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ODONTOGÊNESE (Parte I)

ELEMENTOS DE EMBRIOLOGIA FACIAL NECESSÁRIOS À COMPREENSÃO DA


ODONTOGÊNESE
Vimos no capítulo de embriologia facial que
o embrião, durante seu desenvolvimento,
sofre um dobramento (dobramento céfalo-
caudal), originando uma dobra que passa a
ser denominada de "membrana
bucofaríngea". Essa estrutura originará no
futuro a boca primitiva. Nesse dobramento,
o embrião passa a ter duas porções: a
porção cefálica, correspondente à cabeça,
e a porção caudal, oposta à cabeça.

Vimos também que, durante o desenvolvimento do embrião, formam-se os três folhetos


germinativos (ectoderma, mesoderma e endoderma) e que o ectoderma migra sobre o
mesoderma originando a crista neural. As células da crista neural migram, então, para a boca
primitiva, formando um novo tecido denominado "ectomesênquima".

TECIDOS EMBRIONÁRIOS LIGADOS À ODONTOGÊNESE

A odontogênese, ou seja, os eventos embrionários de formação do órgão dentário, é


dependente sobretudo da estruturação do ectomesênquima. Esse tecido, por ser formado
tanto por ectoderma quanto por mesoderma, possui características desses dois folhetos, o que
é essencial para a estrutura dentária. O dente é formado por tecidos que possuem
características de revestimento ou epitelial (como é o caso do esmalte) e de preenchimento ou
conjuntiva (como é caso da dentina e da polpa). Como sabemos, os tecidos epiteliais derivam
sobretudo do ectoderma e os tecidos conjuntivos, do mesoderma. Assim, como o dente é
formado por tecidos com ambas as características (epitelial e conjuntiva), necessita de um
tecido embrionário "híbrido" como é o ectomesênquima.
EVENTOS DA ODONTOGÊNESE

Formação da banda epitelial primária

A boca primitiva, ao ser formada, é revestida pelo epitélio oral primitivo. Quando se origina o
ectomesênquima, esse epitélio prolifera gerando o tecido que revestirá a cavidade bucal até o
nascimento do embrião. A esse epitélio dá-se o nome de banda epitelial primária.

FIGURA
O embrião nessa fase, ao se fazer um
corte histológico, apresenta a
cavidade nasal, a cavidade bucal e o
início da formação da língua (Embrião
de rato, HE, 25X).

FIGURA:
A banda epitelial primária é o epitélio (faixa
roséa no corte histológico) que recobre a
cavidade bucal como um todo (Embrião de
rato, HE, 25X).

Banda epitelial primária: camada contínua


epitelial originada da proliferação do epitélio oral
primitivo sobre o ectomesênquima.
1ª fase da odontogênese:
Fase de lâmina dentária

Por volta da 5ª ou 6ª semanas de vida intra-uterina, a banda epitelial primária começa a


proliferar e se divide em duas grandes lâminas: a lâmina vestibular, que originará o fundo de
sulco vestibular (sulco que delimita o lábio superior e inferior do rebordo alveolar, ou seja, do
osso no qual se localizam os dentes); e a lâmina dentária, que originará os germes
dentários.

Embrião em vista lateral. A boca primitiva é recoberta pela banda epitelial primária.
Esta se divide em uma primeira lâmina, a lâmina vestibular, delimitando o fundo de
sulco e separando os processos maxilar e mandibular do lábio. Em seguida, da
lâmina vestibular parte uma outra lâmina, a dentária, a qual se estende por todo o
processo maxilar e mandibular.

A lâmina dentária, asssim, é um tecido epitelial apoiado sobre o ectomesênquima.

FIGURA:
Destaque da lâmina dentária
(Embrião de rato, HE, 400X)
2ª fase da odontogênese: fase de botão

Em alguns pontos específicos, os quais serão os locais dos futuros germes dentários, a lâmina
dentária começa a se proliferar e o ectomesênquima subjacente se condensa. Surge um
formato tecidual que lembra um botão, formado por tecido epitelial e ectomesênquima
condensado.

A fase de botão é caracterizada por grande atividade mitótica, pois as células epiteliais da
lâmina dentária estão se dividindo continuadamente.

FIGURA:
Na fase de botão, distingue-se a lâmina dentária
(1), o epitélio do botão (2) e o ectomesênquima
condensado (3) (Embrião de rato, HE, 400X).

3ª fase da odontogênese: Fase da capuz

Por volta da 9ª semana de vida intra-uterina, surge uma concavidade no centro do botão, o
que gera um novo formato para o germe dentário, que passa a ter aspecto de capuz.
No capuz, distinguem-se o epitélio interno (que delimita a concavidade do germe), o epitélio
externo, o retículo estrelado e o ectomesênquima condensado ou papila dentária.

FIGURA: 1 - Lâmina dentária; 2 - Epitélio


externo; 3 - Epitélio interno; 4 - Retículo
estrelado; 5 - Papila dentária (Embrião de
rato, HE, 400X).

O retículo estrelado se forma a partir da morte de células localizadas no centro do germe,


processo que se intensifica na fase de capuz, levando ao reconhecimento dessa estrutura nessa
fase da odontogênese. No retículo estrelado, há grande quantidade de matriz extracelular, fator
que lhe confere o aspecto claro nos cortes histológicos.
Na fase de capuz, são reconhecidas as primeiras estruturas embrionárias específicas para cada
tecido dental: o epitélio interno formará o esmalte e a dentina; o epitélio externo e o retículo
estrelado guiarão a formação da coroa; e a papila dentária formará a polpa dentária.

ODONTOGÊNESE (Parte II)


EVENTOS DA ODONTOGÊNESE (continuação)
4ª fase: Fase de campânula

Por volta da 10ª semana de vida intra-uterina, o germe adquire uma forma de sino pelo
aumento da concavidade em sua porção central. Essa maior concavidade acentua as margens
epiteliais, promovendo um ponto de convergência entre o epitélio interno e o externo.

Nessa fase, há uma parada do crescimento do germe e o início da histodiferenciação, isto é, da


especialização das células localizadas em cada uma das estruturas do germe.
Essa especialização levará à formação dos tecidos dentais propriamente ditos, processo que se
inicia na fase seguinte (fase de coroa).
FIGURAS (acima e ao lado): Evidenciação
da fase de campânula (Embrião de rato,
HE, 25X e 100X).

No germe dessa fase, reconhecem-se praticamente as mesmas estruturas da fase de capuz,


acrescidas da alça cervical e do folículo dentário. A alça cervical constitui o ponto de
convergência entre o epitélio interno e o epitélio externo. Essa estrutura originará a raiz do
dente. O folículo dentário, por sua vez, é formado por uma condensação do ectomesênquima
ao redor do germe como um todo; essa estrutura é responsável pela nutrição do dente
embrionário, bem como, no futuro, originará o periodonto.

1 - Lâmina dentária; 2 - Epitélio


externo; 3 - Epitélio interno; 4 - Papila
dentária; 5 - Retículo estrelado; 6 -
Estrato intermediário (HE, 400X).

Alça cervical (à esquerda, entre as setas) e o folículo dentário


(delimitado entre setas à direita) (HE, 400X e 100X).
O periodonto é formado pelo osso alveolar, pelo cemento e pelo ligamento periodontal, bem
como pelo sulco gengival. São estruturas responsáveis pela proteção e sustentação do dente no
interior do alvéolo (osso).

Uma outra estrutura que se observa na fase de campânula é o estrato intermediário. Este
constitui em uma proliferação localizada do epitélio interno (vide figura acima). Ao mesmo
tempo, esse epitélio sofre algumas dobras. Sua proliferação (ou estrato intermediário) acrescida
das dobras formará a cúspide do dente.

Uma cúspide é a pirâmide de base quadrangular existente na


superfície oclusal da coroa do dente. As cúspides são uma das
estruturas que caracterizam a anatomia dos diferentes dentes.
Todos os dentes humanos possuem cúspides, variando o tamanho e
o número delas; alguns dentes, como os anteriores, possuem
cúspides involuídas.

Por fim, na fase de campânula, a lâmina dentária começa a se fragmentar. No final dessa fase e
no início da fase de coroa, o germe já estará confinado dentro do osso alveolar, separando-se
definitivamente da banda epitelial primária.

FIGURA: 1 - Osso alveolar; 2 - Folículo


dentário; 3 - Epitélio externo; 4 - Retículo
estrelado; 5 - Epitélio interno; 6 - Papila
dentária; 7 - Alça cervical (HE, 40X).
5ª fase da odontogênese: Fase
de coroa (ou campânula tardia)

Na fase de coroa ou campânula tardia, inicia-se a deposição das matrizes de esmalte e de


dentina, para formar a coroa do dente. As células do epitélio interno se diferenciam,
inicialmente, em odontoblastos (para secretar matriz de dentina). A primeira camada
de matriz dentinária é, então, depositada por essas células. Em seguida, sob influência dessa
primeira deposição, as demais células do epitélio interno diferenciam-se em ameloblastos, e
passam a secretar matriz de esmalte.

Primeira camada de matriz de dentina


(entre as setas) (HE, 400X).

Uma vez depositadas essas primeiras camadas de dentina e esmalte, até a erupção a coroa do
dente estará formada. Essa formação será guiada, sobretudo, pelo retículo estrelado e pelo
epitélio externo, o qual nessa fase passa a ser denominado de epitélio reduzido do órgão
do esmalte.

FIGURA: A - ameloblastos; E - esmalte; D -


dentina; O - odontoblastos (HE, 400X).
6ª fase da odontogênese: Fase de raiz

Na fase de raiz, a alça cervical formada na campânula sofre uma dobra de cerca de 90 graus,
originando o chamado diafragma epitelial. A partir daí inicia seu crescimento, passando a ser
denominada de bainha epitelial de Hertwig

FIGURA:
1 - Bainha epitelial de Hertwig já com
dentina radicular formada. 2 -
Ligamento periodontal. 3 - Osso
alveolar. Seta - diafragma epitelial (HE,
100X).

O diafragma epitelial será mantido até o final do crescimento da raiz, quando então formará o
ápice radicular. Durante esse crescimento, as células da bainha vão se diferenciando em
odontoblastos e vão formando a dentina radicular. Ao mesmo tempo, vão induzindo as
células do folículo dentário próximas a elas a se transformarem em fibroblastos e
cementoblastos, os quais, por sua vez, formarão o ligamento periodontal e o cemento. Veja a
figura anterior.

Dessa forma, à medida que a raiz cresce, desenvolvem-se


também as estruturas que a fixarão ao osso alveolar. No
momento da erupção, o elemento dentário possui, assim, todos
os tecidos dentais necessários para sua manutenção na
cavidade bucal.
ODONTOGÊNESE DOS DENTES DECÍDUOS E PERMANTENTES
Nós seres humanos temos duas dentições: uma decídua (de leite) e uma permanente. Para
cada um dos dentes decíduos existe uma sucessor permanente. Mas o contrário não é
verdadeiro: nem todo dente permanente possui um antecessor decíduo, como é o caso dos 1º
molares e dos 3º molares.
Todas as fases da odontogênese aqui descritas se aplicam tanto para os dentes decíduos
quanto para os dentes permanentes.

Os dentes permanentes sucessores de decíduos iniciam sua formação na fase de campânula


dos decíduos. Observa-se, lateralmente ao germe decíduo, uma proliferação local da lâmina
dentária, iniciando a fase de botão do dente permanente.

FIGURA:
Proliferação da lâmina dentária,
provavelmente para início da formação do
germe do permanente. O decíduo está em
fase de campânula (HE, 100X).

O germe do permanente, quando se desprende da lâmina dentária na fase de campânula, vai


migrando e se posiciona abaixo do germe do decíduo. Este, então, já está pronto para
erupcionar.

No momento da troca dos dentes, isto é, quando o decíduo cai e cede lugar ao permanente, o
germe deste já está totalmente formado, provocando inclusive a exfoliação (saída) do decíduo.

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