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ECONOMIA

Petrobras diz ter


comprovado 10 casos de
assédio e importunação
sexual entre 81
denúncias
Exclusivo: empresa afirma que demitiu cinco
pessoas. Funcionárias relataram dezenas de casos
de assédio e importunação por meio de aplicativo
de mensagens.

Por Isabel Seta e Isabela Leite, g1 e GloboNews — São


Paulo

13/07/2023 04h01 · Atualizado há 8 meses

Edifício-sede da Petrobras, no centro do Rio — Foto: Marcos Serra


Lima/g1

A Petrobras diz ter comprovado 10 casos de


assédio sexual e importunação sexual de um
conjunto de 81 denúncias feitas entre 2019 e
2022.

Após a GloboNews mostrar dezenas desses


relatos feitos por funcionárias da empresa,
a Petrobras decidiu, em abril de 2023,
promover um raio-x nos casos que foram
levados à ouvidora a partir de 2019 --ano em
que as apurações passaram a ser
centralizadas pela ouvidoria.

Cerca de dois meses depois, a empresa


afirma ter concluído a investigação de 80
casos --há uma apuração ainda não
encerrada. Em dez casos, a empresa diz ter
comprovado total ou parcialmente os fatos
relatados -- o equivalente a 12,34% do total
de denúncias registradas na ouvidoria.

As informações foram obtidas com


exclusividade pelo g1 por meio da Lei de
Acesso à Informação e complementadas
posteriormente com a assessoria de
imprensa da Petrobras.

A estatal afirmou que cinco denúncias


resultaram em demissão. Já os outros
casos, a depender da gravidade dos fatos
confirmados, acarretaram suspensões ou
providências administrativas, como, por
exemplo, afastar o assediador do convívio da
vítima, com mudança de setor ou unidade.

Petrobras diz ter comprovado 10 casos de assédio e importunação


sexual entre 81 denúncias

Com sede no Rio de Janeiro, a empresa não


informou onde ocorreram os casos.

Em abril, depois que a Globonews divulgou


relatos de assédio e importunação feitos
por funcionárias, a Petrobras prometeu
diminuir de 180 para 60 dias o prazo para a
conclusão da apuração das denúncias, além
de centralizar a investigação na área de
Integridade Corporativa e oferecer
atendimento psicológico às vítimas. Ao g1, a
Petrobras não informou quantas vítimas
passaram a receber esse atendimento.

De abril até junho, a Petrobras contabilizou 4


novas denúncias de assédio (duas em 2023,
uma em 2022 e outra sem ano identificado) e
outras 11 denúncias de importunação sexual.
Esses casos estão em apuração.

Segundo o diretor de governança da


Petrobras, Mário Spinelli, "o assédio sexual
envolve uma conscientização de todos os
envolvidos, de todos os níveis da companhia"
e que, por isso, tem sido um assunto muito
debatido dentro da empresa.

Ele afirma que desde abril, o grupo de


trabalho tem procurado criar um ambiente
que acolha as vítimas e ofereça atendimento
psicológico, mesmo que não seja feita uma
denúncia.

Sobre o número de denúncias feitas aos


canais de atendimento após as reportagens
feitas pela GloboNews, Spinelli entende que
as funcionárias se sentiram mais seguras
para denunciar e que "parece evidente que
exista uma procura maior pelo serviço" (veja
mais abaixo a nota da Petrobras).

Segundo o Sindipetro-RJ apenas 17% do


quadro de funcionários da empresa é
composto por mulheres. Nas refinarias, a
proporção é bem menor.

· Assédio moral e assédio sexual:


entenda como reconhecer agressões
no ambiente de trabalho

Entenda o caso

Funcionárias da Petrobras relatam assédio e abusos sexuais: 'era


proibido trancar a porta'

Em um grupo de WhatsApp, funcionárias da


Petrobras relataram dezenas de episódios de
assédio sexual cometido por colegas de
trabalho e superiores hierárquicos quando
estavam embarcadas em plataformas e
também em outras unidades da empresa,
como o Centro de Pesquisas (Cenpes).

As denúncias de assédio foram inicialmente


reveladas por Ancelmo Gois, colunista do
jornal "O Globo". A GloboNews teve acesso a
um compilado de 53 mensagens com relatos
espontâneos de pessoas que foram vítimas
dos abusos ou também testemunhas de
agressões contra as trabalhadoras.

"A gente botava cadeira na


porta à noite porque era
proibido trancar… Uma amiga
passou por uma situação
bizarra. Chegou no camarote e
tinha um cara mexendo nas
calcinhas dela", dizia uma das
mensagens.

"A recepcionista da gerência


que eu trabalhava teve o seio
apalpado por um petroleiro,
dentro da empresa. O caso
virou o escândalo da gerência e
todo mundo soube do caso,
mas a chefia não fez nada. A
moça foi transferida de área",
afirmava outro relato.

Em 2022, um petroleiro foi denunciado pelo


Ministério Público do Rio por assédio e
importunação sexual contra uma mulher que
prestava serviços à empresa. Uma
investigação interna foi aberta pela ouvidoria,
mas foi arquivada, sem punição, sob a
alegação de falta de provas, apurou a
GloboNews. Mas a estatal só demitiu o
funcionário seis meses depois tomar
conhecimento do caso e as denúncias feitas
pela Promotoria.

Depois das mensagens virem à tona, o


presidente da Petrobras, Jean Paul Prates,
afirmou que a empresa vai fortalecer
medidas de combate ao assédio.

Em abril, a Diretoria Executiva da companhia


aprovou uma série de recomendações feitas
por um grupo de trabalho dedicado ao tema,
entre elas: criação de uma equipe
especializada para apuração das denúncias,
centralização de todas as investigações na
área de Integridade Corporativa, prazo de 60
dias para a conclusão das apurações e criação
de um canal 24 horas para suporte
psicológico.

Grito de socorro
A analista Aline Silva Mendes Pinto é
funcionária terceirizada e denunciou à
Ouvidoria da Petrobras ter sido vítima de
assédio sexual no Edifício Senado, na cidade
do Rio de Janeiro. O abuso, segundo a
denúncia, foi cometido por um colega de
trabalho, após diversos episódios de
importunação. Ela relata que o caso mais
grave foi em julho do ano passado, após
retornar do almoço e ser abordada pelo
funcionário. Os dois estavam sozinhos na
sala.

"Ele colocou o celular em cima


da mesa e foi quando ele
tentou colocar a mão em mim.
Eu olhei para ele e vi que ele
estava de perna aberta e eu vi
que as partes dele estavam
avantajadas. Aquilo foi me
causando um nervosismo, uma
aflição. Ele continuou com um
dos pés no chão e o outro
prendendo a minha cadeira. Eu
levantei e ele veio por a mão
dele em mim, e aí eu empurrei
a mão dele e saí em retirada
dali. Eu estava ali sozinha, eu
não tinha com quem falar,
pedir ajuda", contou.

Nos dias seguintes, Aline diz que comunicou


seus superiores diretos, além de registrar
uma queixa na Ouvidoria da Petrobras e na
Polícia Civil. O inquérito policial, segundo ela,
não teve andamento. Já em relação à
investigação interna da estatal, a funcionária
recebeu um e-mail em dezembro do ano
passado comunicando que não foi possível
confirmar o abuso sexual por falta de
testemunhas, imagens ou documentos.

Com a mudança de política nas investigações


sobre os assédios, Aline espera que o caso
dela seja revisto e cobra punição do agressor.

"Na época, eu estava grávida e,


infelizmente, depois disso, eu
tive um aborto. Eu tive perdas
irreparáveis. E isso que eu estou
dando é um grito de socorro. Eu
esperava mais importância no
meu caso, mesmo porque não
foi um caso que eu escondi. Foi
um caso que todos os gestores
ficaram sabendo. Hoje eu estou
trabalhando 100% dentro da
minha casa e ele está indo
trabalhar normalmente",
revelou.

Questionada pela reportagem, a Petrobras


disse que a apuração da área especializada
"não confirmou a autoria do ato relato,
mesmo ouvindo testemunhas e buscando
eventuais provas documentais".

A coordenadora do coletivo de petroleiras da


Federação Única dos Petroleiros (FUP),
Patrícia Jesus, acompanhou os trabalhos do
grupo de trabalho dedicado aos casos de
assédio sexual na Petrobras e afirma que as
medidas adotadas pela empresa deram mais
acolhimento e celeridade às investigações.

"Nós pedimos nessa conversa com GT (grupo


de trabalho) que a vítima fosse ouvida por
uma equipe multidisciplinar que fosse
composta por mulheres... uma assistente
social, uma psicóloga, que tivesse um
ambiente que ela se sentisse à vontade para
contar o o assédio sofrido e se sentir segura.
Também é muito importante essa
confidencialidade, porque temos vítima que
quer fazer a denúncia, mas ela não quer se
expor", explica a coordenadora do coletivo.

Ela ressalta que a FUP e outras entidades


sindicais também têm reforçado que é
necessário o trabalho de conscientização para
orientar quem foi alvo de investigação. "Não é
só tirar o cara de um ambiente de trabalho e
mudar para outro, e ele continuar fazendo a
mesma coisa no outro lugar. Ele tem que se
conscientizar de que o que ele fez é errado.
Então, para isso, a empresa tem nessa
proposta do grupo de trabalho montar um
curso de masculinidade tóxica", disse.

O que diz a Petrobras


Leia a seguir a nota da Petrobras na íntegra:

"Em abril de 2023, com o objetivo de construir


um ambiente livre de Violência Sexual, foi criado
na Petrobras um Grupo de Trabalho, para rever,
analisar e propor melhorias e revisões de
padrões, processos e ações relativas à
prevenção, detecção e correção de violências
sexuais. Foram analisados os casos pretéritos
para entender o conjunto das manifestações
recebidas, com intuito de realizar um
diagnóstico. Após análise se concluiu que os
processos estabelecidos, embora condizentes
com as boas práticas empresariais, tinham
oportunidades de melhoria.

Em relação ao processo de tratamento de


denúncia, houve a centralização da apuração de
todos os casos de Violência Sexual em única
área especializada; Redução do prazo de
tratamento de denúncias de violência sexual de
120 dias para 30 dias, prorrogáveis por mais 30
dias; Revisão do padrão de Tratamento de
Denúncia, para conferir foco na vítima e a
antecipação de mecanismo de sua proteção a
partir da denúncia, com a avaliação de Medidas
cautelares cabíveis; devolutiva humanizada
para o denunciante ao longo do processo de
tratamento da denúncia; estruturação de ações
de pós denúncia, compreendendo medidas
restaurativas para melhoria da ambiência.

Além disso, a Petrobras estabeleceu um Canal


de Acolhimento, aberto à toda a força de
trabalho, voltado para vítimas de assédio ou
violência sexual. A partir de agosto ele passa a
incluir um atendimento proativo. Paralelamente
ao tratamento e à investigação da denúncia,
uma equipe multidisciplinar irá procurar essas
mulheres, de forma proativa, para realizar
escuta e atendimento psicológico. Essa fase é
um complemento à etapa inicial do projeto,
lançada em maio, quando foram abertos canais
voluntários de atendimento online, telefônico e
presencial.

Em relação à prevenção e conscientização,


foram adotadas as seguintes medidas:
elaboração de plano de capacitação para
públicos específicos; inclusão do tema assédio
como pauta fixa como abertura nos Encontros
com a Diretoria; Estruturação de Diretriz e
Cartilha para Prevenção e Enfrentamento ao
Assédio e à Discriminação; Revisão das
disposições sobre combate à violência sexual na
minuta contratual padrão da Petrobras;
Divulgação do balanço de medidas disciplinares;
Disponibilização do EAD Obrigatório sobre
Violência Sexual.

Quanto à denúncia mencionada, a apuração de


nossa área especializada não confirmou a
autoria do ato relatado, mesmo ouvindo
testemunhas e buscando eventuais provas
documentais".

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