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1 - Nome, idade, sexo, escolaridade

Raimunda Xavier da Silva Ferreira, 46 anos (1973) estudou até a 6º série do ensino
fundamental.

2 – Qual grau de parentesco com a pessoa que faleceu?

Genitora (mãe)

3 – Há quanto tempo essa pessoa faleceu?

Já tem um ano e nove meses. Faleceu em 3 de agosto de 2018.

4 – Como você considera sua ligação/vínculo com ela?

Era um convívio muito bom, éramos muito amigas, conversávamos bastante, divertíamos
muito. Eu que levava ela nas consultas em Cuiabá. Minha mãe era uma pessoa muito especial,
ela era brincalhona, gostava muito de se arrumar. Nossa convivência era muito boa não tenho
do que me queixar, passava bastante tempo na casa dela, eu sempre me dei bem com minha
mãe

5 – Você pode se despedir dessa pessoa?

Sim. Foi o dia mais doído da minha vida. Me senti muito incapaz

6 – Como tem sido sua vida após sua morte?

Muito difícil, mas busco forças em Deus para me ajudar, para me colocar de pé, mas até hoje
sinto que não me recuperei direito. É uma dor que vou sentir para o resto da vida. Tem dias
que não consigo comer nem dormir direito, fico preocupada pensando. Porque minha mãe era
meu porto seguro, a falta dela me abalou emocionalmente, fico muito triste, as vezes choro
bastante. Depois que minha mãe faleceu não sou mais a pessoa que eu era. É uma tristeza
terrível perder uma mãe, realmente muito difícil. Busco apoio em minha filha, hoje minha filha
se tornou meu porto seguro, primeiramente é ela que me alegra, depois meu filho, meu neto,
minhas irmãs, busco conforto nelas, e tento ajuda-las para que elas também possam caminhar
para frente. Minha mãe faz muita falta.

7 – O que tem sido mais difícil para você?

A falta dela é o mais difícil. Tem dias que eu chego na casa dela, e fico imaginando ela lá.
Depois que ela foi embora, fiquei com os sentimentos muito abalado. Eu me deito e levanto
sentindo falta da minha mãe. Minha mãe era tudo na minha vida, sem ela me vejo sem chão.
Acho que se não tivesse minha família nem sei o que seria de mim.

8 – Tem recebido algum apoio, se sim, de quem?


Sim. Dos meus irmãos, de alguns amigos. Meu emocional ficou muito abalado porque perdi
duas pessoas quase que na mesma data, se referindo ao neto que morreu logo após o parto na
mesma semana.

9 – O que mudou em sua vida após a morte dela?

Mudou muito. Primeiramente a falta dela, fiquei muito mal emocionalmente, fico mais
estressada, mais nervosa, mais triste. Minha vida financeira também mudou, na verdade
minha vida em geral foi mudada. Quando minha mãe era viva eu era paciente, porque tinha
apoio dela para podermos conversar

10 – O que você acredita que falta para superar a realidade da morte dessa pessoa ou você
considera que já superou?

Hoje eu começo a entender que Deus levou ela por um motivo, então no meu entender, Deus
levou porque tinha que ser assim, era o momento dela. Nascemos e também temos o
momento de morrer. Então pensando dessa forma eu fico mais calma, já compreendi, embora
ainda sinta a dor, mas a vida é assim temos nossos momentos de fraqueza. A gente que fica
aqui na terra precisamos compreender para ter forças, entregar nas mãos de Deus para que
possa superar, para que um dia nós possamos encontra com eles lá no céu. É triste e difícil,
tudo na vida a gente precisa ter fé e superar. Eu não superei totalmente, aceito a realidade
que vivo, mas meus sentimentos estão abalados.

Obs: Durante alguns momentos da entrevista dona Raimunda chorou de saudades da mãe,
pergunto se quer responder em outro momento diz que não, porque sempre chora ao se
recordar da mãe, diz ser um choro de saudades, que sente muita falta dela.

ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES COLETADOS DA ENTREVISTA

Antes de mais nada vale destacar que o luto em relação a morte de uma mãe
está entre os mais doloridos e longos da vida segundo psicólogos.

Em relação a tudo que foi descrito pela dona Raimunda, torna-se evidente que existem
diversas questões que a afligem diante do luto da mãe. Que está sendo um luto complicado,
difícil de ser superado e repleto de sentimentos, o que já é esperado por se tratar de sua mãe.

Nota-se que dona Raimunda sente muito apego a figura materna, o que é considerado
normal por muitos autores como Bowlby (1977). Sua mãe lhe passava sentimentos de
segurança. Outro aspecto que está em evidencia é o fato do seu emocional estar muito
abalado, o que mais uma vez reforça o quanto sua mãe lhe passava o sentimento de apoio e
segurança.

Dentre os sentimentos mais citados por autores em relação ao luto dona Raimunda
apresenta um a tristeza. A tristeza que é considerado entre os sentimentos como o mais
comum apresentado pelo enlutado.
Outro sentimento presente é o de desamparo. Por diversas vezes dona Raimunda citou
que sua mãe era seu porto seguro, sua confidente. E sua morte trouxe grande impacto em
relação a isso. E de fato como já citado por autores, ela direcionou esse sentimento de
desamparo em sua filha, ao dizer que hoje é ela seu porto seguro, ou seja, é a filha que passou
a emitir os sentimentos de segurança a ela. Esse fator é um agravante para que dona
Raimunda sentir mais a falta de sua mãe. Era uma mãe amiga que lhe passava segurança e
apoio.

Sua cognição também foi afeada com a morte da mãe, todos os dias ela dorme e
acorda pensando nela, com sentimento de tristeza, e esses pensamentos persistentes já estão
desencadeando um quadro depressivo em dona Raimunda. Seu choro quase que diário
sempre que remete a lembrança da mãe é um dos indícios.

Ao se falar do luto existem comportamentos que podem ser alterados após passar pela
perda de um familiar. Entre esses comportamentos dona Raimunda apresenta o distúrbio do
sono, ao relatar que quase não consegue dormir direito após a morte da mãe pensando nela.
O distúrbio do apetite também foi apresentado por ela, que perdeu o apetite, já não se
alimenta como antes.

O choro também se faz muito presente em sua vida como relatou na entrevista.
Algumas pesquisas indicam que as lagrimas apresentam um grande potencial de cura,
amenizando a dor da perda. A fase estressante diante da morte causa uma grande variação
psíquica no indivíduo, e o chora pode amenizar e remover substancia toxicas do organismo, as
lágrimas são responsáveis por aliviar todo o estresse emocional.

Visitar a casa da mãe é um dos comportamentos relatador por ela, esse


comportamento é descrito em autores como esperado e é praticado por pessoas que
vivenciam o luto. Dona Raimunda não tenta evitar lembranças d sua mãe, pelo contrário ela
visita frequentemente sua casa, e fica pensando e imaginando como seria se ainda estivesse
viva, utiliza desse recurso para vivenciar o que não viveu e recordar memorias

Autores apontam que a perda de pai e mãe podem ser considerados como quase impossíveis
de ser superados. Nessa fase é aconselhado não se cobrar demais, em relação aos
sentimentos. Naturalmente todo ser humano precisa de um tempo para processar todo
contexto vivenciado acerca do processo de luto, e em alguns casos torna-se necessário pedir
ajuda, quando perde-se o controle de suas emoções.

O processo de luto é único e exclusivo a cada indivíduo, assim como suas


manifestações. É comum gerar sofrimento psíquico, que requer ajuda profissional médica e
psicológica, que irão auxiliar para que o enlutado possa ressignificar seus sentimentos
relacionados a perda COELHO FILHO & LIMA (2017).

Diante dessa tristeza, choro, distúrbios do sono e apetite que dona Raimunda sente,
considerando o tempo de morte de sua mãe pode-se dizer que ela possa estar vivenciando um
quadro depressivo pós morte sim, que deve ser acompanhado de perto por um profissional da
área. Orientei a estar procurando um auxílio para conseguir levar seus dias mais
tranquilamente, que de repente uma terapia poderia auxiliar nesse momento, ressaltei que
logo a clínica da UNIC estará atendendo para que futuramente ela possa estar indo buscar um
atendimento e conhecer os futuros profissionais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Coelho, Filho, J, F; Lima, D, M, A. Luto parental e construção identitária:


Compreendendo o processo após a perda do filho. Psicologia Argumento,
2017.

Worden, J, W. Aconselhamento do Luto e Terapia do Luto. Um manual para


profissionais da saúde mental, 2013.

https://www.minhavida.com.br/saude/perguntas/12979-como-lidar-com-a-
perda-de-uma-mae

https://pt.wikihow.com/Lidar-com-a-Morte-do-Pai-ou-da-M%C3%A3e

http://www.psicologia.uerj.br/Residencia%20em%20psicologia/Flavia
%20Lana%20Garcia%20de%20Oliveira/Mae_nao_tem_limite_Flavia.pdf

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