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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Instituto Multidisciplinar de Nova Iguaçu


Departamento de Letras — IM
Ensino de Língua Materna I
Profa. Dra. Adriana Carvalho Lopes
Discentes: Carlos Eduardo Salles, Gabriel Motta, Josilaine Rubem, Lívia Vitória, Maria
Luíza Martins e Nilo dos Anjos
Beth Braid: A produtividade doconceito de gênero em Bakhtin e o Círculo

O ensaio de Beth Braid acerca da produtividade do conceito de gênero em


Bakhtin e o Círculo inicia-se referenciando os autores que fazem parte do “Círculo”,
isto é, Mikhail Bakhtin (1895-1975), Medvedev (1892-1938) e Volochinov (1895-
1936), assim expondo importantes obras dos mesmos sobre o assunto principal aqui
tratado: a concepção de gênero.

No presente artigo, é postulada a existência de outros trabalhos igualmente


importantes ao Os gêneros do discurso, ensaio de Mikhail Bakhtin, que também tratam
do entendimento do gênero, dentre eles: O Discurso do Romance, escrito entre 1934 e
1935 por Bakhtin, Problemas da poética de Dostoiévski, de 1963, e a obra O método
forma dos estudos literários – Uma introdução crítica a uma poética sociológica, de
Medvedev que, segundo Braid (2012), passa a se interessar pela questão do gênero a
partir da década de 20, sendo ele fundador da concepção de que a linguagem de
materializa através dos enunciados concretos, articulando “interior” e “exterior”,
tornando possível a ideia de um sujeito historicamente e socialmente situado.
Outrossim, segundo Braid (2012), na década de 20 também se junta ao debate acerca d o
gênero discursivo o autor Volochinov, com a obra Marxismo e Filosofia da Linguagem
– Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem, de 1929,
frisa as questões de categorias dos atos de fala e a ligação que essas possuem com a
criação ideológica.

Diante das concepções fundadoras anteriormente citadas, Braid (2012) debruça-


se na ideia de que “gênero não se reduz a uma caracterização do discurso por meio dos
três termos conhecidos e reconhecidos a partir da leitura do texto de Bakhtin ‘Os
gêneros do discurso’ — tema, composição e estilo” (Braid, 2012, p. 373). Por
conseguinte, aliada a essa ruptura da caracterização do gênero, considerando a
construção completa feita pelo Círculo ao longo de anos de estudo, Braid (2012)
defende o pensamento da autora brasileira Irene Machado, a qual se dedica ao estudo
dos aspectos de gênero, que traz a seguinte concepção: “O estatuto dos gêneros
literários se consolidou e nada teria abalado seus domínios se o imperativo típico da
época de Aristóteles tivesse se perpetrado, quer dizer, se não houvesse surgido a prosa
comunicativa.” (Machado, 2005, p.152). Com base nisso, o presente artigo nos permite
refletir a ideia de um gênero enquanto parte do discurso, sendo o discurso uma
dispersão — e esta alimentada pela prosa comunicativa que nos estimula a criar novos
gêneros discursivos polifônicos, distintos e sempre em constante mudança.

Por conseguinte, cria-se o debate que se estende por toda a obra de Braid (2012),
o qual crítica a “formula mágica” — forma de composição, conteúdo temático e estilo
— e a sua ineficiência na compreensão dos gêneros, pois acopla aos gêneros um aspecto
de estabilidade, este criticado por Braid e Machado. Em primeiro momento, Braid
(2012) postula as divagações que a obra Problemas da poética de Dostoiévski traz a
ideia da relação que os gêneros discursivos possuem com a polifonia, isto é, com a
mistura de múltiplas vozes em um mesmo elemento, tomando como exemplo disso os
chamados “gêneros intercalados”, como novelas, cartas, simpósios, discursos oratórios e
etc, e, ademais, Bakhtin expõe a influência que gêneros carnavalescos possuíram na
literatura e na cultura. Em seguida, Braid (2012) utiliza do pensamento de Bakhtin
acerca do parentesco entre os gêneros polifônicos — sendo esses unidos pelo seu
“caráter dialógico interno e externo” — para postular o seguinte pensamento acerca da
compreensão dos gêneros do discurso:
Esse caráter dialógico interno e externo no enfoque da vida e do pensamento
humanos é muito importante para a compreensão do gênero do discurso no
conjunto das obras do Círculo: o conceito de gênero não se limita a estruturas ou
textos, embora os considere como dimensões constituintes. Implica,
essencialmente, dialogismo e maneira de entender e enfrentar a vida. E o autor
vai, visando à dimensão interna/externa, analisar detidamente as obras de
Dostoiévski e insistir em outra ideia fundamental: a importância de se considerar
a tradição em que um dado gênero se insere. (Braid, 2012, p. 375)

Em acordo com o que foi exposto no parágrafo anterior, tem-se o conceito de


enunciado, que consiste em ser a unidade real do discurso, ou seja, é um ato de
interação social e de intenção comunicativa. Desse aspecto, surge a interação entre
indivíduos como manifestações endereçadas, sendo assim, há uma interatividade entre
os sujeitos falantes, na anteriormente citada “prosa comunicativa”.
Por fim, de acordo com o a autora, Bakhtin aponta que o conceito de gênero não
se limita a estruturas ou textos, apesar de serem constituintes. Por essa razão, é possível
apontar que nenhum gênero surge do nada. Dentre as características que definem o
gênero do discurso, destaca-se a dupla orientação da realidade. Essa definição aponta
que para conceber gênero, é necessário levar em consideração as circunstâncias de
tempo, espaço e ideologia que corroboram o discurso. O segundo aspecto, por sua vez,
refere-se à esfera ideológica do gênero do discurso, que tem como papel se aproximar
da realidade cotidiana. Durante o decorrer do ensaio da autora, evidencia-se o conceito
de tema, ou unidade temática, que se define através do auxílio semântico da língua, tem
atuação discursiva e não pode ser introduzido no enunciado e encerrado. Desse modo,
tem-se diferentes modos de discurso, em que os atos de fala, sejam interiores ou
exteriores diferentes formas de interação verbal diretamente associadas a uma esfera
social.
O QUE É UM MEME?
Segundo Carvalho e Machado (2021) O meme se caracteriza pela
propagação de uma ideia, seja uma repetição verbal ou não verbal, que deve ter
intuito satírico, isto é, o texto deve trazer efeito humorístico. Com isso, a
concepção de memes nos leva a considerar a transmissão cultural de ideias para
fins de entretenimento humorístico, sendo passadas entre pessoas em alta escala
por diversos meios.
Pela definição feita por Dawkins(1976) que apresenta o meme como
gênero discursivo caracterizado também pelas relações específicas com grupos
específicos, estes que propagam e repetem o gênero como uma piada.
Por conseguinte, atribuindo a definição que temos na internet, podemos
inferir diversas similaridades, como a dependência da imitação e reprodução para
se propagarem, se adaptando ao que está em alta, padrões de linguagem,
competindo entre si para se destacarem neste meio, e eventualmente os menos
relevantes se tornam descartáveis, bem como os genes na evolução humana, porém
numa escala muito mais rápida.
Portanto, podemos compreender o meme como um gênero discursivo
inteiramente único, novo e intercalado, alimentado pelo elemento da tecnologia e
da “viralização” de informações e dados.

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