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Cosmetologia Aplicada a

Estética Corporal
Bases Cosméticas
Sumário
Desenvolvimento do material Bases Cosméticas
Christiane Miranda
Para Início de Conversa... ................................................................................ 3
Objetivo .......................................................................................................... 3
1ª Edição 1. Bases cosméticas ........................................................................................... 4
Copyright © 2022, Afya.
1.1 Legislação para o mercado de cosméticos .................................... 4
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida,
transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, 1.2. Ingredientes Cosméticos ..................................................................... 8
mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia
autorização, por escrito, da Afya. 1.3. Formulações de protetores solares ................................................. 11
1.3.1 Combinação de filtros solares ....................................................... 13
1.3.2 Formulações resistentes ou muito resistentes à água
e ao suor ................................................................................................... 14
1.3.3 Considerações finais sobre os veículos mais utilizados nos
fotoprotetores. ......................................................................................... 15
Referências ......................................................................................................... 16
Para Início de Conversa... Objetivo
A arte de desenvolver uma formulação cosmética não está só na ▪ Compreender a importância da legislação e de métodos para o
combinação dos ingredientes e em sua performance, mas também no controle de desenvolvimento cosméticos, bem como entender quais
conhecimento técnico e principalmente dos requisitos específicos, que normas e diretrizes são fundamentais para as boas práticas de
englobam as listas positivas, restritivas, negativas e as precauções desenvolvimento da indústria cosmética.
requeridas para cada categoria de produto. ▪ Ter competência para identificar o que é ingrediente cosmético e
o que é princípio ativo; quais as suas características particulares e
Hoje, a indústria de cosméticos é extremamente importante dentro da
funções dentro de um produto. Observar a importância da escolha
economia de grande parte dos países mais desenvolvidos, dentre os
das melhores e mais eficientes bases
quais se inclui o Brasil, contribuindo para a geração de empregos e a
veiculares na formulação de
redução de desigualdades regionais através da exploração sustentável
fotoprotetores.
de várias espécies do nosso bioma, especialmente na Amazônia.
▪ Entender quais são os
A sociedade vem exigindo a adoção de tecnologias de produção limpas, tipos de filtros mais
econômicas e ambientalmente corretas que, por sua vez, requerem um utilizados e como
enorme e entusiástico esforço de estudantes, professores, pesquisadores, estes influenciam
formuladores nas universidades e na indústria, para que mantenham no desempenho
a busca de ingredientes diferenciados, naturais, competitivos e de cosmético na
processos de formulação inovadores para que profissionais que fazem eficiência de
sua aplicabilidade possam ofertar com segurança e eficiência resultados proteção contra
expressivos em seus procedimentos estéticos. a radiação como
no sensorial para
o consumidor.

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1. Bases cosméticas Na verdade, muito antes de atuar como profissional e utilizar os
cosméticos profissionais, deve-se conhecer cada produto, cada princípio
Atualmente, as pesquisas avançam em direção à descoberta de ativo utilizado nele e todos os outros ingredientes usados na formulação.
matérias-primas mais eficazes, com baixa irritabilidade tanto para Desta forma, estaremos preservando a saúde e prevenindo danos à
o desenvolvimento de bases efetivas quanto de ativos que atuam na saúde do cliente. A evolução científica e tecnológica dos produtos
qualidade celular e no rejuvenescimento da pele sem intervenção fabricados, com as mais diversas finalidades, impõe ao profissional a
cirúrgica. Os resultados obtidos pelos cosméticos são consequências de
responsabilidade técnica com o domínio de todos os conhecimentos
componentes e reações químicas cuidadosamente estudados.
necessários para assumi-la. Os produtos cosméticos se desenvolveram
Em cosmética, as bases e ativos atuam em sinergia para obter a ação neste período do século XX de uma forma diferente, ou seja, com uma
esperada. É muito importante a escolha adequada da base, na qual se nova conotação científica, portanto, houve uma evolução neste campo
devem considerar diversos fatores, como a forma de apresentação e
da estética ao mesmo tempo que surgiram novas matérias-primas, o
embalagem do produto, ação esperada, modo de uso e, principalmente,
que possibilitou esse desenvolvimento. A partir daí surgiram novas
a compatibilidade entre base e ativo para obtenção do efeito desejado.
possibilidades para a forma de atuação desses produtos. Assim, de um
simples processo de adesão à pele atuando de forma física, surgiu a
1.1 Legislação para o mercado de cosméticos
possibilidade de que os produtos cosméticos passassem a atuar sobre
Qual a responsabilidade do profissional da estética quando falamos em a própria biologia da pele, e o seu efeito, em muitos casos, passou a
produção de cosméticos? ser o resultado da interferência direta dos produtos cosméticos sobre
Quando utilizamos produtos cosméticos em geral, sejam produtos de células de tecidos vivos, modificando-lhes o próprio metabolismo. Como
higiene pessoal, ou cosméticos e perfumes, precisamos entender que exemplo desta questão, destacam-se citações bibliográficas atuais, cujos
eles fazem parte do nosso campo de atuação profissional e que por autores relacionam algumas alterações da pele às ações enzimáticas ou
este motivo precisam ser utilizados com responsabilidade e cautela. mesmo imunológicas, mostrando o papel que a cosmetologia do futuro
No entanto, como ser responsável sem conhecer cada cosmético em passará a ocupar na intervenção sobre estes processos (HEEMANN et al.,
potencial?

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2010, p. 11). A partir disso, percebeu-se a necessidade de se implantar uma composição elaborada e uma atuação mais direcionada e eficaz.
mecanismos de controle no processo de fabricação dos cosméticos para Mas isso gerou a necessidade da implantação de testes de segurança
evitar doenças causadas por microrganismos que possam estar presentes seguros e produtivos para prevenir a ocorrência de danos à pele e ao
e contaminar de alguma forma o produto. Quanto mais se estuda, mais próprio organismo, evitando assim alergias, irritações e sensibilizações.
se percebe os riscos de uma patogenia. À luz dos conhecimentos atuais e pela conotação científica alcançada
pelos produtos cosméticos a nível mundial, e, em cumprimento à
legislação específica para o setor, a fabricação de produtos cosméticos
atualmente está alicerçada no binômio “eficácia e segurança”, pois além
de cumprir a sua finalidade, esses produtos devem ser seguros para o
uso sem causar quaisquer efeitos indesejáveis. Dessa forma, evidenciou-
se que é cada vez maior a necessidade do domínio profundo de
conhecimentos também da área biológica para o profissional dedicado à
área de cosmético. Paralelamente à evolução científica e tecnológica dos
cosméticos, a legislação específica para o setor também foi adequada
e está em constante processo de atualização, para que se preserve a
segurança do usuário, e também, para que possam ser incorporados
aos produtos os conhecimentos científicos e tecnológicos mais atuais
(HEEMANN et al, 2010, p. 12).
Figura 1: Exemplo de análise de fabricação e performance cosmética. Fonte: Dreamstime.
E se tratando de regulamentação do setor de cosméticos, historicamente
Por este motivo, precisavam ser criados mecanismos de controle devemos tratar da Lei n. 6.360, de 23 de setembro de 1976,
eficazes, protegendo as pessoas e também o processo de fabricação dos regulamentada pelo Decreto n. 79.094, de 5 de janeiro de 1977, a qual
cosméticos como forma de prevenir a sua própria degradação por ação dispõe sobre a vigilância sanitária a que ficam sujeitos os medicamentos,
microbiana. Então surgiu uma nova geração de cosméticos, que continha as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, cosméticos, saneantes

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e outros produtos. A partir de então, a regulamentação do setor vem A seguir, colocamos algumas Resoluções importantes:
sendo adequada pela emissão de Portarias, Resoluções, Pareceres
Técnicos e Guias que tratam de assuntos específicos, cujo conhecimento Resolução RDC nº 48, de 16 de março de 2006:
é fundamental para que o responsável técnico por empresas produtoras Regulamento Técnico - “Lista de substâncias que não podem ser
de cosméticos possa atuar com segurança (HEEMANN et al., 2010, p. 12). utilizadas em produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes”
Essa legislação estabelece critérios para os rótulos dos produtos (BRASIL, 2006). Trata-se de uma lista de substâncias que são proibidas
cosméticos de forma geral, para casos específicos e também regulamenta em produtos cosméticos, independente da concentração. Como exemplo,
a fabricação de produtos para uso infantil. Ela é bastante abrangente, temos a lidocaína, peróxido de benzoíla, ácido retinóico, entre outras.
pois regulamenta vários itens importantes, como as boas práticas de
fabricação e o processo para a obtenção do certificado de boas práticas, Resolução RDC nº 47, de 16 de março de 2006:
relacionando substâncias de uso restrito, proibido e as substâncias que Regulamento Técnico - “Lista de filtros ultravioletas permitidos para
possuem corantes. produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes” (BRASIL, 2006).
A produção cosmética hoje é regulamentada e existem várias Trata-se de uma relação de filtros solares permitidos em formulações
normas legais que regem o desenvolvimento, rotulagem, segurança, cosméticas e a concentração máxima de uso permitida para cada uma
eficácia, registro/notificação e controle de qualidade físico-químico delas.
e microbiológico de uma formulação cosmética. Antes de entrarmos
nessa área da cosmética, consideramos importante conhecer essas Resolução RDC nº 332, de 1 de dezembro de 2005:
normas para que sempre o profissional trabalhe dentro da margem Determina que as empresas fabricantes e/ou importadoras de produtos
de segurança e conhecimento. A Agência Nacional de Vigilância de higiene pessoal, cosméticos e perfumes instaladas no território
Sanitária (Anvisa) foi criada pela Lei n. 9.782, de 26 de janeiro de 1999,
nacional deverão implementar um Sistema de Cosmetovigilância a
subordinada ao Ministério da Saúde. A finalidade da agência é promover
partir de 31 de dezembro de 2005. Trata-se de um sistema que facilita
a proteção da saúde da população e da comercialização de produtos e
a comunicação, por parte do usuário, sobre problemas decorrentes do
serviços submetidos à Vigilância Sanitária, inclusive dos ambientes, dos
processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados. uso, defeitos de qualidade ou efeitos indesejáveis e sobre o acesso do

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consumidor, informações estas que deverão ser registradas e avaliadas e Por exemplo: ácido salicílico, onde o máximo de concentração dentro
caso identifiquem situações que impliquem em risco a saúde do usuário, dos cosméticos é de 2% para acne e 3% para caspa.
as empresas deverão notificar a autoridade sanitária.
Resolução RDC nº 36, de 17 de junho de 2009:
Resolução RDC nº 211, de 14 de julho de 2005:
Dispõe sobre a proibição, a exposição, a venda e a entrega ao consumo
Ficam estabelecidas a definição e a classificação de produtos de higiene de formol ou de formaldeído (solução a 37%) em drogarias, farmácias,
pessoal, cosméticos e perfumes, conforme Anexos I e II desta Resolução. supermercados, armazéns, empórios e lojas de conveniência.
Nesta resolução é possível encontrar as seguintes informações já
mencionadas anteriormente: definição de produtos de higiene pessoal, A partir de agora, esperamos que você mergulhe em estudos sobre o
cosméticos e perfumes; classificação desses produtos quanto ao assunto, aumentando o conhecimento e buscando novos conceitos no
grau 1 ou 2; lista dos tipos de produtos que se enquadram no grau 1 mercado.
e 2; requisitos adicionais para produtos importados do Mercosul e
extrazona; rotulagem obrigatória (nome, marca, número de lote, data
de validade, conteúdo, descrição dos componentes de formulação...)
e específica (são informações que deverão ser acrescentadas além da
rotulagem obrigatória); requisitos técnicos que a empresa fabricante
deve apresentar à Anvisa.

Resolução RDC nº 215, de 25 de julho de 2005:

Regulamento Técnico - “Lista de substâncias que os produtos de higiene


pessoal, cosméticos e perfumes não devem com exceto nas condições e
com as restrições estabelecidas” (BRASIL, 2005). Trata-se de uma lista das
substâncias que os produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes
podem conter, desde que obedeçam a concentração limite e condições
impostas. Figura 2: Controle de qualidade de desenvolvimento cosmético. Fonte: Dreamstime.

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1.2. Ingredientes Cosméticos da água, porém este efeito pode ser reforçado com adequado nível de
vedação dado pelas tampas das embalagens. Podem ser polióis (glicóis):
Os ingredientes cosméticos são componentes de base de um produto álcoois contendo mais de um grupo OH, solúveis em água, possuem
e possuem características específicas, como conferir trabalhabilidade, toque untuoso (pegajoso). Ex.: propilenoglicol, glicerina, sorbitol.
textura, desempenho sensorial, umidade e leveza à formulação. Devem
ir além das propriedades fisiológicas de tratamento, mas também Hidratante
proporcionar uma experiência sensorial agradável, de fácil aplicação e São matérias‑primas higroscópicas intracelulares, ou seja, substâncias
com a menor possibilidade de risco de causar irritações. que intervêm no processo de reposição do teor de água da pele de
Veículos maneira ativa. Por isso, diferenciam-se dos umectantes, que são um
processo passivo (SOUZA, 2011, p. 11).
É o componente que geralmente aparece em maior quantidade na
fórmula e que tem a função de receber os outros componentes, isto Emoliente
é, nele são incorporadas estas outras substâncias. Devem ter grande São responsáveis pelo espalhamento e lubrificação da pele e cabelo,
capacidade de solubilização ou de dispersão, conforme o caso. A escolha que juntamente com os umectantes, implicam na hidratação da pele e
do tipo de veículo deve se basear na compatibilidade com os outros cabelo. Ditam a consistência e aparência nas formulações. (SOUZA, 2011,
componentes e também no tipo de pele a que se destina o produto. p. 11).
Podem ser: água, álcool, mistura hidroalcoólica, óleo, glicerina, loções
base, cremes base (SOUZA, 2011, p. 11). Espessantes/viscosantes

Umectante São substâncias responsáveis por aumentar a viscosidade das


formulações. Os espessantes podem ser orgânicos e inorgânicos.
São substâncias higroscópicas que têm o objetivo de reduzir a
dessecação superficial pelo contato com o ar (das fórmulas), e sobre a Os espessantes orgânicos dividem-se, por sua vez, em duas classes:
pele forma uma película que permanece sobre esta após a aplicação do
a. Agentes orgânicos
produto, favorecendo a hidratação. Estes reduzem a velocidade da perda

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1. De fase oleosa
O
São espessantes de fase oleosa, que são insolúveis em água e solúveis CH2 CH2 CH2 CH2 C
em óleo. São empregados em cremes, loções e condicionadores. H3C CH2 CH2 CH2
Exemplos: álcoois graxos; monoestearato de glicerila; ésteres de álcoois O-Na+
e ácidos graxos; ceras naturais e minerais, óleos e gorduras. Cadeia apolar
capaz de interagir Extremidade polar
2. De fase aquosa com o óleo capaz de interagir
com a água
Conferem viscosidade à fase aquosa. São normalmente insolúveis na fase Figura 3: Estrutura simplificada de um tensoativo. Fonte: GALEMBECK; CSORDAS s.d., p.25.
oleosa. Exemplos: CMC — carboximetilcelulose; HEC hidroxietilcelulose
— natrosol; vinílicos: carbômero, PVP, álcool polivinílico; polissacarídeos: As substâncias tensoativas têm as seguintes propriedades:
amido, ágar-ágar, gomas e alginatos. Umectância: é a capacidade que uma substância líquida possui de
b. Agentes Inorgânicos (eletrólitos) umedecer ou molhar uma superfície sólida.

Cloreto de sódio, citrato de sódio e fosfato de sódio ou amônio (SOUZA, Detergência: É a capacidade que uma parte da molécula (o grupo polar)
2011, p. 10-13). possui de arrastar detritos e impurezas de uma superfície.

Tensoativos Espumógena: Possui a capacidade de produzir espuma.

São substâncias que possuem em sua estrutura molecular grupos Estabilizantes de espuma: alguns tensoativos têm a propriedade de
hidrofílicos, com afinidade pela água, e grupos lipofílicos, com afinidade manter a espuma por algum tempo, evitando que logo desapareça.
por lipídios. Por isso, são capazes de diminuir a tensão superficial de um (GOMES; DAMAZIO, 2009, p. 136‑140).
sistema. São classificados em aniônicos, catiônicos, não iônicos e anfóteros.

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Aniônicos: Quando em solução aquosa sofrem dissociação, sendo a parte
lipofílica do tipo aniônica. São superiores quanto à espuma, capacidade CABEÇA HIDROFÍLICA CAUDA HIDROFÓBICA

detergente, capacidade emulsiva. Geralmente, são mais usados em


xampus e sabonetes.
Tensoativo não iônico

Catiônicos: Atuam por neutralização de carga no cabelo; muito usado


em condicionadores. Irritam bastante a mucosa ocular. Exemplos: Sais
Tensoativo aniônico
quaternários de amônio, cloreto de cetil trimetil amônio, cloreto de
dimetil benzil amônio, cloreto de benzalcônico, polímeros quaternizados,
polyquaternium.
Tensoativo catiônico
Não iônico: Em solução aquosa não sofrem ionização, não possuem
carga. Geralmente, são utilizados como emulsionantes em cremes e
loções. Ex: alcanolamidas de ácido graxo de coco, ésteres glicóis, ésteres Tensoativo anfôtero
de glicerol, ésteres de polietilenoglicol, ésteres de sorbitano, álcoois
graxos etoxilados.
Figura 4: Representação esquemática dos tensoativos. Fonte: Fórmula de Sabão Artesanal, s.d.

Anfóteros: Quando em solução aquosa são dependentes do pH, onde Alcalinizantes, acidificantes e neutralizantes
liberam cargas positivas ou negativas. São recomendados para pele
frágil. Usados também em produtos infantis. Exemplos betaína: betaína Seu emprego em formulações cosméticas visa conferir alcalinidade ou
de coco; cocoamido‑propil betaína; coco‑carboxi‑anfo‑glicinato de sódio. acidez às soluções, a fim de prover correção do ph da mesma com a
intenção de se obter sabões, umectantes, géis de carbômeros e etc.

Sua origem pode ser inorgânica e orgânica e os exemplos mais


conhecidos na indústria cosmética são: TEA (trietanolamina) e NaOH.

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Geralmente os ácidos mais usados em cosméticos são os orgânicos, tais eles precisam ter algumas características
como ácido cítrico e ácido fosfórico. que são exigidas pela legislação: devem
ser atóxicos, não podem ser irritantes para
Princípios ativos
a pele, não podem ser sensibilizantes
São substâncias geralmente derivadas de plantas, frutos, sementes ou mutagênicos, não podem ser voláteis,
e etc. com capacidade de desempenhar ações fisiológicas dentro do precisam possuir características solúveis
organismo, atuando em sua grande maioria a nível celular induzindo apropriadas; não podem ser absorvidos
aumento de atividades metabólicas, da irrigação sanguínea, na síntese pela pele; não podem sofrer alteração de
de aminoácidos precursores de fibras proteicas, no estímulo do Fator cor; não mancham a pele e vestimentas;
Natural de hidratação, dentre outros. Exemplos: ácido hialurônico, devem ser incolores; devem ser compatíveis
vitamina C, silício orgânico, cafeína, glicirrizinato de potássio e etc. com a formulação e material de acondicionamento e
estáveis no produto final.
1.3. Formulações de protetores solares Existem vários veículos que são utilizados em preparações de protetores
solar, mas os principais são:
Para se formular um protetor solar é preciso a presença de dois
ingredientes importantes e muito básicos: os ativos (seja um filtro Loções hidroalcoólicas
orgânico e/ou inorgânico) e também os veículos. Podemos ter diversos
tipos de veículos possíveis de serem usados no preparo dos protetores São loções que possuem características de fácil espalhamento na pele
solares, desde soluções muito simples até formulações mais complexas. e evaporam rapidamente. Sua composição principal é a água e o álcool.
Portanto, para que o consumidor final receba o filtro solar, é necessário Um protetor solar que seja líquido em forma de loção não apresenta
que este esteja incorporado a um veículo; quando este está associado um nível ideal de proteção solar e, por este motivo, o seu uso tem sido
ao filtro solar, denominamos o produto de protetor solar ou fotoprotetor. questionado. Além disso, o álcool etílico utilizado na preparação pode
causar algum tipo de efeito deletério à pele e, por isso, seu uso também
Para que esses fotoprotetores sejam vendidos para o consumidor final, tem sido questionado.

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lado da proteção ao sol. Estes veículos podem ser O/A (óleo em água)
ou A/O (água em óleo), características que também podem conduzir a
preparações mais ou menos protetoras.

As emulsões A/O são as mais adequadas para a proteção da pele, no


entanto, deixam-na muito oleosa por apresentarem muita gordura na
composição. Por este motivo, as emulsões O/A vêm sendo mais utilizadas,
garantindo maior proteção associada ao conforto e satisfação do usuário.

Quanto a fase
externa:

água

Emulsões água em Emulsões óleo em


óleo óleo (A/O) água (O/A)

Figura 5: Loção Fotoprotetora. Fonte: Dreamstime.


Utilizadas em protetores
Cremes e loções emulsionadas: Fase interna água e externa
solares com resistência à água,
cremes para a noite, cremes
óleo, que está em contato
para os pés, protetores infantis,
Este veículo tem sido o preferido para a composição dos filtros solares, com a pele
demaquilantes e cremes de
pois as emulsões ou cremes são os melhores veículos para os filtros limpeza.

solares. Possuem componentes lipossolúveis e hidrossolúveis, por


Figura 6: Representação de emulsões A/O e O/A. Fonte: GRANZOTO, s.d.
isso, podem carregar em sua estrutura tanto filtros hidrossolúveis
quanto lipossolúveis. Isto se torna bastante saudável pensando pelo

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Géis

Os géis podem ser de origem natural, como as gomas ou alginatos, ou


de origem sintética, como os polímeros e copolímeros de acrilamida.
Independentemente da origem, o gel é obtido por meio de um espessante
hidrofílico. Ele não apresenta o mesmo nível de proteção solar que
os outros veículos, como as emulsões. Para manter a transparência
característica do veículo, existe a necessidade de os filtros solares serem
hidrossolúveis. No entanto, para se conseguir uma proteção maior e
mais adequada, é necessária uma mistura de filtros, em sua maioria,
lipossolúveis.

Obter géis transparentes é uma tarefa imensamente difícil, por isso os


profissionais que confeccionam este tipo de filtro solar em forma de
gel acabam muitas vezes por incluir solventes nem sempre desejados,
Figura 7: Gel de Aloe Vera. Fonte: Dreamstime.
como é o caso do álcool etílico. Outro detalhe importante é que na
preparação de géis fotoprotetores também deve-se evitar a presença de
filtros inorgânicos. Estes filtros deixam o gel, na maioria das vezes, com 1.3.1 Combinação de filtros solares
aspecto opaco e, muitas vezes, acabam por deixar aglomerados visíveis.
Considera-se moderno utilizar filtros solares químicos e físicos. Esses
Este problema sugere que o protetor solar deixe um aspecto estético
filtros químicos, na maioria das vezes, têm proteção tanto para UVA quanto
desagradável e acaba por oferecer baixos níveis de proteção (SOUZA;
para UVB, com amplo espectro de absorção. Os filtros físicos também
ANTUNES, 2008). “A presença de aglomerados no protetor levará à
estão modernizados com substâncias micronizadas e antirradicais livres.
formação de uma película não homogênea em toda a extensão da pele,
Geralmente, estes filtros ainda contêm alguns tipos de óleos, hidratantes
fato este que compromete sensivelmente o nível da proteção” (FLOR;
e extratos que acabam por potencializar o seu efeito.
DAVOLOS; CORREA, 2007).

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Atualmente é frequente combinar os filtros químicos e físicos, e talvez esta esta ação. Um filtro solar pode ser classificado como resistente à água e
seja mesmo a melhor opção, pois sabemos que o filtro químico sozinho como muito resistente à água.
não consegue um alto nível de proteção e, por isso, há necessidade de
Os ingredientes hidrorrepelentes devem ser preferencialmente citados
adição de uma quantidade menor de cada tipo de filtro para alcançar um no rótulo, uma vez que o fato de ser resistente ou à prova d’água não
valor de FPS maior, diminuindo, assim, os efeitos indesejáveis isolados elimina a necessidade da reaplicação, embora esta possa ser realizada
de cada filtro (LEONARDI, 2008). A associação dos filtros inorgânicos em intervalos maiores (CABRAL; PEREIRA; PARTATA, 2011, p. 7). Para
dióxido de titânio e óxido de zinco permite obter formulações finais com um filtro solar ter resistência à água, ele deve conter em sua fórmula
baixo potencial alergênico e irritante, o que é especialmente importante agentes filmógenos que fixam os filtros na pele, impedindo, assim, sua
para formulações de produtos infantis, para uso diário, para indivíduos retirada quando em contato com a água ou o suor. Estes produtos são
com peles sensíveis e para a área dos olhos. Temos outra vantagem a os copolímeros de poli vinil pirrolidona (PVP), eicoseno, hexadeceno
considerar, o dióxido de titânio atenua, principalmente, a radiação UVB, e tricotando. Eles são irritantes para os olhos, por isso, deve-se tomar
enquanto o óxido de zinco atenua a radiação UVA (RIBEIRO, 2010). muito cuidado com eles (RIBEIRO, 2010).

Alguns princípios ativos podem ser associados aos filtros solares sem
1.3.2 Formulações resistentes ou muito resistentes à água e ao alterar sua eficácia, no entanto, eles devem ser estáveis à luz e ao
suor calor e não podem variar de cor. Além disso, eles devem ter um tempo
de duração alto, devem ser solúveis em solventes e não podem ser
Devemos considerar que os protetores solares não oferecem proteção
comedogênicos, além de precisarem ter boa fixação na pele, mesmo após
cem por cento e nem de forma permanente; após seu uso, muitos outros
imersão em água e excesso de suor. Quando esses protetores solares
fatores devem ser considerados. Alguns fatores que devemos sempre
com ativos são com base de silicone, o produto final fica excelente,
considerar são: a pele da pessoa que está utilizando o protetor solar,
pois os fluidos siliconados permitem fácil espalhabilidade, formando
as condições de uso, o ambiente, o suor, entre outros. Todos esses
um filme emoliente e protetor, além de funcionar como uma barreira
fatores podem alterar o nível de proteção. A presença na formulação
oclusiva. (SOUZA, 2011).
de substâncias hidrofóbicas e ou hidrorrepelentes é fundamental para

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Existem vários ativos que podem ser utilizados nas formulações com Os óleos, suspensões e, sobretudo, os cremes são mais aderentes,
protetores solares, como a ureia, os aminoácidos, os antioxidantes, especialmente os últimos, se forem muito gordurosos, sendo, portanto,
como a vitamina C e E, o betacaroteno, entre outros. Estão surgindo menos facilmente removíveis pela água; têm, porém, o inconveniente de
“fotoprotetores noturnos”, isto é, com o objetivo de agir na reparação dar brilho à pele, sujarem a roupa, prenderem areia e poeira e serem, por
do DNA previamente lesado através da ação da enzima endonuclease, vezes, de difícil remoção (RIBEIRO, 2010, p. 128).
podendo ser usado independente da presença dos raios UV. Os ultrassons
contêm estas enzimas em lipossomas, que permitem uma ação
prolongada e eficaz na reparação do DNA e, ainda, têm a propriedade
de estimular a produção de melanina celular, proporcionando, assim, um
bronzeamento “mais saudável”. (OLIVEIRA, 1996 apud CABRAL; PEREIRA;
PARTATA, 2011, p. 8, grifo do autor).

1.3.3 Considerações finais sobre os veículos mais utilizados nos


fotoprotetores.
Para escolhermos um filtro solar, devemos considerar alguns pontos: a
solubilidade do produto, o tempo de ação pretendida, a preferência da
pessoa que vai usar o protetor solar e, claro, o tipo de pele. Os mais
utilizados são: os não iônicos, emulsões água/óleo (A/O) ou óleo/água
(O/A), os géis não iônicos, que dão sensação lubrificante sobre a pele,
e o carbômero, iônico, que possui toque seco. As emulsões A/O ou O/A
ajudam, inclusive, a diminuir a agressão do sol na pele, pois possuem
agentes emolientes e hidratantes na formulação (CABRAL; PEREIRA;
Figura 8: Emulsão fotoprotetora. Fonte: Dreamstime.
PARTATA, 2011, p. 8).

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Ao longo deste capítulo pudemos observar o quão importante é para
o profissional e futuro profissional de estética se especializar e se Referências
atentar a fatores de extrema importância como os tipos de formulações ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE HIGIENE PESSOAL,
e ingredientes presentes nos seus produtos. Acreditamos que este PERFUMARIA E COSMÉTICOS. Brasil é o quarto maior mercado de beleza
conteúdo tenha sido muito rico para você e que tenha acrescentado e cuidados pessoais do mundo. Disponível em: https://abihpec.org.br/
muito conhecimento e contribuído para a formação do seu raciocínio. brasil-e-o-quarto-maior-mercado-de-beleza-e-cuidados-pessoais-do-
Esperamos que suas dúvidas tenham sido sanadas quanto à evolução mundo/. Acesso em: 22 jul. 2022.
do mercado de desenvolvimento cosmético e, assim, você pôde perceber BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária
o quanto está crescendo e evoluindo o mercado dos cosméticos de (ANVISA). Guia para avaliação de segurança de produtos cosméticos.
higiene, limpeza, hidratação e nutrição da pele. Por esse motivo, a Brasília: Anvisa, 2003.
pesquisa sobre o assunto deve ser constante, pois a cada dia temos
novas informações e dados estatísticos demonstrando as mudanças, BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária
evoluções mercadológicas e tecnológicas relacionadas à formulações e (ANVISA). Resolução RDC no 47, de 16 de março de 2006. Aprova o
princípios ativos cosméticos. regulamento técnico lista de filtros ultravioletas permitidos para
produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes. Diário Oficial da
Lembre-se que é de suma importância que você entenda perfeitamente União, Poder Executivo, Brasília, DF, 17 mar. 2006.
a função e o objetivo de cada insumo, assim você possuirá autonomia na
hora de escolher a melhor fórmula para tratar seu cliente. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA). Resolução 211, de 14 de julho de 2005. Ficam estabelecidas a
definição e a classificação de produtos de higiene pessoal, cosméticos e
perfumes, conforme Referências desta resolução. Diário Oficial da União,
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