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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Coordenação
Arthur Pinto de Lemos Júnior
Valéria Diez Sacarance Fernandes

Gráficos dinâmicos
Alex de Borba Monteiro

Núcleo de Comunicação Social MPSP

INSTITUTO SOU DA PAZ FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA (UNICEF)
Diretora-Executiva Chefe do escritório do UNICEF em São Paulo
Carolina de Mattos Ricardo Adriana Alvarenga

Análise e redação Análise e redação


Cristina Neme Danilo Moura, Oficial de Monitoramento e Avaliação

Revisão Revisão
Danielle Tsuchida Bendazzoli Mélanie Layet, Oficial de Comunicação
Jéssica Moura Silva Santos
Vanessa Machado Alves

Comunicação
Izabelle Mundim

Novembro/2020
Introdução ___________________________________________________________________ 6

Estatísticas Oficiais ____________________________________________________________ 9


Gráfico 1 - Estatísticas oficiais de ocorrências de estupro e estupro de vulnerável. Estado de São Paulo,
2017-2019 _______________________________________________________________________ 10

Gráfico 2 - Estatísticas oficiais de ocorrências de estupro e estupro de vulnerável. Estado de São Paulo,
jan-jun, 2019-2020 ________________________________________________________________ 11

Gráfico 3 - Variação das ocorrências de estupro e estupro de vulnerável. Estado de São Paulo, 1º
semestre, 2017-2020 (estatísticas oficiais) ______________________________________________ 11

MICRODADOS DOS REGISTROS DIGITAIS DE OCORRÊNCIA _____________________________ 12


Gráfico 4 - Ocorrências de estupro de vulnerável, por ano do registro. Estado de SP _____________ 13

Gráfico 5 - Ocorrências de estupro de vulnerável, por ano da ocorrência (fato). Estado de SP ______ 13

Gráfico 6 - Distribuição das ocorrências de estupro de vulnerável segundo o intervalo entre o fato e o
registro da ocorrência. Estado de SP, 2016-jun/2020 ______________________________________ 13

Gráfico 7 - Ocorrências de estupro de vulnerável, por semestre, segundo a data do registro. Estado de
São Paulo, 1º semestre, 2016-2020 ___________________________________________________ 14

Gráfico 8 - Ocorrências de estupro de vulnerável, por data do registro. Estado de São Paulo, variação
mensal, jan-jun, 2019-2020 _________________________________________________________ 15

Gráfico 9 - Ocorrências de estupro de vulnerável segundo data de ocorrência e de comunicação do


crime. Estado de São Paulo, 24/mar a 30/jun, 2016-2020 __________________________________ 16

Gráfico 10 - Variação das ocorrências de estupro de vulnerável segundo data de ocorrência e de


comunicação do crime. Estado de SP, 24/mar a 30/jun, 2017-2020 __________________________ 16

Gráfico 11 - Variação das ocorrências segundo data da ocorrência e da comunicação do crime. Estado
de SP, 24-31/mar, abril a junho, 2019-2020 _____________________________________________ 17

Gráfico 12 - Ocorrências de estupro de vulnerável segundo data da ocorrência e da comunicação do


crime. Estado de São Paulo, abril, maio e junho, 2016-2020 ________________________________ 18

Gráfico 13 - Ocorrências de estupro de vulnerável, total e em residência, registradas por ano. Estado
de São Paulo, 2016-2019 (segundo data de registro) ______________________________________ 19

Gráfico 14 - Ocorrências de estupro de vulnerável, total e em residência, ocorridas por ano. Estado de
São Paulo, 2016-2019 (segundo data do fato) ___________________________________________ 19

Gráfico 15 - Ocorrências de estupro de vulnerável, total e em residência, registradas no primeiro


semestre. Estado de SP, 2016-2020 (segundo data de registro)______________________________ 20
Gráfico 16 - Proporção de ocorrências de estupro de vulnerável EM RESIDÊNCIA, registradas nos meses
de janeiro a junho. Estado de São Paulo, 2016-2020 (segundo data de registro) ________________ 21

Gráfico 17 - Ocorrências de estupro de vulnerável, total e em residência, ocorridas no 1º semestre.


Estado de SP, 2016-2020 (segundo data do fato) _________________________________________ 21

Gráfico 18 - Proporção de ocorrências de estupro de vulnerável EM RESIDÊNCIA, ocorridas nos meses


de janeiro a junho. Estado de São Paulo, 2016-2020 (segundo data do fato) ___________________ 22

Gráfico 19 - Ocorrências de estupro de vulnerável, total e em RESIDÊNCIA, ocorridas e registradas nos


meses de abril, maio e junho. Estado de São Paulo, 2019-2020 (segundo data do fato e do registro) 23

Gráfico 20 - Proporção de ocorrências de estupro de vulnerável em RESIDÊNCIA, ocorridas e


registradas no mesmo mês. Estado de São Paulo, jan a jun 2019-2020 (segundo data do fato e do
registro) _________________________________________________________________________ 23

Perfil Geral das Ocorrências e das Vítimas _________________________________________ 25


Gráfico 21 - Ocorrências de estupro de vulnerável, por local da ocorrência. Estado de São Paulo, 2016-
jun2020 _________________________________________________________________________ 25

Gráfico 22 - Ocorrências de estupro de vulnerável em unidade de ensino, por sublocal da ocorrência.


Estado de São Paulo, 2016-jun2020 ___________________________________________________ 26

Gráfico 23 - Ocorrências de estupro de vulnerável em área rural, por sublocal da ocorrência. Estado de
São Paulo, 2016-jun2020 ___________________________________________________________ 27

Gráfico 24 - Ocorrências de estupro de vulnerável em estabelecimento comercial. Estado de são Paulo,


2016-jun2020 ____________________________________________________________________ 27

Gráfico 25 - Ocorrências de estupro de vulnerável em unidade de saúde, por sublocal da ocorrência.


Estado de São Paulo, 2016-jun2020 ___________________________________________________ 28

Gráfico 26- Ocorrências de estupro de vulnerável em entidade assistencial, por sublocal da ocorrência.
Estado de São Paulo, 2016-jun2020 ___________________________________________________ 28

Gráfico 27 - Ocorrências de estupro de vulnerável em estabelecimento de lazer e recreação, por


sublocal da ocorrência. Estado de São Paulo, 2016-jun2020 ________________________________ 29

Perfil das Vítimas _____________________________________________________________ 30


Gráfico 28 - Ocorrências de estupro de vulnerável, por sexo da vítima. Estado de São Paulo, 2019 __ 30

Gráfico 29 - Ocorrências de estupro de vulnerável, por raça/cor da vítima. Estado de São Paulo, 2019
_______________________________________________________________________________ 30

Gráfico 30 - Ocorrências de estupro de vulnerável, por faixa etária. Estado de São Paulo, 2019 ____ 31

Gráfico 31- Ocorrências de estupro de vulnerável, segundo sexo e idade (até 30 anos) Estado de São
Paulo, 2019 ______________________________________________________________________ 32

Gráfico 32 - Ocorrências de estupro de vulnerável (até 13 anos), segundo sexo e idade. Estado de São
Paulo, 2019 ______________________________________________________________________ 32
Gráfico 33 - Ocorrências de estupro de vulnerável (até 13 anos), segundo sexo e idade. Estado de São
Paulo, 1º semestre 2020 ____________________________________________________________ 33

Gráfico 34 - Ocorrências de estupro de vulnerável contra pessoa com deficiência ou “transtorno”.


Estado de São Paulo, 2017 - jun/2020 _________________________________________________ 34

Gráfico 35 - Ocorrências de estupro de vulnerável contra pessoa com deficiência, segundo o tipo de
deficiência. Estado de São Paulo, 2017 - jun/2020 ________________________________________ 34

Gráfico 36 - Ocorrências de estupro de vulnerável em que a vítima possui algum tipo de deficiência ou
transtorno, por faixa etária. Estado de SP, 2017 - jun/2020 _________________________________ 35

Gráfico 37 - Ocorrências de estupro de vulnerável, por escolaridade da vítima. Estado de São Paulo,
2016 - jun/2020___________________________________________________________________ 36

Gráfico 38- Ocorrências de estupro de vulnerável, segundo escolaridade e faixa etária da vítima (6 a
14 anos). Estado de São Paulo, 2016 - jun/2020 _________________________________________ 37

Gráfico 39 - Ocorrências de estupro de vulnerável, segundo escolaridade e faixa etária da vítima (15 a
17 anos). Estado de São Paulo, 2016 - jun/2020 _________________________________________ 37

Gráfico 40- Ocorrências de estupro de vulnerável, segundo escolaridade e faixa etária da vítima (18
anos ou mais). Estado de São Paulo, 2016 - jun/2020 _____________________________________ 38

Gráfico 41 - Ocorrências de estupro de vulnerável, segundo tipo de relacionamento entre autor e


vítima. Estado de São Paulo, 2016 junho 2020 ___________________________________________ 39

Gráfico 42 - Ocorrências de estupro de vulnerável, por responsável pela apresentação à polícia, Estado
de São Paulo, 2019 ________________________________________________________________ 40

Gráfico 43 - Ocorrências de estupro de vulnerável, segundo exame solicitado por instituição. Estado de
São Paulo, 2016 - jun 2020 __________________________________________________________ 40

Considerações Finais e Recomendações ___________________________________________ 41

Referências __________________________________________________________________ 44

Acesse também o relatório dinâmico


Durante a pandemia de Covid-19, mudanças no comportamento criminal e
na incidência de violências foram observadas em diversos contextos e
países, provavelmente relacionadas à situação de isolamento social adotado
como meio de contenção da pandemia.

No Estado de São Paulo, a quarentena entrou em vigor no dia 24/03/2020 e


durante o primeiro semestre de 20201 pôde-se observar seu efeito na
dinâmica criminal. Por um lado, crimes patrimoniais sofreram forte redução
no período e, por outro, crimes contra a vida, sobretudo homicídios dolosos,
voltaram a crescer, rompendo a tendência de redução dos anos anteriores.
Os crimes sexuais de estupro, cuja notificação vinha ascendendo nos últimos
anos especialmente em razão dos registros de estupro de vulnerável,
apresentaram, por sua vez, redução significativa no primeiro semestre de
2020 em comparação ao mesmo período do ano anterior (INSTITUTO SOU
DA PAZ, 2020).

Nesse contexto, é relevante alertar para o risco de aumento da


subnotificação dos crimes sexuais, sobretudo contra as pessoas mais
vulneráveis a este tipo de abuso. As pesquisas de vitimização indicam que
esses casos já contam normalmente com baixíssima notificação, de modo
que os registros policiais sinalizam apenas para a ponta de um iceberg de
violações que ficam ocultas nas estatísticas oficiais.

1
Decreto estadual 64.881/2020, que determinou o fechamento do comércio com atendimento presencial.
A violência sexual pode ser definida como qualquer ato sexual ou tentativa
praticado por meio de coação, independentemente do grau de força que
envolva a coação, contra a sexualidade de uma pessoa, praticado pelo
agressor independentemente de sua relação com a vítima e em qualquer
circunstância. A despeito da dificuldade de aferir a extensão do problema,
pesquisas em diferentes países indicam que a agressão é prevalente entre
mulheres, adolescentes e meninas, mas também atinge meninos, sobretudo
entre as crianças. Pode ocorrer em ambientes públicos ou privados e é
praticada por agressores majoritariamente do sexo masculino. É um dos
tipos de abuso frequentes no ambiente doméstico, cujo autor tende a ter
algum vínculo com a vítima, como pais, padrastos ou conhecidos da família,
e provoca graves consequências para a saúde física e mental das vítimas ao
longo de suas vidas (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2002; SVS/MS,
2018).

Assim, na pandemia acentua-se a preocupação com o monitoramento e


atendimento dos crimes sexuais contra vulneráveis ocorridos durante o
isolamento social, uma vez que o confinamento das pessoas no ambiente
doméstico vem aumentar ainda mais a invisibilidade do problema. No Brasil,
segundo balanço do Disque 100, que funciona no âmbito do Programa
Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e
Adolescentes, estão entre as violações mais frequentes contra crianças e
adolescentes a negligência (72,7%), a violência psicológica (48,8%), física
(40,6%) e sexual (22,4%) (UNICEF, 2020).

Com a população sem acesso às interações comunitárias e às instituições


que poderiam funcionar como uma rede de proteção, a dificuldade de
identificar a vitimização, sobretudo de crianças e adolescentes, tende a
aumentar, e seu enfrentamento resta ainda mais prejudicado.
Frente à redução dos registros observada desde o início da pandemia, o
Ministério Público do Estado de São Paulo, o Instituto Sou da Paz e o Fundo
das Nações Unidas para a Infância começaram a trabalhar conjuntamente
com objetivo de verificar possíveis impactos do isolamento social na
ocorrência e na notificação da violência sexual contra crianças e
adolescentes, com foco na análise dos casos de estupro de vulnerável. A
presente nota técnica é resultado desse trabalho conjunto, com vistas a
produzir evidências e dar visibilidade a este grave e recorrente problema e à
necessidade de avançar na adoção de medidas para enfrentá-lo.

Para tanto, parte-se da análise focada nas ocorrências de estupro de


vulnerável registradas pela Polícia Civil do estado de São Paulo entre janeiro
de 2016 e junho de 2020. Os dados foram obtidos mediante solicitação do
Ministério Público de São Paulo à Secretaria Estadual de Segurança Pública.
A fonte dos dados é o sistema de Registro Digital de Ocorrências da Polícia
Civil do Estado de São Paulo e a extração foi feita pela Coordenadoria de
Análise e Planejamento da SSP-SP.

Apresenta-se de início a evolução dos crimes de estupro segundo as


estatísticas oficiais do estado de São Paulo, que contemplam o número de
casos registrados de estupro e de estupro de vulnerável, da série publicada
mensalmente pela SSP-SP, para em seguida desenvolver a análise detalhada
que permite caracterizar os casos de estupro de vulnerável a partir da base
de microdados obtida via extração do RDO.
A SSP publica mensalmente as estatísticas criminais do estado de São Paulo,
em série histórica disponível desde meados dos anos 1990. A série inclui o
crime de estupro e, a partir de setembro de 2016, a secretaria passou a
publicar os dados desagregados de estupro de vulnerável.

Conforme o Código Penal, os crimes de estupro e de estupro de vulnerável


são assim tipificados:

Estupro
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com
ele se pratique outro ato libidinoso [...]

Estupro de vulnerável
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso
com menor de 14 (catorze) anos [...]
§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no
caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental,
não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que,
por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

A partir da desagregação das estatísticas segundo os tipos, verifica-se que o


estupro de vulnerável corresponde a mais de 70% dos casos de estupro
registrados nesses anos e a 75% dos registrados no primeiro semestre de
2020. Entre os anos de 2017 e 2019 percebe-se tendência de crescimento
dos crimes de estupro de vulnerável (+22%) enquanto os registros de
estupro decresceram (-10%), conforme indicado no Gráfico 1 e no Gráfico 2.
Gráfico 1 - Estatísticas oficiais de ocorrências de estupro e estupro de vulnerável.
Estado de São Paulo, 2017-2019

10.000 9.217
8.664
9.000
7.580
8.000
7.000
6.000
5.000
4.000 3.509 3.285 3.157
3.000
2.000
1.000
0
2017 2018 2019

Estupro de vulnerável Estupro

Fonte: SSP-SP (Resolução 160)

Já no primeiro semestre de 2020 verifica-se mudança na tendência dos


registros, tanto de estupro como estupro de vulnerável, sobretudo a partir
do mês de abril, quando os registros sofreram redução expressiva. Esse
comportamento impactou o primeiro semestre e resultou na variação
negativa de 15% para ambos os tipos em relação ao mesmo período de 2019.

Levantamento sobre ocorrências de violência doméstica durante a


pandemia junto a várias unidades da federação nos meses de abril a maio
de 2020 também indicou uma redução da notificação de crimes de estupro,
incluindo estupro de vulnerável (contra mulheres) (FORUM BRASILEIRO DE
SEGURANÇA PÚBLICA, 2020), apontando para a abrangência do fenômeno
no país.
Gráfico 2 - Estatísticas oficiais de ocorrências de estupro e estupro de vulnerável.
Estado de São Paulo, jan-jun, 2019-2020

900 828
810
747 760
800
792 684
700 647
706
600 643
604
500
514
478
400
261 280 258
300 262 250
216
274 242 247
200
183 190
100 155

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun

Estupro 2019 Estupro de vulnerável 2019


Estupro 2020 Estupro de vulnerável 2020

Fonte: SSP-SP (Resolução 160)

Gráfico 3 - Variação das ocorrências de estupro e estupro de vulnerável. Estado


de São Paulo, 1º semestre, 2017-2020 (estatísticas oficiais)

25%

20%

15%
23%
10%

5%
0,4% 1,1%
0%

-5% -11%
-15% -15%
-10%

-15%

-20%
2017-18 2018-19 2019-20

Estupro de vulnerável Estupro

Fonte: SSP-SP (Resolução 160)


Para análise do perfil das ocorrências de estupro de vulnerável, parte-se dos
microdados extraídos do sistema RDO – Registro Digital de Ocorrências da
Polícia Civil do Estado de São Paulo. Há pequena diferença entre as
estatísticas oficiais, que resultam do tratamento e consolidação dos dados
pelas unidades policiais para publicação mensal (conforme Resolução SSP
160), e os valores obtidos a partir dos microdados, que refletem o registro
inicial do boletim de ocorrência no RDO.

A base de microdados conta com 38.915 ocorrências registradas entre


janeiro de 2016 e junho de 2020, das quais 96% são crimes consumados e
4% são tentados. Na grande maioria dos casos não há flagrante de autoria
(96%) e em cerca de 10% trata-se de atos infracionais2, padrão que se
mantém ao longo do período. Cabe notar que para 79% houve indicação de
autoria quando do registro da ocorrência e para 20%, não.3

O Gráfico 4 apresenta a distribuição dos casos por ano segundo a data de


registro e o Gráfico 5 apresenta a distribuição segundo a data da ocorrência
(fato). Observe-se que a diferença do número de ocorrências aumenta nos
anos mais recentes, visto que outros registros sobre fatos ocorridos
recentemente tendem a ser feitos posteriormente a junho de 2020. Esse
intervalo entre o fato e o registro da ocorrência é ilustrado no Gráfico 6, que
indica que mais de 80% dos registros são feitos no mesmo ano do fato e
demais o serão em anos seguintes.

2
Conforme dado extraído do campo “Rubrica”: A.I.-Estupro de vulneravel (art.217-A).
3
Conforme dado extraído do campo “Flag Autoria”: sim ou não.
Gráfico 4 - Ocorrências de estupro de Gráfico 5 - Ocorrências de estupro de
vulnerável, por ano do registro. vulnerável, por ano da ocorrência
Estado de SP (fato). Estado de SP

10.000 9.659 9.000 8.416 8.340


9.019 7.931 8.057
9.000 7.982 8.312 8.000
8.000 7.000
7.000 6.000
6.000
5.000
5.000
4.000
4.000
3.000 3.000
2.000 2.000
1.000 1.000
0 0
2016 2017 2018 2019 2016 2017 2018 2019

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

Gráfico 6 - Distribuição das ocorrências de estupro de vulnerável segundo o


intervalo entre o fato e o registro da ocorrência. Estado de SP, 2016-jun/2020

100% 6% 8% 9% 10% 11%


90% 8% 7% 8% 9% 13%
80%
70%
60%
50%
40% 87% 85% 83% 81% 76%
30%
20%
10%
0%
2016 2017 2018 2019 2020 até junho

Fato ocorreu em anos anteriores (dois anos ou mais) ao registro


Registro no ano seguinte ao do fato
Registro feito no mesmo ano do fato

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

A mudança de tendência observada no primeiro semestre de 2020 demanda


análise mais detalhada desse período, sobretudo considerando a situação de
isolamento social adotada em razão da pandemia de Covid-19. O isolamento
foi instituído a partir de 24 de março de 2020, por meio de decreto estadual
que determinou o fechamento do comércio com atendimento presencial e
afetou a circulação das pessoas e o acesso aos serviços.4

Percebe-se assim um provável forte impacto do isolamento social nos


registros das ocorrências de estupro de vulnerável, que começam a cair a
partir do final do mês de março e resultam em redução de 15,7% no primeiro
semestre de 2020 em comparação ao mesmo período do ano anterior. Note-
se que essa redução ocorre invertendo tendência de crescimento dos
registros nos semestres anteriores, de +14% entre 2017-18 e +3% entre
2018-19 (Gráfico 7), o que sugere dificuldade de identificar o problema e
fazer a denúncia, pois a vítima torna-se ainda mais vulnerável ao permanecer
isolada no ambiente doméstico, sem acesso a possíveis canais de proteção,
como se verá mais adiante.

Gráfico 7 - Ocorrências de estupro de vulnerável, por semestre, segundo a data


do registro. Estado de São Paulo, 1º semestre, 2016-2020

4.800 20,0%

4.600 14,0% 15,0%


10,0%
4.400
5,0%
4.200 3,0%
0,6% 0,0%
4.000 4.675
4.540 -5,0%
3.800
3.943 -10,0%
3.957 3.982
3.600 -15,0%
-15,7%
3.400 -20,0%
2016 2017 2018 2019 2020

Ocorrências registradas Variação

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

4
Decreto estadual 64.881/2020, que entrou em vigor no dia 24/03/2020.
A evolução mensal indica que a maior queda de registros ocorreu nos meses
de abril (-36,5%) e maio (-39,3%), e que em junho os registros de estupro de
vulnerável voltaram a crescer, superando os de junho anterior, mais um
indicativo de que logo no início o isolamento contribuiu para o silenciamento
das vítimas e/ou dificultou o acesso às instituições de proteção à criança e
repressão ao agressor.

Gráfico 8 - Ocorrências de estupro de vulnerável, por data do registro.


Estado de São Paulo, variação mensal, jan-jun, 2019-2020

Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho


900 10,0%
860 876
4,5%
850
820 0,0%
-5,3% -6,1% 787
800 797
-4,7%
-10,0%
750 739

715
700 -20,0%
677 669
650
640 -30,0%
600
-39,3%
-36,5% -40,0%
550
532
500 506 -50,0%
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho

2019 2020 Variação

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

Um recorte preciso da quarentena (24 de março a 30 de junho de 2020)


considerando os casos segundo a data de registro e a data do fato permite
identificar o comportamento dos crimes registrados (comunicados) no total
e os apenas ocorridos nesse período. Em relação ao mesmo período em
2019, observa-se que durante a quarentena houve redução de 28% no total
de comunicações (relativas a qualquer data do fato) e de 40% nos casos
ocorridos (e até então registrados) nesse período (Gráfico 9 e Gráfico 10).
Gráfico 9 - Ocorrências de estupro de vulnerável segundo data de ocorrência e
de comunicação do crime. Estado de São Paulo, 24/mar a 30/jun, 2016-2020

3000
2.527
2.384
2500
2.105 2.147

2000 2.129 2.144 1.821


2.029 1.994

1500
1.297
1000

500

0
2016 2017 2018 2019 2020

Por data da ocorrência Por data da comunicação

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

Gráfico 10 - Variação das ocorrências de estupro de vulnerável segundo data de


ocorrência e de comunicação do crime. Estado de SP, 24/mar a 30/jun, 2017-2020

20%
11%
10% 7% 6%
1%
0%

-10%

-20%

-30%
-28%

-40%
-40%
-50%
2017-2018 2018-2019 2019-2020

Por data da ocorrência Por data da comunicação

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020


Desagregando o período desde a última semana de março e nos meses
seguintes, a variação 2019-2020 indica que foi acentuada a redução dos
registros de crimes ocorridos nesse período em todos os momentos. Mesmo
no mês de junho, quando as comunicações no total voltaram a crescer,
verifica-se baixo registro de crimes cujo fato ocorreu neste junho. A alta de
5% no total de registros comunicados em junho reflete a notificação de casos
ocorridos desde meses anteriores e parece indicar uma retomada na
comunicação dos crimes à polícia. É preciso ressalvar que um volume
razoável de crimes ocorridos nos meses recentes tendem a ser comunicados
a partir de julho (cerca de 26% dos crimes ocorridos nos meses de janeiro a
junho de 2019 foram registrados a partir do mês seguinte ao mês do fato e
ao longo do segundo semestre).

Gráfico 11 - Variação das ocorrências segundo data da ocorrência e da


comunicação do crime. Estado de SP, 24-31/mar, abril a junho, 2019-2020

10% 5%

0%

-10%

-20%

-30%
-32%
-40% -37%
-39% -39%
-50% -44%
-48% -47%

-60%
Comunicação

Comunicação

Comunicação

Comunicação
Ocorrência

Ocorrência

Ocorrência

Ocorrência

24 a 31 março Abril Maio Junho

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020


No Gráfico 12 as diferenças mensais entre o total de crimes comunicados e
os ocorridos nos meses do segundo trimestre podem ser observadas.

Gráfico 12 - Ocorrências de estupro de vulnerável segundo data da ocorrência e


da comunicação do crime. Estado de São Paulo, abril, maio e junho, 2016-2020

Abril Maio Junho


Ocorrência Comunicação Ocorrência Comunicação Ocorrência Comunicação
1000
876
900
797
800
671 695
700 640 669
594
600 532
506
500
412 386 403
400
300
200
100
0

2016 2017 2018 2019 2020

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

O dado sobre o local da ocorrência traz a informação mais impactante sobre


o perfil dos casos de estupro de vulnerável e ratifica a hipótese de que a
redução de registros no primeiro semestre de 2020 reflete a dificuldade de
denunciar esses crimes e não a sua efetiva diminuição. A grande maioria dos
casos, quase 80%, ocorre em ambiente doméstico, na residência, em padrão
que não se altera ao longo da série, seja considerando o ano do registro ou
o ano do fato, como se observa nos Gráfico 13 e Gráfico 14.
Gráfico 13 - Ocorrências de estupro de vulnerável, total e em residência,
registradas por ano. Estado de São Paulo, 2016-2019 (segundo data de registro)

12.000 90,0%
78,4% 78,9% 79,1% 79,5%
80,0%
10.000 9.659
9.019
8.312 70,0%
7.982 7.681
8.000 7.132 60,0%
6.260 6.556
50,0%
6.000
40,0%
4.000 30,0%
20,0%
2.000
10,0%
0 0,0%
2016 2017 2018 2019

EV em residência Total de EV % EV em residência

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

Gráfico 14 - Ocorrências de estupro de vulnerável, total e em residência,


ocorridas por ano. Estado de São Paulo, 2016-2019 (segundo data do fato)

9.000 8.416 90,0%


8.340
7.931 8.057
8.000 80,0%
78,1% 78,1% 78,1% 77,5%
7.000 6.574 6.467 70,0%
6.196 6.291
6.000 60,0%

5.000 50,0%

4.000 40,0%

3.000 30,0%

2.000 20,0%

1.000 10,0%

0 0,0%
2016 2017 2018 2019

EV em residência Total de EV % EV em residência

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020


Já a análise semestral indica o aumento da proporção de ocorrências em
residência em relação ao universo total, a despeito da diminuição do número
de boletins registrados, e sinaliza para a maior vulnerabilidade das vítimas
durante o isolamento social em 2020. Em quaisquer recortes que se faça,
seja considerando a data da ocorrência ou da comunicação do crime, chama
a atenção que, proporcionalmente, a vitimização dentro das residências
sofre aumento no primeiro semestre de 2020 em comparação ao mesmo
período nos anos anteriores, distinguindo da tendência antes observada
(Gráfico 15 e Gráfico 17).

A distribuição mensal indica que as maiores proporções de vitimização em


residência ocorreram nos meses de abril, maio e junho de 2020, em
comparação aos mesmos meses dos anos anteriores (Gráfico 16 e Gráfico
18), salientando mais uma vez o agravamento do problema durante o
isolamento social.

Gráfico 15 - Ocorrências de estupro de vulnerável, total e em residência, registradas


no primeiro semestre. Estado de SP, 2016-2020 (segundo data de registro)

5.000 84% 90%


4.540 4.675
79% 79% 79% 80%
4.500 80%
3.957 3.982 3.943
4.000 3.725 70%
3.572
3.500 3.321
3.108 3.132 60%
3.000
50%
2.500
40%
2.000
30%
1.500

1.000 20%

500 10%

0 0%
1º sem. 2016 1º sem. 2017 1º sem. 2018 1º sem. 2019 1º sem. 2020

EV em residência Total de EV % EV em residência

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020


Gráfico 16 - Proporção de ocorrências de estupro de vulnerável EM RESIDÊNCIA,
registradas nos meses de janeiro a junho. Estado de São Paulo, 2016-2020
(segundo data de registro)

100%
90% 85% 85% 85% 88% 86%
82% 81% 80% 81% 77%
80% 77% 78%

70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Jan Fev Mar Abr Mai Jun

2016 2017 2018 2019 2020

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

Gráfico 17 - Ocorrências de estupro de vulnerável, total e em residência,


ocorridas no 1º semestre. Estado de SP, 2016-2020 (segundo data do fato)

4.500 4.200 90%


4.022 4.056 82%
4.000 77% 3.906 77% 78% 80%
78%
3.500 3.157 3.238 3.151 70%
3.027 3.000
3.000 60%
2.471
2.500 50%

2.000 40%

1.500 30%

1.000 20%

500 10%

0 0%
1º sem. 2016 1º sem. 2017 1º sem. 2018 1º sem. 2019 1º sem. 2020

EV em residência Total de EV % EV em residência

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020


Gráfico 18 - Proporção de ocorrências de estupro de vulnerável EM RESIDÊNCIA,
ocorridas nos meses de janeiro a junho. Estado de São Paulo, 2016-2020
(segundo data do fato)

100%

90% 87%
84% 84% 85% 84%
80% 74
80% 78% 78% 78% % 75%
73%
70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Jan Fev Mar Abr Mai Jun

2016 2017 2018 2019 2020

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

Por fim, vale observar os gráficos seguintes, que consideram apenas os casos
ocorridos e registrados no mesmo mês e ano. Esse recorte permite
comparar com parâmetro mais preciso o período recente em relação ao
passado, visto que despreza os casos registrados posteriormente ao fato.
Como se vê no Gráfico 19, o resultado ratifica os observados anteriormente
e indica 83% de vitimização em residências no segundo trimestre de 2020,
valor 18% superior ao verificado no segundo trimestre de 2019 (71%). Na
evolução mensal apresentada no Gráfico 20, o mês de maio de 2020
também desponta com 85% da vitimização em residências.
Gráfico 19 - Ocorrências de estupro de vulnerável, total e em RESIDÊNCIA,
ocorridas e registradas nos meses de abril, maio e junho. Estado de São Paulo,
2019-2020 (segundo data do fato e do registro)

1.600 83% 90%


1.439
1.400 80%
71%
1.200 70%
1.017 1.052
60%
1.000 877
50%
800
40%
600
30%
400 20%
200 10%
0 0%
2º trimestre 2019 2º trimestre 2020

EV em residência Total de EV % EV em residência

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

Gráfico 20 - Proporção de ocorrências de estupro de vulnerável em RESIDÊNCIA,


ocorridas e registradas no mesmo mês. Estado de São Paulo, jan a jun 2019-2020
(segundo data do fato e do registro)

90% 82% 83% 85% 83%


80% 78%
80% 75% 75% 75%
70% 71% 71%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Jan Fev Mar Abr Mai Jun

2019 2020

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020


A análise dos dados sinaliza o agravamento da violência sexual sobretudo
contra crianças e adolescentes, entre outros vulneráveis, haja vista o
crescimento proporcional da vitimização em residências durante o
isolamento social em 2020, a despeito da redução do número absoluto de
ocorrências registradas e quebrando o padrão observado ao longo da série
2016-2019 em que a vitimização em residências não ultrapassa 80% dos
casos.
Considerando o universo das ocorrências registradas entre 2016 e junho de
2020 no estado de São Paulo, segue o detalhamento do perfil do local. Em
78,5% dos casos, o crime ocorreu em residências. Somando os casos
ocorridos dentro de casa em meio rural, são 79,5%. Em seguida, os locais
mais arriscados são a via pública (8%) e unidades de ensino (4%), como se vê
no Gráfico 21.

Gráfico 21 - Ocorrências de estupro de vulnerável, por local da ocorrência.


Estado de São Paulo, 2016-jun2020

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0%

RESIDÊNCIA* 78,5%

VIA PÚBLICA 8,1%

UNIDADE DE ENSINO 3,9%

ÁREA RURAL 2,0%

ESTABELECIMENTO COMERCIAL 2,0%

UNIDADE DE SAÚDE 1,4%

ESTABELECIMENTO DE LAZER E RECREAÇÃO 1,1%

ENTIDADE ASSISTENCIAL 0,9%

REPARTIÇÃO PÚBLICA 0,8%

ÁREA NÃO OCUPADA/ABANDONADA 0,8%

INSTITUIÇÃO RELIGIOSA 0,3%

TERMINAL/ESTAÇÃO 0,2%

OUTROS 0,1%

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020


* Não inclui casos em ocorridos no ambiente “casa” em Área Rural (369 casos ou
1% do total). Ao grupo Residência foram agregados 22 casos classificados como
"moradia" no grupo Favela.
A análise desagregada de alguns grupos de locais segundo os sublocais
acrescenta informações para compreender a dinâmica dos crimes em
ambientes não domésticos, os quais correspondem a 20% do universo.

Os abusos em unidades de ensino constituem o terceiro maior grupo,


conforme classificação em tipos de local do RDO, e atingem sobretudo as
crianças menores visto que 41% ocorreram em unidades de ensino
fundamental e 36% em creches e berçários.

Gráfico 22 - Ocorrências de estupro de vulnerável em unidade de ensino, por


sublocal da ocorrência. Estado de São Paulo, 2016-jun2020

22 215
3
BERÇÁRIO/CRECHE
547 ENSINO FUNDAMENTAL
102
ENSINO MÉDIO
ENSINO SUPERIOR
OUTROS ESTABELECIMENTOS*
OUTROS NÃO ESPECIFICADOS
624

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020


*Tais como escolas de arte, música, pré-vestibular, idioma, profissionalizante.

Das ocorrências registradas em área rural, a maioria ocorre em casa (46%),


mas há um grande número de sublocais não especificados (43%). É possível
considerar também que, em meio rural, parte dos ambientes externos
catalogados são uma extensão do ambiente doméstico, tais como as áreas
de lazer. Os demais externos incluem lugares como estábulo, pasto,
plantação, rio, lago, áreas de preservação/conservação de chácaras, sítios
ou fazendas.
Gráfico 23 - Ocorrências de estupro de vulnerável em área rural, por sublocal da
ocorrência. Estado de São Paulo, 2016-jun2020

CASA
42,7%
46,7% AMBIENTES EXTERNOS DA
UNIDADE RURAL
OUTROS SUBLOCAIS NÃO
ESPECIFICADOS

10,6%

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

Dos casos em estabelecimentos comerciais, os grupos principais agregam


comércio e serviços em geral, hospedagem e restaurantes.

Gráfico 24 - Ocorrências de estupro de vulnerável em estabelecimento


comercial. Estado de são Paulo, 2016-jun2020

16,8%

ESTABELECIMENTOS VARIADOS

ESTABELECIMENTOS DE
HOSPEDAGEM
21,9%
RESTAURANTES E BARES
61,3%

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

Nas unidades de saúde sobressaem os hospitais e postos de saúde como


local de 82% dos abusos.
Gráfico 25 - Ocorrências de estupro de vulnerável em unidade de saúde, por
sublocal da ocorrência. Estado de São Paulo, 2016-jun2020

9,4% 3,2% 5,8%

15,8%
CASA DE REPOUSO*
CLÍNICAS E CONSULTÓRIOS
HOSPITAIS
POSTO DE SAÚDE
OUTROS NÃO ESPECIFICADOS

65,9%

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020


* Tais como asilo, casa/clínica de recuperação.

Nas entidades assistenciais, não há especificação para quase 69% dos


sublocais. Mas 34% dos casos ocorreram em unidades que cuidam de
crianças, como orfanato e “SOS criança”*.

Gráfico 26- Ocorrências de estupro de vulnerável em entidade assistencial, por


sublocal da ocorrência. Estado de São Paulo, 2016-jun2020

22; 6% 5; 2%

ALBERGUE
"FEBEM"*
64; 19%
ORFANATO

15; 4% "SOS CRIANÇA"*


OUTROS NÃO ESPECIFICADOS
237; 69%

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020


*Foi mantida a nomenclatura do RDO, visto que a antiga FEBEM tornou-se
Fundação Casa e o serviço SOS criança não mais existe.
Nos estabelecimentos de lazer e recreação, que contam com 36% das
ocorrências sem sublocal especificado, destacam-se à frente os clubes e
centros esportivos, com 23% dos casos, seguidos por parques (15%) e casas
noturnas (12%).

Gráfico 27 - Ocorrências de estupro de vulnerável em estabelecimento de lazer e


recreação, por sublocal da ocorrência. Estado de São Paulo, 2016-jun2020

23,4%

CLUBE/CENTRO ESPORTIVO
35,5%
PARQUE/ARENA/PAVILHÃO/CIRCO
CASA NOTURNA
PRAIA
SALÃO DE FESTA

15,2% CINEMA/TEATRO/MUSEU/GALERIA
OUTROS NÃO ESPECIFICADOS
1,4%
4,3%
8,2% 11,8%

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

Por fim, vale notar que no grupo “Outros” constam 13 casos de abuso na
internet, registrados entre 2019 e 2020.
Do perfil das vítimas, verifica-se que são meninas e mulheres na grande
maioria dos casos (83%). Em relação à raça/cor, 60% são brancas e 38%
negras, seguindo aproximadamente o perfil da população paulista.5

Gráfico 28 - Ocorrências de estupro de Gráfico 29 - Ocorrências de estupro de


vulnerável, por sexo da vítima. Estado vulnerável, por raça/cor da vítima.
de São Paulo, 2019 Estado de São Paulo, 2019

1,8% 0,2%
0,2%

16%

38%

60%

83%

Branca Negra
Feminino Masculino Não informado Não informada Outras

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

5
Censo 2010: 64% população branca e 34% negra no estado de São Paulo.
Quando se observa a distribuição das vítimas por idade, em média 83% são
vulneráveis até 13 anos, padrão que não se altera no período analisado. Por
faixa etária, destaca-se a faixa de 10 a 14 anos, seguida pelas faixas menores,
que conjuntamente representam 86% das vítimas.

Gráfico 30 - Ocorrências de estupro de vulnerável, por faixa etária.


Estado de São Paulo, 2019

50%

40%
40%

30% 29%

20% 17%

10% 8%

4% 3%

0%
0a4 5a9 10 a 14 15 a 19 20 a 29 30 ou mais

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

A distribuição entre vítimas do sexo feminino e masculino segue um padrão


na série, sem grandes alterações, com as meninas sobressaindo como as
principais vítimas em todas as faixas etárias. O pico dos abusos contra
meninas ocorre aos 13 anos e contra meninos, mais cedo, entre 4 e 5 anos.
Gráfico 31- Ocorrências de estupro de vulnerável,
segundo sexo e idade (até 30 anos) Estado de São Paulo, 2019

1.100
1.000
900
800
700
600
500
400
300
200
100
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

Feminino Masculino

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020.

Gráfico 32 - Ocorrências de estupro de vulnerável (até 13 anos), segundo sexo e


idade. Estado de São Paulo, 2019

100%
17% 17% 19% 21% 28% 27% 26% 21% 18% 17% 15% 15% 9% 9%
90%

80%

70%

60%

50% Masculino
Feminino
40%

30%

20%

10%
83% 83% 81% 79% 72% 73% 74% 79% 82% 83% 85% 85% 91% 91%
0%
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020


Gráfico 33 - Ocorrências de estupro de vulnerável (até 13 anos), segundo sexo e
idade. Estado de São Paulo, 1º semestre 2020

100%
25% 26% 16% 26% 24% 23% 22% 24% 15% 17% 17% 11% 8% 8%
90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%
75% 74% 84% 74% 76% 77% 78% 76% 85% 83% 83% 89% 92% 92%
0%
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

Feminino Masculino

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

É possível identificar outras condições de vulnerabilidade das vítimas, como


possuir deficiência ou algum “transtorno”. Essa informação tem
preenchimento razoável entre 2017 e 2020 (89% das ocorrências em média),
valendo observar que o campo específico para identificação de pessoas com
deficiência no RDO foi criado em 2014 e tem preenchimento obrigatório.

Neste universo, há indicação de que em média 7% das vítimas possuem


deficiência ou “transtorno” e 93% não. Dentre os tipos de deficiência,
sobressai a intelectual, que representa mais de 80%. A distribuição por ano
é ilustrada nos Gráfico 34 e Gráfico 35.
Gráfico 34 - Ocorrências de estupro de vulnerável contra pessoa com deficiência
ou “transtorno”. Estado de São Paulo, 2017 - jun/2020

2% 2% 3% 5%
100%
5% 4% 4% 4%

80%

60%

93% 94% 93% 92%


40%

20%

0%
2017 2018 2019 1º sem 2020

Não tem deficiência Tem deficiência Tem transtorno

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

Gráfico 35 - Ocorrências de estupro de vulnerável contra pessoa com deficiência,


segundo o tipo de deficiência. Estado de São Paulo, 2017 - jun/2020

4% 3% 3% 4%
100%
4% 5% 4% 3%
90% 8% 8% 10%
9%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
85% 83% 86% 83%
0%
2017 2018 2019 1º sem 2020

Intelectual Fisica Auditiva Visual

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020


Considerando que 83% das ocorrências tratam de estupro de vulnerável até
13 anos, percebe-se que com o avançar da idade as pessoas que possuem
deficiência ou transtorno ficam mais sujeitas a abusos, como se vê no Gráfico
36. Entre as vítimas idosas, 40% possuíam deficiência ou transtorno no
primeiro semestre de 2020.

Gráfico 36 - Ocorrências de estupro de vulnerável em que a vítima possui algum


tipo de deficiência ou transtorno, por faixa etária. Estado de SP, 2017 - jun/2020

50,0%

45,0%
40,0%
40,0%

35,0%

30,0%

25,0%

20,0% 17,1%
15,0%
10,4%
10,0% 6,8%
5,0%

0,0%
0 a 13 anos 14 a 29 anos 30 a 59 anos 60 anos ou mais

2017 2018 2019 1º sem 2020

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

Em relação à escolaridade e à profissão da vítima, os dados não são muito


consistentes. No ano de 2016, que tem a menor lacuna de dados sobre
escolaridade (36% dos casos sem informação), 44% das vítimas tinham
primeiro grau de escolaridade, completo ou incompleto (ensino
fundamental). Se excluídas as ocorrências sem informação, essa proporção
eleva-se para 69%. Conforme se vê no Gráfico 37, nos anos seguintes a falta
de informação aumenta expressivamente, o que prejudica ainda mais a
análise. Mas é possível deduzir que a perda de informação refere-se
sobretudo ao ensino fundamental e infantil, visto que crianças e
adolescentes até 13 anos constituem a grande maioria das vítimas e que as
lacunas prevalecem na faixa de 0 a 5 anos.6

Gráfico 37 - Ocorrências de estupro de vulnerável, por escolaridade da vítima.


Estado de São Paulo, 2016 - jun/2020

100%
36% 44% 63% 64% 65%
90%

80%

70%
1%
60% 4% 1%
5%
50%

40% 20% 1% 2% 2%
21% 5%
30% 6% 6%
24%
20% 17%

23% 22% 21%


10%
3% 2% 3%
15% 13% 5% 4% 4%
0%
2016 2017 2018 2019 1º semestre 2020

Analfabeto 1º grau compl 1º grau incompl 2º grau (compl e incompl) Superior S/I

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020.

Nos gráficos a seguir, a partir do cruzamento por faixa etária e nível de


escolaridade, procura-se apresentar as informações considerando os
recortes etários previstos para ensino fundamental, médio e superior
(Gráfico 38, Gráfico 39 e Gráfico 40).

6
As categorias dos níveis de escolaridade não estão atualizadas no RDO, de modo que tanto a categoria
“analfabeto” como a falta de informação sobressaem na qualificação de vítimas até 5 anos, além da falta
de informação se estender também para outras faixas etárias.
Gráfico 38- Ocorrências de estupro de vulnerável, segundo escolaridade e faixa
etária da vítima (6 a 14 anos). Estado de São Paulo, 2016 - jun/2020

100%
30% 39% 60% 62% 62%
90%
80%
70%
9%
60% 2% 2%
50% 8%
40% 1% 1% 1%
3% 4% 3% 1%
30%
20%
10%
58% 51% 36% 33% 33%
0%
2016 2017 2018 2019 2020

1º Grau 2º Grau Analfabeto Superior S/I

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020.

Gráfico 39 - Ocorrências de estupro de vulnerável, segundo escolaridade e faixa


etária da vítima (15 a 17 anos). Estado de São Paulo, 2016 - jun/2020

100%
20% 31% 58% 59% 60%
90%
80% 1%
6%
70% 0%
5%
60% 20%
50%
22% 0%
40% 1% 1% 1%
1%
0%
30%
20% 25% 21%
26%
10%
54% 42% 14% 15% 17%
0%
2016 2017 2018 2019 2020

1º Grau 2º Grau Analfabeto Superior S/I

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020.


Gráfico 40- Ocorrências de estupro de vulnerável, segundo escolaridade e faixa
etária da vítima (18 anos ou mais). Estado de São Paulo, 2016 - jun/2020

100%
13% 23% 42% 44% 45%
90%
7%
80%
15%
70% 12%

60% 9%

50% 14%
16% 12%
27% 3%
40% 5%
3%
27%
30%

20% 25% 24% 25%

10%
38% 28% 14% 13% 15%
0%
2016 2017 2018 2019 2020

1º Grau 2º Grau Analfabeto Superior S/I

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020.

Em relação à profissão, 49% das vítimas são estudantes e 5% abrangem um


amplo e variado leque de categorias profissionais, não havendo informação
para 46% das ocorrências.

A informação sobre o vínculo entre o autor e a vítima está disponível para


apenas 3.159 das 38.915 ocorrências registradas entre 2016 e junho de
2020, ou seja, 8% do universo. Para estes, é indicado parentesco em 67%
dos casos em média, proporção que chega a 73% no primeiro semestre de
2020. Considerando que em 79% dos casos há indicação de autoria,
entende-se que a falta de informação reflete antes o não preenchimento do
campo sobre o vínculo entre vítima e autor e que a alta participação de
parentes e pessoas conhecidas na prática desses crimes deve se estender
para o universo das ocorrências registradas.
Gráfico 41 - Ocorrências de estupro de vulnerável, segundo tipo de
relacionamento entre autor e vítima. Estado de São Paulo, 2016 junho 2020

1º semestre 2020 73%

2019 70%

2018 67%

2017 63%

2016 65%

1º semestre
2016 2017 2018 2019
2020
AMIZADE 2% 1% 1% 0% 0%
CASAMENTO 3% 3% 2% 3% 3%
CONHECIDO 5% 6% 6% 7% 6%
ENVOLVIMENTO AMOROSO 7% 7% 7% 7% 6%
IGNORADO 0% 2% 2% 1% 1%
NENHUMA RELACAO 13% 12% 11% 8% 6%
PARENTESCO 65% 63% 67% 70% 73%
TRABALHO 0% 0% 0% 0% 0%
UNIAO ESTAVEL 4% 3% 4% 4% 4%

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

A apresentação do crime à polícia, na grande maioria dos casos, é feita pela


“parte interessada” (79%), seguida pela polícia militar (11%). Esse padrão se
mantém ao longo da série.
Gráfico 42 - Ocorrências de estupro de vulnerável, por responsável pela
apresentação à polícia, Estado de São Paulo, 2019

8%
11% Parte Interessada
1%
Guardas Civis Metropolitanos
2%
Polícia Civil
Polícia Militar
Por outros
79%

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

Por fim, para 63,3% das ocorrências registradas entre 2016 de junho de 2020
há informação sobre solicitação de exame ao Instituto Médico Legal,
Instituto de Criminalística ou Serviço de Verificação de Óbitos, cuja
distribuição é apresentada no Gráfico 43. Na base de dados, constam 23
vítimas indicadas como fatais no universo total, porém esse campo não está
preenchido para 90% dos casos.

Gráfico 43 - Ocorrências de estupro de vulnerável, segundo exame solicitado por


instituição. Estado de São Paulo, 2016 - jun 2020
0,4% 2,8%

IC
IC-IML
IML
SVO

96,9%

Fonte: RDO. Ocorrências registradas entre janeiro/2016 e junho/2020

Os dados analisados estão disponíveis para consulta dinâmica no


portal do Ministério Público de São Paulo, com acesso no link:
https://is.gd/ESTUPRO_DE_VULNERAVEL
Muitos dos impactos da pandemia de Covid-19 e das medidas adotadas para
combatê-la são ainda desconhecidos, ou difíceis de mensurar. A análise
contida nesse documento representa um esforço de apontar uma das
consequências dos eventos de 2020 – o aumento dos casos não denunciados
de violência sexual.

Nossa análise dos dados dos boletins de ocorrência aponta para uma queda
brusca no número de casos registrados de estupros de vulnerável no período
entre 24 de março e 30 de junho de 2020, comparado com o mesmo período
em 2019 – uma queda de 28% no número de estupros comunicados, em
relação a 2019. Uma comparação mês a mês mostra uma queda de 40% em
abril e maio, também em relação a 2019.

Mas estupros de vulnerável, nossa análise também mostra, são crimes


predominantemente domésticos – na média histórica, quase 4 em cada 5
registros desse crime indicam como local de ocorrência a residência da
vítima. As medidas de distanciamento social adotadas para prevenir a
transmissão do novo coronavírus, que diminuíram a circulação pela cidade e
mantiveram crianças mais tempo em casa, podem explicar a redução de
crimes de oportunidade, como roubos e furtos, mas não a queda nos
registros de estupros. Tudo indica que aumentou o tempo que as crianças
passam dentro de casa, e é dentro de casa que elas são vítimas de violência
sexual.

Nossa análise aponta, portanto, para um provável aumento da


subnotificação desses casos de estupro. Considerando outros fatos
conhecidos da dinâmica da violência sexual contra meninos e meninas, esse
resultado não surpreende: as escolas, espaço mais comum onde eles e elas
são acompanhados fora de casa, foram fechadas; o contato com adultos fora
do círculo familiar imediato diminuiu bastante, para a maioria. Outros
espaços importantes para a construção de vínculos de confiança com
adultos fora de casa, como CCFV (Centro de Convivência e Fortalecimento
de Vínculos) e cursos e atividades extra curriculares, culturais e esportivos,
também ficaram indisponíveis. Mais distantes de espaços e pessoas em
condição de observar sinais de violência, as possibilidades de denúncia para
as vítimas, ou por elas, diminuem muito.

Nossa hipótese – de que os estupros não diminuíram, mas as denúncias sim


– leva à triste constatação de que há um grande número de meninas e
meninos que foram ou estão sendo vítimas de violência sexual, ocultos pela
ausência das denúncias. Essa violência tem consequências para suas vítimas,
para sua saúde física e mental, que se tornam tanto mais graves quanto mais
tempo passa sem que recebam atenção e tratamento.

É crucial, portanto, que as instituições do sistema de garantia de direitos se


preparem para atender às vítimas mantidas ocultas pela pandemia. Na
medida em que a circulação pelas cidades voltar progressivamente ao
normal, e que as escolas e outros serviços reabram para atendimento
presencial, precisamos estar prontos para um primeiro momento difícil, em
que tudo acumulado e mal resolvido dos últimos meses transborde de uma
vez. Os serviços têm que estar mais atentos, os funcionários preparados,
informados e treinados para lidar com um número possivelmente maior de
casos. Concretamente, a responsabilidade do Poder Público em oferecer o
atendimento quando necessário e os meios para identificação desses casos
deve se efetivar em ações que promovam campanhas de sensibilização,
ampliem canais virtuais de denúncia, ofereçam capacitação continuada aos
atores que atuam no Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do
Adolescente e ampliem a rede de atendimento a crianças e adolescentes
vítimas de violência.
As instituições diretamente responsáveis pelas medidas de proteção de
crianças e adolescentes – conselhos tutelares, polícias, sistema de justiça –
precisam ter atenção especial para procurar e proteger as vítimas mantidas
ocultas pela pandemia, especialmente as que ainda estão expostas a risco.
Precisam garantir que elas serão ouvidas, e que não estarão sujeitas a
nenhum tipo de retaliação ou revitimização. É preciso ampliar e fortalecer o
atendimento especializado e sua capacidade de atender a demanda de uma
numerosa população vulnerável à violência sexual e cujo enfrentamento
exige políticas e ações efetivamente integradas.

Antes da pandemia, os números dos estupros de vulnerável no estado de


São Paulo já eram assustadores: em 2019, foram mais de 9.200 casos
registrados, ou mais de 1 caso por hora, em média. Prevenir a violência
sexual, em quaisquer circunstâncias, requer ações de toda a sociedade. As
instituições do sistema de garantia de direitos têm que atuar de forma
integrada, com equipes treinadas para identificar sinais de abuso e para
acolher vítimas com a sensibilidade e o respeito de que elas precisam. Pais e
responsáveis devem construir uma relação de confiança com crianças e
adolescentes, estimulando diálogo e entendimento. As próprias meninas e
meninos precisam saber reconhecer situações de perigo, ou quando estão
sendo expostas a atos impróprios, para que possam se proteger.

Toda criança tem direito a uma infância segura. Tem direito de ser criança,
brincar, aprender e ser protegida contra qualquer forma de violência.
Durante a emergência de saúde pública causada pelo novo coronavírus isso
ficou mais difícil, mas por isso mesmo ainda mais crucial. A violência sexual
deixa traumas para a vida toda. Essas crianças e adolescentes não devem ser
revitimizados ou expostos. São meninas e meninos que precisam de
acolhimento, cuidado e que seus direitos sejam garantidos
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Violência doméstica durante
a pandemia Covid-19. Nota Técnica, Edição 3, 24/07/2020

INSTITUTO SOU DA PAZ. Sou da Paz Analisa: estatísticas criminais do estado


de São Paulo - 1º semestre de 2020.

FUNDO DAS NACÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA (UNICEF). 30 anos da


Convenção sobre Direitos da Criança. Avanços e desafios para meninos e
meninas no Brasil. Brasília, 2019.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Relatório Mundial sobre Violência e


Saúde. Genebra, 2002.

SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE MINISTÉRIO DA SAÚDE (SMS/MS).


Análise epidemiológica da violência sexual contra crianças e adolescentes no
Brasil, 2011 a 2017. Boletim Epidemiológico 27, Volume 49, Jun. 2018.

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