Você está na página 1de 38

ADAIL PEREIRA DAVID

PSICOLOGIA JUNGUIANA NA CONTEMPORANEIDADE


E O SIMBOLISMO DA TRANSFORMAÇÃO NA MISSA COMO RITUAL SAGRADO
DE SUPERAÇÃO DA DOR

ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA JUNGUIANA

BRASÍLIA
2021
ADAIL PEREIRA DAVID

PSICOLOGIA JUNGUIANA NA CONTEMPORANEIDADE


E O SIMBOLISMO DA TRANSFORMAÇÃO NA MISSA COMO RITUAL SAGRADO
DE SUPERAÇÃO DA DOR

Monografia apresentada ao Instituto Junguiano de


Ensino e Pesquisa – IJEP – como requisito parcial
para obtenção do título de especialista em Psicologia
Junguiana

BRASÍLIA
2021
Dedico este trabalho à minha esposa, pelo
incansável apoio nesta caminhada; aos pacientes,
especialmente àqueles com dores crônicas, pela
confiança; enfim, a todos aqueles que foram vítimas
da Pandemia da Covid-19 para que suas dores e
perdas não sejam em vão, mas tragam uma nova
consciência ao mundo.
AGRADECIMENTOS

A Deus pelas luzes e graças recebidas durante todo esse curso, pois sem essa
conexão muito do que aprendi seria apenas informação, sem alcançar a sabedoria que
transforma.

Aos meus familiares que sempre me motivaram e apoiaram nesta caminhada.

Aos professores, especialmente Waldemar e Simone Magaldi, pela dedicação a este


projeto do IJEP, o qual tornou possível todo esse percurso de crescimento e aprendizagem.

Aos colegas que me acompanharam durante esta jornada apoiando, ajudando e


motivando para que chegássemos juntos até o fim.
RESUMO

Esta pesquisa aborda o tema da superação da dor na obra O símbolo da transformação na


missa de Carl Gustav Jung. Trata-se da investigação dos vários elementos simbólicos da
missa sobre o valor transformador da dor e do sacrifício. O sofrimento sacrificial e redentor
de Cristo está no centro da missa, e cada uma de suas partes aponta para uma jornada
transformadora de superação da dor. Por isso, o objetivo desse trabalho é analisar e traçar um
paralelo entre o rito sagrado da missa descrito por Jung e o processo de superação da dor em
pacientes com dores crônicas, especialmente, aqueles influenciados pelos arquétipos
religiosos do cristianismo. Grande parte da população brasileira é cristã, dentre os quais há
um número importante que desconsidera o processo ou os métodos psicoterapêuticos por
receio de serem contrários à religiosidade. Por outro lado, a dor e o sofrimento são realidades
que afetam todos os seres humanos e cada qual deve dar uma resposta adequada a este
problema em suas vidas. Diante dessa realidade, surge uma pergunta importante: será possível
trabalhar com eficácia, dentro do processo analítico, a superação da dor e do sofrimento
físicos a partir do simbolismo dos rituais sagrados como a missa? Portanto, este trabalho está
limitado à pesquisa bibliográfica a partir do tema exposto por Jung na sua obra O símbolo da
transformação na missa, analisando os elementos do simbolismo, da transcendência, da
abertura à Totalidade, da conexão com o Si-mesmo e do confronto com a sombra,
relacionando com o ritual presente na missa como um processo de transformação e de
superação da dor e do processo de Individuação.
Palavras-chave: Cristo. Cruz. Dor. Individuação. Missa. Redenção. Rito. Simbolismo. Si-
mesmo. Sofrimento. Totalidade. Transcendência. Transformação. Transubstanciação.
7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................7
CAPÍTULO 1..........................................................................................................................12
A MISSA COMO SÍMBOLO DO SAGRADO....................................................................12

1.1 Evolução do rito da missa: do concílio de Trento ao Concílio Vaticano II....................12


1.2 A análise de Jung sobre os símbolos da missa................................................................13
1.3 Analogia do simbolismo da missa com o processo analítico..........................................14

CAPÍTULO 2..........................................................................................................................19
A MISSA COMO SÍMBOLO SAGRADO DE TRANSFORMAÇÃO..............................19

2.1 O simbolismo sagrado como movimento do inconsciente.............................................19


2.2 Simbolismo sagrado do diálogo orante no processo analítico........................................20
2.3 Simbolismo sagrado do ministro no processo analítico..................................................22

CAPÍTULO 3..........................................................................................................................25
A MISSA COMO SÍMBOLO PSICOLÓGICO DE SUPERAÇÃO DA DOR.................25

3.1 O mistério da dor e do sofrimento como símbolos sagrados..........................................25


3.2 A dor e o sofrimento como caminhos para sagrado........................................................27
3.3 A superação da dor e do sofrimento é a aceitação simbólica da totalidade....................29

CONCLUSÃO.........................................................................................................................32
REFERÊNCIAS......................................................................................................................36
8

INTRODUÇÃO

A dor e o sofrimento são realidades que, em maior ou menor medida, tocam a vida de
todo ser humano, mais ainda quando se tornam crônicos e passam a fazer parte do cotidiano
da pessoa, eles exigem do indivíduo uma resposta, um motivo, um significado para continuar
vivendo apesar dos sofrimentos. A dor, quando perde o sentido, se torna uma tortura
existencial capaz de atentar contra a própria existência e culminar no suicídio físico, espiritual
ou psíquico.
Ao trabalhar com pacientes com dor crônica, faz-se importante refletir sobre o tema da
superação da dor em suas diversas manifestações. Uma constatação clínica muito frequente
tem sido a reiterada conexão entre o sofrimento e os temas religiosos, ora como causa, ora
como tentativa de aliviar a dor. A religião e o sagrado estão intimamente ligados ao tema da
dor e do sofrimento, a tal ponto que vários autores como Feuerbach (cf. 2007) e C. S. Lewis
(cf. 2006) indicaram o sofrimento como essenciais ao fenômeno religioso. Também do ponto
de vista social, o tema do sofrimento e da religião caminham juntos. Para Marx (1960, p.42),
“a angústia religiosa é, ao mesmo tempo, a expressão da verdadeira angústia e o grito contra
essa angústia verdadeira”.
Em todas as culturas, o tema do sofrimento está muito unido ao tema da religião e, em
cada uma delas, há uma forma simbólica de representação da dor como caminho de superação
e de transformação. O próprio Jung (2016b, 265) afirma que “em nossa época há muitas
9

pessoas que perderam sua fé [...] sobrevindo, porém, o sofrimento, a situação muda às vezes
drasticamente” o que realça essa conexão profunda entre o sofrimento e a fé religiosa.
Da angústia social ao sofrimento pessoal e intrasferível de cada indivíduo, o tema da
dor cruza invariavelmente o tema da religião. De forma muito especial, na cultura brasileira
atual, ainda majoritariamente católica de rito romano 1, o cristianismo oferece uma visão muito
peculiar de simbolização e transcendência da dor em sua principal figura prototípica: Cristo, o
“servo sofredor” (Isaías, 50). A Paixão de Cristo encontra-se no âmago da narrativa cristã,
especialmente na católica, cujos modelos arquetípicos de santidade passam invariavelmente
pela dor e pelo abandono. A Cruz tornou-se o símbolo ocidental mais relevante da dor e do
sofrimento. O cristianismo nasce da dor de um crucificado e revive essa realidade em cada
missa, que é o ritual sagrado de Imolação mais profundo e simbólico no imaginário cristão,
onde a Vítima Imolada é o próprio Deus feito homem.
De Agostinho de Hipona às mais recentes autoridades do cristianismo, sempre houve
uma estreita união da questão da dor à do sacrifício de Cristo. João Paulo II em sua carta
Salvifici Doloris (1984) faz uma extensa analogia do sofrimento pessoal e do sacrifício de
Cristo em sua Paixão. Já o atual pontífice, Francisco, frequentemente recorre ao tema do
sofrimento daqueles que vivem nas periferias existencias (cf. 2013) unindo-o ao sacrifício do
crucificado.
Para Jung, o tema das religiões também era muito caro e muito presente em seu
pensamento, o qual dedica inúmeras e preciosas páginas a esse assunto, tanto do ponto de
vista fenomenológico e psicológico, como simbólico e transcendente. Obras como Psicologia
e religião, Interpretação psicológica do Dogma da Trindade, A resposta a Jó, Psicologia e
religião oriental e O símbolo da transformação na missa são alguns exemplos da importância
desse tema nos escritos junguianos. Jung nunca se furtou ao vasto potencial simbólico das
religiões, e nenhum autor moderno tem trabalhado tanto o tema do simbólico como Jung. É
justamente nesta abertura e compreensão do simbólico que ele aponta um caminho para a
transformação e alívio dos sofrimentos.
Por outro lado, a literalização e a perda do simbólico na cultura moderna têm sido
fontes de inúmeras psicopatologias e dores espirituais e emocionais. Daí a necessidade de
reafirma o valor profundo do simbólico. Jung se apresenta contra uma sociedade e uma visão
psicológica cada vez mais literalizada, cartesiana e cientificista, fechada ao transcendente,
presa na concretude da vida material, e que clama, em nome da ciência, a morte dos deuses

1
Segundo dados do IBGE de 2010: 65% da população brasileira era católica de rito romano e 22,4% eram
cristãos evangélicos. (IBGE, 2010)
10

(cf. NIETZSCHE, 2001, pg. 108), e para a qual “os deuses se tornaram doenças” (JUNG,
2003, p. 43).
Por isso, entre as propostas deste trabalho está a de reacender a discussão sobre o valor
simbólico da religiosidade no alívio dos sofrimentos, e traçar um paralelo entre as fases do
ritualismo sagrado da missa descrito por Jung, e o processo de simbolização como superação
da dor em pacientes com dores crônicas, especialmente aqueles influenciados pelos arquétipos
religiosos. Na sua obra O símbolo da transformação na missa, Carl Gustav Jung traz uma
ampla base de análise sobre esse ritual milenar dos cristãos no qual se encontram vários
elementos simbólicos sobre o valor transformante e transformador da dor e do sacrifício.
O tema da dor tem sido relegado quase que exclusivamente às farmácias e aos
consultórios médicos e psiquiátricos, cujo uso farmacológico para tratar os sintomas da dor
tem se tornado, em muitos casos, a única resposta conhecida e validada por alguns
profissionais. Da mesma forma, verifica-se também uma negação sistemática da possibilidade
simbólica e transcendente da psique por parte das várias correntes psicológicas materialistas e
positivista. Tudo isso abre espaço para a discussão da possibilidade e da eficácia de uma
abordagem psicoterapêutica simbólica capaz de auxiliar eficazmente os pacientes em
sofrimento.
É importante destacar que, apesar da missa ser um rito essencialmente cristão, seu
simbolismo transcende as religiões e encontra eco em muitas culturas e civilizações distantes
do cristianismo até mesmo no tempo e toca algo profundo e inegável na própria natureza
humana: o sacrifício, a dor e o sofrimento inocente. É interessante pensar que Jung, mesmo
não sendo católico, se esforça por penetrar e analisar esse ritual e encontra nele um valor
inestimável também do ponto de vista meramente psicodinâmico e simbólico. Por isso, neste
trabalho, a missa tem sido abordada em sua forma mais ampla e abrangente como ritual
sagrado e não essencialmente desde a teologia, nem dogmática católica, limitando-se assim à
análise feita por Carl Gustav Jung na obra O símbolo da transformação na missa (2016a).
A redenção por meio da dor e do sacrifício de Cristo são os temas centrais desse rito
sagrado e serão eles também o centro dessa pesquisa, uma vez que, na prática clínica em
pacientes com dores crônicas, sejam elas físicas ou psíquicas, há uma necessidade de maior
reflexão sobre o tema do sofrimento. Muitos desse pacientes aqui no Brasil são fortemente
imbuídos da cultura cristã com um duplo efeito: por um lado, procuram na religião um alívio
para suas dores; e, por outro, usam a religião como justificativa de permanência no
sofrimento, uma espécie de martírio necessário para a redenção. Em muitos casos, não há o
11

reconhecimento ou há até mesmo o desprezo da prática psicoterapêutica como uma ajuda


válida e não contraditória às práticas religiosas.
Faz-se importante, portanto, uma leitura de aproximação dessas duas realidades, a
religião e o psicoterapia, ambas com enormes potenciais transformadores que apresentam uma
resposta a essa inefável experiência humana da dor e do sofrimento. Por isso, o tema proposto
para esse trabalho é: A psicologia junguiana na contemporaneidade e o simbolismo da
transformação na missa como ritual sagrado de superação da dor.
É de conhecimento amplo que a religião tem sido um refúgio para muitos quando o
sofrimento se tornou parte de suas vidas. O sofrimento, especialmente o psíquico, parece levar
o ser humano ao limite da existência, de onde ele depara o abismo profundo que separa o Ser
e o nada, como diria o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre (1980), e de onde surgem as
questões mais profundas da consciência humana colocando em dúvida a própria validade ou
bondade da existência, tornando desejável até mesmo a morte como possibilidade de alívio da
dor.
Quando o ser humano se vê forçado pela dor e pelo sofrimento a questionar a própria
existência, geralmente é quando a religião ou a psicoterapia aparecem com uma alternativa
para encontrar uma resposta válida para o sentido da vida. É uma realidade incontestável que
as religiões e os sistemas psicoterapêuticos estão sempre próximos à dor e ao sofrimento
humano, não que psicoterapia nem a religião se reduzam ou se limitem a isso, mas porque
essa parece ser a missão primordial delas: conduzir o sujeito ao sentido profundo da sua
existência individual.
No contexto atual da sociedade brasileira, predominantemente religiosa e cristã, e em
meio a tantos sofrimentos causados pela pandemia da Covid-19, durante a qual a dor, o
sofrimento e a morte tomaram uma dimensão cósmica, surge uma importante pergunta: será
possível trabalhar com eficácia, no processo analítico, a superação da dor e do sofrimento a
partir do simbolismo dos rituais sacrificiais como a missa?
Por fim, este trabalho está estruturado em três partes. A primeira tratará da missa como
símbolo do sagrado, na qual os dois eixos centrais serão os simbolismos da missa
apresentados por Jung e o sagrado, tendo em vista que também os pacientes com dores
crônicas frequentemente se encontram em conflito com o sagrado em suas vidas, em alguns
momentos há um sentimento de revolta com Aquele que permitiu tal situação, em outros, um
sentimento de incompreensão do porque precisam passar por isso.
A segunda parte tratará o tema da missa como símbolo ritual de transformação. Depois
de compreender o significado numinoso da missa, que participa daquela experiência do
12

sagrado, é necessário adentrar no rito da Transformação. Apesar de Jung usar a palavra


“transformação”, essa realidade teológica é melhor traduzida por Transubstanciação 2, ou seja,
a mudança substancial das espécies do pão e do vinho, para Corpo e Sangue de Cristo. No
processo analítico, porém, a transformação ocorre no interior do sujeito que, externamente
permanece o mesmo, mas internamente percorre uma corajosa jornada de encontro com a
sombra, sua dor e seu sofrimento, num processo de abertura à Totalidade psíquica. Só quando
este caminho é guiado pelo numinoso, pelo sagrado, pelo Si-mesmo, é que ele pode alcançar a
verdadeira transformação substancial do ego.
Na terceira e última parte será aborda a missa como símbolo psicológico de superação
da dor. Em pacientes cujas dores físicas ou psíquicas já são uma realidade ordinária, crônica,
o processo terapêutico da análise pode alcançar níveis surpreendentes. A dor é também um
componente de sublimação do ser humano, e “assume até mesmo um aspecto de cura”
(JUNG, 2016a, 90). Desta forma, mesmo a dor física pode constituir uma “participation
mystique” (2016a, 92), ou seja, uma identificação com o Cristo místico e sofredor.
Lembrando que o processo analítico não visa a cura enquanto eliminação dos sintomas, mas
como um processo de abertura à totalidade. Também neste aspecto Jung (2016a, 91) afirma de
forma surpreendente que a missa também é um símbolo do processo de individuação.
A missa, enquanto ritual sagrado, mostra o supremo sofrimento de Cristo, Cordeiro
imolado pelos pecados da humanidade, inocente e puro, entregue à morte, et mortem autem
crucis3 (Fl 2, 8). Não é a simples morte de Cristo o que se vive na missa, mas o ritual da
Paixão, ou seja, da dor, da humilhação, da impotência, da indignação do inocente diante da
crueldade, do abandono, da incompreensão, enfim, de tudo aquilo que resumimos como
sofrimento humano encarnado na figura do Servo Sofredor de tal forma desfigurado que pode
representar todos aqueles que viveram o sofrimento em suas vidas e que enchem os bancos
dos templos e lotam as agendas de consultas em busca de alivio e sentido para suas dores.

2
Nota do tradutor: A palavra Wandlung que foi usada por Jung permite ambas as traduções, seja como
Transformação ou Transubstanciação.
3
Do latim: “E morte de cruz”.
13

CAPÍTULO 1
A MISSA COMO SÍMBOLO DO SAGRADO

A missa é a soma e a quintessência de uma evolução que durou


milhares de anos e que, mediante a ampliação e o aprofundamento
progressivo da consciência, fez a experiência, incialmente isolada, de um
determinado indivíduo tornar-se patrimônio comum de um grupo maior
(JUNG, 2016a, 116)

Para iniciar este estudo, é necessário fazer de uma breve diferenciação histórica do rito
da missa descrito por Jung na sua obra, conhecida hoje como missa tridentina que remonta ao
Concílio de Trento, 1563, e que foi substituído pelo novo rito da missa de 1967, no Concílio
Vaticano II, posterior, portanto, àquele analisado por Jung. Há uma mudança significativa
entre os dois ritos. Em seguida, é importante elucidar alguns pressupostos da psicologia
junguiana que servirão de base para este trabalho.

1.1 Evolução do rito da missa: do concílio de Trento ao Concílio Vaticano II


O rito da missa descrito por Jung em seu livro se trata do rito conhecido como
Tridentino, cuja origem remonta ao Concílio de Trento (1545-1563), por isso, em sua forma
ainda era obrigatoriamente celebrada em latim. Em uma nota de página, Jung ressalta a
importância dessa informação ao dizer que “não se pode traduzir as palavras da consagração
em língua profana, por causa de sua santidade” e reforça dizendo que “embora até mesmo
certos missais pequem contra essa sábia prescrição, eu gostaria de ficar com o texto latino
(2016a, p. 24, nota 18).
14

Coincidentemente Jung falece no mesmo ano em que o Papa João XXIII convocou
solenemente o Concílio Vaticano II (1961-1965) que daria início a uma profunda reforma no
seio da Igreja Católica e de onde viria também uma renovação do rito da missa, aprovada pelo
Papa Paulo VI. Dentre as mudanças, aquela que mais se popularizou foi a possibilidade de
celebrar o rito da missa em línguas vernáculas, derrubando assim a obrigatoriedade do latim.
Apesar da popularidade desta decisão, não foi essa a principal mudança na forma do
rito, pelo contrário, as mudanças foram tão significativas que geraram na Igreja Católica uma
divisão onde teólogos e liturgistas conservadores viram uma certa protestantização do rito
novo e consequente simplificação de vários ritos e gestos dentro da celebração eucarística.
Por esse motivo, é importante ressaltar aqui essa diferença entre a missa descrita por
Jung em seu livro e a missa do rito novo mais popularmente conhecida e vivida nas
comunidades católicas de hoje em dia. Como a obra se trata sobre O simbolismo da
transformação na missa, é claro que a simplificação do rito tem uma consequente perda de
vários aspectos simbólicos de grande importância para o autor, em especial, a mudança das
palavras nas diversas traduções e nas novas orações eucarísticas que foram introduzidas
necessitariam novas reflexões do ponto de vista simbólico e psicológico, os quais não serão
objeto deste trabalho.

1.2 A análise de Jung sobre os símbolos da missa


A missa, antes de tudo, faz parte não apenas do inconsciente coletivo, mas também do
inconsciente pessoal da maioria dos brasileiros, mesmo quando há uma expressa negação
deste fenômeno devido aos constantes conflitos com a religião, em especial, o catolicismo,
que progressivamente vem perdendo adeptos e fiéis, e vendo seus templos esvaziarem por
falta de compreensão do que ali se celebra. Essa perda do valor real e simbólico do sacrifício
eucarístico tem levado ao crescente aumento dos cultos protestantes, os quais carecem de um
ritual claro e simbólico como aquele vivido na missa.
Já no título do livro, Jung apresenta a transformação na missa como símbolo, do grego
σύμβολον, symbolum, cuja função é unir duas realidades: a visível e o significado profundo.
Jung descreve símbolo com as seguintes palavras:
Por símbolo não entendo uma alegoria ou mero sinal, mas uma
imagem que descreve da melhor maneira possível a natureza do espírito
obscuramente pressentida. Um símbolo não define nem explica. Ele aponta
para fora de si, para um significado obscuramente pressentido, que escapa
ainda à nossa compreensão e não poderia ser expresso adequadamente nas
palavras de nossa linguagem atual. (JUNG, 2018a, p. 292)
15

Desta forma, o símbolo não é uma mera comparação, mas uma imagem visível cujo
significado transcende a materialidade da imagem e expressa “um aspecto abrangente
inconsciente que nunca se deixa exaurir ou definir com exatidão” (JUNG, 2016b, p. 202).
Portanto, quando Jung escolhe as palavras ‘símbolo da transformação’ como título, o faz
consciente de valor profundo desse ritual no processo de individuação.
Já na introdução, Jung fala sobre a importância psicológica deste estudo ao dizer que
“a missa é um mistério ainda bastante vivo” e “essa vitalidade se deve a um dinamismo
psicológico indubitável, e isso implica que a Psicologia deve estudá-la” (JUNG, 2016a, p. 11).
Quando Jung diz que “a psicologia deve estudá-la” aponta para um grande valor escondido
neste mistério. Mesmo que este não seja um estudo do mistério eucarístico em si, que é
próprio da teologia, ainda assim, sempre que os sujeitos são confrontados com ele, não podem
deixar de encontrar aqui uma centelha daquele mysterium tremendum et fascinans4 próprio da
religião e da “imagem do sagrado imanente em todos os indivíduos” (MAGALDI FILHO,
2009) como a Imago Dei.
A própria Individuação, neste sentido, é um processo de transformação. Cabe aqui
explicar o termo Wandlung que foi usado por Jung e que permite duas traduções
teologicamente diferentes, seja como Transformação ou Transubstanciação, a primeira se
refere aos aspectos mais acidentais, enquanto a última refere-se aos aspectos substanciais, e é
muito mais adequada quando se trata do que ocorre na Santa Missa. De forma análoga, não
estaria longe do que ocorre também no processo de Individuação tal como entendido por
Jung, isto é, como “um processo mediante o qual um homem se torna o ser único que de fato
é” (JUNG, 2017b, p. 64), desta forma, não se trata de uma mera mudança acidental, mas
transformação substancial que se aprofunda no mistério da psique humana.
Mysterium (μῠστήρῐον) tem sua origem na mistes grega, ou seja, nos iniciados em uma
alguma doutrina, demarcando assim o caráter peculiar do que ali se celebra. Quem não está
disposto a deixar-se conduzir, dificilmente irá vivenciar o mistério. Depois da Oração
Eucarística, o sacerdote, reconhecendo o que ali aconteceu, clama em alta voz para os fiéis:
misterium fidei. Eis o mistério da fé. De forma análoga, o que acontece durante o processo
analítico é um ritual de transformação profunda, quase que substancial, onde o sujeito é
iniciado no mistério da sua própria vida, de suas dores e sacrifícios.

1.3 Analogia do simbolismo da missa com o processo analítico

4
Do latim: Mistério tremendo e fascinante.
16

Todo paciente é também padecente. Traz consigo uma história de dores e


frequentemente se encontra em conflito com o sagrado, sobretudo aqueles que não foram
iniciados no mistério que envolve a dor. Em alguns momentos, há um sentimento de revolta
contra Aquele que permitiu tal situação; em outros, um sentimento de incompreensão do
porquê precisam passar por tudo isso. Em casos de enfermidades congênitas ou abandono
materno-paterno, acrescenta-se a isso o elemento do inocente que é punido e que carrega
sobre si uma dor injusta. Em algum estágio da doença, mesmo a fé do mais espirituoso se vê
abalada e posta à prova como a de Jó.
Partindo da premissa levantada por Jung (2016a, p. 11) ao afirmar que “as realidades
da fé ultrapassam o domínio da psicologia”, é importante ressaltar que o ritual da missa
representa para os católicos, e para outros cristãos, uma vivência da mesma realidade
Redentora e incompreensível que ocorreu na Última Ceia e no Calvário, ou seja, para o
catolicismo, não se trata de uma simples representação, mas “da expressão visível de um fato
que perdura eternamente, o rasgar-se da cortina dos condicionamentos temporais e espaciais
que separa o espírito humano da visão do eterno” (JUNG, 2016a, p. 15).
Também aqui há de notar-se que a dor, mesmo aquela dor que se esconde atrás dos
traumas mais profundos, é uma dor real, e não apenas uma representação, embora ela se repita
no tempo como um ritual que revive a dor a cada celebração. Mesmo que ninguém
compreenda a dor que se oculta no mais íntimo do indivíduo, aquela dor é tão ou mais real do
que qualquer objeto material diante dos olhos. Os sofrimentos psicológicos dos pacientes
estão como que ocultos aos olhos de quem apenas observa e que ainda não foi iniciado
naquele mistério.
É justamente essa insensibilidade a qual tem chagado nosso mundo moderno com os
julgamentos e incompreensões contra os pacientes com dores invisíveis aos olhos, com a
depressão, as psicopatologias que, por serem invisíveis, são negadas e, por isso, aumentam
ainda mais o sofrimento de quem as padece. O mundo moderno e cientificista só reconhece
como real aquilo que é corpóreo, físico e material, desprezando o que é misterioso, espiritual
e até mesmo psíquico.
Desta feita, da mesma forma como a dor nos pacientes, é preciso entender a grandeza
que o mistério representa para compreender também a profundidade do simbolismo que dele
deriva. Não é possível compreender a força do Símbolo se não se compreende a grandeza
daquilo que ele representa. No tocante à missa, o próprio Jung (2016a, p. 15) afirma dizendo
que “esse acontecimento é, necessariamente, um mistério, pois se situa além da capacidade
humana de compreensão, e isto quer dizer que o rito da missa é, necessariamente, em cada
17

uma de suas várias partes, um símbolo”, mas o símbolo, completa ele, “está muito abaixo do
nível do mistério que ele significa” (JUNG, 2016a, p. 16).
A missa é um ato sacrificial, portanto, está diretamente unido à dor e à oblação a Deus.
“O sinal da cruz coloca o pão em relação com o Cristo e sua morte na cruz, como sacrificium
(sacrifício). Isto lhe confere a qualidade de coisa sagrada” (JUNG 2016a, p. 17). Segundo
Jung, “no sacrifício misturam-se duas representações distintas: a de deipnon (δεῖπνον) e a de
thysia (θυσία). Thysia vem de thyein, que significa oferecer, imolar e também inflamar-se”
(2016a, p. 13), note-se aqui que o sacrifício não exige, de forma intrínseca, a dor de quem
sacrifica em nenhum dos dois significados propostos aqui por Jung, uma vez que deipnon
significa apenas ceia e não remete à ideia de autoimolação ou de dor. O sacrifício,
anteriormente entendido como sacrificar algo, traz a ideia da impessoalidade daquilo que é
sacrificado, o que contrasta com a visão do monoteísmo abraâmico, cuja prova de fé é o
autossacrifício. Abraão ao sacrificar o seu filho único, Isaac (cf. Gn 22, 1), oferece carne da
sua carne e, em Cristo, a autoimolação alcança seu ápice na cruz: “ninguém tira a minha vida,
mas eu a dou por mim mesmo” (Jo, 10, 18).
Em Cristo, o sacrifício simbólico atinge o máximo do seu significado, alcançando
assim o sentido de mysterium ineffabile5, no qual o Filho de Deus se oferece em Sacrifício
verdadeiro. Quando se compreende esta realidade, a missa deixa de ser apenas um “símbolo
antropomórfico de algo sobrenatural” (JUNG, 2016a, p. 16) e “ultrapassa a capacidade de
compreensão do homem” (2016a, p. 16) tornando-se um sublime mistério. Do ponto de vista
simbólico, o sofrimento vivido pelo paciente exige também uma análise que ultrapasse a mera
compreensão do analista-paciente e se abre à compreensão do Todo e à atuação do Self como
fonte de significado último, para o qual o analisando se permite ser canal de expressão desse
mistério. O paciente é também padecente e se sente vítima sacrificada, cuja dor é um mistério
intransferível e, muitas vezes, incomunicável – inefável.
Nos atendimentos a pacientes com dores crônicas, mesmo com descrições e relatos
repetitivos de suas dores, o terapeuta permanece distante, ele não pode compreender a dor do
outro, mesmo que se mova em compaixão. Como diz Jung (2016a, p. 100), “ninguém poderia
entender aquele que sofre se não lhe fosse dado, fora de si, aquele ponto de apoio de
Arquimedes, o ponto de referência do si-mesmo”. A dor do paciente é um mistério vivo
inenarrável. Mas o trabalho do analista não é a compaixão, nem mesmo o de dar sentido à dor
e ao sofrimento do paciente, exatamente porque não há um sentido racional na dor do

5
Nota do autor: Mysterium Ineffabile - Jean Baptiste François Lallouette 1651 -1728.
18

inocente, nem no sofrimento gratuito, pelo contrário, muitas vezes essas realidades são fonte
de revolta e de desespero.
“É justamente nos conflitos mais extremos e ameaçadores que o cristão sente o
processo de libertação que o conduz à divindade”, diz Jung (2018c, p. 73). O trabalho do
analista, assim como o do sacerdote que celebra a missa, é participar desse ritual de
transformação com grande reverência e dignidade, consciente de que o mistério que ali se
realiza é muito maior do que ele. Analista e sacerdote são apenas instrumentos do mistério
que se configura.
O sacerdote não dá sentido ao mysterium, ele se limita a seguir o ritual com atenção,
devoção e respeito. Para isso se prepara, busca ele mesmo adentrar-se no mistério, assume a
responsabilidade de viver cada gesto daquele ritual no seu sentido e significado profundo, em
outras palavras, o sacerdote se presta como canal para que o mistério aconteça, não é ele que
faz o mistério, mas sem ele a transubstanciação também não acontece.
O paciente, ao buscar ajuda, acredita no poder que reveste a figura do analista, uma
espécie de misticismo que o envolve e lhe confere a chave para a cura. Não é incomum que
ele veja o analista como um ser místico, revestido de poderes mágicos, quase um sacerdote ou
sacerdotisa capaz de desvendar os mistérios de sua psicopatologia, e isso não é, em si, algo
ruim, pois todo processo terapêutico envolve um ato de fé, que é a porta de entrar para o
mistério que ali se realizará.
O analista, ao contrário, deve ser plenamente consciente de que não é ele o sacerdote
desse sacrifício. Deve compreender seu papel de guia e de iniciador do paciente nessa arte de
autotransformação e levar o paciente à compreensão de que é ele, ao mesmo tempo, sacerdote
e vítima, na qual se realizará a transformação sacrificial. É o paciente que se entrega ao
processo, é ele, corpus imperfectum6, o único capaz de transformar-se em corpus perfectum7,
guiado pelo Si-mesmo.
Dessa forma, o diálogo com o analista se torna apenas uma formalidade ritual e perde
espaço para o mistério sublime que ocorre no interior do paciente quando este se consagra
verdadeiramente ao processo. Agora, a morte se torna iminente, e a batalha contra ela uma
verdadeira agonia. A transformação do corpus imperfectum em corpus glorificationis8 exige a
morte, e sem ela não há vida. O pão e o vinho oferecidos devem se tornam Corpo e Sangue
por meio da imolação sacrificial de Cristo.

6
Do latim: Corpo imperfeito (JUNG, 2016a, 19).
7
Do latim: Corpo perfeito (JUNG, 2016a, 19).
8
Do latim: Corpo ressuscitado (JUNG, 2016a, 19).
19

É neste momento da missa que se pronuncia a oração expressiva que


se segue: Ó Deus, que maravilhosamente criastes a dignidade da natureza
humana e mais prodigiosamente ainda a reformastes, concedei-nos, pelo
mistério desta água e deste vinho, sermos participantes da divindade daquele
que se dignou revestir-se de nossa humanidade, Jesus Cristo. (JUNG, 2016a,
p. 21)

Há um paralelismo simbólico entre esse momento da missa com o momento da


análise, onde o paciente com suas dores se oferece no processo analítico para ser
transformado. A divinização da natureza humana ocorrida em Cristo é símbolo da
transformação do pão e do vinho em seu Corpo e Sangue. No processo analítico, a
semelhança e o paralelismo com a transformação que ocorre no paciente seguem a lógica da
transubstanciação. O paciente, como o pão e o vinho, não deixa de ser aparentemente quem
ele é, a transformação não ocorre primeiro a nível acidental, mas certamente está ocorrendo
uma transformação no nível mais profundo do ser. Quem se dedica ao processo analítico não
permanece mais o mesmo, mesmo que não deixe ser quem é. Neste paradoxo, permanecendo
o mesmo, caminha para ser quem ele deve ser, pode-se perceber aqui que quando o processo
analítico é autêntico e conduz à verdadeira Individuação, nunca é um processo meramente
acidental, mas sempre um processo substancial.
No próximo capítulo, faz-se necessário ir a fundo nesse processo de transubstanciação
que ocorre através do ritual da missa e ver seu paralelismo como a transformação profunda
que deve ocorrer no processo analítico, especialmente quando a dor é um elemento que está
presente neste processo.
20

CAPÍTULO 2
A MISSA COMO SÍMBOLO SAGRADO DE TRANSFORMAÇÃO

A verdadeira transformação ocorre quando há uma adequação, uma coniunctio


oppositorum entre os diferentes elementos, às vezes opostos, envolvidos no processo. Por isso
deve haver, segundo Jung (2016a, p. 22), uma “uma transformação das oferendas e do altar,
no sentido da espiritualização de todos os objetos físicos usados no rito”.

2.1 O simbolismo sagrado como movimento do inconsciente


Na missa, essa transformação é feita pela incensação das oferendas e do altar narrada
por ele da seguinte forma:
O sacerdote faz três sinais da cruz com o turíbulo (incensório) sobre
as oferendas e traça três círculos em torno das mesmas, dois da direita para a
esquerda [...] (do ponto de vista psicológico, corresponde a uma
“circumambulatia” para baixo, ou seja, a um movimento em direção ao
inconsciente) e outro da esquerda para a direita (em direção à consciência)
(JUNG, 2016a, p. 22).

Na incensação, “a fumaça provoca e simboliza a subida da oração” (JUNG, 2016a, p.


23). Da mesma forma, no processo analítico, enquanto o diálogo entre paciente e analista não
se elevarem ao campo do simbólico e do espiritual, a análise estará impedida de alcançar o
ponto da coniunctio. Interessante notar, na narrativa de Jung sobre a forma de incensar o altar
e as oferendas, que o duplo movimento sinistrogiro do turíbulo simboliza a descida ao
inconsciente, ao centro do mistério, e apenas um movimento ao consciente, como se a
profundidade desse gesto dependesse mais do que está aprofundado no inconsciente, ou seja,
21

daquilo que a razão não controla, do que daquilo que é controlado por ela. O papel do
inconsciente no processo analítico, assim como na vivência do mistério, é de fundamental
importância. Enquanto o processo analítico permanecer preso à racionalidade, não se chegou
ainda ao ponto de catarse necessária para a transformação do paciente, como ocorre também
com as oferendas.
É muito importante perceber que o paralelo feito entre a Missa como Símbolo sagrado
de transformação e o Processo analítico encontra-se sobretudo no Simbolismo. O então
Cardeal Ratzinger (2015, p. 144) lembra, em seu livro sobre a Liturgia, que na missa cristã
“se realiza o culto divino feito por meio da palavra; não são mais sacrificados bodes e
bezerros, mas a palavra é dirigia a Deus como Àquele que sustenta nossa existência, e essa
palavra se une à Palavra por excelência, ao Logos de Deus”. Nesta afirmação, fica evidente o
importantíssimo papel da palavra no culto sagrado, como também o é no processo analítico.
Neste sentido, a palavra, o logos, não é um mero instrumentum. As palavras que formam o
diálogo analista-paciente possuem uma ação transformadora, como as palavras que o
sacerdote pronuncia sobre as oferendas que têm o poder de evocar a ação de Deus sobre o pão
e o vinho, transformando-os em Corpo e Sangue de Cristo. É por meio da palavra que toda a
ação terapêutica e transformadora toma lugar dentro do processo analítico. Por isso, o analista
deve estar religiosamente atento às palavras do paciente, pois é através delas que todo o
mundo simbólico do paciente se revela.

2.2 Simbolismo sagrado do diálogo orante no processo analítico


Jung (2016a, p. 23), ao narrar o rito da Epiclese, ou seja, as “orações propiciatórias
para garantir a aceitação das oferendas por parte de Deus”, fala sobre o chamamento
(convocação). “O nome tem também o poder de tornar presente o seu portador” (JUNG,
2016a, p. 23). Cabe pontuar aqui que, a oração propiciatória, em seu sentido amplo, é
qualquer diálogo que torna propícia, adequada ou favorável a realização de alguma ação.
Portanto, a análise deve ser uma oratio que favoreça o processo terapêutico. Oração faz
referência à boca, em latim, os, oris, que é também a ação de falar, de dialogar, mas não de
forma profana, já que esse diálogo orante tem sido reservado ao campo do sagrado. Assim um
verdadeiro processo analítico não deveria abandonar o campo do sagrado sob o risco de
instrumentalizar a análise e ambos, paciente e analista, se perderem no processo. A oração por
si só não tem o poder da transformação, mas ela torna possível a ação do Divino sobre as
oferendas.
22

Muitas vezes, os pacientes querem uma ação de cura por parte do analista, como se
este tivesse poderes sobrenaturais, querem uma resposta quase que divina para seus problemas
e suas dificuldades, em especial, para aliviá-los de suas dores. Muitos chegam a desistir do
processo quando percebem que o analista não é um curandeiro, nem um mágico apto a
realizar por eles mesmo a alquimia da transformação da dor em conforto, do problema em
solução.
O abandono do processo terapêutico não é apenas abandono das sessões de terapias, é
algo ainda mais íntimo, é uma atitude quase que de ateísmo, pois é a perda da fé no processo
que deve acontecer em seu interior, não como um ato de poder curativo, mas como um ato de
devoção ao ato sagrado. A obediência ao poder sagrado envolve todo processo religioso, a
divindade exige submissão e respeito. Da mesma forma, no analítico a obediência faz-se
necessária para a atuação do sagrado que se expressa de forma multifacetária, seja através dos
sonhos, dos atos de sincronicidade, das palavras e gestos dentro do processo analítico ou das
intuições em forma de pensamentos que cruzam a consciência do paciente.
O materialismo científico não é ateu porque nega a possibilidade da existência de
Deus, mas por negar possibilidade de qualquer existência que não seja materialmente
dominada pelo poder da razão. Por isso, não raro os pacientes desejam que o analista ofereça
fórmulas de controle de seus estados patológicos, que lhes ensine como dominar suas
emoções, sentimentos e comportamentos, ou querem o poder alquímico da transformação,
mas não estão dispostos a passarem pela autoconsagração nem pela necessária imolação de si
para que ocorra o verdadeiro milagre da transubstanciação. Um ateu não suporta a ideia de
inconsciente nem de milagre, só reconhece a ciência e o que é consciente pela razão.
Jung (2016a, p. 24) segue dizendo: “na missa romana a consagração constitui o ponto
culminante, o momento em que se dá a transubstanciação ou transformação da substância do
pão e do vinho no corpo e sangue do Senhor”. Mais uma vez o poder das Palavras se revela
no ato de consagração da missa, palavras que são ritualmente lidas pelo sacerdote para evitar
qualquer erro ou troca das palavras sagradas, e Jung ainda ressalta essa importância ao afirmar
que “não se pode traduzir as palavras da consagração em língua profana, por causa da sua
santidade” (2016a, p. 24, nota 18). Como em um processo alquímico, cada gesto, cada palavra
é sumamente importante.
Também os gestos e as palavras do paciente devem ser tomados em sua originalidade,
como os sonhos que, ao serem narrados pelos pacientes, ganham forma e força em cada
palavra escolhida por ele para descrever as cenas oníricas. O papel do terapeuta em relação às
palavras do paciente deve ser no sentido primário de acolhimento, pois cada palavra é
23

importante, para só depois ampliar e oferecer conteúdo, como os fiéis oferecem o fruto da
terra e do trabalho para serem dispostos no altar, e não para interpretar o paciente, ou pior,
quando o terapeuta cai no erro de doutrinar o paciente com suas próprias ideias. É por esse
motivo que o latim foi, por muitos anos, a única língua permitida no ritual da consagração,
para que não houvesse a profanação deste mistério nem a interpretação circunstancial de
forma equivocada ou manipuladora.
A linguagem simbólica do inconsciente e dos sonhos não deve ser tomada com
leviandade, pois faz parte do mistério que, desde o Self, se revela na consciência do indivíduo.
Alguns pacientes se resistem à linguagem simbólica e aos sonhos, consciente ou
inconscientemente, muitos dizem não se lembrarem dos sonhos ou não vêm a importância
deles no processo, mas para Jung (2017a, p. 54) “os sonhos são uma fonte importante de
conteúdo do inconsciente”. O respeito à linguagem do sagrado não é uma mera imposição
ritualista, mas uma ampliação da consciência que se abre ao inconsciente, àquilo que num
primeiro momento parece incompreensível, mas logo se revela cheio de significado.

2.3 Simbolismo sagrado do ministro no processo analítico


Na consagração, o sacerdote atua in Persona Cristi9, e aqui se revela outro grande
mistério da missa. Não é apenas a transformação do pão e do vinho, mas o próprio sacerdote
revestido da autoridade divina atua na Pessoa de Cristo. Por isso, ao concluir as palavras
consagratórias, o sacerdote com o pão elevado diz: “hoc est enim Corpus meum”10, depois
com o cálice em suas mãos, diz “hic est enim Calix Sanguinis mei” 11. As palavras do
sacerdote não se referem ao corpo e sangue de Cristo em terceira pessoa, mas ele diz ‘meu
Corpo’ e ‘meu Sangue’ referindo-se a si mesmo como o Cristo em pessoa.
Sobre isso, Jung (2016a, p. 25), concordando com Duns Scotus (1308), observa que
“Cristo quis expressamente oferecer-se como vítima, em cada missa, por intermédio do
sacerdote. Isto significa, sem a menor dúvida, que o ato sacrificial não é executado pelo
sacerdote, mas pelo próprio Cristo”. O verdadeiro Sacerdote da missa é sempre Único, não
importa quem seja, nem onde se celebra, será sempre Cristo o Sacerdote de sua missa. O
sacerdote não tem poderes mágicos para transformar pão e vinho em Corpo e Sangue. Como
adverte Jung (2016a, p. 65), “qualquer preponderância do aspecto mágico do rito aproxima-o
da sede egoística de poder, puramente humana, ou mesmo infra-humana, desfazendo assim a

9
Tradução: Na pessoa de Cristo. Na doutrina católica durante a consagração não é mais o sacerdote quem atua,
mas é o próprio Cristo que revive sua Última Ceia.
10
“Este é o meu corpo”.
11
“Este é o cálice do meu sangue”.
24

unidade do Corpus Mysticum da Igreja”, somente Aquele que é imolado é também o


verdadeiro Ministro do altar.
A realidade simbólica deste ato é dificilmente comparável a qualquer ação humana,
unicamente aceitável pelo ato de Fé que caracteriza todo mysterium. Apesar dessa distância, e
conservando a sacralidade da visão teológica do ato litúrgico, há uma vivência no processo
analítico que se assemelha ao que aqui foi narrado. Segundo Jung (2017a, p. 69), também “o
problema de transferência ocupa um lugar central no processo dialético da psicologia analítica
e merece, portanto, uma atenção toda especial”.
O confronto, no processo analítico, entre paciente e analista tem um clímax delicado,
que leva o analista a um alto grau de realização moral e onde o ele “se verá obrigado a
diminuir a distância entre eles (até então necessária em razão da autoridade profissional) até o
ponto em que ela lhe permita ver a humanidade de que o paciente necessita” (JUNG, 2017a,
p. 70). A distância entre paciente e terapeuta se tornam cada vez menor ao ponto de correrem
o risco se confundirem neste processo. O terapeuta é então testado em sua autoridade e, para
Jung (2017a, p. 70) “quem não consegue arriscar sua autoridade certamente vai perdê-la” e
todo processo poderá perder-se.
Quando esse processo é vivido como mysterium tremendum et fascinans, o terapeuta
reconhece sua enorme responsabilidade em viver a sacralidade do ritual analítico como um
mero sacerdote, cujo poder ultrapassa suas forças, ao mesmo tempo, o paciente se reconhece
como único e verdadeiro terapeuta em todo esse processo. A cura do paciente não vem do
terapeuta, mas foi preparada, elaborada e consumada sempre dentro de si. E, neste momento,
é quando o analista deve reconhecer-se como apenas um ministro do processo terapêutico, sob
o risco de assumir a persona do Salvador e identificar-se com ela de tal forma que clame para
si, de forma arrogante e sacrílega, os poderes de cura.
Também no rito da missa pode haver essa tentação. O sacerdote que, revestido do
poder divino, atua in Persona Cristi, pode confundir-se com o próprio Cristo e atrair para si a
fé dos fiéis. Este sacrilégio, quando não for desmascarado, pode custar a condenação de
muitas almas. Também o analista, quando assume a persona do salvador, não o faz sem um
alto preço para as psiques de seus pacientes, os quais já não trilham o caminho da
Individuação, mas da alteridade diabólica, na Identificação com a figura do terapeuta, não
com a Imago Dei.
A missa, enquanto símbolo de transformação, aponta, em cada um de seus ritos, para a
transformação redentora por meio do sofrimento. Na missa os fiéis vão ao encontro da Paixão
de Cristo, por meio da qual serão justificados. O encontro com o sacrifício redentor de Cristo
25

deve levar os fiéis ao arrependimento cada vez maior de seus pecados, para que alcancem,
pelos méritos da paixão e morte de Cristo, a salvação eterna. Desta forma, o confronto com a
dor não deixa de ser um confronto com as nossas sombras, condição necessária para um
autêntico processo que visa à Individuação. Assim, pode-se dizer que há um paralelo
simbólico muito importante entre o processo analítico e o ritual litúrgico da missa como
símbolo de superação da dor.
26

CAPÍTULO 3
A MISSA COMO SÍMBOLO PSICOLÓGICO DE SUPERAÇÃO DA DOR

“O Concílio Tridentino explicou que idem ille Christus continetur et incruente


immolatur12 no sacrifício da missa embora não haja aí uma repetição do sacrifício histórico, e
sim uma renovação incruenta dele” (JUNG, 2016a, p. 26), com essas palavras Jung relembra
que a missa é a vivência incruenta do Calvário de Cristo e do Sacrifício da Cruz. Toda missa é
um novo calvário, portanto, toda missa está eternamente unida ao sacrifício supremo de Deus
que se fez Homem e morreu pelos homens. Segundo o papa João Paulo II (Salvifici Doloris,
n. 19), “na Cruz de Cristo não só se realizou a Redenção através do sofrimento, mas
também o próprio sofrimento humano foi redimido. O Redentor sofreu com e em favor do
homem”.

3.1 O mistério da dor e do sofrimento como símbolos sagrados


Seguindo a proposta deste trabalho, que é a análise da psicologia junguiana na
contemporaneidade e o simbolismo da transformação na missa, faz-se necessário tocar um dos
pontos mais sensíveis do coração humano: o mistério da dor e do sofrimento. Não há
nenhuma pretensão teológica, que ultrapassa em muito o propósito dessa obra, e o próprio
Jung (2016a, p. 63) afirma sobre sua análise psicológica da missa que “como método, tal
maneira de proceder não significa uma avaliação dos conteúdos da fé”.

12
É o próprio cristo que está contido e é imolado incruentamente. Sessão XXII. H. DENZINGER. Enchiridion,
1921, p. 312
27

No entanto, a análise psicológica da missa passa pela análise do sofrimento e do


sacrifício. Segundo Ratzinger (2015, p. 29), “o sacrifício assume, então, a forma da cruz de
Cristo, do amor que se doa na morte. Cada culto é agora participação nessa Pessach de Cristo,
nessa sua ‘passagem’ do divino para o humano, da morte para a vida, para a unidade de Deus
e homem”.
A missa é um ritual sacrificial incruento, “incruente immolatur!” (JUNG, 2016a, p.
85). Ou seja, para além das aparências da celebração festiva da Cena Domini13, está a cruel
realidade da Paixão e Morte de Cristo. Seu sofrimento foi real, não apenas físico, mas também
psicológico ao ponto de fazer com que Ele, ainda em oração no Calvário, antes de toda tortura
física, suasse gotas de sangue. Só um sofrimento psíquico muito grande poderia explicar tal
fenômeno. Também no processo analítico, apesar da aparência de passividade, há um
processo cruento que ocorre no íntimo do paciente, com seus diversos conflitos interiores.
Uma luta que desperta as forças adormecidas no inconsciente, uma verdadeira batalha no
interior de quem se submete voluntaria e autenticamente ao processo. A individuação também
é um processo de morte, um processo alquímico que deve passar pela nigredo para cumprir
sua transformação.
De uma forma surpreendente, Jung discorre sobre o duplo aspecto de Deus e Homem-
Deus em Cristo, sem os quais o mistério eucarístico não seria possível. Sendo Deus, é eterno e
sempre atual, mas impassível ao sofrimento. Sendo verdadeiro Homem, é capaz de padecer e
seu sofrimento é realmente dor, mas é mortal. Portanto, a cruz de Cristo não foi um mero ato
simbólico ou ilustrativo do seu sofrimento, mas uma realidade psicológica inegável. Ele
padeceu e morreu na cruz, abandonado pelos seus, sentiu o abandono profundo até mesmo do
seu Pai: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” (Mt 27, 46). Jung (cf. 2016a, p. 67)
aponta também essa aparente contradição psicológica entre o Verdadeiro Deus e Verdadeiro
Homem que se sente abandonado por Deus Pai. Sendo Deus, sente-se abandonado por Deus.
O sofrimento, quando intenso e prolongado, é capaz de abalar tão profundamente a
psicologia do indivíduo que ele se sente só, abandonado por todos, incapaz de encontrar na
racionalidade um refúgio reconfortante, até a morte passa a ser uma opção desejável. O
sofrimento não atinge apenas a dimensão física do indivíduo, de fato, muitos casos de suicídio
nada têm a ver com a dor corporal. Em alguns casos, infligir-se dores no corpo, como a
automutilação, parece até mesmo aliviar uma dor anímica ainda mais profunda. A dor se torna
real sofrimento quando alcança também a interioridade, atingindo a dimensão espiritual e
moral.
13
“Ceia do Senhor”.
28

A dor, quando permanece na extensão do corpo, como sintoma, pode ser, e


frequentemente é, delegada aos medicamentos e técnicas mais ou menos eficazes de alívio
temporal, mas quando ela se torna constantemente presente na vida do sujeito, o lança para
dentro de si e o leva a questionar intimamente a realidade de sua existência, adentrando a
dimensão espiritual, e pedindo uma resposta que toca o Ego em sua essência.

3.2 A dor e o sofrimento como caminhos para sagrado


“De profundis clamavi a te, Domine14. Esta confissão nos mostra duas coisas: o estar
longe e o estar perto, o extremo obscurecimento e, ao mesmo tempo, o fulgor da centelha
divina” (JUNG, 2016a, p. 68). No sofrimento, o Ego é lançado pelo inconsciente para dentro
de si em busca do Si-mesmo, daquela realidade que dê sentido à sua existência. Um paradoxo
da maiêutica do sentido: buscar dentro de si o sentido para sua própria vida sem sentido. A
longa jornada do herói aceita o sofrimento não como atitude masoquista, mas com a
consciência de que só assim se consumará sua missão, como Cristo na cruz que, só ao final de
sua jornada, pôde constatar “consummatum est” (Jo 19, 30).
O homem primordial, o “τέλειος ἄνθρωπος” (JUNG, 2016a, p. 92), torna-se sujeito do
sofrimento e experimenta o mal que habita no sofrimento, na dor, na tristeza, na desilusão, no
abatimento, até o ponto do desespero. O sofrimento levanta também o dilema da existência de
um “Deus Summum Bonum” (Cf. JUNG, 2018c, p. 74). Será compatível a ideia do Sumo Bem
e do sofrimento inocente? Na liturgia esta dicotomia parece encontrar uma unificação, pois a
sombra do sofrimento é integrada no rito sagrado à alegria da comunhão. “O felix culpa quae
talem et tantum meruit habere Redemptorem”15 assim canta o Exsultet da liturgia do Sábado
Santo inspirada por Tomás de Aquino (1274). O sofrimento do Redentor se une em perfeita
comunhão à alegria da Redenção.
O pão e o vinho, frutos da terra e do trabalho humano, não mais são apresentados
como o fruto do sofrimento e do castigo pelo pecado, mas como possibilidade de redenção
pelos pecados, como Hóstia santa e imaculada. O paciente, sobretudo aquele que traz consigo
uma extensa memória de seus sofrimentos, ao se aproximar do analista, o faz como quem
apresenta oferendas para serem transformadas em alegria e em paz. “A oferenda é simbólica,
isto é, diz respeito a tudo quanto se acha expresso no símbolo; diz respeito ao produto físico, à
substância preparada, bem como ao desempenho psicológico do homem e ao princípio vital
de natureza demoníaca inerente às plantas cultivadas” (JUNG, 2016a, p. 71). Tudo é oferenda.

14
Do latim: “Da profundeza clamei a Ti, Senhor”.
15
Do latim: “Ó culpa feliz, que nos mereceu tão grande Redentor” (Exsultet do Pregão Pascal)
29

Como no processo analítico, tudo é material psíquico e pode ser trabalhado e desenvolvido
dentro do processo terapêutico, “aquilo que se sacrifica sob as figuras do pão e do vinho é, em
poucas palavras, a natureza, o homem e Deus, reunidos na unidade do dom simbólico” (idem,
p. 71).
No sofrimento, o ser humano é capaz de oferecer tudo, inclusive a própria vida. Uma
das justificativas da eutanásia e do suicídio é justamente o sofrimento, diante do qual tudo
perde o valor, até mesmo a vida, mas a vida humana já não é um sacrifício aceitável pelo
ritual da missa. Uma e única foi a Vida oferecida de uma vez por todas no sacrifício
eucarístico e nenhuma mais será aceita como oferenda perfeita. Somente Cristo, num ato
supremo, pôde entregar sua vida, e com ela toda a humanidade e a divindade, para a redenção
da primeira e a glorificação da segunda.
Jung (2016a, p. 72) compreende a dificuldade desta realidade e adverte: “encontramos
também da parte do sacrificante uma realidade psicológica complexa: o símbolo é Cristo, que
é ao mesmo tempo sacrificador e sacrificante”. No início dos processos analíticos,
frequentemente os pacientes se sentem simbolicamente sacrificados e martirizados em sua
inocência e, à medida em que o processo avança, eles se descobrem também como
sacrificadores de si, culpados por seu próprio processo de adoecimento, mesmo quando, em
realidade, não existam culpados pelos sofrimentos. O processo de Individuação, como o
mistério da cruz, não admite culpados. O pecado que levou Cristo ao sacrifício de si mesmo
não é um único ato individual, mas o coletivo dos pecados de toda humanidade. Assim, no
processo de Individuação não está presente apenas a inconsciência do sujeito, mas todo o
inconsciente coletivo. Não se trilha o caminho da individuação apenas para integrar a sombra,
nem mesmo para vencer o próprio pecado. A individuação é sempre um processo cósmico que
transcende o sujeito, afeta gerações e lança luz em toda sociedade.
Não há, portanto, um culpado, mas deve sim haver um sujeito disposto a aceitar esse
sofrimento que recai sobre si com a heroica missão de trazer à Consciência os conteúdos
simbólicos escondidos no seu sofrimento. Quando isso acontece, acontece também o milagre
da redenção. A Consciência daquele que sofre se ilumina, e com ela toda humanidade recebe
dessa luz, assim como toda humanidade partilha, consciente ou inconscientemente, dos
sofrimentos alheios. Não há sofrimento que seja tão particular que não se torne herança para a
humanidade, nem há redenção particular que não redima também o coletivo. “Nossa psique se
estende além dos limites de nossa consciência”, diz Jung (2016a, p. 73) e tudo o que em nós é
inconsciente se estende de forma inconsciente também para o mundo, inclusive nossas dores e
sofrimentos.
30

3.3 A superação da dor e do sofrimento é a aceitação simbólica da totalidade


No sofrimento pessoal se esconde a dor da humanidade. Ainda que a tentação seja
sempre de considerar o sofrimento como meu sofrimento, como minha dor, na verdade, a dor
e o sofrimento atingem toda a humanidade. Estão presentes e se tornam presentes no
inconsciente coletivo. A dor oculta nos campos de concentração, o sofrimento de cada
escravo, de cada pessoa abusada, de cada enfermo é sempre um sofrimento que toca a
humanidade de todos e de cada um dos indivíduos, por isso, não pode e não deve ficar
silenciado. Da mesma forma, a celebração eucarística é sempre um ato comunitário; mesmo
quando celebrado em particular pelo sacerdote, ele sempre o faz na presença da Igreja,
Corpus Mysticum Christi, e não há parte do Corpo Místico na qual Cristo que não sofra,
quando um de seus membros padece. Também os pacientes, quando se livram da natureza
egoística da dor, e se abrem para a Totalidade, passam a ver não o seu sofrimento, mas através
do sofrimento.
Em cada minúscula parte da hóstia consagrada está o Cristo Total, e a Totalidade de
Cristo se expressa em todas e em cada uma de suas partes.
De um ponto de vista psicológico, Cristo representa, enquanto
homem primordial (Filho do homem, Adam secundus, τέλειος ἄνθρωπος),
uma totalidade que ultrapassa e envolve o homem comum, e corresponde à
personalidade total, que transcende o plano da consciência. Como já indiquei
anteriormente, chamei essa personalidade de si-mesmo. (JUNG, 2016a, p.
92)

Quando o paciente se permitir entrar em sua dor, dentro de um ritual terapêutico, não
mais é a cura o que importa. Normalmente há um desejo de fugir da dor, eliminá-la o quanto
antes, mas esse gesto se assemelha a um ato profano de negação do mistério numinoso que
envolve a dor. Do ponto de vista teológico, não há redenção sem sofrimento; poder-se-ia
dizer, também, que do ponto de vista psicológico não há individuação sem dor.
A dor aponta para o caminho, é um componente de sublimação do ser humano, e
“assume até mesmo um aspecto de cura” (JUNG, 2016a, p. 90), mas a cura não é o objetivo
principal do processo, o objetivo é a transcendência do individualismo e a abertura para a
Individuação. A dor, mesmo a dor física, constitui uma participação mística nos mistérios que
identificam a alma do fiel com o Cristo místico e sofredor. Esta identificação conduz a alma
para sua realização na sublime Transformação, a qual “transcende o plano da consciência” e
alcança o Si-mesmo, ou seja, a totalidade. “Por isso, a missa pode ser classificada como um
rito de processo de individuação”, segundo Jung (2016a, p. 92). Ou ainda:
31

A missa visa conduzir a uma participation mystique16 e,


consequentemente, uma identificação do sacerdote e da comunidade com
Cristo, isto é, por um lado, a uma assimilação da alma a Cristo e, por outro, a
uma interiorização da figura de Cristo na alma. Trata-se de uma
transformação ao mesmo tempo de Deus e da alma, mediante a repetição
(pelo menos alusiva) de todo o drama da encarnação na missa. (JUNG,
2016a, p. 92)

Portanto, a dor deve ser superada, mas isso não significa ser eliminada. Ela é superada
como no rito da missa, onde o processo não visa à cura do sofrimento, pelo contrário, por
meio da dor, se chega à transcendência. Da mesma forma no processo analítico, “para o
iniciando, seria um verdadeiro pecado se ele se subtraísse às dores da iniciação” (JUNG,
2016a, p. 90), é necessário superar o sofrimento adentrando nele, não fugindo dele. Isso não
significa intensificar a dor, mas simbolicamente penetrar e ampliar o sentido dele na vida do
paciente. Como diz João Paulo II (1984, n. 27): “mais do que qualquer outra coisa, o
sofrimento é aquilo que abre caminho à graça que transforma as almas humanas. Mais do que
qualquer outra coisa, é ele que torna presente na história da humanidade as forças da
Redenção”.
Parece paradoxal que a totalidade se expresse na fraqueza humana, mas o paradoxo é
apresentado por Jung (2016a, p. 94) como uma das características do mistério onde “há mais
preocupação com o incognoscível do que com a clareza, a qual retiraria ao mistério seu
aspecto obscuro, tornando-o assim conhecido” o que seria “uma usurpação que leva o
intelecto humano ao orgulho”. Esta mesma realidade paradoxal é muito conhecida pelos
cristãos que vêm na loucura da Cruz o caminho da Redenção.
Querer eliminar o sofrimento sem adentrar em seu mistério é uma tentação do orgulho,
tanto do analista, quanto do paciente, mas "Deus resiste aos orgulhosos, e dá sua graça aos
humildes" (Tg 4, 6). A humildade é fundamental no processo analítico. Sem humildade diante
dos movimentos do Inconsciente e do Si-mesmo, não é possível levar o processo a seu fim
último, à Comunhão plena com a Imago Dei no indivíduo. Só na humildade e na sua fraqueza
o paciente pode alcançar a Imitatio Christi17, segundo Jung. Ou, como diz São Paulo: “já não
sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 19).

16
Participation mystique. Termo que provém de Lévy-Bruhl, significa uma espécie singular de vinculação
psicológica com o objeto. Consiste em que o sujeito não consegue distinguir-se claramente do objeto, mas com
ele está ligado por relação direta que poderíamos chamar identidade parcial. Esta identidade se baseia numa
unicidade apriorística de objeto e sujeito. A participação mística é, portanto, um resíduo desse estado primitivo.
Não atinge o todo da relação sujeito-objeto, mas apenas certos casos em que se manifesta o fenômeno dessa
relação peculiar. A participação mística é naturalmente um fenômeno que melhor se pode observar nos
primitivos; mas também é encontrável com frequência entre os civilizados, ainda que não com a mesma extensão
e intensidade. (JUNG, 2015, nota 856)
17
Do latim: Imitação de Cristo. (JUNG, 2016a, 113)
32

No processo analítico, essa aparente possessão da divindade poderá se manifestar de


diversas formas, o importante é a humilde submissão ao querer divino, que conduz o paciente
e o analista ao caminho da superação da dor, não como um processo mágico, mas como um
processo de iluminação da consciência e dos aspectos sombrios que estavam escondidos atrás
das aparências do ego. A aceitação desses aspectos, agora iluminados pela consciência,
conduz o paciente à integração daqueles aspectos do Si-mesmo rejeitados e reprimidos no
inconsciente, e que agora integram a totalidade do seu ser e, consequentemente, o alívio da
dor.
33

CONCLUSÃO

Como apresentado durante todo esse trabalho, é impressionante a narrativa de Jung


sobre o símbolo da transformação na missa. Mesmo ele não sendo católico, dedica um livro
inteiro a explicar a importância psicológica do rito missa. Este fato por si mesmo já revela a
importância simbólica que esse ritual pode ter dentro do processo analítico, ainda mais em um
país como o Brasil, no qual 65% da população 18 se diz católica de rito romano e mais de 80%
da população alegam seguir os ensinamentos de Cristo. Este trabalho se insere justamente
dentro do esforço de ampliar as possibilidades terapêuticas, incluindo os importantes
simbolismos cristãos presentes na missa.
O cristianismo faz parte não apenas do inconsciente coletivo, mas da realidade diária
de muitos brasileiros, motivo pelo qual esse tema é ainda mais relevante, sobretudo porque há
uma natural resistência dessa população diante dos tratamentos psicológicos e ainda mais do
ponto de vista analítico e junguiano. Este trabalho se orientou também pela abertura de Jung
para as diversas culturas, como uma das principais características do seu legado, e que serviu
como bússola e encorajamento para as reflexões que aqui foram feitas sobre seu livro O
símbolo da transformação na missa.
Sendo assim, este trabalho também é relevante para aqueles analistas que não
conhecem a fé católica e que se encontram alheios ao dinamismo da missa e que, no entanto,
possuem pacientes católicos, para que eles possam encontrar um apoio em seu trabalho de
ampliar simbolicamente este ritual dentro da clínica. Durante a exposição, fica claro que a
missa é um ritual sagrado profundamente unido ao mistério da dor, não apenas física, uma vez
18
Fonte: IBGE, 2010.
34

que Cristo como Homem verdadeiro padeceu no seu corpo, mas também do sofrimento
espiritual e psíquico, porque também Cristo, Filho de Deus, sofreu pelos pecados de toda
humanidade.
No rito da missa estão simbolicamente presentes diversos elementos que fazem parte
do processo analítico, a começar pela figura central da missa: Cristo. Jung (cf. 2016a, p. 100)
mais de uma vez retrata o Cristo como símbolo da Totalidade, do si-mesmo, do centro e da
transcendência. Portanto, mesmo fora da fé cristã, Cristo também toma uma dimensão muito
importante dentro do processo analítico e do simbolismo psicológico. Na missa, Ele é, ao
mesmo tempo, Sacerdote e Vítima, ou seja, Cristo é a Vítima que se sacrifica porque também
é o Sumo Sacerdote. Também o paciente se percebe nesta árdua tarefa de ser ele o único sumo
sacerdote capaz de realizar o sacrifício verdadeiro de si mesmo. Por melhor que seja o
analista, apenas o paciente tem o poder de realizar sua transformação.
E como foi amplamente demonstrado, durante a missa não ocorre uma simples
transformação do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Cristo. O processo de
transubstanciação é um ato divino que necessita da colaboração humana. Do mesmo modo, o
que ocorre no interior do paciente durante o processo analítico não é mérito da sabedoria ou
do trabalho humano, estes atuam apenas como causas instrumentais, mas o verdadeiro agente
dessa transformação supera em muito as capacidades do analista e do paciente. É somente na
abertura para a Totalidade que a transformação pode acontecer e a Individuação se torna
possível.
Por outro lado, foi demonstrado que a missa, enquanto símbolo, é também
possibilidade de transcendência, e abre o caminho para a redenção da dor humana.
Lembrando sempre que a missa é um ritual sagrado, portanto, essencialmente aberto à
Totalidade. A dor não tem significado se estiver fechada em si mesma. Isolada dentro da
consciência egóica do indivíduo, a dor está fadada a se tornar um sofrimento cada vez maior e
mais incompreensível. Ao contrário, quando o indivíduo se abre para a totalidade de si-
mesmo e decide percorrer sua própria jornada interior na dialética analista, se abre também
para a possibilidade de transformação e de superação da dor. Mas não basta a decisão, da
mesma forma como ocorre em todos os processos alquímicos de transformação, também o
processo analítico tem seu ritual, sua dinâmica simbólica, que deve ser seguida
religiosamente, por isso, para Jung, era importante até mesmo manter as palavras da
consagração em sua língua original, o latim.
Quanto ao sofrimento, ele transcende a própria humanidade e revela um aspecto de
divino, ou demoníaco, que força o indivíduo a deter-se em sua jornada, força-o a prestar
35

atenção a si mesmo e a dar uma resposta ao seu sofrimento. Diante do seu próprio sofrimento,
ninguém pode ser indiferente. Dessa mesma forma, o ritual sagrado da missa força o
indivíduo a uma pausa contemplativa diante do Sacrifício de Deus feito homem. Só um
sacrifício supremo pode se comparar ao sofrimento pessoal. Ninguém pode compreender a
totalidade do sofrimento do outro. Ele permanece sempre um mistério diante dos olhos
alheios, da mesma forma como o sacrifício eucarístico é, e será sempre, um mistério diante
dos olhos atentos dos fiéis.
Muitas vezes, diante do sofrimento apresentado pelo paciente, a única resposta válida
que sai do interior do mais experiente analista é um silêncio contemplativo e reverente. Às
vezes, o silêncio é o mais digno gesto para acompanhar a dor e o sofrimento alheio. Não raro
o analista se vê limitado em suas capacidades, não tem respostas aos clamores e anseios dos
pacientes, e reconhecer-se limitado é justamente o maior tributo que se pode fazer diante do
mistério sagrado do sofrimento. O que está para acontecer ali é algo divino e, portanto, supera
paciente e analista em suas capacidades. Como na missa, durante a consagração das
oferendas, o sacerdote já não atua segundo as suas potencialidades, mas atua in Persona
Christi. Cristo toma a ação santificadora das oferendas. Somente quando o processo analítico
se abre para a ação da Totalidade, também do que é inconsciente, é quando ocorre a
possibilidade da verdadeira transformação, da transcendência da dor no processo de
Individuação.
O analista não é a causa dessa transformação, é mero instrumento nas mãos do
verdadeiro Artífice da transformação. O paciente, iniciado nos mistérios sagrados pelo
analista, deve celebrar sua própria missa, viver seu próprio calvário, aceitar sua cruz e encarar
valentemente sua própria sombra. A cruz se torna o Nous, o Logos, o Caminho, a Porta de
passagem para a Totalidade (cf. JUNG, 2021a, p. 101). Não há missa sem aceitação voluntária
da cruz e, com ela, dos pecados de toda a humanidade que deverão ser superados no ato
supremo da Redenção. Também no processo analítico, o paciente sente o peso da cruz, às
vezes insuportável. Frequentemente, ele gostaria de dividir ou até mesmo entregar ao analista
a responsabilidade por sua cruz, mas a cruz é intransferível. Cada um é sacerdote de sua
própria transformação, e sua cruz é portal para a redenção e para a cura.
Cada parte do rito da missa revela o mistério escondido atrás do sofrimento humano,
não daquele sofrimento abstrato e metafísico, mas do sofrimento encarnado na vida de cada
paciente que se apresenta no consultório necessitado de ajuda. Portanto, a pergunta inicial
deste trabalho encontra uma resposta afirmativa dentro do processo de análise proposto por
Jung. Não apenas é possível, como se abre uma grande oportunidade de trabalhar com
36

eficácia a superação da dor e dos sofrimentos físico e psíquico a partir do simbolismo do rito
sagrado da missa dentro do processo analítico.
Certamente não é a única via de acesso ao simbolismo sagrado do sofrimento, mas,
sem nenhuma dúvida, devo concordar com o próprio Jung (cf. 2016a, p. 116) ao dizer que “a
missa é a soma e a quintessência de uma evolução que durou milhares de anos”, por isso, é
importante não privar o paciente, quando a fé deste o permite e, por vezes até exige, de que
ele seja guiado pela Via Dolorosa que conduz à Imitatio Cristi19 e à superação do sofrimen
to; não pela negação, nem pela fuga da dor, mas pela aceitação, pelo confronto e pela
sublimação da dor como um processo redentor de encontro com a própria sombra e de
abertura à Totalidade.
A fuga desesperada da dor e o silenciamento medicamentoso imposto aos sintomas
têm privado a humanidade de uma bela jornada de crescimento psíquico e espiritual. Não que
a dor não deva ser aliviada sempre que possível, mas o que se apaga com o uso
indiscriminado de medicamentos não é apenas a dor, e sim o sentido dela na vida humana.
Qualquer ser humano entende, no mais íntimo do seu interior, que somos capazes de conviver
com a dor, mas nunca com a falta de sentido. Uma vida sem transcendência e sem sentido não
é vida humana, é apenas sobrevivência. Todavia, o processo analítico não se trata de
proporcionar uma sobrevivência, mais ou menos confortável, para seu paciente. Pelo
contrário, trata-se de conduzi-lo ao encontro de sua real essência. É um processo doloroso,
mas também glorioso. Uma transformação substancial que passa paradoxalmente pela morte
para que possa encontrar a verdadeira vida.
"Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica
só; se morrer, produz muito fruto" (Jo 12, 24).

19
Do latim: Imitação de Cristo.
37

REFERÊNCIAS

A BÍBLIA de Jerusalém, São Paulo: Sociedade Bíblica Católica Internacional, 1994.

BONAVENTURE, Léon. Psicologia e vida mística, Petrópolis: Vozes, 1996.

FEUERBACH, Ludwig. A Essência do Cristianismo. Petrópolis: Vozes, 2007.

FRANCISCO, Papa. Evangelii Gaudium. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2013 in


https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-
francesco_esortazione-ap_20131124_evangelii-gaudium.html. Acesso em: 10 maio 2021.

IBGE, Atlas do Censo Demográfico 2010: Diversidade cultural.


https://censo2010.ibge.gov.br/apps/atlas/pdf/Pag_203_Religi%C3%A3o_Evang_miss
%C3%A3o_Evang_pentecostal_Evang_nao%20determinada_Diversidade%20cultural.pdf

JUNG, Carl Gustav. Estudos Alquímicos, Petrópolis: Vozes, 2003.

______ Tipos psicológicos, Petrópolis: Vozes, 2015.

______ O símbolo da transformação na missa. 7 ed. Petrópolis: Vozes, 2016a.

______ A vida simbólica, Vol. 1. 7 ed. Petrópolis: Vozes, 2016b.

______ Aion. Estudo sobre o simbolismo do si-mesmo. 10 ed. Petrópolis: Vozes, 2016c.

______ A vida simbólica, Vol. 2. 4 ed. Petrópolis: Vozes, 2017a.

______ O eu e o inconsciente. 27.ed. Petrópolis: Vozes, 2017b.

______ A Natureza da Psique. 10.ed. Petrópolis: Vozes, 2018a.

______ Psicologia e Religião, 11 ed. Petrópolis: Vozes 2018b.


38

______ Resposta a Jó, 10 ed. Petrópolis: Vozes, 2018c.

JOÃO PAULO II, Salvifici Doloris, Cidade do Vaticano, 1984.

LEWIS, C. S. O problema do sofrimento. São Paulo: Vida Livros, 2006.

MAGALDI FILHO, Waldemar. Dinheiro, saúde e sagrado: interfaces culturais, econômicas


e religiosas à luz da psicologia analítica. São Paulo: Eleva Cultural, 2009.

MARX K., ENGELS, F. Sur la religion (SR), Paris: Éditions Sociales, 1960.

NIETZSCHE, F. W., A Gaia Ciência. Rio de Janeiro: Schwarcz S.A, 2001.

STEIN, M. Psicanálise junguiana: trabalhando o espírito de Jung. Petrópolis: Vozes, 2019.

RATZINGER, Joseph, Introdução ao Espírito da Liturgia. 4 ed. São Paulo: Edições Loyola,
2015.

Você também pode gostar