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Personalidade patológica
Caixeta, M., Chaves, M. & Caixeta, L. (2013). Personalidade patológica. São Paulo: Memnon.
Como o próprio nome sugere, o livro depressivos e obsessivos ficando ansiosos). Nesse
Personalidade Patológica aborda várias temáticas que caso, o problema não é a personalidade, ela apenas
envolvem os transtornos de personalidade, com contribuiu para o desenvolvimento da entidade
posicionamento crítico-reflexivo, ilustrando os medida. Ressalta-se a atenção dos profissionais de
temas abordados com casos clínicos. O livro tem 23 saúde mental para os marcadores anatômicos,
capítulos, divididos em 5 grandes partes, quais eletrofisiológicos e neuroquímicos, com o cuidado
sejam: 1) Distúrbios de personalidade: conceito, de não confundir problemas médicos e morais,
diagnóstico e crítica; 2) Os distúrbios impulsivo- trazendo consequências deletérias tanto para o
condutopáticos da personalidade; 3) As sistema médico, como para o judiciário.
personalidades depressivo-ansiosas, 4) Os Ainda são abordados temas como a confusão
transtornos “psicóticos” da personalidade; e 5) A entre doença e caráter, nessa mesma linha de
personalidade em outras condições patológicas. raciocínio, que problemas de ordem moral estariam
Para introduzir os problemas conceituais dos ligados ao caráter; os problemas diagnósticos dos
distúrbios de personalidade, os autores partem de distúrbios de personalidade apresentando a
uma definição de Jaspers, concedendo a esses abordagem dimensional e a abordagem estrutural-
distúrbios um caráter fixo e não fásico, com os categorial, os critérios prototípicos e ideais (aqueles
sintomas fazendo parte do indivíduo. A capazes de captar todos os sinais e sintomas
personalidade é definida como sendo a concepção nucleares de um dado distúrbio) e os critérios
que temos resultante da observação do politéticos (aqueles em cuja soma de determinados
comportamento de um indivíduo, envolvendo seu critérios, quando atingida, obtêm-se o diagnóstico).
desempenho afetivo, volitivo, cognitivo, etc. Assim São apresentados também aspectos críticos dos
justifica-se porque muitos autores criticam a divisão conceitos psicanalíticos aplicados aos distúrbios de
do DSM-IV em eixo I (distúrbios mentais) e II personalidade, tanto do ponto de vista conceitual
(desordem de personalidade e do desenvolvimento), (restrição aos contingentes relacionais, conflito
pois dessa forma, todas as doenças mentais entre as instâncias psíquicas, dentre outros) quanto
promovem alterações na personalidade. da prática (pelo fato de os conceitos não serem
Discute-se também o que diferencia os validados empiricamente e pela incerteza de que o
distúrbios de personalidade em relação aos outros trabalho psicanalítico possa modificar instâncias
transtornos mentais e sugere-se a inclusão de um estruturais da personalidade, como o
critério, dentre muitos discutidos e considerados temperamento). Essas críticas são ilustradas com
insuficientes, como uma delimitação crítica da um caso clínico. Finalizando a parte 1 do livro,
concepção de Schneider, na qual o indivíduo com apresenta-se um capítulo sobre temperamento,
transtorno de personalidade é aquele que faz sofrer caráter e distúrbios de personalidade trazendo
a si e à sociedade. Esse critério seria de que quem contribuições dos trabalhos de Cloninger e sua
tem um distúrbio de personalidade tem um padrão equipe do Centro de Estudos da Personalidade do
permanente de comportamento autolesivo. Mais Departamento de Psiquiatria da Universidade de
adiante esse critério também é questionado e Saint Louis, que buscam correlacionar
considerado inadequado, e uma das falhas temperamento, caráter e personalidade.
apontadas é que esse padrão de comportamento é A partir da segunda parte do livro, as temáticas
considerado uma disfuncionalidade social, não vão ficando mais específicas e as discussões e
conseguindo caracterizar um padrão permanente do reflexões sobre a delimitação teórica dos
comportamento autolesivo. transtornos de personalidade, são abordadas pela
Um ponto crítico apontado pelos autores é particularidade de cada transtorno. Dessa forma, a
que os traços de personalidade (indivíduos parte 2 fala do distúrbio de personalidade antissocial
narcisistas, passivo-agressivos, paranoides) e distúrbio de personalidade sádica, enfocando
frequentemente predispõem ao desenvolvimento de problemas conceituais, a personalidade sádica, um
desordens psiquiátricas (narcisistas tornando-se caso clínico real pautado num laudo psiquiátrico
Disponível em www.scielo.br
334 Souza, M. S. Personalidade patológica
Sobre a autora:
Mayra Silva de Souza é psicóloga, doutora em Psicologia pela Universidade São Francisco e professora
adjunta da Universidade Federal Fluminense.
E-mail: mayrass@id.uff.br
Psico-USF, Bragança Paulista, v. 18, n. 2, p. 333-336, maio/agosto 2013