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27 de novembro de 2020
ESPECIAL
empresa cidadã
Viva a Diversidade!
É de impressionar o impulso que o tema vieses inconscientes, LGBTI+, recrutamento cego
Diversidade ganhou nas hostes empresariais e outros que já fazem parte dessa nova cultura
nesses últimos anos, com programas, ações e humana que ganha corpo e status nas corporações,
investimentos crescentes e afirmativos, que buscam onde parecem estar com os dias contados a
garantir equidade de oportunidades para todos os predominância e hegemonia de homens brancos e
seres humanos, independentemente de cor, credo, heteros na condução dos negócios.
etnia, gênero, orientação sexual, status político ou Esta edição é um de nossos presentes ao
deficiência. mercado, na celebração de nosso Jubileu de Prata.
E é a esse mundo Diverso que esta segunda Um presente também de final de ano, num ano
e última edição de 2020 do projeto Empresa que, mesmo sem deixar saudades, foi desafiador,
Cidadã, da família Jornalistas&Cia, dirige seu olhar, exigindo de todos resiliência, empatia, determinação,
pelas lentes da repórter especial Martha Funke (*), criatividade, inovação e, mais do que tudo, muito
que ouviu mais de duas dezenas de executivos suor. E como suamos!!!
e executivas de algumas das mais importantes Recomendamos a leitura. Vale a pena conhecer
organizações empresariais do País, sobre como o um pouco das entranhas empresariais no campo da
tema vai progressivamente provocando mutações Diversidade e delas extrair insights que certamente
(esperamos que definitivas) nos respectivos DNAs ajudarão todos a ser melhores.
corporativos.
Vamos ler em vários momentos termos como Eduardo Ribeiro e Wilson Baroncelli
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@philipmorrisbrasil
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externos com ações afirmativas, incluin- da população são negros. O resultado contratação – entre os oito candidatos
do fornecedores, comunidades vizinhas foi a criação do programa Respeito Dá admitidos na turma de 2019, seis são
e consumidores. o Tom, apoiado em empregabilidade, negros. Na população interna, com 57%
relacionamento com a comunidade e de negros atuando especialmente em
Licença social desenvolvimento. A meta é alcançar par- cargos operacionais, a empresa adotou
A Aegea passou a olhar o tema com ticipação de 55% de negros em cargos de a proporcionalidade para as 50 vagas
mais atenção a partir de 2017 com a liderança, não só operacional, refletindo de graduação na academia Aegea. Hoje
meta de contar com uma espécie de a composição da população brasileira. o total de autodeclarados negros na
licença social para atuar em mercados De lá para cá, foram investidos cerca companhia alcança 63%, e entre super-
como Espirito Santo, onde mais de 70% de R$ 2,5 milhões no programa. Rodas visores, 65%.
de conversa e debates temáticos ajuda-
ram a minar resistências de outros gru-
pos. “Os cinco mil colaboradores tiveram
acesso a alguma ação de sensibilização”,
diz Josélio Alves Raimundo, diretor de
operações Centro Oeste da Aegea Sa-
neamento, responsável pelo programa,
apoiado por um comitê corporativo for-
mado pelos líderes de áreas, 13 comitês
locais com mais de 150 colaboradores e
uma profissional especialista dedicada,
Beatriz Ferreira Raimundo.
O programa de trainee foi ajustado
com inclusão de mais universidades
e flexibilização da exigência de língua
inglesa, com possibilidade formação
Josélio Alves Raimundo Beatriz Ferreira Raimundo
do profissional no idioma depois da
O que um banco
pode fazer
pela Amazônia?
Muito.
Itaú é uma palavra em tupi-guarani, e significa pedra preta.
Este ano, o plano incluiu encontros inclusiva, masculinidade e equidade “Eu não contrato negros”
online (Pontos de Contato), com criação racial. Para mulheres, a empresa tem A Bayer ganhou destaque no tema em
de campanhas de comunicação LGBTI+ programas de coaching para liderança 2017 quando o então presidente Theo
e racismo, e a Semana de Diversidade e e mentoria, carta de intenção firmada van der Loo publicou no Linkedin o artigo
Inclusão, com especialistas em cultura com headhunters com testes em anda- “Eu não contrato negros”, contando a
mento, fórum de equidade de gênero e história de um amigo afrodescendente
capacitações para vieses inconscientes. que ouviu a frase em uma entrevista
Além disso, há objetivos de diversidade de emprego. A discussão provocou
e inclusão na avaliação de desempenho movimento. Ainda em 2017, nasceu o
do primeiro nível da empresa, na contra- Programa de Mentoria de Empresas de
tação de temporários, na sala de apoio Diversidade para contribuir na redução
a amamentação, no estacionamento das diferenças no ambiente corporativo
facilitado para gestantes, no programa e aumentar oportunidades de empre-
para transição de carreira para profis- endedorismo, com mentoria extensiva
sionais em idade de aposentadoria e no de um ano para empresas inscritas nas
incentivo a contratação de PCDs em quais mais de metade dos funcionários
áreas administrativas. sejam afrodescendentes, LGBTIs, indí-
“Um dos desafios é em relação à cren- genas, pessoas com deficiência (PCDs)
ça de ‘favorecimentos’. Percebemos que e mulheres, ou de cidades próximas às
é preciso compartilhar mais informações operações da Bayer ou fora dos grandes
com os colaboradores e explicar um centros urbanos.
contexto histórico e econômico que nos A empresa foi pioneira em se aproxi-
ajude a entender o porquê de não termos mar de coletivos e universitários negros
uma sociedade justa”, diz Adriana Valle. e promoveu o encontro Juventude
“Nossos vieses inconscientes acabam Negra na Bayer para discutir práticas em
Adriana Valle, da CNH nos levando a julgamentos precipitados”. grandes organizações. Também criou
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com o tema Diversidade. “Vimos que Pesquisa com os funcionários emba- pelo “dono” da vaga para evitar o viés
tínhamos de começar com comunica- sou as iniciativas e eles próprios passaram inconsciente, o que já trouxe surpresas
ção”, diz Elineide Castro, gerente de RH a protagonizar histórias e a multiplicar com a seleção de mulheres para cargos
− gestão de pessoas áreas administrativas suas vivências. A celebração global da di- que seriam tradicionalmente entregues a
e comerciais e coordenadora do Comitê versidade entre maio e junho chegou ao homens – hoje elas entram na empresa
de Diversidade. Brasil e deu início a painéis com convida- até como aprendizes na produção, a
A criação do comitê, com represen- dos externos e funcionários para abordar partir do Senai. No ano passado o pro-
tantes de todas as áreas da empresa e e debater os pilares. No pilar PCD, por grama de trainees foi flexibilizado, com
executivos indicados pelo board para exemplo, é oferecido um curso de Libras eliminação de barreiras anteriores como
atuar como multiplicadores, além de para não surdos e um projeto-piloto bem limitação a três faculdades e divulgação
grupos de afinidade nascidos este ano, sucedido com a inserção de uma pessoa em associações ligadas à questão racial.
ajudaram a pensar em estratégias ca- surda no pool de secretariado. Como resultado, entre os 17 mil ins-
pazes de fomentar o assunto junto a critos, 500 negros cumpriram todo o
diferentes stakeholders. Currículo “cego” processo. Eles preencheram metade das
A comunicação passou a abordar A seleção de executivos elimina dos vagas disponíveis e o programa de está-
os pilares gênero, racial, LGBTI+ e PCD currículos foto, idade e nome para análise gio está indo pelo mesmo caminho, com
para mostrar como a valorização das meta de contar com pelo menos 30% de
diferenças cria singularidade para co- negros. Na questão LGBTI+ a empresa
laboradores, fornecedores, clientes e saiu do armário para falar sobre o tema,
produtos. Uma das peças portava um brinca Elineide. Para celebrar seu dia de
espelhinho com o slogan “Cada estrela diversidade, o prédio central da empresa
tem seu brilho, seja você e tudo bem”. “A foi colorido com as cores do arco-íris.
ideia é valorizar cada um que temos na Mesmo para o público mais resistente
empresa”, diz Elineide. Consultoria exter- por valores pessoais, como crenças,
na e benchmarking com outras empresas é ressaltado que o respeito é um dos
ajudaram no caminho. principais valores e que a diversidade
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No campo da diversidade,
a oportunidade também
cresce com a Yara.
Viés inconsciente mercado de trabalho e dá início ao pipe- pessoas com mais de 53 anos contam
Na Novelis, o programa Igual, lançado line de desenvolvimento para formação com programa de preparação para o
em 2017, abraça foco em gênero e etnia de futuros gerentes, explica a VP de RH pós-carreira e jovens de 25 a 32 anos
com os pilares atração; desenvolvimento, Glaucia Teixeira. são incluídos em processo de mentoria
engajamento e retenção; e multiplicação, Para o ano que vem, a meta é contar reversa, trocando experiências e dicas
inclusive no entorno das unidades fabris. com 50% de afrodescendentes – em com executivos seniores, diretores ou
O programa de estágio dá possibilidade a 2020, foram 57%. Outra meta é preen- vice-presidentes.
jovens mulheres e homens entrarem no cher com afrodescendentes 20% das
contratações até 2023. Em relação a
gênero, o objetivo é chegar a 50% das
contratações para áreas como back
office e de contar com uma mulher para
cada dois homens em posições iniciais
nas áreas de operações. De 2017 para
cá, o número de mulheres na liderança
passou de 24% para 28% no geral e a 30%
nas posições de direção para cima.
Todo o esforço foi precedido de co-
municação e sensibilização com foco
em viés inconsciente, a partir de pesquisa
interna que apontou as diferentes visões
geracionais – enquanto para a geração Z,
nascida no século 21, todos são iguais, a
geração X, dos indivíduos em torno dos
40 a 50 anos hoje, têm mais dificuldade
Glaucia Teixeira, da Novelis em interação com o diferente. Agora,
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preende potencializa a criação do valor marco importante, com equiparação de Grupos internos são responsáveis
a partir de formação, gerações e exper- salário entre homens e mulheres que de- pelo planejamento e implementação de
tises, desde bolsa-auxílio para mestrados sempenham a mesma função. Atualmen- ações voltadas a pautas de diversidade
até inclusão de profissionais acima de 50 te, 43% dos empregados são mulheres, e inclusão. No Brasil, o Pride, voltado
anos. Aqui não tem barreiras potencializa sendo que 35% delas compõem o time a questões LGBTI+, o YoPros, forma-
o respeito a profissionais LGBTI+, com a de liderança e 45%, a Vice-Presidência – a do por jovens profissionais, e o WLN
adoção do nome social, por exemplo. meta é alcançar em breve 50% de contra- (Women´s Leadership Network), voltado
tação feminina no Brasil. à participação feminina. Externamente,
Cultura da decência a empresa faz parte da Aliança sem Este-
“Na Mastercard trabalhamos com a reótipo, iniciativa da ONU Mulheres para
cultura da decência para garantir que acabar com estereótipos na publicidade,
todas as pessoas tenham oportunidades e criou o programa Girls4Tech, para
iguais de crescimento profissional, inde- impulsionar habilidades das meninas
pendentemente de idade, status, etnia, em temas relacionados a ciência, tecno-
credo, condição física, gênero, identida- logia, engenharia e matemática (STEM,
de ou expressão de gênero, estado civil, em inglês), com apoio de funcionários
nacionalidade”, diz a VP de RH Fabiana voluntários e alcançou 1 milhão de
Cymrot. Segundo ela, uma empesa de meninas em outubro de 2020. A meta
tecnologia requer equipe inovadora e a agora é chegar a 5 milhões em todo o
diversidade é o ponto de partida. mundo até 2025.
Entre as práticas adotadas, processos
seletivos devem contar com pelo menos Diversidade de espectro total
uma candidata mulher na etapa final. A Na seara tecnológica, a Cisco é uma
licença-maternidade alcança seis meses das comprometidas com diversidade de
e a de paternidade, 56 dias úteis. No ano espectro total – que inclui gênero, etnia,
passado a Mastercard Brasil alcançou um Fabiana Cymrot, da Mastercard raça, orientação sexual, idade, habilidade,
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Negros (Black at Uber), PCD (Able), Igual- processo de desenvolvimento de car- gerencial e nos últimos três anos fizemos
dade Econômica (Equal), Pais (CareGivers) reira, nasceram requisitos para nomear alterações em nosso processo de avalia-
e Estrangeiros (Immigrants) – reforçam a mulheres e grupos sub-representados ção de desempenho para evitar vieses
estratégia e as políticas da empresa. nos principais programas de desenvol- inconscientes, incluindo a remoção da
Processos e ferramentas de recru- vimento de liderança, conta Bárbara linguagem de gênero dos formulários”,
tamento e contratação foram revistos Galvão, head de Diversidade e Inclusão diz ela. O número de mulheres em car-
para serem imparciais e padronizados. A da Uber para a América Latina. gos de liderança, por exemplo, cresceu
revisão salarial começou em 2018 e, no “Disponibilizamos programa de men- 15% globalmente. Na Uber Brasil, são
toria para mulheres em início de carreira 50% de mulheres em cargos de liderança
e de sponsorship para mulheres em nível este ano.
ou pardos. Outra iniciativa foi o Entrevis- mentoria de carreira. O Instituto Grupo forma de diversidade e inclusão e há dois
taço, busca e prospecção ágil de pro- Boticário lançou o Desenvolve, com anos tem gerência específica no Brasil,
fissionais negros para ocupar vagas em 130 vagas para formação em tecnologia liderada por Kaleb Machado. O tema
aberto e enriquecer o banco de talentos. voltadas a pessoas em situação de vul- chegou a ser incluído em indicadores
Ainda este ano, foi aberto programa de nerabilidade social. para compor os bônus executivos.
desenvolvimento para jovens negros Do ano passado para cá, a partici- As ações afirmativas miram os quatro
universitários ou recém-formados, com pação de autodeclarados negros nas grupos prioritários, mas também são ob-
oito webinars para 800 alunos e seleção contratações passou de 43% para 54%. servadas questões como diversidade de
de dez participantes para programa de Além disso, foram criados grupos de religião, estética e estilo, com discussões
afinidade nas cinco dimensões priori-
tárias para a organização. Para 2021, as
metas incluem aumentar a contratação
de talentos negros em 40%, garantindo
um cenário em que metade das pessoas
sejam negras, e até 2023 alcançar 25% de
lideranças corporativas negras.
Ferramenta virtual
Varejo e serviços também abraçaram
a pauta. Apesar do triste episódio men-
cionado no início da reportagem e do
fato de não ter sido a primeira vez que a
marca se vê envolvida em violência em
relação à raça negra – o que mostra a
dificuldade de, na prática, transformar a
cultura em uma corporação desse porte
Sandro Bassili, do Grupo Boticário –, o Carrefour criou em 2012 uma plata- Kaleb Machado, do Carrefour
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