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Em 1.

947 a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu saúde como “um estado
de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”.

A definição da OMS pode ser considerada avançada para a época em que foi
realizada, mas, no momento, é irreal, ultrapassada e unilateral, por visar a uma
perfeição inatingível.

O estilo e o ritmo de vida impostos pela cultura, pela organização do trabalho, pela
vida nas metrópoles, entre tantos outros fatores, fazem com que seja necessário um
conceito ampliado de saúde, que se desloca do campo biológico e não pode ser
pensado apenas do ponto de vista da doença.

É indispensável, nesse contexto, entender saúde por meio das relações históricas,
econômicas, políticas, sociais, da qualidade de vida, das necessidades básicas do
ser humano, seus valores, crenças, direitos, deveres, suas relações dinâmicas e
construídas ao longo de todo o ciclo da vida e do meio em que convive.

A evolução do conceito saúde passou de estado de ausência de doença para um


conceito positivo focado nos aspectos acima citados.
Esse avanço, permite relacionar a saúde com outros fatores, como o conhecimento
do paciente sobre seus direitos e das obrigações das instituições e dos profissionais
de saúde.
Neste sentido, o soergmento da ações de saúde traz à voga um tema especialmente
importante: A ética.

Por mais lógico que possa parecer, compreender o que é a ética aplicada à saúde é
muito importante para qualquer profissional que atue nesse segmento. De uma
maneira mais abrangente, esse tema diz respeito aos princípios que motivam e
orientam o comportamento humano a respeito de normas e valores de uma
realidade social. Na saúde, ela pode ser compreendida como o conjunto de regras e
preceitos morais de um indivíduo.

Poderíamos imaginar que possuir uma conduta ética deveria ser pré-requisito para a
contratação de qualquer profissional, especialmente aqueles que atuarão em no
setor da saúde considerando a delicadeza do objeto de estudo, no entanto, em uma
sociedade conectada freneticamente à internet e redes sociais, torna-se fundamental
que se debata o assunto incansavelmente bem como se desenvolvam políticas e
normas de controle de irregularidade e, que se promova transparência e a gestão de
conflitos relacionados ao tema.

2022 veio à público o caso da atriz brasileira Klara Castanho de 21 anos, que fez
uma entrega voluntária legal do bebê nascido dela para adoção, a coadjuvante da
série ficcional “Bom dia, Verônica” da NETIFLIX*, ganhou a internet e os noticiários
ao divulgar uma carta aberta nas redes sociais, que foi vítima de um estupro e, por
isso, engravidou. Ela ressaltou o quanto falar do assunto publicamente foi doloroso
ao ter que relembrar de toda a história. E essa questão de foro íntimo de Castanho
só veio a público porque uma enfermeira que participou do parto ameaçou espalhar
a história abordando a vítima enquanto ainda se recuperava do procedimento.
Agora, a profissional é investigada por ser apontada como a responsável pelo
vazamento das informações que foram publicadas pela “youtuber” Antonia
Fontenelle e pelo jornalista Léo Dias.

O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem diz, no artigo 85, que


profissionais de enfermagem são proibidos de “divulgar ou fazer referência a casos,
situações ou fatos de forma que os envolvidos possam ser identificados”. O
Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), lançou nota prestando solidariedade à
atriz e se comprometendo a apurar as responsabilidades envolvidas para que
providências sejam tomadas. A nota ainda destaca que “o princípio basilar da
Enfermagem é a confiança. Portanto, o profissional de saúde que viola a privacidade
do paciente em qualquer circunstância comete crime e atenta eticamente contra a
profissão”. A presidente do Conselho declarou, inclusive, que a enfermeira
investigada pode perder o registro profissional. O Conselho Regional de
Enfermagem de São Paulo (Coren-SP), também anunciou abertura de procedimento
para apurar eventuais infrações de profissionais envolvidos no caso. 

“Como mulher, fui violentada primeiramente por um homem e, agora, sou


reiteradamente violentada por tantas outras pessoas que me julgam. Ter que me
pronunciar sobre um assunto tão íntimo e doloroso me faz ter que continuar vivendo
essa angústia que carrego todos os dias”, escreveu a atriz. 
A sucessão de violências a que a artista foi submetida beira o inacreditável, num
processo que deveria ter sido sigiloso tanto no âmbito médico quanto jurídico, pois
além da proteção garantida pela legislação esperava-se um comportamento ético
dos profissionais envolvidos. Klara Castanho foi violentada de diversas formas.

Se uma pessoa pesquisar no “Google” a palavra Ética, aparecerão


aproximadamente 223.000.000 resultados, embora seja um tema amplamente
discutido, existem ainda diversos obstáculos que devem ser superados. Só assim
pode-se garantir uma ética eficiente e aplicada pelos profissionais de saúde,
inclusive para uma atuação mais efetiva em uma equipe multidisciplinar. O desafio
começa na que mostra a importância de uma abordagem com caráter humanizado.
Os cargos em hospitais, línicas e postos de saúde precisam estimular essa prática,
de forma a incentivar a atuação holística dos profissionais. O Dr. Flavio Lanes
colunista do site “Telelaudo” indica algumas práticas que podem contribuir:

 Respeitar integralmente a dignidade da pessoa humana: o que significa


não fazer nenhuma discriminação que possa prejudicar de qualquer forma
o bem-estar do paciente por motivo de raça, religião, gênero etc.
 Zelo: consiste em desenvolver as atividades com dedicação e cuidado,
obedecendo aos preceitos éticos, morais e legais da profissão;
 Sigilo: refere-se à garantia de sigilo sobre as informações do paciente,
tanto no que se refere aos seus dados como também à discussão do caso
apenas com profissionais igualmente envolvidos no atendimento;
 Aprimoramento profissional: comprometimento de buscar a qualificação
profissional adequada e jamais aceitar uma função ou atividade que não
está apto a desenvolver;
 Denunciar erros técnicos: consiste em primar por um ambiente adequado
aos serviços oferecidos e também não ser conivente com o mau exercício
da profissão por parte de colegas. Um exemplo seria denunciar a falta de
equipamentos de proteção individual (EPIs) que coloca em risco a saúde
de profissionais e pacientes;
 Ser solidário: refere-se ao desenvolvimento das atividades profissionais de
forma colaborativa e solidária com os colegas de equipe, buscando a
unidade nas práticas diárias;
 Nunca buscar vantagens pessoais: refere-se a não ser conivente ou
cúmplice em práticas antiéticas visando ganhos pessoais, sejam aquelas
que ferem a ética da profissão ou mesmo o senso coletivo da categoria.

“Amo o meu chão, mas odeio a nossa pobre educação ética. Se extirpássemos
nossas condutas corruptivas, até poderíamos liderar o planeta terra.” Apesar da
frase ser da política alemã Johanna Wanka, ela se aplica facilmente ao contexto
brasileiro. Sendo o Brasil uma nação potencialmente próspera e, não fossem as
práticas corruptas e antiéticas de sua polução e representantes, poderia talvez, ser
líder do mundo!

* Netflix é um serviço online de streaming norte-americano de vídeo sob demanda


por assinatura lançado em 2010, disponível em mais de 190 países. Em março de
2023 superou 232 milhões de assinantes globalmente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
https://www.palavraaberta.org.br/artigo/o-caso-klara-castanho-e-o-horror-do-
engajamento-irresponsavel
http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2012/03/resolucao_311_anexo.pdf
Portal do Ministério da Saúde: www.saude.gov.br
www.saude.gov.br/bvs
https://ufmg.br/comunicacao/noticias/etica-dos-profissionais-de-saude-como-os-
valores-morais-e-individuais-devem-ser-separados-do-dever-profissional
https://bvsms.saude.gov.br/05-8-dia-nacional-da-saude/
https://ufmg.br/comunicacao/noticias/etica-dos-profissionais-de-saude-como-os-
valores-morais-e-individuais-devem-ser-separados-do-dever-profissional
https://www.telelaudo.com.br/blog/principios-da-etica-profissional-na-saude/

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