nº 31/2009 da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA) regulamenta a supressão
consequentemente as emissões de gases), aproveitando melhor a infraestrutura existente, protegendo de mata nativa nos projetos de parcelamento do solo. Apesar de não estar diretamente vinculado ao
os cinturões verdes e os ambientes silvestres e, acima de tudo, criando cidades mais humanas. Existem desenho urbano, vale mencionar a existência do Grupo de Análise e Aprovação de Projetos Habitacionais
certificações que atestam projetos feitos com base nesses princípios, como o Leadership in Energy and do Estado de São Paulo (Graprohab), responsável pela apreciação desse tipo de empreendimento.
Environmental Design for Neighborhood Development (LEED-ND). Lida a legislação, é selecionado o terreno. As empresas de mercado realizam anteriormente o
A combinação de usos é fundamental para atingir esse objetivo e, além disso, as ruas precisam estudo de vocação imobiliária, que inclui pesquisas de mercado, cujo objetivo é entender a lógica de
ser confortáveis e seguras para o transeunte, ou seja, as fachadas e volumes edificados devem conversar funcionamento da cidade onde se quer implantar o projeto para a correta escolha do terreno. Traça-se
de forma orquestrada com as ruas do bairro. Porém, é um objetivo impossível de ser alcançado adotando o perfil socioeconômico da região, mapeiam-se os níveis de renda, empregos, eixos de infraestrutura,
estritamente a prática brasileira de se lotear, pois as ruas seriam traçadas sem qualquer preocupação pólos comerciais e empresariais, vetores de expansão e centralidades urbanas. O estudo de vocação
com os edifícios que viriam a seguir (afinal, o loteador não é incorporador e vice versa). A ideia então é serve para identificar riscos e oportunidades, balizando o cálculo de demanda potencial e de velocidade
trabalhar com o lote multifamiliar que, diferente do lote unifamiliar tradicional, é muito maior e exige, de comercialização, sendo possível pré-dimensionar os produtos e estratégias competitivas.
portanto, menor quantidade de vias públicas oficiais. Eis o esqueleto do programa do empreendimento. Neste trabalho, porém, não será desenvolvido
A racionalização do viário diminui drasticamente os custos, uma vez que ele, sozinho, representa o estudo de vocação, embora o terceiro capítulo contenha alguns de seus aspectos. O programa será
usualmente metade do custo de urbanização. Outra vantagem do condomínio é a enorme flexibilidade definido somente a partir dos parâmetros de uso e ocupação da lei municipal, somados à contribuição
do arquiteto para trabalhar as vias internas de circulação, livre dos (onerosos) padrões exigidos pelas de profissionais com larga experiência no setor. Embora o LEED-ND seja uma importante referência, o
prefeituras, garantindo assim a caminhabilidade do conjunto e maior liberdade criativa no projeto. Eis, projeto deste trabalho não seguirá suas recomendações, pois essa norma se destina primeiramente ao
portanto, a necessidade de criar não só um loteamento, mas um loteamento para incorporações. contexto norte-americano, contendo itens incompatíveis com o brasileiro, que serão aqui comentados.
A espacialização do programa no sítio é feita por cima da matriz de aptidão, produto da análise
Delimitação do objeto de estudo de aptidão do terceiro capítulo. À espacialização dá-se o nome de plano diretor de uso e ocupação,
análogo ao zoneamento funcional da gleba, onde serão definidos os setores e seu grau de adensamento,
O objeto de estudo consiste no processo de criação do plano de massas de um bairro planejado através de manchas, bem como o traçado do sistema viário estrutural do conjunto.
numa área de 32 ha, recorte da gleba eleita no segundo capítulo para sediar o estudo, o qual se baseia
em parte dos métodos usados para prospecção e análise de terrenos. É pertinente montar um paralelo APRESENTAÇÃO
entre as práticas empresariais e as aqui abordadas, dado o caráter multidisciplinar dessa atividade.
A propriedade escolhida tem uso rural e área superior a 50 ha, pois abaixo disso não cabe o uso Os três primeiros capítulos se debruçam sobre a compreensão dos fatores determinantes para o
das ferramentas de planejamento territorial aqui abordadas. Os empreendimentos com área superior a projeto, enquanto que o último é a resposta, a aplicação dos fatores e ferramentas disponíveis no caso
70 ha sujeitam-se a estudos de impacto ambiental que, pelo grau de complexidade, fogem ao escopo concreto (o terreno). A análise, que também tratará das leis municipais, será dividida em duas partes:
da obra, a qual também não tratará do trâmite de aprovação e registro do loteamento. externa e interna. A primeira traz dados socioeconômicos do município e uma breve investigação
Ao todo, dos 192 dispositivos aplicáveis à atividade de parcelamento do solo no Estado de São das aglomerações urbanas vizinhas à gleba, enquanto a segunda terá como foco o terreno e os seus
Paulo, serão comentados aqui seis deles, apenas nos aspectos que interferem em decisões de projeto. aspectos fundiários, ambientais e urbanísticos, a serem considerados no projeto do último capítulo.
O primeiro é a Lei Federal de Parcelamento de Solo (Lei nº 6.766/1979), diploma que rege a atividade A etapa de projeto contempla a estratégia de desmembramento da gleba matriz, delimitando
de lotear a terra urbana. Embora relevante, a Lei dos Condomínios e Incorporações Imobiliárias (Lei nº as fases do empreendimento. Em duas fases contíguas, é criado o projeto geométrico do arruamento
4.591/1964) não será aqui lida, pois versa sobre conceitos e o tratamento jurídico para a incorporação oficial, junto com o quadro de áreas loteadas e remanescentes. Por último, será apresentada a maquete
e operação de condomínios, o que também extrapola o objetivo deste trabalho. eletrônica contendo o estudo de massa do bairro e a respectiva relação entre áreas vendáveis loteadas
Serão estudadas também as restrições impostas pelo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), e construídas.

15
CAPÍTULO 1

LEGISLAÇÃO
CAPÍTULO 1

LEI Nº 6.766/1979 (Lei FEDERAL de Parcelamento do Solo para Fins Urbanos)


“Dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e dá outras providências”

Apesar da imprecisão de algumas definições e do lapso temporal


transcorrido desde a sua publicação (o que para certos autores a torna
obsoleta ante às questões atuais), ela ainda é a base dos instrumentos
legais para projeto, aprovação e execução de loteamentos, pois define: Desmembramento
- Os termos “desmembramento”, “loteamento” e “lote” (Art. 2º); GLEBA MATRIZ
- A infraestrutura básica exigida para loteamento e para que um
não há abertura de novas vias e logradouros
terreno seja considerado lote (Art 2º), assim como as dimensões públicos, nem prolongamento, modificação ou
ampliação dos já existentes. (Art. 2º, § 2º)
mínimas desse lote (Art 4º);
- Os limites para a atividade de parcelar, enumerando condições
em que esta será proibida, em rol exaustivo. (Art 3º);
- As etapas do processo de projeto e aprovação do loteamento
(Art. 6º ao 9º) e desmembramento (Art. 10 e 11);
Os crimes contra a Administração Pública e as sanções cabíveis
(Art. 50 a 52). Loteamento
O parcelamento do solo para fins urbanos só é admitido em GLEBA MATRIZ
zonas urbanas, de expansão urbana ou de urbanização específica
há abertura de novas vias e logradouros
definidas em lei municipal (Art. 3º), destinando-se à ocupação com o públicos ou prolongamento, modificação ou
ampliação dos já existentes. (Art. 2º, § 1º)
propósito de abrigar as funções da cidade. Ele poderá ser feito por duas
maneiras: mediante desmembramento ou loteamento. Figura 2 - As modalidades de parcelamento do solo expressas na Lei nº 6.766/79.
Desmembramento é a subdivisão de gleba em lotes destinados
a edificação, com aproveitamento do sistema viário existente, desde
que não implique na abertura de novas vias e logradouros públicos,
nem no prolongamento, modificação ou ampliação dos já existentes. JURISPRUDÊNCIA
Loteamento é a subdivisão de uma gleba em lotes edificáveis,
“De acordo com a tradição jurídica, as únicas formas de estimulando a adoção de desmembramento, já que para essa
com a abertura de novas vias de circulação, logradouros públicos ou
parcelamento do solo são o loteamento e o desmembramento, modalidade de parcelamento não se exige a destinação de área da
prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes.
sendo o primeiro a repartição de gleba de lotes, com atos de gleba ao poder público, o que provocará, seguramente, escassez de
Apesar de amplamente praticado no caso concreto, o desdobro, urbanização [...] A relevância da distinção consiste no fato de que o espaço para a implantação de escolas, centros de saúde, praças e
que consiste no fracionamento do lote, não é citado nessa lei por conta loteamento acarreta ônus para o loteador, que é obrigado a destinar outros equipamentos necessários aos futuros parcelamentos, em
de um dos vetos à alteração proposta pela Lei nº 9.785/1999. área da gleba ao poder público, para sistema de circulação viária, prejuízo da comunidade local.”
implantação de equipamentos urbanos e comunitários e espaços
A motivação do veto é muito esclarecedora nesse sentido, uma
livres de uso público. [...] Ao admitir o desmembramento com Mensagem de veto publicada pelo Ministério da Justiça ao Art.
vez que a destinação de áreas ao poder público diminui a proporção de 3º da Lei nº 9.785/99, que alteraria o disposto no Art. 2º, § 2º
acréscimo do sistema viário, a proposta confunde ambas as figuras,
área vendável, induzindo o loteador a usar artifícios para descaracterizar da Lei nº 6.766/79. O
seu projeto como “loteamento”.

18
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO

Iluminação pública Abastecimento de água potável Os novos loteamentos também devem atender aos requisitos
Energia elétrica pública Energia elétrica domiciliar urbanísticos do Art. 4º, como reserva de áreas non-aedificandi de 15
m de largura ao longo das faixas de domínio das rodovias e ferrovias
Área mínima: 125 m² * e dos corpos hídricos, salvo se houver restrição maior11.
Também não poderão ser parceladas áreas de preservação
Declividade máxima: 30%
ecológica e onde a condição geológica não aconselha a edificação.
Vias de circulação
Acima disso deve-se observar exigências Nos terrenos alagadiços e inundáveis ou naqueles aterrados com
específicas das autoridades competentes,
material nocivo à saúde pública ou onde a poluição impeça condições
(Art. 3º, Parágrafo Único, III)
sanitárias suportáveis, o parcelamento será admitido após a adoção
das medidas corretivas necessárias12.
* Exceto o loteamento destinado à urbanização
As áreas com declividade igual ou superior a 30% somente
específica ou à edificação de conjuntos
habitacionais de interesse social (Art. 4º, II). poderão ser objeto de parcelamento caso obedeçam às exigências
Esgotamento sanitário Frente mínima: 5 m * específicas das autoridades competentes. Algo nesse sentido será
A infraestrutura básica dos parcelamentos nas visto na legislação municipal, que definirá os parâmetros de projeto
Sistema de drenagem urbana zonas habitacionais declaradas por lei como de
e as diretrizes de planejamento.
interesse social é descrita no Art. 2º, § 6º.
As vias devem se harmonizar Nas diretrizes, o Poder Público indicará, quando for o caso, o
com a topografia local (Art. 4º, IV) Obs.: O detalhamento técnico das exigências cabe sistema viário existente e o projetado, a localização aproximada das
à lei municipal. Modelo meramente ilustrativo.
áreas verdes e equipamentos comunitários a serem construídos no
loteamento, faixas sanitárias e os usos compatíveis13.
Figura 2.1 - O lote mínimo e a infraestrutura básica da Lei nº 6.766/79.
É imprescindível cumprir as exigências municipais para que o
projeto obtenha a certidão de conformidade14 com a maior rapidez
Uma delas seria o desdobro sucessivo da gleba em lotes, quando se tratar de urbanização específica ou edificação de conjuntos
possível. Quando não for possível cumpri-las, deve-se negociar com
sem a doação de áreas públicas, sob a alegação de que o diploma habitacionais de interesse social” (Art. 4º,II).
a Prefeitura alternativas para melhor atender ao interesse público.
legal só se aplica à subdivisão da gleba em lotes, e não ao desdobro A infraestrutura básica inclui vias de circulação, sistema
Iniciar o parcelamento sem autorização do órgão público
de lotes que, como visto, não é contemplado na Lei nº 6.766/1979. de drenagem urbana, rede de abastecimento de água potável e
competente ou sem observar as determinações do ato de licença
Outra prática seria tentar, na fase de aprovação, enquadrar energia elétrica domiciliar. A lei, no entanto, não entra em qualquer
é considerado crime contra a administração pública, com pena
o projeto como “condomínio”, onde não há subdivisão da gleba em tipo de detalhe técnico de projeto. Ela se limita a exigir a entrega
de reclusão de um a quatro anos e multa de até 50 vezes o salário
lotes autônomos, mas somente a venda de frações ideais de uma dessa infraestrutura finalizada à municipalidade que, nos termos
mínimo vigente15, bem como veicular informação falsa sobre a
única matrícula não loteada. do Art. 22, aceita a transferência das áreas doadas, as quais serão
legalidade do parcelamento.
Mas a lei não cita o termo “condomínio” (regido por legislação “destinadas a sistemas de circulação, implantação de equipamento
própria), tampouco a expressão “loteamento fechado”. Há apenas o urbano e comunitário, bem como espaços livres de uso público [...]
desmembramento e o loteamento, o último implicando na abertura proporcionais à densidade de ocupação prevista no plano diretor ou 11 O Código Florestal impõe faixa de proteção
de vias públicas, as quais são doadas ao município e convertem-se aprovada por lei municipal para a zona em que se situem” (Art. 4º, I) . O 10 mínima de 30 metros, vetando qualquer uso que não
em bem de uso comum do povo, inexistindo respaldo na legislação loteador não assume o ônus da construção dos equipamentos nas se enquadre nas excessões de seu Art. 8º.

federal para seu fechamento com muros e guaritas. áreas institucionais. 12 Art. 3º.
Lote é definido como: “terreno servido de infraestrutura básica 10 A Lei exigia que, no mínimo, 35% da área 13 Art. 7º.
e cujas dimensões atendam aos índices urbanísticos definidos pelo plano da gleba seria doada ao município. Mas a alteração
14 O Art. 9º estipula prazo máximo de 4 anos
diretor ou lei municipal para a zona em que se situe” (Art. 2º, § 4º). “Os dada pela Lei nº 9.785/99 revogou esse dispositivo,
para a construção do empreendimento.
passando para a lei municipal essa competência.
lotes terão área mínima de 125 m² e a frente mínima de 5 metros, exceto 15 Art. 50.

19
CAPÍTULO 1

LEI Nº 12.651/2012 (CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO) L < 10 m


30 m Nascente

“Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938,


de 31/08/1981, 9.393, de 19/12/1996, e 11.428, de 22/12/2006; revoga APP Faixa de proteção contada
as Leis nos 4.771, de 15/09/1965 e 7.754, de 14/04/1989, e a Medida a partir da borda da calha
do leito regular
Provisória no 2.166-67, de 24/08/2001; e dá outras providências.” Área de proteção

Corte A (sem escala)

Olhos d’água

O Código Florestal orienta a conduta no trato do imóvel rural, tendo em


vista proteger a vegetação nativa existente e assegurar sua perpetuação. É um A
dos instrumentos fundamentais para o projeto urbano, pois ele conceitua: A

- “Área de Preservação Permanente” (Art. 6º) e as hipóteses (Art. 3º, VIII,


IX e X) onde são permitidas intervenções, assim como supressão de mata
Tipo de intervenção proibida.
nativa dentro de seu perímetro (Art. 8º); Embora o Art. 3º, VIII, b defina como
de utilidade pública a abertura de

- “Áreas de Uso Restrito” e seus critérios de classificação (Art. 11);


sistema viário para novos projetos de
parcelamento de solo, tal artigo deve
ser interpretado juntamente com o
«as obras de infraestrutura destinadas
- “Área verde urbana” (Art 3º, XX); ao [...] sistema viário, inclusive aquele
Art. 3º, X, a, que conceitua como
intervenção de baixo impacto
Área de proteção resultante necessário aos parcelamentos de solo
ambiental a «abertura de pequenas
- “Reserva Legal” (Art 3º, III), os percentuais exigidos em cada tipo de urbano aprovados pelos Municípios»
(Art. 3º, VIII, b)
vias de acesso interno e suas pontes
e pontilhões, quando necessárias à
«Implantação de infraestrutura pública
imóvel, os instrumentos municipais e procedimento para convertê-la em destinada a esportes,
«Implantação
educacionais
destinada
lazer e atividades
de infraestrutura
e culturais
a esportes, ao[...]
lazer
pública
ar livre
ao arem
livre
travessia de um curso d’água». Não
é prevista na lei federal a hipótese de
áreas urbanas e rurais consolidadas» (Art. canalização do curso d’água.
área verde urbana (Art. 25), bem como o próprio conceito de área verde.
em áreas urbanas e rurais consolidadas»
3º, IX, c)
(Art. 3º, IX, c)

Figura 2.2 - Exemplo de APP relacionadas aos corpos hídricos e algumas das hipóteses de intervenção. (Escala 1 : 3.500 m)
A vinculação entre os atos de urbanização e o Código se dá a partir do Art
3º, VI, que inclui os assentamentos urbanos na definição de “uso alternativo do fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem- respeitando a relação apresentada na Tabela 1.
solo”, entendido como a “substituição de vegetação nativa e formações sucessoras estar das populações humanas” (Art 3º, II). A lei cita vários
por outras coberturas do solo“. Várias passagens do texto mencionam restrições tipos de APP; porém, no recorte geográfico da pesquisa, Largura da faixa marginal
relacionadas a esses usos, que devem ser atentamente observadas, pois podem Largura do curso d’água (m)
serão vistas somente APP de corpo hídrico e declividade. protegida como APP (m)
trazer consigo impactos significativos na conformação do loteamento. O raio de proteção será de 50 metros ao redor das Menos de 10 30
Entender o Código Florestal é fundamental para alocar as áreas verdes do nascentes17. Nos olhos d’água (conjunto de afloramentos Entre 10 e 50 50
projeto, definidas pela lei como: “ os espaços, públicos ou privados, com predomínio aquíferos próximos), cada olho é o centro de um círculo de Entre 50 e 200 100
de vegetação, preferencialmente nativa, natural ou recuperada, previstos no Plano proteção, e o desenho da APP resultante, em planta, será Entre 200 e 600 200
Diretor, nas Leis de Zoneamento Urbano e Uso do Solo do Município, indisponíveis para a fusão de todos os círculos; e não o ponto médio de todos Acima de 600 500
construção de moradias, destinados aos propósitos de recreação, lazer16, melhoria da os afloramentos encontrados (vide Figura 2.2). Tabela 1 - Relação entre largura do leito e faixa de proteção mínima.
qualidade ambiental urbana, proteção dos recursos hídricos, manutenção ou melhoria São APP: “as faixas marginais de qualquer curso
paisagística, proteção de bens e manifestações culturais”. (Art. 3º, XX) d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, As faixas ao redor de lagos e lagoas naturais também
As Áreas de Preservação Permanente (APP) e de Uso Restrito responderão desde a borda da calha do leito regular” (Art. 4º, I). A largura são protegidas. Em áreas urbanas, a faixa será de 30 m. Já em
pela maior interferência nas decisões de projeto. Entende-se APP como a: “área da faixa está relacionada com a largura do curso d’água, áreas rurais será de 100 m, exceto para lagos e lagoas com até
protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar 20 ha de superfície, cuja faixa terá 50 m.
os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o 17 “Nascente: afloramento São APP “as encostas ou partes destas com declividade
natural do lençol freático que apresenta superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declive”.
16 Não se deve confudir os conceitos de “área verde”, perenidade e dá início a um curso d’água” (Art. 4º, IV) e também “nos topos de morros, montes, montanhas e
“sistema de lazer” e “área permeável”, que serão vistos adiante. (Art. 3º, XVII).

20
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO

aos sucessores após a transferência de domínio ou posse do imóvel. abordadas aqui apenas as inerentes à atividade de urbanização.
Nas áreas consolidadas de APP ao longo dos cursos d’água Um município pode, por meio de decreto de utilidade pública,
naturais, é obrigatória a recomposição das faixas
Nível da elevaçãomarginais, permitir a construção de ponte sobre APP para garantir a travessia
contadas da borda da calha do leito regular, independentemente de veículos e pessoas, caso seja necessária para novos projetos de
da largura do curso d’água. A metragem da área a ser recuperada é parcelamento do solo20. Entretanto, deve-se optar pela alternativa
APP de topo de morro acima deste nível
Nível da elevação proporcional ao tamanho da propriedade, em módulos fiscais18. de menor impacto ambiental (vide Figura 2.2).

h > 100 m
“No caso de reposição florestal, deverão ser priorizados projetos Pode-se também intervir na APP para melhorar suas funções
que contemplem a utilização de espécies nativas do mesmo bioma ambientais, mas tão importante quanto isso é garantir que ela seja

2/3 h
APP de topo de morro acima deste nível
onde ocorreu a supressão” (Art. 26, § 3º). “Nas áreas passíveis de uso utilizada pelas populações vizinhas, de forma que seu uso evite o
h > 100 m

alternativo do solo, a supressão de vegetação que abrigue espécie da abandono e contribua para a efetiva preservação. Para tal, é tido
2/3 h

imédio > 25º flora ou da fauna ameaçada


i > 25º de extinção, [...], ou espécies migratórias,
médio
como de interesse social a “implantação de infraestrutura pública
dependerá da adoção de medidas compensatórias e de
Nível do ponto mitigadoras que
sela mais próximo destinada a esportes, lazer e atividades educacionais e culturais ao
assegurem a conservação da espécie” (Art. 27). ar livre em áreas urbanas e rurais consolidadas, observadas as condições
Entretanto, o caráter preservativo da APP não é absoluto. É estabelecidas nesta Lei” (Art. 4º, IX, c).
Nível do espelho d’água adjacente possível haver intervenção ou supressão de mata nativa em APP, Tão relevantes quanto as APP nos projetos urbanísticos, as
Neste caso, há ponto de sela mais próximo, porém, como mas Neste
somente nospontos
caso, existem casosde selade utilidade
ainda pública,
mais próximos da elevação, interesse social e Áreas de Uso Restrito são aquelas cuja declividade situa-se entre 25
existe espelho d’água adjacente em cota inferior, este deve mas com diferenças mínimas de altura. Portanto, para efeito didático,
ser tomado como base, pois é o critério mais restritivo. baixotomou-se
impacto ambiental
como referência
19
. Das
a sela à esquerda, que várias hipóteses
está em cota inferior. elencadas, serão e 45 graus (46,6% a 100%). Nessas áreas, “serão permitidos o manejo
florestal sustentável [...], bem como a manutenção da infraestrutura física
Figura 2.3 - Delimitação de APP de topo de morro ou montanha sobre 18 Vide Art. 61-A, que estabelece medidas.
espelho d’água adjacente. Fonte: Elaboração do autor O módulo fiscal é uma unidade de medida associada ao desenvolvimento das atividades, observadas boas práticas
agrária instituída pela Lei Federal nº 6.746/1979, agronômicas, sendo vedada a conversão de novas áreas,21 excetuadas
serras, com altura mínima de 100 metros e inclinação média maior correspondente à área mínima necessária para que
as hipóteses de utilidade pública e interesse social”
que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a exploração no imóvel rural seja economicamente
viável. Varia de acordo com o município ou região e Na prática, a Área de Uso Restrito é tão inapta à ocupação
a 2/3 da altura mínima da elevação sempre em relação à base, sendo
não deve ser confundido com o módulo rural. quanto a APP, sendo adequada sua destinação como área verde no
esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho
19 A supressão de vegetação nativa está projeto de loteamento, o que pode ser feito pelos municípios com
d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela
condicionada ao registro do imóvel no Cadastro os instrumentos previstos no Código. São eles: “o exercício do direito
mais próximo da elevação” (Art. 4º, V). Vide Figura 2.3. Ambiental Rural (CAR), banco de dados público que de preempção para aquisição de remanescentes florestais relevantes
Cabe lembrar que é o proprietário da terra que responde integra informações ambientais das propriedades,
[...], a transformação das Reservas Legais em áreas verdes nas
para fins de monitoramento, planejamento, controle
pela manutenção da APP e, caso haja supressão de vegetação
e combate ao desmatamento (Art. 29). expansões urbanas, o estabelecimento de exigência de áreas verdes nos
nativa, ele é obrigado a arcar com a reposição, sendo ela transmitida
loteamentos [...]; e a aplicação em áreas verdes de recursos oriundos da
compensação ambiental” (Art. 25).
O
JURISPRUDÊNCIA

Durante décadas, a imprecisa definição de topo de morro ou esclarecedoras, utilizadas pelo legislador de 2012 na redação do Art.
20 Art. 3º, VIII, b.
montanha deu margem a muitas interpretações. A Resolução Conama 4º, V, do Código Florestal vigente. Assim, as orientações da Resolução,
nº 303/2002 foi uma tentativa de resolver esse problema, ao descrever embora não revogadas, se tornaram obsoletas perante a lei florestal. 21 A vedação ao parcelamento do
o procedimento “correto” para delimitar as APP relacionadas a corpos E, tendo em vista que na hierarquia das normas a lei (ato do solo não é clara, mas deve-se atentar à palavra
hídricos e topos de morro. Legislativo) sobrepõe-se à resolução (ato do Executivo que somente “conversão”, quase sempre ligada ao uso alternativo
do solo. Deduz-se que essas áreas, quando já
No entanto, a Resolução ainda era confusa, o que levou CORTIZO descreve a fiel execução da lei), deve-se considerar sem efeito todo o
abrigarem atividades dessa natureza, não poderão
(2007) a publicar um estudo geométrico do texto, obtendo conclusões conteúdo da Resolução contrário ao disposto no atual Código Florestal.
ser convertidas para o uso alternativo, exceto nos
casos de utilidade pública e interesse social.

21
CAPÍTULO 1

Entende-se por Reserva Legal a: “área localizada no interior RESOLUÇÃO CONAMA Nº 01/1986
de uma propriedade ou posse rural [...] com a função de assegurar o
“Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental.”
uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel
rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos
e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a Institui e regulamenta o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) (quando já houver ativo em caixa e maior certeza da continuidade
proteção de fauna silvestre e da flora nativa” (Art. 3º, III). O proprietário, e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), exigível do negócio), englobando todas as fases posteriores. Caso a segunda
mediante contratação de consultoria especializada, determina a para projetos urbanísticos com área igual ou superior a 100 ha ou fase seja submetida à aprovação sem o EIA/RIMA, a autoridade
área de sua propriedade a ser destinada como Reserva Legal, que “em áreas consideradas de relevante interesse ambiental a critério da competente poderá entendê-la como continuidade da fase anterior
será averbada junto com a matrícula do imóvel. Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA) e dos órgãos municipais e e indeferir o pedido até que se tenha o estudo, o que pode prejudicar
APP poderão ser computadas no cálculo da Reserva Legal, estaduais” (Art. 2º, XV). seriamente o cronograma das obras.
desde que obedecidas as condições previstas no Art. 15: Conhecer os critérios de exigibilidade do EIA/RIMA ajudará a O EIA é arcado pelo empreendedor e deve contemplar todas
desenvolver a estratégia de parcelamento da gleba. A ideia é dividir as alternativas tecnológicas e locacionais do projeto, identificando
I - o benefício previsto neste artigo não implicar na conversão o empreendimento em fases, cada qual com área sempre inferior ao e avaliando impactos gerados durante a implantação e operação na
de novas áreas para o uso alternativo do solo; limite máximo de inexigibilidade do EIA/RIMA, bem como de outras área de influência. O RIMA refletirá as conclusões do EIA, contendo a
II - a área a ser computada estar conservada ou em processo exigências de autoridades estaduais que serão vistas adiante. descrição e o objetivo do projeto, bem como sua concordância com
de recuperação, conforme comprovação do proprietário ao É um cuidado a ser tomado pelo empreendedor, pois o EIA/ as políticas públicas e o efeito esperado das medidas mitigadoras24.
órgão estadual integrante do Sisnama22; e RIMA é um procedimento longo, caro e sistemático. Recomenda-se
III - o proprietário ou possuidor ter requerido inclusão do que seja feito após a conclusão da primeira fase do empreendimento 24 Art. 9º.

imóvel no Cadastro Ambiental Rural (CAR).


RESOLUÇÃO CONAMA Nº 369/2006
Entretanto, o regime de proteção da APP não se altera na “Dispõe sobre os casos excepcionais, de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental, que possibilitam a
hipótese prevista nesse artigo23. Por fim, o Código Florestal impõe intervenção ou supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente - APP.”
a todos os imóveis rurais a manutenção da cobertura vegetal
nativa em uma porcentagem de sua área. Fora da Amazônia Legal, Entender em quais casos é possível intervir em APP adquire da área da APP inserida na área verde pública e de até 15% para
o percentual mínimo exigido é de 20%, o qual poderá ser averbado importância estratégica à medida que as restrições geradas pelas ajardinamento, além de prever medida para: “recompor a vegetação
a título de Reserva Legal. APP prejudicam a implantação do empreendimento. com espécies nativas; minimizar a impermeabilização da superfície;
Para tal, o preponente deverá comprovar, entre outras coisas, conter as encostas e controlar a erosão; garantir o adequado escoamento
a inexistência de “alternativa técnica ou locacional ao projeto” e de “risco das águas pluviais e proteger área de recarga de aquíferos e margens dos
de agravamento de processos danosos como erosões e enchentes” (Art. corpos d’água” (Art. 8º, II).
3º, I e IV), além de arcar com as medidas compensatórias, sendo Equipamentos públicos podem ser instalados na APP25, como
uma delas “a efetiva recuperação ou recomposição da APP [...] na ciclovias, trilhas, mirantes, pequenos parques de lazer (excluídos os
mesma bacia hidrográfica e, prioritariamente, na área de influência do temáticos) e ancoradouros, bancos, sanitários e os ligados à cultura
empreendimento e nas cabeceiras dos rios” (Art. 5º, § 2º). e esporte. Além disso, poderão ser abertas “pequenas vias de acesso
É também permitida a supressão para implantar área verde interno, suas pontes e pontilhões, quando necessárias à travessia de um
pública, nos termos das Seções I e III, desde que seja contemplada curso d’água” (Art. 11) e construídas cercas divisórias. Nesses casos,
no Plano Diretor municipal e a supressão ocorra somente em alguns a área de intervenção não poderá ser superior a 5% da APP.
22 Sistema Nacional de Meio Ambiente, casos específicos de APP, como faixas marginais e topos de morro.
instituído pela Lei Federal nº 6.938/1981.
O projeto deverá ter taxa de impermeabilização de até 5%
23 Art. 15, § 1º. 25 Art. 8º, § 2º.

22
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO

RESOLUÇÃO SMA Nº 31/2009 DECRETo ESTADUAL Nº 52.053/2007 (GRAPROHAB)

“Dispõe sobre os procedimentos para análise dos pedidos de supressão de vegetação nativa “Reestrutura o Grupo de Análise e Aprovação de Projetos Habitacionais - Graprohab e dá
para parcelamento do solo ou qualquer edificação em área urbana.” providências correlatas.”

A pergunta mais importante que deve ser feita antes da leitura da Resolução é: “O projeto prevê O Grupo de Análise e Aprovação de Projetos Habitacionais do Estado de São Paulo (Graprohab) é
supressão de vegetação nativa?”. Se a resposta for “não”, aplicar-se-á o disposto no Art. 6º, que exige a um órgão colegiado criado pelo Decreto Estadual nº 33.499/1991. Tem por objetivo “centralizar e agilizar
“manutenção das características naturais de permeabilidade26 do solo em, no mínimo, 20% da área total27 do
a tramitação dos projetos de parcelamento do solo para fins residenciais e de núcleos habitacionais a serem
imóvel, preferencialmente em bloco único, visando assegurar, entre outros aspectos, a infiltração das águas
implantados, localizados em área urbana ou de expansão urbana, assim definidas por legislação municipal” (Art.
pluviais, a conservação da biodiversidade, a mitigação da formação de ilhas de calor e da poluição sonora e
1º) e apreciará os projetos enquadrados no Art. 5º, entre os quais estão os: “de loteamento para fins
atmosférica”. E, se a resposta for “sim”28, aplicar-se-á29 concomitantemente o disposto nos Arts. 3º e 6º.
habitacionais, [...] de desmembramento para fins habitacionais que resultem em mais de 10 lotes não servidos
O Art. 3º define os percentuais mínimos de vegetação a serem preservados, em relação à área por redes de água e de coleta de esgotos, guias e sarjetas, energia e iluminação pública, [...] os condomínios
do imóvel, de acordo com seu respectivo estágio de regeneração, a saber: horizontais e mistos (horizontais e verticais) com mais de 200 unidades ou com área de terreno superior a
50.000 m² [ 5 ha]”. Mesmo os projetos não elencados pelo Art. 5º deverão solicitar a dispensa de análise.
Para facilitar a atividade dos profissionais do setor, o Graprohab publica a cada dois anos um
Estágio de manual de orientações que reúne a lista de todas as exigências de cada órgão e entidade do colegiado.
regeneração
Sua leitura é indispensável para quem pretende aprovar e construir um grande projeto habitacional em
São Paulo, visto que parte dos indeferimentos (também chamados de “exigências técnicas”) acontecem
por simples falta de atenção dos requerentes, os quais enviam informações incompletas ou não sabem
Inicial Médio Avançado
Percentual da área do
preencher corretamente o quadro de áreas do projeto, que informa a destinação de suas áreas.
imóvel a ser preservada 30% 50% 70%* Observa-se também a confusão entre conceitos, como os de “área verde” e “sistema de lazer”.
O primeiro aplica-se aos espaços com predomínio de vegetação e indisponíveis para a construção, mas
*Aplicável para imóvel em perímetro urbano definido antes da edição da Lei Federal nº 11.428/2006 (Art. 3º, IV).
que podem ser destinado ao lazer30, diferente do segundo, que consiste no conjunto de equipamentos,
Fonte das imagens: Itaití Consultoria Ambiental Ltda.
públicos ou privados, destinados a recreação, que podem também estar dentro da área verde. Porém,
há prefeituras que os entendem como uma coisa só, o que infelizmente tem levado a escassez de
Figura 2.4 - Percentuais mínimos de vegetação a ser preservada de acordo com a Resolução SMA nº 31/09.
espaços de recreação em novos loteamentos, algo ainda mais prejudicial em bairros de média e baixa
renda. Para se ter uma ideia da gravidade do problema, há loteadores que destinam como sistema de
26 Área permeável não é sinônimo de área verde. Toda área verde é permeável,
mas nem toda área permeável é necessariamente verde. lazer tanques de retenção31 e faixas non-aedificandi32 no quadro de áreas.
Em relação aos estudos de impacto ambiental de nível estadual, estarão sujeitos ao Relatório
27 No caso de a prefeitura exigir apenas 10% de área verde e/ou permeável para
espaços livres públicos, deverá aceitar a titularidade dos 20% exigidos pela Resolução, Ambiental Preliminar (RAP)33 os empreendimentos com área igual ou superior a 700.000 m² (70 ha)
visto que a norma estadual é mais restritiva. E, segundo o § 1º do Art. 3º, as APP poderão em Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) ou fora do perímetro urbano municipal. O RAP ou o
ser averbadas como área verde, algo que é comumente vetado nas leis municipais, caso EIA/RIMA devem ser finalizados antes que o projeto seja submetido à aprovação no Graprohab.
a área verde em questão seja pública, pois as prefeituras negam a responsabilidade de
manter a APP.
30 Vide Art. 3º, XX, do Código Florestal.
28 A supressão de fragmento vegetal nativo em estágio avançado com área superior
31 A destinação do tanque de retenção como área de lazer não é vetada, desde que
a 30.000 m² (3 ha) depende de anuência prévia do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
fique comprovada sua efetiva utilização para fins de lazer.
Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
32 É proibida a destinação como sistema de lazer faixa non-aedificandi sob linha de
29 Essa Resolução não se aplica aos exemplares arbóreos isolados, regidos por
alta tensão, por motivos óbvios.
resolução própria.
33 Vide Decreto Estadual nº 47.400/2002.

23
CAPÍTULO 2

SELEÇÃO
CAPÍTULO 2

INTRODUÇÃO últimas décadas: um grande maciço edificado com recortes verdes dentro da mancha urbana.
O olhar se concentra neles, em busca de alguma área aproveitável que ainda não foi urbanizada,
Sendo um país de proporções continentais, o Brasil oferece imensa oferta de terrenos, dos por meio da ferramenta eletrônica de pesquisa Google Maps36. Focalizando o centro expandido de São
mais variados tipos e dimensões. No entanto, boa parte deles não é ou ainda não é apta à ocupação Paulo37, constata-se a inexistência de terrenos com 50 ha ou mais aptos à urbanização.
humana. Excluindo de início todas as terras situadas em Áreas de Preservação Ambiental (APA), de A pesquisa se dirige então para as porções periféricas do município, sendo a Zona Leste a primeira
Preservação Permanente (APP), Unidades de Conservação (UC) ou com uso restringido por qualquer região a ser peneirada. Das glebas encontradas, apenas duas são listadas aqui, e serão desqualificadas
dispositivo de zoneamento ecológico estadual ou federal, sobram as terras de uso rural e urbano. pelos mesmos motivos que impedem a citação de outras: o relevo acidentado, que conteve a expansão
Porém, como visto antes, a legislação veda o parcelamento de solo para fins urbanos em urbana (conservando-as como fragmentos verdes) e a forte restrição ao desenvolvimento residencial e
áreas rurais, ou seja, áreas fora de zona urbana ou de expansão urbana. O motivo: evitar a legitimação de uso misto, por parte da Lei de Uso e Ocupação de Solo (LUOS)38 vigente.
de minifúndios com área inferior ao módulo rural local e o incentivo à proliferação de assentamentos Parte-se então para a Zona Sul, em localidades próximas às Represas Billings e Guarapiranga.
clandestinos. Assim, a oferta de terrenos cai drasticamente, no entanto ainda não deixa de ser grande. Surgem novamente os empecilhos da legislação e das condições ambientais, as quais não aconselham
Mas trazendo o campo amostral para dentro dos limites da RMSP, o cenário da vasta oferta de o uso dessas áreas para ocupação humana, tornando-as quase todas inviáveis.
terras muda drasticamente. Os dados relativos aos projetos aprovados em alguns municípios do estado A Zona Oeste, todavia, ainda possui alguma oferta de sítios interessantes. O maior encontrado
de São Paulo no 1º trimestre de 201434 ajudam a ilustrar a situação: lá se situa na divisa com o município de Taboão da Serra, e chamou a atenção por conta da facilidade
de acesso (ao lado do trevo de interseção entre a Rodovia Raposo Tavares, o Rodoanel Mário Covas e
Distância da Nº de próximo ainda à Rodovia Régis Bittencourt) e que, ao contrário das glebas vistas anteriormente, possui
Município Nº de lotes Área média dos lotes (m²) topografia relativamente favorável à ocupação.
Capital (km) projetos
Barretos 439 3 1.616 226,50 Porém, mais uma vez, a lei municipal veda seu uso para fins urbanos, enquadrando-o como Zona
Boituva 123 4 1.380 369,36 de Preservação Ambiental (ZEPAM). Outro problema notado é que a linha de divisa entre os municípios
Bragança Paulista 86 1 503 471,74 de São Paulo e Taboão da Serra passa no meio da gleba, o que poderia gerar incompatibilidades no
Campinas 99 3 302 6.736,83 projeto, uma vez que ele estaria submetido a duas leis distintas de uso e ocupação do solo.
Jundiaí 60 1 4 10.957,70 Na Zona Norte constata-se o esforço do legislador paulistano em preservar os remanescentes
São Paulo - 1 6 3.867,54 verdes, pois todas as áreas notadas que se encaixam nos critérios da pesquisa não podem, pela lei,
Tabela 2 - Loteamentos aprovados em municípios de São Paulo no 1º trimestre de 2014. Fonte: Secovi (2014)
receber ocupação humana ou, quando podem, sujeitam-se a baixíssimos índices de aproveitamento e
ocupação, o que inviabiliza a abertura de novos loteamentos regulares.
O detalhe que mais chama a atenção é que as duas cidades mais próximas da Capital possuem
A Revisão do Plano Diretor Estratégico de São Paulo (PDE), ocorrida em 2013 e 2014, consolidou
menor oferta de lotes, mas os lotes possuem área média consideravelmente maior. Não foram incluídos
essa posição da Prefeitura Municipal, ao engessar ainda mais o desenvolvimento urbano nessa região,
dados de mais municípios da RMSP pois não houve ali novos loteamentos aprovados, o que não
principalmente no bairro de Perus, o que gerou revolta entre os moradores locais, pois o arcabouço de
indica falta de demanda, pois, entre abril e maio, foram vendidas 6.230 novas unidades na RMSP35.
restrições imposto pelo PDE mina investimentos em infraestrutura, como pavimentação e iluminação
Sabendo-se que lotes maiores são destinados a condomínios verticais que possuem índices de
pública, já que essas áreas, em tese, não poderiam ser ocupadas.
aproveitamento maiores que os de loteamentos unifamiliares, deduz-se que, quanto mais próximo da
A busca pelo terreno ideal deixa então o município de São Paulo e passa a percorrer os vizinhos,
Capital, maior a densidade construída, um claro reflexo da escassez de áreas disponíveis.
a começar por Cotia, Osasco, Carapicuíba e Barueri. A partir daí outra dificuldade entra em cena: a falta
Percorrendo as fotos de satélite, percebe-se o resultado do intenso processo de conurbação das
de informações técnicas sobre as glebas pesquisadas.

34 SECOVI. “Relatório de Aprovações de Loteamentos - Por Município” São Paulo:


36 Acesso em: <https://maps.google.com.br/>
2014, disponível em: <http://www.secovi.com.br/files/Arquivos/manual-graprohab-2014.
pdf>. Acesso em: 17 de agosto de 2014, 12h53. 37 Área delimitada pelas Marginais Pinheiros (a oeste) e Tietê (a norte), Av. Salim
Farah Maluf, Av. Profº Luiz Ignácio Anhaia Mello, Av. das Juntas Provisórias (a leste), Av.
35 SECOVI. “Pesquisa Mensal do Mercado Imobiliário” São Paulo: 2014, disponível
Pres. Tancredo Neves, Complexo Viário Maria Maluf e Av. dos Bandeirantes (a sul).
em: <www.secovi.com.br/files/Arquivos/pmi-maio-2014.pdf> Acesso em: 19 de agosto de
2014, 7h48. 38 Lei Municipal nº 13.885/2004.

26
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO

Aeroporto de Cumbica, cortado na sua porção mais plana pela rota


de aproximação de aeronaves. Isso restringe fortemente o gabarito
máximo dos edifícios o que, somado à insuficiência de dados, torna
inaptas as propriedades vistas em Guarulhos.
A região de Cajamar, Caieiras, Franco da Rocha e Francisco
Morato é a última opção, uma vez que seu relevo bastante acidentado
se traduz em baixos índices de aproveitamento. Seus núcleos urbanos
se caracterizam como manchas dispersas e contidas pelos acidentes
geográficos. Dali, uma área se destaca como potencial escolha para
o desenvolvimento deste estudo: trata-se de uma gleba situada entre
o centro consolidado de Caieiras e sua periferia. Delimitada por uma
rodovia estadual, está dentro do perímetro urbano do município.
A lei incentiva o adensamento, ao contrário da maioria das
áreas listadas, por meio da pluralidade de usos (condição necessária
para a comunidade planejada). O relevo, notavelmente ondulado (são
pouquíssimas as partes com declividade inferior a 10%), pode tornar-
se condicionante de projeto, direcionando o foco do trabalho para um
estudo de ocupação em terrenos íngremes, assunto muito relevante,
porém ainda não discutido no Brasil com a devida visibilidade.
Do ponto de vista fundiário, a gleba está regularizada e pertence
a somente um proprietário, que possui ainda a planialtimetria com
intervalo de 1 m entre as curvas de nível, indispensável para o exercício
de projeto. Tais pontos favoráveis, dentro do cenário descrito, fazem
da gleba de Caieiras a escolhida para sediar o estudo.
Figura 3 - Abrangência geográfica da pesquisa na RMSP. (Sem escala)

Enquanto a Prefeitura de São Paulo possui levantamento base cartográfica do Gegran39 não há registros.
cartográfico bem elaborado e amplamente acessível à população, Em Guarulhos, embora exista um sistema de informação
não se pode afirmar o mesmo sobre as municipalidades vizinhas, geográfica online, ele não fornece arquivos editáveis que permitam
que não fornecem seus dados com facilidade e, quando o fazem, aprofundar o estudo. Três terrenos foram localizados, sendo apenas
são insuficientes para o projeto, tornando inaproveitáveis a maioria um considerado apto: plano, próximo à Rodovia Presidente Dutra
das áreas ali encontradas. e incluído em uma zona mista que permite residência, comércio e
Da região oeste, parte da Vila Militar de Barueri se destaca. serviços, mas que está a menos de 2 mil metros da cabeceira do
Além do tamanho, está cercada pela cidade, possui vários tipos de
situações geográficas para enriquecer a análise de aptidão, além 39 Grupo Executivo da Grande São Paulo,
entidade criada em 1972 e reformulada em 1975,
de ter privilegiada acessibilidade e conectividade com o entorno. O
quando passou a atender pelo nome de Empresa
Exército, contudo, não forneceu a planialtimetria da área e até na Paulista de Planejamento Metropolitano S/A
(Emplasa).

27
CAPÍTULO 2

Figura 3.1 - Terreno 1. (Sem escala) Figura 3.2 - Terreno 2. (Sem escala)
TERRENO 1 TERRENO 2

Área: 755.108 m² Área: 768.257 m²


Localização: Altura do nº 8.000 da Av. Aricanduva, a sudoeste do Parque do Carmo, Distrito de Localização: Km 24 Norte do Rodoanel Mario Covas, entre as Rodovias Raposo Tavares (a norte) e
Itaquera, Zona Leste. Régis Bittencourt (a sul), Distrito do Butantã, Zona Oeste.
Zona de Uso: ZMp/01 – Zona Mista de Proteção Ambiental Zona de Uso: ZEPAM 13 – Zona Especial de Preservação Ambiental (no município de São Paulo)
Coeficiente de Aproveitamento: 1,0 (básico e máximo) Coeficiente de Aproveitamento: 0,1 (básico e máximo)
Taxa de Ocupação Máxima: 0,5 Taxa de Ocupação Máxima: 0,1
Taxa de Permeabilidade Mínima: 0,3 Taxa de Permeabilidade Mínima: 0,9
Lote Mínimo: 250 m² Lote Mínimo: Estudo de cada caso pelo Executivo
Frente Mínima: 10 m Frente Mínima: Estudo de cada caso pelo Executivo
Gabarito Máximo: 15 m Gabarito Máximo: 9 m
Recuos Mínimos: frente – 5 m; fundo e laterais – (se H ≤ 6 m): não exigido; (se H > 6 m): LUOS Recuos Mínimos: Estudo de cada caso pelo Executivo
Avaliação: Descartado, por conta do relevo muito acidentado. Avaliação: Descartado, por conta das restrições de uso e por estar sujeito a duas legislações
municipais.

28
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO

Figura 3.3 - Terreno 3. (Sem escala) Figura 3.4 - Terreno 4. (Sem escala)
TERRENO 3 TERRENO 4

Área: 2.330.786 m² Área: 2.240.435 m²


Localização: Altura do nº 6.400 da Av. Senador Teotônio Vilela, próximo ao Clube de Campo São Localização: Próximo ao km 28 norte da Rodovia dos Bandeirantes, Distrito de Perus, Zona Norte.
Paulo, Distrito de Capela do Socorro, Zona Sul. Zona de Uso: ZEPAG/11 – Zona de Produção Agrícola e Extração Mineral
Zonas de Uso: ZPDS/01 – Zona de Proteção e Desenvolvimento Sustentável; ZER-1/05 – Zona Coeficiente de Aproveitamento: 0,2 (básico e máximo)
Estritamente Residencial Taxa de Ocupação Máxima: 0,2
Coeficiente de Aproveitamento: Em ZPDS – 0,1 (básico e máximo), em ZER – 1,0 (básico e máximo) Taxa de Permeabilidade Mínima: 0,7
Taxa de Ocupação Máxima: Em ZPDS – 0,3; em ZER – 0,5 Lote Mínimo: Estudo de cada caso pelo Executivo
Taxa de Permeabilidade Mínima: Em ZPDS – 0,5; em ZER – 0,3 Frente Mínima: Estudo de cada caso pelo Executivo
Lote Mínimo: Em ZPDS –10.000 m²; em ZER – 500 m² Gabarito Máximo: 9 m
Frente Mínima: Em ZPDS – 50 m; em ZER – 10 m Recuos Mínimos: Estudo de cada caso pelo Executivo
Gabarito Máximo: Em ZPDS – 9 m; em ZER – 10 m Avaliação: Descartado, por conta das restrições de uso.
Recuos Mínimos: Em ZPDS – frente, fundo e laterais: 15 m; em ZER – frente: 5 m; fundo e laterais:
(se H ≤ 6 m) não exigido; (se H > 6 m) 2 m
Avaliação: Descartado, por conta das restrições de uso.

29
CAPÍTULO 2

Figura 3.5 - Terreno 5. (Sem escala) Figura 3.6 - Terreno 6. (Sem escala)
TERRENO 5 TERRENO 6

Área: 708.740 m² Área: 1.634.437 m²


Localização: Próximo ao km 27 sul da Rodovia dos Bandeirantes, Distrito de Perus, Zona Norte. Localização: Av. nº 01, a oeste do Aeroporto de Cumbica, no município de Guarulhos.
Zona de Uso: ZEPAM/06 – Zona Especial de Proteção Ambiental Zoneamento : ZMC – Zona Mista C
Coeficiente de Aproveitamento: 0,1 (básico e máximo) Coeficiente de Aproveitamento: 2,0
Taxa de Ocupação Máxima: 0,1 Taxa de Ocupação Máxima: (se residencial) 0,7; (se não-residencial) 0,8
Taxa de Permeabilidade Mínima: 0,9 Taxa de Permeabilidade Mínima: não consta
Lote Mínimo: Estudo de cada caso pelo Executivo Lote Mínimo: 125 m²
Frente Mínima: Estudo de cada caso pelo Executivo Frente Mínima: 5,00 m
Gabarito Máximo: 9 m Gabarito Máximo: sujeito a restrições
Recuos Mínimos: Estudo de cada caso pelo Executivo Recuos Mínimos: frente – 5 m; fundo e laterais – R = (h - 6) / 10, onde R = recuo em metros e h =
Avaliação: Descartado, por conta das restrições de uso. altura da edificação, respeitando o mínimo de 3 m.
Avaliação: Descartado, por conta das restrições de uso que decorrem da proximidade com o
aeroporto.

30
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO

Figura 3.7 - Terreno 7. (Sem escala) Figura 3.8 - Terreno 8. (Sem escala)
TERRENO 7 TERRENO 8

Área: 1.518.685 m² Área: 2.897.578 m²


Localização: Estrada Velha de Itapevi, porção sudeste da área militar no município de Barueri. Localização: Km 32 da Rodovia Presidente Tancredo de Almeida Neves, no município de Caieiras.
Zona de uso: Área militar Zonas de Uso: ZPR2 – Zona Predominantemente Residencial de Média Densidade; ZPR1 – de Alta
Avaliação: Descartado, por falta de dados. Densidade; ZEIS2 – Zona Especial de Interesse Social 2; CCS2 – Corredor de Comércio e Serviços 2
Coeficiente de Aproveitamento: Mínimos: em ZPR2 – 0,5; em ZPR1 – 0,5 (unifamiliar); 1,0
(multifamiliar); em CCS2 e ZEIS – 0,5. Básicos: em ZPR2 – 1,5; em ZPR1 - 1,0 (unifamiliar); 3,0
(multifamiliar); em CCS2 – 3,0; em ZEIS – 2,0. Máximos: em ZPR2 – 2,5; em ZPR1 – 3,0 (unifamiliar);
4,0 (multifamiliar); em CCS2 e ZEIS – 4,0
Taxa de Ocupação Máxima: Em ZPR2 – 0,65; em ZPR1 – 0,8; em CCS2 – 0,7; em ZEIS2 – 0,6
Taxa de Permeabilidade Mínima: Em ZPR2, ZPR1 e CCS2 – 0,2; em ZEIS2 – 0,15
Lote Mínimo: Em ZPR2 – 250 m²; em ZPR1 e CCS2 – 125 m²; em ZEIS – 75 m²
Frente Mínima: Em ZPR2 – unifamiliar: 10 m; multifamiliar: 15 m; em ZPR1 – unifamiliar: 5 m;
multifamiliar: 15 m; em CCS2 e ZEIS2 – 5 m
Gabarito Máximo: não há
Recuos Mínimos: Unifamiliar – em ZPR1 e ZPR2: frente – 5 m; fundo e laterais – não há;
multifamiliar: em ZPR1 – 8m; em ZPR2 – 10 m; fundo e laterais – (h/10 + 2,5) onde h = altura; em
CCS2 – frente: 10 m; fundo e laterais – (h/10 + 2,5); em ZEIS – vide plano de urbanização específica
Avaliação: Selecionado.

31
CAPÍTULO 3

ANÁLISE
CAPÍTULO 3
DADOS DO MUNICÍPIO

Nome: Caieiras
Fundação: 1877
Emancipação: 14 de janeiro de 1958
Área: 95,894 km²
População: 86.623 habitantes - 98% urbana; 2% rural (IBGE, 2010)
Taxa geométrica de crescimento: 1991-2000: 6,90; 2000-10: 1,97
Densidade demográfica: 903,32 hab/km²
Mortalidade infantil (até 1 ano): 14,20 por 1.000
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M): 0,813 (alto)
IDH-M Renda: 0,736
IDH-M Longevidade: 0,785
IDH-M Educação: 0,917 (IPEA)
Expectativa de vida: 72,13 anos
Taxa de fecundidade (filhos por mulher): 2,67
PIB: R$ 1.586.800.692 (IBGE, 2008)
PIB per capita: R$ 18.302,62 (IBGE, 2008)
Clima: Subtropical

(Fonte: SEADE, 2014)

Figura 4 - Inserção da gleba (vermelho) no município (verde) e sua relação com rodovias (amarelo) e ferrovia (rubi). (Escala 1 : 100.000 m)

INTRODUÇÃO MUNICÍPIO

O terreno compreende cerca de 3% da área total do município. É maior que todas as manchas Situação Geográfica e Uso do Solo
adjacentes (aproximadamente duas vezes maior que o centro consolidado), um enorme “vazio urbano”
O relevo de Caieiras é, em geral, marcado por altas declividades, típicas de formações serranas.
que separa o centro da cidade de sua zona periférica. Trata-se também de um atípico caso de propriedade
Isso, associado ao uso predominantemente agrícola do solo, confinou a expansão urbana, de tal forma
rural situada dentro do perímetro urbano, como será visto a seguir.
que a cidade é constituída por várias manchas dispersas em uma vasta região verde, o que explica a
A análise é feita em três etapas: a primeira investiga o contexto regional da gleba, sua inserção
baixa densidade demográfica (903 hab/km²). Mas os bairros, apesar de horizontais, possuem em geral
no município, bem como o estudo da legislação municipal e suas implicações no projeto. A segunda
lotes com grande densidade construída, sobretudo os mais periféricos. As plantações de eucalipto são
etapa procura descobrir o que há no entorno imediato do terreno. Essa compreensão ajuda a definir o
o pano de fundo da paisagem caieirense. Aproximadamente 46% de seu território pertence à Fazenda
público-alvo e os produtos oferecidos (lembrando que ela faz parte do estudo de vocação imobiliária).
Florestal da Companhia Melhoramentos de São Paulo (CMSP), cujas antigas fábricas de papel estão
A segunda etapa da análise, a do entorno, verifica as relações existentes (ou não) entre o sítio e
diretamente relacionadas com a história do município.
os bairros vizinhos. Conhecê-las é fundamental para tomar decisões estruturais de projeto, como definir
os acessos do empreendimento e localizar da maneira mais adequada possível as áreas institucionais, Acessibilidade
bem como definir o mix de produtos, complementando as informações obtidas na primeira etapa.
A terceira etapa, denominada análise interna, se debruçará somente sobre o terreno e seus O município é cortado pelas rodovias Bandeirantes (SP-348) e Presidente Tancredo de Almeida
aspectos ambientais, urbanísticos e fundiários, cujo produto será a já mencionada matriz de aptidão. Neves (SP-332) e encontra-se próximo ao trecho norte do Rodoanel Mário Covas (SP-021). Embora
próxima ao centro, a SP-348 não se comunica com o sistema viário municipal por conta do controle
total de acesso. Até mesmo indústrias que ladeiam a rodovia não podem utilizá-la, dependendo então
das estradas locais, estreitas, sinuosas e geralmente mal conservadas.
Portanto, apenas a SP-332 atende ao município e, apesar da menor capacidade, é a única que

34
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO

se comunica diretamente com o centro (e até ladeia a área de estudo). É continuação da Av. Raimundo Rodovia SP-332, na parte leste do município e outra dentro do terreno estudado.
Pereira de Magalhães, que vem do distrito de Perus, onde termina o trecho norte do Rodoanel. Cruza A ETE que margeia a SP-332 conta com investimento de R$ 59,5 milhões e obras iniciadas em
por viaduto a Linha 7 da Companhia Paulista dos Trens Metropolitanos (CPTM), inaugurado em 2013. julho de 2011. A conclusão é prevista para julho de 2016. É prevista também a implantação de 14,2 km
A Linha 7 da CPTM (trecho da antiga Estrada de Ferro Santos - Jundiaí) possui extensão de 60,5 de coletores-tronco e 9 km de redes coletoras, que levarão o esgoto até a estação. Atualmente, apenas
km e 17 estações (uma em Caieiras) fazendo a ligação por trilhos entre municípios da porção norte da a ETE Mairiporã atende à região. Já a ETE que está dentro do terreno teve suas obras iniciadas em finais
RMSP, transportando cargas e passageiros. Segundo a CPTM, a média diária, em 2011, foi de 391.272 de 2014, mediante decreto de desapropriação por utilidade pública, como será visto adiante.
passageiros. Trata-se da única ligação ferroviária existente em Caieiras. Caieiras não possui plano de macro e microdrenagem, sendo que apenas em 2011 o município
foi incluído na terceira fase do Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia do Tietê (PDMAT), ainda em
Investimentos em Infraestrutura elaboração. No período do verão, a ocorrência de picos de chuvas resulta em enchentes nas partes
mais baixas do município (principalmente na interseção da Rodovia SP-332 com a Linha 7).
No setor de transportes, os projetos de relevante impacto são o do Novo Aeroporto de São Paulo Todos os domicílios são atendidos pela coleta de resíduos sólidos. Há projeto para a instalação
(NASP) e o do Trem de Alta Velocidade (TAV). O NASP, anunciado publicamente em dezembro de 2013, de coleta seletiva, mas sem prazo para implantação. A empresa Elektro distribui energia elétrica em
será, se construído, um dos maiores aeroportos civis do Brasil, com duas pistas de 4,5 km. A compra Caieiras, enquanto a Companhia de Gás de São Paulo (Comgás) responde pelo gás canalizado.
da área que sediará o aeroporto (uma gleba com 7 km de extensão entre as Rodovias Anhanguera e Há 28 clínicas médicas e 5 odontológicas particulares, 12 unidades básicas de saúde, 1 hospital
Bandeirantes) está sendo negociada com a CMSP, embora não haja previsão para o início das obras. municipal e 2 privados. Possui 19 escolas de ensino médio (12 públicas e 7 particulares) e 38 escolas
Incluir Caieiras na rota da aviação civil transformaria a cidade em um pólo gerador de interesse, no ensino fundamental (10 da rede municipal, 14 da rede estadual e 14 particulares). Predominam as
impulsionando atividades até então inexistentes no munícipio, como a hotelaria corporativa e grandes escolas de pequeno porte e independentes. A única escola técnica profissionalizante (ETEC) de Caieiras
complexos empresariais e logísticos. Contudo, o TAV, anunciado pelo governo federal em 2005, seria foi inaugurada em 2013 e oferece 160 vagas. A Faculdade Metropolitana de Caieiras (FMC) é a única
extremamente prejudicial ao município, que ganharia uma considerável barreira física sem, no entanto, instituição de ensino superior do município, localizada no centro.
possuir uma única estação (haveria possibilidade apenas com a construção do aeroporto). Não obstante,
se construído, o TAV passará na parte mais aproveitável do terreno, inviabilizando-a. Apesar do enorme Corredores Comerciais e Prestação de Serviços
montante gasto com o estudo de viabilidade, ainda não há perspectivas reais de sua realização.
O governo estadual prevê investimento de R$705 milhões na Linha 7, para reformar as estações Caieiras não possui shopping ou centros comerciais de médio ou alto padrão (o único shopping
e modernizar sistemas de controle de tráfego, sinalização, telecomunicações e energia. Está no plano a da região está sendo construído em Cajamar). Em 2012, o comércio contava com 448 estabelecimentos
aquisição de novos trens (40 foram entregues em 2012, reduzindo para sete minutos o intervalo entre formalizados, responsáveis por 3.622 postos de trabalho, 17,16% dos empregos formais do município
viagens). O terminal municipal de ônibus urbanos situa-se no centro da cidade, ao lado da estação da (FIESP, 2012). Em Caieiras, há três corredores comerciais consolidados, mas não integrados:
CPTM. Os ônibus municipais operam mediante concessão pela Viação Cidade de Caieiras.
No setor de energia, a inauguração da subestação de Atibaia II reforça a estrutura de transmissão 1) Av. 14 de Dezembro - via com 2 estreitas faixas de rolamento e canteiro, situada no centro. É o
e beneficia Caieiras e Franco da Rocha, entre outros. Caieiras recebeu mais de R$ 64 milhões do PAC, principal eixo comercial do município, possui filiais de grandes lojas de departamento, agências
dos quais R$ 60,5 milhões serão destinados ao saneamento. Do Fundo Metropolitano de Financiamento bancárias, postos de combustível, um supermercado e um hospital. Apresenta visível saturação
e Investimento (Fumefi), o município obteve R$ 2,3 milhões para melhorias no sistema viário. do sistema viário, restrita oferta de vagas de estacionamento e dificuldade de circulação.

Oferta de Serviços 2) Av. Armando Sestini - via com 2 faixas de rolamento e canteiro central. O comércio é variado,
composto por lojas de pequeno porte. Está na porção noroeste de Caieiras, e termina na SP-332,
Todos os domicílios possuem água encanada, fornecida pela Companhia de Saneamento Básico próximo à divisa com Franco da Rocha. Não possui qualquer relação com o terreno.
do Estado de São Paulo (Sabesp) e 78% é atendido pela coleta de esgotos. Mas todo o esgoto coletado é
lançado no maior rio da cidade (Juquery) e seus afluentes sem qualquer tipo de tratamento. Há projeto 3) Av. Pauliceia - via com dimensões variáveis, situada na porção oeste do munícipo. É formada
para a instalação de duas Estações de Tratamento de Efluentes (ETE) em Caieiras, uma às margens da por estabelecimentos de pequeno porte (como os do eixo nº 2), e não se relaciona com o terreno.

35
CAPÍTULO 3

PLANO DIRETOR MUNICIPAL (Lei Complementar nº 4.538/2012) Um dos objetivos da política de mobilidade urbana é criar alternativas de deslocamento leste-
oeste , por meio da construção e duplicação de vias, das quais três se situam dentro da gleba:
43

A Revisão do Plano Diretor Municipal (PDM) define os termos gerais que norteiam a lei de uso e
ocupação do solo, em atendimento ao Estatuto da Cidade40. Sua leitura é indispensável para, em um - Construção de via marginal à SP-332, objetivando reduzir o tráfego saturado e transformá-
primeiro momento, verificar se a gleba encontra-se dentro da zona urbana ou de expansão urbana41 e, la em artéria municipal, por meio da consolidação de um corredor comercial às suas margens;
depois, identificar as diretrizes municipais incidentes na gleba. - Construção de via às margens do Ribeirão dos Cavalheiros, respeitando a APP do rio.
Confrontando o mapa de macrozoneamento (Figura 4.1) com a inserção da gleba no município Este ribeirão percorre toda a gleba, seguindo pelo fundo do vale no sentido oeste desde o bairro
(Figura 4), nota-se que ela está dentro da Macrozona de Consolidação Urbana (MCU), cujos objetivos Portal das Laranjeiras até o centro. Ela será aqui referida como Av. Ribeirão dos Cavalheiros.
são: “Incentivar a ocupação dos vazios urbanos existentes entre os núcleos urbanos de Laranjeiras e Centro e - Duplicação da Av. Dr. Olindo Dártora. Essa avenida margeia a gleba em sua porção norte.
a leste da SP 348; aplicar instrumentos urbanísticos cabíveis na indução dos vetores de crescimento, que devem
ocupar prioritariamente as áreas disponíveis próximas ao centro e promover o adensamento da ocupação Além disso, é diretriz expressa no PDM implantar parque linear44 ao longo da APP do Ribeirão
das áreas urbanizadas mais próximas dos núcleos consolidados e da área central”42. dos Cavalheiros e em parte das encostas adjacentes, bem como construir estação de tratamento de
efluentes (ETE)45 ao lado do Portal das Laranjeiras, para tratar o esgoto jogado diretamente no citado
ribeirão. Tais diretrizes situam-se dentro do terreno, e serão mapeadas a seguir, na análise interna.

REVISÃO DO ZONEAMENTO MUNICIPAL (Lei Ordinária nº 4.546/2012)

Da Lei de Zoneamento extraem-se as zonas de uso que englobam o terreno e os parâmetros de


uso e ocupação que deverão ser contemplados no masterplan. O terreno está dentro de três zonas:

ZPR1 - Zona Predominantemente Residencial de Alta Densidade


ZPR2 - Zona Predominantemente Residencial de Média Densidade
ZEIS2 - Zona Especial de Interesse Social 2
CCS2 – Corredor de Comércio e Serviços

Dos objetivos expressos para a ZPR1, destaca-se o adensamento vertical. A ZPR2 se caracteriza
como uma zona de transição entre as ZPR1 e ZPR3 (zona de baixa densidade). O objetivo do CCS2 é
consolidar um eixo comercial ao longo da SP, enquanto que a ZEIS ali está por exigência da legislação
federal. Dos usos permitidos, destacam-se os residenciais:

Unifamiliar (RU): apenas uma unidade habitacional por lote.


Multifamiliar (RM): mais de uma unidade habitacional por lote, podendo ser vertical ou não.
Vila Condominial Residencial (VCR): Conjunto residencial multifamiliar horizontal, com via
interna para circulação de veículos e pedestres e cota mínima de terreno para cada unidade
Figura 4.1 - Mapa de macrozoneamento, anexo I do PDM. (Escala gráfica, Fonte: Geobrasilis, 2012) habitacional igual ou superior a 100 m²; área máxima da vila limitada a 5.000 m² (0,5 ha).
40 Lei Federal nº 10.527/2001. 43 Art. 23 do PDM.
41 Art. 3º e 50, I da Lei Federal de Parcelamento de Solo. 44 Anexo III do PDM, Mapa 3/7 - “Sistema de Parques e Corredores Verdes”.
42 Art. 79, do PDM. 45 Art. 35, III, a, do PDM e Mapa 2/7 - “Diretrizes e Proposições”.

36
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO

Já os não-residenciais são: Comercial (CM), Serviços (SV) e Institucional (INST). Vale lembrar declividades máximas e a respectiva categoria de via. Um erro grave, visto que a declividade deve ser
que o uso misto (combinação de residencial e não-residencial) é permitida, desde que tenham acessos inversamente proporcional à quantidade e velocidade do tráfego. Como o legislador deixa esse espaço
distintos à via pública e não haja combinação de uso industrial com residencial ou institucional46. aberto, teoricamente é possível traçar uma via arterial com 14,9% de declividade em trecho infinito.
A lei classifica os usos por nível de incomodidade, indo do grau N0 ao N447, estando no nível N0 A lei define as vias como locais, coletoras e arteriais, relacionadas no Quadro 1.1.
o: “uso residencial e as categorias de uso não residencial que não interfiram negativamente no meio ambiente
e na vizinhança” e no nível N4: “o uso não residencial cujas atividades apresentam níveis de incomodidade e Faixas de Largura Faixas de Largura Largura do Faixa para ônibus
Classe viária
nocividade incompatíveis com o uso residencial”. Nos níveis N1 a N3 é admitido o uso residencial. rolamento (m) estacionamento (m) passeio (m) (largura = 4 m)
O loteamento fechado é permitido desde que possua estrutura viária de contorno e a área da 2 para cada Obrigatório nos
gleba loteada não ultrapasse 100.000 m²48 (10 ha). O limite de área impede sua adoção no município, Trânsito rápido 3,50 Proibido - 3,00
sentido 2 sentidos
uma vez que é necessária área bem maior para diluir os custos operacionais com clube e segurança. 2 para cada Permitido na Obrigatório nos
As vedações ao parcelamento coincidem com as da Lei Federal. As exigências específicas para Arterial 3,50 3,00 3,50
sentido margem direita 2 sentidos
parcelar terrenos com declividades iguais ou maiores que 30% (muito comuns em Caieiras) envolvem Obrigatório nas
diretrizes geotécnicas e recomendações relacionadas a escavações, estabilidade de taludes de corte e Coletora 2 3,00 2,50 3,50 Opcional
duas margens
aterro, comportamento de aterros quanto à deformação, estabilidade dos terrenos à erosão, bem como
Obrigatório em
orientações para escolha das fundações. Porém, tais diretrizes ainda não foram regulamentadas. Local 2 3,00 2,20 3,00 -
uma margem
A única exigência expressa na lei é o limite máximo de 60% de declividade nos taludes projetados.
Nota-se a inadequação da lei caieirense no que tange à implantação de sistema viário em áreas Quadro 1.1 - Dimensões das vias.

de encostas. Por exemplo, exige-se que o prolongamento de via já existente, ou em projeto aprovado Os passeios são obrigatórios em ambos os lados da via e as ciclovias, nas arteriais e de trânsito
pela Prefeitura, não poderá ter largura inferior a essa, algo que causa problemas geotécnicos em rápido. As faixas para ônibus são adicionais às demais faixas de rolamento exigidas.
terrenos íngremes, justamente onde recomenda-se estreitar sua caixa para não gerar grandes cortes e Quanto a exigência de áreas públicas, é obrigatório destinar 35% da área do loteamento para
aterros. O cruzamento deve ter declividade máxima de 3% e a inclinação longitudinal da via não pode uso institucional (5%)49, áreas verdes (10%)50 e sistema viário (20%).
exceder 15% em um trecho máximo de 100 metros.
Um detalhe relevante quanto a declividade máxima admitida pela lei é que não há relação entre

Lote mínimo Frente Coeficiente de Taxa Máxima de Taxa Mínima de


Zona Usos permitidos Recuos (m)
(m²) mínima (m) Aproveitamento Ocupação (%) Permeabilidade (%)
Mínimo Básico Máximo Frente Lateral Fundo
RU, CM, N0 a N1, INST, SV, UM, VCR 125 5 0,5 2,0 3,0 65 20 5 0 0
ZPR1
RM, CM N0 a N1, INST, SV, UM, VCR 500 15 1,0 3,0 4,0 80 20 10 (h/10) + 2,5 (h/10) + 2,5
RU, CM N0, INST, SV, UM, VCR 250 10 0,5 1,5 2,5 65 20 5 0 0
ZPR2
RM, CM N0, INST, SV, UM, VCR 500 15 0,5 1,5 2,5 65 20 8 (h/10) + 2,5 (h/10) + 2,5
ZEIS2 RU, RM, CM N0, SV N0 75 5 0,5 2,0 4,0 60 15 Conforme plano de urbanização específica
CCS2 RU, RM, CM N0 a N2, SV N0 a N2 125 5 0,5 3,0 4,0 70 20 10 (h/10) + 2,5 (h/10) + 2,5
Quadro 1 - Índices urbanísticos.

46 Art. 74, §§ 1º e 2º da Lei de Zoneamento.


49 A área institucional deverá ser entregue com declividade igual ou menor a 30%,
47 Art. 78 da Lei de Zoneamento. não podendo também estar em fundo de vale ou área sujeita a enchentes.
48 Art. 149. 50 Não serão computadas como áreas verdes as áreas de reentrância, concordância
de alinhamentos e praças de retorno e APP (Art. 110).

37
CAPÍTULO 3

ENTORNO IMEDIATO quadra, a FMC, instituição de nível superior, situada a cerca de 300 m da divisa do terreno. Na parte mais
alta da região, há um colégio particular, ao lado da gleba e do reservatório da Sabesp, que alimenta a
Apesar de contíguo à maior parte das manchas urbanas consolidadas do município, o terreno Adutora Perus-Caieiras. A adutora corta a gleba no sentido norte-sul, como será visto na análise interna.
está quase totalmente isolado, ora pelas condições do relevo, ora pela existência da SP-332, ora pelos
muros do loteamento vizinho. A existência de uma chácara impede a ligação direta entre o terreno e o Loteamento Nova Caieiras
centro do município, onde fica a estação da CPTM e o corredor comercial da Av. 14 de Dezembro.
O objetivo da análise estrita é mapear os equipamentos públicos e privados e outros pontos de Trata-se de um loteamento fechado de médio-alto padrão, cuja primeira fase é datada de 1978 e,
interesse em uma faixa de até 300 m além da divisa da gleba, auxiliando nas decisões que satisfaçam seguindo a tendência da época, caracterizava-se pela ocupação horizontal de baixa densidade baseada
as condições de caminhabilidade impostas para o projeto, que deverá evitar os grandes deslocamentos. no automóvel como matriz de transporte (ao contrário do centro que, orientado pela linha férrea, tem
ruas estreitas e saturadas). É o único bairro da cidade que possui hierarquização viária, estruturada ao
Centro redor de uma via coletora com generoso canteiro central que se estende por quase um quilômetro.
Diferente do centro, não há combinação de usos, predominando o residencial, através de casas
A cidade surgiu e se desenvolveu a partir do cruzamento da Estrada Velha de Campinas (atual SP- assobradadas com grandes recuos em lotes com 12 m de largura. Existe no cerne do loteamento um
332) com a estação de trem, construída no terceiro quartel do século XIX, que permitiu o escoamento de clube recreativo público, uma escola particular e um comércio tímido, o qual atende essencialmente à
boa parte da produção local pela Estrada de Ferro Santos - Jundiaí, tornando favorável a instalação da demanda local. Apesar da maior oferta de espaços livres que o centro, estes encontram-se nitidamente
primeira fábrica de papel do País, em 1887. O centro é, portanto, a ocupação mais antiga do município, abandonados. Os muros que cercam o loteamento impedem qualquer tipo de interação com o entorno
situada na várzea do Rio Juquery (a área mais plana da região), mas que teve sua expansão confinada (a única entrada é pela portaria para automóveis na SP-332). Contudo, o acesso é livre para pedestres.
por conta das encostas que o cercam por todos os lados e pela própria linha do trem a oeste.
Parte de seu arruamento possui geometria regular, gerando quarteirões quadradros, ocupados Vila Rosina e Portal das Laranjeiras
quase que totalmente por casas térreas e assobradadas de médio padrão, algumas delas construídas
até o alinhamento com a calçada. As ruas, estreitas, possuem passeios mínimos e o leito carroçável se Vila Rosina é um assentamento de baixa renda surgido na década de 1960. O bairro desenvolveu-
limita a duas esguias faixas, uma de rolamento e outra de estacionamento. Elas perdem a regularidade se ao longo da Av. Otávio Spigarollo, que desce pela crista do terreno até o Distrito de Perus e concentra
geométrica na porção sul, à medida que vencem a encosta do bairro Jardim Santo Antonio. Esse bairro a atividade comercial mais significativa (há um supermercado e lojas de material de construção). Nota-
é limitado a sul pela Av. Colômbia, que segue o divisor de águas do relevo e ladeia a gleba estudada. se também um grande número de igrejas e comunidades religiosas, a maioria delas improvisadamente
O centro é um núcleo de uso misto, onde predominam as residências, o comércio e a prestação instalada em casas unifamiliares. As ruas são estreitas, fruto de ocupações clandestinas subsequentes,
de serviços bastante variados. O coração comercial é o já citado eixo que começa na Av. 14 de Dezembro e as casas, muitas em tijolos aparentes, apoiam-se em taludes com fortes inclinações. Não há postos de
e segue pela sua continuação, a Av. Profº Carvalho Pinto, ladeando a linha do trem, até a estação, única saúde ou outros equipamentos, exceto duas escolas municipais e uma estadual. Nota-se o intenso uso
área de contato significativa entre a linha do trem e os logradouros públicos e onde se situa o terminal industrial, que vem ganhando força nos últimos anos, com a crescente adequação de áreas íngremes
municipal de ônibus urbanos e a Praça da Emancipação, maior espaço livre existente no centro. em platôs de aterro para abrigar galpões, muitos usados para fins logísticos. Há uma fábrica de malas
No eixo concentram-se agências bancárias, supermercado, bem como as filiais de grandes próxima à divisa com o terreno, no outro lado da rodovia, bem como uma escola pública municipal.
lojas de departamentos e templos das maiores igrejas evangélicas do País. Existe ainda um hospital Laranjeiras, contemporâneo a Vila Rosina, é um bairro de média-baixa renda, que, por conta da
particular, agências dos correios, postos de combustível e vários estabelecimentos de pequeno porte. O distância do centro, desenvolveu relativa autonomia, vista no eixo comercial da Av. Pauliceia, onde há
comércio ramifica-se nas vias transversais que se ligam ao eixo, diminuindo conforme chega na porção estabelecimentos de pequeno e médio porte. Possui vias mais largas que Vila Rosina e um espaço livre
de uso predominantemente residencial. Ali estão as clínicas odontológicas, escritórios imobiliários, de no centro, que sedia um clube. Há ainda, ao lado da divisa oeste da gleba, um grande equipamento
advocacia e contabilidade, geralmente instalados no mesmo lote onde residem seus proprietários. público de lazer e uma escola municipal bem equipada, porém abertos para o bairro e fechados para a
O centro concentra todos os órgãos municipais. O maior hospital público, ao lado Secretaria da avenida que ladeia o terreno. É recorrente a atividade industrial no local. Vale registrar que, a montante
Saúde, está na Rua Awerhanser, ladeira que vem desde a Praça da Emancipação e sobe a encosta até da gleba, a prefeitura irresponsavelmente construiu um lixão, cujo chorume contaminou boa parte
chegar ao Paço Municipal, na cota mais alta. Próximo dali está o Cemitério Municipal e, na mesma dos cursos d’água existentes na gleba estudada.

38
Figura 4.2 - Gleba e seu entorno imediato. (Escala 1 : 15.000 m)
CAPÍTULO 3

Fotografia 2 - Viaduto sobre estação


de trem da CPTM, outubro de 2013.
Distância da divisa oeste: 681 m.

Fotografia 2.1 - Hospital Municipal, R.


Awerhanser, março de 2011. Distância da
divisa oeste: 641 m.

Fotografia 2.2 - Av. 14 de dezembro,


dezembro de 2013. Distância da divisa
noroeste: 785 m.

Fotografia 2.3 - R. Ambrosia C.


Buonaguide, março de 2011. Distância
Figura 4.3 - Centro, área aproximada de 1.426.412 m² (142 ha). (Escala: 1 : 7.500 m) da divisa noroeste: 651 m.

40
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO

Fotografia 2.4 - Faculdade Metropolitana


de Caieiras, Av. Colômbia, março de
2011. Distância da divisa norte: 304 m.

Fotografia 2.5 - Portaria do Loteamento


Nova Caieiras, SP-332, março de 2011.
Distância da divisa oeste: 415 m.

Fotografia 2.6 - Clube Poliesportivo, R.


Vitório Olimpio, dezembro de 2014.
Distância da divisa sul: 117 m.

Fotografia 2.7 - R. Antonio Jorge Pereira,


dezembro de 2014. Distância da divisa
sul: 30 m. Figura 4.4 - Loteamento Nova Caieiras, área aproximada de 950.261 m² (95 ha). (Escala: 1 : 7.500 m)

41
CAPÍTULO 3

Fotografia 2.8 - Galpão da fabricante


de malas Primicia, Av. Davi Kaziysky,
dezembro de 2013. Distância da divisa
sul: 289 m.

Fotografia 2.9 - Trevo de acesso à Vila


Rosina, SP-332, dezembro de 2013.
Distância da divisa sul: 41 m.

Fotografia 2.10 - R. Ricardo Zaneti, abril


de 2011. Distância da divisa sul: 287 m.

Fotografia 2.11 - Mercado local, Av. Otávio


Spigarollo, abril de 2011. Distância da
Figura 4.5 - Vila Rosina, área aproximada de 665.794 m² (67 ha). (Escala: 1 : 7.500 m) divisa sul: 388 m.

42
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO

Fotografia 2.12 - Garagem da Viação


Caieiras, Av. João Casarotto, abril de 2011.
Distância da divisa sudeste: 196 m.

Fotografia 2.13 - Centro Cívico Municipal,


Av. João Casarotto, março de 2010.
Distância da divisa leste: 20 m.

Fotografia 2.14 - Praça com


equipamentos de lazer, março de 2010.
Distância da divisa leste: 613 m.

Fotografia 2.15 - Estabelecimentos


comerciais na Av. Pauliceia. Distância da
divisa leste: 1.215 m. Figura 4.6 - Portal das Laranjeiras, área (da parte visível na foto) de 1.046.450 m² (105 ha). (Escala: 1 : 7.500 m)

43
CAPÍTULO 3

ANÁLISE INTERNA não possua definição para “gleba”, GASPARINI (1988)51 a conceitua como: “toda área em que se pode, nos
termos da lei, implantar um loteamento para fins urbanos”, ao passo que AMADEI (2002)52 a define como:
A gleba está regularizada e preparada para receber um projeto urbanístico? Como deverá ser “a área de terreno que ainda não foi objeto de parcelamento urbano regular, isto é, aprovado e registrado”. É a
feito o desmembramento para conciliar da melhor maneira possível o licenciamento ambiental com o partir desses entendimentos que se formatará a estratégia de parcelamento da gleba matriz.
cronograma de obras? Qual será o aproveitamento líquido da área? Quais os locais onde será possível
adensar a ocupação? E os locais onde será proibida por lei? Como as diretrizes viárias serão encaixadas? SITUAÇÃO FUNDIÁRIA
Onde será a entrada principal do empreendimento?
Estas são algumas das perguntas cujas respostas o empreendedor deverá ter antes de começar O Terreno 8 (visto no Mapa 01), está inscrito na Matrícula nº 80.344 do 2º CRI do município de
o desenvolvimento da gleba, tornando o processo de análise fundamental para atestar a viabilidade do Franco da Rocha, sob o nome de “Gleba UA”. Pertence à Companhia Melhoramentos de São Paulo e
negócio. A análise interna verifica a situação fundiária da gleba, passando pelas suas particularidades possui como confrontantes, a norte, o imóvel denominado “Gleba U1”, (Matrícula nº 81.429 do CRI de
físicas, que serão espacializadas através de mapas que fornecerão a base do plano diretor. Franco da Rocha), a sudeste a “Gleba U3” (Matrícula nº 81.430) e a oeste a “Gleba P”, todas pertencentes
Todavia, o plano só poderá ser construído a partir do preciso entendimento da inserção urbanística à mesma empresa. Por serem propriedades contíguas, são entendidas como parcela única para fins de
da gleba, tanto no entorno imediato (escala de vizinhança), quanto no contexto regional. Os resultados projeto. A Gleba P, no entanto, não consta no Mapa 01 pois não fará parte deste estudo.
obtidos ajudarão a definir, entre outras coisas, público, produto e preço, dentro da viabilidade possível. As três glebas estão cercadas a norte pela Av. Colômbia e pela Av. Dr. Olindo Dártora, a oeste
pela Av. João Casarotto e a sul pela Rodovia SP-332. Todas as glebas possuem o Certificado de Cadastro
TRANSCRIÇÃO E MATRÍCULA do Imóvel Rural (CCIR), estando regularizadas no Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA),
e sujeitas ao regime do Imposto Territorial Rural (ITR), por conta do uso agrícola (silvicultura).
Os Cartórios de Registro de Imóveis (CRI) possuem a documentação das propriedades situadas Do ponto de vista fundiário, estão plenamente aptas para sediar um empreendimento, uma vez
em sua área de jurisdição: são as transcrições e matrículas. A transcrição era a forma de registro de que não contêm ocupações irregulares ou litígios entre confrontantes e se situam dentro do perímetro
imóveis usada até 31 de dezembro de 1975. Trata-se da reprodução de um escrito por cópias, reunidas urbano municipal e da zona de consolidação urbana. Excetua-se a área hachurada no mapa, a qual
em grandes livros e que possuem maior vínculo com os proprietários do que com o imóvel em si. está sendo desapropriada para abrigar a ETE constante no Plano Diretor Municipal e cujas implicações
As transcrições eram feitas por meio do critério temporal, servindo também como um registro no projeto serão vistas a seguir.
histórico dos imóveis ao longo dos anos. No entanto, ainda há muitas transcrições antigas que narram
o perímetro do terreno de maneira descritiva, usando pontos de referência que não existem mais, como
árvores e rochas. Fica então impossível determinar a linha de divisa de forma precisa, podendo criar
desentendimentos entre os confrontantes de uma propriedade que precisa ser regularizada.
Por isso, a transcrição não serve como documento para o parcelamento do solo para fins urbanos,
sendo necessária a retificação, ou seja, a sua conversão em matrícula. Esse processo, no entanto, pode
demorar vários anos, caso haja pendências judiciais, litígio entre confrontantes e outros problemas de
natureza fundiária, como invasões de terra, impostos atrasados e loteamentos clandestinos.
A matrícula, por sua vez, é a forma de registro de imóveis criada pela Lei Federal nº 6.015/1973,
a Lei dos Registros Públicos (LRP), em vigor desde 1º de janeiro de 1976. Trata-se de um documento
mais simplificado que a transcrição, cujo objetivo é dar rapidez aos negócios imobiliários. Ela contém
uma descrição pormenorizada do imóvel e é acompanhada por uma planta topográfica que fornece o
perímetro da propriedade, através de um polígono georreferenciado.
Além disso, para ser válida, necessita da concordância dos confrontantes, que devem assinar 51 GASPARINI, Diógenes. “O município e o parcelamento do solo” 2. ed. São Paulo:
Editora Saraiva, 1988, p.12.
o documento, celebrando acordo com o traçado de divisa constante na planta, que inclui também as
servidões de passagem, com o número do respectivo processo. Embora a Lei de Parcelamento de Solo 52 AMADEI, Vicente Celeste. “Como lotear uma gleba” 1. ed. São Paulo: Ed. Millenium,
2002.

44
Av. Colômbia

GLEBA U1
49,5 ha Av. Dr. Olindo
Matrícula nº 81.429 Dártora
2º CRI Franco da Rocha

GLEBA UA
289,75 ha
Matrícula nº 80.344
2º CRI Franco da Rocha

Av. João
Casarotto

Rodovia SP-332

GLEBA U3
74,9 ha
Matrícula nº 81.430
2º CRI Franco da Rocha
01. Registro Escala 1 : 7.500 m

Delimitação do polígono do imóvel


N

Área desapropriada
CAPÍTULO 3

LEVANTAMENTO PLANIALTIMÉTRICO Um vale é uma superfície côncava formada pela reunião


de duas vertentes opostas (pela base) e pode ser encontrado nas
A planialtimetria, através das curvas de nível, informa o projetista sobre a conformação do relevo, formas mostradas na Figura 4.11. Assemelha-se ao talvegue.
sendo a base para o mapa hipsométrico (que identifica as altitudes existentes na gleba), o de declividade
(que identifica a variação dessas altitudes) e o de drenagem, que delimita as microbacias hidrográficas.
Contudo, para uma leitura proveitosa, é importante conhecer os tipos de feições morfológicas existentes
Figura 4.11 - Tipos de vale. Fonte: DOMINGUES, 1979
no relevo. Para isso, há aqui um pequeno glossário com os termos mais recorrentes neste trabalho.

Uma elevação ocorre em superfícies onde as curvas de


Um ponto de sela ocorre no cruzamento de uma mesma
nível de menor valor (mais baixas) envolvem as de maior valor. O
curva de nível. O ponto de sela entre dois cumes é a base para a
oposto ocorre na depressão. Enquanto a elevação é um topo de
definição de topo de morro no Código Florestal vigente.
morro, na depressão pode ocorrer a formação de lagos.

Figura 4.7 - Elevação (à esq.) e depressão (à dir.). Fonte: GARCIA, 1984


Figura 4.12 - Ponto de sela. Fonte: CORTIZO, 2007

Um espigão é uma elevação alongada originada em um


Um divisor de águas é uma linha formada pelo encontro
contraforte.
de duas vertentes opostas (pelos cumes) e segundo a qual as
águas se dividem para uma e outra destas vertentes. É também
denominado linha de cumeada.

Figura 4.8 - Espigão. Fonte: DOMINGUES, 1979


Figura 4.13 - Divisor de águas. Fonte: DOMINGUES, 1979

Um corredor é uma faixa de terreno entre duas elevações


O dorso é uma superfície convexa formada pela reunião
de grande extensão. Geralmente se trata de um fundo de vale
de duas vertentes opostas (pelos cumes). Podem ser encontrados
que funciona como canaleta para conduzir toda a água da micro-
nas formas mostradas na Figura 4.14.
bacia.

Figura 4.9 - Corredor. Fonte: GARCIA e PIEDADE, 1984


Figura 4.14 - Tipos de dorso. Fonte: ESPARTEL, 1987

Um talvegue é uma linha de encontro de duas vertentes


A planialtimetria identifica a ocorrência desses fenômenos. Cabe lembrar que a intepretação do
opostas pela base, onde as águas tendem a se juntar, formando
Mapa 01 se dá através de seus derivados, os Mapas 02, 03 e 04. A leitura obedece a seguinte ordem:
cursos d’água (forma inversa do espigão). É também chamado
a página da esquerda contém o mapa completo e sua respectiva legenda, e a página da direita contém
de “anfiteatro”.
o mapa sobreposto pelos comentários, com exceção do Mapa 10.

Figura 4.10 - Talvegue. Fonte: DOMINGUES, 1979

46
02. Planialtimetria Escala 1 : 7.500 m

 
N


03. Hipsometria Escala 1 : 7.500 m

 

 

 

 
N


As situações A e B exigem atenção do projetista,
uma vez que grande variação de altitude em um
curto espaço em planta denota a existência de
declividades e desníveis consideráveis. Uma vez
que o desnível supera os 100 m e a declividade
é superior a 25 graus em uma das vertentes, é
possível que a porção mais alta dessa área seja
uma APP de topo de morro.

É, portanto, necessário consultar a cartografia


oficial para verificar os pontos de sela mais
próximos (eles não estão dentro da matrícula) e
aplicar o Art. 4º, IX, do Código Florestal.

Verifica-se então que, em ambas as situações A


e B, a diferença de altura entre os pontos de sela
é inferior a 30 m, não caracterizando APP
de topo de morro.

A B
Corredor-vale termina na
divisa leste, com 19 m de
desnível em cerca de 2,5
km de extensão.

OBSERVAÇÕES GERAIS Corredor existente na gleba começa na porção leste,


em cota mais alta, seguindo na direção oeste.
A informação mais clara fornecida pelo mapa é de
que a gleba constitui uma micro-bacia hidrográfica. A
sua linha divisória encontra-se nas partes mais altas
do relevo (quase coincidindo com os divisores d’água
naturais), enquanto há um extenso vale-corredor no
miolo do terreno, dividindo-o no sentido leste-oeste.

Há talvegues no sentido norte-sul, que interrompem o C


comportamento homogêneo das curvas de nível na
porção da gleba ladeada pela SP-332, dividindo-a em
4 bolsões relativamente planos. Todas as elevações Nas situações C, D e E também
próximas à SP-332. estão em cota superior à rodovia, não ocorrem APP de topo de
sinalizando a necessidade de ajustes no terreno para morro, após ser feita a mesma
criar acessos. verificação das situações A e B.

D E
04. Declividade Escala 1 : 7.500 m

 

 

 

 
N


Áreas planas próximas à divisa
As maiores declividades (acima de 30%) concentram-se na
facilitam a construção de acessos
porção norte da gleba, sobrando poucas áreas planas, situadas
viários e duplicações de avenidas.
no cume dos montes, que possuem acesso pela Av. Dr. Olindo
Dártora. Áreas com mais de 25º (46,6%) são consideradas de
Uso Restrito e não podem ser urbanizadas.

BOLSÃO
BOLSÃO 11

OBSERVAÇÕES GERAIS

0 - 5%: Não restringe o traçado das vias, no


entanto a declividade nula contribui para o BOLSÃO
BOLSÃO 22
assoreamento das drenagens. A faixa de 2-
5% é ideal para as vias, especialmente as BOLSÃO
BOLSÃO33
destinadas ao comércio de rua.

5 - 10%: Contém o limite para inclinação


longitudinal de via arterial (8%) e rampa de BOLSÃO
BOLSÃO44
acessibilidade universal (8,33%).

10 - 15%: Contém o limite para inclinação


longitudinal de via coletora (12%) e local
(15%). Os cruzamentos de vias começam a
apresentar problemas de concordância.

15 - 30%: Não é possível construir via com


eixo ortogonal às curvas de nível. Acima de As áreas mais planas ladeiam a SP-332, na
20% é recomendado que os lotes possuam a porção sul, porém são divididas pelas altas
dimensão maior paralela às curvas de nível. declividades das paredes dos talvegues em
quatro bolsões (1, 2, 3 e 4).
30 - 45%: Alta velocidade de escoamento das
águas pluviais. A aprovação do projeto está Os bolsões 1 e 3 concentram as áreas mais
condicionada ao atendimento de todas as planas do terreno, enquanto que nos bolsões
exigências legais (Art 3º, Lei nº 6.766/79). 2 e 4 haverá problemas de concordância das
vias por conta da declividade média de 15%.
45 - 100%: Áreas de Uso Restrito (46,6%).
Devem ser destinadas como área verde. As declividades das partes lindeiras à SP-
332 impedem a construção de acessos sem
Concentrações de áreas planas
> 100%: APP haver obra de terraplanagem.
existentes na gleba
05. Drenagem e Hidrografia Escala 1 : 7.500 m

Curso d’água Linha de drenagem


N

Divisor de águas Nascente


Nos locais onde há excesso de linhas de drenagem não se
aconselha a implantação de vias ou qualquer tipo de ocupação
humana, evitando assim o risco de deslizamentos.

OBSERVAÇÕES GERAIS

Este mapa ajuda a delimitar todas as sub-


bacias hidrográficas existentes no terreno,
mostrando a localização dos divisores de
água e das linhas de drenagem naturais.

Somente com base nessas informações é


possível esboçar o sistema viário do bairro
(vias arteriais e coletoras) em harmonia
com o relevo e, portanto, prevendo menor
demanda por obras de terraplanagem.

De maneira geral, os divisores d’água são


os melhores locais para implantar uma via
estrutural ou coletora, por conta da baixa
declividade da linha divisora, pela melhor
condição do solo e pelo fato de que a linha
percorre grandes extensões de terreno.
Divisores d’água existentes em cada bolsão
As linhas de drenagem, por sua vez, são as indicam os melhores traçados possíveis para
mais indicadas para abrigar via local, caso as vias coletoras de cada núcleo do bairro. Esta linha de drenagem
a declividade da linha não seja maior que pode abrigar via local.
12%.
06. Restrições Escala 1 : 7.500 m

 

 

 
N

 
Regiões inaptas à ocupação, Fortes concentrações de Áreas de Uso Restrito restringem os
por conta da combinação de atos de urbanização em boas partes do terreno, inviabilizando
APP com mata nativa e altas inclusive a comunicação viária no sentido norte-sul.
declividades.

Talvegue que reúne matas nativas


com Área de Uso Restrito também
é um local inapto à ocupação.

BOLSÃO 1

BOLSÃO 2
BOLSÃO 3

BOLSÃO 4

Existência de mata nativa combinada com


altas declividades e APP de corpo hídrico
impede a construção de vias ou edifícios
no miolo dos talvegues e na borda da SP.

O foco de contaminação oriunda do lixão


A Adutora Perus-Caieiras corta o invade a gleba por meio desta nascente,
Bolsão 2, restringindo o desenho e, por gravidade, contamina o restante do
OBSERVAÇÕES GERAIS
das vias locais e do acesso pela SP, Ribeirão dos Cavalheiros, já castigado
caso seja preservada no projeto. pelos efluentes lançados sem tratamento
Este mapa espacializa todas as restrições
do bairro Portal das Laranjeiras.
impostas pela legislação estudada.
07. Zoneamento e Diretrizes Municipais Escala 1 : 7.500 m

Ciclovia proposta Proposta de Reserva Legal (março de 2013)

Diretriz viária Corredor de Comércio e Serviços (CCS2)

Zona Predominantemente Residencial


Duplicação de via existente
de Média Densidade (ZPR2)
Estação de tratamento de efluentes Zona Predominantemente Residencial N
(ETE) de Alta Densidade (ZPR1)
Parque Municipal Zona Especial de Interesse Social 2
(ZEIS2)
Parte da área destinada ao futuro ZEIS está praticamente dentro do
parque municipal coincide com a talvegue com altas declividades e
área onde pretende-se averbar a ocorrência de vegetação nativa.
Reserva Legal da propriedade.

ETE sobrepõe-se à diretriz viária,


o que causará problemas no nível de
projeto urbano.

Corredor Comercial avança 150


metros dentro da gleba, contados a
partir da borda da SP 332.

ZPR2 funciona como «zona de amortecimento»


entre as altas densidades pretendidas na ZPR1
e a densidade do Centro e do Loteamento Nova
Caieiras.
08. Sobreposição # 1 Escala 1 : 7.500 m

Adutora ETE

Ciclovia proposta Faixa non-aedificandi

Diretriz viária Mata nativa em Área de Uso Restrito

APP Mata nativa em APP


N

Área de Uso Restrito Mata nativa fora de APP


Embora a diretriz viária precise respeitar APP do Ribeirão, ela
cruzará na transversal três cursos d’água existentes no terreno.

A APP do Ribeirão impede o desvio


da avenida para a calha do córrego,
o local mais adequado do ponto de
vista da topografia.

BOLSÃO 1

BOLSÃO 2
BOLSÃO 3

BOLSÃO 4

Duplicação da SP 332, se feita de


acordo com o traçado do PDM,
ocasionará sérias interferências
ambientais.
09. Sobreposição #2 Escala 1 : 7.500 m

0 - 5% 30 - 45% Divisor de águas

5 - 10% 45 - 100% Linha de drenagem

10 - 15% > 100% Ciclovia proposta

15 - 20% Desconhecida Diretriz viária


N

20 - 30% Curso d’água


Duplicação de avenida
neste trecho também Declividades são incompatíveis com a via arterial requerida,
O traçado da ciclovia será problemática exigindo implantação através de obra de terra, mais barata,
avança sobre a encosta porém com maior impacto ambiental, ou obra de arte, mais
e precisará ser revisto. cara, contudo menos agressiva ao meio ambiente.

BOLSÃO
BOLSÃO 11

BOLSÃO
BOLSÃO22
Um forte desnível impede a BOLSÃO
BOLSÃO33
conexão entre a ciclovia
proposta e a SP-332. Haverá
dificuldade para construir via
sobre a adutora, por conta da
BOLSÃO
BOLSÃO44
inclinação do terreno.

Altas declividades também revelam a


inadequação da proposta de duplicar
a SP 332, na maior parte dos trechos.
Os divisores d’água são os locais mais adequados
para se implantar as vias coletoras do loteamento.
CAPÍTULO 3

MÉTODO DE ANÁLISE DE APTIDÃO LEITURA DA MATRIZ DE APTIDÃO

Segundo AZEVEDO (2004)53, os métodos de análise de aptidão se dividem em dois grupos: “aqueles Assim como outros mapas, na matriz nota-se que o Ribeirão dos Cavalheiros divide a gleba em
que partem de usos pré-determinados e analisam sua interação com os diferentes atributos da paisagem, e as dois setores (norte e sul). Há forte concentração de áreas inaptas no setor norte, enquanto que no sul a
que analisam os atributos da paisagem independentemente de qualquer uso previsto. No primeiro grupo (dos existência de talvegues cujas paredes possuem altas declividades secciona as áreas aproveitáveis em
que consideram usos pré-determinados) é importante ainda fazer uma distinção entre análises eliminatórias e quatro bolsões isolados. A APP gerada pelos córregos secundários reforça essa divisão. No entanto, o
análises de compatibilidade. [...] Em muitos casos, faz-se necessária uma adaptação dos métodos, combinando cordão de áreas inaproveitáveis para o loteamento coincide com o perímetro do futuro parque municipal.
elementos de diferentes tipos de análise, sempre respeitando, no entanto, o esquema geral de formulação de A existência da Adutora Perus-Caieiras gera uma faixa de servidão que restringe as possibilidades
hipóteses de ocupação (no caso de usos pré-determinados), seleção e mapeamento dos dados relevantes, de quadra no bolsão nº 2, dificultando até a implantação do acesso pela SP 332, uma vez que o topo
integração com outros dados [...], elaboração de possibilidades de ocupação e avaliação dos resultados para do morrote está 15 m acima da cota da estrada, separado desta por uma rampa íngreme onde passa
identificar cenário mais desejável”54. a adutora, cujo traçado será ou não alterado em função do projeto.
Neste caso, existe um uso pré-determinado (ou melhor, uma combinação de usos que geram o A matriz também revela a inadequação dos locais onde a prefeitura deseja criar vias arteriais e
bairro planejado). Dentre os métodos apresentados no texto, opta-se pelo denominado graytones. De de trânsito rápido. A mais grave é a duplicação da SP 332, traçada em áreas que combinam altas
acordo com o autor, “o método consiste na elaboração de mapas para cada variável considerada. Nos mapas, declividades, nascentes e grandes fragmentos de mata nativa (inclusive no interior das APP).
estas variáveis são classificadas de acordo com seu grau de adequação para o uso proposto, e exibidas em A via de fundo de vale (denominada “Av. Ribeirão dos Cavalheiros”), apresentará implantação
diferentes tonalidades de cinza (daí o nome graytones)”. mais amena, exceto nos trechos em que precisará cruzar a base dos talvegues e dos seus respectivos
O método possui caráter eliminatório e evidencia, através da tonalidade de cinza, as áreas mais córregos, áreas que combinam inclinação maior que 15% e presença de mata nativa dentro de APP.
ou menos aptas para os usos propostos, sendo essencialmente visual e apresentando limitações, como Por fim, mesmo os bolsões que concentram as partes mais aptas não oferecem grande liberdade
a incapacidade de relacionar variáveis, fornecer diagnósticos complexos, bem como conferir “pesos” às no traçado do viário nem na implantação dos edifícios, por conta das inclinações.
características do sítio, dando traços matemáticos à análise. Porém, atende ao propósito do trabalho.
O Quadro 1.2 mostra os critérios de classificação utilizados: APTIDÃO GEOTÉCNICA

É imprescindível conhecer as condições geológicas do terreno que irá sediar o projeto, visto que
Área Critério Aptidão
a possibilidade de haver solos inadequados tanto em terrenos planos quanto inclinados pode invalidar a
matriz. Embora não haja qualquer levantamento feito por sondagens, existem informações que, apesar
Não urbanizável APP, Área de Uso Restrito Nula
de genéricas, ajudam a tomar as decisões mais corretas possíveis.
Não edificável Faixa non-aedificandi Muito baixa De acordo com o Mapa Geológico (EMPLASA, 1984)55, o terreno em questão se situa em zona de
Área com vegetação nativa e/ou com migmatitos. Cruzando essa informação com o disposto no Guia de Utilização da Carta de Aptidão Física
Urbanização não recomendável Baixa
declividade entre 30 e 45% ao Assentamento Urbano (EMPLASA, 1986), observa-se o risco de: “erosão em sulcos nas áreas expostas
Área sem vegetação nativa e com [...] escorregamentos em taludes de corte“. Logo, recomenda: “executar preferencialmente o leito das vias
Urbanizável mediante ajustes Média
declividade entre 15 e 30% em corte, evitando a construção de aterros a meia encosta. Neste caso, dispor o material excedente em
Área sem vegetação nativa e com locais adequados, de modo a mantê-lo estável e protegido de processos erosivos e; utilizar o solo de alteração,
Urbanizável Alta
declividade menor que 15% sempre que possível, apenas como núcleo de aterros, executando o acabamento com solo superficial e adotando
Quadro 1.2 - Classificação das áreas na matriz de aptidão. critérios rígidos de compactação, drenagem e proteção vegetal”56.

53 AZEVEDO, Joaquim Rondon da Rocha. “A Análise de Aptidão como instrumento de


planejamento de empreendimentos imobiliários e de lazer de base natural” Latin America 55 Disponível no endereço: < http://200.144.28.155/enerweb/31%2031.02%20
Real Estate Society, 2004. p. 4. 45.01/300/31%2031.02%2045.01_M1.pdf> Acesso em: 07 de novembro de 2014, 15:11.
54 AZEVEDO, p. 5. 56 EMPLASA / IPT / SICCT / SNM. “Guia de Utilização da Carta de Aptidão Física ao
Assentamento Urbano”. São Paulo: 1986, p. 20 e 22.
62
10. Matriz de aptidão Escala 1 : 7.500 m

 

 
N

 
CAPÍTULO 3

REGISTRO FOTOGRÁFICO DA GLEBA (Junho de 2014)

Fotografia 2.16 - Vista geral da plantação de eucaliptos (vegetação exótica). Fotografia 2.17 - Idem.

Fotografia 2.18 - Vista geral do divisor de águas na porção norte da gleba.

64
2.16

2.18

2.19 2.23
2.22 2.16
2.21
2.17

N
Figura 4.15 - Posição das fotografias na gleba. (Escala 1 : 7.500 m)
CAPÍTULO 3

Fotografia 2.19 - Vista de encosta situada na porção norte da gleba. Fotografia 2.20 - Divisa com Av. Dr. Olindo Dártora.

Fotografia 2.21 - Vista do talvegue.

66
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO

Fotografia 2.22 - Vista do Bolsão nº 2, a partir de um dos pontos mais altos da gleba. À frente, densa plantação de árvores do gênero Cunninghamia, vegetação exótica oriunda da China.

Fotografia 2.23 - Vista de dentro do anfiteatro do talvegue.

67
CAPÍTULO 4

PROJETO
CAPÍTULO 4

INTRODUÇÃO ESTRATÉGIA DE DESMEMBRAMENTO

Apesar de ser apresentado de forma única, o exercício prático aqui desenvolvido parte de dois Anterior ao projeto, o desmembramento preliminar da gleba é motivado por três razões:
métodos opostos; e a síntese de ambos é o produto. Estes métodos foram apresentados na introdução: o
primeiro baseia-se na escala regional, enquanto que o outro parte da unidade (a planta do apartamento). - Licenciamento ambiental:
Nenhum dos dois é completo por si só, sendo o produto final a síntese de ambos. - Estímulo à valorização do ativo imobiliário.
No primeiro método, não há a noção de edifício ou quadra. O projeto urbano é norteado a partir - Definição adequada e proporcional das áreas para equipamentos públicos (áreas institucionais);
da setorização de usos no plano diretor de uso e ocupação. O plano, como já foi explicado, fundamenta-
se na matriz de aptidões, que identificou previamente os locais aptos e inaptos. Neste método, o plano Como já visto, empreendimentos com área superior a 70 ha e que reúnem certas características
diretor mostrará o traçado aproximado das vias estruturais e coletoras, que serão ajustadas conforme sujeitam-se ao RAP, e acima de 100 ha, ao EIA/RIMA. Embora dentro do perímetro urbano municipal,
se aumenta o detalhamento do projeto. uma pequena parcela da área situa-se em ZEIS e, como as leis federais dão prerrogativa aos órgãos
Embora aparentemente superficial e impreciso, conceituar o viário desse modo ajuda a evitar ambientais no sentido de impor a obrigatoriedade do estudo de forma discricionária, é mais seguro
os maiores impactos ambientais e deseconomias de projeto pois, conhecendo previamente as porções que cada parcela possua área inferior a 70 ha.
mais sensíveis à intervenção, é possível obter um traçado mais compatível com o terreno. No entanto, É possível, assim, lançar a primeira fase sem os estudos (que, além de bastante complexos, têm
ao chegar no desenho das vias locais, aparecem as limitações: as quadras são delimitadas por critérios prazo de validade). Obtendo-se êxito das vendas da primeira fase e com ativo em caixa, pode-se lançar
predominantemente técnicos e legais, desconectadas da preocupação de criar a paisagem do bairro, a fase subsequente. Aí, iniciam-se os estudos ambientais exigidos para toda a área a ser desenvolvida.
gerando um desenho urbano, de certa forma alienado e distante da ideia de comunidade. Mas, caso o empreendedor tente aprovar a segunda fase sem fazer os estudos, terá o pedido indeferido,
Além disso, um sistema viário que não é dimensionado de acordo com a disposição dos edifícios pois a autoridade ambiental entenderá a segunda fase como continuação da primeira.
torna-se antieconômico quando, por exemplo, é implantado em quantidade maior que a necessária ou O lançamento por fases também incentiva a valorização do m² das áreas ainda não loteadas. O
ainda quando o desenho da quadra não permite a mais eficiente replicação de certo tipo arquitetônico. valor do m² relaciona-se intimamente com densidade quando é necessário prever grandes quantidades
A partir daí fica clara a necessidade de projetar também “de baixo para cima”, priorizando o arranjo das de estacionamento em um terreno com baixo valor de mercado, pois não se justifica economicamente
edificações e dos espaços livres, evitando equívocos como edifícios “espremidos” na quadra e espaços adotar subsolos ou qualquer outra solução cujo valor do m² construído exceda o do terreno incorporado.
livres que nada mais são que as “sobras” inaproveitáveis da gleba. No estudo de tipologia, chega-se a um pavimento-tipo com 8 andares e 8 unidades por andar e
área de 575 m². A necessidade de haver uma vaga por apartamento demanda então 64 vagas, que
PRODUTOS ocuparão uma plataforma com área mínima de quase 1.200 m², mais que o dobro do tamanho da
projeção do edifício. Quando não é viável “empilhar” as plataformas, elas deverão estar a céu aberto,
São os produtos finais deste trabalho: consumindo muito espaço e dificultando a implantação dos blocos na quadra.
A lei determina que 5% da área loteada seja doada para sediar equipamentos públicos. Antes
- Proposta de desmembramento inicial da gleba (302 ha); de tudo, é preciso diferenciar área loteada de área remanescente. Entende-se como loteada toda área
- Plano diretor geral de uso e ocupação da gleba (302 ha); destinada no quadro do Graprohab. Tudo o que pertencer à gleba, mas não constar no quadro, será
- Projeto geométrico do sistema viário oficial da terceira e quarta fase do projeto (69 ha); remanescente. É importante frisar que as áreas verdes, apesar de não urbanizadas, também são
- Quadro de áreas do loteamento (69 ha); áreas loteadas, caso sejam assim definidas no quadro, entrando no cálculo de áreas institucionais.
- Ensaio de volumetria da terceira fase do empreendimento (32 ha); Contudo, quando as áreas inaproveitáveis57se tornam expressivas ante à área total da gleba, é
- Quadro de áreas vendáveis dos condomínios (32 ha). necessário destacá-las das matrículas que serão loteadas, via desmembramento, pois caso computadas,
inflarão o valor da área total loteada e, por consequência, o de áreas públicas a serem doadas.
A Gleba UA (matriz) possui área de 298,75 ha. Supondo que, devido aos acidentes geográficos,

57 Entende-se como inaproveitável o que não é passível de urbanização e que,


por lei, só pode ser destinado como área verde

70
Parque

1ª fase

1ª fase Parque
2ª fase

4ª fase

Parque

Parque
3ª fase
Parque
ETE

5ª fase

6ª fase

11. Estratégia de Desmembramento Escala 1 : 7.500 m

1ª fase - 304.950,36 m² (30,5 ha) 5ª fase - 592.449,27 m² (59,2 ha)

2ª fase - 200.272,89 m² (20,0 ha) 6ª fase - 610.291,74 m² (61,0 ha)

3ª fase - 380.885,87 m² (38,1 ha) Parque - 700.104,56 m² (70,0 ha)


N

4ª fase - 224.092,93 m² (22,4 ha) ETE - 27.154,32 (2,7 ha)


CAPÍTULO 4

o aproveitamento (percentual de área vendável do loteamento) seja de 35% (101,42 ha) e, 35% desse PLANO DIRETOR DE USO E OCUPAÇÃO
valor (30,42 ha) seja doado como áreas públicas. Porém, tomando como base a área total da matrícula,
o valor sobe para 86,93 ha (86% do valor da área vendável), o que claramente inviabilizaria o negócio. No capítulo anterior constatou-se que as glebas estudadas formam um grande vazio urbano
Assim, a proposta de desmembramento apresentada no Mapa 11 evita essa distorção ao gerar cercado por manchas urbanas desconexas. Qualquer iniciativa de desenvolvimento urbano que surja
matrículas tão compactas quanto possível, utilizando três princípios geradores: nesse conjunto de glebas será a maior expansão urbana da história do município. Por conta disso,
os novos bairros demandarão autossuficiência e, por sua vez, centralidades próprias.
- Limite máximo de 70 ha para cada parcela; O objetivo do plano diretor, ou zoneamento funcional (Mapa 12), é setorizar as áreas do futuro
- Desenho do parque linear requerido pela prefeitura no PDM; bairro, definindo o uso predominante de cada zona, cada qual representado por uma cor distinta. Nessa
- Uso dos elementos morfológicos do terreno como base para o desenho das novas matrículas. etapa, é delimitado o traçado básico das vias estruturais e coletoras. Vale lembrar que tanto o traçado
quanto as manchas de uso podem sofrer (e sofrerão) alterações no nível do projeto geométrico: trata-se
A primeira providência é separar da gleba a área do futuro parque municipal e transferi-lo para de uma relação interativa, a ser equacionada neste trabalho e em sua eventual continuação.
a prefeitura, se possível dentro da vigência do atual PDM. Isso porque, dentro do parque, haverá muitas No plano diretor são resolvidas as incompatibilidades encontradas na etapa de análise, como a
áreas inaproveitáveis, incluindo APP de nascentes e corpos hídricos. Junto com elas, há a considerável ETE que se sobrepõe ao traçado da Av. Ribeirão dos Cavalheiros e, a mais grave, a via marginal à SP-332
relutância das prefeituras em aceitá-las como áreas públicas, visto que elas negam a responsabilidade assinalada como diretriz municipal. A primeira decisão de projeto é não construir essa via marginal,
de proteger e manter a APP, nos termos da lei. evitando o enorme e desnecessário impacto ambiental para sua implementação, incluindo a onerosa
O PDM beneficia o proprietário da terra ao prever ali um parque público que absorve praticamente obra de terraplanagem e o soterramento de APP. É importante ressaltar que, mesmo construindo a via,
toda a APP do Ribeirão dos Cavalheiros e boa quantidade das partes não urbanizáveis. O perímetro da seria inviável (e até criminoso) lotear suas bordas, por conta do enorme talude de aterro resultante.
matrícula do parque foi baseado no Mapa 3/7 (Anexo III) do PDM, incluindo toda a APP do Ribeirão (e No que tange à ETE, não é possível mudá-la de lugar, visto que o processo de desapropriação foi
deixando-a de fora das matrículas loteadas). Deve-se ressaltar que a matrícula poderia ser ainda maior, concluído e as obras estão adiantadas. Sobram, então, três alternativas para construir a via do ribeirão:
caso fossem incluídas mais áreas inaproveitáveis; contudo, quanto maior a matrícula, maior também
será a possibilidade de a Prefeitura não aceitar a proposta, pelo motivo explicado anteriormente. - Canalizar o córrego e construir a via ao longo deste, no trecho que ladeia a ETE;
Propõe-se que a Fase 1 do projeto seja na parte mais alta da área. A escolha é motivada pela - Respeitar a APP do córrego e construir a via na encosta, gerando grande corte no terreno;
maior proximidade dessa parcela com o centro (e com a infraestrutura consolidada, o que significa uma - Desconsiderar o disposto no PDM e mudar o traçado da via, subindo a encosta até a SP-332.
implantação mais barata em relação às outras fases) e pela intenção não-formalizada da Prefeitura de
prolongar o acesso viário da gleba até encontrar um local apto para sediar um dispositivo de retorno e A primeira alternativa não seria aprovada pela Cetesb, de acordo com fonte interna. A segunda
resolver o problema de congestionamento de um colégio particular contíguo ao reservatório da Sabesp. alternativa deveria ser realizada concomitantemente com as obras da ETE. No entanto, não há qualquer
No plano diretor (Mapa 12) consta uma proposta de traçado para esse prolongamento. interesse por parte da Prefeitura em fazer valer sua diretriz viária e, mesmo que houvesse, o resultado
A Fase 2 terá início nos bolsões mais planos ao longo da Av. Dr. Olindo Dártora, aumentando a ambiental e urbanístico dessa obra seria muito negativo: o corte pronunciado no terreno para acomodar
expectativa do mercado em relação às porções lindeiras à SP-332. A mesma estratégia será aplicada as pistas geraria grande bota-fora, e seria muito difícil qualificar paisagisticamente o trecho da avenida
na Fase 3, criando condições favoráveis para o surgimento de uma centralidade urbana na Fase 4 acompanhado por um enorme talude de um lado e uma estação de tratamento de esgoto do outro.
que, mais próxima do centro e da estação de trem da CPTM e com maior conectividade viária, é o local Será adotada então a terceira alternativa que, apesar de cara (será necessário fazer a avenida
mais apropriado para abrigar um centro comercial e equipamentos institucionais de maior porte. Os subir a encosta e percorrer um caminho maior até a SP-332), favorece a qualidade do bairro, trazendo
bolsões contidos nas Fases 5 e 6 propositalmente são deixados por último, para que o maior valor de resultados mais satisfatórios ao longo prazo. Além disso, é possível implantar essa via gerando terrenos
m² agregado com o desenvolvimento das parcelas vizinhas viabilize o adensamento vertical. planos e ótimos para construção, com inclinação branda e que ladeia as áreas verdes, as quais serão
usadas como “zona de amortecimento” entre a ZEIS e a região onde ficará a futura ETE Laranjeiras.
Observando a análise, nota-se que a ZEIS foi “jogada” dentro do talvegue com vegetação nativa.
Como não é possível implantá-las ali, ela é transferida para uma região de dorso que, apesar de estreita,
permite construir os edifícios residenciais com dimensão maior ortogonal às curvas de nível, gerando

72
12. Plano Geral de Uso e Ocupação Escala 1 : 7.500 m

Condomínios residenciais horizontais Zona Especial de Interesse Social

Condomínios residenciais verticais Estação de Tratamento de Efluentes

Misto predominantemente residencial Área verde

Misto predominantemente comercial APP


N

Área institucional
CAPÍTULO 4

uma edificação com térreos escalonados. O maior empecilho ficaria por conta das plataformas de PROJETO URBANO: CRITÉRIOS, PROBLEMAS E SOLUÇÕES
estacionamento que, pelo contrário, devem ser implantadas com o lado maior paralelo às curvas de
nível, visto que não há largura suficiente. Mas, como em ZEIS a exigência de vagas de estacionamento Para mostrar o projeto geométrico do sistema viário local, foram escolhidas a terceira e quarta
é limitada, este problema será minimizado no projeto de edificações. Os usos apresentados no Mapa fases do empreendimento e, para o ensaio de volumetria, somente a terceira fase. A escolha sobre elas
12 foram determinados com base nos critérios do Quadro 2. se justifica por conta das interferências locais (a presença da Adutora Perus-Caieiras avançando pela
Os lotes mistos (representados pela cor laranja) estão às margens das vias arteriais e coletoras, encosta, a transposição da APP de curso d’água pela diretriz viária, etc.), que servem como um excelente
nas interseções de maior movimento e onde naturalmente o comércio tende a se instalar, sendo este estudo de caso para demonstrar a busca por melhores soluções em casos de maior complexidade.
o uso predominante na porção lindeira à SP-332. Pretende-se, por meio da mistura dos usos, manter a O objetivo da primeira etapa é resolver a implantação básica do arruamento, enquanto que,
apropriação das calçadas em diversas horas do dia. As áreas verdes, formadas pelo parque municipal e na segunda etapa, pretende-se desenvolver algumas plantas residenciais e delas extrair a volumetria
suas capilaridades, devem se tornar protagonistas do projeto, e não sobras, gerando valor paisagístico usada na conceituação das quadras, levando em consideração critérios como a insolação dos edifícios
e comercial ao conjunto. De acordo com a lei, os talvegues só podem ser destinados como área verde, e a distribuição das plataformas que abrigarão os espaços livres condominiais. O ensaio de volumetria
tornando necessária uma série de cuidados para promover a manutenção da vida urbana, entre eles: orientará os projetos de edificações a ser desenvolvidos pelos incorporadores.
A generalizada falta de conhecimento técnico dos loteadores brasileiros no desenho do sistema
- Alocar áreas institucionais em pequenos blocos contíguos às áreas verdes58; viário em terrenos acidentados tem gerado erros que, quando não culminam nos desastres elencados
- Criar eixos de caminhabilidade (representados no plano diretor por meio de setas); na introdução deste trabalho, acabam criando situações bastante incômodas. Um fato relevante é que
- Destinar como verde não só áreas muito inclinadas, mas também áreas planas, que permitam muitos desses projetos são pensados de forma exclusivamente bidimensional, sendo dada pouca
a permanência das pessoas e a instalação de equipamentos de lazer; ou nenhuma atenção aos aspectos de concordância vertical dos cruzamentos.
- Promover maior adensamento populacional nas porções vizinhas às áreas verdes. MORETTI (1987) afirma que: “Um engano frequentemente observado em projeto é o de concordância
da cota das pistas no trecho de encontro , que é feita eixo a eixo. O modo correto seria a partir da borda da pista ou,
Área Destinação padrão Exceção melhor ainda, reservando-se um trecho para a curvatura vertical. Como consequência desse erro [...], observa-se
que a declividade longitudinal da pista passível de ser implantada é maior do que aquela originalmente prevista
Área verde privada (APP), área
APP, Área de Uso Restrito Área verde pública (APP) em projeto. Quanto menor a extensão da via, maior a diferença observada”59.
verde pública (Uso Restrito)

Faixa non-aedificandi Sistema viário oficial Área verde pública

Área com vegetação nativa e/ou Condomínio residencial


Área verde pública
com declividade entre 30 e 45% multifamiliar

Área sem vegetação nativa e Condomínio residencial Condomínio residencial


com declividade entre 15 e 30% multifamiliar unifamiliar

Área sem vegetação nativa e com Lote predominantemente Condomínio residencial


declividade menor que 15% comercial unifamiliar

Quadro 2 - Critérios de destinação no plano diretor para as áreas classificadas na matriz de aptidão.

58 Este não é o único critério que norteia a definição das áreas institucionais. Deve- Figura 5 - Concordância vertical de vias. Fonte: MASCARÓ (2003)
se levar também em conta a carência de equipamentos públicos nos bairros de Vila Rosina
e Portal das Laranjeiras. Portanto, próximo a esses núcleos são previstas áreas maiores, 59 MORETTI, Ricardo de Sousa. “Loteamentos: Manual de recomendações para
adjacentes às vias de maior circulação, podendo abrigar equipamentos de maior porte. elaboração de projeto” 2. ed. São Paulo: IPT, 1987, p. 97.

74
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO

A citada curvatura vertical é descrita por uma fórmula matemática bastante simples, regida por local, encaixando-se da forma mais harmoniosa possível com as necessidades das futuras populações
uma constante k denominada “módulo de curvatura”, a qual varia de acordo com a categoria da via. A residentes e as de núcleos vizinhos. “Centralidade” é uma palavra-chave e ela pode ser criada de várias
via local, por exemplo, possui k = 7, o que permite maior variação de declividade por metro linear, maneiras: equipamentos públicos, espaços livres, centros comerciais ou a combinação entre ambos. A
já que a sua velocidade de projeto é baixa (até 40 km/h). A via expressa, pelo contrário, possui K = 107 centralidade pode se alocar de diversas formas no espaço (Figura 5.3).
e condições de tráfego bastante diferentes. O projeto obedece esse critério, na medida do possível.
Um problema gerado pela distinção entre quem loteia e quem constrói é o descuido do loteador
com a acomodação do edifício ou da casa no lote, que geralmente é dimensionado respeitando apenas
as exigências legais e do mercado. Não é raro, em loteamentos populares, vias implantadas em meia
encosta e lotes que não passam de íngremes taludes de acomodação, condicionando a construção das
casas de forma escalonada, “cortando” as curvas de nível.
Nos lotes em declive, o problema não é tão sério, pois é possível acomodar as garagens em nível
abaixo da rua sem grandes muros de contenção, mas quando o lote está em aclive (Figura 5.1), surgem
problemas de acesso que encarecerão a obra. O correto, neste caso, é ter sempre que possível a maior  Centralidade como  Centralidade como passagem  Centralidade linear
dimensão do lote paralela às curvas de nível, diminuindo o tamanho dos taludes e gerando melhor ponto de chegada
Figura 5.3 - Tipos de centralidade. Autor: Prof. Sílvio Soares Macedo (2014)
aproveitamento do terreno. As divisas de fundo de lote devem sempre se encontrar em ângulo reto.
Os caminhos que levam à centralidade também são importantes. JACOBS (2003)60 afirma que:
“A calçada por si só não é nada. É uma abstração. Ela só significa alguma coisa com os edifícios e os outros usos
limítrofes. [...] As ruas e suas calçadas, principais locais públicos de uma cidade, são seus órgãos mais vitais”. A
autora, nesse sentido, aponta61 algumas das características necessárias para garantir a manutenção
da segurança e da vida urbana nesses espaços: “Primeira, deve ser nítida a separação entre o espaço
público e privado. [...] Segunda, devem existir olhos para a rua [...] Os edifícios de uma rua preparada para
receber estranhos e garantir a segurança tanto deles quanto dos moradores devem estar voltados para a rua.
Eles não podem estar com os fundos ou um lado morto para a rua e deixá-la cega”.
“Todos os condomínios
ERRADO
devem ter suas vias lindeiras
ocupadas por lotes destinados
a comérico, habitação e/
ou equipamentos públicos.

Figura 5.4 - Relação entre edifícios


e rua. Autor: Prof. Sílvio Soares
CERTO Macedo (2014)

Figura 5.1 - Implantações de casas no lote em aclive. Figura 5.2 - Lotes com dimensão maior paralela às É também importante haver sempre que possível uma via de contorno sobre a área verde, não
Fonte: IPT (1987) curvas de nível. Fonte: IPT (1987) somente para atender a exigência estadual, mas para garantir sua integração com o bairro. No Brasil,
as áreas verdes cercadas por fundo de lote tendem a se degradar, virando local para desova de lixo e
Porém, além da técnica, o projeto precisa atender a critérios de desenho urbano que garantam
entulho ou sofrendo invasões, tanto dos proprietários dos lotes vizinhos quanto de terceiros.
sua operação dentro de certo padrão de qualidade, que não está necessariamente explícito em algum
manual de desenho. Embora não sejam discutidos com profundidade neste trabalho, os elementos 60 JACOBS, Jane. “Morte e Vida de Grandes Cidades” 1. ed. São Paulo: Editora Martins
Fontes, 2003, p. 29.
geradores da comunidade e do senso de pertencimento devem estar sincronizados com a realidade
61 JACOBS, p. 29.

75
CAPÍTULO 4

PROJETO GEOMÉTRICO Observando o resultado urbanístico da decisão induzida pela lei municipal, tem-se uma
avenida plana e exageradamente larga que privilegia o trânsito rápido de veículos automotores em
O projeto geométrico do arruamento nasce da adequação do traçado proposto no plano diretor detrimento do pedestre e de sua relação com a área verde vizinha, contribuindo para o seu abandono e
para as vias arteriais e coletoras. Dos critérios utilizados, dois assumem maior relevância: a declividade posterior degradação. Portanto, propõe-se diminuir a caixa da via arterial, abolindo as faixas exclusivas
da via e sua interação com o relevo. Sobre a declividade, busca-se sempre a menor possível ou, quando de ônibus e prevendo somente uma faixa de rolamento e outra de estacionamento por sentido de
o sítio é inclinado, procura-se estabelecer uma declividade limite e buscá-la no traçado da via. circulação, com largura de 3,5 m cada, sendo possível restringir o estacionamento para melhorar o
No entanto, é preciso que este traçado concorde com o das vias interceptadas e que o movimento fluxo do tráfego.
de terra seja pensado de tal forma que possibilite, em cada lote, uma faixa de acesso, onde a cota do Propõe-se ainda dividir a plataforma da via em dois platôs de menor largura, visando à melhor
terreno coincida com a do passeio, dispensando rampas inclinadas. O ajuste necessariamente alterará acomodação no terreno, sendo elas construídas totalmente em aterro, por dois motivos:
o traçado original proposto, à medida que são descobertas e resolvidas as interferências entre o viário
e as restrições impostas pelo terreno. No decorrer do trabalho, nota-se que até mesmo as exigências - Privilegiar o acesso dos lotes lindeiros, igualando as cotas do terreno natural com o da avenida
da prefeitura quanto à largura das vias mostra-se prejudicial, uma vez que a lei de uso e ocupação do arterial, favorecendo a atividade comercial que, por sua natureza, demanda áreas planas;
solo de Caieiras não contempla soluções atípicas geradas por terrenos inclinados, sendo insuficiente - Evitar o bota-fora, abrigando o expressivo montante de solo retirado para implementar o sistema
neste aspecto. viário do loteamento, o que ajuda a diminuir de maneira significativa os custos de urbanização.
O terreno faz parte de uma região serrana e,
mesmo possuindo encostas relativamente brandas O aterro da via será “recheado” com solo de alteração, encontrado a cerca de 1,5 m abaixo da
(inclinações que não passam de 20%) os problemas superfície. Esse tipo de solo, oriundo dos cortes feitos no terreno para alocar o viário, é extremamente
já aparecem em declividades superiores a 12% e se sensível ao processo erosivo e não pode ficar exposto. Para evitar isso, deve-se revestir o aterro
agravam quando há restrições de terraplanagem, em toda a sua extensão com uma capa protetora, feita com solo superficial.
como a adutora Perus-Caieiras. Em suma, o projeto É importante ressaltar que, nessa região, o solo das cotas 800 a 830 possui natureza sedimentar,
deve se adequar ao terreno, e não o contrário.
Opta-se pela obra de terra na transposição
dos talvegues pela Av. Ribeirão dos Cavalheiros. No
entanto, utiliza-se, para determinar a concordância
vertical, o módulo de curvatura da via coletora (e
não da arterial), minimizando assim a dimensão dos
taludes. Deve ser prevista também uma passagem
por baixo da avenida para garantir o fluxo gênico da
APP e o livre trânsito d’água do córrego.
Obedecendo o quadro de dimensionamento
de vias (Quadro 1.2, pág. 37), a caixa da via arterial
excederia 33 metros, criando uma situação bastante
inadequada, dada a grande movimentação de terra
necessária para acomodar tamanha plataforma na
encosta. O grande corte à montante desvaloriza os
Figura 5.5 - Formas de implantar a rua em terreno lotes lindeiros à avenida e o grande aterro à jusante
íngrime. Nota-se que a declividade da via projetada
impede que ela se comunique com o parque linear,
é inversamente proporcional à acessibilidade do
lote. Fonte: MASCARÓ (2003) isolando a APP do ribeirão.
Figura 5.6 - Croqui da concepção geral do projeto de terraplanagem. Fonte: elaboração do autor.

76
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO

apresentando excelente desempenho quando utilizado como capa protetora. O topo da gleba situa-se seja transformada em via pública. No entanto, a declividade do terreno não permite que a via seja feita
na cota 808 e tanto nele quanto no dorso ocorre a mais espessa camada de solo sedimentar, que pode em toda a extensão da adutora, pois não seria possível acomodar os cruzamentos sem escavar o solo
ser considerada uma jazida de material nobre para imunizar o aterro do efeito nocivo da erosão. (a adutora encontra-se a 2 m de profundidade).
É conveniente também rebaixar esse dorso para criar áreas planas aproveitáveis. O arruamento Por isso, evita-se ao máximo a interseção entre as ruas e a adutora, porém é preciso respeitar a
é projetado em cota inferior ao do relevo natural, gerando excedentes de terra que podem ser removidos dimensão máxima de quadra imposta pela lei (250 m) e, em algum ponto, cruzar a adutora. No projeto,
para a várzea (Figura 5.3). A parte superior desse excedente é composta pelo valioso solo sedimentar. o cruzamento foi feito quase na metade da encosta, na cota 774, sendo a via implantada totalmente
Os cruzamentos entre a avenida do fundo de vale e as vias coletoras são problemáticos por causa em aterro. No trecho entre o cruzamento e a avenida do ribeirão, a adutora é coberta por uma via com
da concordância vertical: caso as coletoras sejam construídas diretamente sobre o relevo natural, sem inclinação de quase 15% em um trecho de aproximadamente 150 metros.
critério geométrico, haverá uma brusca mudança entre a rampa da arterial e a da coletora (Figura 5.6). Apesar de inadequada ao usuário e problemática do ponto de vista da drenagem, não é possível
Não obstante, os cruzamentos atípicos oferecem condições inadequadas de visibilidade e conversão e partir para outro traçado obedecendo o eixo da adutora. Adotando uma inclinação ligeiramente menor
exigem maior área pavimentada. Até a alocação dos elementos de drenagem é mais complicada. que 15%, é possível estendê-la por um trecho maior do que 100 metros sem descumprir a lei municipal,
Assim, o projeto adota sempre o cruzamento em ângulo reto com o espaço necessário para a que é falha neste aspecto por não prever qualquer outro tipo de restrição para declividade das vias.
acomodar a curva de concordância vertical, similar a do modelo da Figura 5.8. E, para haver a interseção A adutora passa também pelo topo do terreno, cruzando também a SP-332. Nesse trecho, sua
correta entre as coletoras e a arterial do fundo de vale, será necessário também rebaixá-las, o que vai conformação no sítio é problemática (vide Figura 5.8), pois não permite a implantação de um acesso
ao encontro da recomendação da Emplasa de escavar em corte as vias em meia encosta. viário dentro dos padrões exigidos. Há duas alternativas: transpor a adutora e criar o acesso ou mantê-
O correto seria considerar, no projeto de terraplanagem, a geometria das foliações rochosas do la, eliminando o acesso. Decidiu-se mantê-la, por duas razões:
migmatito, para desenhar corretamente os taludes. Isso, no entanto, extrapola o grau de detalhamento
deste projeto, pois não há sondagem ou qualquer estudo geológico sobre o terreno. Portanto, o critério - Custo: a transposição pesaria contra a viabilidade financeira do empreendimento.
usado para desenho de taludes será unicamente o limite de inclinação determinado pela lei (60%). - Hierarquização viária: A malha fechada atrai o trânsito de passagem para dentro do bairro, o
A Sabesp recomenda que, em novos projetos de loteamento, a faixa de servidão de uma adutora que não é desejável do ponto de vista urbanístico.

Figura 5.7 - Cruzamento típico (abaixo) e atípico (acima). Figura 5.8 - Cruzamento de vias e suas concordâncias.
Fonte: IPT (1987) Fonte: MASCARÓ (2003) Figura 5.9 - Trecho da adutora que cruza a SP-332 e passa pela cota mais alta do terreno. Fonte: SABESP (1981)

77
CAPÍTULO 4

VISTA 1 VISTA 2

VISTA 3 VISTA 4

VISTA 5 VISTA 6

78
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO
VISTA 1

VI
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VISTA 4

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LOC
13. Projeto Geométrico Escala 1 : 5.000 m

A
VI
VIA
VIA EXTENSÃO (m) LARGURA LARGURA LEITO INCLINAÇÃO VISTA 3

4
TOTAL (m) CARROÇÁVEL (m) MÁXIMA (%)


RA
Arterial nº 1

TO
1.356,29 27,20 7,90 + 7,90 8

LE
Arterial nº 2

CO
639,81 11,90 7,90 6

A
VI
Coletora nº 1 408,77 20,10 13,10 12
Coletora nº 2 193,76 18,10 11,10 10
Coletora nº 3 229,14 15,10 9,10 15
Coletora nº 4 859,28 19,10 12,10 12
Coletora nº 5 115,59 16,10 9,10 12
Local nº 1 283,69 15,10 9,10 12
Local nº 2 409,00 9,60 6,00 15
Local nº 3 258,63 15,10 9,10 12
Local nº 4 120,70 15,10 9,10 12
Via para pedestre 168,58 12,00 - 2 N
Viela sanitária nº 1 52,43 12,00 - 13
Viela sanitária nº 2 168,58 8,00 - 60*
*No trecho com 60% de declividade da viela sanitária nº 2 será utilizada escada hidráulica.

79
CAPÍTULO 4

PROJETO DE LOTEAMENTO JUSTIFICATIVA

Procura-se atender de forma rigorosa à legislação estudada no primeiro capítulo, permitindo-


se descumprir algum dispositivo da lei municipal, em prol da qualidade do bairro e visando a mitigar
o impacto ambiental de sua implantação. O formato das matrículas da terceira e quarta etapas do
Área TOTAL: 684.250,43 m² empreendimento serão ligeiramente modificados por conta do viário local, ainda inexistente na etapa
de desmembramento.
A
área LOTEADa: 504.316,08 m² - 73,70 % Do loteamento sobram duas áreas remanescentes, denominadas “A” e “B”, que contém talvegues
4ª FASE
e APP combinados com vegetação nativa. O Art. 110 do Zoneamento veta a destinação de APP como
REMANESCENTE: 179.934,35 m² - 26,30 % área verde pública. Apesar de haver casos de municípios obrigados a aceitar APP por meio de decisão
B
da justiça estadual, pretende-se evitar conflitos com a Prefeitura que possam prejudicar a aprovação.
3ª FASE ÁREA INSTITUCIONAL DEVIDA: 25.215,80 m² Assim, opta-se aqui por outra alternativa para tratar as áreas inaproveitáveis.
O remanescente “A” deverá ser assumido pela futura associação de proprietários do bairro, que
Figura 5.10 - Áreas loteadas e remanescentes. se comprometerá com sua manutenção e preservação. Neste caso, o local será convertido em Reserva
Particular do Patrimônio Natural (RPPN), categoria de unidade de preservação (UP) regulamentada
pelo Decreto Federal nº 1.922/1996. Já o remanescente “B” será transferido à Prefeitura, a qual deverá
incorporá-lo ao Parque Municipal destacado da gleba matriz. No entanto, recomenda-se que o projeto e
QUADRO DE ÁREAS a implementação do parque nesse remanescente seja feito pelo empreendedor, garantindo o mesmo
padrão de qualidade adotado no restante do bairro planejado.
Especificação Área (m²) % da área loteada % da área total Dentro da parte loteada, existem setores destinados como área verde pública e sistema de lazer
(não há distinção entre as duas na lei municipal, embora estejam separadas no quadro), em proporção
Lotes da 3ª fase 232.671,68 46,14 34,00 ligeiramente superior ao exigido pelo zoneamento. Destina-se como área verde pública o setor de 38 mil
Lotes da 4ª fase 76.156,16 15,10 11,13 m² apontado pelo PDM como Parque Municipal. Foi observada no projeto geométrico a preservação de
uma faixa livre entre o talude de aterro da Av. Ribeirão dos Cavalheiros e a APP do ribeirão, permitindo
Servidão de passagem em área vendável 5.756,03 1,14 0,84
a construção de plataformas que abriguem as atividades de lazer do parque.
Área vendável total 308.827,83 61,24 45,13 Sempre que possível existe no projeto uma via pública oficial contornando a área verde. Todavia,
na porção oeste da terceira fase, caracterizada como condomínio residencial multifamiliar, a declividade
Área verde pública 38.176,03 7,57 5,58
da encosta não permite sua implantação. Assim, a APP no fundo da ravina fará parte do lote vendido,
Sistema de lazer 33.157,45 6,57 4,85 ficando a carga do incorporador, no projeto do condomínio, tratar adequadamente essas áreas. Pode-
Sistema viário oficial 98.938,96 19,62 14,46 se também captar o potencial construtivo delas para ganhar área vendável verticalmente, algo que é
incentivado inclusive pelo Zoneamento.
Servidão de passagem em área pública 191,66 0,04 0,03 Haverá trechos com servidão de passagem da Adutora nos lotes. Estes poderão ser aproveitados
Total de espaços livres de uso público 170.272,45 33,76 24,88 como via interna de circulação dos condomínios, devendo receber o devido trato paisagístico.

Área institucional na 3ª fase 12.697,33 2,52 1,86

Área institucional na 4ª fase 12.520,01 2,48 1,83

Quadro 2.1 - Relação das áreas do projeto de loteamento.

80
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO

14. Projeto de Loteamento Escala 1 : 5.000 m

Condomínio residencial horizontal Área remanescente

Condomínio residencial vertical Sistema de lazer

Misto predominantemente residencial Área verde pública

Misto predominantemente comercial Sistema viário oficial


N

Área institucional Servidão de passagem

81
CAPÍTULO 4

TIPOLOGIA incorporadas à área útil dos apartamentos. Todavia, é curioso notar que a escada enclausurada, requisito
básico de segurança contra incêndios, é vetada pelo Código de Obras (Lei Municipal nº 274/1963) que,
A correta definição do produto imobiliário a ser oferecido necessita da pesquisa de mercado, em seu Art. 60, § 1º, determina que: “as caixas [de escada serão] em todos os pisos iluminadas e ventiladas
visando à máxima aderência da oferta à demanda. Na ausência de pesquisa, resta então averiguar diretamente do exterior”. O mesmo se aplica aos “vestíbulos de distribuição e corredores principais”.
quais são os lançamentos residenciais na região, baseando-se neles para montar um pequeno mix de Caso o projeto atenda à lei, as aberturas das circulações verticais consumiriam área de fachada.
produtos mais próximo quanto possível da realidade local. A fachada, porém, possui dimensão limitada e deve acomodar as aberturas dos cômodos que realmente
Caieiras é uma cidade predominantemente horizontal, contrária à tendência das aglomerações precisam de iluminação e ventilação, como dormitórios, salas, cozinhas e áreas de serviço. Trata-se de
urbanas da RMSP, de crescerem verticalmente junto com o valor da terra. Segundo um munícipe, existe um contrassenso, portanto, desperdiçar essa área de fachada com aberturas para as circulações.
certa resistência à verticalização, dado o caráter bucólico da paisagem local, caracterizada pelo casario Este é apenas um exemplo das várias incoerências do Código que, apesar de bastante defasado,
cercado de extensas florestas de eucaliptos, vindo daí a alcunha de “cidade dos pinheirais”. Existem, no ainda está em vigor. Curiosamente, sua revogação faz parte dos objetivos do Plano Diretor Municipal63,
entanto, duas outras razões que podem justificar a ausência de prédios no município: a precariedade mediante a edição de um novo Código, necessário para uma expansão urbana dessa magnitude.
do sistema viário e de infraestrutura urbana, que limitam o adensamento e o valor da terra muito baixo, As plantas estão em escala 1 : 150 m e obedecem à nomenclatura relacionada no Quadro 2.2.
que inviabiliza a construção de subsolos.
O maior valor do m² e a proximidade com a linha da CPTM
Sigla Significado Sigla Significado
ajudaram a viabilizar o chamado “Residencial Essence”, primeiro
edifício residencial do centro de Caieiras, com unidades de 83 MF Residencial Multifamiliar 4A* 4 unidades por andar
a 172 m², quase todas vendidas. É possível que haja, portanto,
UF Residencial Unifamiliar 6A* 6 unidades por andar
uma demanda reprimida por edifícios de apartamentos ainda
não atendida pelos construtores locais. 2D 2 dormitórios 8A* 8 unidades por andar
Propõe-se então a predominância de lotes multifamiliares 3D 3 dormitórios A* Padrão “A”
verticais. Baseado nas plantas de apartamento oferecidas pelo
4D 4 dormitórios B* Padrão “B”
mercado imobiliário, foram criados cinco pavimentos-tipo de
edifício residencial, e dois modelos de casas unifamiliares. * aplica-se apenas aos residenciais multifamiliares (MF)

Embora baseadas nas plantas genéricas oferecidas pelo


mercado, elas se concentram no atendimento das funções mais Quadro 2.2 - Nomenclatura da tipologia.
básicas da moradia, abolindo portanto todo o espaço supérfluo
que funcione como apelo de vendas ou criado por distorções do
Figura 5.10 - Perspectiva artística
código municipal de edificações.
do “Residencial Essence”. Fonte: Assim, foram obtidas plantas de apartamento com área
WEAG (2013) entre 54 a 90 m², para atender diversas faixas de renda. Porém,
mitigando as perdas com circulação, é possível criar cômodos
com medidas confortáveis e que oferecem mais de uma opção
de arranjo do mobiliário (os dormitórios possuem dimensão mínima de 3 m x 3 m62).
As escadas enclausuradas e com antecâmara, embora sejam exigidas apenas quando o edifício
atinge determinada altura, estão previamente dimensionadas nas plantas, permitindo a construção Figura 5.11 - Planta baixa de
de edifícios com mais de 20 pavimentos. Nos edifícios mais baixos, elas podem ser suprimidas, sendo unidade do “Residencial Essence”
(sem escala). Fonte: WEAG (2013)
62 Os dormitórios com menos de 3 m em uma das dimensões possuem a outra
ligeiramente maior para compensar a diferença e permitir a adequada acomodação do
mobiliário. 63 Art. 23, VII, b do PDM.

82
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO

FINAL 1 FINAL 2 FINAL 1 FINAL 2

FINAL 3 FINAL 4 FINAL 3 FINAL 4

TIPO MF 2D 4A A TIPO MF 2D 4A B

Final 1 e 2 (76,20 m²); Final 3 e 4 (71,70 m²) Final 1, 2, 3 e 4 (54,41 m²)

Áreas do Pav. tipo: Total (322,05 m²): Áreas do pav. tipo: Total (248,26 m²):
Vendável (295,80 m² - 91,8%); Circulação (26,25 m² - 8,2%). Vendável (232,54 m² - 93,7%); Circulação (15,72 m² - 6,3%).

Orientações possíveis: Orientações possíveis:

83
CAPÍTULO 4

FINAL 1 FINAL 3 FINAL 5

FINAL 2 FINAL 4 FINAL 6

TIPO MF 2D 6A

Final 1, 2, 5 e 6 (65,19 m²); Final 3 (70,19 m²); Final 4 (64,12 m²).

Áreas do pav. tipo: Total (446,52 m²):


Vendável (395,07 m² - 88,5%); Circulação (51,45 m² - 12,5% ).

Orientações possíveis:

84
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO

FINAL 1 FINAL 3 FINAL 5 FINAL 7

FINAL 2 FINAL 4 FINAL 6 FINAL 8

TIPO MF 2D 8A

Final 1, 2, 7 e 8 (65,19 m²); Final 3 (60,32 m²); Final 4 e 6 (68,97 m²); Final 5 (59,82 m²)

Áreas do pav. tipo: Total (584,23 m²):


Vendável (518,84 m² - 88,8%); Circulação (65,39 m² - 12,2%).

Orientações possíveis:

85
CAPÍTULO 4

PAVIMENTO TÉRREO

PAVIMENTO TÉRREO

PAVIMENTO 1

PAVIMENTO 1
PAVIMENTO 2
TIPO UF 3D TIPO UF 4D

Térreo (80,56 m²); Pavimento 1 (80,56 m²); Pavimento 2 (80,56 m²); Total (241,68 m²) Térreo (69,77 m²); Pavimento 1 (82,16 m²); Total (151,93 m²)

Lote ideal: 6,77 m x 24,00 m - Área total (153,4 m²); Coeficiente de aproveitamento (1,58); Taxa de Lote ideal: 10,15 m x 19,50 m - Área total (208,01 m²); Coeficiente de aproveitamento (0,73); Taxa de
ocupação (0,52); Recuo frontal (5,20 m) ocupação (0,34); Recuo frontal (6,00 m)

Orientações possíveis: Orientações possíveis:

86
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO

ENSAIO DE VOLUMETRIA leste ou oeste), modelando o talude de corte como arquibancada.


Os equipamentos que não constarem nos condomínios devem estar nas áreas verdes públicas
O objetivo do ensaio é chegar, através da multiplicação dos tipos desenvolvidos, em configurações do bairro. Em sua pesquisa, GAVIÃO (2012)65 concluiu que: “A utilização das áreas de lazer no edifício não
de quadra que respeitem os seguintes critérios de habitabilidade: reduz a utilização dos parques da região, que ainda é uma atividade feita aos finais de semana. [...] se há algum
lugar que concorra com as praças e parques públicos, não é o pavimento térreo, mas sim os shopping centers,
- Insolação garantida em todas as faces da edificação, por pelo menos três horas ao dia; mencionados em todos os grupos como locais de passeios nos finais de semana.”
- Espaços livres com idênticas condições de insolação, priorizando-a no solstício de inverno; A predominância dos condomínios multifamiliares verticais baseia-se em critérios econômicos
- Espaços livres condominiais cujos usos possam ser integrados ao dos pavimentos térreos; e ambientais, fundamentada na racionalização do sistema viário oficial e na amortização de custos de
- Recuos menores, para deixar as fachadas dos edifícios mais próximas às ruas; infraestrutura urbana entre uma porção maior de proprietários.
- Maior adensamento habitacional próximo às áreas verdes públicas do empreendimento. Dentre os critérios que norteiam a disposição dos blocos, dois ganham destaque: a insolação e
a implantação no terreno. A maior parte deles foi implantada com as fachadas principais orientadas no
Para atender ao primeiro critério, o arranjo dos edifícios é elaborado com base na situação mais sentido leste-oeste e sua dimensão maior ortogonal às curvas de nível. Os patamares de estacionamento
crítica possível, o solstício de inverno, quando ocorre a maior incidência de sombras em todas as horas sempre possuem a dimensão maior paralela às curvas, acompanhando o perfil natural do terreno.
do dia. O mesmo se aplica ao segundo critério, atentando-se ao detalhe de que, nos equinócios, apesar Em quase todos os condomínios, adotam-se edifícios-garagem de dois pavimentos parcialmente
de haver diminuição das sombras, elas mudam de direção, podendo cobrir outras partes do terreno. escondidos no terreno, duplicando o número de vagas numa mesma área e ao mesmo tempo camuflando-
Atender ao terceiro critério exige uma noção mínima dos usos mais recorrentes em condomínios as na paisagem. Na cobertura dos edifícios-garagem prevê-se a instalação dos equipamentos de lazer
habitacionais. Embora o projeto dos condomínios não esteja no escopo do trabalho, os edifícios devem e estar. O subsolo totalmente escavado é descartado por conta do elevado custo, em todos os lotes.
ser posicionados no lote visando a facilitar a implantação do programa de necessidades, a ser elaborado Nas áreas mais baixas do bairro predominam os edifícios mais baixos enquanto que, na parte alta
com base nos desejos e expectativas do público-alvo do empreendimento. Em sua pesquisa de uso e concentram-se os blocos mais altos. A ideia é democratizar a vista do parque, tornando-a acessível
ocupação de áreas condominiais, GAVIÃO (2012)64 concluiu que: “As áreas de lazer preferidas são aquelas para um maior número de pessoas, uma vez que os edifícios baixos não obstruem a paisagem.
onde o convívio é priorizado: churrasqueira, salão de festas, quadra, piscina e playground. O excesso de regras e Excetuam-se os edifícios situados nas bordas do talvegue da direita, por três razões:
obrigações cotidianas dos moradores leva a preferência por atividades opostas, ou seja, com mais liberdade.
Assim, é importante, no arranjo dos blocos, prever sempre uma área externa contígua ao salão - As áreas próximas dos talvegues possuem maior declividade e, portanto, gerarão maior custo
de festas (com o mesmo tamanho do salão) para acomodar uma possível expansão do evento em uma de implantação, o qual deve ser diluído entre o maior número possível de unidades. Existe ainda
tarde quente de verão, por exemplo. Os playgrounds devem, de preferência, estar em frente à fachada o custo de manutenção da APP de corpo hídrico, que será repassado aos condomínios;
dos edifícios, para estar sempre sob constante vigilância; estes devem também receber insolação. - As torres mais altas nas bordas não causam sombreamento nas edificações mais baixas: elas
A piscina, se construída, deve receber sol durante todo o ano, especialmente no verão. A quadra sombrearão os talvegues com APP, os quais serão destinados como áreas verdes não visitáveis;
poliesportiva, importante instrumento de integração social e familiar, exige no entanto outro cuidado - A lei municipal classifica as áreas do talvegue da direita como zona de alta densidade.
referente à insolação: ela sempre deve ser implantada no sentido norte-sul, de forma a evitar o constante
ofuscamento nos jogadores de um dos times, quebrando as condições de igualdade da partida. O miolo do bairro é destinado à quadra de condomínios horizontais, convenientemente instalados
Porém, a maior parte do terreno estudado possui face totalmente voltada para o norte, sendo na parte mais plana criada pela obra de terraplanagem; e que ao mesmo tempo, não obstruem a vista
que as curvas de nível estão no sentido leste-oeste. Como já é sabido, a quadra demanda grande área dos prédios mais altos à montante. Deve-se observar que este empreendimento, caso seja caracterizado
plana obtida através da obra de terra e a forma mais adequada de fazê-la é construir a plataforma com como Vila Condominial Residencial (VCR), desobedece ao limite máximo de 5.000 m² (0,5 ha) imposto
a dimensão maior paralela às curvas de nível, resultando em quadras com a pior orientação possível. pelo Zoneamento e sua aprovação dependerá de prévia negociação com a Prefeitura. Por fim, prevê-se
Dessa forma, opta-se por instalá-las apenas nos lugares mais adequados (encostas orientadas para o a construção de um equipamento comercial de maior porte na margem da SP-332, com entrada para
veículos e estacionamento junto à rodovia e apenas entradas para pedestre nas vias locais do bairro.
64 GAVIÃO, Martha Maria Ferreira. “Muito além do pavimento térreo. As áreas de
lazer no mercado imobiliário em São Paulo“ Dissertação de mestrado. São Paulo: FAUUSP,
2012, p. 35. 65 GAVIÃO, p. 36.

87
A

B
C C

15. Plano Urbanístico Escala 1 : 2.500 m

 

 

 
N
 
B

 
A
CORTE A - Escala 1 : 2.500 m

CORTE B - Escala 1 : 2.500 m

CORTE C - Escala 1 : 2.500 m

89
Figura 5.13 - Vista aérea do empreendimento.
Figura 5.14 - Idem.
Figura 5.15 - Vista a partir da SP-332.
Figura 5.16 - Vista a partir do talvegue da esquerda.
Figura 5.17 - Posição das sombras às 9h30 durante o solstício de inverno. (Escala 1 : 2.500 m)
Figura 5.18 - Posição das sombras às 15h30 durante o solstício de inverno. (Escala 1 : 2.500 m)
Figura 5.19 - Posição das sombras às 9h30 durante o equinócio de primavera. (Escala 1 : 2.500 m)
Figura 5.20 - Posição das sombras às 15h30 durante o equinócio de primavera. (Escala 1 : 2.500 m)
Figura 5.21 - Posição das sombras às 9h30 durante o solstício de verão. (Escala 1 : 2.500 m)
Figura 5.22 - Posição das sombras às 15h30 durante o solstício de verão. (Escala 1 : 2.500 m)
Figura 5.23 - Visão a partir de apartamento no 6º andar da quadra 6.

100 Figura 5.24 - Visão a partir da área verde pública da Via Coletora nº 4.
LEGISLAÇÃO SELEÇÃO ANÁLISE PROJETO

RESULTADO QUANTITATIVO

Quadra Nº de unidades habitacionais

MF 4A 2D A MF 4A 2D B MF 4A 3D MF 6A 2D MF 8A 2D UF 3D UF 4D 5
1 3
1 - - - - 144 - -
6
2 120 - 132 122 632 - -
4
3 120 - - 84 376 - -

4 - - - - 84 89 18
2
5 - - - - 184 - -

6 24 - 60 282 824 - -
6
TOTAL 264 - 192 488 2.100 89 18

Quadro 2.3 - Uso da tipologia no projeto.


Figura 5.25 - Numeração das quadras da terceira fase do empreendimento.

Nº de Área vendável Área vendável Área vendável Nº de vagas de Área estimada do Coeficiente de Densidade
Área vendável Estacionamento /
Quadra unidades construída construída construída total estacionamento estacionamento Aproveitamento - C.A. (un./ha
de terreno (m²) Área vendável (%)
habitacionais residencial (m²) comercial (m²) (m²) (apenas edifícios) (edifícios + comércio) (m² útil/m² terreno) terreno)

1 6.866,60 144 9.339,12 - 9.339,12 144 3.110,40 1,36 209,71 33

2 48.827,23 982 69.613,75 640,00 70.253,75 1.072 23.155,20 1,44 201,12 33

3 33.045,13 580 38.790,46 1.316,67 40.107,13 580 12.528,00 1,21 175,52 32

4 33.665,99 191 29.692,08 320,00 30.012,08 298 1.814,40 0,89 56,73 6

5 8.586,00 184 11.933,32 2.519,23 14.452,55 184 3.974,40 1,68 214,30 33

6 100.333,47 1.190 79.110,11 4.908,35 84.018,46 1.220 27.740,80 0,84 118,60 35

TOTAL 231.324,42 3.271 238.478,84 9.704,25 248.183,09 3.498 72.323,20 1,07 141,40 30
*Desconsiderando 42.706 m² de área inaproveitável na quadra 6, o C.A. é de 1,31.

Quadro 2.4 - Relação das áreas vendáveis loteadas e construídas.

101
CONSIDERAÇÕES FINAIS ao traçado da avenida proposta pela Prefeitura (nada menos que a ligação viária mais importante do
empreendimento, e que necessitava de uma alternativa viável para ser realizada).
O trabalho abordou algumas das partes mais relevantes do estudo de viabilidade urbanística em Porém, o perfil acidentado do terreno não deixava óbvia a solução mais correta: os traçados que
grandes terrenos, visando à implantação de um loteamento para incorporações imobiliárias. A leitura pareciam aceitáveis em planta se revelavam impossíveis quando vistos em corte. Foi necessário então
da legislação foi imprescindível, pois influenciou fortemente as decisões estruturais de projeto, como o recorrer à bibliografia especializada para se chegar ao desenho viário mais correto possível e não criar
desmembramento da gleba matriz e o desenho do plano diretor de uso e ocupação. Tratou-se também os erros grosseiros apresentados na introdução deste trabalho. Os lotes de grandes dimensões deram
de uma ótima oportunidade para apontar as incoerências das leis municipais, que induzem a práticas maior liberdade no arranjo das vias, que não ficaram engessadas pela forma rígida e pouco criativa do
antieconômicas e algumas delas ambientalmente desastrosas. lote unifamiliar tradicional.
A lei também trouxe algum critério para a escolha da gleba, processo que consumiu quatro meses. Ainda assim era preciso conceituar a quadra para dimensioná-la corretamente. Conceituá-la no
Das poucas áreas disponíveis dentro da RMSP, quase todas apresentavam algum tipo de restrição que sentido de posicionar corretamente os blocos dos edifícios, atendendo a todos os critérios paisagísticos
limitavam ou inviabilizavam o desenvolvimento de um projeto imobiliário para fins residenciais. O último aqui enumerados. Mas era preciso projetar a planta desses edifícios. O único jeito foi se debruçar sobre
terreno encontrado, em Caieiras, foi o único que possuía características concomitantemente favoráveis a planta do apartamento e recomeçar o processo de forma inversa, partindo do caso particular para o
para o florescimento do estudo: dimensão, acesso e proximidade com áreas urbanas consolidadas. geral, partindo da unidade para o todo, uma quebra na sequência de trabalho desenvolvida até então.
A análise externa, embora indispensável para se obter um panorama geral do entorno da gleba, Um terreno acidentado pede uma arquitetura especial; única. São inúmeras as célebres obras de
não interferiu de forma significativa nas decisões de projeto, talvez porque a gleba encontra-se bastante arquitetura construídas em terrenos acidentados; e grande parte de sua notoriedade se deve à própria
isolada ou talvez porque não foi objetivo deste trabalho discutir ou incorporar na proposta a concepção natureza peculiar do terreno, que impôs ao arquiteto um desafio à sua habilidade. Essa ambição de se
caieirense de cidade. Tratou-se de um estudo genérico, impessoal, cujo processo pode ser aplicado em criar uma arquitetura única consumiu valiosos dois meses e meio de trabalho, na busca por soluções
qualquer área. O projeto foi apenas um produto: a preocupação concentrou-se no registro das etapas. inovadoras para plantas de apartamento que, através de uma concepção modular, seriam replicadas e
A análise interna, pelo contrário, trouxe muito subsídio à discussão, porque deu luz a restrições acomodadas no terreno de formas inesperadas e surpreendentes. A ideia inicial era negar radicalmente
de várias espécies, que foram sendo descobertas ao longo do desenvolvimento do trabalho. A Adutora a monotonia, tendo como referência projetos como Habitat 67, complexo habitacional idealizado pelo
Perus-Caieiras, por exemplo, foi encontrada em uma das visitas de campo. Empenhou-se então a busca arquiteto palestino Moshe Safdie e construído para a Feira Mundial de 1967 em Montreal.
pela planta que continha o traçado e, além disso, os perfis longitudinais dos tubos e pontos de visitação Contudo, as soluções padronizadas e repetitivas do mercado imobiliário não surgiram da noite
técnica. Tudo para saber até onde seria possível propor uma escavação no terreno. para o dia e logo as plantas nascidas dos conceitos supracitados se mostraram impraticáveis, por vários
As informações constantes na matrícula eram insuficientes (e até incorretas, quando confrontadas motivos. Um deles era o excesso de circulações, necessárias para atender às unidades habitacionais,
com as pranchas oficiais do projeto, de 1981, obtidas na Sabesp após um mês de conversação). Tendo- esparramadas pelo pavimento-tipo assimétrico como uvas no cacho. Seria, portanto, uma imperdoável
-as em mãos, surgiu outro dilema: transpor ou não a adutora para supostamente melhorar a qualidade contradição (ou uma ironia, na melhor das hipóteses), propor um estudo de viabilidade com plantas de
do projeto? Além de ser uma solução cara e delicada, ela fecharia o circuito viário ligando a SP-332 à Av. apartamento inviáveis. E não havia tempo suficiente para torná-las viáveis.
Ribeirão dos Cavalheiros, trazendo o indesejável trânsito de passagem para o interior da comunidade, Partiu-se, portanto, para o extremo oposto: propor algo que, embora convencional, possuísse mais
o que levou à clara decisão de preservá-la em sua forma original, evitando esse custo injustificável. chances de ser efetivamente concretizado. Foram então estudadas inúmeras plantas de apartamento
Mais adiante, no projeto geométrico, a implantação do sistema viário com a menor interferência de construtoras do mercado até que seus princípios geradores básicos pudessem ser compreendidos.
sobre a adutora foi um capítulo à parte pois, embora a Sabesp recomende a locação de uma via pública Tendo-os em mãos, foram criados os pavimentos-tipo usados neste projeto que, conquanto nasçam do
por cima da adutora, a inclinação do terreno próxima ao limite (15%) não permitia acomodar as curvas mesmo princípio, diferenciam-se das plantas do mercado pelo seu maior grau de aperfeiçoamento.
de concordância vertical dos cruzamentos66. Mais tipos arquitetônicos resultam em mais variedade e, portanto, menos monotonia. Porém,
Outra grande interferência ocorrida durante o processo de trabalho foi a estação de tratamento o tempo corria e era preciso implantá-los no loteamento projetado. Esta, sem dúvida a mais difícil das
de efluentes, prevista no PDM de 2012 e cujo decreto de desapropriação do perímetro requerido pela tarefas, foi concluída no limite mínimo aceitável, porque, além de tempo, faltavam recursos gráficos e
Sabesp para erguê-la oficializou-se em meados de 2014. Foi preciso então incluí-la na base de dados, certa experiência no desenho dos pisos, nível de detalhamento não alcançado neste estudo. Soma-se a
gerando retrabalho na análise (nova elaboração dos mapas e textos) e no projeto: a ETE se sobrepunha isso o fato de que, para cada 100 m² residenciais construídos, era necessário construir mais 30 m² de
estacionamento (vide Quadro 2.4), cujas plataformas enrijeceram a proposta.
66 Para respeitar a dimensão máxima da quadra, imposta pela lei, a adutora Adotou-se então um método viciado para resolver as quadras: alocar o pátio de estacionamento
necessariamente precisaria ser cruzada em algum ponto

102
onde ocorresse a maior largura de quadra67, otimizando sua circulação e permitindo a entrada e saída de edifícios e largura da via (height-to-width ratio), nota-se que essas regras foram nitidamente elaboradas
veículos pelos dois lados da quadra. Depois, alocar os blocos alinhados com a plataforma, já prevendo para a realidade norte-americana, como já foi dito. Para se ter uma ideia, na primeira parte do manual,
o acesso do prédio no mesmo nível do da garagem (a parte do térreo do bloco que não coincidir com a recomenda-se não intervir em áreas com inclinação maior que 15%70 ainda não urbanizadas. Cruzando
plataforma da garagem seria escalonada no terreno). E, por último, replicar o bloco, desalinhando-o em essa informação com o mapa de declividade da gleba de Caieiras, é pertinente fazer a seguinte relexão:
relação ao bloco vizinho para melhorar a insolação e diminuir a obstrução das vistas das unidades68. seria possível obedecer a regra e viabilizar alguma coisa naquele terreno?
Talvez o excessivo respeito por tais critérios tenha contido o C.A. de área vendável em só 1,0769. E São igualmente planificadas as instruções de desenho urbano: parecem inexistir desníveis nos
talvez esse excessivo respeito tenha se originado da ciência de que Caieiras é um município suburbano, quarteirões-modelo e o traçado orgânico das vias não se justifica por razões geotécnicas, como ocorreu
onde todos vivem em casas unifamiliares e não são poucos os que abrem suas janelas e contemplam neste estudo de caso, mas sim por razões estéticas, oriundas da liberdade conferida pela terra plana.
colinas agradavelmente cobertas pelos pinheirais. Daí entram dois possíveis problemas que podem ser Nas encostas, pelo contrário, não há liberdade no traçado e as relações entre as edificações e a rua são
enfrentados caso se opte pela predominância dos condomínios multifamiliares verticais: bastante diferentes e variadas, sendo possíveis inúmeras situações não previstas nesse manual.
Faltou, aliás, explorar essas situações no bairro desenvolvido no estudo, pousando-o no nível do
- É possível que a demanda, ao invés de reprimida, seja restrita e haja o risco de lenta absorção projeto urbano, o qual infelizmente não foi possível de ser alcançado até o fechamento desta edição.
do empreendimento, algo que pode se arrastar por muitos anos; Uma sugestão para continuidade do projeto é criar a setorização dos pisos, o plano de arborização, os
- Este público talvez opte por um terreno para construir casas ao gosto local, com espaços mais cortes transversais das vias e desenhar de maneira mais artística o diálogo entre os espaços cheios e
amplos do que em um pequeno apartamento sem perspectiva de ampliação futura. vazios, entre o edifício, a rua, a praça e o parque: o projeto da paisagem propriamente dito.
Nesta próxima etapa, é possível que haja (e sempre haverá) mudanças na volumetria concebida,
Apenas a pesquisa de mercado poderia esclarecer essa dúvida. Todavia, como inexiste pesquisa assim como houve no plano diretor ao se chegar nas quadras. Talvez surja até outro plano de ocupação
e não faz parte do escopo deste trabalho sua elaboração, a abordagem técnica preencheu essa lacuna: bem mais interessante. E tudo porque novas relações ganharão evidência. Recomenda-se que essa
optou-se pela intervenção menos agressiva ao terreno (a adoção de edifícios na encosta visa a diminuir continuação mantenha o mesmo rigor técnico que foi, dentro de todas as limitações existentes, um
movimentações de terra já que os lotes serão maiores, bem como os espaços livres). A elaboração de dos princípios geradores deste trabalho. Ela deve trazer as cores e a riqueza visual aqui ausentes, sem
um estudo de vocação imobiliária combinado com a viabilidade financeira seria uma excelente forma se tornar, contudo, algo meramente contemplativo, como um magnífico desenho de piso feito, porém,
de dar continuidade a este trabalho, verificando até que ponto suas afirmações são factíveis. sem base técnica, em um terreno tão perfeito que só pode existir dentro de um computador.
Outra preocupação inicialmente incorporada à tomada de decisão foi o atendimento às normas Não há outro jeito de mudar uma realidade imposta do que utilizar os seus próprios elementos
do LEED-ND estadunidense, reunidas em um manual de 108 páginas que contém várias especificações a favor dos ideais defendidos. Disseram-me que neste trabalho sobraram certezas e faltaram dúvidas.
para o projeto, desde a escolha da área (Smart Location & Linkage), passando por aspectos de desenho E eu respondo, dizendo-lhes que não haveria dúvidas se não fosse o enorme desejo humano por todas
(Neighborhood Pattern & Design), tipo, quantidade e abrangência de equipamentos urbanos, até chegar as certezas do universo.
nas recomendações para a infraestrutura sustentável das edificações (Green Infrastructure & Building).
Embora muitas delas sejam válidas, incentivando o despertar do senso de comunidade, como o O Autor.
uso da fachada ativa, sua proximidade com o passeio e o uso de relações proporcionais entre altura dos
15 de janeiro de 2015
67 Esta postura vai de encontro ao método de projeto idealizado, que originalmente
consistia em primeiro posicionar os blocos no terreno para depois desenhar o viário.
68 No município de São Paulo, por conta da escassez de espaço, não é raro ver altas
torres construídas com os recuos mínimos exigido pela lei. Caso tivesse sido adotada essa
postura, digamos, despreocupada, do empreendedor paulistano em relação às vistas e à
insolação, o aproveitamento geral deste estudo teria sido bem maior.
69 Na quadra 6, existem cerca de 43 mil m² de terreno com fortes inclinações e uma
APP de curso d’água que, no projeto de loteamento, seria repassada para os condomínios,
em regime de RPPN, captando-se seu potencial construtivo. No entanto, o que parecia ser
uma solução se tornou um problema pois, mesmo adotando-se torres com 25 pavimentos 70 U.S. Green Building Council. “LEED for Neighborhood Design Rating System -
e 200 unidades, o C.A. de 0,84 da quadra 6 foi o menor do estudo, valor que descumpre o Proposed Draft for Ballot”, 2009, p. 22. Disponível em: <http://www.usgbc.org/resources/
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CRÉDITOS

CONCEPÇÃO, EDIÇÃO, DIAGRAMAÇÃO, MAQUETE ELETRÔNICA E TEXTOS MAPAS DE DECLIVIDADE

LEONARDO URBANO SOBRINHO ITAITÍ CONSULTORIA AMBIENTAL LTDA. (Gleba UA)


SÁVIO GOUVEA DE FREITAS (Gleba U1, U3)

ORIENTAÇÃO
VIABILIZAÇÃO TÉCNICA E FINANCEIRA
PROF. DRº JOÃO FERNANDO PIRES MEYER
PROF. DRº SÍLVIO SOARES MACEDO COMPANHIA MELHORAMENTOS DE SÃO PAULO
LEONARDO URBANO SOBRINHO

CO-ORIENTAÇÃO
PRÉ-IMPRESSÃO E IMPRESSÃO
PROF. DRº ÂNGELO SALVADOR FILARDO JR.
GRÁFICA INOVE

APOIO
TIRAGEM
CLÁUDIO ZOMIGNAN
HÉLIO MÍTICA NETO 10 EXEMPLARES
JOSÉ ROCHA FILHO
RUBENS URBANO FILHO
FONTES

FOTOGRAFIA CALIFORNIAN FB (Título, capítulos e sumário)


FRANKLIN GOTHIC MEDIUM (Textos)
CLÁUDIO ZOMIGNAN (Gleba UA - p.64 - 67; R. Vitório Olimpio, R. Antonio Jorge Pereira) FRANKLIN GOTHIC HEAVY (Textos em negrito)
GOOGLE EARTH (Satélite) HELVETICA (Título dos mapas)
GOOGLE STREET VIEW (Demais ruas)
PEDRO DANTHAS (Capa)

REVISÃO FINAL

LEONARDO URBANO SOBRINHO


RENAN MANDAI
RUBENS URBANO FILHO

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