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Universidade Católica de moçambique

Instituto de Educação à Distância

Trabalho De Campo

Tema: A Função Sociocultural da Religião em Moçambique

Nome: Vovota Landinho Saene Evaristo


Código do estudante: 708231092
Turma: U

Curso: Licenciatura em Administração Pública

Disciplina: História das Sociedades I


Ano de Frequência: 1º

Docente:
dr. Nelo Armando Verige Chele

Tete, Maio de 2023


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(Indicação clara do
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 Metodologia adequada ao 2.0
objecto do trabalho
Análise e Articulação e domínio do discurso 3.0
discussão académico (expressão escrita
cuidada, coerência/coesão textual)
 Revisão bibliográfica 2.0
nacional e Internacional
relevante na área de estudo
 Exploração dos dados 2.5
Conclusão  Contributos teóricos 2.0
práticos
Aspectos Formatação  Paginação, tipo e tamanho 1.0
gerais de letra, parágrafo,
espaçamento, entre linhas
Referências Normas APA  Rigor e coerência das 2.0
Bibliográficas 6ª edição em citações/referências
citações e bibliográficas
bibliografia
Folha para recomendações de melhoria: A ser preenchida pelo tutor
Índice
1. Introdução...................................................................................................................1

2. Objectivos...................................................................................................................2

2.1. Geral.......................................................................................................................2

3. Função Sociocultural da Religião em Moçambique...................................................3

3.1. Conceito da sociocultural........................................................................................3

4. Principais crenças e práticas religiosas em diferentes culturas em Moçambique......4

5. Rituais de cada uma das religiões na sociedade moçambicana..................................5

6. Importância que a religião tem tido no contexto das comunidades em Moçambique


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7. Metodologia..............................................................................................................12

8. Conclusão.................................................................................................................13

9. Referências Bibliográficas........................................................................................14
1. Introdução
O presente trabalho da cadeira de História das Sociedades I, irá debruçar sobre a Função
Sociocultural da Religião em Moçambique. Ao longo da história da humanidade, que é
também história da Igreja, enquanto chamada a acompanhar, a servir e a estar com a
humanidade em todas as épocas históricas e contextos geográficos e culturais, muito se
tem produzido e questionado sobre a presença e acção da Igreja nas nossas sociedades e,
sobretudo, nas sociedades mais jovens, o seu papel e o contributo que dela se espera.

Neste sentido, quando falamos do contributo da Igreja na promoção da paz e da justiça,


queremos, em primeiro lugar, sublinhar a importância de uma sociedade estável que
vive e caminha alicerçada nestes dois valores fulcrais e indispensáveis para o
crescimento, convivência e uma cultura de fraternidade. Por outro lado, pretendemos
sublinhar a importância que a Igreja tem na construção de uma nova sociedade
moçambicana onde todos podem conviver como irmãos, onde a diferença cultural,
religiosa ou linguística não constitui um obstáculo para as relações e para o
desenvolvimento dos moçambicanos e de cada um em particular.

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2. Objectivos
2.1. Geral
 Conhecer a Função Sociocultural da Religião em Moçambique.
2.2. Específicos
 Reflectir sobre as principais crenças e práticas religiosas em diferentes
culturas em Moçambique;
 Descrever os rituais de cada uma das religiões na sociedade moçambicana;
 Falar sobre a importância que a religião tem tido no contexto das
comunidades em Moçambique.

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3. Função Sociocultural da Religião em Moçambique
3.1. Conceito da sociocultural

“A Sociocultural é qualquer processo ou fenómeno relacionado com os aspectos sociais


e culturais de uma comunidade ou sociedade” (Abbink, p.83-106).

Desta forma, um elemento sociocultural tem a ver exclusivamente com as realizações


humanas que podem servir tanto para organizar a vida comunitária como para dar-lhe
significado.

Barkun (2013), ao referir-se da cultura:


A cultura na compreensão sociológica, é o que molda as relações humanas numa
determinada sociedade, ou modo de convivência de um povo ou de uma determinada
sociedade, podendo ser estática, na medida em que ela se impõe ao homem e molda-o,
iniciando-o à vida social (p. 55-69).
A cultura é um modo próprio de expressão de um grupo humano e tudo aquilo que um
indivíduo ou grupo humano deve saber ou crer para agir de modo aceitável aos outros
membros, seus semelhantes, bem como um conjunto de traços identitários e distintivos
que caracterizam uma determinada sociedade e a distingue das outras, tanto na sua
dimensão material, espiritual, intelectual, afectiva, etc.

Portanto, a cultura dá ao homem a capacidade de pensar sobre si mesmo e compreender


a sua dimensão específica, singular, de pertença a um grupo, das suas responsabilidades,
direitos e deveres no meio ambiente em que está inserido.

“Na relação entre Homem e cultura, o homem não é apenas o artífice da cultura, mas é
também o principal destinatário, daí que a cultura deve contribuir para a realização do
ser humano na sua dimensão mais ampla” (Vines, 2019).

De facto, a Igreja é chamada a mergulhar profundamente na cultura e vida concreta do


povo, para que a sua acção missionária continue a responder aos anseios concretos e
verdadeiros da humanidade. Aliás, como destinatários da acção missionária da Igreja, é
necessário que a Evangelho os leve à comunhão pessoal com Deus e com o mundo,
mediante uma identificação com a Palavra anunciada e recebida, pela transformação
pessoal, comunitária e até uma purificação cultural.

Em Moçambique, o encontro entre o Evangelho e a cultura, ou talvez a identificação, ou


ainda se quisermos, a relação entre o Evangelho e a cultura, não foi um processo fácil
de se estabelecer, olhando para a grande diversidade das manifestações culturais que
se
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verificam dentro do mesmo país. Aliás, é mais que certo e provado que é impossível
falar de uma cultura moçambicana, senão em culturas moçambicanas, nas suas
manifestações mais diversas.

Portanto, esta diversidade constituiu em parte um obstáculo na eficácia dos meios


missionários, pois o que por um lado poderia ser expresso de um modo, por outro
deveria ser e constituir um desprezo, cultural para outros, dentro do mesmo país. Ou
seja, não se trata apenas de ser diferente, mas sobretudo de ser e ter uma justificação e
interpretação completamente contrária.

A Igreja, verdadeiramente missionária por sua natureza e enviada por Cristo, respeita e
promove a cultura de cada povo, quando promove o ser humano e a sua dignidade. Ela
oferece o Evangelho, sem destruir o que há de bom e de belo, reconhece os valores
culturais positivos e, por meio do Evangelho, purifica o que de menos positivo existe,
purificando e introduzindo no culto cristão alguns elementos da cultura do povo.

Portanto, se por um lado a Igreja tem como missão levar Cristo ao povo e não a uma
cultura ou raça, por outro lado é pelo poder do Evangelho que a cultura se deve deixar
penetrar e transformar.

4. Principais crenças e práticas religiosas em diferentes culturas em


Moçambique

Segundo Procopiuck (2013), refere que “uma crença religiosa é sempre uma crença
reflexiva, não há uma contraparte empírica que exerça autoridade para que tais crenças
sejam corrigidas e ajustadas ao contexto”.

As crenças religiosas são interpretações de representações em graus elevados o que


permite com que sejam flexíveis a variadas interpretações. Moçambique ocupa uma área
de 801.590 quilómetros quadrados e tem uma população de 27.909 milhões.

De acordo com o censo de 2017, 24% são católicos romanos, 22% são protestantes,
20% são muçulmanos, e ⅓ não professa qualquer religião ou crença; no entanto, os
líderes religiosos especulam que uma proporção significativa deste grupo pratica
alguma forma de religião indígena, uma categoria não incluída no censo de 2017.

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Os grupos cristãos incluem anglicanos, baptistas, membros da Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias (mormons), congregacionistas, metodistas, nazarenos,
presbiterianos, testemunhas de Jeová, católicos romanos, adventistas do sétimo dia, e
membros da Igreja Universal do Reino de Deus, bem como diversas outras igrejas
evangélicas, apostólicas, e pentecostais (Abbink, 2014).
As três principais organizações islâmicas são a Comunidade Maometana, o Congresso
Islâmico, e o Conselho Islâmico. Existem pequenos grupos judeus, hindus e bahai. As
comunidades religiosas encontram-se dispersas por todo o país. As províncias do norte
são predominantemente muçulmanas, particularmente ao longo da costa, enquanto as
áreas do interior no norte possuem uma concentração mais forte de comunidades cristãs.
Os cristãos são geralmente mais numerosos nas regiões do sul e centro, mas também
vivem muçulmanos nessas áreas.

Os muçulmanos relatam que a distinção entre Sunni e Shia não é particularmente


importante para muitos muçulmanos locais, e que é muito mais provável que os
muçulmanos se identifiquem com o líder religioso local que seguem do que como Sunni
ou Shia. Estas são diferenças significativas entre as práticas de muçulmanos de origem
africana e aqueles de origem do sul da Ásia.

Para além disso, os clérigos muçulmanos moçambicanos têm cada vez mais procurado
formação no Egipto, Kuwait, África do Sul, e Arábia Saudita, regressando com uma
perspectiva mais fundamentalista do que a tradicional local, do Islão suaíli inspirado
pelo sufismo, que é particularmente comum no Norte.
Muitas pequenas igrejas que se separaram das denominações principais fundem crenças
e práticas religiosas com um enquadramento cristão. Alguns muçulmanos continuam a
realizar rituais indígenas.

Em relação as praticas religiosas – entende-se como pratica religiosa cumprir com os


rituais que a religião solicita, como por exemplo: idas ao templo, orações, jejuns e
leitura da bíblia, no caso do cristianismo.
5. Rituais de cada uma das religiões na sociedade moçambicana

Luzia, (2016), ao se referir às sociedades mais simples “estaca o facto de que os ritos
considerados bárbaros, diferentes e bizarros, traduzem, em sua essência, necessidades
humanas aplicadas à vida social”.

Por mais simples que seja o sistema que vemos, nós reencontramos nele todas as
grandes ideias e todas as principais atitudes rituais que estão na base das religiões mais
avançadas:
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 Distinção das coisas em sagradas e profanas;
 Noção de alma, de espírito, de personalidade mítica, de divindade nacional e
mesmo internacional;
 Culto negativo com as práticas ascéticas que são sua forma exasperada;
 Ritos de oblação e de comunhão;
 Ritos imitativos;
 Ritos comemorativos;
 Ritos de expiação.
Baritussio (2015), ao se referir à importância dos rituais “aponta-os como solução a
alguns problemas sociais fundamentais, porque toda a condição humana1 é exposta aos
ritos e rituais”.

Por sua vez, o rito funciona como um conjunto de regras estabelecidas pelo culto, sendo
esse último a expressão colectiva de adoração e veneração de uma divindade; religião e
magia são fenómenos inventados pelos humanos numa tentativa de controlar o universo,
porque as religiões apresentam uma série de tabus irrecusáveis aos seus seguidores.
Luzia,
J. (2016).

Na religião, encontram-se práticas grupais e práticas individuais, das quais se destacam:


 A crença em seres sobrenaturais;
 A personificação de fenómenos naturais;
 O culto de antepassados;
 O medo dos sonhos, etc.
A religião pressupõe normalmente uma igreja, o que faz que a grande maioria das
práticas religiosas sejam práticas sociais ou de grupo (por exemplo as procissões, missas
e peregrinações do catolicismo tradicional); porém, não é raro que muitos devotos
mantenham uma relação individualizada com o sagrado através de orações e outras
formas.

Ao frequentar a missa e o culto, os fiéis estão assumindo os rituais executados na igreja


como uma narrativa repetitiva, que carrega o sentido de reforçar a memória de quem
participa e demonstra a naturalidade e gosto das pessoas ao participarem desse ritual.
De acordo com Baritussio (2015) afirma que, “os ritos e rituais diferentes para conviver
com situações naturais, entretanto, sentimentos tão inerentes e comuns a todos nós são
explicitados por meio de rituais de passagem da vida carnal para espiritual”.
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Outras significações são trazidas para os rituais por intermédio de tarefas, como danças
e adivinhações, lendas, enigmas, provérbios, sentenças e mitos. O que delega aos ritos
não apenas dor, como no caso de tatuagem, do piercing, dos alargadores de orelhas.

Por sua vez, os gestos e atitudes, por não serem aleatórios, obedecem a determinadas
regras e arranjos. Nesse sentido, o rito ultrapassa as barreiras sociais e invade o terreno
religioso e das crenças, ao se aproximar do culto.

Em Moçambique, um ritual comum é o Nza ku bonga, marcha e um gesto de


agradecimento a Deus por ter criado o homem. Ele acontece, normalmente, na Igreja
após receberem o Corpo de Cristo (Acção de Graças) ou em outros momentos sagrados.

Um dos rituais vividos na maioria das Igrejas Católicas é a Missa em Ação de Graças,
tais como as músicas entoadas para louvar e dar graças ao Ser Supremo, os cantos de
entrada, de louvor, ofertório e comunhão. Esses cantos podem ou não ser acompanhados
de dança.

Nos dois rituais citados, o significado contido em Nza Ku Bonga: Agradeço a Deus e o
Supremo e seus símbolos, o corpo de Cristo (hóstia) e o sangue/vinho e a promessa de
repetir o ritual da comunhão em nome D’ Ele, em memória D’Ele. Repetindo tais ritos
contidos no ritual da missa, os fiéis podem ser aceitos no Reino dos Céus, como reza a
liturgia católica.

Ertit (2018), ao mencionar aspectos litúrgicos da missa, afirma: “a missa se constitui no


momento privilegiado, ao mesmo tempo em que o mais tenso da Instituição Católica,
através do qual ela reafirma seus princípios e seu papel na sociedade” (p. 1-18).

Por tanto, são marcadas por ritos, como batismo, aniversários, casamentos, morte e
funeral. São cantos que aparentemente significam o lamento da morte. Numa cerimónia
desse tipo em Mapinhane, destacaram-se as capulanas, indumentárias próprias da
cultura. Por seu uso e as diferentes formas como as pessoas se relacionam com ela, a
capulana demonstra e revela uma maneira de ser de um povo peculiar e rico em
tradições.

Segundo Gorjão (2016), ao referir-se sobre os ritos:


Em Moçambique, os ritos de iniciação para uma mulher são condições para assumir seus
papéis na sociedade, os ritos de iniciação são como o baptismo cristão. Sem baptismo
todo o ser humano é pagão. Não tem direito ao céu. No sul, homem que não lobola a sua
mulher perde o direi to à paternidade, não pode realizar o funeral da esposa nem dos
filhos.

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Porque é um ser inferior, porque é menos homem. Filhos nascidos de um casamento
sem lobolo não têm pátria. Não podem herdar a terra do pai, muito menos da mãe.
Filhos ficam com o apelido materno.

Há homens que lobolaram os filhos e os netos já crescidos, só para lhes poder deixar
herança. Mulher não lobolada não tem pátria. É de tal maneira rejeitada que não pode
pisar o chão paterno nem mesmo depois de morta.

6. Importância que a religião tem tido no contexto das comunidades em


Moçambique

A religião é chamada a ser ao longo da história, sinal da presença de Deus no meio do


povo. Por outro lado, é missão da religião a promoção dos valores e direitos humanos
fundamentais, onde quer que seja e em qualquer época da história humana.

“Levar Cristo, é hoje, essencialmente, no contexto africano, moçambicano, em


particular, tentar compreender e mergulhar na realidade cultural do povo, nos seus
problemas e desafios, ser voz dos sem voz, o rosto dos sem rostos e lutar pela justiça”
(Orav, 2015 p. 1-8).

Na verdade, quando falamos da religião em Moçambique e do seu papel na construção


da paz, estamos a falar da presença e missão da religião, num país ferido pelas guerras
e injustiças sociais, pela pobreza originada pelos regimes políticos e por corrupções de
várias ordens, desde o regime colonial aos dias de hoje.

A dimensão religiosa do povo moçambicano insere-se no seu contexto originário e


cultural Bantu, um povo e cultura profundamente religioso, que crê na existência de um
só Deus e na mediação dos antepassados, vistos, não de forma supersticiosa, mas como
aqueles que, ainda que já mortos, pelo seu legado histórico, social, cultural e religioso,
continuam a acompanhar a vida do povo e influenciar no seu modo de pensar e agir
social.

A imagem que um bantu tem de Deus, além das categorias comuns de Omnipotente,
Omnisciente, o Invisível e Transcendente, é de um Ser sumamente Bom, Único e o
manancial de toda a bondade. É a força vital, na qual somos todos chamados a
reconhecer a nossa participação.

O povo bantu é profundamente religioso e monoteísta, acredita num só Deus, Criador


do Céu e da terra, de todas as coisas e de qual tudo depende.

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Neste sentido, sem influências políticas e económicas que alteram o agir social, sem o
egoísmo humano a impor-se sobre a ordem natural e cultural, o povo Bantu, do qual
pertence Moçambique, e por via da sua relação com Deus, da consciência da sua
filiação, é por sua natureza fraterno, hospitaleiro, onde a realização pessoal coincide
com a busca do bem comum.

Ou seja, para um bantu, a dimensão religiosa não se resume apenas à dimensão teórica
da relação com Deus, mas manifesta-se nas relações humanas e com a natureza. que
orienta o agir, bem como o compromisso e responsabilidade na promoção de uma
verdadeira convivência harmoniosa, onde todos e cada um, conforme a sua realidade
concreta e condição social, se possam sentir como membros da sociedade onde se
respeita a dignidade humana e onde se promove o bem comum, sendo o primeiro,
inquestionavelmente, o direito à vida e paz.

Olhando para a realidade africana no seu conjunto e para a moçambicana, em particular,


caracterizada por um profundo sofrimento, causado pela guerra colonial e civil, situação
que provocou milhares de mortos e empobrecimento social, aumento da corrupção e da
desigualdade social, é impossível separar, na missão da Igreja, o anúncio do amor de
Deus pela humanidade e a sua dimensão prática que se traduz na promoção do homem.

A religião, como Sinal e Instrumento de salvação, não é chamada apenas a opor-se


contra todas as formas de opressão ou de sofrimento, mas sim, direta ou indirectamente,
a evitar todas as formas ou tentativas de opressão, promovendo os direitos humanos
(Resende & Almeida, (2018), p. 43-63).
Neste sentido, é missão da Igreja, estabelecer pontes de diálogo e de reconciliação entre
as diversas camadas sociais, políticas e económicas, divididas pela guerra e pela
crescente onda de corrupção e pobreza.

É impossível que uma sociedade viva da justiça quando assistimos a tamanhas


desigualdades sociais. É impossível alimentar a esperança de uma sociedade melhor
quando, a cada dia parece estar tudo perdido.

A Igreja, em Moçambique, no período a seguir à independência nacional, enfrenta


vários desafios sociais, aos quais é chamada a dar resposta, desde o respeito pela
dignidade da pessoa humana, que já não era violado pelo colonizador mas pelos
próprios moçambicanos, o respeito pela vida, a necessidade de construir pontes e
caminhos para a paz, a dimensão eclesial das comunidades cristãs e, sobretudo, o
compromisso pela evangelização que devia ser assumido pelos moçambicanos.

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Gonçalves (2014), refere que:
A missão profunda e eficaz da Igreja em Moçambique, olhando para o cenário acima
evidenciado, passava, necessariamente por uma atitude de proximidade e serviço ao
povo, nos seus problemas e anseios concretos, com particular atenção pelos pobres ou
por aqueles que não têm voz
Anunciar Cristo, numa sociedade jovem, como a moçambicana, é lutar pela promoção e
defesa dos direitos humanos inalienáveis. Isto não implica reduzir a acção da Igreja
apenas à dimensão social de promover o Homem, mas sim na tomada de consciência de
que o verdadeiro anúncio do Evangelho deve levar à comunhão com Deus, com o
próximo e com o bem-estar comum.

A religião é chamada a defender a integridade humana, a lutar pelos seus direitos


e a promover a justiça. É a Igreja, no tempo e espaço reais, vivendo os dramas
concretos da vida humana na sociedade em que está inserido (Igreja, 2015).
Numa sociedade marcada pelo sofrimento, pela violência, as injustiças de toda a
espécie, o subdesenvolvimento, apesar da grande riqueza cultural e em recursos
humanos e naturais, a Igreja em Moçambique é chamada a promover a justiça e não
estar silenciosa diante do esmagamento dos débeis pelos opressores e seus regimes
políticos.

Para isso, é necessário que a Igreja, cumprindo o seu mandato missionário, saia de si
para ir ao encontro do homem concreto, para mergulhar e conhecer a sua realidade e
assim poder evangelizá-lo.

Num novo contexto político, económico, social e religioso, onde há cada vez uma maior
consciência e compreensão dos direitos fundamentais, apesar de, largamente, não serem
respeitados, a Igreja é chamada, não só a promover, como também a defender o direito à
vida, à liberdade, à paz e à alegria, elementos chaves e indispensáveis para o
desenvolvimento integral do ser humano.

A missão da Igreja não se limita e nem se deve restringir apenas às comunidades cristãs
ou à cristianização dos ainda não cristãos. Deve estender a sua presença e acção para os
campos da política, da cultura, da economia, da justiça, da família, onde quer que esteja
o ser humano.

Por isso, podemos afirmar, à luz da sua missão e na sua relação com a sociedade a que é
chamada a evangelizar, que “a Igreja não pode ser autenticamente Igreja, se ela não
anunciar a justiça, ao mesmo tempo que denuncia a injustiça. Por outro lado,
evangelizar a família é compreender que este é um dos principais espaços, senão o
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principal, onde se despertam, já desde cedo, os valores fundamentais de uma vida
social.

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De facto, a família, além de ser a Igreja doméstica, constitui a base e o fundamento da
comunidade e da sociedade, a fonte da vida e do amor, não só da vida física, mas
também da vida moral, espiritual, social e cultural. Ela é a Igreja fraterna que prepara o
indivíduo para a dimensão comunitária.

Portanto, tal como a comunidade eclesial, a família, e neste caso concreto a família
moçambicana por sua natureza religiosa, ainda que num culto próprio fundado na crença
de um Deus único, criador de todas as coisas e do qual tudo depende, nos antepassados
como mediadores e elos de ligação entre o homem e o ser divino, não pode viver senão
participando na força vital comunicada por Deus.

É Ele a fonte que comunica e mantém viva a família, a comunidade e que molda a sua
visão ética. Por isso, o agir moral do cristão, na sua relação com o mundo e com as
realidades sociais, perante os desafios que lhe são colocados, deve orientar para a
prática e busca do bem comum, numa atitude relacional (Bertelsen, 2016).
Deste modo, é importante salientar e voltar a sublinhar, como já o fizemos, que a
religião em Moçambique, na sua mais ampla e total presença, em toda a esfera social,
nos problemas, anseios, desafios concretos do povo, dores e alegrias, bem como nos
seus sonhos por uma sociedade mais justa, harmoniosa e fraterna, ao jeito de um núcleo
familiar, tem igualmente a grande missão de promover a liberdade de consciência no
pensar e no agir, uma liberdade baseada e orientada pela responsabilidade pessoal e
social de cada cidadão.

Por outro lado, enquanto comunidade-família, a Igreja deve proclamar a palavra de


Deus, fonte que vivifica e alimenta a vida da comunidade. Promover e defender uma
moral, moral eclesiológica, bem como o direito à vida, à liberdade, à justiça e a uma
sociedade mais harmoniosa e fraterna.

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7. Metodologia
Segundo Fonseca (2002), “metodologia é a descrição da forma como os instrumentos
serão usados para a elaboração de uma pesquisa científica”.

Para além do uso de métodos a elaboração do presente trabalho contou com o uso dos
instrumentos abaixo mencionados:

 A revisão bibliográfica

A revisão de literatura ou revisão bibliográfica teria então o propósito de: a construção


de uma contextualização da literatura consultada para a concepção do referencial teórico
da pesquisa. Assim sendo a metodologia do trabalho consistiu primeiramente na
realização de uma revisão bibliográfica, que consistiu na leitura de livros, manuais,
revistas e consultas na internet.

 A observação

Observação ou estudo naturalista ou etnográfico é aquela cujo pesquisador frequenta os


locais onde os fenômenos ocorrem naturalmente, Fiorentini e Lorenzato (2006). Aqui o
pesquisador não interfere na realidade dos factos, apenas observa, registra e relata. A
observação também pode ser definida como uma técnica de colecta de dados que utiliza
os sentidos para examinar e para a compreensão de determinados aspectos da realidade
para depois julgar, analisar ou investigar. Assim sendo após o uso do método em
destaque a autora fez a análise dos dados observados (directa e indirectamente).

Para além dos instrumentos acima mencionados a autora teve a primazia de usar
Computador para a compilação do trabalho, caderno de anotações, livros de modo a
anotar, e adquirir conhecimentos na área de desigualdade social.

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8. Conclusão

Conclui-se no presente trabalho que, a tentativa de abordar a família como uma forma
de ser Igreja em Moçambique, resulta da necessidade que todos os moçambicanos, e
não só, têm de compreender a importância da Igreja familiar na transmissão de valores
humanos que nos permitem reconhecer no outro a verdadeira imagem de Deus que
também somos.

Portanto, a prática dos rituais ocorre desde os primórdios, sua importância reside no seu
desenvolvimento e imposição silenciosa aos participantes, em sociedades simples ou
complexas. Não se pode negar a eficácia do ritual para demonstrar sentimentos
colectivos, como símbolos míticos, ou determinadores de alguma essência religiosa.
Sabe-se, entretanto, que as crenças, rituais e cultos são efectivados e sentidos de
diferentes formas e contribuem essencialmente para a formação e educação das pessoas.
Dessa maneira, para conviverem em sociedade, serão, de certa forma, influenciadas
pelos rituais no contexto onde vivem.

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9. Referências Bibliográficas

Abbink, J. (2014). Africa Spectrum. Religion and politics in Africa: the future of the
secular. Nº 3, pp. 83-106.
Barkun, M. (2013). A Frank Cass Journal. Religious Violence and the Myth of
Fundamentalism in Weinberg, Leonard; Pedahzur, Ami. Totalitarian Moviments
and Political religions. Vol. 4, nº 3, pp. 55-69.
Bertelsen, B. (2016). Violent becomings. State formation, sociality and power in
Mozambique. New York: Berghahn Books.
Chaimite, E. (2016). Administração eleitoral em Moçambique: reformas necessárias.
IESE. Nº 92. pp. 1-2.
Ertit, V. (2018). Religious. Secularization: the decline of the supernatural realm. Vol.
92, nº 9, pp. 1-18.
Fiorentini e Lorenzato. (2006). Investigação em Educação Matemática: percursos
teóricos e metodológicos. Campinas, São Paulo, Brasil: Autores Associados.
Fonseca., (2002), O que é o método científico. São Paulo: Pioneira.
Gorjão, P. (2016). IPRIS Comentário. IPRIS Comentário. Moçambique: um país à beira
do precipício. Nº 48.
Igreja, V. (2015). Os recursos da violência e as lutas pelo poder político em Moçambique.
Maputo: IESE.
Resende, M & Almeida, C. (2018). Relações Internacionais. O papel da Igreja Católica
na democratização pós-guerra em Angola e Moçambique. pp. 43-63.
Procopiuck, M. (2013). Políticas Públicas e Fundamentos da Administração Pública.
São Paulo: Atlas.
Orav, A. (2015). Religious fundamentalism and radicalisation (briefing). EPRS, pp. 1-8.
Vines, A. (2019). As perspectivas de um acordo sustentável entre as elites em
Moçambique: a terceira é de vez? Chatham House.
Baritussio, A. (2015). Moçambique, 50 anos de Presença dos Missionários
Combonianos. Roma: MCR,
Gonçalves, J, P. (2014). A Paz dos Moçambicanos. Maputo: Edição do autor.

Luzia, J. (2016). Manuel Vieira Pinto-O Visionário de Nampula. Prior Velho: Paulinas
Editora.

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