Você está na página 1de 1

Tenho um caso, que já te relatei há um tempo.

Uma senhora, de 63 anos, com histórico de várias


internações em hospital psiquiátrico (Bezerra de Menezes) com um diagnóstico não muito claro
(Bipolaridade/Esquizofrenia?)

Já estamos há alguns meses em análise, ela é bastante observadora, esperta, inteligente. Nas últimas
sessões ela tem falado muito em ter se sentido invadida nas relações sexuais com o ex marido (“Eu era
obrigada a fazer sexo oral e anal e, isso era contra meus princípios. ”). Porém, ao mesmo tempo que ela
relata a “invasão” e os princípios morais, surgem alguns atos falhos, como por exemplo: (“Nem deu tempo
de usar as lingeries que comprei para o início de casamento, pois era tão tudo bom, que quase nunca dava
tempo de vestir, risos).

A separação aconteceu há uns 3 anos. O ex marido é alcoólatra, compulsão desenvolvida pós bariátrica.
Nos relatos, conta também sobre um incômodo em relação a parte financeira, onde o ex marido acabou
ficando com coisas de direito dela (heranças), haja vista ela ser de uma família bem-sucedida e ele um
rapaz de família humilde.

Dinheiro e sexo tem sido os temas centrais das sessões.

Ela tem duas filhas, e o dinheiro acaba sendo o canal entre as três. A filha mais velha mora com ela e uma
neta de 7 anos, e ela mantém os gastos maiores (casa, comida, etc.) a mais nova é casada e tem dois
meninos, mora em outro estado e é independente financeiramente. As duas não se relacionam bem, e ela
tenta a todo custo adentrar a relação do genro e da filha. (“Minha filha dá mais valor no marido do que em
mim que sou mãe. Não me dá atenção, não cuida de mim. Só me procura para pedir dinheiro. ”) É nessa
hora que o dinheiro entra como fio condutor da relação, onde o genro também aparece como uma figura
oportunista, tirando vantagens financeiras.

A analisanda somatiza bastante, há 2 semanas passou por uma cirurgia de mama e aguarda o resultado da
biopsia. A princípio uma ectasia, com retirada dos ductos mamários.

Outro dia um ato falho: “ A Carol é uma mãezona pra mim. A Cris é apenas uma egoísta. Perguntei se ela
me amava, ela respondeu: Eu te respeito mãe. ”

Carol, é a filha mais velha. Cris, a mais nova.

O pai também é uma figura muito presente nas sessões, sempre que fala dele, chora. A mãe quase nunca
aparece. Ambos são falecidos.

Tudo parece ter começado com o nascimento das filhas, onde ocorreu a transição entre ser cuidada e ser
cuidadora. Ela não gosta da maternidade. Já deixou isso claro em vários atos falhos. Por vezes se comporta
como uma criança. Gosta de carinho e atenção, inclusive da minha parte, preciso ser firme, porque ela é
encantadora. Tenta me comprar com presentes. O que já cortei, não demonstrando interesse.

Freud pragmaticamente responde que a vida é sexo e dinheiro. Me lembrei de Sabina Spielrein.

Pensando nos três pilares simbólicos na relação humana com o dinheiro: poder, prazer e segurança, sendo
as mesmas simbologias também atribuídas às pulsões sexuais, não estou entendo onde se encaixa o
comportamento infantil, já que ela parece querer na maioria das vezes o falo... Neurose histérica?

Você também pode gostar