Skinner, B. F. About behaviorism. New York, Apleton-Century Crofts, 1974.
256 p.
A apresentação de AB aos psicólogos brasileiros seria, talvez sem sentido, dois
anos após a edição americana. Os behavioristas, na sua maioria, já devem ter lido AB e a excelente revisão de R. Schnaitter, aparecida no Joumal of Experimental Analysis of Behavior, v. 23, p. 297-307, 1975. O que justifica, entretanto, mais uma apreciação de AB é, talvez, o fato de ela ser feita por um psicólogo brasileiro e endereçada a leitores brasileiros, na sua maioria não-skinnerianos. Nesta apre- sentação serão objeto de consideração os seguintes pontos: a) apresentação gráfica e bibliografica; b) o que AB pretende ser; c) comportamento verbal; d) incursões fllosóficas. A apresentação gráfica de AB é bem cuidada, tendo sido usado o tipo life na sua impressão. Este cuidado tem caracterizado a impressão dos últimos livros de B. F. Skinner, como as suas memórias, publicadas, no início deste ano, nos Estados Unidos, sob o título Particu/ars of my life. Curiosamente, a apresentação bibliográfica não é bem cuidada. As referências bibliográficas n~o são feitas obede- cendo a todos os elementos, havendo, por exemplo, omissões de volume e número do American Psychologist referenciado no capítulo 2. Por outro lado, as refe- rências que Skinner faz de autores como Marx, Chardin, Kepler, Hegel, são sempre "de segunda mão". Citações desta natureza, como se sabe, são em geral perigosas. Seria este o motivo dos deslizes de interpretação cometidos por B. F. Skinner, ou o fato de que, realmente, ele não teve o cuidado de ler esses autores? É, portanto, necessário distinguir o Skinner enquanto behaviorista, que cita com segurança o seu próprio trabalho e os de alguns poucos outros behavioristas, como Thorndike, do Skinner que se vê na contingência de estender seu campo de dis- cussão, e, portanto, de citações, este último bastante frágil. O que pretende ser AB? AB pretende ser uma resposta, distribuída ao longo dos seus 14 capítulos, que Skinner oferece às clássicas objeções levantadas - dentro da psicologia e fora dela - ao behaviorismo. Este elemento é relativamente novo no comportamento do autor, que até então não respondera aos que objetam à sua versão do behaviorismo. Pela primeira vez, aparece uma clara referência a Piaget, aos estruturalistas, e a outros. Neste sentido, esta atitude pode ser consi- derada como simpática, pois conduz ao diálogo. AB não é, portanto, um livro autoritário. Na introdução, Skinner enumera vinte objeções clássicas à sua teoria, como, para citar algumas: a) o behaviorismo ignora a consciência, o comporta- mento inato; b) não considera os processos cognitivos; c) não explica o compor- tamento criativo; d) não considera a intenção e finalidade; e) reduz o homem a autômato, etc. Se o leitor espera que Skinner ofereça, no texto, uma discussão das objeções, ponto por ponto, logo vê baldadas suas esperanças. AB não é um livro didático. O leitor deverá ler cada capítulo com muito cuidado e se perguntar que questão está ali sendo respondida, e verificar que ela reaparece muitas vezes. Algumas colocações são, contudo, muito importantes, como, por exemplo, a dis-
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tinção entre behaviorismo e análise experimental do comportamento. Ele escreve que o behaviorismo é a fIlosofia da AEC, logo no início da introdução (veja p. 3), mas o termo fIlosofia é usado de uma forma vaga e inconsistente. Ao contrário dos físicos, como Bridgman, Poincaré e outros, a elaboração fIlosófica de Skinner (se ela existe) está ainda para ser melhor formalizada, se se quiser chamar o behavio- rismo uma fIlosofia da ciência, isto é, da AEC. O movimento da AEC e suas realizações experimentais, basicamente no laboratório com animais, têm passado mais ou menos despercebidas pelos psicólogos brasileiros, para quem muitas vezes, e curiosamente, o nome de Skinner, como um estímulo verbal, tem a capacidade de aliciar respondentes. A AEC, que se desdobra na análise experimental do com- portamento social, apresenta, hoje, um corpo de pesquisa respeitável e altamente especializado e ultrapassou, de há muito, as primeiras colocações de Skinner. Skinner a considera como uma divisão da biologia: " ... the experimental analysis of behavior is a rigorous, extensive and rapidly advancing branch of biology ... " (p. 231), com o que não concordam aqueles psicólogos que consideram a psico- logia como objeto próprio independente da biologia. Mas o objetivo básico de Skinner, com AB, é esclarecer o seu behaviorismo, que reconhece ser um behaviorismo, já que ele não é o behaviorista. Esta segunda colocação, feita no final da introdução, fundamenta mais a suspeita de que o termo "fIlosofia da ciência" foi considerado de uma forma superficial. Temas como o controle do comportamento humano - agora num nível social - são recolocados Gá haviam sido propostos em Beyond freedom and dignity). Para um psicólogo social, a proposta de Skinner, no sentido de que já é hora de se mudar a abordagem ideológica dos problemas sociais, é simpática. Para um observador imparcial, não existe mais dúvida de que as abordagens ideológicas da sociedade humana (fundadas em pressuposições marxistas ou democráticas) conduziram as nações a um impasse de dimensão planetária. Uma possibilidade viável de supera- ção deste impasse parece residir na aplicação, num nível social amplo, das con- quistas da psicologia e, especialmente, da AEC, sugere Skinner. A terceira parte a ser considerada se refere ao capítulo 6, "Verbal behavior". Não existe um elemento novo na recolocação de Skinner sobre o comportamento verbal, embora seja interessante lê-lo. As mesmas áreas que foram tratadas no seu livro de 1957, Verbal Behavior, são consideradas, e também apresentados os mesmos exemplos. Skinner não oferece ao leitor maiores informações sobre o desdobramento experimental que sofreram suas colocações, ou sequer faz menção do trabalho de aproximação metodológica que tem sido realizado, nos últimos cinco anos, pelos psicólogos de orientação chornskiana e de orientação behavio- rista. Não se refere mais às categorias que havia formulado em VB, como o mundo, o tato, o comportamento ecóico, textual etc., que são rotuladas sob a denominação geral de verbal responses (p. 89). Este capít~o é, portanto, um reduzido comentário de colocações anteriores. Finalmente, cabe analisar as incursões fIlosóficas de Skinner, sem dúvida alguma a parte mais frágil de AB. Skinner procede aqui a vol d'oiseau quando quer
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ilustrar um ponto de behaviorismo e contrapor sua explicação a uma outra que considera superada. Um leitor que tenha feito cuidadosa leitura de textos fIlosó- ficos percebe, claramente, a fraqueza dessas "interpretações", como, por exemplo, do conceito de "mente" em Teilhard de Chardin, ou da proposta de Hegel de que o controle dos cidadãos seria alcançado na medida em que um " ... sentido geral de decência seja difundido na sociedade" (p. 194). O conceito de "mente", em Chardin, só pode ser analisado no contexto da sua cosmologia. Fez isto Skinner? Realizou ele uma cuidadosa leitura dos textos teilhardianos e seguiu o apareci- mento e evolução do conceito "mente" naquele sistema? Como considerar, então, com seriedade, estas incursões filosóficas? Schnaiter fez um curioso convite aos filósofos que desejassem compreender o behaviorismo: o de que passassem um ano num laboratório de comportamento operante. Após esse tempo, argumenta ele, as críticas dos filósofos ao behaviorismo não seriam controladas por variáveis estra- nhas ao behaviorisrno. Mas os filósofos também podem fazer um convite seme- lhante aos behavioristas, isto é, de que os leiam com o devido cuidado. Se isto não é feito, como esperar receptividade de uma audiência de filósofos? Concluindo, AB não é um livro de fácil leitura. Uma discussão crítica e fundamentada de cada um dos seus capítulos só pode ser feita por psicólogos que estejam acompanhando o desenvolvimento de tópicos como o comportamento inato, o pensamento, a percepção, no behaviorismo ou fora dele. Sem esta refe- rência, o leitor se perderá, fatalmente, na divagação, nas idéias gerais, e usará do texto para confirmar suas expectativas, sejam positivas ou negativas, a respeito de Skinner. AB é também um livro que condensa toda uma história que começou em 1913, com Watson, mas que também parece encerrar, segundo Staats, um ciclo desta história, a dos behavioristas de segunda geração. É provável que a atual geração de psicólogos brasileiros assista e acompanhe o desenvolvimento de um novo behaviorismo, o behaviorismo social de Staats, que " ... indicate the debt to the past as well as the differences from it and to indicate the bridge between the behavioral and non behavioral" (p. ix); e o desenvolvimento da psicologia pede agora, mais do que nunca, esta ponte. (Staats, A. W. Social behaviorism. Home- wood, The Dorsey Press, 1975.Y
ANTONIO RIBEIRO DE ALMEIDA
Faverge, J. M. La méthode des modeles en rechérche ergonomique. Problemes'
Actuels de la Recherche en Ergonomie, Sciences du Comportement, Paris, Dunod, v. 4, p. 13-21,1968.
Faverge, no texto, descreve as significações do termo modelo em Ergonomia apre-
sentando dois tipos de modelos: os modelos de máquina e os modelos do homem. Os primeiros seriam aqueles modelos de outras máquinas que se parecem ao menos