Você está na página 1de 18

Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

1º Trabalho de Campo

Tema do Trabalho
A justiça como Pensamento social da Igreja Católica

Nome do Estudante: Nelson Marques Dos Anjos Daniel


Código do Estudante: 708225631

Curso: Licenciatura em Administração Pública


Turma: H
Disciplina: Fundamentos da Teologia Católica.
Ano de Frequência: 1º Ano
Docente: Biembe Bakamba Medard, PhD.

Chimoio, Setembro 2023

1
Folha de Feedback
Classificação
Nota
Categorias Indicadores Padrões Pontuação
do Subtotal
máxima
tutor
 Capa 0.5
 Índice 0.5
Aspectos  Introdução 0.5
Estrutura
organizacionais  Discussão 0.5
 Conclusão 0.5
 Bibliografia 0.5
 Contextualização
(Indicação clara do 1.0
problema)
 Descrição dos
Introdução 1.0
objectivos
 Metodologia
adequada ao 2.0
objecto do trabalho
 Articulação e
domínio do
discurso
académico 2.0
Conteúdo (expressão escrita
cuidada, coerência
/ coesão textual)
Análise e
 Revisão
discussão
bibliográfica
nacional e
2.
internacionais
relevantes na área
de estudo
 Exploração dos
2.0
dados
 Contributos
Conclusão 2.0
teóricos práticos
 Paginação, tipo e
tamanho de letra,
Aspectos
Formatação paragrafo, 1.0
gerais
espaçamento entre
linhas
Normas APA  Rigor e coerência
Referências 6ª edição em das
4.0
Bibliográficas citações e citações/referência
bibliografia s bibliográficas

2
Folha para recomendações de melhoria: A ser preenchida pelo tutor

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
________________________________________________

3
Índice
Capitulo I: Introdução................................................................................................................. 5

1.1.Objectivos ............................................................................................................................. 6

1.2.Geral ..................................................................................................................................... 6

1.3.Específicos ............................................................................................................................ 6

1.5.Aspectos metodológicos ....................................................................................................... 6

Capitulo II: Justiça como pensamento social da igreja católica. ................................................ 7

2.1.Pensamento social da Igreja. .............................................................................................. 10

2.2.Justiça bíblica como justiça pública. .................................................................................. 11

2.3.Os princípios sociais da Doutrina Social Católica.............................................................. 13

2.4.Origem e desenvolvimento do princípio de subsidiariedade na Doutrina Social Católica. 14

2.5.Às encíclicas da doutrina social da igreja. .......................................................................... 14

2.6.O pensamento social cristão ............................................................................................... 16

2.7.Justiça segundo a bíblia. ..................................................................................................... 16

Capitulo III: Conclusão ............................................................................................................ 17

3.1.Referências Bibliográficas. ................................................................................................. 18

4
Capitulo I: Introdução
A Doutrina Social da Igreja, que para a Igreja Católica é um elemento fundamental, baseou-
se, inicialmente, nos ensinamentos dos profetas do Antigo Testamento que evocavam a justiça
como referência para a conduta social e religiosa. Nessa época, o santo era o justo. O Novo
Testamento dá outra dimensão a essa questão, pois, para Cristo, a base é o amor. A caridade
aperfeiçoa toda a justiça, é seu cumprimento e sua superação. Como consequência dessa nova
visão, o tema do humilde e do pobre passou a ocupar lugar essencial no Evangelho.
A questão da propriedade também passou a ser analisada. Ela, em si mesma, não é condenada,
mas a acumulação e o uso dos bens além da necessidade constituem pecado. Padre Laércio
Moura (2002), em suas reflexões acerca dos impactos sofridos pela pessoa humana em
decorrência da constante mutação do mundo, relata as transformações sofridas pela
humanidade no decorrer dos séculos. Ele salienta que o progresso das ciências, bem como
diversas descobertas e inúmeras invenções, colocaram à disposição dos homens recursos de
tal potencialidade que alteraram profundamente as condições de vida de grande parte da
humanidade.
No campo da organização política, verificaram-se, ao longo da Idade Contemporânea, o
fortalecimento do Estado e o de tendências de implantação de novos Estados. Com essa
tendência, acentuou-se, também, a necessidade de explicitar e exigir, com maior rigor, a
pertinência de cada ser humano a um determinado Estado. No âmbito da vida social, Moura
salienta que foram verificadas inúmeras transformações que causaram impacto negativo sobre
grandes proporções da humanidade. A Revolução Mercantil contribuiu para a expansão das
empresas capitalistas e, em seguida, para a formação de grandes agrupamentos de empresas
com poder em todos os domínios, inclusive o político. A actuação do capitalismo, buscando
O trabalho constitui, nas nossas sociedades modernas, o principal referencial da integração
social. Nem sempre assim foi, e nem tal ocorre em todas as sociedades organizadas. Na
actualidade o facto de existir uma persistente situação de desemprego tornou-se um perigo
social, sobretudo porque fundamenta práticas objectivas de exclusão.
Certas formas históricas da concretização do Cristianismo, como algumas experiências
monásticas e de vida religiosa, procuram articular a finalidade divina do homem com a ascese
fornecida pelo trabalho, procurando através de várias actividades humanas alcançar a
realização de santidade como destino.

5
1.1.Objectivos
1.2.Geral
 Compreender a justiça como pensamento da igreja católica social;

1.3.Específicos
 Definir o conceito de justiça segundo a igreja católica;
 Identificar os princípios do pensamento social d a igreja católica;

1.5.Aspectos metodológicos
Para a concretizar o presente trabalho recorreu-se ao método bibliográfico, que é a leitura do
módulo da UCM de fundamentos de teologia católica de Moçambique, leitura de alguns livros
e alguns artigos que descrevem conteúdos sobre a justiça e a igreja católica.

6
Capitulo II: Justiça como pensamento social da igreja católica.
De acordo com Azzi (1977), Doutrina Social da Igreja é o conjunto de ensinamentos contidos
na doutrina da Igreja Católica, consoante ao Magistério da Igreja Católica e constante de
dezanove encíclicas (até a Laudato si', de 2015, da autoria do Papa Francisco) e de
pronunciamentos papais inseridos na tradição multissecular, que versa sobre a dignidade
humana e sobre o bem comum na vida em sociedade. Conquanto suas origens remontem
a Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, e mesmo aos primeiros tempos do cristianismo ou
aos preceitos bíblicos e ensinamentos apostólicos, desta vez, à luz também de sua dimensão
social, é de costume atribuir ao Papa Leão XIII e à sua Rerum Novarum (primeira entre as
dezanove encíclicas referidas, publicada em 1891) o início da Doutrina Social da Igreja em
seu sentido estrito (Azzi,1977).
Têm esses ensinamentos a finalidade de fixar princípios, critérios e directrizes gerais no que
toca à organização política e social dos povos e nações. Trata-se de um convite à acção. A
finalidade da Doutrina Social da Igreja é:
 "Levar os homens a corresponderem, com o auxílio também da reflexão racional e das
ciências humanas, à sua vocação de construtores responsáveis da sociedade terrena".
A Doutrina Social da Igreja foi enriquecida pela contribuição dos Padres da Igreja, de
teólogos e canonistas da Idade Média e de pensadores e filósofos católicos dos tempos
modernos. Porém, conforme com o que estabeleceu o Catecismo da Igreja Católica, "a
doutrina social da Igreja se desenvolveu no século XIX por ocasião do encontro do Evangelho
com a sociedade industrial moderna, suas novas estruturas para a produção de bens de
consumo, sua nova concepção da sociedade, do Estado e da autoridade, suas novas formas de
trabalho e de propriedade." No entender da Doutrina, "a norma fundamental do Estado deve
ser a prossecução da justiça e que a finalidade de uma justa ordem social é garantir a cada um,
no respeito ao princípio da subsidiariedade, a própria parte nos bens comuns" (Azzi,1977).
 Por meio das encíclicas e de pronunciamentos pontifícios, a Doutrina Social da Igreja
aborda vários temas fundamentais, como a pessoa humana, a sua dignidade e os seus
direitos, suas liberdades;
 A família, sua vocação e seus direitos; a inserção e a participação responsável de cada
homem na vida social"; a promoção da paz;
 O sistema económico e a iniciativa privada; o papel do Estado;
 O trabalho humano;

7
 A comunidade política; "o bem comum, e sua promoção no respeito dos princípios
da solidariedade e da subsidiariedade;
 O destino universal dos bens da natureza, e o cuidado com a preservação e a defesa
do meio ambiente;
 O desenvolvimento integral de cada pessoa e também dos povos; o primado da justiça,
e também o da caridade".
A existência da Doutrina Social da Igreja não implica, no entanto, a participação
do clero na política. A actividade política é expressamente proibida pela Igreja, excepto em
situações de urgência, haja vista que a missão de melhorar e "animar as realidades temporais"
— nomeadamente, mediante a participação política e o cumprimento dos deveres cívicos — é
atribuição confiada aos leigos. A hierarquia eclesiástica, portanto, "não está no negócio de
formar ou dirigir governos", ou no de escolher regimes políticos; sua atribuição é outra: ela
está, sim, "no negócio de formar as pessoas que conseguirão montar e dirigir aqueles
governos em que a liberdade conduza à verdadeira realização humana" (Camacho,1995).
São princípios básicos em que se condensa a Doutrina Social da Igreja:
A dignidade da pessoa humana, como criatura à imagem de Deus e a igual dignidade de todas
as pessoas;
 Respeito à vida humana;
 Princípio de associação;
 Princípio da participação;
 Princípio da solidariedade;
 Princípio da subsidiariedade;
 Princípio do bem comum;
 Princípio da destinação universal dos bens.
Os princípios da dignidade da pessoa humana do bem comum, da subsidiariedade e o da
solidariedade a Doutrina Social da Igreja os consideram de carácter geral e fundamental,
permanentes e universais (Kadt, 2003).Esta doutrina indica, ainda, valores fundamentais que
devem presidir a vida social. Estes valores são:
 Verdade: "O homem tende naturalmente para a verdade. É obrigado a honrá-la e
testemunhá-la. É obrigado a aderir à verdade conhecida e a ordenar toda a vida
segundo as exigências da verdade". A vida social exige transparência e honestidade e
sem a confiança recíproca a vida em comunidade torna-se insuportável

8
 Liberdade: "Toda pessoa humana, criada à imagem de Deus, tem o direito natural de ser
reconhecida como ser livre e responsável. Todos devem a cada um esta obrigação de
respeito. O exercício da liberdade não implica o direito de dizer e fazer tudo
 Justiça: "Segundo São Tomás de Aquino consiste na "vontade perpétua e constante de dar
a cada um o que lhe é devido". A justiça, contudo, não é uma simples convenção humana,
porque "o que é justo não é originalmente determinado pela lei, mas pela identidade
profunda do ser humano".
A ideia de ―justiça social‖ é um ponto de contenda no mundo das ideologias políticas e, cada
vez mais, no mundo cristão.

Justiça social
Allen define justiça social como a ―desconstrução dos sistemas e estruturas tradicionais tidas
como opressoras e redistribuição de poder e de recursos dos opressores para suas vítimas na
busca de igualdade de resultado‖. Esse conceito deixa várias questões em aberto que o autor
discutirá ao longo do livro (Kadt, 2003).
O significado de ―justiça social‖, para Allen, se define a partir da ―política identitária‖, ou
―marxismo cultural‖ ou ―neomarxismo‖. O autor se referirá a esse tipo de justiça social como
justiça social ideológica Kadt, 2003). Para Allen, ―justiça social ideológica‖ se refere a todo
tipo de concepção identitária da esquerda progressista norte-americana. De fato, Allen não
detalha ou desenvolve como surgiu essa justiça de carácter ideológico. Apenas segue de
forma um pouco apressada a narrativa da direita americana de que existe um ―marxismo
cultural‖.
Em uma parte significativa do livro, Allen se dedica a demonstrar os pressupostos dessa
justiça que forma um cosmo visão progressista. O autor elenca em tabelas ―os princípios
fundamentais da ideologia‖ em contraposição aos fundamentos do cosmo visão bíblica
(capítulo cinco). Depois, apresenta os valores da ideologia do ―marxismo cultural‖, a dizer,
igualdade de resultado e diversidade sem unidade, e como esses valores ameaçam a
civilização ocidental (capítulo seis) Kadt, 2003).
Allen também argumenta que os novos valores da esquerda progressista têm penetrado e até
ameaçado a igreja cristã nos EUA (capítulo sete).
A Igreja Católica aponta a questão social como um problema de questão moral, colocando a
necessidade de uma acção humanizadora.

9
2.1.Pensamento social da Igreja.
É no interior desta mutação no universo do trabalho e da importância do salário, acompanhada
também pelo aparecimento de novos sectores sociais (as classes operária e média), que as
Igrejas nomeadamente a Católica – desenvolveram o seu pensamento (doutrina) social como
resposta ao conjunto dessa mudança social. Quando surge, em 1891, a Rerum Novarum de
Leão XIII, fundamentalmente a Igreja Católica pretende apresentar uma crítica à mudança
social, às soluções preconizadas para superar os conflitos sociais, propondo uma perspectiva
que restitua uma unidade e uma harmonia social, consideradas quebradas pelas mudanças
ocorridas (Kadt, 2003).
A questão central colocada pelo salário é a da justiça social, isto é, a relação entre a
necessidade de através do trabalho cada um poder responder às suas necessidades não só de
sobrevivência, mas de responder àqueles que dele dependem (concretamente a família), ao
mesmo tempo que garante uma sociedade ordenada. Isto é, não só organizada, mas também
constituída por grupos sociais distintos, interdependentes e hierarquizados ou subordinados.
O autor levanta um ponto importante: a antiga esquerda se preocupava, usando o termo
―justiça social‖, em dar mais dignidade social aos necessitados (Miguel,1986).
O cristão precisa dialogar com não cristãos (que estejam abertos ao diálogo) para encontrar
pontos em comum para ajudar os mais necessitados. Ver a sociedade apenas como um campo
de beligerância é um erro. O termo ―justiça social‖, a despeito da desvirtuação pelos
identitaristas, pode ter ainda utilidade prática na junção de esforços entre pessoas diferentes
para ajudar os mais necessitados, como, por exemplo, no caso de algumas políticas públicas
temporárias. Há graça comum e preocupações sinceras em ajudar quem mais necessita. Se
cancelarmos a expressão ―justiça social‖, talvez seja preciso outro termo ruim para tentar
significar a necessidade de esforço conjunto de pessoas distintas na ajuda aos mais
necessitados e vulneráveis (Miguel,1986).
O cristão deve resistir às pautas identitárias da esquerda progressista que ameaçam a
liberdade de expressão e os valores cristãos, mas também deve manter em vista que o termo
―justiça social‖ pode expressar preocupações legítimas com os mais pobres. O cristão precisa
dialogar com não cristãos (que estejam abertos ao diálogo) para encontrar pontos em comum
para ajudar os mais necessitados. Ver a sociedade apenas como um campo de beligerância é
um erro.
De fato, é imperativo que o cristão aja individualmente no auxílio dos mais pobres, mas
também, em grande escala, o Estado pode cumprir um papel social fundamental por meio de

10
políticas públicas na ajuda aos mais necessitados e reparações de injustiças de grande escala
(como resultantes de genocídios, por exemplo). Essas políticas não precisam levar ao que tem
sido chamado de igualdade de resultados, mas poderiam promover equidade, com maior
igualdade de acesso a oportunidades. Em um mundo caído, essa é uma questão necessária.
Tanto no nível individual quanto no nível estatal, pode haver acção e cooperação de esforços
para o bem comum. Podemos dar um exemplo muito simples aqui: seria justo, por exemplo,
termos legislações trabalhistas que favorecessem a maternidade, concedendo alguns
privilégios para mulheres que têm filhos. Trata-se, nesse caso, de um princípio de equidade
que consideraria as vulnerabilidades próprias da maternidade e que mantém aberto a essas
mulheres o acesso aos estudos e ao trabalho (Miguel,1986).
A justiça bíblica não deve ser associada à direita política em uma guerra cultural sob pena de
muralhas intransponíveis serem levantadas contra pessoas à esquerda e os vícios da direita
contaminarem a fé cristã, até mesmo bloqueando a imaginação e o discurso público cristão na
promoção de uma justiça integral. A justiça bíblica, mesmo em um mundo caído, pode criar
algumas pontes, em vez de apenas muralhas.

2.2.Justiça bíblica como justiça pública.


O filósofo e pensador calvinista Herman Dooyeweerd defendia que cada esfera de significado,
na vida humana, de certo modo espelha em si mesma todas as outras, e tem seu próprio
sentido enriquecido quando colorida pelo sentido das outras esferas da vida. É assim, por
exemplo, que pode-se falar não apenas no mundo da ciência e em suas teorias particulares,
mas na lógica da ciência, na linguagem da ciência, na ética científica, a economia dos campos
científicos, na história da ciência, a justiça e na injustiça na ciência e para com a ciência, e até
mesmo nos valores da ciência (Miguel,1986).
Esse mesmo princípio se aplica às relações sociais, de modo que podemos falar em sociologia
do direito, por um lado, e também sobre a justiça nas relações sociais, ou justiça social, num
sentido filosófico mais estrito, por outro lado. Podemos também falar em justiça moral, bem
como da moralidade e da solidariedade internas à justiça. Podemos ir além, considerando
uma definição mais ampla de sociedade do teólogo reformado Herman Bavinck para quem ela
seria ―a forma inteira de associação humana desejada por Deus, que se manifesta na
combinação de dons e capacidades dados à humanidade, e que tem como propósito a
preservação, geração, distribuição e desfrute de variados bens espirituais e materiais‖. Se o
bem comum consistir na forma perfeita de combinação das diferenças, para a promoção,

11
geração, distribuição e desfrute dos vários bens por todos em uma sociedade, então a justiça
social seria simplesmente a realização desse bem comum: uma sociedade em que todos
possam participar do cultivo e do desfrute dos bens divinos.
De acordo com (Miguel,1986), a justiça pública não é apenas a justiça retributiva, no sentido
de dar a cada um o que é seu. É também justiça solidária e comunitária de socorrer os
vulneráveis e proteger o bem comum.
O Estado tem, por exemplo, o papel, dentro dos limites legais, de recolher tributos e fazer
políticas públicas, sempre no difícil equilíbrio de interesses e respeitando as fronteiras das
esferas sociais soberanas. Dessa forma, ainda que possam existir impostos injustos, existem
impostos e taxações legítimas e capazes de possibilitar ao Estado uma acção negativa (de
punir) e positiva (de promover). Aqui temos uma justiça pública que opera restritivamente,
mas também positivamente (Miguel,1986).
Nesse sentido, a justiça bíblica, como justiça pública, manteria, por exemplo, a propriedade
privada como um bem, mas possibilitaria que o Estado actuasse, no tocante a isso, em favor
de algum grau de bem comum. Considere o caso de uma indústria de especulação imobiliária
que, agindo dentro das regras do mercado e das leis existentes, torna a moradia digna quase
impossível a uma parcela da população. Diante disso, permitir a todos, e especialmente aos
mais vulneráveis, a aquisição e a preservação da propriedade privada, contra monopólios
poderosos, por meio de protecções e incentivos especiais, será necessariamente mais do que
mera justiça retributiva; é justiça solidária – e, nesse sentido, justiça social. E o que habilita
essa forma de justiça é uma visão mais ampla do bem comum, fundada na própria comunhão
de solidariedade entre os homens e mulheres que são imagem e semelhança de Deus.
Em escalas mais amplas, o Estado pode formular boas políticas públicas que beneficiem os
mais necessitados. Por vezes, o Estado fará isso em nome de uma ―justiça social‖
Segundo (Miguel,1986), a justiça pública não é apenas a justiça retributiva, no sentido de dar
a cada um o que é seu. É também justiça solidária e comunitária de socorrer os vulneráveis e
proteger o bem comum. Uma justiça pública precisa expressar uma preocupação pública com
o próximo e o compromisso com uma justiça integral. Isso certamente não significa que o
Estado deva realizar por si mesmo esse bem comum. Mas ele ainda pode e deve favorecer e
apoiar pessoas e instituições que trabalham pelo bem comum, tanto quanto pune os injustos.
Enfim, todas as esferas – a justiça, a arte, a academia, as comunicações, a igreja e a família –
precisam expressar sua dimensão moral por meio da demonstração de solidariedade, porque
isso enriquece a vida e a experiência humana diante de Deus. O Estado não pode tomar o

12
lugar dessas esferas da vida, mas não pode simplesmente ignorá-las e cuidar apenas de punir
malfeitos.
A preocupação cristã sobre a justiça deve ser a restauração da ordem divina, derivando de
Deus as normas para a vida social e cultural. Os instrumentos disponíveis são também aqueles
que Deus ordenou, a dizer, as armas poderosas em Deus para desfazer o engano e levar todo
pensamento cativo a Cristo. Esses instrumentos podem nos livrar da ―justiça social
ideológica‖ e nos devolver a uma justiça social bíblica (Bíblia Sagrada,2015).

2.3.Os princípios sociais da Doutrina Social Católica.


Segundo a Bíblia Sagrada (2015), o reconhecimento da dignidade pessoal do ser humano e
sua fundamentação última na semelhança de sua imagem à de Deus é a herança cristã
decisiva, cuja fecundidade deve ser repetidamente resgatada para a configuração do mundo e
da sociedade. A compreensão cristã do ser humano, da sua pessoalidade e dignidade tem
consequências necessárias ao ordenamento e à configuração do convívio dos homens. Na
tradição da doutrina e ética social cristãs, três princípios sociais fundamentais cristalizaram-se
com vistas a essa compreensão cristã do ser humano:
 O princípio do bem comum, o princípio da solidariedade e o princípio da
subsidiariedade.
Nesses princípios, a referência à ―dimensão social no sentido próprio do termo, isto é, ao
âmbito institucional, à interacção social cimentada em estruturas, ordenamentos e relações
sociais‖ tem um viés especificamente sócio ético. Disso resulta, do ponto de vista ético, a
referência prioritária à justiça (social) a ser realizada. Tais princípios indicam as ―orientações
fundamentais da acção‖, são ―princípios relevantes para estruturações e procedimentos‖, mas
ainda não configuram nenhuma instrução para a acção nem normas para situações concretas.
Os princípios sociais permitem analisar em perspectiva crítica situações e ideologias
existentes e sinalizam a direcção correta (Boff, 1972).
A orientação pronunciadamente personalista da Doutrina Social Católica mais recente, seu
―direccionamento ao ser humano como pessoa, por razões de princípio ‖-que levou alguns
pensadores da Ética Social a reconhecer no princípio da personalidade o primeiro princípio
social -, possibilita-lhe na discussão teórica actual a formulação e fundamentação dos
princípios de um modo que, por um lado, se percebe como devedor da tradição, por outro
evita o perigo da falácia naturalista, contido na argumentação neo-escolásticos-jusnaturalista,
e evidencia estar à altura da discussão extra-teológica (Boff, 1972).

13
2.4.Origem e desenvolvimento do princípio de subsidiariedade na Doutrina Social
Católica.
Etimologicamente o conceito de subsidiariedade remonta à palavra latina subsidium.
Designou originariamente as reservas aprovisionadas para o combate, com vistas a um
conflito armado mais tarde foi usado genericamente como sinónimo de recursos auxiliares.
Em termos de conteúdo, o conceito sociológico de subsidiariedade remonta ao "bispo
operário" de Mogúncia. Criticava tendências da sua época, de estender as competências do
Estado às custas da autonomia e dos direitos dos cidadãos individuais e dos grupos sociais
intermediários, mormente da Igreja (Camacho, 1995).
Essa tendência se referia sobretudo a uma excessiva regulamentação estatal do sistema
escolar. A educação seria sobretudo de responsabilidade dos pais, assistindo ao Estado apenas
o "direito subsidiário"de intervir corretivamente no interesse das crianças e dos jovens, cujos
pais descumprissem seus deveres. Historicamente, existem razões para afirmar que a doutrina
social mais sistematizada surge com as tensões originadas pelo avanço do capitalismo, com
Leão XIII (é conhecida a expressão de que a Igreja teria ―perdido a classe operária‖)
(Camacho, 1995).A encíclica Rerum Novarum (1892) se transformou em paradigma
permanente; nela se listam os erros que provocam o mal social, exclui o socialismo como
remédio, se contrapõe à luta de classes como meio central para a mudança social, e situa a
doutrina católica sobre o trabalho e a propriedade, temas que serão analisados neste texto.
Para comemorá-la, 40 anos depois, Pio XI publica a encíclica Quadragésimo anno (1931),
reafirmando certos princípios anteriores, e acrescentando novos, dentre os quais é de se citar o
princípio de subsidiariedade, nas relações entre o Estado e o sector privado (de valorização da
sociedade civil, da família, dos grupos, das associações, dos espaços locais, da necessidade
das sociedades superiores ajudarem as menores) (Camacho, 1995).

2.5.Às encíclicas da doutrina social da igreja.


De acordo com Boff (1972), a Doutrina Social da Igreja é o conjunto de documentos
orientadores do pensamento e da acção que se tem desenvolvido desde 1891 dentro da Igreja
Católica, relativamente às questões sociais que vão afectando e atravessando a humanidade e
que necessitam de uma resposta e/ou duma reflexão concreta. Para compreender o seu
percurso vale a pena fazer um histórico dos documentos e das suas ideias principais que
acabaram por ser compiladas no Compêndio da Doutrina Social da Igreja em 2004.

14
No entanto, a produção sobre este tema não está de todo encerrada e, mais recentemente
(2005 e 2009), o Papa Bento XVI, publicou as Encíclicas ―Deus Caritas Est‖ e ―Caritas in
Veritate‖, respectivamente, que também renovam e actualizam alguns conceitos vindos desde
o início deste pensamento e ainda chama a atenção para os novos problemas e questões que se
colocam face as necessidades do mundo actual (Concílio Vaticano II, 1980).
Os contributos que a Igreja Católica tem dado para as questões do desenvolvimento ao longo
destes cerca de 123 anos, saem precisamente dos documentos da Doutrina Social da Igreja e
também por essa razão, apresentam-se aqui não todos, mas os mais relevantes nesta matéria.
O Romano Pontífice sempre possuiu especial autoridade nas comunicações que proclama ao
Povo de Deus, sendo que, invariavelmente ao longo da história da humanidade desde que
existem papas, isso também se traduziu num impacto para o restante mundo não católico. Seja
pela positiva ou pela negativa, a palavra de um Papa nunca é indiferente e acaba sempre por
ser objecto exaustivo dos mais diferentes tipos de análise. Com o Papa Leão XIII que
inaugurou os documentos da Doutrina Social da Igreja com a encíclica ―Rerum Novarum‖
não foi diferente (Concílio Vaticano II, 1980).
Considera-se então que o documento inaugurador duma tomada de posição mais pública da
Igreja Católica e até orientadora para os cristãos, foi a publicação da encíclica ―Rerum
Novarum‖ do Papa Leão XIII em Maio de 1891. Num tempo marcado pela constituição de
alguns Estados Nacionais, pela revolução industrial juntamente com a consolidação do
liberalismo e ainda pelo surgimento do Manifesto do Partido Comunista, 50 anos antes. Foi
ainda publicada no mesmo ano em que é fundado o Partido Socialista Italiano que depois da
queda de Roma, assiste à unificação do país e ao alargamento do direito de voto. Mesmo
dentro da própria igreja a questão operária e a sua relação com o cristianismo está presente no
Bispo de Mainz e acontecem grandes peregrinações de operários a Roma. As questões mais
preocupantes eram, de fato, as poucas condições a que os trabalhadores estavam sujeitos
devido à lógica da produtividade e do capital imperarem acima de tudo e o apoio que era
necessário dar a estes mesmos trabalhadores. Se por um lado se refere uma predominância da
lógica da produtividade e do capitalismo que prejudica os trabalhadores, por outro também se
critica o socialismo. Mas não deixa de sublinhar: ― (…) não pode haver capital sem trabalho,
nem trabalho sem capital‖ (Concílio Vaticano II, 1980).

15
2.6.O pensamento social cristão
O pensamento social cristão não se cinge apenas à história da doutrina social da Igreja,
através dos textos eclesiais emitidos com nihil obstat que, em contexto pastoral ou teológico,
foram sendo produzidos sobre a matéria, ou de organizações de leigos eclesialmente
dependentes. Nem tão-pouco se identifica com a história das ideias e dos partidos que se
reivindicaram da democracia cristã – aliás, o primeiro partido genuinamente democrata-
cristão português até se designou ―Partido Nacionalista‖.
O mesmo se aplica aos movimentos sociais cristãos: também eles não decorrem de modo
linear das encíclicas sociais do magistério de Leão XIII a João Paulo II – muito embora delas
tivessem recebido notável e decisivo impulso –, mas são um processo multifacetado nas suas
diversas aclimatações culturais, sociais e políticas.
O regime autoritário reclamava-se nas origens, e na letra, de uma inspiração na doutrina social
cristã. Esse timbre social cristão do regime verificava-se pelo facto de apenas
excepcionalmente existirem divergência, na década de 30, entre ser católico e ser salazarista.
Na política internacional, o regime não foi totalitário nem anti-semita quando abundavam tais
tendências, e manteve uma neutralidade benevolente para com os Aliados na 2ª Guerra
mundial.

2.7.Justiça segundo a bíblia.


Em termos gerais, justiça é dar a cada um o que lhe é de direito, o que merece Bíblia Sagrada,
2015). Estando sempre em conformidade com o que é justo e correto. A maioria das pessoas
possui algum senso de justiça. A justiça bíblica é então a relação que promove e realiza o
sentido radical da vida humana. A relação interpessoal da justiça bíblica põe em luz
o segundo elemento, o da assimetria e comunhão. A assimetria advém da alteridade, que
implica diferença. Respeitando a diferença, a justiça procura a igualdade da comunhão. Para
ser cristã, uma pessoa deve praticar a justiça, comportar-se honrosamente perante Deus e
outras pessoas. Uma pessoa justa é civilizada em palavras e acções e reconhece que as
diferenças de perspectiva ou de crença não impossibilitam que haja genuína bondade e
amizade (Bíblia Sagrada, 2015).A justiça é um atributo de Deus, é uma das Suas
características próprias. Ser justo é uma qualidade fundamental da natureza de Deus. A justiça
de Deus se manifesta através de Jesus Cristo e é expressa nas Suas acções e no cumprimento
das exigências da perfeição do próprio Deus. A Justiça de Deus se revela através do
Evangelho da mensagem de salvação em Jesus Cristo (Romanos 1:17).

16
Capitulo III: Conclusão
A existência da Doutrina Social da Igreja não implica, no entanto, a participação
do clero na política. A actividade política é expressamente proibida pela Igreja, excepto em
situações de urgência, haja vista que a missão de melhorar e "animar as realidades temporais"
— nomeadamente, mediante a participação política e o cumprimento dos deveres cívicos — é
atribuição confiada aos leigos. A hierarquia eclesiástica, portanto, "não está no negócio de
formar ou dirigir governos", ou no de escolher regimes políticos; sua atribuição é outra: ela
está, sim, "no negócio de formar as pessoas que conseguirão montar e dirigir aqueles
governos em que a liberdade conduza à verdadeira realização humana".
São princípios básicos em que se condensa a Doutrina Social da Igreja: 1) A dignidade da
pessoa humana, como criatura à imagem de Deus e a igual dignidade de todas as pessoas; 2)
respeito à vida humana, 3) princípio de associação, 4) princípio da participação, 5) princípio
da solidariedade, 6) princípio da subsidiariedade, 7) princípio do bem comum, 8) princípio da
destinação universal dos bens.
Os princípios da dignidade da pessoa humana do bem comum, da subsidiariedade e o da
solidariedade a Doutrina Social da Igreja os consideram de carácter geral e fundamental,
permanentes e universais.
Contudo, o conceito de Desenvolvimento Integral presente na Doutrina Social da Igreja
permanece fiel à sua raiz, ao mesmo tempo que é reforçado pelos diferentes sumos pontífices
que vão assumindo os rumos da Igreja e procurando das orientações aos
acontecimentos/mudanças históricas, conservando uma linha de continuidade com o que já
estava anteriormente implicado. Insere-se em todos os tipos de desenvolvimento porque é
transversal a todos eles: atravessa-os e ainda os completa. Inscreve-se neles mas vai ainda
para além deles enquanto conceito que abarca todas as realidades criadas por Deus – a pessoa
humana e a natureza. Quando afirmamos que o Amor é o critério por excelência do
desenvolvimento proposto pela Igreja, queremos também demonstrar o carácter intemporal e
inabalável desse mesmo critério. Ainda que os contextos e as realidades humanas possam
sofrer significativas alterações, que as necessidades e as sociedades se modifiquem de forma
profunda, o Amor enquanto qualidade inerente à humanidade permanecerá e continuará a ser
o que, vivido na sua essência, poderá ajudar sempre o mundo a crescer.

17
3.1.Referências Bibliográficas.
 Azzi, R (1977). A igreja Católica no Brasil no período de 1959-1975. Revista
Religião e Sociedade, No. 2. São Paulo: Hucitec.
 Boff. L. (1972).Jesus Cristo libertador. Ensaio de Cristologia Critica para o nosso
tempo. Petrópolis: vozes.
 Beozzo, Pe. Oscar. (1984). Cristãos na universidade e na política. Petrópolis, Vozes.
 Camacho (1995).Doutrina social da Igreja católica, Abordagem histórica. São Paulo.
Edições Loyote.
 Bíblia Sagrada (2015).Concordância temática.2ª edição.2034. p Maputo.
 Concílio Vaticano II (1980).Para um novo conceito da Idade Média: Tempo,
Trabalho e Cultura no Ocidente. Lisboa: Editorial Estampa.
 João Paulo II, (1997).Discurso aos participantes num Congresso sobre “Ambiente e
Saúde, 4: L’Osservatore Romano, ed. em Português, 5 de Abril de , p. 9.
 Kadt. E (2003). Católicos radicais no Brasil, ed. Universidade.
 Miguel M. (1986). Ensino social da Igreja. Trad. de Jaime Clasen. Petrópolis: Vozes.

18

Você também pode gostar