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Podemos verificar algumas dessas inferências na citação a seguir do livro da
McWilliams:
“A distinção neurótico versus psicótico teve importantes implicações clínicas. A
essência dessas implicações, consideradas à luz do modelo estrutural de Freud,
era que a terapia com uma pessoa neurótica deveria envolver o enfraquecimento
de duas defesas e a obtenção do acesso ao id de modo que as energias
pudessem ser liberadas para uma atividade mais construtiva. Entretanto, a
terapia com uma pessoa psicótica deveria ter como foco o fortalecimento das
defesas, em busca da cobertura das preocupações primitivas, influenciando
realisticamente circunstâncias de angústia de forma que elas se tornem menos
negativas, encorajando o teste da realidade e empurrando o id de volta para o
inconsciente. Era como se a pessoa neurótica fosse uma panela no fogão com
a tampa muito fechada, fazendo com que a tarefa do terapeuta fosse deixar que
algum vapor escapasse, enquanto a panela do psicótico seria aquela que está
fervendo, solicitando que o terapeuta retire a tampa e baixe o fogo. “(p. 67)
Lacan localizou na obra de Freud três tipos de estratégias para os sujeitos
lidarem com a castração, e cada uma configuraria uma estrutura clínica: neurose,
psicose e perversão. Esse modelo até hoje é utilizado na escola francesa, porém
não trataremos dele aqui, seguiremos outro caminho.
Diagnóstico da Psicologia do Ego: neurose sintomática; caráter neurótico e
psicose.
Aqui continuamos da divisão neurose-psicose, porém temos a ampliação, ou
uma divisão na divisão, sobre as neuroses e devemos isso a Reich. No livro
“Análise do caráter”, Reich faz um resumo da teoria e clínica de Freud até então
e aponta algo muito importante: que o trabalho de eliminação de sintomas não
encerra o trabalho psicanalítico. De acordo com Reich, com as experiencias de
prazer e desprazer, o “ego” modifica sua estrutura, criando um verdadeiro
sistema de couraças. Essas se funcionarem de maneira adaptada (em situações
de desprazer se contraem e em situações de prazer relaxam) mantem o sujeito
num estado psíquico saudável, porém, quando está desadaptada funciona de
forma patológica. Reich descreve forma não adaptadas de couraça, ou caráter,
como por exemplo o caráter histérico, compulsivo etc. Assim, não bastaria a
eliminação de sintomas, era necessário fazer uma análise do caráter.
A diferença entre neurose e psicose já desenvolvemos um pouco anteriormente,
o importante aqui é distinguir a diferença de uma neurose sintomática de um
caráter neurótico. De forma muito resumida podemos colocar da seguinte forma:
Neurose sintomática = ego distônico
Caráter neurótico = ego sintônico
Ou seja, um é estranho ao ego outro não. Ou ainda, um é sentido como estranho
para a pessoa (sintoma), algo que ela quer se livrar. E o segundo a pessoa sente
como o seu “jeitão” desde sempre. Essa estranheza do sintoma faz com que seja
mais fácil de se trabalhar em análise, mais estimulante para ambos psi e
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paciente) e com resultados mais claros. Confira algumas das perguntas feitas
por terapeutas para delimitar se a questão do paciente é sintomática ou de
caráter na página 68.
Essa divisão aparece de forma “disfarçada” no DSM, em que os transtornos do
Eixo I equivalem aos “ego distonicos” e os transtornos do Eixo 2, os transtornos
da personalidade, correspondem ao tipo “caráter neurótico”.
O Eixo 2 é um importante aliado na categorização de características gerais. O
agrupamento é feito da seguinte maneira:
Grupo A: Esquisitos e Persecutórios
1- Paranóide
2- Esquizíde
3- Esquizotípico
Grupo B: Dramáticos e Manipuladores
1- Narcisista
2- Borderline
3- Histriônico
4- Borderline
Grupo C: Inibidos e Ansiosos
1- Obsessivo
2- Esquiva (Evitante)
3- Dependente
Resumindo, aqui temos a seguinte divisão:
Neurose Sintomática / Caráter Neurótico / Psicose
Diagnostico das relações de objeto: delineamento das condições borderline
Apesar da “tradição” em classificar os pacientes em neurose e psicose, alguns
quadros pareciam não se encaixar completamente em uma ou em outra.
Podemos inclusive encontrar isso em Freud, com o caso do Homem dos Lobos,
que, apesar de Freud cuidar do aspecto “obsessivo” do Homem dos lobos,
claramente a questão de seu sofrimento não se limitava a isso. Alguns
consideram que esse foi o caso que colocou em crise o diagnóstico standard e
rígido em estruturas. Esses casos que não se enquadravam foram aparecendo
cada vez mais e “no meio do século XX (...) Adolph Stein notou que pessoas com
traços que ele chamou de borderline pioravam ao invés de melhorarem; assim
como quadros chamados “como se” e narcisistas” (McWilliams, p. 72).
A compreensão por esses tipos de pacientes, o “borderline” cada vez mais foi se
ampliando, e logo passaram a ser caracterizados por uma “estabilidade em suas
instabilidades” e ainda “eram muito sãos para serem considerados loucos, e
muito loucos para serem considerados sãos”. (p. 72) Outra característica
importante a ser destacada aqui é a utilização de defesas primitivas sem uma
total perda do teste de realidade (p. 73)
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Psicose, neurose e borderline
“(...)Indivíduos em um estado psicótico pareciam fixados em um nível não
individualizado no qual não conseguiam diferenciar o que estava em seu interior
e o que estava fora deles. Já as pessoas em condições borderline eram descritas
como fixadas em lutas diádicas entre um total entrosamento (o qual temem que
possa obliterar suas identidades) e um completo isolamento (que identificam
com abandono traumático). E, por fim, aqueles com dificuldades neuróticas eram
entendidos como tendo alcançado a separação e a individuação, porém com
conflitos entre, por exemplo, coisas que desejavam e coisas que temiam, sendo
o protótipo disso o drama edipiano. Esse modo de pensar fez sentido diante de
tantos quebra-cabeças e desafios clínicos. Ele focalizava os motivos pelos quais
uma mulher com fobias parecia estar agarrada à realidade por um fio, enquanto
uma segunda estava bizarramente estável em sua instabilidade, e, ainda, uma
terceira era um protótipo de saúde mental, apesar de ter fobias.” (p. 74) – Para
completar veja a citação no último parágrafo da página 75).
Estrutura em nível neurótico
• Um algo grau de capacidade de funcionamento apesar do sofrimento
emocional.
• Defesas mais maduras, principalmente repressão.
• Senso integrado de identidade.
• Conseguem delinear seu comportamento em geral, seus valores, gostos,
hábitos, virtudes, etc.
• Em contato sólido com grande parte da realidade.
- Confira os exemplos da página 78.
Estrutura em nível psicótico
• Em um nível extremo as pessoas estão mais desesperadas e
desorganizadas.
• Geralmente expressam alucinações, ilusões de pensamento, ideias de
referência, forma de pensar ilógica, etc.
• Defesas primitivas como isolamento, negação, controle onipotente,
idealização, desprezo primitivo, projeção, etc.
• Sentem um pavor imobilizante de seu fantasioso potencial super-humano
para a destruição.
• Como posso saber se existo? – pergunta relativamente comum.
• Crenças místicas não são estranhas ao ego.
• Dificuldade para colocar seus conflitos psicológicos em perspectivas.
Falta-lhes o funcionamento reflexivo.
• Insegurança ontológica.
• Produção de contratransferência calorosa do tipo proteção paternal.
• Maravilhosos em seu apego e assustadores em suas necessidades.
• Acessam realidades profundamente tristes, que a maioria de nós prefere
ignorar, de uma forma que não suportaríamos.
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• Enxergam nossas falhas e limitações com uma clareza assustadora.
Organização de personalidade borderline
• Uso de defesas primitivas, mas existe uma diferença com o paciente
psicótico: quando o terapeuta faz uma intervenção relativa a uma
experiencia primitiva, o paciente borderline pode corresponder ao menos
temporariamente.
• Provocação de contratransferência principalmente pelo uso da
identificação projetiva (como por exemplo na desvalorização do
terapeuta).
• Desorientação ao descrever sua personalidade e superficialidade na
descrição de outro (como forma de desdenhar do interesse do terapeuta).
• Apegados à insegurança.
• Problemas com tolerância e autocontrole, rapidamente ficam irritados em
situações nas quais outros sentiriam vergonha, inveja, tristeza ou outros
afetos.
• Não existe o terror existencial como há nos esquizofrênicos.
• A capacidade de alguém na faixa borderline de reconhecer sua própria
patologia é bastante limitada.
• Geralmente chegam à terapia com queixas como ataque de pânico,
depressão, estresse, por mandato, etc.
• Busca desesperadamente vínculo e uma vez que o tem faz de tudo para
romper e reviver uma “rejeição”.
Caligor, Kernberg e Clarkin (2008) consideram a importância do “Borderline” tão
grande que a colocam como uma das grandes estruturas da personalidade,
como podemos verificar na tabela a seguir:
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E ainda: