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Palavras-chaves: American Pale Ale- Brew in a Bag - cerveja de baixo teor alcoólico- produção de
cerveja.
1. Introdução
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anos apresentou um aumento expressivo dos registros passando de 332 para 1383 cervejarias.
Fato que é explicado pelo modelo de marketing de KOTLER (1999), o setor apresenta crescimento
em diversos nichos atendendo muitos clientes, atraindo altos investimentos, para manter-se no
mercado, atendendo públicos exigentes e novos públicos (JÚNIOR et al.,2009).
Para atender essas demandas são necessários estudos para aprimorar os conhecimentos
dos parâmetros de produção de cerveja, que apresentam variações dependendo do tamanho ou
disposição física da macro/micro e nano cervejaria, entretanto, todo o processo apresenta
similaridades como: pesagem, moagem, brassagem, filtração, lavagem, lupulagem, resfriamento,
inoculação, fermentação, maturação e carbonatação, havendo modificações em fases específicas
com intuito de alcançar produtos com características sensoriais diferentes. MACHADO (2017)
afirma que há cerca de 20 mil variedades de cervejas, devido alterações no processo através da
temperatura e tempo.
Nesse sentido, a etapa de mosturação demonstra grande atenção pela importância que
apresenta na liberação de compostos que afetam a conversão do teor alcoólico pelas leveduras e
características sensoriais como: cor, densidade da espuma, aroma e sabor das cervejas. Nesta
etapa o malte fornece amido (20-30% de amilase e 70-80% de amilopectina) e proteínas que são
quebradas pelas enzimas fornecidas pelo malte em açucares consumíveis e não consumíveis pelas
leveduras. Cada enzima apresenta uma temperatura ótima, que pode ser manipulada pelos
parâmetros: temperatura, viscosidade, valor de pH e tempo, com intenção de alterar a atividade
enzimática gerando uma tina de mosto com diferentes concentrações de açúcares, afetando a
fermentação e consequentemente a concentração de etanol (ABOUMRAD et al., 2016).
Diante disso, o objetivo deste estudo foi produzir uma cerveja de baixo teor alcoólico,
avaliando a influência da temperatura na concentração de açúcares e concentração alcoólica de
uma cerveja American Pale Ale, através de seis experimentos com diferentes temperaturas de
mosturação, sendo que dois deles foram utilizados o bagaço de malte obtido pelo processo.
2. Referencial Teórico
Histórico de produção de cerveja sem álcool e baixo teor alcoólico
De acordo com relatos, as primeiras cervejas sem álcool foram elaboradas pelos egípcios,
cerca de 2000 a.C. No templo dedicado a deusa Athor, recipientes contendo cerveja eram
posicionados ao pé da estátua e aquecidos, deste modo o vapor da cerveja (álcool) era oferecido à
divindade. O líquido remanescente, cerveja sem álcool, era vendido entre os seguidores para
levantar fundos destinados a conservação do templo (JUNIOR et al.,2009).
Apesar da origem da bebida ter ocorrido no Egito Antigo, os produtos associados a este tipo
de mercado podem ser considerados relativamente novos (OLMO et al., 2014). No século
passado a produção de cerveja com baixo teor alcoólico teve diferentes razões históricas. Por
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exemplo, a escassez de matérias-primas durante as guerras mundiais foi o principal motivo para
a produçãode cervejas com baixo extrato inicial, logo com baixa concentração de álcool (BRÁNYIK
et al.,2014). Em contrapartida, a proibição de venda, consumo e fabricação de bebidas alcoólicas,
entre os anos de 1919 e1933, foi responsável pelo aumento da produção de cervejas com baixo
conteúdo de álcool nos Estados Unidos (COSTA, 2017).
No Brasil, a produção e consumo da cerveja sem álcool teve destaque a partir da década de
70, devido a implantação da lei seca, restringindo o consumo de bebidas alcóolicas para os
condutores de veículos motorizados. A primeira cerveja com zero teor de álcool foi introduzida em
1972, sendo esta importada. Em 1991, foi lançada a primeira cerveja com baixo teor alcóolico
brasileira “KronenbierLongNeck” pela Companhia Antarctica Paulista, ainda sem muito sucesso
devido à baixa qualidade de seu produto. Apenas em 2006, foi lançada a primeira cerveja zero álcool
de origem brasileira “Liber” pela Companhia de Bebidas Das Américas (TRINDADE, 2014).
Produção da cerveja
As cervejas são classificadas basicamente em dois tipos: lager (baixa fermentação) e ale
(alta fermentação). Cervejas do tipo lager são fermentadas à temperatura de 7°C a 15°C, sendo
que a fermentação pode acontecer de 7 a 10 dias e maturação de 3 a 5 semanas. Já as cervejas
tipo Ale são fermentadas a temperaturas de 18°C a 22°C de 3 a 5 dias e sua maturação acontece
em até uma semana (GARCIA, 2019).As leveduras também produzem uma série de outras
substâncias, como ésteres, álcoois superiores e ácidos que contribuem nas características
sensoriais da cerveja (HORNINK, 2022).
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Saccharomycodes ludwigii e Zygosaccharomyces rouxii, sendo a S.ludwigii a melhor quando o
objetivo é cerveja sem álcool.
A seleção das matérias primas é parte essencial do processo produtivo da cerveja. A água
representa cerca de 90 a 95% do volume da cerveja, os íons presentes ajudam na nutrição da
levedura, influenciam no pH e interferem diretamente no sensorial da cerveja (AGUIAR et al.,
2019). O malte é resultado do processo de germinação controlada de qualquer cereal, sendo
mais usual na cerveja a cevada, estes liberam as enzimas que sob calor são ativadas e promovem
a hidrólise catalítica do amido. O lúpulo é o ingrediente natural que garante características
conservantes ao mosto, além de amargor e aroma (BATISTA, 2021). A água utilizada deve
apresentar característica físico-química adequadas e isentas de cloro e leveduras de alta ou baixa
fermentação que consomem os açúcares fornecidos pelos grãos de malte e produzem etanol
(Figura 2) e dióxido de carbono (CO2) (AGUIAR et al.,2019). No entanto, o processo cervejeiro é
composto basicamente por quatro etapas definidas:
4
Figura 2 - Compostos presentes no processo produtivo da cerveja.
O processo é iniciado com adição de água ao malte, a mistura é aquecida a uma temperatura
específica de mosturação e durante o processo o amido é transformado em açucares formando o
mosto, que é filtrado e novamente fervido, após é adicionado o lúpulo, responsável pelo sabor
amargo da cerveja (HORNINK, 2022).
O processo produtivo de uma cerveja sem álcool pouco se difere da fabricação convencional.
O principal desafio da indústria é produzir um produto com baixo teor alcoólico ou sem álcool que
consiga manter as características principais da cerveja convencional (ALCANTARA, 2015). As
cervejas de baixo teor alcoólico disponíveis no mercado se distanciam das características da
cerveja convencional comrelação a corpo, aroma, sabor excessivamente doce e gosto de mosto
(COSTA, 2017).
A obtenção da cerveja de baixo teor alcoólico pode ser dividido em duas rotas que são:
físicas e biológicas. Os métodos físicos consistem em remover o álcool após a etapa de
fermentação, realizando a destilação do mosto, destacando a remoção do álcool a temperaturas
mais baixas, entre 40 e 60ºC. Para os métodos de alteração biológica está a possibilidade de
alteração da levedura e variação das temperaturas de mosturação. MORAES (2020) em seu estudo
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observou que é possível obter uma cerveja de baixo teor alcoólico a partir de um mosto com baixa
fermentabilidade, através da manipulação da mosturação em altas temperaturas (70-80°C)
produzindo-se altos níveis de dextrina, açucares não fermentáveis.
Tabela 1-As enzimas presentes nos grãos de malte após aquecimento possuem temperaturas especificas
que proporcionam atividades enzimáticas hidrolisando proteínas e amido.
Temperaturas
Enzimas Função
ótimas (°C)
Legislação
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esse crescimento, representou nos últimos anos, 50% no aumento de vendas em cervejas com
baixo teor alcoólico, sendo a Espanha o maior consumidor da União Europeia (BRÁNYIK et al.,
2012). Já no Brasil, em 2014, a bebida já representava 1% do mercado brasileiro de cerveja.
Seguindo a tendência mundial, o volume de vendas da bebida cresceu 5% entre 2009 e 2014
(CERVBRASIL, 2022)
3. Materiais e Métodos
Produção da cerveja
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o processo de mosturação em diferentes temperaturas conforme a Tabela 2. O bagaço de malte
utilizado nos experimentos EXP2 e EXP4 foram provenientes dos experimentos EXP1 e EXP3.
Parao controle de temperatura utilizou-se um termômetro cervejeiro da MANDI (Brew Shop-escala
de -10 a 110°C) e durante o processo de mosturação realizou-se leituras com auxílio de uma pipeta
dePasteur de 3 ml, através de um refratômetro da marca CONTECK de escala Brix (0 a 32%)
e gravidade específica (SG:1000 a 1120). Após o processo de mosturação, elevou-se a temperatura
para 75-80°C durante 10 minutos e iniciou-se o processo de fervura. Nesta etapa realizou-se a
lupulagem em três etapas que ocorrem no início, meio e fim, no qual foi utilizando 5 g por
experimento de L. columbus (alfa ácido:14,45%) e 2,5 g de L. cascade (alfa ácido:7%). Após a
lupulagem, iniciou-se o resfriamento até a temperatura de 20°C e inoculou com 4 g de levedura-
Fermentis SafAle™ US-05- Saccharomyces cerevisiae, previamente hidratadas.
Experimento 1- EXP1
Experimento 2- EXP2
Experimento 3- EXP3
Experimento 4- EXP4
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70°C. Logo após realizou-se a imersão da bag, com concentração de 50% dos grãos de malte e
50% de bagaço proveniente do EXP3.Controlou-se a temperatura em 68°C.Foi utilizando das
mesmas proporções de matérias-primas da Tabela 2. Iniciou-se a contagem regressiva dos 60
minutos de mosturação.
Experimento 5- EXP5
Experimento 6- EXP6
Após a mosturação realizou-se a lavagem dos grãos contidos na bag cervejeira com 1 litro
de água aquecida a 75°C, removendo os açucares contidos. Após, iniciada a fervura foi realizada a
lupulagem nos tempos predefinidos, sendo as duas primeiras de L. columbus e as últimas com L.
cascade. Durante a fervura após 15 min, foi adicionado ¼ de pastilha de whirlfloc, simultaneamentea
adição do lúpulo L. cascade. Foram realizadas análises do grau brix de todos os experimentos, as
amostras foram reguladas 13° Brix, com adição de água conforme a necessidade. O whirlpoolfoi
realizado por 1 minuto. Após, acondicionou-se a panela em recipiente contendo gelo em escamas
para o resfriamento do mosto até 25°C. Quando atingiu a temperatura as tinas dos mostos foram
transferidas para baldes de 5 L, previamente identificados onde receberam o inoculo.
Após os 4 dias, foi realizado a transferência dos baldes para geladeira doméstica com
temperaturas baixas em torno de 4ºC, realizando a maturação por 7 dias. Em seguida, foi realizado
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o envase em garrafas devidamente higienizadas de 600 ml. Foi adicionado em cada garrafa 3 g de
açúcar previamente pesados, foi fechado com auxílio de uma tampa de alumínio e um engarrafador.
A cerveja permaneceu em carbonatação por 10 dias.
Métodos analíticos
Análise sensorial
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Figura 3- Formulário de avaliação de análise sensorial.
4. Resultados e Discussões
Condição de mosturação, fervura e fermentação
Nos experimentos foi observado na mosturação que à medida que transcorria o tempo
a concentração de açúcares dissolvidos aumentava devido o processo enzimático, sendo que
a temperatura inicial em cada mosturação afetou tais concentrações (Tabela 3). Analisando os
dados percebeu-se que o EXP1 (68°C) apresentou maior concentração de açucares (42,30 g/L
de maltotriose e 62,07 g/L de maltose) devido a ação das β-amilases, liberando maltotriose, maltose
efrutose e açucares diversos passíveis de serem usados pela levedura na fermentação. No EXP2
as concentrações de açucares se mantiveram baixas (39,29 g/L de maltotriose e 59,99 g/L de
maltose) sendo este experimento realizado com 50% de bagaço proveniente do EXP1.O EXP3
realizado na temperatura de 60°C apresentou uma diminuição dos açúcares dissolvidos (39,55 g/L
de maltotriose e 62,95 g/L de maltose), quando comparado com o EXP1,sendo alterado apenas a
temperatura de mosturação, isso se deve ao fato de haver um favorecimento das dextrinases que
tem temperatura ótima entre 55-50ºC.
Portanto fica evidenciado que temperaturas em torno de 68°C possibilitam uma maior
dissolução dos açucares dos maltes. No EXP4, as concentrações de açucares (41,30 g/L de
maltotriose e 58,46 g/L de maltose) mantiveram-se baixas devido a presença de 50% de bagaço de
malte provenientes do EXP3 e pelo fato desse bagaço ter sido usado na mosturação a 60°C. No
EXP5, as rampas de temperatura de 72°C, 75°C e 80°C, possibilitou uma diminuição dos açúcares
dissolvidos (32,37 g/L de maltotriose e 39,50 g/L de maltose), justificado pela atuação das α-
amilases hidrolisando o amido em dextrinas inferiores, deixando assim menos açucares
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fermentáveis disponíveis para a levedura. No EXP6 (117,00 g/L de maltotriose e 17,81 g/L de
maltose), a rampa de temperatura de 52°C e 74°C realizada, possibilitou uma dissolução alta de
maltotriose e uma redução na concentração de maltose, que pode ser justificado pela atuação das
dextrinases e α-amilases.
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especialmente dimetilsulfureto (DMS). Além disso, o extrato original é ajustado ao nível
recomendado ao estilo que se deseja produzir (KROTTENTHALER et al., 2009).O lúpulo ou seus
extratos são adicionados ao mosto durante o processo de fervura. O alfa ácido é responsável pelo
amargor, enquanto os óleos essenciais adicionam aroma. A maioria dos compostos dos óleos
essenciais são voláteis, portanto, podem ser evaporados durante a fervura. Visando atingir o
resultado adequado, obtendo o mínimo de perda na fervura para coagular proteínas e isomerizar os
ácidos do lúpulo, mas ainda reter quantidade desejada de compostos aromáticos, o lúpulo foi
adicionado de forma escalonada (MORAES, 2020).
Após a fervura, foi separado o trub, constituído por proteínas coaguladas e pelo bagaço do
lúpulo, visando obter um mosto clarificado. Em seguida, a concentração dos açúcares no mosto
sofreu alterações, devido a perda de água no processo e ação dos compostos ali contidos que
possibilitou verificar as alterações nos experimentos pela leitura da concentração dos açucares no
mosto em graus brix, conforme Tabela 4. No processo de regularização, o mosto a 12°Brix, é
indicado como teor para a obtenção de cerveja considerada como “comum” pela legislação
brasileira em vigor (OLIVEIRA et al., 2015).
Tabela 4-Tempo de fervura com apresentação dos dados de concentração de açucares no instante
inicial e final da fervura das tinas de mosto.
Tempo EXP1 EXP2 EXP3 EXP4 EXP5 EXP6
0 minutos 14 °Brix 10 °Brix 10 °Brix 10 °Brix 12 °Brix 12,5 °Brix
60 minutos 17 °Brix 13 °Brix 13 °Brix 13 °Brix 15 °Brix 17 °Brix
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Para as análises dos métodos analíticos, foi utilizado o equipamento de Cromatografia
líquida de alta eficiência – HPCL em duplicata, os dados foram tratados para obtenção de médias
e desvio padrão (Tabela 6), no qual verifica-se as concentrações de carboidratos em gramas por
litro (g/L) nas amostras:EXP1, EXP2, EXP3, EXP4, EXP5 e EXP6.
Tabela 6-Dados obtidos pela análise em HPLC dos experimentos, correlacionado a média e desvio
padrão dos valores de concentração dos açucares, glicerol e etanol em g/L.
EXP1 (g/L)
Dia Maltotriose Maltose Glicose Frutose Glicerol Etanol
1 42,30 ± 0,50 62,07 ± 0,76 10,21 ± 0,50 5,87 ± 0,19 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00
2 35,60 ± 0,23 51,16 ± 1,13 2,92 ± 1,04 2,53 ± 1,24 0,38 ± 0,38 3,25 ± 0,41
3 0,00 ± 0,00 1,24 ± 0,03 0,43 ± 0,03 0,76 ± 0,03 0,40 ± 0,01 41,14 ± 1,04
4 0,00 ± 0,00 0,32 ± 0,01 0,13 ± 0,01 0,45 ± 0,03 0,37 ± 0,03 38,89 ± 1,42
14
EXP2 (g/L)
EXP3 (g/L)
1 39,55 ± 0,50 62,95 ± 0,28 9,79 ± 1,25 5,51 ± 0,94 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00
2 36,40 ± 0,28 59,43 ± 0,44 10,29 ± 1,68 7,21 ± 0,44 0,00 ± 0,00 4,71 ± 0,30
3 0,00 ± 0,00 2,00 ± 0,13 0,44 ± 0,15 0,85 ± 0,19 0,41 ± 0,03 46,28 ± 0,88
4 0,00 ± 0,00 2,01 ± 0,04 0,54 ± 0,01 0,95 ± 0,01 0,42 ± 0,01 44,65 ± 0,75
EXP4 (g/L)
EXP5 (g/L)
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Nos experimentos EXP1, EXP2, EXP3 e EXP4 as concentrações de açúcares
apresentou uma similaridade que evidenciou que os tratamentos realizados conforme Tabela
2, não proporcionaram uma diferença expressiva nas concentrações dos açucares. Nota-se que o
EXP2 feito a partir de 50% do bagaço do EXP1 apresentou um aumento de 6,46% do teor alcoólico.
Enquanto o EXP4feito de 50% do bagaço proveniente do EXP3 obteve uma diminuição de 4,32%
do teor alcoólico. Conforme visto por COSTA (2017), a utilização do bagaço de malte não se
mostrou eficiente na redução do teor alcoólico.
Nos Experimentos EXP5 (32,37 g/L de maltotriose e 39,50 g/L de maltose) e EXP6 (117,00
g/L de maltotriose e 17,81 g/L de maltose) os tratamentos realizados conforme a Tabela 2,
apresentaram uma diminuição expressiva de maltose e um aumento na concentração de maltotriose
,quando comparados ao EXP1 (42,30 g/L de maltotriose e 62,07 g/L de maltose), foi obtido uma
redução de 36% na concentração de maltose e 23% de maltotriose para o EXP5. No EXP6 notou-
se uma redução de 71,30% na concentração de maltose e aumento de aproximadamente 2,8 vezes
maior de maltotriose que o EXP1. Essa redução de maltose acarretou a diminuição do teor alcoólico,
obtendo-se uma redução de 35,95% do teor do EXP5 comparado ao EXP1, enquanto o EXP6
apresentou 24,17% de redução comparado ao mesmo experimento. Para consolidar ainda mais
nossos resultados, experimentos realizados por MORAES (2020) foi possível produzir cervejas com
temperaturas 70°C, 75°C e 80°C, no qual observou que estes tratamentos podem acarretar uma
diminuição de até 36% de etanol quando comparado cervejas produzidas nestas temperaturas.
Para melhor avaliação e entendimento dos experimentos, foi realizada a construção dos
gráficos: EXP1, EXP2, EXP3, EXP4, EXP5 e EXP6 (Figura 3), correlacionado o consumo dos
açucares contidos no mosto pelas leveduras, tempo em dias e formação de etanol.
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maior concentração de etanol. Quando comparamos os dados das rampas de temperatura nos
experimentos EXP5 e EXP6 conduzidos fora da faixa enzimática das β-amilases, a concentração
de maltose foi prejudicada possibilitando assim menor concentração de etanol.
Observou-se Figura 3, que a quantidade de maltotriose foi maior dos últimos experimentos
devido a temperatura aplicada, sendo que o salto intencional da temperatura promoveu menor
concentração de maltose no EXP6 que o EXP5, explicado pela inibição das β-amilases que não
quebraram o amido em maltose e sim em maltotriose em concentração de 11,70%m/v para
3,24%m/v respectivamente.
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Figura 4- Perfis dos carboidratos consumidos e formação de etanol em concentração %m/v de:
maltotriose (♦-♦), maltose (■-■), glicose (▲-▲), frutose (ˣ-ˣ) e etanol (●-●). Experimento conforme
Tabela 2 e dados que foram obtidos em HPLC.
Análise sensorial
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Conforme Figuras 5 e Figura 6, foi possível notar uma maior participação de pessoas entre
18-25 anos, fato que pode ser justificado pelo fato de as análises serem realizadas na universidade,
tendo sua totalidade de participantes como alunos.
8%
48%
52%
90%
A aparência das amostras se mostrou como o critério mais constante da avaliação, conforme
apresentado na Figura 6. É possível notar uma maior aprovação para as amostras 1 (EXP1) e 7
(CERVEJA COMERCIAL) foram destacadas como tendo uma cor atrativa e corpo consistente. Já
as amostras 5 (EXP5) e 6 (EXP6) apresentaram uma maior rejeição, sendo apontados a falta da
“tradicional espuma” e cor inadequada.
Aparência
Desgostei muitíssimo Desgostei muito Desgostei moderado
Desgostei ligeiramente Não gostei nem desgostei Gostei ligeiramente
Gostei moderadamente Gostei muito Gostei muitíssimo
25
20
15
10
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Com relação ao aroma observou-se na Figura 7 que as amostras 1 (EXP1) e 3 (EXP3)
obtiveram um maior destaque, sendo atribuídas uma frequente percepção do aroma característico
da cerveja, as amostras 5 (EXP5) e 6 (EXP6) agradaram menos os participantes que relatam
justamente a falta do aroma característico.
Aroma
Desgostei muitíssimo Desgostei muito Desgostei moderado
Desgostei ligeiramente Não gostei nem desgostei Gostei ligeiramente
Gostei moderadamente Gostei muito Gostei muitíssimo
25
20
15
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De acordo com os dados obtidos Figura 8. O sabor das amostras 1 (EXP1) e 7 (CERVEJA
COMERCIAL) foram mais bem avaliados, destacando sua sensação de frescor, amargor na medida
certa, equilíbrio entre todos as características essenciais da cerveja. As amostras 5 (EXP5) e 6
(EXP6) foram desaprovadas expressivamente, isso pode ser atribuído pelo sabor adocicado das
amostras.
Sabor
15
10
20
No parâmetro geral as amostras 1 (EXP1 - mosturação a 68º) e 7 (CERVEJA COMERCIAL)
foram mais bem avaliadas pelo público, estas podem ser consideradas cervejas mais próximas do
que é tradicionalmente consumido pelo mercado. Notou-se também uma aprovação considerável
das amostras 2 (EXP2), 3 (EXP3) e 4 (EXP4), elas foram bem avaliadas por participantes com maior
afinidade com cervejas, é preciso considerar que o resultado das análises poderia ser diferente se
a faixa etária do público entrevistado fosse mais alta, uma vez que o público de 18 a 25 anos ainda
possuí pouco convívio com bebidas alcoólicas. Segundo GARCIA (2019), os homens que
consomem cervejas artesanais tem em sua maioria 36 e 45 anos, diferente das mulheres que não
apresentam uma faixa etária específica para o consumo.
Conforme dito por GARCIA, (2019) nota-se uma diferencia de aprovação das cervejas pelo
público masculino e feminino, nota-se que as mulheres são mais criteriosas nas avaliações,
apresentando linearidade nos resultados. A preferência entre mulheres e homens é realmente pela
amostra 1(EXP1), mas é possível observar que as mulheres tiveram sua segunda preferência
direcionada para a amostra 6 (EXP6 - Figura 9), a amostra mais rejeitada pelo público masculino.
Entretanto, a amostra 5 (EXP5 - Rampa de temperatura 72°C, 75°C e 80°C) foi mais rejeitada pelo
público feminino, e foi melhor aceita pelo público masculino (Figura 10). Entende-se que os homens
são mais receptivos as cervejas que fogem do padrão já consumido.
21
Impressão global masculina
Desgostei muitíssimo Desgostei muito Desgostei moderado
Desgostei ligeiramente Não gostei nem desgostei Gostei ligeiramente
Gostei moderadamente Gostei muito Gostei muitíssimo
12
10
No formulário, ao final das avaliações de critério sensorial foi incluída a avaliação de intenção
de compra (Figura 11), alguns participantes deixaram de avaliar a intenção de compra das amostras
5 (EXP5), 6 (EXP6) e 7 (CERVEJA COMERCIAL), portanto é necessário considerar a maior
participação para as 4 primeiras amostras. Nota-se uma maior aprovação da amostra 1 (EXP1
- mosturação 68°C), seguida da amostra 3 (EXP3 - mosturação 60°C), amostra 7 (CERVEJA
COMERCIAL). Considerando a aprovação das cervejas pelo público em geral, é claro o
destaque da cerveja 1 (EXP1) em todos os critérios de avaliação, indicando que ela seria bem
recebida no mercado.
Intenção de compra
Certamente compraria Provavelmente compraria
Talvez comprasse, talvez não comprasse Certamente não compraria
Provavelmente não compraria
30
25
20
15
10
22
5. Conclusões
Pela observação dos aspectos analíticos, é possível inferir que a temperatura de mosturação
pode alterar a composição de açucares no mosto prejudicando ou ajudando o consumo dos
carboidratos pelas leveduras, fazendo com que a quantidade de etanol formado seja alterada. Foi
observado também que as temperaturas de 60°C, 68°C são ideais quando se trata de produzir um
mosto rico em maltose, pois estas temperaturas facilitam a atividade enzimática das β-amilases
transformando o amido em maltose. Quando comparado com temperaturas superiores a 72°C a
formação de maltotriose é maior, explicado pela atividade enzimática das α-amilase que quebram
o amido em maltotriose em maior quantidade. Sendo assim, entende-se que através da
manipulação das temperaturas foram produzidas cervejas com concentração de 2,49% m/v de
etanol. Validando que esta alteração pode ser usada para alterar o teor alcoólico e produzir cervejas
com menor teor de etanol.
A avaliação sensorial da cerveja indica que o público tem maior aceitabilidade nas cervejas
convencionais, a cerveja produzida nas rampas de temperatura 72°C, 75°C e 80°C foi rejeitada pelo
público feminino e teve aprovação mediana entre os homens. A cerveja produzida nos patamares
de 52°C e 74°C foi mais bem recebida pelas mulheres. As amostras de cerveja produzidas,
obtiveram uma aceitação favorável ao ser comparadas com a cerveja de mercado, sendo viável
uma possível inserção no mercado.
6. Referências Bibliográficas
BATISTA, E. L. DE A. Cerveja artesanal: uma revisão sobre o seu processo de produção e seu
potencial antioxidante. Accepted: 2021-08-05T14:13:33Z, 17 jun. 2021. Disponível em:
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23
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BRÁNYIK, T. et al. A review of methods of low alcohol and alcohol-free beer production. Journal of
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