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DIRECTOR CARLOS FERREIRA EDIÇÃO N.º 521 | 16 DE FEVEREIRO DE 2018 LUANDA 500 KWANZAS

Deputados apanhados
em incompatibilidade
O NJ identificou dois nomes nesta condição, tendo também consultado fontes junto do Parlamento
que se mostraram alheias à situação em que se encontram os deputados, bem como apurou que até
à data nenhuma iniciativa foi levada a cabo para «regularizar» a situação de incompatibilidade. | P06

Abreu Paxe FOME NA EMPRESA NACIONAL DE PONTES


«Foi-se
criando um
ambiente
político que
favoreceu
a cultura
do medo»
| P14

EMPRESA PÚBLICA
NÃO PAGA
HÁ 52 MESES
Na Empresa Nacional
de Pontes, a reportagem
do NJ testemunhou
o desespero dos funcionários.
Tristeza, irritação, falta de esperança
e de motivação estavam estampadas
no semblante dos trabalhadores,
com pouca ou nenhuma força
para enfrentar as dificuldades.
| P20

■ OSMAR EDGAR

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DOSSIER DESPORTO ECONOMIA


AFECTO O amor RECREDIT
tem idade? Respostas Quem deu crédito
dividem a sociedade | P24 de modo irregular será
responsabilizado | P28

FECHO
MARGINAL Investigação
PETRO Logótipo coloca não apurou «nada
adeptos e direcção relevante» na morte
em «rota de colisão» | P44 de milhares de peixes | P48
Editorial Especial Informação

Tempos conturbados
os que vivemos
D
urante largos anos, habituámo-nos, aqueles que se dedicam ao
estudo, à leitura e ao acompanhamento das realidades polícias e
sociais, indissociáveis de todas as outras, a discussões mais ou menos
fragmentadas, incapazes que fomos de, independentemente do
desenvolvimento multifacetado que não tivemos, por essa mesma via, trazer
para o grande público as grandes discussões que devem prevalecer com
constância, teimosia, em qualquer sociedade aberta, livre e democrática.
A verdade é que as gerações dos anos 30, 40 e 50 do século passado, mesmo
num meio intelectualmente pobre como eram Luanda, Benguela, Huambo, ou
a então Sá da Bandeira, hoje Lubango, em circunstâncias adversas e num
meio limitadíssimo e generalizadamente hostil, onde até o acesso aos livros
era difícil — leia-se o texto de Arnaldo Santos publicado no Jornal de Angola de
domingo passado, 11 de Fevereiro —, foram conseguindo, entre acertos e
desacertos, encontros e desencontros, construir uma base cultural que
rapidamente se alastrou e foi derrubando muros e limitações que pareciam
impossíveis.
Hoje em dia, com centenas de fontes de informação diária, com acesso
gratuito a milhares de publicações, com a facilidade de contactos com
qualquer extremo do mundo, as gerações mais recentes, digamos que as
nascidas a partir dos anos 60, em absoluta contradição com os Mais-Velhos
das gerações anteriores, parecem absolutamente perdidas.
O mundo das certezas inabaláveis colapsou, a segurança das convicções deu
lugar a profundas dúvidas até mesmo existenciais, os eixos que seguravam
um largo mar de gente que se abrigava sob valores colectivos perderam
aparentemente o rumo, e a brutalidade desta informação as mais das vezes
mal servida e falsa, que jorra abruptamente sem parar, mexeu com o mais
profundo da realidade de todos e de cada um.
Entre o culto de um individualismo exacerbado e a necessidade da
afirmação pessoal, grande parte das pessoas, a começar pelos
autodenominados intelectuais, actua como se tivéssemos perdido o norte e
como se, num repente (dez, quinze, vinte anos), tudo se tivesse desmoronado
à nossa volta.

Grande parte das pessoas, a começar pelos


autodenominados intelectuais, actua como A festa popular desapareceu das ruas e está apenas na Nova Marginal, resumida também a outras festas privadas

se tivéssemos perdido o norte e tudo


se tivesse desmoronado à nossa volta CARNAVAL 2018

Admitimos que não é fácil, num mundo como o de hoje, cada um centrar-se,
com todas as condicionantes que ainda existem, mais agora, no nosso caso,
com as graves dificuldades económicas e financeiras que atravessamos, de
forma consciente e lúcida quanto à generalidade dos princípios e das ideias
que nos alimentaram décadas a fio, e continuam a servir de água e pão para
alguns, para quem necessita de lucidez e discernimento no quadro das opções
Chuva
que foi fazendo. É preciso, pois, mais do que nunca, voltar a estabelecer
pontes e fazer com que uma realidade como a nossa volte encontrar, a vários
níveis — na discussão colectiva, nas associações culturais, nos grupos
desportivos, nas organizações do que hoje se chama de sociedade civil —,
formas de exercer uma pressão positiva que visasse soluções para os
não impediu
vitória do
problemas que mais nos apoquentavam.
O que não devemos aceitar é esta nova visão egocêntrica do mundo e da
vida que, um pouco por todo o lado, vai sendo imposta, e que, perante o
silêncio de muita gente, o encolher de ombros de uma grande maioria e o
desencanto doloroso de outro grande número de pessoas, vai dando lugar ao

U.R. Kilamba
desconjuntar de décadas de formas de organização social que permitiram não
só enfrentar realidades duríssimas, como ainda resultaram em tempos que
têm lugar reservado na nossa História colectiva.
O silêncio auto-imposto, o calar de vontades próprias por entender que “já
não vale a pena”, a desilusão feita forma de cada um, de cada uma, se deixar
arrastar pela vida, têm de ser combatidos a partir de dentro de nós mesmos.
Até porque não é a intelectualidade que está em risco do ponto de vista
À semelhança de uma das edições anteriores,
material ou da realidade concreta. a chuva condicionou o fim do desfile, mas deu
Como escreve Farhad Khosrokhavar no seu A Procura de Si, um diálogo com
Alain Touraine, “a questão que se coloca é a de saber se, nos excluídos, nos tempo para que fosse possível ver o grupo
precários, nas pessoas desapossadas da sua “dignidade”, existe uma aptidão
que possa constituí-los ou não como sujeitos, se eles puderem construir uma
União Recreativo Kilamba a desfilar para
definição de si em termos positivos. O resto compete-nos a todos nós. convencer o júri da edição 2018 do Carnaval.
Assumir ou não as nossas responsabilidades. Individual e colectivamente.■
◗ ERNESTO GOUVEIA

| 2 | SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018


CARNAVAL 2018 ■ OSMAR EDGAR ■ BRUNO FONSECA

Para muitos foliões, a magia e a autenticidade do Carnaval começam a desaparecer

O grupo, que desceu à pista da Nova


Marginal sob o comando de Poly Rocha,
Mudietu, União Twabixila e União Giza.
Fora do plano das premiações, esta
◗ Alguns grupos tada em Luanda, que começou por vol-
ta das 19h30, numa altura em que pas-
obteve 842 pontos, superando a concor- manifestação cultural, a cada ano que não desfilaram sava o grupo União 10 de Dezembro.
rência de outros oito concorrentes. passa, desaparece das ruas e, para mui- Sem condições técnicas, materiais e
A segunda posição foi ocupada pelo tos foliões, a sua magia e a autenticida- na terça-feira humanas para prosseguir o desfile dos
União Mundo da Ilha (destronado do tí- de começam a desaparecer. grupos da classe A, a organização sus-
tulo), com 840 pontos, enquanto na ter- Ausência das máscaras, dos bailes de
devido à chuva pendeu o evento e havia anunciado o
ceira ficou o União Njinga a Mbande, do rua, da magia da “Quarta-feira das Ma- intensa registada retorno do desfile no sábado, 16, mas
município de Viana, com 804 pontos. bangas”, momento em que termina tra- depois de um consenso saído da reu-
Na quarta posição está o União Kiela, do dicionalmente a festa, e a ansiedade de em Luanda nião que juntou responsáveis dos gru-
distrito urbano do Sambizanga, com 796 que o ano seguinte chegue rápido são ape- pos, da Associação Provincial do Car-
pontos, e em quinto o União Operário nas alguns elementos que não passam naval de Luanda (APROCAL) e da Co-
Kabocomeu, também do Sambizanga, despercebidos aos olhos dos mais aten- A festa popular desapareceu das ruas missão Provincial do Carnaval de
com 714 pontos. Em função desta reali- tos, como Roldão Ferreira, António de car- e está apenas na Nova Marginal, resu- Luanda, decidiu-se apenas pela ava-
dade, a edição de 2019 vai contar com a valho “Delon” ou mesmo António Fonse- mida também a outras festas privadas, liação dos grupos que desfilaram an-
participação de 18 grupos, incluindo os ca. Este último teve o cuidado de, mais onde pouco ou nada da autenticidade tes da interrupção. Dessa forma, deci-
cinco primeiros colocados da classe B, uma vez, em diferentes programas na rá- cultural angolana é reflectida. diu-se pela manutenção dos 13 grupos
nomeadamente o União Povo da Samba, dio e na televisão, tentar explicar do que é Alguns grupos não desfilaram na ter- da classe A a que se vão juntar os cinco
União Sagrada Esperança, União Etu que se reveste o Carnaval de Luanda. ça-feira devido à chuva intensa regis- primeiros colocados da classe B.

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SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018 |3|


Especial Informação
CARNAVAL 2018

Opinião
TONY FRAMPENIO
■ DJALI PAULO

Festa Tradicional
ou Luta de Galos?
O
que já foi tido como vitrine filosófico, enquanto seres humanos;
ou cartão postal da nossa agentes primários de cultura.
cultura, hoje transformou- Desde a edição de 1978, resgatada
-se num jogo competitivo, do qual, pelo Presidente Agostinho Neto, até à
grupos de indivíduos “recebem” presente data, podemos contar 40
financiamento com a simples edições daquela que já foi vista como
finalidade em ir à Marginal de a maior festa tradicional do povo
Luanda “marginalizarem-se” por angolano.
detrás de máscaras sem signos de Portanto, fica aqui a ideia de que
alegorias tradicionais, culturais ou estamos num país fora da órbita
artísticos, e que, de nenhum modo terrestre!
traduzem aquilo que em tempos foi
chamado de “Carnaval da Vitória”
e, um pouco mais recente,
“Carnaval da Paz”.
A banalização desta que devia ser
(e muitas vezes mal considerada) a
Até à decisão da APROCAL, haviam passado pela pista da Nova Marginal nove dos 12 grupos
“maior festa tradicional do povo
angolano”, hoje, pode ser o grande
simulacro ou barómetro da condição
Choveu na Marginal actual em que se encontra “um país
chamado Angola”, com mais de 24

Desfile ficou a três milhões de habitantes.


O nosso Carnaval, nos moldes como
essa manifestação cultural é realizada,

grupos do fim diz-nos, a priori, que, de uma vez por


todas, o povo angolano perdeu a sua
identidade; se tivermos que considerar
Como sinal de conservação dos rótulos de Durante a sua exibição, o grupo cha- que cultura é ou são conjunto de
veteranos, experientes e seniores, os gru- mou a atenção e sensibilizou os cidadãos traços e rasgos que caracterizam a
pos carnavalescos da Classe A deixaram para a necessidade de maior vigilância identidade de um povo.
confuso, nesta terça-feira, o corpo de jura- para com os que falsificam a moeda, de- Deste modo, se de facto esta teoria
■ ADJALI PAULO
do da 40.ª edição do Entrudo de Luanda, sestabilizando a economia nacional, se conferir mais uma vez no desfile
com performances de “encher os olhos”,
numa noite “abençoada” por São Pedro.
apresentando-se com indumentárias de
cores lilás, branca e azul.
carnavalesco de 2018, poderemos
então afirmar que o Carnaval em
Se é a maior festa,
No escalão principal exibiram-se com Já com a chuva a cair, entrou em cena o Angola não é cultura, pois o povo que porquê o foco está
muita classe, brio, profissionalismo e des- União Kiela (detentor de cinco títulos), o manifesta não tem identidade
treza, justificando a sua integração no destacando o contributo da petrolífera an- própria, de fácil reconhecimento. na Marginal e não
“pacote” dos melhores do carnaval da ca-
pital do país, que este ano “abriu mãos” a
golana Sonangol no desenvolvimento do
país, dançando o semba, sob o comando
Quando mesmo começa o
Carnaval?
também nas ruas
cinco distintos convidados provinciais. de Maravilha dos Santos. Se é a maior festa, porquê o foco como antes?
A título de homenageado, o União Jo- está na Marginal e não também nas
vens da Cacimba abriu a festa, às 16h20, ruas como antes?
dando as boas-vindas aos representantes ◗ Já com a chuva Que foi feito dos rituais da Ilha e Porque não se percebe como em
da Lunda-Norte, Cabinda, Huambo, da Sereia? período de “conflito armado” a
Kwanza-Sul e Benguela, respectivamente, a cair, entrou em Ainda exista quarta-feira das actividade carnavalesca era festejada
o Maringa, o Tchaco-Tchaco, o Ovindjend- mabangas? com a coroa de proa da tradição
je, o União Muteda e os Bravos da Vitória.
cena o União Kiela Mataram o espantalho ou ele fugiu angolana, mas hoje, volvidos “16 anos de
Depois dos grupos oriundos das provín- (detentor de cinco porque o actual Carnaval é mais paz e estabilidade nacional”, ao invés de
cias, que, tal como o homenageado do dia, medonho que aquele boneco uma progressão cultural assiste-se de
demonstraram habilidade e prontidão títulos) característico desse tipo de festa camarote uma queda vertiginosa de
para num futuro próximo disputarem o enquanto movimento popular? valores supremos de uma Nação!
Entrudo Nacional, seguiu-se o Bloco de Essas e muitas outras perguntas Qual é afinal o real papel do
animação Laranja como “aperitivo”. Entretanto, até à decisão da APROCAL, fizeram a criança em mim, que viveu Ministério da Cultura? Reduzir o
Imediatamente, e já com prenúncio haviam passado pela pista da Nova Mar- tempos solenes dessa nossa tradição povo a “nada”?
de chuva (por volta das 18h40) o União ginal nove dos 12 grupos competitivos, “aniquilada” pela ignorância de um Se em 40 anos não se deu primazia
Geração Sagrada abriu o desfile compe- cinco grupos convidados de Benguela, “estado” que anda preocupado com a à “resolução dos problemas do povo”,
titivo da classe A, fazendo-se à pista Huambo, Cuanza Sul, Lunda Norte e Ca- “importação” de tudo (até do chinês não estou a ver como “vamos”
com 250 integrantes e uma mensagem binda, bem como o grupo homenageado, que nos ensina como dançar corrigir o que está mal e melhorar o
que chama a atenção para a necessida- União Jovens da Cacimba. Carnaval em mandarim e corrigir os que está bem” porque o actual
de do pagamento dos impostos. A chuva forçou o Presidente da Repúbli- erros com yoga, assim como durante Carnaval parece mais com uma luta
Sob o comando de Domingas Ferreira, o ca, João Lourenço, e a Primeira-dama, muito tempo fazíamos com o fado de galos do que uma verdadeira festa
colectivo (proveniente do Distrito Urbano Ana Dias Lourenço, a abandonarem, por português e samba brasileiro), menos tradicional carnavalesca.
Rangel) dançou semba, com a música volta das 20 horas, a Nova Marginal, a preservação da nossa tradição, da Agora, se há mesmo “vontade” de
Ngandu (jacaré). numa altura em que desfilava o grupo nossa cultura, da nossa identidade; corrigir o que está mal, devolvam a
De seguida, entrou em cena o União União Njinga a Mbande. letras de “pretos assimilados” para César o que é de César, ou seja,
Kabocomeu, do município do Sambizan- Tal como o PR, viram-se forçados a “fu- enfeitar a Constituição da República transfiram ao “Poder Tradicional” a
ga, alertando a população para o comba- gir” do local os ministros do Interior, Ânge- e ser lida apenas nas efemérides. supervisão da organização do Carnaval.
te à falsificação da moeda, com um lo Tavares, da Cultura, Carolina Cerqueira, Hoje somos um povo “aculturado”, “Este ano não vou me
tema produzido na língua nacional Juventude e Desporto, Ana Paula Sacra- desconhecido, perdido... sem traço marginalizar.”
Kimbundu,ao ritmo da kazukuta, dan- mento, da Comunicação Social, João Melo, antropológico nem conceito Sou artista e mereço respeito.■
çada por 300 foliões. e da Indústria, Bernarda Martins. ◗ E.G.

| 4 | SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018


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Política INCOMPATIBILIDADE

As balizas da docência são diferentes do exercício de funções e cargos que a Constituição da República de Angola estabelece como incompatíveis com o mandato de deputado

VIOLAÇÃO DA LEI

Parlamento ignora
deputados em situação
de incompatibilidade
Deputados apanhados em incompatibilidade de funções no exercício da actividade legislativa
seguem nos cargos, violando o princípio constitucional previsto no artigo 149.º da Lei Magna do país.
◗ NOVO JORNAL

O artigo 149.º da Constituição da Repúbli- se mostraram alheias à situação em cionar, são diferentes do exercício de prevêem que os deputados não podem
ca de Angola define o regime de incom- que se encontram esses deputados, funções e cargos que a Constituição da exercer os cargos de reitores e directores
patibilidades dos deputados à Assem- bem como apurou que que até à data República de Angola estabelece como in- de faculdades nas universidades públi-
bleia Nacional, mas pelo menos dois nenhuma iniciativa, seja por parte compatíveis com o mandato de deputado cas e privadas, limitando a actuação
casos saltam à vista por se encontra- dos deputados seja da própria insti- à Assembleia Nacional. destes à actividade de docência. É o caso
rem, até à presente data, em exercício tuição, foi levado a cabo para a “regu- As disposições previstas no artigo 149.º das universidades públicas, em que a in-
de funções directivas junto de organis- larizar” a situação de incompatibili- compatibilidade é estabelecida através
mos académicos privados que a Lei dade em que se encontram à luz da das alínea i) do n.º 1 do artigo 149.º e pela
Magna angolana tipifica como situação
de incompatibilidade de funções.
Constituição da República.
São eles os deputados Mário Pinto de
◗ Os deputados não alínea a) do n.º 2 do mesmo artigo.
“O mandato de deputado é incompatível
O Novo Jornal identificou dois no- Andrade e Vicente Pinto de Andrade, am- podem exercer os com o exercício da função de […] i) mem-
mes — já antes apontados pelo jurista bos do MPLA, actual reitor da Universi- bro dos órgãos de direcção, administração
Fernando Macedo, numa abordagem dade Lusíada e director da Faculdade de cargos de reitores e da fiscalização das empresas públicas,
na rede social WhatsApp — nesta con-
dição, tendo também consultado fon-
Economia da Lusíada, respectivamente.
Entretanto, as balizas da docência,
e directores institutos públicos e associações públicas”,
lê-se no n.º 1 do Artigo 149 da Constituição
tes junto do Parlamento angolano que aqui definida pelo acto exclusivo de lec- de faculdades do país, que parte do princípio que as uni-

| 6 | SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018


■ QUINTILIANO DOS SANTOS

Democracia
e Cidadania
ISMAEL MATEUS

Porque não o Imposto Predial Rural?


O
governo fez publicar há dias o decreto presidencial dimensão terá de tributar os imóveis de acordo com as suas
40/18, de 9 de Fevereiro, sobre o regime financeiro diferentes categorias, funcionando com uma lógica
local. Entre outras matérias, o referido decreto de justiça social que tribute mais pesadamente quem tem
estabelece as percentagens das receitas a serem consignadas mais terra. Mais propriedade mais imposto. Aliás, seria
às administrações municipais, das quais destacamos, a título essencialmente estabelecer um limite quantitativo para
de exemplo, a consignação de 70% do imposto de rendimento a terra de uso pessoal, a empresa rural, a empresa familiar
do trabalho, do SISA e do imposto predial urbano, 90% de pequena e média dimensão e os latifúndios. Mas, mais
das multas aplicadas por transgressões administrativas ou ainda do que estas categorias, o não uso da terra, seja em
90% do imposto de consumo, entre outros. que categoria for, deve ser devidamente penalizada. Em vez
Parte das receitas que não são consignadas do expediente burocrático da expropriação de quem possui
aos municípios são destinadas ao Fundo de Equilíbrio e não faz uso da terra, o IPR deveria ser um elemento fiscal
Nacional (FEN) que tem por missão assegurar o equilíbrio dissuasor da acumulação de terra e de critérios duvidosos
na afectação de receitas aos órgãos da administração de redistribuição desse bem. As normas gerais para a fixação
do Estado. Se porventura um município não produzir do Imposto Predial Rural deveriam obedecer a critérios
receitas bastantes para as suas necessidades, o FEN de progressividade e regressividade, levando-se em conta
assegura a atribuição dos mínimos necessários. os factores a área do imóvel rural; o grau de utilização
Embora este decreto represente um grande avanço nesta da terra na exploração agrícola, pecuária e florestal; o grau
matéria, talvez até o principal passo para a autonomia de eficiência obtido nas diferentes explorações; a área total,
financeira dos municípios, continuamos com sérias dúvidas no País, do conjunto de imóveis rurais de um mesmo
sobre a capacidade de sobrevivência de alguns municípios, proprietário e também a classificação dessas mesmas terras.
ainda que contem com o FEN e com outras dotações Por outras palavras, o IPR tem de ser um forte auxiliar
do OGE. Tomemos como exemplo as receitas consignadas das políticas públicas de desconcentração da terra,
acima referidas: como todos sabemos, existem municípios instrumento de combate da distribuição desigual das terras
que não têm mais do que meia dúzia de empregados, regra públicas e de todo um sistema de influências políticas
geral funcionários públicos. A restante mão-de-obra dessas e actividades especulativas que permitem que muitos
regiões está vinculada ao sector informal e ao trabalho dirigentes do país tenham terra ociosa sem qualquer
no campo, nos quais praticamente ninguém paga impostos utilidade quando há pessoas disponíveis para as trabalhar.
como o IRT. A estrutura urbana desses mesmos municípios A perspectiva da desconcentração e, posteriormente,
também é tão pequena que o imposto predial urbano da descentralização, não pode perder, pois, de vista,
a recolher é, regra geral, insignificante. Mesmo em termos a necessidade de um instrumento de mercado,
de multas administrativas, temos dúvidas de que possam capaz de induzir ao pleno uso do solo.
produzir transgressões bastantes Não podemos descurar, no
para que se tornem uma importante entanto, que não se trata de uma
fonte de receitas. Assim sendo,
e como esta é a realidade de muitas
A criação de um Imposto solução de fácil adopção. A criação
de um Imposto Predial Rural
regiões do país, levantam-se Predial Rural implica implica um nível de organização
dúvidas se o modelo actual, apesar mais complexo ainda que o IPU.
versidades públicas são institutos públicos dos avanços que reconhecemos, um nível de organização Dadas as especificidades
sob a forma de estabelecimentos públicos.
A alínea a) do n.º 2 do mesmo artigo (149,
é suficiente para manter um ritmo
de crescimento equilibrado
mais complexo dos terrenos, alguns factores
já aqui referidos como a localização
da Constituição) reforça que “o mandato entre todos os municípios ainda que o IPU exigem um nível de estudos
de deputado é igualmente incompatível ou pelo menos, não aprofundar e compreensão técnicas para
com “o exercício de funções públicas re- ainda mais as assimetrias. as quais temos dúvidas de que
muneradas em órgãos da administração Em nosso entender, é chegada a hora de abrir no país a Administração Geral Tributária possua, sobretudo nesses
directa ou indirecta do Estado”, sendo que uma ampla discussão, avaliando todos os prós e contras municípios de que falamos. Tomemos como exemplo
as universidades [públicas] fazem parte da necessidade da aplicação do Imposto Predial Rural (IPR) terrenos de igual dimensão, 50 hectares, um na cintura
da administração indirecta do Estado. como um elemento capaz de alavancar a vida verde de Luanda e outro no Chinguar. Eles não podem ter
e o desenvolvimento nos municípios cuja estrutura obviamente o mesmo preço nem a avaliação sobre a sua
Na esfera privada predial urbana e populacional não permita arrecadar utilidade pode ser a mesma. Também seria necessário
No âmbito da abordagem nas universi- o mesmo nível de receitas que os urbanos. estabelecer diferenças entre o tamanho de terra que numa
dades privadas, a incompatibilidade é Somos a favor da criação do IPR para que ele desempenhe e outra região pode ser vista como espaço rural de uso
estabelecida pela alínea b) do n.º 2 do uma função social de contribuir para alterar as relações pessoal. 1 hectare pode ser no Chinguar uma área isenta
artigo 149 da Carta Magna do país, onde económico-sociais e inverter a tendência de marginalização por se tratar de um espaço próprio de uma família
se pode ler, na sua alínea b), que “o dos municípios que aparentemente não tenham a mesma camponesa, mas um prédio rural dessa mesma dimensão
mandato de deputado é igualmente in- taxa de urbanidade que a grande maioria. O imposto sobre ser tributável e a bons valores em Luanda. Um IPR exigiria
compatível com o exercício de funções a propriedade predial rural deve ser pago por todo um grau de especialização e organização que
de administração, gerência ou de qual- o contribuinte, pessoa física ou jurídica, que possua um aparentemente ainda não possuímos tanto na AGT como
quer outro cargo social em sociedades ou mais imóveis rurais. O domicílio tributário do nas administrações municipais, onde ainda se coloca
comerciais e demais instituições que contribuinte é o município de localização de cada imóvel muito seriamente o problema dos registos de propriedade
prossigam fins lucrativos”. rural. E isso, terras, todos os municípios do país têm. rural. Mesmo o conceito de terra ociosa poderia ser objecto
Os dois deputados, soube o NJ, conti- Convém defender desde logo a ideia de que nem todos de regulamentos próprios, já que nalguns casos a terra
nuam em funções directivas, facto que os prédios rurais devem ser objecto de tributação fiscal, aparentemente não usada serve para fins ambientais,
teria sido acautelado se observada a alí- nomeadamente os casos daqueles que sejam titulados em pastagem, reflorestamento e vegetação natural.
nea a) do artigo 162.º, que estabelece que nome colectivo, como por exemplo associações de camponeses Mesmo assim, apesar de todos os problemas que
“compete à AN, no domínio do controlo e e cooperativas ou também os que configurem propriedade se possam levantar, os processos de desconcentração
da fiscalização, velar pela aplicação da de uso social de carácter familiar, aquelas propriedades de uso e descentralização só poderão ser sustentáveis
Constituição e pela boa execução das leis”. caseiro como residência familiar ou propriedade para auto- se os municípios rurais não forem transformados em
No entanto, o artigo 149 impõe ainda o -sustentação básica. Deve equiparar-se aos critérios “entes” dependentes dos outros e do OGE. Não há riqueza
seguinte no seu n.º 3: “O desempenho ou a e limites estabelecidos por exemplo no IPU. maior do que a terra e, nessa medida, é preciso transforma-
designação para algumas das funções ou Naturalmente, a carga tributária do Imposto Predial Rural -la em factor de desenvolvimento e enriquecimento das
dos cargos previstos no presente artigo é deve ser diferenciada e progressiva tendo em conta regiões. No passado, regiões como as cidades do Uíge,
razão justificativa do adiamento da toma- a dimensão, localização, condições sociais e produtividade, Gabela, e Malanje cresceram à custa da produção agrícola.
da de posse como Deputado”. Facto que mas também a utilização da terra. Um imposto desta Logo, o IPR pode ser uma via para o desenvolvimento.■
não ocorreu com os visados.

SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018 |7|


Política
ORÇAMENTO GERAL

Declaração de voto

OGE aprovado «empobrece


os angolanos», defende UNITA
■ QUINTILIANO DOS SANTOS
Partido do Galo Negro
explica que votou
contra porque
não pode transformar
o OGE num instrumento
de institucionalização
da corrupção.

◗ BORRALHO NDOMBA

A UNITA considera que o Orçamento


Geral do Estado (OGE), aprovado na
quarta-feira, 14, com 136 votos do MPLA,
constitui uma “traição ao clamor dos
angolanos por mudanças”.
“É mais um orçamento que empobre-
ce os angolanos, penaliza o sector so-
cial, agrava as assimetrias regionais,
desinveste no sector produtivo e man-
tém as opções de políticas de falta de
transparência”, afirmou o presidente
do grupo parlamentar do partido do
Galo Negro, Adalberto da Costa Júnior,
quando justificava o voto contra.
Os angolanos, segundo a maior força
política na oposição, esperavam que o
documento orçamental reflectisse as
promessas de mudanças feitas pelo
chefe de Estado, João Lourenço.
“O Presidente da República foi porta-
dor de um orçamento que incorpora
OGE foi aprovado com 136 votos do MPLA, 50 contra da UNITA e 18 abstenções da CASA-CE, PRS e FNLA
os mesmos vícios, as mesmas práti-
cas da má governação”, acrescentou
Adalberto da Costa Júnior.
A UNITA diz que votou contra porque,
Na sua declaração de voto, o grupo par-
lamentar do partido do Galo Negro lem-
◗ «Este orçamento ram incluir essas medidas na Lei. Re-
jeitaram antes a Comissão de Inqué-
no seu entender, o “Executivo rejeitou brou que em sede da aprovação do OGE vai continuar a rito (CPI) Parlamentar ao BESA, a CPI à
as medidas de fiscalização preventiva propôs medidas adequadas para reforçar Sonangol, e a CPI ao Fundo Soberano”,
da execução orçamental pela Assem- o controlo preventivo da legitimidade da penalizar os mais lembrou Adalberto da Costa Júnior,
bleia Nacional que propusemos ao lon-
go das discussões na espacialidade. O
dívida pública.
As mesmas propostas não foram
pobres. Vai exigir dizendo que “aprovar o OGE com os
mesmos mecanismos deficientes de
Executivo não quer ser fiscalizado”. aceites. “Vossas Excelências rejeita- grande sacrifício» controlo preventivo. Significa que es-
tamos aprovar o primeiro instrumen-
to de branqueamento de capitais”,
considerou.
OGE O OGE 2018 foi aprovado com 18 absten-
ções da CASA-CE, PRS e FNLA.
MPLA aprovou «orçamento de transição» O líder parlamentar da CASA-CE, An-
dré Mendes de Carvalho, justificou a
decisão do seu grupo como sendo um
O presidente do grupo parlamentar do dações para o futuro. Uma das quais, a referida auscultação, “vai ditar a alte- sinal de “boa vontade”.
MPLA, Salomão Xirimbimbi, disse que o enumerou, é a mudança de paradigma ração do paradigma do orçamento que “Houve de facto um esforço dentro
Orçamento Geral do Estado contou com da elaboração do Orçamento Geral do Es- teremos. Sem isso, não será possível daquilo que foi possível, mas a verda-
um grande exercício de ajustamento. tado. “O Executivo fará, doravante, pri- alterar o OGE”, garantiu. de é uma: este orçamento não é o nos-
O deputado do partido no poder, que meiro uma auscultação dos parceiros As declarações de Salomão Xirimbim- so orçamento. Este orçamento vai
apelidou o documento de “orçamento sociais no momento da preparação do bi foram marcadas por críticas à UNITA continuar a penalizar os mais pobres.
de transição”, garantiu que o Executivo Orçamento Geral do Estado”. “por este, mais uma vez, votar contra o Vai exigir deles um grande sacrifício e
aceitou as recomendações sobre as Ainda segundo Salomão Xirimbimbi, Orçamento Geral do Estado”. o que mais preocupa é que este esforço
formas como tem elaborado o plano “O nosso desejo era que todos os parti- não leva ainda a um porto seguro”,
orçamental do país. dos pudessem votar favoravelmente, disse o deputado da CASA-CE.
“Pela primeira vez, os angolanos e as
angolanas, de Cabinda ao Cunene, pode-
◗ «A UNITA desde mas a política não dita isso. De qualquer
modo, eu sublinho, tal como foi referido
Benedito Daniel, presidente do PRS,
afirmou que se absteve porque “demos
rão dizer que finalmente é possível que 1992 nunca aprovou aqui pelo presidente desse grupo parla- o nosso benefício da dúvida, esperan-
um orçamento entre na Assembleia Na- mentar, o sentido de voto, mesmo sendo do a execução e o que a realidade dirá”.
cional e saia de forma diferente. E, as- favoravelmente a abstenção, da CASA-CE, o mesmo já não Para o presidente da FNLA, Lucas
sim, esperamos que no futuro possamos
caminhar”, disse o parlamentar, reite-
nenhum poderei dizer da UNITA, que desde 1992
nunca aprovou favoravelmente nenhum
Ngonda, o OGE demonstra “uma re-
gressão dos direitos já consagrados
rando que foram feitas várias recomen- orçamento» orçamento”, lamentou. ◗ B.N. por lei”.

| 8 | SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018


Conversa
na Mulemba
FERNANDO PACHECO

Por um novo paradigma


de produção e consumo de alimentos
A
discussão do Programa de Apoio à Produção, é, aquela que faz pouco ou nenhum recurso a agro- possam integrar esse sector privado. Na realidade,
Diversificação das Exportações -tóxicos que poluem os solos, as águas, o ar não há informação fiável sobre o número
e Substituição de Importações proporciona e os próprios alimentos. Este tipo de agricultura de agricultores empresários que possam garantir
interessante oportunidade para uma reflexão sobre é muitas vezes associado à agricultura de pequena os objectivos, as metas e as acções propostas.
a importância acrescida da agricultura familiar escala ou à agricultura familiar. Por tal razão, há hoje Se actualmente esses privados produzem cerca
e da agricultura de pequena escala, tanto no mundo uma certa atenção para novos sistemas de 10% da produção nacional (ou um pouco mais)
no contexto universal como no nacional. de produção, e isto explica a decisão das Nações como imaginar que em quatro anos eles possam vir
Não pode ter sido por acaso que a Assembleia Unidas. Tudo indica que está a ser gizada uma nova a responder ao desafio lançado? Recurso
Geral das Nações Unidas declarou, no passado mês revolução agrícola, cujo motor não será o aumento ao investimento estrangeiro? Sim, mas não se pense
de Dezembro, que o período 2019-2028 seria de produção e de produtividade, mas uma produção que em quatro anos os novos investidores, sem
a Década da Agricultura Familiar. sem hormonas de crescimento animal, nem doses conhecimento local, sem serviços de apoio técnico
Esse é o reconhecimento da sua importância industriais de agro-químicos, nem sementes e sem suporte de investigação possam fazer
e do seu papel na implementação da Agenda 2030 manipuladas capazes de resistir a pragas de insectos. milagres. A nossa história, incluindo a mais recente,
para o Desenvolvimento Sustentável, o que tem está cheia de exemplos suficientemente ilustrativos
a ver, neste conturbado mundo actual, com dos insucessos que nos custaram tanto dinheiro.
a produção diversificada de alimentos mais Os próximos quatro anos, em matéria empresarial,
saudáveis e seguros, com a preservação salvas as excepções já existentes, deverão servir
dos recursos naturais e da biodiversidade, sobretudo para arrumar a casa, trabalhar
com o combate à pobreza e com a melhoria no desenvolvimento institucional e no reforço
das condições de vida da população rural de capacidades dos mais variados actores, quer
através do emprego e do rendimento. públicos, quer privados, incluindo provedores
A famosa revolução verde, que teve lugar de serviços diversos, bancos, mercados, entre outros.
na segunda metade do século XX trouxe enormes Eu vejo, isso sim, um importante papel para
esperanças para a humanidade, prometendo o sector privado na prestação de serviços o todos
retirar milhões de pessoas do pesadelo da fome os agricultores, incluindo aí os familiares (de onde
através da melhoria tecnológica. Todavia, como podem evoluir muitos para virem a integrar uma
aconteceu com outras revoluções, ela entrou espécie de classe média de agricultores, que
em crise, por incapacidade de gerir o seu próprio constituirão a nata da Agricultura angolana
sucesso, produzindo um efeito perverso. Ainda no futuro), mas também os pequenos e médios,
que os casos mais gravosos de fome ocorram que, pelo seu número, podem fazer a diferença,
principalmente em países e regiões de conflito e têm sido, tal como os familiares, permanentemente
ou dominados pela corrupção ou pela má esquecidos, salvo poucas excepções. Mas não vejo
governação, a agricultura baseada na larga escala no PRODESI preocupação com os agricultores
e nos aumentos vertiginosos da produtividade familiares, os tais responsáveis por mais
tornou-se uma ameaça para a sustentabilidade, de 80% da produção, que nem sequer são referidos
ou, se quisermos para o desenvolvimento no documento. Isso é muito preocupante.
sustentável de que a humanidade precisa para Continuamos a gastar cerca de quatro mil
sobreviver. Hoje já ninguém ousa pôr em causa milhões de dólares anuais a importar alimentos
a realidade dolorosa das alterações climáticas, que, na maioria dos casos, podem ser produzidos
que prejudica mais os pobres, é certo, mas em Angola, como já aconteceu no passado.
■ CÉSAR MAGALHÃES
às quais ninguém parece escapar, nem a dos Tais divisas poderiam ser utilizadas na importação
problemas de obesidade e de saúde em geral de outros bens e serviços. Por outro lado, não
provocados por maus hábitos alimentares.
A miopia política dos últimos se desenvolveu a indústria transformadora
Actualmente, o debate sobre a fome não 15 anos, associada ao fenómeno a montante e a jusante da agricultura, como
se centra no problema da produção mas aconteceu também no passado e como foi previsto
sim no da dificuldade de acesso aos alimentos, da corrupão, explica muitos nos primórdios da independência, quando
principalmente de qualidade. As grandes agro- “a agricultura era a base e a indústria o factor
-indústrias, responsáveis pelo grosso da produção
dos males decisivo no desenvolvimento”. A miopia política
mundial, disponibilizam alimentos de sobra, mas dos últimos 15 anos, associada ao fenómeno
não há dinheiro para os comprar, porque milhões Em Angola a notícia sobre a decisão das Nações da corrupção, explica muitos dos nossos males.
de pessoas não têm emprego e têm rendimentos Unidas tem passado despercebida, nem sequer Urge pois repensar o modo de produzir alimentos
muito baixos. De tal modo que se deita fora um a comunicação social disse uma palavra. Isto e consumi-los em alinhamento com o que se passa
terço do que produz, aproximadamente, à escala só pode acontecer por ignorância, pois há um no mundo mais avançado. Em ambiente tropical
mundial. Além disso, esses alimentos não têm profundo desconhecimento da nossa história, a agricultura orgânica apresenta bastante
a qualidade desejável. Todos os dias circulam geral e económica, bem como do que de mais complexidade devido aos elevados níveis
notícias horripilantes sobre os efeitos de uma actualizado se passa lá fora em matéria de temperatura e humidade relativa, que favorecem
alimentação pouco saudável. Embora se insista de desenvolvimento, mas também por preconceito, a propagação de doenças nas plantas. Contudo, ela,
em afirmar que há exageros, o certo é que todos pois é sabido o modo como as elites menosprezam na perspectiva da agricultura de pequena escala
nós temos conhecimento das doenças e das mortes os assuntos do “seu” povo, basta ver, agora através ou da agricultura familiar, apresenta algumas
que atingem pessoas cada vez jovens que da própria TPA, como os seus “problemas” — que características interessantes que importa valorizar.
não têm hábitos de consumo saudável, por falta supostamente seriam os mais importantes — Desde logo, baseia-se no baixo uso de insumos
de conhecimento ou de dinheiro, ou simplesmente foram tratados pelo Executivo ao longo externos, o que confere pouca dependência
por desleixo. principalmente dos últimos 15 anos. do exterior, reduz os gastos em divisas e faz pouco
O pensamento mais avançado a nível mundial É com este pano de fundo que analiso ou nulo recurso a agro-tóxicos. Por outras palavras,
questiona, pois, não apenas o modo de produção, mas o PRODESI. O Programa põe grande ênfase é mais barata, mais amiga do ambiente e mais
também o de consumo. Uma das saídas apontadas no sector privado, mas quando penso na agricultura sustentável. Pode ser que finalmente se venha a olhar
para esta nova crise é a agricultura orgânica, isto não vejo onde estão, em número, os agricultores que a agricultura familiar com menos preconceito. ■
Política
UTILIDADE PÚBLICA

■ QUINTILIANO DOS SANTOS

Repatriamento
Entidades
recusam
«amnistia»
Várias personalidades angolanas
contestam o carácter de “amnistia”
que possa vir a ter a Lei de Repatria-
mento de Capitais após regulamen-
tação, e defendem uma discussão
ampla sobre o assunto.
A petição pública, subscrita por fi-
guras como o jurista e advogado
Benja Satula, Sérgio Piçarra, Luaty
Beirão, padre Jacinto Pio Wacus-
sanga, José Patrocínio e Luaty Bei-
rão, defende que a Lei seja “ampla-
mente discutida”, para que esta não
resulte numa “amnistia fiscal”.
Os subscritores recordam na car-
ta, a que o Novo Jornal teve acesso,
que o Presidente João Lourenço pro-
meteu que que o Estado accionaria
todos os mecanismos legais à sua
disposição para o repatriamento
compulsivo de dinheiro a favor do
Estado caso não houver a coopera-
OGE aprovado na Assembleia Nacional prevê um financiamento de mais de 11 mil milhões de kwanzas para associações de utilidade pública ção por parte de “quem detém esse
dinheiro ilícito fora de Angola”.
Em entrevista à Voz da América,
Associações de utilidade pública Benja Satula afirmou ser importan-
te que a lei seja amplamente discu-

Governo «esconde»
tida para que não seja entendida
como uma amnistia fiscal.
Uma outra reacção ao assunto
foi a do activista e académico Nu-

nome das organizações


no Álvaro Dala, que acusa João
Lourenço está apenas a agir em
defesa do grupo a que pertence. “É
mais uma forma que encontrou
para agir em benefício do grupo a

financiadas pelo Estado que João Lourenço pertence”, afir-


mou o académico.
Os subscritores querem que o Go-
verno accione os meios legais junto
Orçamento Geral do Estado mas não cumpriu a promessa, segundo do para financiar organizações que se de outros Estados “em cujos bancos
os líderes dos grupos parlamentares da dedicam a realizar actividades parti- comerciais o dinheiro adquirido de
para o ano económico UNITA e da CASA-CE. dárias. forma ilícita está domiciliado”, “ao
foi aprovado na quarta-feira, “O ministro das Finanças, no último “Este dinheiro pode ser mais bem invés de permitir que quem o adqui-
14, e o Governo, apesar debate, disse que podia apresentar a lis- gasto. Há associações como a ADRA, riu de forma ilícita continue a dis-
ta das organizações de utilidade públi- que se nota de forma clara que são de por do dinheiro que efectivamente
de ter recebido sugestões, ca, mas não o fez”, afirmou Adalberto da utilidade pública, e não se põe um úni- não é seu por direito”.
preferiu não abrir mão Costa Júnior, da bancada do Galo Negro. co centavo no sentido de ajudá-la. Em
do financiamento Apesar das críticas e sugestões, o contrapartida, aquelas que são alta- ■ ADJALI PAULO

MPLA aprovou sem nenhuma altera- mente partidarizadas são as que benefi-
que anualmente dá às ção o OGE, que prevê um apoio finan- ciam do apoio do Estado”, salientou.
associações consideradas ceiro de mais de 12 mil milhões de AJAPRAZ, Fundo Lwini, FESA, Amango-
de utilidade pública. kwanzas para as instituições com ale- la, todas com ligações ao partido de Go-
gadas ligações ao partido no poder. verno, são instituições que, segundo a
De acordo com André Mendes de oposição, recebem dinheiro do OGE.
◗ BORRALHO NDOMBA Carvalho, a CASA-CE propôs que as O OGE para 2018 previa mais de 60
associações de utilidade pública li- milhões de kwanzas para acções liga-
O Governo recusou-se a atender à solici- gadas ao MPLA, na sua grande maio- das ao MPLA, como o financiamento de
tação dos deputados da oposição que exi- ria, fossem retiradas da lista dos be- torneios desportivos em homenagem
giram a apresentação dos nomes das as- nefícios financeiros do Estado. ao ex-chefe de Estado e presidente do
sociações, até agora desconhecidas, ti- “O Governo também não abriu o jogo partido, José Eduardo dos Santos.
das como instituições de utilidade públi- de nos dizer em concreto quem está
ca, que vão receber financiamentos inscrito e quem não está. Uma delas
através do Orçamento Geral do Estado,
aprovado na quarta-feira, 14.
que questionámos é a FESA (Fundação
Eduardo dos Santos), mas o senhor
◗ «O senhor
Durante a discussão das propostas do ministro das Finanças disse que a FE- ministro das
documento na especialidade, o minis- SA não recebe dinheiro do OGE para o
tro das Finanças, Archer Mangueira, seu funcionamento”, explicou o presi- Finanças disse que
prometeu divulgar as denominações
das organizações da sociedade civil
dente da bancada parlamentar da co-
ligação à imprensa, reafirmando que
a FESA não recebe
apoiadas financeiramente pelo Estado, o dinheiro do Estado não pode ser usa- dinheiro do OGE» Constitucionalista Benja Satula

| 10 | SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018


Breves Epístolas
do Ocidente
SOUSA JAMBA

Conselho
da República com O escandaloso reinado de Zuma
«nomes de peso»

J
acob Zuma, Presidente sul-africano que
O engenheiro Fernando acabou de demitir-se, esteve no poder
Pacheco e o jornalista Ismael por nove anos — um ano a mais do que
Mateus são dois dos rostos um Presidente norte-americano, com
que se destacam no novo dois mandatos. Não obstante, o Presidente
Conselho da República, órgão Zuma saiu do poder um homem
colegial consultivo do chefe profundamente triste já que queria
de Estado, e que pela permanecer lá a todo o custo.
primeira vez vai contar Há nove anos, eu estava a passar um
com um ex-Presidente tempo na África do Sul e lembro-me
da República. O Conselho claramente do imenso orgulho que um
da República passa também amigo meu da etnia zulu sentia por um
a integrar o Vice-Presidente conterrâneo seu estar no poder. Naquela
da República, o presidente época, falava-se muito da máfia dos xhosas
da Assembleia Nacional, — a etnia dos Presidentes Mandela e Thabo
o presidente do Tribunal Mbeki. Havia gente que cantava hossanas
Constitucional ao “zulu boy” ou “ao rapaz zulu.”
e o procurador-geral Há dois dias estive com o mesmo amigo
da República. Constam ainda e ele estava cheio de ódio contra Zuma. Dizia,
os nomes de António Paulo até, que iria votar no DA (Democratic
Kassoma, Isaías Samakuva, Alliance) partido tradicionalmente de brancos
Abel Chivukuvuku, Benedito mas que agora tem um líder negro. Há nove
Daniel e Lucas Ngonda. anos, o meu amigo vibrava com o respeito que
tinha pelas figuras históricas do ANC.
Lembro-me que depois de um jantar
no Wandies, um famoso restaurante no
Casimiro Congo Soweto, ele me levou para um local onde
diz que não figuras históricas como Luthuli, Mandela e
foi comprado Tambo se reuniam antes de serem
encarcerados ou de partirem para o exílio. O
O recém-nomeado secretário meu amigo tinha um orgulho profundo de ser
provincial da Educação sul-africano e estar a viver naquele momento.
de Cabinda, Jorge Casimiro Quando se falava de Zuma como
■ D.R.
Congo, reagiu às críticas Presidente da República, o Arcebispo
de que teria sido comprado
para abdicar da luta pela
Desmond Tutu já afirmara que estava
completamente contra esta escolha porque
Quando se falava de Zuma como Presidente
autonomia da província mais o homem seria uma vergonha. Na altura, houve da República, o Arcebispo Desmond Tutu
a norte do país. Em entrevista membros da ala da juventude do ANC que
à DW África, Casimiro Congo, disseram que o Arcebispo tinha problemas já afirmara que estava completamente
um dos mais acérrimos
críticos e defensores da
sérios na cabeça. O meu amigo diz agora que
Desmond Tutu tinha razão: o consulado
contra esta escolha porque o homem seria
independência dos ‘cabindas’, de Zuma será lembrado nada mais a não ser por uma vergonha
justificou a sua integração escândalos atrás de escândalos.
no Governo de Cabinda Para mim, o grande valor dos anos de Zuma
por entender que “não podia é que a África do Sul passou a ter noção de que
fazer a sua luta de forma tipo de nação seria. As elites que lideraram as lutas das a falar sobre “state capture” ou a “”captura do estado.” Dizia-
isolada e que era preciso independências no Continente Africano pensavam que -se que a família Gupta até tinha a última palavra sobre
encontrar uma saída já tinham sido absolvidas pela História e não tinham que quem fosse nomeado para o Governo. Em muitos países
em cada momento”. prestar contas a ninguém. A África do Sul é uma africanos, este tipo de arranjos — em que um grupo de
democracia que, não obstante as suas deficiências, tem um empresários financiam o Presidente e em troca passam a
eleitorado cada vez mais sofisticado. O meu amigo disse-me gerir o país — é muito comum. Houve um tempo em que a
que estava farto de políticos vestidos com fatos italianos grande luta da comunidade internacional era fazer com
João Lourenço que custavam milhares de dólares e a conduzir os últimos que certos Governos na África Ocidental se desfizessem
esperado na Rússia gritos da Mercedes, optando pelo discurso político que das várias máfias do Médio Oriente. Há alguns anos atrás,
este ano sempre culpava ou o passado ou os brancos pelas desgraças. nos cofres da República Centro Africana, país rico em
O povo já não queria mais ouvir palavras de ordens; o povo diamantes, só entravam apenas uns milhões; o resto ia logo
Em declarações à imprensa queria casas dignas, água, luz, escola, saúde. O meu amigo para o Médio Oriente, sobretudo para o Líbano. Estas elites
do seu país nesta quinta- disse que, discretamente, certos políticos no ANC atiçavam libanesas estavam sempre bem atentas às tendências
-feira, o Presidente da Rússia, a xenofobia para distrair as populações negras. Isso não políticas do país e faziam tudo para salvaguardar os seus
Vladimir Putin, revelou que tinha efeito; em muitas das vezes, o povo queria mesmo que interesses. Entretanto, estes empresários tomavam conta
está a preparar a viagem os políticos do ANC prestassem contas. de tudo — até da diplomacia. Os sul-africanos (negros
do Chefe de Estado angolano, O ANC, um dos mais antigos partidos do mundo, provou e brancos) não podiam com esta família que tanto veio
João Lourenço, a Moscovo, também ter uma autonomia que demonstrou que, no final a dominar Jacob Zuma. O meu amigo diz que o mais que
ainda para este ano. Segundo das contas, o Presidente da República não tinha a última será lembrado do Zuma foram os milhões
Putin, um dos temas palavra. O Presidente Obama falava da África precisar dos contribuintes que foram usados para alterar
na agenda do encontro será de homens instituições fortes e não de homens fortes. a sua residência privada no KwaZulu-Natal. Abanando
a presença da companhia Zuma foi um homem forte — um rei com várias mulheres, a cabeça, o meu amigo lamenta que o número assustador
russa Alrosa em Angola, uma palácios, e que tinha uma rede de empresários que de negros sem emprego; que as infra-estruturas do país
das maiores empresas do o financiavam. E foi aí onde Zuma falhou profundamente. estão em decadência; que deveria haver um plano para
mundo no sector diamantífero. Os anos de Zuma vão sempre ser lembrados como os anos lidar com a presente seca na cidade do Cabo. Em vez
A informação foi transmitida em que uma família de empresários indianos capturou de resolver os problemas do país, diz o meu amigo, Zuma
durante uma reunião com praticamente o país. Bastava só alguém ir a uma livraria andou para cima e para baixo lidando com vários
o responsável da Alrosa. em Joanesburgo: havia prateleiras bem cheias de livros escândalos. O Arcebispo Desmond Tutu tinha razão.■

SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018 | 11 |


Política
OPINIÃO

Palavra
de Honra
GUSTAVO COSTA

Ficando para trás


N
inguém seguramente se atreve a pôr em causa africanos numa base anual. Não havendo mais tempo a perder, a questão
o salto quantitativo que Angola deu nos A construção deste Índice tem em consideração que se coloca agora reside em saber, em definitivo,
últimos quarenta anos com a criação de novos variados indicadores, tais como distribuição de bens se pretendemos continuar a seguir o caminho
estabelecimentos de ensino públicos e privados. e serviços públicos, direitos humanos e desenvolvimento da Nigéria ou se não será preferível começarmos
Ninguém terá, por isso, dúvida em reconhecer humano, igualdade do género, ambiente de negócios, desde já a trilhar a estrada que conduziu ao sucesso
o notável esforço feito pelo Estado para massificar infra-estruturas, saúde e educação. económico países como a Singapura ou a Malásia.
e democratizar o acesso da população ao ensino A elaboração desta classificação, que é a principal É certo que este não é ainda um governo
e à educação. avaliação da liderança africana, é realizada com base inteiramente de João Lourenço. Estamos perante
Quarenta e dois anos depois é chegado, porém, em dados fornecidos por 34 instituições diferentes, um governo coabitado por gente que flutua na órbita
o momento de, à massificação, agregarmos qualidade entre as quais órgãos ligados às Nações Unidas, clientelar do passado e por gente do presente que,
a um sistema de ensino que — tenhamos a humildade Centros de Pesquisa e Investigação, Organizações todavia, ainda não conhece os cantos da casa.
de o reconhecer — ainda deixa muito a desejar... Não-Governamentais e entidades vinculadas É natural, por isso, que, não podendo liderar,
Ou seja, priorizámos a quantidade em termos ao sector privado. com sucesso, reformas com gente irreformável,
de infra-estruturas e de recursos humanos, mas, ao o novo Presidente esteja condenado a enfrentar
nível da massa cinzenta, que é agora produzida “às muitas resistências às suas pretensões de insuflar
toneladas” nas universidades e institutos médios, a uma atmosfera governativa diferente em Angola.
qualidade é simplesmente lastimável... E apesar de não ter sido ainda possível aprovar este
E é por causa dessa baixa de qualidade da educação ano o orçamento ideal, já se assistiu a um novo olhar
e do ensino que, em parte, vamos “Ficando para trás”. do poder legislativo sobre a educação
O sublinhado a negro não é meu. (e a saúde), que há décadas eram tidos como
É o título que, com a devida vénia, respiguei de uma os “parentes pobres” dos recursos públicos.
obra do cientista político norte-americano de origem É claro que o que foi esta semana aprovado
nipónica, Francis Fukuyama. está longe de satisfazer as necessidades do sector
O autor do premiado best-seller “O Fim da História mas, ao deixar de ser um documento protegido
e o Último Homem” explica naquela obra por que razão com “betão armado”, como vinha acontecendo
se estabeleceu um fosso tão grande entre as nações desde que o Parlamento é Parlamento, não podemos
latino-americanas e os Estados Unidos da América. deixar de reconhecer que as alterações introduzidas
O livro retrata a diferença entre a América do Norte colocam-nos em presença de novos tempos
britânica e a América Latina que em 1700 no quadro de um orçamento que é ainda
se equivaliam economicamente, mas que hoje um orçamento de transição.
políticas económicas desastradas e instituições fracas Como de transição parece ser a Ministra da Educação
nos países da parte sul daquele continente que, ao fazer esta semana a apresentação em entrevista
as separam de forma acentuada. a TPA das suas “cartas credenciais”, revelou estar,
Um retrato que, salvaguardadas as devidas em toda a linha, deslocada no cargo.
distâncias, se pode enquadrar também relativamente Mesmo depois de ter sido previamente preparada
a que se passa hoje entre a maioria dos países africanos durante três horas para sair em grande
e algumas nações asiáticas que sofreram os efeitos na fotografia, a verdade é que acabamos
da presença do ocupante colonial. por ter nos nossos écrans uma figura tensa,
Uma diferença que explica em parte porque é que, nervosa e sem o domínio de alguns dossiers.
navegando durante décadas num oceano petrolífero, com Longe de ser assertiva, confundiu subsistemas com
■CÉSAR MAGALHÃES.
rendas altíssimas resultantes da sua extracção intensiva, níveis de ensino e, ao remeter quase todas
Angola também acabou por ir “Ficando para trás”... O insucesso escolar é uma as respostas para o senso comum (isto é um assunto
Quarenta e dois anos depois, o insucesso de todos), a Ministro da Educação resvalou para uma
das políticas escolares é, desta forma, uma das causas das causas que, em vários trivialidade assustadora.
que, em vários domínios, levou também Angola a ir Disse que os professores devem ser melhor
“Ficando para trás” de muitos países africanos.
domínios, levou também remunerados. Estamos de acordo. Porém, esqueceu-se
Se dúvidas houvesse, bastaria fazer uma breve viagem Angola a ir “Ficando para trás” de acrescentar que o salário não é o único factor
ao último Relatório de Desenvolvimento Humano (2016) de motivação.
elaborado pela Universidade Católica de Angola. de muitos países africanos O salário é apenas um factor externo mas o exercício
As estatísticas não mentem! Se, entre 2002 e 2008 da profissão de docente deve ser sempre encarado
com elevadas taxas de crescimento alicerçadas no preço No estudo de 2016 participaram 54 países africanos como uma paixão e não pode continuar a ser visto
do barril de petróleo, Angola alcançou uma taxa média e são analisadas categorias como a Segurança e Estado como uma alternativa. Logo, não basta olhar apenas
anual de crescimento na ordem dos 10,1%, o relatório de Direito, Participação e Direitos Humanos, para os títulos; é preciso fundamentalmente reconhecer
coloca agora o país na 156.ª posição do ranking mundial Oportunidade de Economia Sustentável as competências.
num universo de 188 países, do grupo dos países e Desenvolvimento Humano em 95 indicadores. Mas a Ministra revelou ter também uma gritante
de desenvolvimento humano baixo. As Ilhas Maurícias lideram a lista dos 10 países, falta de liderança ao refugiar-se no discurso
Entre 2016 e 2017, refere o documento, Angola figura que apresentam melhores práticas de governação. das famigeradas “orientações superiores”.
entre os dez piores países para se fazerem negócios O segundo lugar é ocupado pelo Botswana e o terceiro E quando para questões tão básicas como é a questão
e não integra sequer o grupo dos dez países com maiores por Cabo Verde. das carteiras escolares, uma Ministra tem
facilidades para fazer negócios ao nível da SADC. Angola progrediu 5 pontos entre 2006 e 2015 com de se socorrer de “orientações superiores”, então,
Este grupo de países é liderado, neste domínio, uma pontuação de 39.2 neste ano, mantendo-se, está tudo explicado.
pelo Botswana, seguido pela África do Sul no entanto, na categoria média-baixa”... Tão bem explicado que, nesta toada, facilmente
e pelas Ilhas Seychelles. A distância que separa o nosso país do pelotão concluímos que, precisando de “orientações
E o documento assinala: da frente impõe uma nova atitude governativa superiores” para tudo e para nada, então
“As pontuações que Angola tem vindo a obter no por parte das nossas autoridades se, na verdade, não precisamos de ter Ministros!
Índice de Liberdade Económica classificam o país pretendem que Angola não vá “Ficando para trás”. Depois do que (não) disse na TPA a Ministra
sistematicamente como sendo “reprimido” (...). O fosso é tão gritante que deveria conduzir a nossa da Educação das duas uma: ou alteramos rapidamente
O Índice Ibraim de governação africana mede a elite governamental a uma séria reflexão sobre o que o paradigma governativo ou corremos o risco
qualidade de governação em todos os países queremos para o futuro do nosso país. de ir “Ficando para trás”! ■

| 12 | SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018


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Política ENTREVISTA

ABREU PAXE
«O intelectual aqui já é forjado
para a cadeia de privilégios»
O académico e escritor angolano Abreu Paxe As dinâmicas sociais, económicas Sim, pode ser isso, mas também há a
e políticas dos países são possibilidade de pensarmos de outra
aborda o papel de uma elite intelectual vezes sem habitualmente marcadas pela maneira. Talvez para alguns destes in-
intervenção pública dos seus telectuais não seja por medo, mas sim
conta chamada a intervir em situações em que intelectuais que, enquanto cidadãos pelo facto de serem eles parte do siste-
só os políticos são tidos e achados como os fiéis e sobretudo formadores de opinião, ma, os que ajudaram a construir a má-
são uma espécie de contrapeso aos quina pública do poder. Colocando as
emissários de ideias e opiniões sobre o país poderes instituídos ou não. Muitas das coisas deste modo, podemos facilmente
críticas apontadas aos intelectuais compreender que, mesmo quando eles
político, cultural e económico. A conversa teve angolanos são precisamente por actuam como artistas ou em outras ac-
como mote as críticas que são dirigidas a essa elite. muitas vezes se colocarem à margem tividades afins, são sufocados pelo con-
desses processos. O que lhe pergunto fronto de não se verem eles mesmos
é se isso é ou não o reflexo de uma como críticos de si próprios. As dinâmi-
◗ NOK NOGUEIRA (textos) classe de intelectuais que vive cas sociais, económicas e políticas, em-
◗ OSMAR EDGAR (fotos) à sombra do medo? bora as perceba, ficam adormecidas aí,

| 14 | SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018


Frases


mos essas narrativas em relação às pes- que fossem inibidas as acções dos inte-
soas que na sua compreensão assim se lectuais que não aderissem nem nestes
comportassem, ou seja, as figuras ou os nem em outro posicionamento, e ador-
projectos políticos que não afinassem mecida a sua capacidade produtiva, por
«Há o problema com o poder, seja ele ditado pelos inte-
resses estrangeiros ou mesmo pelos in-
conta do poder instalado pela situação
criada pelos vários cenários políticos vi-
de natureza teresses do partido da situação. vidos desde a escravidão, o trabalho for-
çado e o colonialismo. Por conta destes,
histórica que é Sempre que há o despoletar a acção do intelectual, tanto os que esti-
de um problema, contrariamente vessem ao serviço do poder como os que
o do silenciamento ao que acontece em outras não tivessem, era de igual modo silen-
paragens, os órgãos ciada. Para estes últimos, os seus pas-
do lugar de criação de comunicação preferem sos eram cada vez mais reduzidos, mas
a reacção de um político também pela capacidade da imprensa
e de invenção a de formadores de opinião. em voga, não davam espaço destes
do intelectual Não está aqui um sinal evidente
desta hierarquização?
exercerem o seu papel. Mas isso tam-
bém, como já apontámos, tem antece-
que não fosse sob Bem, entendo aqui o político como actor,
e esse também pode ser formador de
dentes históricos ligados, não só, ao
princípio comunista da antiga União
o eixo de direcção» opinião, mas esse, claro, conformado Soviética, em que os intelectuais esta-
com a situação do momento, daí os ou- vam ao serviço da máquina revolucio-
tros actores, digo formadores de opi- nária que visava construir os ideais da
nião, que são protegidos se o desenho for causa a que se propunham e também
«Fomos ensinados o de se querer que o problema não deva ao princípio do poder cristão que se re-
ser compreendido de outro modo. É aqui flecte nas práticas dos intelectuais li-
e estimulados que o que chama, e também nos parece, gados à acção cívica, sendo que a sua
a compreender de hierarquização acontece como reali-
dade e passa a ser um lugar central, de
relação com o poder era quase desen-
corajada. Como não ir à tropa, ou fazer
que para a direcção, que decide, sem nenhum tipo
de negociação, por nós. Isso faz com que
política activa. Casos das Testemunhas
de Jeová e de outras igrejas evangélicas
compreensão a atitude dos diferentes actores seja a de que resignavam a vida pública activa e
demonstrar estabilidade e essa deve ser participativa.
dos nossos sustentada pelas mesmas pessoas, ou
deve ser olhada do mesmo modo. Fomos Não haverá aqui certa
problemas e a sua ensinados e estimulados a compreender permissibilidade da elite intelectual
que para a compreensão dos nossos pro- em não ocupar espaços que
consequente blemas e a sua consequente resolução a dinâmica social em si atribui
resolução cabe cabe apenas aos políticos. àqueles que têm por missão
reflectir sobre os problemas e não
apenas aos Vou reportar-me a uma entrevista
que concedeu aqui há uns anos
permitir que haja um apoderamento
da abordagem pelos políticos?
políticos» o escritor José Eduardo Agualusa, Pelas razões acima levantadas de natu-
quando dizia que os escritores reza histórica, os diferentes papéis so-
angolanos tinham medo de ciais desempenhados pelos intelectuais,
descrever a realidade tal como ela ou por religiosos, ou por comunistas,
«As crises políticas é por recearem o impacto político juntando isso ao carácter centralista e
das suas posições. Incomoda-o esta centrado que o poder político herdou da
internas vividas leitura, até como escritor? linha política da primeira república —
no seio do MPLA De modo algum, aliás, a resposta que dei
há pouco mostra mesmo esse tipo de ati-
digamos que o facto de os partidos políti-
cos como a UNITA e a FNLA terem sido
também podem tude, no caso dos escritores ou, de modo
mais geral, dos artistas que ajudaram a
afastados do espaço político como acto-
res activos — criou-se esse tipo de atitu-
estar na causa disso. construir esse lugar de que estamos a fa- de. Mas isso não só se verifica no quadro
lar, estes como detentores de cargos pú- de relações do poder político a nível das
Tomemos como blicos ou de outras responsabilidades po- diferentes esferas do Governo, mas tam-
líticas sentem-se manietados pela má- bém nos diferentes partidos políticos e
passando a viver apenas com imagens exemplo o 27 quina do poder que eles alimentam e que noutras instituições cívicas com raras
do melhor passado que as consola. não podem criticar precisamente por excepções. Esses elementos, juntando
de Maio essa relação. Por outro lado, as crises po- aos outros acima enumerados, dão-nos
Não lhe parece que existe em
Angola uma certa hierarquização
e a repercussão líticas internas vividas no seio do MPLA
também podem estar na causa disso. To-
a impressão de que as elites políticas que
existem e onde elas actuam já enfer-
da sociedade que coloca os
políticos no topo da pirâmide
desse acto sobre memos como exemplo o 27 de Maio e a
repercussão desse acto sobre os intelec-
mam mesmo disso [de promiscuidade].

quando este espaço devia ser os intelectuais tuais na época. Foi-se criando ao longo De há um tempo a esta parte era
disputado? dos anos um ambiente político que favo- quase dado adquirido que aquele
Há o problema de natureza histórica na época» receu a cultura do medo. intelectual com uma certa
que é o do silenciamento do lugar de exposição pública fazia-o
criação e de invenção do intelectual que A política ou o impacto político em com a pretensa ideia de parar
não fosse sob o eixo de direcção. O pró- Angola exerce ou não certo freio ou ao governo ou à Assembleia. Isto
prio poder político chamou para si essa «Foi-se criando ao nas posições da chamada elite não esvaziou a luta cívica que o país
responsabilidade, sob a capa, por um
lado, da opção política que Angola toma
longo dos anos um intelectual?
Veio-me a ideia do romance de George
tinha de travar?
Sim, o intelectual aqui já é forjado para
em 1975, depois da independência, de
modo que a FNLA e a UNITA fossem afas-
ambiente político Orwell, intitulado 1984. Nesta obra, ha-
via um poder central, como o da antiga
a cadeia de privilégios ou da actuação
na política activa, daí relegar para qua-
tados como actores políticos activos na- que favoreceu a União Soviética, como o de Cuba, como o se plano nenhum as suas responsabili-
quilo que se pretendeu como acordo, exercido pela Igreja, que controlava to- dades políticas, públicas e cívicas, pre-
usando os artifícios de os transformar cultura do medo» dos os outros poderes. Para a nossa rea- cisamente para se conformar na má-
em inimigos. Daí serem rotulados como lidade, a cadeia de privilégios materiais quina pela qual se identifica. Ninguém
um mal a combater. O próprio MPLA, e a quase obrigatoriedade de sermos ac- podia ter acesso de forma desejada a
por via dos seus intelectuais, também tores políticos activos para nos benefi- determinados bens e serviços se não se
não escapou a isso, aliás, ainda hoje le- ciarmos desses privilégios fizeram com rendesse a isso.

SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018 | 15 |


Especial Eleições
ENTREVISTA

«Fica-se com a ideia de que só


uns poucos têm responsabilidades
sobre os nossos destinos»
Considera excessivo a sociedade
querer cobrar mais da elite
intelectual mais do que cobraria
da classe política, por exemplo?
Bem, não vejo aí o que seria excessivo, se
compreendermos que a elite intelectual
tem responsabilidades de acção cívica
que seriam diferente a dos políticos,
mesmo que a acção destes últimos vi-
sasse obstruir a acção dos outros. Outra
forma de olhar para esse problema é
mesmo a partir da necessidade e a ur-
gência que temos de ver a elite intelec-
tual assumir o seu real papel. É essa sua
acção que vai permitir que possamos re-
flectir e discutir sobre o que nos anima,
mesmo nas nossas diferenças, mesmo a
partir do que varia e do que se diferencia.

Já agora, agrada-lhe o nível e o tipo


de debate político que há no país?
Sim, em certa medida. Há problemas
como os que fomos avançando aqui e
outros de diferentes naturezas que ain-
da são tabu na nossa sociedade e nos
nossos dias. Fica-se com a ideia de que
só uns poucos (a raça política) têm res-
ponsabilidades sobre os nossos destinos
e a nossa sobrevivência como povo.

O Abreu Paxe é um dos convidados


residentes do programa
radiofónico Conversas com Vagar,
já pensou em estender o espaço
para conversar ou mesmo debater
o país com políticos nacionais?
O espaço radiofónico Conversas com Va-
gar foi idealizado como programa de rá-
Abreu Paxe analisa a prometida reforma no governo e diz ficar com a impressão de que as coisas não mudaram ou continuam na mesma
dio pelo Eduardo Pinto e o Paulo Gomes,
ambos profissionais de rádio. E eu ao
lado destes e outros intelectuais, uns li- de distorções que nós vivemos até hoje. buições para dar respostas em boa me-
gados à rádio e outros não, fundámos o Sou alimentado por muito cepticismo, «Precisamos dida aos nossos reais problemas.
seu surgimento nas antenas da Rádio por conta das transformações que se
Mais. Entre os vários projectos que te- deram no nosso tecido social em que a de um país que seja Em que capítulo da vida
mos desenhado, fazendo aqui uma in-
confidência, um deles é o que precisa-
corrupção é hoje a palavra de ordem,
mas guardo em boa média aquilo de
de todos e que se do país é que gostava de ver João
Lourenço a diferenciar-se de JES?
mente indica e que pretendemos que ve-
nha a funcionar em diferentes suportes,
exemplar que não vamos, e nem deve-
mos perder nunca, aquilo que nos en-
governe bem e para o Sei que eles não têm como ser iguais...
Mas o que se pretende é que se atinja as
digo, outros suportes além da rádio. Aí a che de orgulho como povo, e digo que a bem-estar de todos» promessas políticas feitas pelo MPLA
conversa seria com políticos e outros ac- lista não é curta, é mesmo longa. nesses anos todos de paz, aquelas pro-
tores sociais e que o foco da conversa se- messas que sabemos venham a propor-
ria mesmo a discussão dos nossos pro- Fala-se hoje da necessidade quadros antigos, e com as metas que ele cionar o bem-estar para todos os ango-
blemas nas suas mais variadas matizes. de reforma na governação, traçou pode ser que se venha mitigar o lanos e que se faça de Angola o mesmo
enquanto assistimos a um figurino lugar que se pretende. Mas há um as- lugar para se viver como os suíços e
Que memórias é que tem e guarda no xadrez político que pouco mudou pecto que gostaria de assinalar aqui, americanos fizeram aos deles.
da anterior governação? em termos de actores. Que nota que, por uma questão de justiça social,
Nem tudo foi ruim, devo confessar. atribui às indicações dos quadros não é recomendável que o MPLA e a sua O cidadão Abreu Paxe tem alguma
Pelo menos naquilo que a mim diz res- do actual governo e que ilações direcção continuem a entender que só a agenda política, tem alguma
peito, dos aspectos ligados à formação tiraram do tempo de graça eles cabe a responsabilidade de gover- pretensão de fazer política activa?
eu beneficiei-me do ensino público até dado a João Lourenço? nar esse país. Precisamos de um país Eu tenho agenda política, isso a partir
ao mestrado. Estes estudos foram in- Bem, fico com a impressão que as coisas que seja de todos e que se governe bem e do que resultou do meu trabalho de tese
teiramente realizados aqui em Angola. não mudaram ou continuam na mes- para o bem-estar de todos. Não pode- de doutoramento. E preciso que isso ga-
Estes aspectos, ligados a outros, como ma. Diria que o Presidente João Louren- mos continuar a consentir quadros de nhe corpo como projecto social a partir
as mais diferentes conquistas que tive- ço precisa de criar capital político e não governantes que vão inaugurar, por de programa e projectos de pesquisa que
mos como povo, entre eles o de se pre- faria isso se renovasse inteiramente o exemplo, hospitais onde eles, se fica- pretendo dirigir ao nível da Universida-
servar a nossa soberania, podem ser quadro político. Aliás, o próprio MPLA rem doentes, não aceitariam ir lá tra- de. Isso colocava no quadro da política
assinalados como valiosas conquistas não se preparou para isso ao longo dos tar-se. Precisamos de construir um país activa aquela de que precisa fazer o país
que depois se embateram com o quadro tempos. Por outro lado, ao manter os em que se promova a cultura das contri- para funcionar de facto.

| 16 | SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018


◆ PUBLICIDADE

COMUNICADO

Como é do conhecimento geral, existem limitações nos montantes de moeda estrangeira disponíveis para venda à economia. Esta situação
exige uma gestão cuidadosa das divisas, de forma a satisfazer, na maior extensão possível, as necessidades dos cidadãos e das empresas.

Ao BNA enquanto autoridade cambial, compete regular o mercado e velar pelo seu bom funcionamento, para que as divisas disponíveis possam
contribuir efectivamente para o alcance dos objectivos de crescimento e de desenvolvimento económico e social.

Para esse efeito, o BNA implementou um novo quadro cambial que, entre outras medidas, atribui aos bancos comerciais a responsabilidade de
venda de moeda estrangeira aos cidadãos e empresas que dela necessitam.

Assim, o BNA vem informar que as solicitações de compra de moeda estrangeira devem ser apresentadas, unicamente, aos bancos comerciais,
com excepção dos grandes importadores de medicamentos e/ou bens alimentares que ainda as podem apresentar aos ministérios da Saúde e
do Comércio respectivamente.

Ainda com o propósito de assegurar o uso mais eficiente das divisas, o BNA aproveita para recomendar o seguinte:

(i) Nos processos de importação de bens ou contratação de serviços, as empresas devem:

• Certificar-se de que existe indisponibilidade de oferta no mercado nacional dos bens ou serviços a serem importados;

• Privilegiar a importação com recurso a cartas de crédito, para garantir a entrega da mercadoria contratada, bem como o
pagamento ao fornecedor;

• Em casos de importação com recurso ao crédito de entidades externas (incluindo o crédito do exportador) ou na contratação de
serviços, obter o compromisso ou possibilidade de venda futura de divisas por parte dos bancos comerciais, antes de confirmar a
compra;

• Sempre que possível, contratar bens ou serviços directamente ao produtor ou a agentes oficialmente licenciados;

• Negociar preços competitivos de modo a não onerar a economia nem prejudicar a balança de pagamentos;

• Certificar-se da idoneidade do exportador com auxílio do banco comercial, se necessário;

• Não contratar empresas cuja actividade seja duvidosa (regra geral incorporadas em jurisdições classificadas como paraísos
fiscais);

• Não fracionar facturas e respeitar as regras de compliance em vigor nos bancos comerciais;

• Consultar o banco comercial sempre que tiver dúvidas sobre as regras aplicáveis na realização de pagamentos ao exterior do país.

(ii) Nas operações privadas, os particulares devem:

• Sempre que possível, apresentar as solicitações de compra de moeda estrangeira no banco comercial de domiciliação de salários
ou de depósito regular de rendimentos;

O BNA mantém disponível ao público em geral e aos clientes dos bancos comerciais, serviços de supervisão comportamental, de provedoria
do cliente (dsc@bna.ao) e de controlo cambial (dcc@bna.ao), para recepcionar quaisquer denúncias ou reclamações sobre práticas à margem
das regras vigentes ou que possam resultar na utilização indevida das divisas disponibilizadas ao mercado.

Departamento de Comunicação e Marca


Luanda, 12 de Fevereiro de 2018

Avenida 4 de Fevereiro, nº 151 - Luanda, Angola - Caixa Postal 1243


Tel: (+244) 222 679 200 Fax: (+244) 222 339 125 www.bna.ao
Sociedade EDUCAÇÃO

Sindicato Nacional de Professores (SINPROF) apoia a contratação de novos professores para o reforço do ensino

IMPASSE

SINPROF insiste na
actualização de categorias
SINPROF apoia contratação de 20 mil novos professores para o reforço do ensino, mas observa
com preocupação a falta de actualização das categorias dos professores existentes no sector.
◗ DULCINEIA LUFUA

Recentemente o Ministério da Educa- rio que o órgão de tutela evite que, com ca-se, mais uma vez, a confrontar-se Segundo o presidente do sindicato
ção (MED) anunciou a contratação de 20 a contratação de novos professores, os com uma paralisação”. Nacional de Professores, para um me-
mil novos professores nacionais para o antigos se sintam menos valorizados. Recorde-se que o Governo angolano lhor enquadramento dos docentes a
ensino geral. O Sindicato Nacional de “Caso não se resolvam os antigos anunciou que vai proceder nos próxi- serem contratados pelo Estado, o Mi-
Professores (SINPROF) regozija-se com o problemas, os professores que serão mos tempos ao recrutamento de 20 nistério da Educação vai reunir-se nos
anúncio. Contudo, recorda que conti- admitidos deverão estar vantagem em mil professores para reforçarem o pre- próximos dias com os responsáveis
nua a ser preocupante a falta de actua- termos de categorias e salários. O que sente ano lectivo no sistema de ensino dos recursos humanos das diferentes
lização das categorias dos professores não é bom”, alertou o líder sindicalista. nacional. direcções provinciais do sector.
existentes no sector. Clarifica, no entanto, que “não estão Não obstante o anúncio do reforço no
“O SINPROF apoia a contratação de em causa” propriamente exigências de quadro docente, Guilherme Silva refere
novos professores, mas a chamada de
atenção enquanto sindicalistas é e
aumento salarial, mas “sim um antigo
problema” de actualização de catego-
◗ «A chamada que se estará “longe de se atingir aquilo
que é o necessário” para a cobertura
sempre será para a actualização das rias de professores, que passa, segundo de atenção nacional.
categorias dos professores existentes fez saber, pela aprovação do estatuto da Numa recente declaração à impren-
no sector antes do concurso”, recorda carreira docente e da sua publicação é e sempre será sa nacional, a ministra de tutela,
Guilherme Silva.
O presidente do Sindicato Nacional
em Diário da República.
Guilherme Silva avisa: “Se não se fi-
para a actualização Cândida Teixeira, disse que o país ne-
cessita de 70 mil novos professores
de Professores observa que é necessá- zer [a actualização], o Ministério arris- das categorias» para cobertura total.

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■ ADJALI PAULO

Papel
de Parede
NOK NOGUEIRA

Da farsa política à governabilidade do país


N
as duas últimas semanas, o executivo emitiu sinais Porquê? Porque é uma governação que até hoje percebeu mal
de algum desvario governativo, tão maus quanto o seu papel e aplicou pior as medidas por não saber responder
os que a antiga governação usou como prática à necessidade de harmonização de procedimentos e de regras
corrente durante anos. Algumas nomeações completamente que pudessem gerar um nível de satisfação perante os serviços
disparatadas e um sentido de Estado que ridiculariza a noção prestados por organismos públicos.
de reforma que foi apontada como a bandeira que haveria Ou seja, é preciso que se altere rapidamente o paradigma
de conduzir os destinos da actual governação e haveria de governação no país. É preciso passar-se a ver a governação
de ajudar a virar uma página em que os factores que geraram como uma “arte” que visa, primeiro, transformar para melhor
a pobreza estiveram mais ligados à governação do que a vida dos cidadãos; segundo, que visa gerar um nível
à incapacidade do cidadão reagir contra ela! de satisfação na prestação de serviços públicos e, terceiro, que
À vista de todos saltou um executivo semm ideias use os meios e mecanismos
mec de administração de modo
omessas
renovadoras, traído pelas suas próprias promessas a deixar uma marc
marca que produza um efeito reformador
eleitorais, já à partida comprometidas por um e não se limitar às promessas eleitoralistas.
çamento
orçamento que agora ousa chamar de “Orçamento A segunda nota, e esta muito mais preocupante tem que ver
nteúdo
Geral de Estado transitório”, como se o conteúdo com a chamada d de atenção feita por dois governadores
ionar
semântico das palavras ajudasse a reequacionar (emb
de Luanda (embora a prática seja extensiva ao país inteiro),
ctores
a cabimentação das verbas destinadas a sectores que tem que verve com os poderes paralelos e os grupos
críticos que continuam a merecer o maior desprezo de interesses. Não é possível haver o mínimo
ucação
do governo. Uma verdadeira aposta na Educação governabili
de governabilidade enquanto existirem poderes paralelos
e na Saúde, no Saneamento, na Produção or
ao poder dos organismos do Estado. A denúncia de que em
Agrícola, são marcas de um imaginário quee paí existem cidadãos que obstaculizam
Luanda (no país)
não consta do cardápio governamental, a gov
governação é um atestado de incompetência
e a prova está bem aí expressa ààs instituições públicas, às autoridades e à lei.
neste “orçamento transitório”. Mas este atestado é uma carapuça que serve
Dos sinais emitidos saltaram-nos à vistaa alguns melhor à governação central porque ela tem
mais preocupantes do que outros, mas doiss sido incapaz de promover um ambiente
interessaram-nos sobremaneira: o sinal daa “farsa de governabilidade política, de facto.
política” e o outro mais grave ainda: o da memória Que há poderes paralelos ou que existam
curta. Sinais que durante anos marcaram a agenda cid
cidadãos que obstaculizam a governação
ente
da actividade de campo do anterior Presidente sab
sabemos todos, incluindo o governo central,
da República. E são estes mesmos sinais queue que tem a missão de promover um ambiente
tendem agora a regressar e a ensombrar todaoda uma ■ D.R. g
de governação em que nenhum ente singular
agenda que se pretendia de renovação da esperança sobre
se sobreponha aos interesses de uma maioria que já
por uma governação que se colocasse à frentente “do faz d esforços de sobrevivência e de pobreza.
vive no limiar dos
rnados
de conta que se governa enquanto os governados O que é que vimos nos últimos anos? O próprio governo
ernação”.
fazem de conta que se alegram com a governação”. públ justificar as insuficiências com uma crise
central a vir a público
Prova disso, notou-se agora aquando da vida ex
que “tem origem externa” e a justificar o enriquecimento como
uras
de campo de João Lourenço às infra-estruturas “necess
sendo uma “necessidade de gerar ricos angolanos”.
de Luanda, foi a actuação de algumas Uma coisa que em Angola continua
administrações municipais que visou
branquear uma realidade que aos
À vista de todos saltou a prevalecer é a falta de noção de que, quando
existem poderes paralelos ao Estado,
CONSTATAÇÃO olhos de todos é tão insustentável um executivo sem ideias estamos perante círculos de interesses
quanto uma estratégia que sobrevivem à custa de ilícitos
Baixos salários de governação que não passa renovadoras, traído pelas suas criminais, pois os grupos de interesses,
na base de uma “farsa política” e que próprias promessas eleitorais, pelo menos os que conhecemos no
ainda não se desvinculou de uma nosso país, sequestram, condicionam
do absentismo agenda eleitoralista de promessas já à partida comprometidas por e amputam a actuação das instituições
dos professores sem qualquer respaldo real.
um orçamento que agora ousa
do Estado, tornando-as reféns
Vimos uma campanha de limpeza de interesses que servem uma minora.
Os salários dos professores
devem ser melhorados para que
a todo-o-terreno horas antes
da referida visita, acções de tapa-
chamar de «Orçamento Gerall É a esses círculos que a governação deve
direccionar os seus esforços no sentido
ocorra a redução do absentismo -buracos e outros apetrechamentos de Estado transitório» desmontar o novelo que gera
e consequentemente a melhoraria cosméticos ao longo das avenidas por a ingovernabilidade no país.
da qualidade, reconheceu onde haveria de passar João Lourenço! Isto só O poder local pode permitir que esse passo seja dado
a ministra da Educação, Cândida não é amadorismo porque é uma atitude de má-fé! com maior brevidade, pelo facto da esfera de fiscalização
Teixeira, em entrevista à TPA. O MPLA, por seu turno, voltou a falar das autarquias, sempre da governação transferir-se do governo central para
Para a governante, o assunto com o olhar na institucionalização do poder local com base os cidadãos eleitores que deixam de ser meros governados
deve ser analisado como um no alargamento do poder pelo poder e não como uma e passam a ser juízes em causas em que o interesse
desafio da Nação, por ser um necessidade urgente de maior fiscalização do exercício deste é a colectividade dos cidadãos. Se, por um lado, o poder
problema conectado e de implementação de bases de uma governação que passe de manutenção política se vai transferir para decisão popular,
ao desenvolvimento do país a servir verdadeiramente os interesses dos governados. o trabalho de excelência é, por outro lado, gerado e passam
e ao combate à pobreza. Está claro que a governação em Angola, e particularmente a prevalecer os indicadores ou os marcos de governação de um
“Todos nós temos que encontrar em Luanda, ainda não está ao serviço do cidadão e isso determinado autarca. Assim sendo, gera-se competitividade
solução para que a educação ouvimos de dois governadores da capital em circunstâncias no nível de excelência governativa.
encontre a posição certa, porque distintas, quando denunciaram a existência de cidadãos — É chegada a hora de acabar com a governação sem qualquer
é a base para um país moderno esqueceram-se(?) de dizer militantes do MPLA — que têm referencial de excelência, uma governação que não gera
e de progresso“, enfatizou. criado obstáculos à governação na capital. conforto aos cidadãos e que mais leva tempo a achar culpados
Relativamente ao Estatuto Importa, ainda assim, reter duas notas relativamente externos quando os factores de improdutividade estão bem ali
da Carreira Docente, afirma à governação angolana, até pelos resultados até aqui no seio do próprio aparelho do Estado, que não é um corpo
já estar no fim, em vias de ser alcançados e, acreditem, não estamos a ser fatalistas. Não se inerte, que se deixa enganar com obras de feitas do dia
entregue ao Conselho de Ministros conhece um único modelo de administração ou uma medida anterior para passar uma ideia daquilo que não é o dia-a-dia
para que, em breve, o problema governativa que tivesse produzido efeitos ressonantes no que desses bairros por onde percorreu João Lourenço. Governar
seja resolvido. ◗ D.F. ao trabalho de excelência diz respeito. Esta é a primeira nota. exige bom senso e respeito pelo cidadão! ■

SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018 | 19 |


Sociedade
REPORTAGEM

Trabalhadores da Empresa Nacional de Pontes falam em avançar com vigília caso a direcção-geral não tome medidas favoráveis

Empresa Nacional de Pontes

Mais de quatro anos


a trabalhar sem salário
Problema arrasta-se há 52 meses e os trabalhadores não vislumbram qualquer
medida no sentido de se inverter o quadro. Para sobreviverem, vêem-se
obrigados a recorrer aos famosos biscates.
◗ ANTÓNIO GASPAR

Trabalhadores da Empresa Nacional Era igualmente fácil ver o desespero duzir os funcionários é negativa, e o tinham feito”, explicaram, recordan-
de Pontes (ENP) dizem estar revolta- dos funcionários, muitos dos quais ti- este não tinha de ser o momento. Se a do que a ENP já foi uma “boa empresa”.
dos com a sua direcção-geral, devido nham as cabeças inclinadas sobre as direcção realmente quiser reduzir os Maria Alexandrina, funcionária há
aos 52 meses de salários em atraso, pernas para esconder as lágrimas, en- trabalhadores, terá de pagar os salá- mais de 20 anos, disse-nos que a úni-
não tendo até ao momento recebido quanto alguns, como forma de tenta- rios e dar garantia de que estas pes- ca coisa que os trabalhadores têm es-
qualquer resposta da instituição. rem abstrair-se da realidade que se soas poderão voltar assim que as coi- tado a usufruir é do subsídio de férias,
A equipa de reportagem do Novo Jornal vive na empresa, jogavam “damas”. sas normalizarem”, sublinharam os para além disso já ninguém recebe
deslocou-se até às instalações da ENP, A maior parte dos funcionários da ENP funcionários, acrescentando que nenhum valor.
no município do Cazenga, onde consta- entra às 08h e sai às 12h00, passando o caso contrário “ninguém vai aceitar “A empresa não está a ajudar em
tou um cenário de grande preocupação tempo sem ter nada que fazer. ir embora”. nada. Não temos deixado nada em
por parte dos funcionários. Diante da situação, os funcionários Denunciaram ainda que tudo isso casa. A maior parte dos funcionários
Tristeza, irritação, falta de esperan- disseram que empresa vai afastar al- está a acontecer “porque o Governo está desta empresa vive em casas arren-
ça e de motivação estavam estampa- guns trabalhadores, que vão ficar em a permitir” que o problema chegue até dadas e ninguém está a conseguir pa-
das no semblante dos trabalhadores, casa durante seis meses, sem receber esse extremo. gá-las”, desabafou.
com pouca ou nenhuma força para nenhum dinheiro. “O problema, por um lado, está no A funcionária explicou ainda que, no
enfrentar as dificuldades. “A decisão da direcção-geral de re- Governo. Se eles quisessem resolver, já mês passado, a empresa depositou na

| 20 | SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018


Citações
Curtas
■ OSMAR EDGAR ■ OSMAR EDGAR

Desabafo
«A empresa não está a ajudar
em nada. Não temos deixado
nada em casa. A maior parte
dos funcionários desta empresa
vive em casas arrendadas
e não estão a conseguir pagá-las»

Inquietação
«Como é possível a empresa dar-
-nos 40 mil kwanzas e dizer-nos que
vai descontar no nosso salário?
Isso é desumano. A empresa tinha
de nos entregar esses valores
a título definitivo»
Mateus Alberto Muanza, primeiro-secretário da comissão sindical

Gastos
«Passamos uma parte do dia «A direcção tem
na empresa sem fazer nada.
Vimos aqui cumprir formalidade
e gastamos o dinheiro de táxi
estado a tomar decisão
sem qualquer necessidade»
de forma isolada»
Reduzir funcionários Reagindo às dificuldades dos traba- orientado a direcção da empresa que
«A decisão da direcção-geral lhadores, o primeiro-secretário da co- resolvesse o problema e que, igual-
de reduzir os funcionários missão sindical, Mateus Alberto mente, cooperasse com a comissão
é negativa, e este não tinha de ser Muanza, contactado pelo Novo Jornal, sindical no sentido de se encontrar
o momento. Se a direcção realmente disse que neste momento estão muito soluções. Mesmo assim, a situação
quiser reduzir os trabalhadores, aflitos e sem nenhuma esperança de em nada alterou.
terá de pagar os salários» quando é que vão poder receber os “Quando o ministro visitou a insti-
respectivos salários. tuição, disse-nos que o sindicato pas-
Segundo o dirigente, a direcção- saria a cooperar com a direcção no
-geral da empresa convocou em De- sentido de se encontrarem ideias
zembro uma assembleia de traba- para ultrapassar essas dificuldades,
lhadores, na qual informou que vai mas a situação não se alterou”, sa-
dispensar alguns profissionais duran- lientou, acrescentando que a direc-
conta dos funcionários 40 mil kwan-
zas, mas que este valor será desconta-
◗ «O problema te seis meses sem que estes recebam
qualquer valor.
ção tem estado a tomar decisões de
forma isolada, “o que para nós é uma
do assim que os trabalhadores recebe- está no Governo. “Como é possível reduzir trabalha- atitude que transgride a legislação
rem os seus salários. dores sem que estes recebam qual- nacional referente ao Trabalho”.
“Como é possível a empresa dar-nos Se eles quisessem quer dinheiro para as suas estadias face às dívidas para com os mais 400
40 mil kwanzas e dizer-nos que vai
descontar no nosso salário? Isso é de-
resolver, já em casa?”, questionou-se, salientan-
do que o sindicato vai ficar à espera da
trabalhadores que já datam de 2011, a
direcção da Empresa Nacional de Pon-
sumano. A empresa tinha de nos en- o tinham feito» relação nominal dos funcionários que tes pagou, em Agosto do ano passado,
tregar esses valores a título definitivo, vão sair para depois exigir um escla- quatro salários, estando ainda em
uma vez que estamos há cerca de qua- recimento à direcção sobre se o pro- atraso vários anos de pagamentos.
tro anos sem usufruirmos os nossos funcionários, dispõe de dinheiro, fissional vai receber dinheiro e se há Sem data previsível para verem li-
ordenados”, concluiu. mas a direcção prefere não pagar os garantias da sua reintegração. quidados os salários em atraso, a
De acordo com a funcionária, a Em- 52 meses de salários em atraso. Em Outubro, o ministro da Constru- comissão sindical da empresa ga-
presa Nacional de Pontes não tem “Ninguém sabe mais o que fazer. A ção e Obras Públicas, Manuel Tavares rante que os funcionários vão conti-
prestado atenção aos trabalhadores, gente lamenta-se e mesmo assim de Almeida, visitou as instalações da- nuar em vigília, o que sucede desde
porque para além do salário há outros nada é resolvido. É triste”, queixaram- quela instituição pública, tendo o ano passado.
problemas, como a falta de um seguro -se os trabalhadores, concluindo, em
de saúde e meios de transportes para tom de desabafo, que “a direcção está a
os trabalhadores se deslocarem. matar a empresa”.
Diante de toda esta situação, os fun- Com dívidas para com os trabalha- SEM AVANÇAR DATA
cionários disseram ser obrigados a dores que já datam de 2011, a direcção
comparecer diariamente na empresa, da Empresa Nacional de Pontes liqui-
Director fala em esforço
sem, no entanto, beneficiarem de dou, segundo o Jornal de Angola, em para resolver a situação
qualquer subsídio, como é o caso dos Agosto do ano passado, quatro dos sa-
transportes. lários em falta. Segundo informações avançadas pela agência Lusa, José Henriques
“Passamos uma parte do dia na em- Segundo o ministro da Construção, considerou o processo “um sacrifício” para permitir estabilizar a unidade,
presa sem fazer nada. Vimos aqui Manuel Tavares de Almeida, a situa- e assegurou ainda pagar os ordenados atrasados há 52 meses,
cumprir uma formalidade e gastamos ção daquela empresa pública “foi sem, contudo, avançar o horizonte temporal para respectiva liquidação
o dinheiro do táxi sem qualquer neces- agravada igualmente pela crise eco- da dívida para com os cerca de 400 trabalhadores. José Henriques
sidade. Até quando esta situação vai nómica e financeira” que Angola vive, disse também que a situação da empresa é do conhecimento
continuar assim?” questionaram os garantindo mesmo que “a empresa dos funcionários, “que estão a par da realidade” e que “sempre reinou
trabalhadores . até tem valores a receber”, mas na o diálogo aberto” sobre o quadro da Empresa Nacional de Pontes. ◗ A.G.
A empresa, segundo avançaram os forma de títulos.

SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018 | 21 |


Sociedade
RECLAMAÇÕES

Rua do Porto Santo

Mau estado da via dificulta


automobilistas na Nocal
A via está esburacada Automobilistas que circulam no troço da
rua do Porto Santo, que dá acesso à fábri-
trajectória entre o bairro da Cuca e o
mercado dos Kwanzas, afirma que os
Quando a via Ngola Kiluanje estives-
se congestionada, acrescentou Mar-
em quase toda a sua ca da Nocal, queixam-se do estado de de- buracos que surgem na estrada au- cos, “os automobilistas usavam essa
gradação em que se encontra a via e pe- mentam diariamente, sem nenhuma via como alternativa para chegarem
extensão, o tapete dem a intervenção das autoridades para intervenção de quem deve fazê-lo. até ao S. Paulo, mas, nessas condições,
asfáltico quase a reabilitação da mesma.
O troço está situado na comuna do Hoji-
David sublinhou ainda que, por este
facto, quase que não tem lucrado no
muitos preferem mesmo aguentar o
engarrafamento”.
que já não existe. -ya-Henda, passando pela padaria Sopão, serviço de táxi porque “a maior parte Enquanto decorria a conversa, muitos
fábrica de Plásticos, a empresa Nocal e o dos lucros obtidos acabam na compra jovens aproveitavam para encher os car-
Automobilistas Centro de Saúde Siga, fazendo a conexão das peças para o conserto do próprio ros de passageiros a troco de 50 kwanzas.
alertaram para das ruas Ngola Kiluanje e dos Comandos
no município do Cazenga.
veículo”, lamentou.
Marcos Kiala, outro taxista que fazia
Ainda no local, observámos alguns con-
tentores e amontoados de lixo que se iam
a necessidade Para chegarem ao destino, os taxistas a rota entre a Comarca e a Cuca, depois apoderando da via.
vêem-se obrigados a enfrentar o grande de deixar os passageiros, juntou-se à A comerciante Arminda Mateus, que
de uma intervenção desafio: troço esburacado em quase toda conversa para também reclamar. esperava um táxi que a levasse até ao
no troço cuja a sua extensão e um tapete asfáltico qua-
se inexistente. Foi este o cenário observa-
“Com a via nessas condições, ainda so-
mos obrigados a pagar a taxa de circula-
mercado dos Kwanzas, manifestou o seu
descontentamento com o mau estado da
degradação do pelo Novo Jornal naquela via que tam- ção. Que país é este?”, ironizou o cidadão de via, sublinhado que usar a via da Nocal
bém é conhecida como a estrada da No- 32 anos, acrescentando, “para cobrarem é tem sido um “Deus nos acuda”, principal-
compromete cal, devido à existência antiga daquela rápido, mas para arranjarem é difícil”. mente no tempo chuvoso. “Porque, assim
o crescimento fábrica de cerveja.
Os automobilistas no local alertaram
que choveu, ficou muito alagado e dificul-
ta a circulação automóvel e provoca
da localidade. para a necessidade de uma interven-
ção no troço cuja degradação compro-
◗ «Nós não estamos transtornos aos peões”, disseram.
O facto, afirma Arminda Mateus, obri-
◗ DULCINEIA LUFUA mete o crescimento da localidade. “Nós a pedir muita coisa, ga muitos taxistas que circulam na via a
não estamos a pedir muita coisa, o que desenvolverem linhas curtas e a au-
queremos é só a reabilitação do troço, o que queremos mentarem o preço da corrida do táxi de-
porque esta via ajuda muita gente”,
disseram os automobilistas.
é só a reabilitação vido ao estado da Via. “Os táxis só param
na Siga por causa das lagoas e somos
O taxista David Ferreira, que fazia a do troço» obrigados a caminhar”.

■ OSMAR EDGAR

Automobilistas que circulam no troço da rua do Porto Santo, que dá acesso à fábrica da Nocal, queixam-se do estado de degradação em que se encontra a via

| 22 | SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018


Breves
■ LÍDIA ONDE

Em Viana
Cidadão
Escola Mutu-ya-
Kevela reabre português
como Magistério
A escola Mutu-ya Kevela,
assassinado
uma das primeiras da cidade
de Luanda no tempo colonial
e de maior dimensão,
durante um
reabre este ano lectivo
como Escola de Formação
assalto
de Professores (Magistério
Primário), anunciou em Luanda Nelson Silva, de 65 anos, de nacionali-
a ministra da Educação, dade portuguesa, foi asfixiado até à
Cândida Teixeira. morte no interior de um armazém de
O antigo Salvador Correia, frescos, durante um assalto praticado
baptizado com o nome de por 15 homens armados não identifica-
Mutu-ya-Kevela desde 1975, dos no Quilómetro 30, em Viana, disse
foi encerrado em 2008, ao NJ Online fonte do SIC, em Viana.
em função do estado Os assaltantes entraram no armazém
de degradação em que por volta das 18h00 de quarta-feira e só
se encontrava. saíram do recinto cerca da 01h00 de quin-
ta-feira, com dois contentores frigoríficos
cheios de peixe e carne.
As fortes chuvas que caíram em Luanda deixaram 2.200 residências inundadas
O Novo Jornal Online contactou o Di-
País carece rector de Comunicação do Ministério
de material para do Interior, intendente Mateus Rodri-
energia pré-paga Balanço gues, que garantiu a ocorrência sem, no
entanto, adiantar mais pormenores.
Os cortes de energia eléctrica
em Luanda vão continuar
até ao final deste ano devido
Chuvas em Luanda “O caso está sob investigação e de mo-
mento não posso adiantar nada para não
atrapalhar as investigações”, rematou.
à saturação e sobrecargas
em algumas subestações.
A informação foi avançada
provocam vítimas Segundo uma fonte do Serviço de In-
vestigação Criminal que esteve no local
do crime por volta das 02h00 de quinta-
pelo director
da Empresa Nacional mortais -feira, no momento do assalto “os me-
liantes prenderam os seguranças e um
de Distribuição cidadão de nacionalidade portuguesa
de Electricidade (ENDE), As fortes chuvas que caíram em com o coração nas mãos. Como solu- que se encontrava no local a descansar”.
Sérgio Dindanga, salientando Luanda provocaram pelo menos dois ção, peço a intervenção rápida das “O cidadão português terá mostrado
que a expansão mortos, estando um outro cidadão autoridades”, pediu. resistência durante a abordagem dos
dos contadores pré-pagos desaparecido, e deixaram 2.200 resi- O mesmo cenário verificou-se no meliantes e foi amarrado e depois es-
em Luanda continua dências inundadas, ruas alagadas e bairro do Catinton, no distrito urbano pancado. Os marginais asfixiaram o
em curso e que também árvores caídas, criando difi- da Maianga, onde sete residências e homem até à morte”, contou.
o atraso na montagem culdades à passagem de pessoas e de várias árvores foram arrastadas pela A fonte explicou ainda que a vítima es-
em algumas zonas viaturas em algumas zonas da capi- forte correnteza das águas. tava em Angola havia oito dias, veio para
é pela falta de produção tal. A informação foi avançada pelo No município do Cazenga, na zona renovar o cartão de residente.
dos equipamentos no país. porta-voz do Comando Provincial de da BCA, uma lagoa tomou conta da “Segundo as nossas investigações, apurá-
Luanda do Serviço Nacional de pro- rua dificultando tanto os automobi- mos que a vítima está em Angola há oito dias
tecção Civil e Bombeiros, Faustino listas que circulavam na zona, como para renovar o cartão de residente, durante
Minguêns. as pessoas que tentavam chegar até este tempo ficou hospedado no armazém do
Hospital Geral No bairro Mulenvos de Cima, no ao SIAC. Enquanto isso, alguns jovens seu parente”, disse a mesma fonte.
necessita de município de Viana, várias famílias aproveitavam a lagoa para a lavagem Nelson Silva não era o dono do esta-
médicos cirurgiões ficaram com as suas residências de viaturas. belecimento e nem estava ligado ao
inundadas, tendo a situação sido des- negócio de frescos.
Médicos de cirurgia crita pelos moradores como crítica,
são precisos, com urgência,
no Hospital Geral
conforme apurou o Novo Jornal.
João André, que viu os seus perten-
◗ «Só vivemos ■ QUINTILIANO DOS SANTOS

“17 de Setembro”, ces serem levados pelas águas, conta bem no tempo
no Sumbe, Kwanza-Sul, que foram obrigados a passar a noite
com vista a assegurar em residências de vizinhos. seco, quando
os serviços nesta unidade
sanitária, deu a conhecer
“A minha casa ficou inundada. Ti-
vemos que nos socorrer nas casas de
começa a chover
Agostinho da Silva, director outros vizinhos, para evitar uma ficamos com o
provincial da Saúde interino. desgraça; mesmo assim, a minha
A fonte afirmou que viatura ficou retida nas águas”, la- coração nas mãos»
apenas dois médicos mentou o cidadão, acrescentando
de especialidade que, além das inundações, as chuvas
de cirurgia prestam serviços, agravaram a situação do saneamento Ainda no Cazenga, verificaram-se
diariamente, no Hospital, básico na zona. enchentes em algumas paragens de
havendo a falta “As águas que entravam na minha táxis. Os passageiros queixavam-se
de outros especialistas, residência vinham acompanhadas que os taxistas encurtavam as vias e
como neurocirurgião, com lixo”, sublinhou o morador, rela- subiam o preço das corridas de táxi.
de medicina, ortopedistas, tando que a situação não é de hoje. Um Recorde-se que as chuvas que caíram
cardiologistas, facto que levou a que alguns moradores sobre Luanda no mês de Janeiro deixa-
de otorrinolaringologia, abandonassem as suas residências. ram cerca de 350 residências inunda-
maxilofacial e neurologistas. “Só vivemos bem no tempo seco, das e oito habitações na iminência de
Assassinato no Km 30, em Viana
quando começa a chover ficamos desabar. ◗ D.L.

SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018 | 23 |


Dossier IDADE DO AMOR

Vários relatos apontam que, em muitos casos, os pais se opõem ao relacionamento com disparidade de idades

O AMOR TEM IDADE?

Sociedade dividida
quanto à disparidade
de idades na relação
É um assunto de discussão interminável. Interesse material e desproporcionalidades são os pontos
de defesa de quem olha para a realidade com reservas. Os prós vêem na oposição uma manifestação
de preconceito e garantem existir felicidade verdadeira e duradoura numa relação com disparidade
de idades. Afinal, o amor tem ou não idade?
◗ ÁLVARO VICTÓRIA E ANTÓNIO GASPAR

I.B. (iniciais do nome do interlocutor


que pediu anonimato) recorda, eufó-
foi algo programado. Era uma ‘qua-
rentona’ com uma jovialidade de 20 e
◗ «[A idade] não relacionamento que não “tinha con-
dições” de sobreviver com a distância
rico, a relação que manteve, durante poucos! Repentinamente, começá- torna impossível física entre os dois.
quase um ano, com a ex-parceira mos a criar intimidade, havia sinto- “Não foi eterno, porque nada o é,
P.M.R., 21 anos mais velha. Deixa cla- nia entre nós e, por ambos termos es- qualquer tipo de mas foi verdadeiro, e infelizmente ti-
ro, desde já, que não foi a disparidade
de idades entre ambos que levou à
pírito livre e ‘rebelde’, rompemos as
barreiras culturais, quer da idade
relação, sobretudo vemos de chegar ao fim, por causa do
regresso dela ao seu país, onde ia fi-
morte da relação. quer da nacionalidade, até nascer o quando a felicidade xar residência definitiva, embora te-
Qualifica a antiga relação como romance”. nhamos tido mais uns meses de rela-
tendo sido uma “aventura” que valeu Foi o regresso da ex-namorada ao está em causa» cionamento à distância”, conta I.B.
tê-la vivido: “Apenas aconteceu, não seu país que ditou a sentença de um É dos que defende que as pessoas “não

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■ BRUNO FONSECA

Psicólogo Fernando Guelengue


Curtas
«Convém que haja
compatibilidade de
«Sou pelo amor»
vivência e experiência»
«Muita gente pensa que se trata O psicólogo Fernando Guelengue sa- 12 aos 18 anos procuram a identidade;
de coisa do Ocidente. Mas não. lienta que ninguém na velhice cria o 6.º estágio, mais longo, indo dos 18
Na cultura bantu, há crianças que um ambiente amoroso, e, se criar, aos 45 anos, em que a pessoa busca a
são ‘ocupadas’ desde tenra idade. tem de ser com uma pessoa do mesmo intimidade e o isolamento e a 7.ª eta-
Sou pelo amor» — Cássia Sá, estágio de desenvolvimento, caso con- pa, que vai dos 45 aos 65 anos, o estágio
professora trário vai existir incompatibilidade de da estagnação, também chamada por
interesses na relação. etapa da meia-idade”.
“É necessário e fundamental que as Para Fernando Guelengue, é na 7.ª
pessoas estejam num estágio de idade etapa em que se registam as decep-
«Por interesse» minimamente equilibrado e confortá- ções que colocam o indivíduo em
«A prática mostra-nos que grande vel. Convém que haja compatibilidade isolamento, fruto de uma eventual
parte destes relacionamentos são de experiências e vivências”, refere. quebra de confiança resultante dos
por interesse, sobretudo quando Informa que vários estudos provaram relacionamentos anteriores.
a mulher é mais nova» — Chitwe os riscos que se correm quando se está pe-
Bernardo, estudante rante uma relação conjugal com diferen-
ças de idades, independentemente de o
mais velho ser o homem ou a mulher.
◗ «Cada fase
«Há riscos»
O também jornalista realça que, em é importante para
muitos casos, os jovens procuram rela-
«É uma situação que deve ser bem cionar-se com pessoas adultas devido uma outra, desde
ponderada. Há riscos. Há questões
de moralidade e reciprocidade a ter
à estabilidade social que isso propor-
ciona: Mas esta situação não é sufi-
o nascimento
em conta» — Tino Bembo, jornalista ciente, pois há desproporcionalidades à velhice»
de afecto e satisfação que provocam
instabilidades”, observa.
Para sustentar a sua tese, Guelen- “É o momento que pode dar em crise.
gue recorre a uma pesquisa realizada Nessa fase de desenvolvimento, o indiví-
pelo psicanalista alemão Erik duo tem desejos de buscar aquilo que não
Erikson, que, entre vários estudos, realizou nas etapas anteriores. É um fe-
desenvolveu a teoria da psicologia nómeno que se dá, em muitos casos,
social do desenvolvimento. com muitos militares que, privados da
“Erik elegeu oito estágios de desen- sua liberdade para defenderem a pátria,
volvimento humano. Afirma que cada registam um conflito de etapas após
têm idade”, desde que tenham “maturi- mais importante é que “ele seja since- etapa existem comportamentos pró- atingirem os 45 anos ou perto disso. Daí
dade em todos os sentidos, espírito in- ro, no essencial e no acessório”. prios, ou seja, cada fase é importante que muitos deles optam por se relacio-
dependente e despidas de tabus, elas Acrescenta que numa relação é ne- para uma outra, desde o nascimento à narem com pessoas muito mais novas,
tornam-se intemporais”, daí que ache cessário sintonia, intimidade, respei- velhice”, cita o jornalista. pois anseiam gozar algumas sensibi-
idades são “simples números”. to pela individualidade do outro, que, “É importante observarmos três eta- lidades que não viveram nas etapas
Reafirmou: “Não me arrependo, no seu entender, é diferente do indi- pas: a 5.ª etapa, em que indivíduos dos anteriores”, sustenta o psicólogo.
nem de longe, de ter mantido aquela vidualismo. “Tudo isso leva a criar-
relação. É uma daquelas experiências mos uma atmosfera propícia para ■ QUINTILIANO DOS SANTOS

que, quando meditamos a respeito, di- uma relação sã”, aconselha.


zemos valeu a pena tê-la vivido. Pelo
crescimento, pela partilha de visões e «A idade tem as suas
valores, por nos doarmos à outra pes- particularidades»
soa porque a queremos ver feliz”. Pedro Zeferino, de 38 anos, casado com
uma mulher 14 anos mais nova, afirma
Amigos e primos que a idade não deve impedir duas pes-
reagiram normalmente soas de se amarem e projectarem uma
Questionado sobre como a família longa vida de convívio conjugal.
reagia ao relacionamento com P.M.R., “A idade tem as suas particularida-
21 anos mais velha, I.B. informou que des, esse é um facto que não se deve
nem toda a família soube do seu rela- deixar passar ao lado. Mas esse factor,
cionamento: “Não chegámos ao ponto por si só, não torna impossível qual-
de toda a família a conhecer; apenas quer tipo de relação, sobretudo quan-
a irmã mais nova, alguns primos e os do a felicidade está em causa, o indiví-
amigos mais chegados a conhece- duo sabe dos seus sentimentos e, in-
ram. E todos reagiram normalmente dependentemente da idade, o que im-
e ainda têm boas relações. Eu, pronto, porta é ser feliz”, refere o engenheiro
afastei-me, porque ‘ex tem de saber de formação.
ser ex’, como se diz no vulgo”. Zeferino diz ser necessário esquecer
Acredita que, com amor, é possível as diferenças e fixar somente naquilo
ultrapassar a barreira do “tabu” e que é importante na relação, conside-
“preconceito” que se colocam quando rando que a idade “não deve ser um
a relação é entre dois indivíduos com agente condicionante” da felicidade.
idades díspares. “Pode [o amor] ultra- Refere que tanto o homem como a
passar tudo o que estiver ao alcance mulher cada um traz consigo uma ex-
do ultrapassável, o que não implica periência de vida, “porque uma relação
necessariamente que as coisas de- de amor depende da capacidade de cada
Fernando Guelengue desaconselha relacionamentos com grandes diferenças de idades
vam ser eternas”, referindo que o um compreender e respeitar o outro”.

SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018 | 25 |


Dossier
IDADE DO AMOR

Opinião
CARLOS CONCEIÇÃO
■ D.R.

A diferença de idade, por si só, não determina


o sucesso ou o fracasso da relação
N
amoro significa a relação afectiva mantida entre duas estará sujeito ao fracasso. Isso acontece porque muitas vezes
pessoas que se unem pelo desejo de estarem juntas a diferença de idade reflecte uma busca obsessiva de encontrar
e partilharem novas experiências. É uma relação em no outro aquilo que o indivíduo julga não ter.
que o casal está comprometido socialmente, mas sem Uma jovem pode, por exemplo, sentir-se atraída por
estabelecer um vínculo matrimonial perante a lei civil ou um homem mais velho muito mais pela imagem idealizada que
religiosa. Numa relação tradicional, o namoro é a fase tem deste parceiro. Se ela o admirar apenas pela sua experiência
do relacionamento que antecede o noivado e o casamento. Hoje de vida e conquistas pessoais e profissionais, o risco é de se
em dia, em muitos casos o namoro não tem como objectivo iludir com esta imagem idealizada e não se aprofundar no
o casamento. São namoros liberais e as relações tendem conhecimento do parceiro e, com o tempo, entediar-se com
a ser mais abertas. Antigamente, o namoro expressava o acto a relação. No caso da pessoa mais velha, o perigo aparece
Macron, de 40 anos, e Brigitte, de 64
de cortejar a pessoa desejada sem implicar qualquer tipo quando a relação é uma tentativa de negar o processo
de intimidade. Esse conceito ainda se aplica quando alguém de envelhecimento, de voltar a ser jovem através da companhia
cobiça algo que deseja obter. Por exemplo, na frase “depois de de alguém muito mais novo. Com o passar do tempo, vê que isso
Relacionamento alguns meses namorando aquela bolsa decidi comprá-la”, o acto é impossível e frustra-se, o que fatalmente terá uma influência
de namorar refere-se à vontade de possuir determinado objecto. negativa na relação.
PR francês Um olhar social sobre as relações amorosas
ou conjugais com idades diferentes
Nos dias de hoje, casais em que o homem é muito mais
velho do que a mulher são mais aceitos socialmente do que

é 24 anos Quando o assunto é relacionamento amoroso, suscita muitas


indagações, sobretudo quando se trata de sociedades
excessivamente conservadoras, como a nossa, onde a matriz de
aqueles em que ocorre o inverso.
As mulheres também estão a relacionar-se com homens mais
jovens, mas isso parece causar estranheza, reflexo dos
mais novo relacionamento amoroso é de origem Bantu, ou seja, não é
igual com a do Ocidente, Médio Oriente, etc. A nossa é ainda
preconceitos sociais a que elas ainda estão expostas. Para que
relacionamentos desse tipo possam ser duradouros

que a mulher bastante conservadora, não estamos a dizer que é um assunto


novo, a diferença de idades sempre existiu e existirá nas
relações amorosas, o maior problema é quando o mesmo
e estáveis é importante que o casal tenha consciência que irá
enfrentar preconceitos e rejeição, familiares ou sociais. Pessoas
que valorizam excessivamente o julgamento social e procuram
Há um caso que chamou a atenção do acontece com idades superior a 10 anos, o que nos leva a sempre agradarem a todos, pautando seu comportamento
mundo em 2017: a diferença de idade levantar as seguintes questões: O que pelas regras do
entre o então eleito Presidente fran- é certo? O homem ser mais velho que a politicamente correcto, terão
cês e a mulher Brigitte Trogneux. Em mulher? As mulheres aceitam melhor maiores dificuldades para se
1992, escreve o jornal O Globo, Macron É errado a mulher ser a mais velha? proteger dos ataques
tinha apenas 15 anos e não sonhava Seria jugo desigual? Ter a diferença de idade por causa preconceituosos.
com o dia em que seria o favorito
numa eleição presidencial. Foi quan-
a mesma idade não é sucesso garantido
para o relacionamento, assim como ter
de compensações Factores que
comprometem relação
do conheceu a professora de Francês e idades muito diferentes também não é. como estabilidade psicológica A chance de um
Latim Brigitte Trogneux, então com 39 O sucesso do relacionamento depende relacionamento entre uma
anos, numa escola jesuíta em de uma série de questões que não e financeira. Já os homens, mulher mais velha e um
Amiens, Norte da França.
Além de ser colega de classe de Lau-
podem ser resumidas à idade, tais
como: objectivos de vida semelhantes,
não. Em geral, os homem mais
novo funcionar existe, mas
rence, filha de Brigitte, Macron aproxi- semelhança de propósito com relação relacionamentos não é regra.
mou-se da professora quando recebeu a ao namoro, afinidade de pensamentos No mundo todo, não há uma
tarefa de escrever uma peça de teatro. e ideias e várias outras. Mas a idade de de mulheres mais velhas cultura na qual a mulher
Foi o suficiente para se apaixonar.
Apercebendo-se dos desejos do fi-
cada um traz consigo algumas
características que devem ser levadas
com homens mais jovens mais velha seja valorizada.
Mas existem excepções; o
lho, os pais de Macron decidiram en- em conta para o início são instáveis e temporários maior problema nesse tipo
viá-lo à capital parisiense para com- e a continuidade de um de relacionamento é a
pletar os estudos e, desta forma, evi- relacionamento. atracção física.
tar que a relação que o jovem manti- O importante, em todas as situações, é o entrosamento entre A mulher atinge seu auge sexual aos 40 anos, mas o auge
nha com a professora 24 anos mais o casal, tanto fisicamente quanto no lado emocional. Pessoas físico é aos 25, com ausência de rugas e seios firmes.
velha vingasse. A tentativa, contudo, com idades diferentes podem amar-se, compreender-se O homem está sempre em busca de mulheres provocantes,
fracassou. e compartilhar a vida, desde que haja respeito, confiança insinuantes e que exalem desejo. As mulheres aceitam melhor
“Não te vais livrar de mim. Vou voltar e paciência com as diferenças inerentes a essa situação. a diferença de idade por causa de compensações
e casar contigo”, disse ele, segundo Existem pessoas que aos 40 anos se comportam como como estabilidade psicológica e financeira. Já os homens, não.
contou Brigitte à revista Paris Match. verdadeiros adolescentes, assim como há jovens de 20 que Em geral, os relacionamentos de mulheres mais velhas com
“Telefonávamo-nos o tempo todo e, agem e pensam como adultos. O importante é encontrar um homens mais jovens são instáveis e temporários.
pouco a pouco, quebrou a minha resistên- par com ideais, valores e cultura semelhantes, independente O que estamos a afirmar não é regra, tal como já dissemos
cia com uma paciência impressionante”, da idade cronológica. As chances de um relacionamento como antes, pois há de facto situações na nossa sociedade em que
acrescentou Brigitte Trogneux. esse durar, na opinião da psicóloga, são as mesmas assistimos casais a relacionar-se muito bem e tornam-se até
Casada, e com três filhos, Brigitte di- de qualquer outro, porque o que importa é a boa convivência. muito felizes. Talvez para nós o problema seja a pressão social
vorciou-se e iniciou um romance com o A atracção por uma pessoa mais velha pode ser que acaba por ser maior pelo grupo de pertença de cada um
ex-pupilo — depois de completar 18 comparada à preferência por indivíduos mais dóceis ou dos pares ou cônjuges, por um lado; por outro, é importante
anos — que se tornou em Maio do ano àqueles mais combativos. Se não houver preconceito dizer que a diferença de idade quando é tanta pode até certo
passado o mais jovem Presidente da de nenhuma das partes e se ambos souberem lidar com ponto gerar conflitos de interesse entre as partes, sobretudo
história de França, com 39 anos. as pressões sociais e familiares, o relacionamento deve ser por causa da violação das etapas. Ou seja, quando alguém se
Macron e Brigitte casaram-se em vivenciado intensamente como qualquer outro. relaciona com uma mulher ou um homem com uma diferença
2007 e decidiram não ter filhos — ela é É puro machismo a suposição de que mulheres com idade de idade de 20 anos, provavelmente o de menos idade quererá
avó de 10 netos do primeiro casamento. inferior à dos homens são mais fáceis de serem manipuladas. experimentar coisas da sua faixa etária, situação que não será
Desde então, a antiga professora tor- A relação entre casais com idades diferentes pode fortalecer-se aceita de bom grado pelo outro. Por isso, nestas circunstâncias,
nou-se a principal guia do economista, com o decorrer do tempo, se as pessoas estiverem realmente geralmente aconselhamos a sociedade a não se pautarem
participando em reuniões governa- interessadas pelo ser humano que está ao seu lado. Porém, por essa via, pois as consequências que podem advir são,
mentais, apoiando-o na elaboração de se a base do relacionamento for apenas um jogo de projecções, muitas vezes, incalculáveis.■
discursos e programas de governo.

| 26 | SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018


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Economia FINANÇAS

Vicente Leitão, PCA da Recredit, instituição que negocia o crédito malparado na banca comercial

CRÉDITO MALPARADO

Recredit quer
responsabilização
de gestores
A empresa criada pelo A Recredit não vai comprar o crédito mal- “assumir” o crédito malparado do BPC, ção que deu crédito de modo irregular,
parado que não tem garantias de ser re- que, no ano passado, estava estimado deve ser responsabilizado”, disse Filipe
Estado para recuperar cuperado no sistema bancário, segundo em mais de 500 mil milhões de kwan- Eduardo, que prefere ver os processos
garantiu esta semana em Luanda o seu zas, a Recredit olha para o negócio como resolvidos fora dos tribunais.
o crédito malparado administrador executivo Filipe Eduardo. uma forma de diminuir aquilo que é fal- “Nós, enquanto empresa, fugimos ob-
da banca quer ver De acordo com o responsável, a sua ta de disponibilidade de liquidez dos ba- viamente de uma solução de litigância
empresa não vai “branquear” a má ges- lanços para poder financiar a econo- judicial, porque sabemos que isso de-
responsabilizados tão de alguns gestores, aquando da ce- mia, garante o administrador executivo mora 7 ou mais anos e é completamen-
dência de crédito aos seus clientes sem da instituição, que, no entanto, alerta te fora da oportunidade de negócio em
os gestores pelas garantias necessárias. para a necessidade de quem deu mal o que estamos envolvidos”, disse.
más práticas e avisa “A Recredit não vai branquear nem crédito vir a ser responsabilizado. No ano passado, o Estado concedeu
pôr uma esponja sobre aquilo que é a “Se há um Conselho de Administra- dois mil milhões de dólares à Recredit
que só negociará má gestão dos bancos. Nós fazemos ne- para comprar os créditos malparados
gócios, portanto, os accionistas dos da banca nacional, dinheiro que a insti-
com garantias de
recuperação do crédito.
bancos é que devem chamar à respon-
sabilidade àquilo que são as perdas dos ◗ «A Recredit tuição usaria também para negociar a
aquisição de crédito malparado de ou-
bancos. A Recredit não vai enxugar es-
tas perdas”, disse Filipe Eduardo.
não vai enxugar tras instituições bancárias, como ga-
rantiu na altura o seu presidente do
◗ FAUSTINO DIOGO Criada em 2016, inicialmente para estas perdas» conselho de administração.

| 28 | SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018


■ LÍDIA ONDE

Breves
■ D.R.

Divisas
Bancos
Moeda Nacional
comerciais volta a perder
terreno
com plena O kwanza voltou

competência a desvalorizar mais 0,8 % face


ao euro e 1,4 % face ao dólar
com a realização do sexto
Os pedidos de compra de moeda es- leilão esta semana pelo BNA
trangeira no país devem agora ser desde que foi implementado
apresentados unicamente aos ban- o câmbio flutuante.
cos comerciais, segundo orientação Contribuíram para
do Banco Nacional de Angola (BNA), o apuramento da taxa
que ressalvou os grandes importa- de câmbio de referência 11 dos
dores de medicamentos e/ou bens 14 bancos participantes, tendo
alimentares que ainda podem apre- a taxa mais alta sido de 261,831
Angola busca dinheiro lá fora
sentar aos ministérios da Saúde e kwanzas por cada euro
do Comércio, respectivamente. e a mais baixa de 258,070
Com o objectivo de assegurar “o kwanzas. O banco central
Financiamento uso mais eficiente das divisas”, o vendeu 55 milhões de euros
BNA recomenda às empresas que se em divisas aos bancos
Segunda certifiquem da não existência de
oferta no mercado nacional dos
comerciais. Deste leilão
resultou a fixação da taxa de

emissão de bens ou serviços a serem importa-


dos, que privilegiem a importação
com recurso a cartas de crédito, para
câmbio média ponderada de
260,1 kwanzas por cada euro
e 211,2 kwanzas por cada dólar.
«eurobonds» garantir a entrega da mercadoria
contratada, bem como o pagamento

a caminho ao fornecedor, contratar, sempre


que possível, bens ou serviços direc- Consultora
tamente ao produtor ou a agentes contratada para
Angola prevê lançar ainda este mês a oficialmente licenciados e negociar acompanhar PEM
segunda emissão angolana de “euro- preços competitivos de modo a não
bonds”, ou dívida soberana em moe- onerar a economia nem prejudicar a O Governo contratou
da estrangeira, que deverá rondar os balança de pagamentos. a empresa Tendências –
dois mil milhões de dólares, contan- As empresas devem ainda certifi- Consultoria Integrada
do com o apoio do consórcio de ban- car-se da idoneidade do exportador para acompanhar a execução
cos constituído pelo Goldman Sachs, com auxílio do banco comercial, se das medidas de domínio
Deutsche Bank e o ICBC da China, gru- necessário, não contratar empre- fiscal incluídas no Plano
po que liderou a primeira emissão de sas cuja actividade seja duvidosa de Estabilização
‘eurobonds’ realizada em 2015. (regra geral incorporadas em juris- Macroeconómica, contrato
“O processo de emissão de ‘euro- dições classificadas como paraísos que irá custar ao Estado 890
“Estamos a negociar a aquisição do bonds’ está previsto ainda para o mês fiscais), não fraccionar facturas e mil dólares, de acordo com
crédito malparado de cinco bancos co- de Fevereiro. Há um conjunto de ban- respeitar as regras em vigor nos um despacho assinado pelo
merciais angolanos. Além do BPC tam- cos que está a trabalhar com o Ministé- bancos comerciais. Presidente João Lourenço.
bém com o Banco de Comércio e Indús- rio das Finanças na preparação dessa O Banco Nacional de Angola infor- O despacho presidencial
tria (BCI), Banco Angolano de Investi- emissão”, disse em Luanda o ministro mou ainda que os particulares de- justifica o contrato com
mentos (BAI), Banco Keve e Banco de das Finanças, Archer Mangueira. vem, sempre que possível, apresen- a necessidade de garantir
Negócios Internacional (BNI)”, disse Vi- Esta emissão surge numa altura tar as solicitações de compra de uma boa execução do Plano
cente Leitão. em que a dívida pública governa- moeda estrangeira no banco comer- Intercalar do Governo,
A entrada em cena da Recredit no mental (que exclui a contraída pelas cial de domiciliação de salários ou aprovado no final de Outubro
mercado financeiro foi encarada na al- empresas públicas angolanas) já ul- de depósito regular de rendimentos. de 2017.
tura, por economistas e não só, como trapassou o equivalente a 67% do Pro-
uma má opção governativa por não ser duto Interno Bruto do país, segun- ■ LIDIA ONDE

o caminho certo para a regularização do dados de Janeiro do Ministério


do crédito malparado. das Finanças. Cabo submarino
“ Temos agora um mau banco que vai A despesa do OGE para 2018 — de ligação ao Brasil
assumir todo este crédito malparado aprovado esta semana — , com a chega a Fortaleza
para felicidade dos devedores. Muito dívida pública, é uma das maiores
deste crédito está identificado e sabe-se preocupações admitidas pelo Go- O cabo submarino de
quem são as pessoas que se beneficia- verno angolano, que assume o obje- telecomunicações em fibra
ram dele. E com a Recredit está-se a le- tivo, segundo o ministro das Finan- óptica que vai ligar Angola
gitimar más práticas”, disse o econo- ças, Archer Mangueira, de “alterar à América do Sul chegou
mista Santos Alves. a actual trajectória”, através de um este mês ao Porto do Pecém,
Para o consultor Nelson Neto, o pro- “exercício de consolidação fiscal. em Fortaleza, no Brasil, a uma
blema está na Recredit ser uma empre- O ministro das Finanças explicou a distância de cerca de 6200
sa pública. 18 de Janeiro que o Estado vai precisar quilómetros. Segundo
“Regularizar crédito malparado com de contrair 1,128 biliões de kwanzas de a Angola Cables, o navio René
dinheiro público não é o mais correc- dívida em 2018, enquanto necessida- Descartes, de bandeira
to. Se o objecto é diminuir o efeito des- des líquidas, acrescido de 4,153 biliões francesa, atracou
te mal na economia, então deveriam de kwanzas para pagar o serviço da a 4 de Fevereiro em
ser empresas privadas a ‘caçar’ os ca- dívida actual, respeitante a este ano. Fortaleza, transportando
loteiros e nunca o Estado. E neste for- O Estado angolano estreou-se na o cabo submarino que ligará
mato o Estado não ‘caça’, apenas com- emissão de “eurobonds” em No- Angola ao Brasil, designado
pra dos bancos e zera os seus passivos vembro de 2015, angariando então, por SACS (South Atlantic
relacionados com este tipo de crédito”, no mercado externo, cerca de 1.500 Cable System).
BNA reforça poderes da banca comercial
considerou. milhões de dólares.

SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018 | 29 |


Economia
ENTREVISTA

ZECA DOS SANTOS


«Está-se a incentivar muito
a especulação imobiliária”
As imponentes obras rem em determinada tarefa. A nível das
comunidades, desconhecem-se os as-
infelizmente dá-se primazia e benefício à
especulação imobiliária.
«Aqui não se sabe
arquitectónicas que
se registam nos últimos
suntos ligados à arquitectura. Não se sabe,
por exemplo, que o pedreiro, que é parte do Como assim?
o que se pretende
tempos nas nossas cidades projecto de arquitectura, não é um técnico Sim. Está-se a incentivar muito a especu- com a cidade»
que elabora projectos arquitectónicos. lação imobiliária, muitas vezes o valor do
são encaradas oficialmente terreno de uma zona é mais evidenciado e
como dando uma visão E qual é a classe de arquitectos por isso o preço sobe. Assim, o território um défice que surgiu na altura do “boom”
de desenvolvimento, em que o senhor se revê? terá maior valor económico. Quando es- automóvel, mas até agora só vive em Bra-
Eu revejo-me na classe intermédia, por- tamos diante de uma intervenção arqui- sília quem tem automóvel… O que é o que
mas, longe disso, alguns que sou recém-formado. Do ponto de vista tectónica detectamos que provavelmente estamos a adoptar nas nossas cidades. As
profissionais questionam técnico, ainda não me considero um ar- se quebraram algumas normas paisagís- novas zonas de expansão da cidade care-
esta realidade, justificando quitecto. Apesar de já fazer parte da Or- ticas e ambientais, devendo-se fazer um cem de desenho urbano das estradas,
dem, estou numa fase de aprendizado e de estudo de viabilidade sobre quais serão os mais sustentáveis e próprias para as pes-
que aquelas tendem mais procura de experiência, não obstante es- benefícios dessa construção para avaliar soas e só permitem o carro, o que é incon-
a evoluir para a especulação tarmos a partilhar já o ramo da docência, se construímos o edifício quebrando a re- cebível. Na zona da Via Expressa de Luan-
imobiliária, conforme em que contribuímos para esclarecer gra A, B ou C. Infelizmente, mesmo saben- da não há passeios, só estradas.
quais são as responsabilidades de um ar- do dessas regras, a preferência tem inci-
declarou em entrevista quitecto, a sua importância no desenvol- dido no benefício individual do proprietá- E o que dizer sobre
ao NJ o jovem arquitecto vimento do país. Do ponto de vista técnico, rio do edifício, ao invés do benefício das as centralidades?
Zeca Santos. estamos a caminhar para aquilo que é a comunidades. A título de exemplo, se fa- São boas iniciativas, mas mais vale tarde
busca da experiência prática no sentido de larmos do Hotel Epic Sana, colectivamen- que nunca, apesar das funções que ainda
contribuir da melhor maneira para o país. te gera empregos para as comunidades, não possui. O primeiro exemplo de centra-
◗ HORTÊNCIO SEBASTIÃO (textos) É por isso que me classifico nessa fase in- embora tenha quebrado algumas regras lidade em Luanda foi o bairro-satélite do
◗ LÍDIA ONDE (fotos) termédia, porque, por um lado, estou com de assimetria ou urbanas. Prenda construído na época colonial e
os profissionais e, por outro, estou na aca- que, segundo alguns estudiosos, seria um
Em seu entender, qual é o quadro demia, onde apoiamos academicamente E acha que a cidade de Luanda núcleo secundário da cidade situado
actual da arquitectura em Angola? a classe estudantil, preparando-os para terá muitos outros defeitos numa cota superior do mar. Dever-se-ia
No meu entender, a arquitectura em An- os cuidados a observar e as responsabili- arquitectónicos? aprender com essa cidade-satélite do
gola está numa fase embrionária, ape- dades que devem ter antes de exercer a Sim. Estamos a falar de uma cidade que Prenda. Porque é que que não foi concluí-
sar de muitos profissionais terem de- função e a profissão de arquitecto. tem pouca iluminação, pouca água e os da? Será que estava mal? Alguns estudos
monstrado a sua experiência nalguns edifícios que fazemos não são auto-sus- dizem que não se teve cuida-
projectos. Mas ainda é de extrema ur- Como avalia o crescimento tentáveis. Temos edifícios com muitos pi- do com o raio de acção,
gência e necessidade que se unam as arquitectónico do país? sos onde só vivem duas ou três pessoas. A mas urbanisticamente
classes dos arquitectos que actualmente Do ponto de vista de crescimento arqui- questão é que cidades é que estamos a está bem, o contexto cli-
estão algo divididas do ponto de vista pro- tectónico, já temos um parque considerá- criar? É mais uma cidade fantasma. São mático responde às ne-
fissional. Refiro-me à classe dos seniores, vel. Já se fez muita coisa boa e continua- situações que acabam por ter um impacto cessidades das pessoas e
dos recém-formados e à estudantil. -se a fazer para aqueles que exercem a ambiental e económico. São grandes in- as novas centralidades
É consequência disso também o facto sua profissão de acordo com os regula- vestimentos e não têm retorno. Já uma são um gesto impor-
de outrora haver apenas uma única insti- mentos e as normas internacionais. Mas, arquitecta disse um dia que haverá de tante. Só não deviam
tuição de formação de quadros arquitec- infelizmente, do ponto de vista de desen- chegar um dia em que esses edifícios se- ser habitadas a 100%
tos, como a Faculdade de Arquitectura da volvimento das arquitecturas, nas nossas rão demolidos, porque não estão a obede- sem as outras fun-
Universidade Agostinho Neto. Hoje já cidades encontramos uma dificuldade cer às necessidades das comunidades. ções que uma ci-
conseguimos ter uma diversidade de ins- que é a prática da profissão como tal. dade comporta,
tituições superiores que formam quadros Acho que actualmente temos muitas “ar- Mas isso não se passa como hospi-
da área, permanecendo ainda algumas quitecturas bonitas”, e é o que tenho dito só com a cidade capital? tais, escolas
sequelas dos primeiros formandos nesta aos meus alunos, para não ficarem preo- Exactamente. Aqui não se sabe o que se
instituição que acham que têm mais co- cupados em fazer arquitecturas bonitas. pretende com a cidade. Existe um Plano
nhecimentos profissionais por serem Ainda é cedo, talvez num futuro próximo Director e muitas outras propostas e no fi-
oriundos de uma instituição do Estado, muitas arquitecturas poderão mudar, ou nal não se sabe o que se quer com a cidade.
criando-se então uma classe privilegia- mesmo merecer alguma correcção. Há muitos projectos desenvolvidos para a
da. A classe ainda não é valorizada, res- Infelizmente o contexto político tem nossa cidade e feitos fora daqui e por pes-
peitada e tida em conta no desenvolvi- sido privilegiar, na prática, as más arqui- soas que não conhecem a nossa realidade.
mento de alguns projectos a nível nacio- tecturas. Digo isto porque existem órgãos Os estudos são permitidos a qualquer um
nal, o que acaba por dificultar o futuro dos de regulamentação, de aprovação, mas elaborá-los, mas devem ser feitos local-
técnicos de arquitectura e urbanismo, mente e não à distância. A cidade deve ser
embora exista uma organização que é a feita dentro do contexto sociocultural das
Ordem dos Arquitectos de Angola. comunidades. Infelizmente hoje estamos
Não obstante, as coisas já estão um «A cidade deve a fazer cidades não para pessoas, mas
tanto ou quanto organizadas, havendo,
repito, a necessidade de se valorizar a
ser feita dentro para os automóveis e para aqueles que
têm a possibilidade de terem veículos.
classe para transmitirmos, informar-
mos, educarmos a sociedade e as insti-
do contexto Falo do ponto de vista da arquitectura das
estradas. Está a fazer-se infelizmente
tuições de utilidade pública para a im- sociocultural uma má cópia daquilo que é a cidade de
portância do arquitecto. Estes, infeliz- Brasília. Vamos olhar para os retornos. É
mente, não são consultados para intervi- das comunidades» uma experiência que se aprendeu, tem O arquitecto Zeca dos Santos considera que a cidade de

| 30 | SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018


PERFIL

Zeca Paulo dos Santos


é arquitecto e docente
na Universidade Metodista
de Angola. É também artista
plástico. Nos tempos livres
realiza trabalhos sociais
na associação filantrópica
Fulamuana, que se dedica
de todos os níveis, para que as pessoas que a apoiar as comunidades
lá vivem não dependam na totalidade do proporcionando conhecimento
centro Luanda. Existem grandes distân- para que elas consigam
cias entre as cidades. produzir bens.

Quando falou da primeira cidade-


-satélite no Prenda, referia-se aos
prédios inacabados ali instalados?
Não. Na iniciativa de ter uma cidade-sa-
télite como tal. Poderíamos considerar a
zona do Prenda como a primeira centra-
lidade, pois as novas centralidades não
passam de cidades-satélite, cujo objecti-
vo é criar núcleos de cidades que depois
se encontram com outras para fa-
zer a compactação das cidades.
Faltaram as funções básicas
que ajudam o desenvolvi-
mento socioeconómico do
cidadão. POr isso, só esta-
remos perto da sustenta-
bilidade quando nas nos-
sas vidas gastarmos me-
nos e pouparmos mais.
Mesmo com os erros
e as faltas de funções
que têm, dou os meus
parabéns às centrali-
dades. Foi bom come-
çar de algum modo.
Mas infelizmente
todas essas inter-
venções não são
acessíveis, nem
inclusivas.

Luanda tem pouca iluminação, pouca água e os edifícios não são auto-sustentáveis

SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018 | 31 |


Economia
NEGÓCIOS

■ QUINTILIANO DOS SANTOS ■ D.R.

China e CPLP
Comércio
cresce 29,4%
no ano
passado
As trocas comerciais entre a China e os
países de língua portuguesa cifraram-
-se em 117,58 mil milhões de dólares
no ano passado, valor que representa
um aumento homólogo de 29,40%, de
acordo com dados oficiais chineses
divulgados pelo Fórum de Macau.
As exportações da China para os
Procura de petróleo em alta em 2018
oito países de língua portuguesa cres-
ceram 23,2% para 36,57 mil milhões
de dólares e as importações aumen-
taram 32,18% para 81 mil milhões de Petróleo
dólares, fazendo com que a China te-
nha registado um défice comercial de
44,43 mil milhões de dólares.
AIE revê em
Isabel dos Santos e Sonangol em contramão
O comércio com o Brasil atingiu
87,53 mil milhões de dólares, com a
China a ter vendido bens no valor de
alta previsão
29,23 mil milhões de dólares e a ter
importado mercadorias no montan-
procura para
Dividendos te de 58,30 mil milhões de dólares,
mantendo o país do samba como o este ano
Isabel dos Santos principal parceiro comercial entre
os países que falam português.
Com Angola, o segundo parceiro co-
A Agência Internacional de Energia
(AIE) reviu ligeiramente em alta a

nega acusações mercial, o comércio bilateral ascen-


deu a 22,34 mil milhões de dólares, re-
sultado de exportações chinesas no
previsão de procura global de petró-
leo para este ano e alertou, num rela-
tório publicado esta semana, para as

da Sonangol valor de 2,29 mil milhões de dólares e


exportações angolanas que atingiram
consequências da queda dos custos
da produção nos Estados Unidos.
20,04 mil milhões de dólares. No relatório mensal sobre o petró-
◗ NJ/EXPRESSO peraza, que, por sua vez, é detida em Em terceiro lugar aparece Portugal leo, a AIE insistiu que os fundamen-
60% pela Sonangol e em 40% por Isabel com trocas comerciais com a China tos do mercado são menos favorá-
A Sonangol recebeu dividendos da pe- dos Santos. no valor de 5,60 mil milhões de dóla- veis para manutenção da tendência
trolífera portuguesa Galp e pagou os Entre 2012 e 2016, a Amorim Energia res, com as empresas chinesas a te- altista do preço do barril, que chegou
impostos às autoridades holandesas, deteve 38,34% da Galp. Em 2016, voltou a rem vendido bens no valor de 3,48 nos últimos meses a alcançar os 70
revelou a empresária Isabel dos San- reduzir a participação, para 33,34%, mil milhões de dólares e a terem dólares, essencialmente devido à
tos, na sua conta, no Twitter, e reafir- numa venda que lhe rendeu 484,6 mi- comprado mercadorias no valor de evolução dos Estados Unidos e, em
mada em comunicado divulgado há lhões de euros. Nesse período, a Espera- 2,12 mil milhões de dólares. particular, os depósitos de xisto.
dias em Luanda. za deveria ter recebido, indirectamente, Moçambique e China efectuaram Os autores do estudo aumentaram
No último fim-de-semana, o sema- 438 milhões de euros de dividendos rela- trocas comerciais no valor de 1,85 as suas expectativas sobre a procura
nário português Expresso dava conta de tivos à Galp, pelo que a Sonangol, en- mil milhões de dólares, tendo as em- de petróleo para uma média de 99,2
que, entre 2012 e 2016, cerca de 438 mi- quanto sua accionista, deveria ter direi- presas chinesas vendido bens no milhões de barris diários em 2018.
lhões de euros pagos em dividendos to a cerca de 260 milhões (o equivalente montante de 1,32 mil milhões de dó- Isto significa 100.000 barris diá-
pela Galp GALP 0,93% à Esperaza, hol- aos 60% da sua participação). lares e adquirido produtos no valor rios a mais do que tinham anteci-
ding detida pela Sonangol e por Isabel de 528 milhões de dólares. pado em Janeiro, em linha com as
dos Santos, nunca chegaram aos cofres perspectivas económicas mais fa-
da petrolífera estatal angolana. ◗ Entre 2006 ■ D.R. voráveis do FMI.
Na sequência disso, o Governo ango- Também sublinham que, com es-
lano assegurou que vai entrar numa e 2016, a Galp tes números, a subida do consumo
“batalha” para obter esse dinheiro, o mundial será de 1,4 milhões de bar-
que “não vai deixar tranquilo o antigo
distribuiu 2,76 mil ris suplementares por dia, compara-
Presidente” José Eduardo dos Santos, milhões de euros tivamente a 2017, quando o aumento
que é pai de Isabel dos Santos. foi de 1,6 milhões face a 2016.
Porém, Isabel dos Santos, no Twit- em dividendos Além disso, o aumento da extrac-
ter, considerou falsa a notícia, refor- ção de produtores que não perten-
çando que a Sonangol pagou inclusi- cem à Organização dos Países Ex-
vamente os impostos, na Holanda, rela- Por causa deste assunto, o presiden- portadores de Petróleo, em particu-
tivos à remuneração que auferiu en- te da Sonangol, Carlos Saturnino des- lar dos Estados Unidos, está no bom
quanto accionista de referência da Galp. locou-se a Portugal para falar com a caminho para compensar o aumen-
O Expresso adiantou que, entre 2006 Galp, tendo constatado que, depois do to da procura.
(ano em que o empresário Américo afastamento de Isabel dos Santos da Os autores do estudo salientaram
Amorim se tornou accionista de refe- Sonangol, não havia registos nas suas que os equilíbrios do mercado petrolí-
rência da Galp) e 2016, a petrolífera contas da petrolífera angolana de divi- fero podem mudar nos próximos me-
portuguesa distribuiu 2,76 mil milhões dendos da Galp. ses com a deterioração da situação na
de euros em dividendos. Destes, 973 Uma fonte do Governo angolano ci- Venezuela, que em Dezembro e Janei-
milhões foram entregues à Amorim tada pelo Expresso acusou o anterior ro produziu unicamente 1,61 milhões
Energia, holding controlada em 55% Executivo de ser responsável por este de barris diários, muito abaixo do que
Cooperação comercial em crescimento
pela família Amorim e em 45% pela Es- “apagão” nas contas da Sonangol. autoriza o acordo da OPEP.

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ANGOLA DADOS CEDIDOS POR:


Informação económica e de mercados
12 de Fevereiro 2018

PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS
O Banco Nacional de Angola (BNA) realizou na passada quarta-feira Na semana de 05 a 09 de Fevereiro, o Tesouro Nacional, por inter- As taxas de referência do MMI (LUIBOR) registaram aumentos em
(07), um leilão de venda de divisas no montante de USD 225,6 mi- médio do BNA, colocou a segunda emissão de Títulos do Tesouro no todas as maturidades, excepto a maturidade a 9 meses que se man-
lhões. O montante vendido, essencialmente para cobertura de Car- mercado primário no montante total de AOA 48.837 milhões, sendo teve em 22,51%. Destaque para maturidade Overnight que teve um
tas de Crédito, foi para assegurar a importação de matérias-primas, que apenas foram absorvidos cerca de AOA 31.856 milhões, mais aumento de 44bp tendo encerrado em 19,89%. As restantes matu-
peças e equipamentos para indústria transformadora, alimentar e AOA 11.495 milhões em relação a semana anterior. O montante ab- ridades encerraram a semana da seguinte forma: 1 mês a 18,75%
bebidas e prestação de serviço ao sector petrolífero. A taxa de câm- sorvido, totalmente em Obrigações do Tesouro Indexadas à Taxa de (+9bp); 3 meses 19,92% (+9bp); 6 meses 21,13% (+16bp) e 12 meses
bio de referência manteve-se constante em AOA 258,038/EUR. Não Câmbio, foi canalizado nas maturidades de 3, 4, 5, 6 e 7 anos a taxas 23,69% (+24bp).
obstante o novo regime cambial ter entrado em vigor, para bens de 7,00%, 7,25%; 7,50%; 7,75% e 8,0% respectivamente.
alimentares e medicamentos, o BNA mantém ainda o mecanismo
de Vendas Directas por indicação dos organismos de tutela, para
Operações Privadas (Educação, Saúde, Viagens e Salário dos Ex-
patriados), a venda de divisas mantém-se por alocação aos bancos
comerciais em função da sua quota de mercado no seguimento de
particulares.

NACIONAL
AGENDA INFLAÇÃO
DATA INDICADOR ESTIMATIVA ANTERIOR
VARIAÇÃO DO IPC POR CLASSE DE DESPESA TAXA DE INFLAÇÃO HOMÓLOGA
14-Feb AO: Leilões de devisas - data prevista NOTA:
45%
14-Feb AO: Leilões de BT’s (91, 182 e 364 dias)- data prevista AO Angola
Classes de Despesa Variação Dez-17 40%
14-Feb AO: Leilões de OTNR (2,3,4,5 y) - data prevista ZE Zona Euro
GE Alemanha 35%
14-Feb AO: Leilões de OTME (5,7 y) - data prevista Índice Geral 1.13
UK Reino Unido 30%
14-Feb AO: Leilões de OTTXC (3,4,5,6…10 y) - data prevista US EUA Alimentação e Bebidas Não Alcoólicas 0.74 25%
28-Feb AO: Comité de Política Monetária (CPM) do BNA JP Japão Bebidas Alcoólicas e Tabaco 1.21 20%
13-Feb UK: IPC A/A Jan 2.9% 3.0% CH China 15%
BZ Brasil Vestuário e Calçado 1.49 10%
13-Feb JP: Deflator do PIB A/A 4Q 0.0% 0.1%
SA África do Sul Habitação, Água, Electricidade e Combustíveis 1.81 5%
14-Feb GE: PIB T/T 4Q 0.6% 0.8% RU Rússia 0%
14-Feb ZE: Produção Industrial A/A Dez 4.2% 3.2% AO Angola Mobiliário, Equipamento Doméstico e Manutenção 1.36
Dec/15 Apr/16 Aug/16 Dec/16 Apr/17 Aug/17 Dec/17
14-Feb ZE: PIB A/A 4Q 2.7% 2.7% Saúde 1.44
14-Feb US: IPC M/M Jan 0.3% 0.1%
Transportes 1.03 Inflação Homóloga
15-Feb JP: Produção Industrial M/M Dez --- 2.7%
15-Feb US: Novos Ped. Seg. Desemprego 10/fev 228k 221k Comunicações 0.09
15-Feb US: Produção Industrial M/M Jan 0.2% 0.9% Lazer, Recreação e Cultura 1.59
Educação 0.00
Hoteis, Cafés e Restaurantes 1.46
Bens e Serviços 1.96

PETRÓLEO E OUTRAS MATÉRIAS PRIMAS RESERVAS INTERNACIONAIS LÍQUIDAS


EVOLUÇÃO DO PREÇO DO PETRÓLEO (USD/BARRIL) Valores em mil milhões USD
COTAÇÃO VARIAÇÃO 52 SEMANAS
80 PRODUTO 35
09-Fev 1W MtD YtD Máx. Mín.
70 30
Crude Oil Angola* 61.9 -9.0% -9.9% -7.2% 70.3 44.2 25 25 24 24 25 24 24 24
60 25 23 22
21 20 21 21
Brent 62.5 -8.9% -9.5% -6.6% 71.3 44.3 20 19 19
50 18
20 17 18
WTI 59.0 -9.9% -8.9% -2.4% 66.7 42.0 16 15 15
40 14 13
15
30 Gás Nat. 2.6 -9.3% -13.8% -12.6% 3.7 2.5
Ouro 1,316.5 -1.3% -2.1% 1.1% 1,366.2 1,195.1 10
20
fev/17 abr/17 jun/17 ago/17 out/17 dez/17 fev/18 5

Brent OGE 0
dez/15

fev/16

abr/16

fev/17
jun/16

ago/16

out/16

dez/16

abr/17

jun/17

ago/17

out/17

dez/17
* «Bloomberg Dated Brent Oil 15-45 Days Fwd Strip Price Angola»

TAXAS DO BANCO CENTRAL TAXAS DE JURO DA DÍVIDA PÚBLICA


TAXAS DE JURO DO BNA EVOLUÇÃO DAS TAXAS DE JURO DO BNA EVOLUÇÃO DAS TAXAS DOS BILHETES DO TESOURO EMISSÕES MERCADO PRIMÁRIO
30.0%
29-Jan 29-Dez Var. (PB) 30.0% Títulos Maturidade Montante 07-Fev 1W YtD
25.0%
Taxa Básica do BNA 18.00% 18.00% 0 63 Dias 8.55% 0 0
25.0%
20.0% Bilhetes do 91 Dias 16.15% 0 0
Taxa de Cedência de Liquidez 20.00% 20.00% 0
15.0% 20.0% Tesouro 182 Dias 20.24% 0 0
Taxa de Absorção de Liquidez 0.00% 0.00% 0
364 Dias 23.90% 0 0
10.0% 15.0%
Taxa de Redesconto 20.00% 20.00% 0 3 Anos 21.543 7.00% 0 0
5.0% 10.0% 4 Anos 500 7.25% 0 0
Taxa de Absorção de Liquidez (7 dias) 0.00% 0.00% 0 OTMN - Index.
0.0% Tx de câmbio 6 Anos 750 7.75% 0 0
5.0%
-5.0% 7 Anos 500 8.00% 0 0
COEFICIENTE DAS RESERVAS OBRIGATÓRIAS
0.0% 2.813
mar/16

mai/16

nov/16

mar/17

mai/17

nov/17
jan/16

jan/18
jul/16

set/16

jan/17

jul/17

set/17

2 Anos 24.00% 400 400


fev/17

mar/17

abr/17

mai/17

out/17

dez/17
jan/17

jun/17

jul/17

ago/17

set/17

nov/17

jan/18

29-Jan 29-Dez Var. (BP) OTMN Não 3 Anos 12.25% 0 0


Reajustáveis 4 Anos 25.88% 0 0
Reservas Obrigatórias - M. Nacional 21,00% 21,00% 0 Tx Básica Tx Cedência
5 Anos 26.13% 0 0
Reservas Obrigatórias - M. Estrangeira 15,00% 15,00% 0 Tx Absorção Tx Reedesconto 91 Dias 182 Dias 364 Dias

TAXAS DE JURO INTERBANCÁRIAS MERCADO CAMBIAL


COTAÇÃO VARIAÇÃO EM BP 52 SEMANAS EVOLUÇÃO LUIBOR O/N COTAÇÃO VARIAÇÃO 52 SEMANAS LEILÃO DE DIVISAS DO BNA (MILHÕES USD)
TAXA 30.0% PAR
09-Fev 1W MtD YtD Máx. Mín. 09-Fev 1W MtD YtD Máx. Mín. 2,500
25.0%
Luibor O/N 19.89% 44 54 349 23.67% 14.50% USD | AOA 209.889 1.2% 1.1% 25.9% 209.889 166.732 2,000
20.0%
Luibor 1M 18.75% 9 10 48 19.46% 17.45% EUR | AOA 258.038 0.0% 0.0% 38.5% 258.038 186.286
1,500
15.0%
Luibor 3M 19.92% 9 13 101 21.34% 16.62% GBP | AOA 295.041 0.2% 0.5% 31.6% 295.041 202.283
10.0% 1,000
Luibor 6M 21.13% 16 25 98 23.16% 19.01% ZAR | AOA 17.437 0.2% 0.7% 29.0% 17.486 11.477
Luibor 9M 22.51% 0 7 61 24.80% 20.84% 5.0% BRL | AOA 64.126 -1.9% -1.4% 27.0% 65.703 49.453 500
fev/17

mar/17

abr/17

mai/17

jun/17

jul/17

ago/17

set/17

out/17

nov/17

dez/17

jan/18

fev/18

Luibor 12M 23.69% 24 30 61 25.80% 21.93% CNY | AOA 33.148 0.7% 1.0% 29.9% 33.324 24.079
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Overnight 3 Meses 2016 2017 2018
6 Meses 12 Meses

INTERNACIONAL
MERCADOS ACCIONISTAS MERCADO CAMBIAL TAXAS DE JURO USD E EUR
COTAÇÃO VARIAÇÃO (%)
COTAÇÃO VARIAÇÃO(%) 52 SEMANAS COTAÇÃO VARIAÇÃO EM BP 52 SEMANAS COTAÇÃO VARIAÇÃO EM BP 52 SEMANAS
ÍNDICE 09-Fev 1W MtD YtD PAR
09-Fev 1W MtD YtD Máx. Mín. 09-Fev 1W MtD YtD Máx. Mín. 09-Fev 1W MtD YtD Máx. Mín.
DOW JONES 24,190.90 -5.2% -7.5% -2.1%

S&P 500 2,619.55 -5.2% -7.2% -2.0% EUR | USD 1.221 -2.0% -1.6% 1.7% 1.254 1.049 Taxa de Juro de Obrigações do Tesouro T

NASDAQ 6,874.49 -3.7% -7.2% -0.4% GBP | USD 1.378 -2.4% -2.9% 2.0% 1.435 1.211 EUA EUA

FTSE 100 7,092.43 -4.7% -5.9% -7.7% EUR | GBP 0.886 0.4% 1.3% -0.2% 0.931 0.831 2 Anos 2.004% -13.7 -13.7 12.1 2.182% 1.141% Libor O/N 1.439% -0.5 -0.1 1.0 1.444% 0.681%

BOVESPA 80,898.70 -3.7% -4.7% 5.9% USD | ZAR 12.118 0.3% 2.3% -2.1% 14.574 11.797 5 Anos 2.461% -12.8 -5.3 25.4 2.619% 1.597% Libor 3M 1.811% 2.4 3.3 11.6 1.811% 1.034%
PSI 20 5,398.34 -2.1% -4.7% 0.2% 10 Anos 2.788% -5.3 8.3 38.2 2.883% 2.014% Libor 6M 2.026% 4.3 6.0 18.9 2.026% 1.335%
Nikkei 255 21,382.62 -8.1% -7.4% -6.1% Zona Euro (OTs Alemanha) Zona Euro (OTs Alemanha)
2 Anos -0.567% -2.7 -4.1 6.0 -0.508% -0.958% Libor O/N -0.363% 0.0 -0.8 -1.7 -0.241% -0.373%
5 Anos 0.096% -2.9 -0.8 29.8 0.153% -0.602% Libor 3M -0.329% -0.1 -0.1 0.0 -0.325% -0.332%
10 Anos 0.745% -2.2 4.8 31.8 0.806% 0.156% Libor 6M -0.278% 0.0 0.1 -0.7 -0.237% -0.279%

Fonte: Bloomberg/BNA/PND/OGE 2015; SIGMA


Nota: O presente documento tem como único objectivo disponibilizar informação obtida a partir de diversas fontes, incluindo meios de informação especializados, fontes oficiais e outras consideradas credíveis e fidedignas. As opiniões e previsões emitidas não vinculam o BANCO ECONÓMICO
(“BANCO”), não podendo o BANCO, por isso, ser responsabilizado, em qualquer circunstância, por erros, omissões ou inexactidões da informação constante neste documento ou que resultem do uso dado a essa informação, designadamente, de decisões de investimento ou contratação que
tenham sido tomadas tendo por base todos ou alguns dos elementos contidos neste documento e que resultem em eventuais perdas, danos ou prejuízos para o investidor. Cabe ao investidor tomar as suas decisões, à luz do seu perfil e objectivos de investimento, e tendo em conta a legislação e
regulamentação aplicável. Por outro lado, as opiniões e previsões expressas no presente documento reflectem o ponto de vista dos autores, na data da elaboração do documento, sujeitas a correcções caso se verifiquem alterações das circunstâncias, sem necessidade de qualquer aviso.

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Internacional ÁFRICA

Presidente de África do Sul desde 2009, Jacob Zuma enfrenta vários processos de corrupção e é investigado por supostamente favorecer empresários

PR SUL-AFRICANO CEDE FINALMENTE

Zuma abdica no dia


da morte de Tsvangirai
Os acontecimentos, O Presidente sul-africano, Jacob Zu- lei: a Constituição”, enfatizou Zuma ficar claro que os quase cinco dias de con-
ma, anunciou na quarta-feira ao fim durante o discurso. versações entre o Presidente e o vice-
separados por dois da noite a sua renúncia num discurso A 13 de Fevereiro, o partido no poder -presidente do país, Cyril Ramaphosa,
países diferentes, terão dirigido à nação:
“Renuncio como Presidente da Repú-
da África do Sul, o ANC (na sigla em in-
glês), deu a Jacob Zuma 48 horas para
não tinham resultados.
Zuma liderou o ANC desde 2007 e foi
implicações profundas blica, com efeitos imediato”, disse. renunciar à sua função. Presidente da África do Sul desde 2009,
Ainda assim, prosseguiu: “Embora A decisão de forçar Zuma a demitir-se tendo sido sucessivamente acusado por
em torno eu não concorde com a decisão da li- dentro de um período acordado ou aca- actos de corrupção e de aproveitamento
das transformações derança da minha organização, sem-
pre fui um membro disciplinado do
bar por ser demitido foi tomada pelo par-
tido na tarde de segunda-feira, depois de
das funções que até agora exerceu.
Foram já indiciados por suspeitas de cri-
aceleradas que a sub- Congresso Nacional Africano (ANC)”, mes de corrupção e tráfico de influências,
explicou o político. entre outros, os seguintes cidadãos e em-
-região da África “Servi o povo sul-africano o melhor ◗ O ANC tinha presas, todos ligados de alguma forma ao
Austral vai sofrendo. que pude. Estou eternamente grato
por me terem confiado a posição mais dado 48 horas agora ex-Presidente sul-africano:
Mosebenzi Joseph Zwane, Atul Ku-

◗ NOVO JORNAL
importante da nossa terra, mas
quando o aceitei entendi e compro-
para Zuma mar Gupta, Rajesh Kumar Gupta, Ajay
Kumar Gupta, Kamal Vasram, Linkway
meti-me a submeter-me à suprema renunciar ao cargo Traiding, Lda., representada por Ronica

| 34 | SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018


■ D.R.

Breves
ÁFRICA
■ D.R.

Forças de Segurança
Cabo Verde
Guiné-Bissau
com centro reage a sanções
da CEDEAO
africano Um comunicado assinado

formação pelo governo demissionário


da Guiné-Bissau considera
a imposição de sanções contra
A República de Cabo Verde acolherá, 19 personalidades guineenses,
em meados de 2020, um centro entre as quais o filho
africano de formação dedicado às do Presidente José Mário
forças de segurança do Estado, Vaz, “uma atitude atentatória
anunciou o Orbit Training Simple à soberania e independência
em comunicado. nacionais”. Diz o governo
O objectivo, segundo reza o comu- cessante que as sanções têm
nicado, visa “responder aos desa- como fito colocar em causa
fios de segurança crescentes no os poderes do Presidente
continente e apoiar a cooperação guineense, cujo mandato,
Filipe Nyusi, PR moçambicano
internacional em matéria de defesa lembra o executivo, “advém
e de segurança”. do voto popular e nunca
O centro será chamado Orbit da vontade, benevolência
Training Center (www.orbit.trai- Moçambique ou simpatia de outros chefes
ning) e o custo da sua construção de Estado”.
ronda os 125 milhões de dólares.
O centro vai incorporar infra-es-
PR propõe
truturas de treino, de simulação
(pela primeira vez em África) e de revisão Titular cabo-
formação das mais avançadas em -verdiano da
tiro de salão, tiro de combate, nata-
ção de combate, desporto, informa-
parcial da Economia visado
ção, telecomunicações militares e
de segurança, intercepção, manu-
tenção da ordem pública, bem
Constituição O Vice-Primeiro Ministro
e Ministro das Finanças, Olavo
Correia, foi acusado de criar
como a luta contra o tráfico de dro- Filipe Nyusi submeteu à Assem- uma Lei à medida de uma
ga, a luta contra a caça furtiva e a bleia da República moçambicana empresa da qual ele próprio
luta contra a cybercriminalidade. uma proposta de revisão pontual foi administrador, até à sua
A estrutura poderá suportar 150 da Constituição, tendo em vista dar chamada para o Governo, em
estagiários e instrutores que fica- forma aos consensos alcançados Abril de 2016. Com a entrada
rão instalados numa superfície de no âmbito do diálogo com o líder em vigor da Lei que agravou
2,5 km quadrados destinada às for- da Renamo, Afonso Dhlakama, as taxas de importação
ças policiais, forças armadas, for- para o alcance da paz efectiva em de lacticínios e sumos de fruta,
ças especiais, serviços de informa- Moçambique. entre 20 a 35%, várias vozes
ção e serviços especiais, funcioná- “Hoje, apraz-me comunicar que o da sociedade civil têm-se
rios de alfândega, guardas flores- documento, resultante dos consen- levantado contra este aumento.
tais, sapadores-bombeiros e servi- sos, e tal como havia prometido, foi
ços de protecção civil provenientes submetido à Magna Casa do Povo, a
sobretudo do continente africano. Assembleia da República, órgão de
O centro, que terá estatuto de soberania competente para, sinteti- Ellen Johnson
Ravagan, Kevin Thysse,Oakbay In- Zona Franca, poderá também ser- zando as aspirações dos moçambi- Sirleaf vence
vestments, na pessoa de Varun Gupta, vir instituições internacionais, canos, decidir sobre a matéria”, Prémio Mo Ibrahim
Nazeem Howa e Ash Chawla. tais como as Nações Unidas (mis- anotou Filipe Nyusi numa nota de
Cyril Ramaphosa assumirá, de acordo sões de paz), a União Africana, a imprensa enviada às redacções dos A antiga Presidente da Libéria,
com a Constituição, a chefia do Estado. CEDEAO ou o ECOMOG, a INTERPOL media moçambicanos, acrescen- Ellen Johnson Sirleaf, venceu o
Entretanto, ainda na quarta-feira, foi ou, inclusive, a OTAN. tando que “os consensos alcança- Prémio Mo Ibrahim da
anunciada a morte de Morgan Tsvangirai, dos são fruto de um longo e aturado Excelência Africana, pelo seu
■ D.R.
aos 65 anos, vítima de cancro do cólon. processo de negociações”. desempenho durante os seus
Opositor de Robert Mugabe no Zimbabwe, Segundo o jornal Vertical, o chefe dois mandatos consecutivos
foi primeiro-ministro entre 2009 e 2013, de Estado moçambicano assinalou entre 2006 e 2017 na chefia de
numa tentativa de conciliação com o dita- que “pode não estar perfeito, mas o um país que estava totalmente
dor, que foi deposto em Novembro passado esforço não deve ser de avaliar se é destruído por uma guerra civil
após 30 anos no poder. perfeito ou não, mas sim viabili- entre 1999 e 2003 quando
“Morreu esta tarde. Foi a sua família que zarmos este processo para servir os chegou ao poder. Segundo
me comunicou”, disse o vice-presidente do moçambicanos e se há quem tem o comunicado da Fundação
Movimento para a Mudança Democrática, boas ideias ainda há grande espaço Mo Ibrahim, a antiga Presidente
Elias Mudzuri, citado pela Reuters. para podermos interagir e discutir da Libéria “conduziu um
A morte de Morgan Tsvangirai acontece e melhorar o texto final”. processo de reconciliação
nas vésperas das primeiras eleições desde Acima de tudo, “para dizer que, concentrado na construção da
que o regime de Robert Mugabe caiu. mais uma vez, agradeço o vosso unidade nacional e de fortes
O partido da oposição tem agora de apoio, contribuição e entrega pes- instituições democráticas.
escolher um novo líder para disputar o soal, porque por vezes sacrificam Ao longo de seus dois
poder contra a União Nacional Africa- as famílias e até a vossa identida- mandatos, ela trabalhou
na do Zimbabwe, partido actualmente de, porque há quem sempre ques- incansavelmente em nome
no poder e fundado por Robert Mugabe. tione quando queremos trabalhar, do povo da Libéria”. Recorde-se
Morgan Tsvangirai foi conhecido pela mas continuemos assim de cabeça que a agora homenageada já
sua luta política contra o regime de Ro- erguida a trabalhar para os mo- tinha recebido o Prémio Nobel
bert Mugabe, tendo sido preso inúmeras çambicanos, porque para isso fo- da Paz no ano de 2011.
Centro visará segurança do Estado
vezes e alvo de quatro atentados. mos destinados”.

SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018 | 35 |


Internacional
MUNDO

Haiti

Graves acusações
de violência sexual à Oxfam
■ D.R.
Uma das organizações
não-governamentais
britânica mais prestigiada
acaba de sofrer um grave
revés com acusações
comprovadas de violações
sexuais e orgias durante
a campanha de apoio
às vítimas do terramoto
que devastou o Haiti.
◗ NOVO JORNAL

A vice-directora da ONG britânica Oxfam,


Penny Lawrence, renunciou às suas fun-
ções depois de conhecidas as novas ale-
gações de escândalos sexuais no Haiti,
em ligação com o comportamento de
seus funcionários no Tchade.
“Sinto muito pelos danos e pela dor
que tudo isso causou aos que apoiam a
Oxfam, ao sector de desenvolvimento
em geral e especialmente a todas as
pessoas vulneráveis que confiaram em
nós”, disse Lawrence numa declaração
da Oxfam.
Na semana passada, o jornal britâni-
co The Times revelou que, em 2010, a
equipe da Oxfam usou dinheiro da ONG
para pagar a prostitutas durante uma
missão no Haiti, após o terremoto que
deixou milhares de mortos e milhões de
vítimas naquele país caribenho.
Foi contado que um grupo de traba-
lhadores humanitários converteu uma
das casas alugadas, a qual o The Times
definiu como um “bordel”.
“Havia garotas com camisolas da
Oxfam que ficavam meio nuas... era
como uma orgia digna de Calígula. Era
uma completa loucura”, disse a fonte.
A Oxfam admitiu a veracidade des-
ses factos, reconhecendo que, já em
O escândalo da Oxfam pode levar o Governo britânico a retirar-lhe os apoios financeiros
2011, tinha realizado uma investiga-
ção interna que resultou na demissão
de quatro pessoas e a renúncia de ou-
tras, incluindo o director da organi-
rector da Oxfam no Tchade à época e
demitiu-se em 2011, depois de reconhe-
◗ «É uma traição cialmente graves” para o trabalho da
Oxfam e para a sua reputação.
zação não-governamental no Haiti, cer que as prostitutas tinham visitado completa Perante a gravidade das acusações e
Roland van Hauwermeiren. No en- a sua moradia no Haiti. das possíveis consequências, a Oxfam
tanto, a organização sustenta que as É uma “traição completa das pessoas das pessoas indicou na sua defesa que, logo que teve
alegações do The Times de que as pros-
titutas eram menores de idade ainda
que estavam lá para ajudar aqueles
que lá vivem e os que foram enviados
que estavam acesso à veracidade das mesmas, ini-
ciou uma investigação interna, da qual
não foram comprovadas. para fazer esse trabalho”, disse o se- lá para ajudar» a comissão de ONGs do Parlamento bri-
Enquanto isso, no final da semana cretário de Estado para Desenvolvi- tânico, a agência de cooperação britâni-
passada, o The Guardian avançou com mento Internacional do Reino Unido, ca (DFID) e outros importantes doadores
novas acusações contra a organização. Penny Mordaunt, à BBC. Haiti e afirma que “não se pode descartar foram informados, tal como a União
De acordo com alguns ex-trabalhado- Da mesma forma, Mordaunt acres- que nenhuma das prostitutas fosse me- Europeia e as agências da ONU.
res da Oxfam no Tchade, em 2006, fun- centou que o seu executivo está a estu- nor”. Como resultado da investigação, “O nosso principal objectivo em todos
cionários da organização também con- dar se a Oxfam deve continuar a rece- a ONG demitiu quatro trabalhadores, os momentos era investigar a fundo e
trataram profissionais do sexo para as ber financiamento do Governo britâ- enquanto outros três renunciaram. agir contra os envolvidos, bem como di-
instalações das ONGs. nico, uma ajuda que no ano fiscal an- Um deles foi exactamente o supraci- vulgar publicamente, incluindo a co-
“Eles convidaram mulheres para fes- terior totalizou cerca de 44 milhões de tado Van Hauwermeiren, a quem, de municação social, tanto a investigação
tas. Sabíamos que eles não eram ape- dólares. acordo com o mesmo jornal, a então di- como as medidas que tomámos em
nas amigos, mas algo mais”, disse um O relatório intern resultante da investi- rectora executiva da ONG, Barbara função do resultado”, disse a organiza-
dos ex-trabalhadores da organização gação de 2011, ao qual o The Times teve Stocking, terá oferecido uma “saída ção humanitária, que publicou comu-
no país africano. acesso, fala de uma “cultura da impuni- suave e digna”, uma vez que a sua de- nicados de imprensa separados sobre o
Roland van Hauwermeiren era o di- dade” entre parte do pessoal destacado no missão teria tido “implicações poten- início e o final da investigação.

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Breves
MUNDO
■ D.R. ■ D.R.

Nova «Trumpice»
Advogado
Macron ameaça
de Trump bombardear
a Síria
paga a actriz O Presidente francês

pornográfica ameaçou esta semana


“bombardear” a Síria caso
surjam provas concretas
Um dos advogados de Donald Trump de que o Governo de Bashar
confirmou esta quarta-feira que pa- al-Assad está a usar armas
gou do seu bolso 130 mil dólares a uma químicas contra civis. “Vamos
actriz pornográfica que manteve em atacar o local de onde estes
2006 um encontro sexual com o então ataques são lançados ou onde
magnata norte-americano, noticiou o são organizados”, prometeu
The New York Times. Emmanuel Macron aos
Num comunicado enviado ao jornal, jornalistas, garantindo que,
Centenas de menores presos em Israel Merkel e Schultz em maus lençóis
o advogado Michael D. Cohen assegura para já, os serviços
que não foi reembolsado por Trump de informação franceses
pelo valor pago a Stephanie Clifford, co- ainda não encontraram
Repressão nhecida na indústria da pornografia Na Alemanha provas de que as forças
por Stormy Daniels. de Assad tenham usado este
Israel O pagamento era legal, afirma Co-
hen, que não especificou os motivos da
Líder do SPD tipo de armamento proibido.

persegue entrega do dinheiro, de acordo com o


diário nova-iorquino, citado pela
France-Presse.
demite-se Provável erro
menores As declarações do advogado surgem
depois de alegações de que o actual
após acordo humano na queda
de avião russo
palestinos Presidente dos Estados Unidos terá pa-
gado a quantia para silenciar a antiga
actriz pornográfica.
com Merkel Um erro humano poderá
ter sido a causa do acidente
Teve início na terça-feira o julga- Stormy Daniels teria dito em conver- Martin Schulz anunciou na noite de com o avião que se
mento de uma jovem palestina sas privadas que tinha feito sexo com o terça-feira, 13, a sua saída imediata despenhou perto de Moscovo,
acusada de crime contra a seguran- magnata em Julho de 2006, após en- da presidência do Partido Social-De- segundo investigadores,
ça. A Amnistia Internacional (AI) contrá-lo em um torneio de golfe para mocrata (SPD) em crise, mas a sua que indicam a possibilidade
apela à sua libertação e acusa as celebridades no lago Tahoe, em Nevada. substituta designada, Andrea Na- de os pilotos não terem
autoridades israelitas de “tentativa As revelações fizeram o advogado pro- hles, vai enfrentar novas dificulda- ligado o aquecimento
desesperada” de intimidação dos curar Clifford para comprar seu silên- des para lhe suceder devido a uma do equipamento de medição
menores de idade que “desafiam a cio, mas o The Wall Street Journal afir- rebelião interna. de velocidade.
repressão”. ma que não se sabe se o magnata tinha O acordo com os democratas-cris- O aparelho, um Antonov An-
Considerada um ícone da luta conhecimento do pagamento. tãos de Angela Merkel, ainda sujeito -148 das linhas aéreas
palestina, Ahed Tamimi foi detida “Isso são notícias velhas e recicladas, a um referendo por parte dos sociais- Saratovskie Avialinii,
por ter esbofeteado um soldado is- que já foram intensamente publicadas e -democratas, está a ser recusado de despenhou-se no domingo
raelita numa acção repressiva das negadas antes das eleições”, disse ao forma veemente pela juventude do passado nos arredores
autoridades de Israel. jornal um porta-voz da Casa Branca, ne- partido, historicamente mais à es- de Moscovo, o que provocou a
Com apenas 17 anos, feitos em 31 de gando-se a responder sobre o suposto querda que a sua direcção. A própria morte das 71 pessoas a bordo.
Janeiro passado, Ahed é já um sím- acordo com a actriz de cinema porno. chanceler também está sob fogo cru-
bolo da luta do seu povo e a sua famí- Já o advogado enviou ao jornal um e- zado do seu partido, a CDU (União De-
lia luta, há anos, contra os colonatos -mail assinado por Stormy Daniels, mocrata-Cristã), pelas pastas gover-
na Cisjordânia. negando que ela tenha tido relações namentais que concordou atribuir ao Novo ano lunar
Ahed Tamimi é acusada de 12 cri- sexuais com Trump. “Os rumores de SPD, entre as quais o Ministério dos comemorado
mes, entre os quais arremesso de que eu recebi dinheiro de Donald Negócios Estrangeiros. na China
pedras e agressão agravada. Por es- Trump são completamente falsos”, Na semana passada, Martin
tas acusações, a jovem pode ser acrescentou a actriz. Schulz já tinha anunciado a inten- Segundo o calendário chinês,
condenada a entre 12 e 14 anos de ção de renunciar ao cargo. Pretendia que se baseia nos ciclos
prisão. Igualmente presa está a sua ■ D.R. então transferir a liderança do parti- da lua, o ano novo começa
mãe, Nariman Tamimi. No dia em do para Andrea Nahles, actual presi- a 16 de Fevereiro, sob o signo
que Ahed foi presa, um primo seu, dente do grupo parlamentar do SPD, do Cão, um dos 12 animais
Mohammed, foi atingido com um com o objectivo de se tornar ministro do zodíaco da China.
tiro na cabeça. dos Negócios Estrangeiros do futuro Em todas as comunidades
Actualmente há mais de 350 crian- Governo de Angela Merkel. chinesas espalhadas pelo
ças palestinas menores de idade pre- Após pressões internas, Martin mundo, os edifícios estão
sas por resistirem à ocupação israeli- Schulz renunciou ao posto de chefe engalanados com lanternas
ta, segundo a organização de direitos da diplomacia, sendo acusado der vermelhas, enquanto nas ruas
humanos israelita B’Teselem. pensar em demasia na sua carreira se lançam petardos e fogo-
Segundo a AI, o exército israelita pessoal e por incumprimento de -de-artifício para “afugentar
leva todos os anos a tribunais mili- uma promessa. os maus espíritos”. Centenas
tares centenas de meninos e meni- No final de 2017, e após uma pesa- de milhões de chineses
nas palestinos, depois de os sub- da derrota do partido nas eleições regressam por esta altura
meter a maus-tratos e ameaças e legislativas, Schulz afirmou que ja- às suas terras natais, na maior
de os interrogar sem a presença de mais integraria um Governo dirigi- migração humana do mundo.
advogados ou familiares. do pela chanceler conservadora. A As autoridades montaram
A petição Free Ahed Tamimi da sua pretensão em tornar-se no fu- um dispositivo de 900 mil
Avaaz.org, uma rede para mobiliza- turo chefe da diplomacia também pessoas, o que dá uma média
ção social global através da Inter- foi mal recebida pelo actual deten- de 1 efectivo por cada
net , já foi subscrita por mais de 1,7 tor do cargo, Sigmar Gabriel, outro 20 habitantes em Beijing.
Actriz porno paga pelo advogado de Trump
milhões de pessoas. dirigente do SPD.

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Mutamba ACTUALIDADE ■ D.R.

Amélia Dalomba é ambientalista, poetisa, escritora, artista plástica, compositora, intérprete e declamadora

LANÇAMENTO

Antologia de Amélia
Dalomba é lançada a 22
Na antologia, que vai agora ser lançada, Amélia Dalomba reúne poesia publicada entre 1995 e 2005,
dividida em sete capítulos. Cada capítulo corresponde a uma obra publicada, ao longo daquele
período, numa sequência cronológica decrescente. Chuva, publicado em 2005. Espigas de Sahel,
publicado em 2004. Sacrossanto Refúgio, publicado em 1996. Ânsia, publicado em 1995.
◗ NOVO JORNAL/I.C.

O acto de lançamento terá lugar no pró- Francisco Soares, que prefaciou a


ximo dia 22 de Fevereiro, quarta-feira, obra que agora vai ser publicada,
em Luanda, no Instituto Camões/Cen- afirma: “Amélia Dalomba tem des-
tro Cultural Português, Avenida de envolvido uma vocação poética úni-
Portugal. ca no panorama literário da sua ge-
Senhor Há Poetas no Telhado, publi- ração e, mesmo, no panorama literá-
cado em 2015, Sinal de Mãe nas Estre- rio angolano.
las (2008), Aos Teus Pés Quando Baloi- O percurso não é linear (uma pro-
ça o Vento (2006), Noites Ditas à Chu- gressão em linha recta), nem esférico
va (2005), Espigas de Sahel (2004), Sa- (ou repetitivo, obsessivo), mas elípti-
crossanto Refúgio (1996) e Ânsia (995) co (evoluindo sem perder identidade).
são os livros a partir dos quais a co- A figura da elipse dá bem conta de
nhecida e prestigiada poetisa orga- um caminho em espiral que tanto se
nizou esta antologia. nota, na evolução de livro para livro,

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■ D.R.

quanto na estrutura de muitos dos Cinema


poemas de cada obra.
De maneira que os temas, tópicos,
motivos vão sendo retomados mas,
de cada vez que repega num deles o
A cerimónia
seu perfil muda, o tema se relaciona
com os tópicos e motivos actuais,
construindo um assunto novo, ou re-
de entrega de Óscares
convertendo, pela vivência presente,
um assunto mais antigo”. já está a caminho
[…] “De um para outro livro, inten-
sificou-se a contenção, a densidade e No próximo dia 4 de Março, numa No ano passado, Moonlight venceu
a sugestão, para além de ter apurado gala realizada como é habitual em o Óscar de Melhor Filme, numa ceri-
o sentido de beleza. Os poemas agra- Hollywood, serão atribuídos os Ósca- mónia em que La La Land conquistou
dam pela magia, pela metaforização, res aos melhores filmes do ano de seis estatuetas, incluindo Melhor
que surpreende e apraz. 2017. Da lista de candidatos às várias Realizador e Melhor Actriz.
Ao mesmo tempo vinculam-se a categorias constam nomes já conhe- Moonlight, contracenado por Ma-
uma linha crítica incisiva, onde o fe- cidos na indústria cinematográfica hershala Ali e Naomie Harris, conta a
minino se afirma cada vez mais e à mistura com nomes mais recentes história de um jovem afro-americano
onde a ironia se apura, sem se alhear e ainda não “estabelecidos” nos que luta para encontrar o seu lugar à
Música ao vivo no Hotel Diamante
do presente nem da veemência. Con- meandros do cinema mundial. medida que cresce em Miami.
tinua também a provocar a sensação O filme A Forma da Água (The shape of Moonlight acabou por ser anunciado
de naturalidade com que vive e sofre water) lidera as nomeações, estando no- como vencedor do maior prémio da noi-
a sua África e a sua Cabinda, mas meado em 13 categorias, incluindo as de te depois de uma confusão gerada na Concertos
também a humanidade. melhor filme, melhor realização, me- cerimónia, na sequência de La La Land
lhor actriz e melhor actriz secundária.
Em destaque estão ainda os filmes
ter sido erradamente anunciado como
o Melhor Filme e a equipa da produção
Hoje
◗ «Amélia Dalomba Three Billboards Outside Ebbing, Mis- ter chegado a entrar em palco.

tem desenvolvido
souri (Três Cartazes à Beira da Estra-
da), The Darkest Hour (A Hora Mais Ne-
O actor Casey Affleck foi distinguido
com o Óscar de melhor actor principal,
e amanhã
uma vocação
gra), Dunkirk, The Post e Lady Bird. O
inesperado foi a escolha do filme de
pela interpretação em Manchester by the
sea, enquanto na categoria feminina foi no Hotel
poética única» terror Get Out, com nomeações para premiada Emma Stone, por La La Land.
Melhor Filme, Melhor Realizador e
Melhor Actor Principal.
Casey Affleck agradeceu aos res-
tantes nomeados, em particular a Diamante
A sua visão abre-se igualmente a Os principais candidatos são: Melhor Denzel Washington (nomeado por
paisagens externas e é muito signifi- Actriz, Sally Hawkins (The Shape of Wa- Vedações, que também realizava) e O Centro Cultural Brasil-Angola,
cativa a imagem que nos dá de Ma- ter), Frances McDormand (Three Bill- sublinhou desejar “ter algo maior e em colaboração com a empresa
drid e do Prado. A enciclopédia cultu- boards Outside Ebbing, Missouri) Mar- mais significativo para dizer”. Aurora Boreal, apresenta esta sex-
ral e poética está globalizada sem got Robbie (I, Tonya), Saoirse Ronan Por seu lado, o Óscar para Emma ta-feira, 16, e sábado, 17, pelas
perda de autenticidade, nem do (Lady Bird), Meryl Streep (The Post). Me- Stone foi o sexto para La La Land, filme 19h30, dois concertos de piano e
amor encantado feminino (materno lhor Actor, Timothée Chalamet (Call Me nomeado para 14 categorias. canto, denominados Clássicos do
até) que pulsa nesses versos”. by Your Name Daniel), Day-Lewis (Linha Brasil e Além-Mar.
Amélia Dalomba, nascida em Ca- Fantasma), Daniel Kaluuya (Get Out), O pianista é Alexei Shakitko e a
binda em Novembro de 1961, é am-
bientalista, poetisa, escritora, artis-
Gary Oldman (Darkest Hour) e Denzel
Washington (Roman J. Israel, Esq.).
◗ O inesperado foi soprano Marília Alberto, tendo
participação especial da Orquestra
ta plástica, compositora, intérprete e Quanto aos realizadores, as prefe- a escolha do filme Camerata de Luanda.
declamadora. rências foram para Christopher Nolan Além de repertório brasileiro, o
Tem formação em Economia Polí- (Dunkirk), Jordan Peele (Get Out), Greta de terror Get Out programa vai ser ainda preenchi-
tica, Jornalismo, Psicologia, Gestão
de Empresas, Ambiente e Desenvol-
Gerwig (Lady Bird), Paul Thomas An-
derson (Linha Fantasma) e Guillermo
com nomeação do com compositores da França,
República Checa e Argentina.
vimento. del Toro (A Forma da Água). para Melhor Filme Alexei Shakitko começou a traba-
Activista política, foi locutora, re- lhar na Ópera de Kirov, em São Pe-
dactora e repórter do então Emissor ■ D.R. tersburgo, em 1998, tendo feito de-
Regional de Cabinda, bem como do pois digressões pela Europa, Ásia e
jornal A Célula, em Luanda, além de África. Esteve em Angola pela pri-
colaboradora da Rádio Romântica. meira vez em 2004, a convite do
Integra, entre outras, as seguintes governo e regressou em 2012 para
instituições: Liga Africana; Associa- trabalhar em Luanda.
ção de Amizade Angola-Cabo-Verde; Marília Alberto é uma soprano
União dos Escritores Angolanos; angolana que começou a cantar
União Nacional dos Artistas e Com- aos nove anos no coro da igreja,
positores; Assistente de Direcção da desde então tem participado em
Ueca; União de Estudos Espirituais vários espectáculos no país.
Cristãos de Angola; Jopad – Jornalis- Em 2011, Marília começou a sua
tas Pelo Ambiente e Desenvolvimen- formação em Canto Lírico em Hava-
to; Movimento Poetas Del mundo” na, mas há três anos destacou-se
(Chile); Miradas de Artistas Plásticas após realizar o seu primeiro concer-
(Equador); Academia Estudantil de to lírico em Luanda. No ano seguin-
Arte Contemporânea (AEAC) Rio de te gravou o seu primeiro álbum, A
Janeiro. Música em Mim.
Social e culturalmente muito acti- Os bilhetes estão à venda aos pre-
va, Amélia Dalomba tem igualmente ços de 8.000 kwanzas para o público
um percurso de intensa actividade em geral e de 2.000 kwanzas para
cultural, nomeadamente na interac- estudantes, que deverão apresentar
ção com as mais novas gerações e o respectivo comprovativo.
também como, na sua forma de ser As reservas podem ser efectua-
estar, consegue com relativa facili- das no Hotel Diamante e os locais
dade criar consensos à sua volta, de venda online são ingressoprati-
bem ao contrário do que, infelizmen- co.co.ao ou auroraborealfesti-
A cerimónia de entrega dos Óscares tem lugar na madrugada do próximo dia 4 de Março
te, é comum no nosso meio cultural. val@gmail.com.

SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018 | 39 |


Mutamba
CRÓNICA

Crónica de viagem

A riqueza
da água
versus
pobreza
da população
Numa linguagem rica, entroncada entre
a descrição de uma viagem e o sabor de uma
crónica, Sandra Poulson transporta-nos para
um sítio conhecido por poucos. Dos muitos que
o país tem e dos quais quase ninguém tira
proveito, enquanto se mantiver a mentalidade
de que Angola é Luanda.
◗ SANDRA POULSON (textos)
◗ FOTOS (cedidas)

Vista parcial das Termas

No fim do ano 2017 saímos do poente do


Atlântico para o poente da Serra do En-
vai se apresentando em quedas mais
pequenas pela nossa direita.
◗ Aqui o clima é Agosto de 1918 quando da inauguração
de um importante estabelecimento
gelo, Kumbi Ya. Na Floresta da Kumbi- Depois da obrigatoriedade de parar nas outro, mais fresco, comercial.
ra, lá onde o sol se põe. E onde a riqueza Cachoeiras do Binga para usufruir do Vive-se da agricultura de subsistên-
das águas salgadas do mar, doces dos maravilhoso espectáculo das quedas de mais húmido, mais cia. Não há meios de escoamento do
rios e sulfurosas e quentes das Termas água, da praia e dos petizes a pescarem excedente da produção agrícola. Os
não são benefício para quem lá vive. com redes de mosquiteiros, paramos an- população na poucos fazendeiros que ali existem
Passamos as lombas da Barra do Kwan-
za, os desvios da restauração da Estrada
tes da Ponte Nova para caminhar um
pouco pela Ponte Velha, monumento ar-
estrada não conseguem absorver a mão-de-
-obra carente de trabalho.
Nacional número 100, de Luanda - Porto quitectónico que nos recorda o colonia- Os jovens de ambos os sexos, e os ho-
Amboim. Viramos à esquerda nos Petró- lismo, exibindo ainda do lado direito mo Sétima Ponte, para desfrutar do Mo- mens com capacidade de trabalho, vão es-
leos, combatendo com o piso minado de uma placa em bronze com as cinco qui- numento Nacional, as 6 Pontes, com a corregando paulatinamente do município
crateras, por deterioração do asfalto, em nas do escudo português, que simboli- sua exuberante arquitectura com 6 arcos para a Vila da Conda, desta para a cidade de
vários troços. Rolamos a passo de cágado zam os cinco reis mouros derrotados por romanos que deixam a água fazer re- Porto Amboim, que serve de trampolim
nos tabuleiros das pontes, já sem lancis Afonso Henriques na Batalha de Ourique. moinho, o Rio Keve serpentear e, nós para a grande metrópole, Luanda.
laterais. No princípio e no fim dos tabu- Sempre a subir, serpenteando conti- deslumbrarmo-nos com tal espectáculo. Os municípios têm essencialmente
leiros destas, os buracos cada vez maio- nuamos. Já a meio da serra, viramos para No fim dos anos 90 do século passado, mulheres mais velhas com agregados
res, penso eu devido às juntas de dilata- a direita, para a Estrada Nacional 110, em ainda se transitava pelas Seis Pontes, que familiares grandes, de menores, filhos
ção acompanhadas de abatimento do ter- direcção à Vila da Conda e à Vila do Seles, a guerra acabou destruindo. Tem esta delas, sobrinhos, enteados, irmãos, ne-
reno em que as pontes assentam, estarem em detrimento da Estrada Nacional 240 ponte como pano de fundo a Cordilheira tos, e alguns homens já com pouca
a ceder por falta de manutenção. que nos levaria à Gabela e à Quibala. do Engelo. Sou da opinião que tanto esta energia para o trabalho. A população de
Serpenteamos serra acima pelas Aqui o clima é outro, mais fresco, como tantas outras deviam ser restaura- crianças de tenra idade é um mar.
mais de 100 curvas e contracurvas, es- mais húmido, mais população na estra- das para Monumentos Nacionais, e de Estas terras altas do Amboim, onde o
quivamos de precipícios e de zonas pe- da. Estávamos a 24 Km da Vila da Conda fácil acesso para os turistas. deslizar das águas da floresta tropical hú-
rigosas sem sinalização devida, como e a 63 Da Vila do Seles (Úku), e o aroma O mau estado das estradas, não conse- mida transporta o aroma do café arábica e
se fôssemos cobras. da natureza também mudou. O vento gue fazer parar os cheiros da natureza no do robusta do Amboim para o Rio Keve, Ca-
O rei aqui é o rio Keve na sua impo- traz-nos uma acidez velada de kaxi- seu estado virgem. Nem a poeira das choeiras do Binga, para cascatas e ria-
nência, que primeiro se apresenta à pembe de banana dondi, que transpira ruas principais de algumas vilas e ci- chos, são o ex-líbris da Província do Kwan-
esquerda nas Cachoeiras do Binga, dos alambiques das Fábricas Artesanais dades da Província do Kwanza–Sul, za–Sul e, para além de nos cuidarem da
que nesta altura do ano já estão com ao pé do bananal verde e húmido. consegue limitar os sabores do mato. mente tratam-nos também do corpo.
água turva acastanhada vinda das A seguir à Povoação do Sumbi, fizemos Depois de muitas curvas chegamos à O nosso corpo é constituído essencial-
chuvas do Planalto, e posteriormente paragem obrigatória naquela a que cha- centenária Vila da Conda, fundada em mente por água e esta cura-nos muitas

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Octogenário
Angolense
DARIO DE MELO ■ ASSINATURA FOTOGRAFIA

D. António
D
. António é uma figura
estranha na história
de Angola. Governador
do Moxico, a ele se deverá
a mudança do Moxico Velho, para
o Moxico actual, mais próximo
da linha dos Caminhos de Ferro
que então se construía.
Duas coisas caracterizavam
o Dom António: era Dom, embora
fosse republicano e vivia com uma
senhora negra. Deste desiderato,
dizem as más línguas duas coisas:
que a mandara à Missão para ser
baptizada como: Branca, Clara
das Neves, Leite Cal e Alvura;
Aviso público aos banhistas
Que o Dom, que utilizava como
se fosse nobre, provinha de um
nome de que ele não gostava,
por isso, em vez de escrever

■ D.R.

Anúncio do Centro Histórico

mazelas. Na Província do Kwanza–Sul, Tokota vive um dragão e que é por vezes formam um semicírculo e ao romperem
na Kumbira de cima na zona da Igreja visto a saltar em meia lua deste Morro o vento transmitem um som estridente.
Sagrada Família que pertence à Paró- para outro; e acrescenta que nunca acre- Ao pé dos tanques onde a água jorra
quia de Santo António, portanto sede da ditou nem desacreditou. A verdade é que, existem duas placas do Governo Provin-
Vila da Conda, tivemos o privilégio de um certo dia, no princípio de uma noite cial proibindo usar detergentes e lavar
conviver com dezenas de crianças escura, ele e a esposa estavam no curral roupa no tanque, afastando aproxima- Assim se terá
numa acção de Solidariedade Social da a observar uma porca, e vêm saltar da damente 10 metros a lavagem de roupa
DAR, no dia 31 de Dezembro de 2017. Pedra do Tokota algo parecido com uma da população, mas numa zona que po-
nobiliarquizado
Era um mar de pequenas ondas de cobra, com vários metros de compri- deria também ser usada para banhos
tenra idade, de cabelo, palmas das mento, com aproximadamente 50 centí- termais. O acesso ao tanque é difícil e a Duarte, escrevia tão somente
mãos e pés vermelhos, e de pequenas metros de largura, voando em velocida- estrada é íngreme e muito precária. a abreviatura — Dê com ponto.
feridas de sarna, que mais pareciam de recorde da dita Pedra do Dragão para Assim se terá nobiliarquizado.
peças enferrujadas. outra, ou melhor de um monte para ou- Mas a acolhedora Tenho procurado referências
A mais ou menos 20 quilómetros deste tro, deixando um rasto azul no céu e um Vila da Conda tem mais do seu passado. A História não
local estão situadas as águas quentes ou zumbi ensurdecedor de cobra, que os as- O Complexo de Piscinas da Conda, já a se refere a ele, os amigos, sim.
Termas do Tokota, cuspidas em jacto de sustou e os fez recolher. Diz o fazendeiro caminho da Kumbira 2, também é de Contava o meu cunhado
um Morro que no tempo colonial se cha- que, segundo o povo, no tempo colonial, águas quentes e termais menos quentes Fernando que quando aos
mava Carcaça e com os ventos da Dipan- quando estavam na colheita do café, que o Tokota, mas também sulfurosas. dezassete anos partiu para Lisboa
da passou a chamar-se Dragão. As águas usavam capacete por causa da cobra Fora do espaço vedado, mas ainda no estudar, (1948) D. António que
são muito quentes, acima de 40 graus voadora, o “dito dragão”. corredor das águas, é uma lavandaria estava no Lobito, fora-lhe dar um
centígrados e caiem para um tanque, es- Segundo Nguedalo, tratam-se de es- pública em Céu aberto. abraço dizendo: Vai, mas nunca
tando um outro inoperante. Segundo trelas cadentes que, na sua deslocação Concluindo, temos centenas de pes- te esqueças que és angolano.
Nguedalo, pessoa local, foram estes soas com infecções de pele nomeada- Não sei o que ele quereria dizer
mandados erguer por uma benfeitora, mente sarna, alguns vivem a mais ou com isto, o certo é que ele,
onde nos anos sessenta do século passa-
do vinham a banhos pessoas com doen-
◗ Temos centenas menos 20 quilómetros, os da Kumbira
2, outros bem mais perto das águas
o Fernando, nunca se esqueceu —
viveu como angolano, morreu
ças de pele e caravanas de leprosos, pois de pessoas com que curam as infecções da pele, mas como angolano, com a mulher
este água é sulfurosa e, segundo nos foi cujo rendimento é tão diminuto que e a irmã, devidamente fuzilados
dito, cura infecções de pele. infecções de pele, não permite as deslocações, para numa guerra angolana. O David
Conversando com um fazendeiro ins-
talado na zona, diz-nos ele que sempre
nomeadamente além de que temos populações com
hábitos de lavar roupa no rio, mesmo
partiu logo a seguir. Fez há dias
vinte e cinco anos. ■
ouviu da boca do povo que no Morro do sarna tendo acesso ao chafariz.

SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018 | 41 |


Agenda
Cultural

CONCERTO LUNDONGO NO LWANDU

Ndaka Yo Wiñi apresenta-se


EVENTOS na Casa das Artes «Praça Nova» Exposiçao
individual de Luzinga
Workshop «Como Melhorar A Galeria Tamar Golan apresenta
a Imagem Profissional» no dia 2 de Fevereiro, pelas 18h00,
No dia 24 de Fevereiro a THS a mais recente exposição de Luzinga,
realiza o workshop Como Melhorar Praça Nova.
a Imagem Profissional, das 08h00 A exposição ficará patente
às 12h00. Inscrições abertas até ao público na galeria de arte
ao dia 22 de Fevereiro. contemporânea da Fundação Arte
e Cultura até ao dia 19 de Fevereiro.
Luanda Fashionable 2018
A edição do evento Luanda AVENNIDA CINEMAS
Fashionable 2018 será dedicada
aos make-up artists The Commuter: O Passageiro
e está marcada para o dia 24 13h00; 16h00; 18h50; 21h10; 23h40
de Fevereiro, a partir das 19h00
no Hotel Skyna, em Luanda. As Cinquentas Sombras Livres
12h40; 16h00; 17h20; 19h40; 22h00; 00h20
■ QUINTILIANO DOS SANTOS.
ITGest forma em Higiene
e Segurança no Trabalho O músico Ndaka Yo Wiñi vai cantar este sábado, 17 de Fevereiro, na Casa Covil dos Ladrões
O Centro de Formação ITGest das Artes em Luanda, num concerto denominado Lundongo No Lwandu — 12h30; 15h35; 18h25; 21h20; 00h10
apresenta a formação em Higiene Ritmo Ancestral do Berço.
e Segurança no Trabalho, a decorrer A actuação está enquadrada na fase de pré-lançamento da primeira obra 15:17 Destino Paris
hoje. A formação tem uma discográfica Olukwembo, produzida pela Kissanji Produções. Os ingressos 13h10; 16h10; 19h00; 21h30; 23h50
carga horária de 18 horas e decorre para o concerto estão a ser comercializados no valor de seis mil kwanzas
das 14h00 às 18h30. Os valores e podem ser reservado através dos terminais 996 660 065 | 922 241 760 | 930 Pantera Negra 3D
por formando variam 355 057 | 935 782 011. 12h45; 15h35; 18h30; 21h15; 00h15
entre os 240.000 kwanzas.

TEATRO LANÇAMENTOS ESPECTÁCULOS


«Curso de Casais» Tuneza: 15 Anos de história em livro Concerto de Ndala Yo Wiñi Pantera Negra 3D
Será apresentada no dia 25 O grupo de humor Os Tuneza lança No dia 17 de Fevereiro pelas 21h00, O filme da Marvel Studios Pantera
de Fevereiro a peça teatral Curso em Março deste ano o livro biográfico a Casa das Artes recebe Ndala Yo Wiñi Negra conta a história de T’Challa,
de Casais, do grupo Ima losso, que narra os 15 anos de história comum. para um grande concerto que depois da morte do seu pai,
na LAASP, às 20h00. com participações o Rei de Wakanda, volta a casa,
Lançamento da obra «Antologia» de Anabela Aya e Dodó Miranda. à nação africana isolada
«Quando a minha mãe vier» No dia 22 de Fevereiro de 2018, pelas Ingressos a 6000 kwanzas. e tecnologicamente avançada,
Está em cartaz no salão de festa 18h30, no Camões/Centro Cultural para subir ao trono e assumir
Ol (Cazenga) a peça teatral Quando Português, será lançada a obra «Graças e Musas do Brasil» o seu lugar como rei.
a minha mãe vier, do grupo Twavala, de poesia “Antologia” da autoria O centro Cultural Brasil-Angola recebe, Mas, quando um antigo e poderoso
às 19h30. Ingressos a 500 kwanzas. de Amélia Dalomba. nos dias 16 e 17 de Fevereiro, o concerto inimigo reaparece, a força
Graças e Musas do Brasil, das 19h30 de T’Challa como rei e Pantera
às 21h30. Ingressos a 8000 Kz para o Negra é testada, quando é atraído
público geral e 2000 kwanzas para para um conflito que coloca
MÚSICA estudantes. o destino de Wakanda e do mundo
em risco. Diante da traição e do
Vladimiro Gonga canta ao vivo no Camões Vladmiro Gonga: extra perigo, o jovem rei deve reunir os
acústico voz e violão seus aliados e libertar o poder total
O Centro Camões em Luanda acolhe, da Pantera Negra para derrotar
no próximo dia 24 de Fevereiro, os seus inimigos e garantir
pelas 19h00, um concerto a segurança do seu povo.
de Vladmiro Gonga. Com participação
especial de Toty Sa’Med,
Amosi Label e Isaú Fortunato.
Bilhetes à venda ao preço
de 3000 kwanzas.

EXPOSIÇÕES

Exposição de Célio Pombo


«Rostos» O Camões/Centro Cultural
Português inaugurou no dia 1
de Fevereiro a exposição individual
de pintura Rostos, do artista plástico
Célio Pombo. A exposição ficará
patente ao público até ao dia 22
de Fevereiro.
■ D.R.

Vladmiro Gonga apresenta um concerto extra-acústico no dia 24 de «Sentidos» da artista plástica


Fevereiro, pelas 19h00, no Camões/Centro Cultural Português, com a Eva Liberal
participação especial de Toty Sa’Med, Amosi Label e Isaú Fortunato. Dia 6 de Fevereiro às 18h30,
Com voz, violão, contrabaixo e percussão, Gonga vai interpretar temas do no Centro Cultural Português, será
seu primeiro trabalho discográfico, Massemba Jazz, bem como alguns como inaugurada a exposição individual
da música popular angolana. Oferecerá ainda ao público alguns temas Sentidos da artista plástica Eva Liberal,
inéditos, que vão integrar o seu próximo álbum. que ficará patente
ao público até ao dia 22 de Fevereiro.

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◆ PUBLICIDADE

Mutamba
OPINIÃO

Mambos
da Nguimbi
CARLOS RENATO ■(DE KAMBAMBE)
ASSINATURA FOTOGRAFIA

Vou cair na noite!


“ Hoje vou apanhar uma torra, vou fazer a minha desforra vou patar numa festa
qualquer, desbundar até amanhecer… a semana toda bumbei… hoje ninguém
me apanha em casa…” — Eduardo Paim

S
exta-feira chegou (dia do homem ou da mulher solteira?), mais uma
semana cansativa, vou aproveitar para relaxar, tirar o stresse e me
divertir um coxe, txilar, cair na noite, fazer uma directa! Ainda não sei
aonde, nem com quem, não há kumbu. Não gosto de bandas em que barram
à toa os clientes à entrada sem explicação plausível, mesmo estando bem
apresentados e tendo dinheiro para o consumo. Esquecem-se que do bolso dos
clientes sai o kumbu que os sustentam! Gosto de lugares em que me sinta bem
logo a entrar, música, ambiente, pitéu e gente fixe que goste de bailar e não
se “ache” de bué, como se fosse a última bolacha do pacote, tanto que mesmo
querendo dançar prefere dar não sem saber porquê, e dia seguinte reclama
que nem dançou sequer um som… mas fez colecção de NÃO! Wis respeitosos,
que não entornem bebida de propósito por cima das raparigas, nem as pisem
ou empurrem, dj que conheça boa música, toque para agradar e não deixe
todos a mercê da tortura dos seus ruidosos desgostos musicais! Se houver
música ao vivo, melhor ainda, me lembro de quando íamos sentir o som dos
the kings, na Vila Alice, com os acordes do Toty e as cordas da Selda de cá!
Quando a sede vem, não me atrevo a pedir sumo natural, custa os olhos
da cara, é mais barato comprar um balde de fruta sem cabetula, do que
comprar um copo de 330 ml de sumo natural aguado… é “muita doré”! Quem
não deve sentir dor são os que vivem na área vip, com ngalas de old scotch ou
champagne, assumindo as rodadas que podem custar o salário de quem serve.
Mas nem todos têm o kumbu que dão jajão nos grifes de último grito, que nem
modelos publicitários, para impressionar as garinas que tentam dicar.
Brilham mais do que luboia, mesmo de noite as mauanas escuras não faltam!
Alguns até giram com o comprovativo de compra ainda a baloiçar na roupa,

A maka rija surge ao sair


da noite, após um bom
copo e querer conduzir

pongue/sweg bué “wek”… gastam bem, mas na hora de bazarem estão a se


ver de azar, tal qual no dia seguinte quando as contas lá no tucho da casa
dos pais com quem vivem, chegam e aí começam a dizer que têm inveja dele,
tudo para fugir da responsabilidade das despesas!
A maka rija surge ao sair da noite, após um bom copo e querer conduzir.
Há sempre um teimoso que nem o 4 consegue fazer, mas insiste em conduzir
quilómetros até casa. Se for parado numa operação stop com bafómetro, fica
logo detido a contas com a justiça. Mas nem sempre a “sorte” de ir kuzu sorri
para o condutor embriagado, tanto que muitas vezes causa desgraça na vida
de muita boa gente, ao acidentar com a viatura… por isso alguns preferem
sair com quem não beba e que conduza ou chama um táxi.
De manhã surge a pelenguenha com uma dor de cabeça a amargar mais
uma noitada de quem lastomou bem, encheu a cara até empapuçar a chamar
Diogo (sem ser do marisco) tantas vezes como se fosse uma prece libertadora
obrigatória da drena ou da má vida cujo limite furou o chão e ancorou o fígado
de competição! Só um bom cardete de peixe, farofa, mandioca, banana pão,
jindungo e batata-doce ajuda a curar, mais uma birra a estalar para curar, mas
não sem antes degustar um gelado de mukua, com kissângua, gengibre e
jipepe. Chamadas e sms de desconhecidos a dizerem que querem bisar a noite,
entopem o fone, do tal mobília da casa, dono da área vip (só não sabem que
ele e os kambas fazem vaquinha para aparecerem sempre com bebidas caras),
entra em todas as casas e nunca é barrado, que nem um mais velho aguado
que desliga com as mangas verdes!
Para não ter de xixilar com esses mambos e ainda ter de me irritar com
a promiscuidade e vícios das drenas de “algumas” bandulas, vou ligar prós
“meus” e saber em que quintal bodaremos, quem casou ou completou idade,
para nos divertirmos em (re) encontros com gente boa e nova, fazendo um
mambo fixe, madrugar com ou sem patos que pulam muro pra dar aquele
toque no meio da roda, enquanto o outro bisna a chipala do ngulo… O baica
tocou, o ringue foi montado na Praia do Bispo “embaixada”, o fumo já anuncia,
há farra no beco. Também há um outro boca livre em Kifas, no quintal por
baixo das mangueiras e goiabeiras, o ambiente a ser preparado para a farra.
Hoje nguendas não faltarão, com boa gente, grandas passadas a varrerem
a poeira acompanhadas de quetas que o tempo não leva, pitéus que cuiam
katé no tutano, drinks a estalarem, e um cantinho para tirar um cochilo
caso alguém se sinta cansado. Hoje é hoje, vou pra nguenda! Katé+ ■

SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018 | 43 |


Desporto FUTEBOL
Números

Classificação
JG GM GS EP DT VT PT
1.º Petro 01 04 00 00 00 01 03
2.º Libolo 01 02 00 00 00 01 03
3.º Sporting 01 02 00 00 00 01 03
4.º Domant FC 01 01 00 00 00 01 03
5.º Caála 01 01 00 00 00 01 03
6.º B. Maquis 01 01 01 01 00 00 01
7.º Interclube 01 01 01 01 00 00 01
8.º D. Huíla 01 01 01 01 00 00 01
9.º JGM 01 01 01 01 00 00 01
10.º 1.º de Agosto 00 00 00 00 00 00 00
11.º Progresso S 00 00 00 00 00 00 00
12.º Kabuscorp 01 00 01 00 01 00 00
13.º Sagrada 01 00 01 00 01 00 00
14.º 1.º de Maio 01 00 02 00 01 00 00
15.º Académica 01 00 02 00 01 00 00
16.º KK FC 01 00 04 00 01 00 00

1.ª Jornada
1.º de Agosto - Progresso S
Sporting 2-0 Académica
Petro 4-0 KK FC
Libolo 2-0 1.º Maio
Caála 1-0 Kabuscorp
D. Huíla 1-1 Interclube
Domant FC 1-0 Sagrada
JGM 1-1 B. Maquis

Próxima Jornada
1.º de Maio — 1.º de Agosto
Já com o novo emblema, petrolíferos estrearam-se na temporada 2017 no jogo das Afrotaças, à semelhança do arqui-rival 1.º de Agosto
Kabuscorp — Sporting
Sagrada — D. Huíla
Interclube — Caála
Académica — JGM PETRO DE LUANDA COM NOVO EMBLEMA
KK FC — Domant FC
B. Maquis — Libolo

Logomarca coloca
Progresso — Petro

ARTILHARIA
Azulão já lidera
O avançado Tiago Azulão,
melhor artilheiro da edição
anterior do Girabola ZAP,
já lidera a edição 2018
do Campeonato Nacional
adeptos e direcção
em «rota de colisão»
da primeira divisão. Com
apenas uma jornada
disputada, o brasileiro
ao serviço do Petro marcou
dois golos na vitória
dos tricolores frente ao
estreante Kwando Kubango, Um grupo de adeptos Está instalado um ambiente de crispação um processo de recolha de assinaturas.
por 4-0. A segunda posição é entre a grande maioria dos adeptos do Pe- A meta, segundo os organizadores, é
assumida por nove jogadores, lançou uma petição tro de Luanda e a direcção do emblema. atingir as 500 assinaturas e submetê-
com um golo cada. No epicentro da tensão está a nova logo- -las, posteriormente, à direcção de To-
pública nas redes sociais marca aprovada em assembleia que con- más Faria, o presidente do clube.
■ ADJALI PAULO
para pressionar a tou com cerca de 200 sócios. Para evitarem ser confundidos com
O novo logótipo do clube tricolor, uma “arruaceiros”, o grupo de adeptos que
direcção do clube iniciativa tomada a peito pelo sócio encabeça a petição promete, junto com
principal da agremiação, a Sonangol, o documento reivindicativo, apresentar
petrolífera a recuar não foi simpaticamente saudado pelos algumas sugestões de logomarcas à di-
na nova logomarca adeptos. As apatias começaram a evi- recção do emblema do Catetão.
denciar-se ainda na fase de apreciação “Mais do que reivindicar, o nosso objec-
da equipa líder do «Gira». do novo símbolo da equipa, com a gran- tivo é apresentar possíveis soluções. Não
de maioria dos adeptos a preferir pela somos arruaceiros e nunca faríamos
◗ ÁLVARO VICTÓRIA manutenção da anterior identidade. nada que prejudicasse o nosso clube. De-
A rejeição já deu azo à criação de uma fendemos a ‘inclusão’ e iremos até às últi-
Petição Pública contra o logótipo, com mas consequências, dentro dos pressu-

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■ OSMAR EDGAR

Girabola ZAP

Palanquinos «caçam»
pontos diante
do Sporting
As equipas do Kabuscorp do Palanca e be recebe no estádio 22 de Junho, no
do Sporting de Cabinda defrontam-se Rocha Pinto, o Recreativo da Caála e,
hoje, sexta-feira, no estádio dos Co- na Lunda-Norte, o Sagrada defronta o
queiros, para a abertura da segunda Desportivo da Huíla.
jornada do Girabola ZAP, edição 2018. Já no Lobito, a Académica local recebe
Depois da derrota por 1-0, no último o JGM, ao passo que o Kwando Kubango
fim-de-semana, diante do Recreativo FC mede forças com o Domant do Bengo.
da Caála, o Kabuscorp do Palanca rece- De recordar que, devido ao seu en-
Antiga logomarca do Petro de Luanda be os leões de Cabinda, que entraram volvimento nas Afrotaças, as parti-
neste início do campeonato com o pé das entre 1.º de Maio–1.º de Agosto e
direito, mercê de vitória caseira por 2- Petro–Progresso foram adiadas, com
-0 no último fim-de-semana. a data da sua disputa a aguardar in-
As ambições neste confronto esta- dicação pela FAF.
rão divididas por ambas as equipas. De
um lado, teremos um Kabuscorp à
procura dos primeiros pontos da épo-
ca e, do outro, teremos um Sporting a
◗ 1.º de Agosto vai
querer atingir os seis pontos. interpor um
O histórico dos Palanquinos atribui-
-lhes condições de partirem para o en- recurso ao
contro como principais favoritos à
conquista dos três pontos, mas a luta
Tribunal Arbitral
será renhida porque os leões vêm de do Desporto
uma vitória animada.
Neste confronto frente ao Sporting,
o técnico Sérgio Traguil irá fazer al- Militares queixam-se
gumas alterações no 11 da equipa da ao Tribunal Arbitral
rua F do Palanca, com a estreia do ar- Enquanto a FAF se mantém “muda”
gentino Franco Calero e do camaro- sobre o recurso interposto pela direc-
nês Arouna Bissene, contratados este ção do 1.º de Agosto, quanto à suspen-
O novo logótipo da formação petrolífera
ano em substituição de Jacques e são de seis jogadores no Girabola ZAP,
Mongo que se transferiram para o o Campeão Nacional vai interpor um
campeão 1.º de Agosto. recurso ao Tribunal Arbitral do Des-
Apesar de a conquista do título porto (TAD), informou uma fonte do
não constar da agenda para 2018, o clube militar ao NJ.
Recreativo do Libolo começou a Sancionados com castigo máximo
época da melhor maneira. Na aber- de 75 dias, pelo Conselho de Discipli-
postos democráticos existentes”, subli- ceu de um levantamento exaustivo pela tura da prova venceu por 2-0 o 1.º de na da Federação Angolana de futebol,
nham os mentores da petição. equipa de consultores contratada pela Maio de Benguela. Amanhã, sába- pelo facto de os jogadores simularem
‘Só não erra quem não trabalha’ é a Sonangol. “É importante dizer que foi a do, o Libolo vai ao Moxico defrontar lesão, quando os jogadores foram
máxima na qual se apoiam para sen- Sonangol que contratou e que pagou este o Bravos do Maquis. convocados a integrarem o grupo de
tenciarem como “negativo e reprova- trabalho todo de levantamento e que a Nas outras partidas que marcam a trabalho dos Palancas Negras, a
do” o trabalho produzido pelos criado- equipa [de consultores] andou a ouvir vá- segunda jornada do Campeonato Na- quando da sua participação no CHAN
res da nova logomarca da mais titula- rias partes, como sócios e adeptos”, clari- cional da primeira divisão, o Interclu- organizado por Marrocos.
da equipa do futebol angolano. ficou o presidente do Petro de Luanda, no
Entre os vários desabafos, há quem, programa televisivo Desporto Total. ■ ARQUIVO NJ

entre adeptos, tenha já construído uma


posição a tomar neste início de tempo-
rada: “Começámos mal. Não vou com- ◗ «O que é feio
prar materiais desportivos do clube
com este logótipo”. para mim pode
Contactado pelo NJ, o presidente da
claque tricolor demarcou-se da organi-
ser bonito
zação da petição contra a nova logomar- para o outro»
ca, mas não deixou de dar a sua nota
quanto à nova imagem do emblema:
“Não concordamos. O que há muito Referiu que as contestações inserem-
manifestámos é que se mantivesse a -se numa teoria da “percepção”, pelo
antiga logomarca. Mas prevaleceu a que entende que “as teorias de percep-
vontade do sócio principal. Vamos, em ção dependem do lado em que nós esta-
foro próprio, continuar a emitir a nos- mos, porque o que é feio para mim pode
sa opinião. Há muitos que estão aí a fa- ser bonito para o outro”.
lar sobre o assunto quando nem contri- “Não olho para o logótipo enquanto de-
buem com cotas”. senho só, mas olho para aquele logótipo
pelo significado que traz para o clube. O
Preparado com «levantamento logótipo antigo — que nunca foi aprova-
exaustivo» do em assembleia — por exemplo, tem a
Tomás Faria assegura que o processo que cor preta, que não faz parte das cores do
culminou com a entrada em vigor da clube. Aquilo que a nova identidade traz
O jogo Kabuscorp–Sporting será marcado com a estreia de Calero e Arouna
nova logomarca foi democrático e care- está escrito num manual”, afirmou.

SEXTA-FEIRA 16 de Fevereiro 2018 | 45 |


Desporto
ACTUALIDADE

Bancada
■ D.R.
Central
SILVA CANDEMBO
Liga dos Campeões
FC Porto
com o adeus Dividir o mal pelas aldeias
quase
A
ministra da Juventude e Desportos, Ana Paula Sacramento, aventou quarta-
-feira última, 14, a hipótese de o Ministério que dirige ajudar financeiramente

concretizado alguns clubes que na semana passada iniciaram a disputa do “Girabola’2018”.


O propósito dessa possível ajuda é evitar que competidores abandonem a prova no
decurso da temporada, algo que acontece em quase todos os campeonatos por razões
Mais fortes, mais rápidos, muito financeiras, incluindo no período em que a economia nacional cresceu dois dígitos
melhores em tudo. O Liverpool arra- por ano e o país esbanjava em futilidades. Mas a governante já avisou que a possível
sou na noite de quarta-feira, 14, o FC ajuda não será extensiva a clubes que contratam jogadores estrangeiros, justificando
Porto, em pleno Estádio do Dragão, e que se o fazem é porque têm dinheiro. Não deixa de fazer sentido a visão da ministra.
tem praticamente garantida a pas- Na eventualidade de a fatia do Orçamento Geral do Estado destinada ao
sagem para os quartos-de-final da Ministério da Juventude e Desportos (MJD) permitir essa ajuda, a questão que se
liga mais prestigiada do mundo. colocará são os critérios que vão presidir a distribuição do dinheiro. Para já, a
Com a derrota por 5-0, em casa, o ministra estabeleceu dois, designadamente a exclusão de clubes com jogadores
O espectáculo será exibido na Cidadela
Futebol Clube do Porto, a única equi- estrangeiros e a inclusão de emblemas sedeados muito distante de Luanda, onde
pa portuguesa que ainda vive as disputam quase metade do “Girabola” e serve de placa giratória para deslocações às
emoções da Liga dos Campeões, aca- mais distintas províncias do país. A intenção da titular da pasta dos Desportos é
All Star Game ba por ver a sua eliminação quase louvável porque, de certo modo, pretende salvaguardar a verdade desportiva, um
concretizada. valor violentado sempre que uma equipa fica dias sem treinar porque os atletas
Antigas Os portugueses do Porto e os ingle-
ses de Liverpool voltam a defrontar-
estão sem ordenados ou sempre que os dirigentes ameaçam abandonar a prova por
falta de condições financeiras.

estrelas -se para a segunda-mão da mesma


fase no próximo dia 6 de Março, no
estádio de Anfield.
Acontece, porém, que o “Plano Sacramento” é algo ad hoc, é apenas um paliativo, uma
vez que o futebol nacional em particular e o desporto em geral padecem de sérios
problemas estruturais no que diz respeito ao seu financiamento. Suportada quase
juntam-se Ainda na quarta-feira, o Paris
Saint Germain, de Neymar, Mbappé
integralmente pelo Estado, de forma directa ou indirecta, a actividade desportiva
precisa de soluções concretas, de uma legislação que legitime a atribuição de subsídios

à festa e Cavani perdeu por 3-1 diante dos


merengues.
Com o mau momento que os me-
pelos clubes. Doutro modo, o nosso futebol continuará a ser um embuste de todo o
tamanho, visto que as forças em campo não são determinadas pelo savoir-faire dos
dirigentes mas sobretudo pelo aporte financeiro desequilibrado do Estado às
A não vinda das estrelas da NBA, na rengues estão a viver no campeona- agremiações desportivas.
terceira edição do All Star Game, por to nacional, o maior favoritismo era Se não, atentemos: enquanto, por exemplo, o Petro-Atlético de Luanda viaja nos
falta de condições financeiras, a or- atribuído ao PSG, que no dia da exibi- aviões da Sonair sem pagar, além de receber consideráveis somas de dinheiro da maior
ganização do evento que decorre sá- ção deixou muito a desejar. empresa do país, a SONANGOL, o Domante FC do Bengo tem que fazer pela vida,
bado e domingo, no Pavilhão princi- No final do encontro entre o Real utilizando quase exclusivamente recursos próprios. Quem fala dessas duas equipas,
pal da Cidadela desportiva afirmou Madrid e o PSG, Al Khelaifi, presiden- pode também estabelecer um paralelo entre o Interclube e o Sporting de Cabinda ou
que Miguel Lutonda, antiga estrela te do clube francês, culpou a arbitra- entre o 1.º de Agosto e o Progresso do Sambizanga. Ou seja, à partida o campo está
do 1.º de Agosto, e Edmar Baduna, an- gem do italiano Gianluca Rocchi pela inclinado porque uns recebem dos cofres públicos e outros não. Desse modo, não existe
tigo jogador do Petro de Luanda, irão derrota da sua equipa. verdade desportiva.
juntar-se à festa da bola ao cesto. “O resultado não é justo. Penso que Isto pode ajudar a explicar a razão por que os campeões de Angola de futebol (e
Em conferência de imprensa or- jogámos melhor na segunda parte, de outras modalidades também) são formações ligadas a instituições do Estado. O
ganizada pela Refriango e a Federa- tivemos as nossas oportunidades 1.º de Agosto é financiado pelas Forças Armadas, o Interclube, pela Polícia Nacional,
ção Angolana de Basquetebol, na para marcar, mas cometemos erros. o Petro-Atlético de Luanda, pela SONANGOL, o ASA, pela TAAG, o 1.º de Maio de
condição de organizadores, João Os erros do árbitro custaram-nos Benguela, pela África Têxtil e o Sagrada Esperança, pela ENDIAMA. Os casos do
Santos afirmou que foi necessário muito”, desabafou o presidente. Recreativo do Libolo e do Kabuscorp do Palanca configuram apoio indirecto em
incluir o nome de Lutonda e Baduna Na terça-feira, o Manchester City razão de os seus “proprietários” serem favorecidos em negócios de monta com o
na equipa das lendas. derrotou por 4-0 o Basileia, enquanto Estado, como é consabido. Aliás, a nova realidade económica do país vai
“São jogadores, que durante a épo- o Tottenham foi a Itália empatar seguramente esvaziar a bola desses dois emblemas porque os seus “donos” já não
ca que estiveram no activo, deram com a Juventus, por 2-2. negociam com o Estado com a mesma facilidade de tempos idos.
muito para o basquetebol africano Os outros jogos que fecham os oita- Isto também pode explicar cabalmente a razão da macrocefalia de que padece o
em geral e angolano em particular. vos-de-final são: Chelsea–Barcelo- “Girabola”, onde há um punhado de equipas que discutem o título e outras (a
Hoje os dois ex-jogadores conti- na, Bayern–Besiktas, Shaktar–Roma esmagadora maioria) que lutam para não descer. Por outras palavras, isto pode
nuam a transmitir as suas expe- e Sevilha–Manchester United. explicar a falta de competitividade do “Girabola”, prova que, à partida, os
riências”, reconheceu João Santos. “condenados” à despromoção são praticamente conhecidos.
Completam ainda a equipa das ■ D.R. A realidade consubstanciada no apoio ao desporto por companhias
Lendas nomes como: Benjamim financeiramente saudáveis decorre do modelo de desenvolvimento desportivo
Avó, Puna, Benjamim Romano, Gali- adoptado no tempo do partido único, em que as empresas deveriam jogar papel
nha, Cesaltino Reis, Honorato Troso, importante no sustento do desporto. Entretanto, o sistema político-económico
Luís Fernandes, Eurico Júnior, Urbi- mudou, mas o modelo manteve-se, estando desajustado ao actual panorama
no Fonseca e Walter Costa. Aníbal socioeconómico. Ou seja, em plena economia de mercado livre a prática é ainda de
Moreira será o técnico da equipa. economia socialista planificada, que tantos dissabores custaram ao nosso país.
Na equipa dos estreantes, foram É do domínio público que o desporto de alta competição só existe com o suporte
convocados Fábio Domingos, Gilson do Estado. Doutro modo, sucumbe. Enquanto o ambiente de negócios continuar
Bango, Délcio Sebastião, Wilson tóxico e os principais pilares da economia permanecerem fragilizados, não há outra
Ambrósio, Aldair Carlos, Wilson saída para o financiamento da actividade desportiva. Por isso mesmo, há que
Cassav, Jonatão Ndjungu, Dilson encontrar um outro modelo de financiamento das agremiações desportivas, em vez
Piedade, Keven Albino, Cândido Ma- da actual distribuição desproporcional. É que não é justo que, sendo a SONANGOL
dureira, Pascoal Konde e Varanda. uma empresa pública (portanto, de todos nós) dê dinheiro apenas a um clube,
Para a equipa Matrindindi, irão ali- enquanto outros, tão angolanos quanto o Petro-Atlético de Luanda desistam em
nhar à quadra Nidinho, Abou Gakou, plena competição por falta de recursos financeiros. E a constatação aplica-se
Sekouba Conde, Jekel Foster e outros. igualmente a emblemas como o 1.º de Agosto, Interclube, Sagrada Esperança e
Alguns atletas como Curtis Allen, outros que beneficiam da sombrinha do Estado.
Andre Harris, Armando Costa, Nesta perspectiva, o ideal seria dividir o dinheiro que é de todos por todos, de modo a
Eduardo Mingas, Malick Cissé, Leo- assegurar algum nível de competitividade e defender a verdade desportiva. É, pois,
nel Paulo, Pedro Bastos e Reggie Moo- importante dividir o mal pelas aldeias, como diz a “vox populis”. ■
O próximo jogo será em Anfield
re irão compor a equipa da Kianda.

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Relatório Investigação não encontrou ▲


CONTRATAÇÃO
Professores
«nada relevante» na morte de peixes Depois de três
anos sem reforçar o quadro
■ DR docente nacional devido à
◗ ÁLVARO VICTÓRIA crise financeira que o país
enfrenta, o Governo angolano
No final de Janeiro último, foi acciona- anunciou a contratação de 20
do um sinal de alerta às autoridades mil novos professores. Com
pesqueiras do país para milhares de o regresso às contratações,
peixes que apareceram mortos na Baía Angola verá relativamente
de Luanda. Três semanas depois, o re- reduzidos os cerca de dois
latório da investigação conclui que milhões de crianças fora
“não se detectou nada relevante” no fe- do sistema de ensino.
nómeno cujas imagens causaram al-


gum susto a citadinos de Luanda.
Segundo o documento a que o Novo
Jornal teve acesso, para se chegar a es-
tas conclusões, os peritos do Departa- FUTEBOL
mento de Oceanografia e Ecossistema Afrotaças
Marinho e dos Serviços de Fiscalização As equipas
das Pescas procederam a várias análi- angolanas começaram da
ses das amostras recolhidas no local. melhor maneira a presença
“Após a alegada mortandade (24 de nas provas africanas de
Janeiro) e as amostragens efectuadas futebol a nível de clubes.
Milhares de peixes apareceram mortos na Baía de Luanda no final da tarde do dia 23 de Janeiro
observaram-se os seguintes resulta- Petro de Luanda, vencedor
dos: temperatura da superfície da água da Taça de Angola e 1.º de
29.1 ºC e o teor do oxigénio dissolvido ficam” a alegada mortandade nos mol- de peixes na via entre o Ministério do Agosto, campeão nacional,
5.017 ml/L. Não se detectou nada rele- des em que a mesma foi descrita. Interior e o Banco Nacional de Angola golearam nos primeiros
vante no que concerne à alteração do Por outro lado, sublinha a pesquisa (BNA)”, disse, na ocasião, o administra- jogos das Afrotaças e estão
fitoplâncton e na coloração da água”, do Instituto Nacional de Investigação dor, Hélder Balsa. a um passo de garantir a
lê-se no estudo. Pesqueira, “nenhuma das espécies fi- Em declarações ao Novo Jornal Onli- presença na fase seguinte
“Verificámos que a água estava lim- toplanctónicas” analisadas oferece- ne, o responsável distrital da Ingombo- de corrida à etapa
pa e sem alterações no que concerne à ram “perigo” para o ecossistema. ta garantiu que “nenhum popular” ha- de grupos.
presença de microalgas (fitoplânc- Recorde-se que, em reacção à denún- via levado para casa o peixe morto,


ton)”, explica ainda o documento. cia, a equipa da administração do dis- para respectivo consumo, assegurando
O relatório concluiu que os resulta- trito urbano da Ingombota tinha-se que a área em causa esteve isolada com
dos acima descritos “estão dentro do deslocado ao local, tendo constatado efectivos da Polícia Nacional a contro-
padrão” da área de estudo, e “não justi- “realmente um número muito elevado lar a zona. FAF
Ausência
Não ficou bem na
CARTOON | Sérgio Piçarra fotografia a ausência da
direcção da FAF nos jogos
internacionais do Petro de
Luanda e do 1.º de Agosto, no
11 de Novembro, para as
provas africanas de clubes.
Num claro sinal de falta de
cortesia, a ministra da
Juventude e Desportos, Ana
Paula Sacramento, acabou
por acompanhar quase que
isolada o duelo do campeão
nacional.


ENDE
Cortes
Os apagões
voltaram a assolar os
moradores de Luanda. Tem
sido assim sobretudo em
época chuvosa. Muitas vezes
nem é necessário que caia
chuva; basta um vento forte
para os cidadãos ficarem
privados do fornecimento
de energia eléctrica. E no
final do mês, para quem não
tem contadores, o dinheiro
a pagar não é compensado.

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