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PITÁGORAS E O ESOTERISMO OCIDENTAL

Jamil Salloum Jr.

Ele está na confluência das Tradições esotéricas oriental e ocidental. Por meio
dele a Luz mística do oriente se refletiu no ocidente, prosseguindo na sua jornada
iniciática. Hoje vamos conhecer a vida de um dos maiores Iniciados da humanidade,
Pitágoras. A grandiosidade de Pitágoras era tal na antiguidade que lançou sua pessoa
numa luz quase mítica, sendo que para muitos de seus posteriores ele era um deus.
Pitágoras nasceu na ilha grega de Samos aproximadamente em 570 a.C. Isso o
torna contemporâneo de outros dois grandes sábios da humanidade, Buddha e Lao Tzu.
Seu nascimento foi profetizado a seus pais pela pítia de um Templo de Samos, que disse
que o menino levaria luz ao mundo. De fato, a criança desde cedo mostrou sede de saber
descomunal, estudando com os maiores professores das proximidades. Grandes
filósofos pré-socráticos como Anaximandro e Anaxímenes foram seus professores. O
filósofo peripatético Aristóxino, confirmado mais tarde por Porfírio, afirma que
Pitágoras foi também discípulo de Tales de Mileto, assim como da filósofa-sacerdotisa
Themistoclea.
De todo modo, ao constatarem que o menino já não tinha mais nada para
aprender, teriam declarado a ele: “a sabedoria dos deuses pode ser dada pela Grécia,
mas só no Egito você achará a Sabedoria de Deus”.
Segundo o pesquisador grego Antífono e o filósofo libanês Porfírio, Pitágoras
chegou ao Egito na época do Faraó Amasis II, com uma carta de recomendação, que o
fez aceito na corte do Faraó. Este encaminhou o jovem grego às Escolas de Sabedoria
de Tebas e Heliópolis. O historiador grego Plutarco afirma que nessas Escolas Pitágoras
teria sido iniciado no saber secreto do Egito. Como quer que seja, é comumente aceito
que Pitágoras ficou 20 anos na terra dos faraós.
Com a invasão do Egito por Cambises II, do Império Aquemênida, Pitágoras e
muitos outros foram levados como escravos à Pérsia. Contudo, o saber de Pitágoras já
era tal, que no Império Persa ele teria sido posto em contato com os Filósofos do Fogo,
os Magos, discípulos de Zoroastro, e com eles aprendido a verdadeira Magia. Após
alguns anos na Pérsia, é reputado a Pitágoras visitas à Fenícia, Caldeia e Babilônia, para
estudos e troca de saberes. Fato interessante é que em 1894 foi descoberta uma placa de
argila no Iraque, datada de cerca de 1900 anos a.C, na qual, segundo o matemático
australiano Daniel Mansfield, está o teorema de Pitágoras, tal como este ensinaria
séculos depois. Isso pode confirmar a teoria de que Pitágoras teria aprendido seu mais
famoso teorema no oriente.
Segundo o sofista gego Philostrato, Pitágoras teria viajado também à Índia para
intercâmbio com os “gimnosofistas”, que era como os gregos antigos chamavam os
brahmanes e yogues. Não se sabe se o mestre grego encontrou Buddha, que estava vivo
à época, mas é uma possibilidade. De todo modo, Pitágoras ficou cerca de 30 anos fora
da Grécia. Quando retornou a seu país, com cerca de 50 anos de idade, munido de um
saber fulgurante e desejoso de aplicá-lo em benefício dos gregos, começou peregrinando
aos antigos templos e oráculos que ainda guardavam algo da sabedoria de Orfeu,
restaurando neles seu primevo esoterismo; o mesmo fez nos Templos que abrigavam os
Ritos de Eleusis, renovando-lhes o frescor. Chegando a Samos, sua cidade natal, tentou
estabelecer uma Escola onde pudesse transmitir seu vasto saber de forma graduada.
Contudo, Pitágoras entrou em choque com Polícrates, o tirano que governava a cidade e
de quem Pitágoras discordava. Assim, Pitágoras deslocou-se à “magna Grécia”,
chegando à cidade de Crotona, na atual Itália, onde finalmente fundou,
aproximadamente em 520 a.C. a mais famosa Escola Iniciática ocidental, a Escola de
Crotona.
A Escola de Crotona era o que hoje chamaríamos de um grande Mosteiro-
Universidade onde eram admitidos tanto homens como mulheres ainda jovens, e lá
instruídos tanto nas ciências materiais como nas espirituais. Vários círculos de saber
foram compostos pelo Mestre. Aos neófitos era proibido falar durante cinco anos,
apenas ouvir, bem como eram proibidos de ver Pitágoras. Essa dura prova afastava
muitos do primeiro ciclo de ensinamentos. Durante esta etapa os estudantes aprendiam
as ciências físicas, como matemática material, astronomia, música, ginástica e dança
terapêutica. Era buscada a harmonia mental e corporal.
Aos que venciam esta etapa era permitido ver e ouvir Pitágoras, recebendo
instrução nos Mistérios Maiores, nos quais todo o saber que Pitágoras acumulou em
suas viagens era repassado gradativamente. Matemática mística ou Numerologia,
Magia, Cura, Alta Filosofia, Metafísica, Cosmogonia e Cosmologia, Reencarnação e
outros assuntos eram estudados neste novo ciclo. Poucos o atingiam. Pitágoras tinha
ainda classes especiais dedicada apenas às mulheres, onde aprofundava com elas temas
mais ligados ao seu universo; contudo, o Mestre jônio não distinguia entre homens e
mulheres, considerando-os iguais em tudo.
No plano material, saberes que seriam perdidos depois, como o sistema
heliocêntrico, a esfericidade da Terra e mesmo a composição do nosso sistema solar
eram perfeitamente conhecidos pelos pitagóricos. Aliás, o sistema astronômico
pitagórico foi considerado "o primeiro sistema coerente no qual os corpos celestes se
movem em círculos, movendo a terra do centro do cosmos e fazendo dela um planeta",
conforme descreveu Filolau. Isso antecipou Copérnico em quase 2000 anos.
No plano espiritual, exercícios que permitiam os estudantes ativar em si a
faculdade de contemplar a esfera dos deuses pessoalmente, e lá aprender diretamente,
eram ensinados. Sem desprezar a aplicação material da matemática, era sobretudo à sua
função espiritual que Pitágoras se dedicava. Os números eram vistos como símbolos
para Leis Cósmicas que sustentam o Universo, cada número sintetizando uma lei, uma
frequência, um comando, por assim dizer. Os números ímpares eram considerados
superiores aos pares. Assim, os números 01, 03, 05, 07 e 09 eram especiais. Os quatro
primeiros números somados formavam a totalidade do 10, a qual remontava novamente
ao 01, Unidade esta que Pitágoras chamava de “Santa Tetraktys” e simbolizava como
um triângulo equilátero formado por dez pontos. Era o símbolo mais sagrado de sua
Escola.
A Escola de Crotona se tornou tão influente que sua fama alcançou toda a
Grécia. Aos seus Portais centenas de postulantes acorriam, buscando ingresso. Nela o
sistema de vida era semi-ascético, comunal e fraternal. Mestre e estudantes vestiam-se
com túnicas brancas. Do ponto de vista esotérico, podemos considerar que Pitágoras foi
iniciado no Oriente nas Escolas da Grande Fraternidade Branca, recebendo autorização
para começar uma filial na Grécia, estando a Escola de Crotona, então, ligada às suas
matrizes do Oriente. Era sobretudo ao Egito que Pitágoras se reportava como sede de
sua principal Iniciação.
Pitágoras morreu aproximadamente em 510 A.C, quando sua escola foi
incendiada por uma multidão revoltada, liderada por Cyron de Croton, um ex-discípulo
rejeitado da Escola de Crotona, que voltou a população da cidade contra Pitágoras. Há
algumas lendas que afirmam que Pitágoras escapou com vida do ataque. Como quer que
seja, o grande saber ensinado pela sua Escola sobreviveu através de discípulos que
escaparam ao incêndio e influenciaram a posteridade.
Pitágoras é conhecido no mundo profano por ter feito descobertas importantes
no campo da matemática, da música, da arquitetura, da astronomia, sem contar sua
contribuição em colocar a pedra principal da filosofia grega. Platão era pitagórico, fato
pouco lembrado nos cursos de filosofia atuais. Essa influência pode ser notada
especialmente em seus diálogos Mênon, Fédon, A República, Filebo e Timeus.
Contudo, a contribuição mais importante de Pitágoras é no plano esotérico. A
Escola de Crotona é considerada a primeira escola formal de Iniciação ocidental,
colocando a pedra angular em todo o Esoterismo Ocidental. O esoterismo europeu,
sobretudo, foi fortemente influenciado pelos ensinamentos de Pitágoras, como aponta o
humanista alemão Johannes Reuchlin. Este chegou a argumentar que tanto a Kabbalah
como o Pitagorismo promanam da mesma fonte. Na sua obra “De Verbo Mirifico”, de
1494, Reuchlin compara a Tetractys pitagórica ao tetragramaton da Kabbalah, o nome
inefável Yod He Vav He. Já o famoso tratado de Cornelius Agrippa, “De Occulta
Philosophia”, cita Pitágoras como um Mago, assim como escolas místicas como o
Rosacrucianismo e a Maçonaria integraram muitos dos ensinamentos pitagóricos em seu
seio, sendo Pitágoras um Mestre altamente reverenciado nelas.
Finalmente, não podemos esquecer da influência de Pitágoras sobre o introdutor
do Ocultismo no Brasil, o poeta e escritor Dario Velloso, que fundou em 1909, em
Curitiba, o Instituto Neo-Pitágorico, existente até hoje e que procura perpetuar na
modernidade os ideais pitagóricos. Para conhecer essa história, veja o vídeo aqui no
Canal dedicado a Dario Velloso.
Fica assim conhecido o legado esotérico de Pitágoras, daquele que ao ser
chamado de “sábio”, retrucou dizendo que não passava de um “amigo da sabedoria”, ou
seja, um filósofo. Encerramos com um extrato dos famosos Versos de Ouro, atribuídos
a Pitágoras, os quais são profundamente iniciáticos e compostos de quatro seções.
Apresentaremos aqui um extrato da última sessão, denominada “Perfeição”. Certamente
nossos expectadores mais sensíveis saberão aparecia-lhe o seu valor místico. A tradução
é de Dario Vellozo:

PERFEIÇÃO
Que não se passe um dia, amigo, sem buscares
Saber: Que fiz eu hoje? E, hoje, que olvidei?
Se foi o mal, abstém-te; e, se o bem, persevera.
Meus conselhos medita; e os estima; e os pratica:
E te conduzirão às divinas virtudes.
Por esse que gravou em nossos corações
A Tétrade sagrada, imenso e puro símbolo,
Fonte da Natureza, e modelo dos Deuses,
Juro.
Conhecerás de Tudo o princípio e o termo.
E, se o Céu permitir, saberás que a Natura,
Em tudo semelhante, é a mesma em toda parte.
Conhecedor assim de todos teus direitos.
Terás o coração livre de vãos desejos,
E saberás que o mal que aos homens cilicia,
De seu querer é fruto; e que esses infelizes
Procuram longe os bens cuja fonte em si trazem.
Seres que saibam ser ditosos, são mui raros.
A Natureza os serve.
E tu que a penetraste,
Sobre teu corpo reine e brilhe a Inteligência,
Para que, te ascendendo ao Éter fulgurante,
Mesmo entre os Imortais, consigas ser um Deus!

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