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Já estamos há alguns meses em análise, ela é bastante observadora, esperta, inteligente. Nas últimas
sessões ela tem falado muito em ter se sentido invadida nas relações sexuais com o ex marido (“Eu era
obrigada a fazer sexo oral e anal e, isso era contra meus princípios. ”). Porém, ao mesmo tempo que ela
relata a “invasão” e os princípios morais, surgem alguns atos falhos, como por exemplo: (“Nem deu tempo
de usar as lingeries que comprei para o início de casamento, pois era tão tudo bom, que quase nunca dava
tempo de vestir, risos).
A separação aconteceu há uns 3 anos. O ex marido é alcoólatra, compulsão desenvolvida pós bariátrica.
Nos relatos, conta também sobre um incômodo em relação a parte financeira, onde o ex marido acabou
ficando com coisas de direito dela (heranças), haja vista ela ser de uma família bem-sucedida e ele um
rapaz de família humilde.
Ela tem duas filhas, e o dinheiro acaba sendo o canal entre as três. A filha mais velha mora com ela e uma
neta de 7 anos, e ela mantém os gastos maiores (casa, comida, etc.) a mais nova é casada e tem dois
meninos, mora em outro estado e é independente financeiramente. As duas não se relacionam bem, e ela
tenta a todo custo adentrar a relação do genro e da filha. (“Minha filha dá mais valor no marido do que em
mim que sou mãe. Não me dá atenção, não cuida de mim. Só me procura para pedir dinheiro. ”) É nessa
hora que o dinheiro entra como fio condutor da relação, onde o genro também aparece como uma figura
oportunista, tirando vantagens financeiras.
A analisanda somatiza bastante, há 2 semanas passou por uma cirurgia de mama e aguarda o resultado da
biopsia. A princípio uma ectasia, com retirada dos ductos mamários.
Outro dia um ato falho: “ A Carol é uma mãezona pra mim. A Cris é apenas uma egoísta. Perguntei se ela
me amava, ela respondeu: Eu te respeito mãe. ”
O pai também é uma figura muito presente nas sessões, sempre que fala dele, chora. A mãe quase nunca
aparece. Ambos são falecidos.
Tudo parece ter começado com o nascimento das filhas, onde ocorreu a transição entre ser cuidada e ser
cuidadora. Ela não gosta da maternidade. Já deixou isso claro em vários atos falhos. Por vezes se comporta
como uma criança. Gosta de carinho e atenção, inclusive da minha parte, preciso ser firme, porque ela é
encantadora. Tenta me comprar com presentes. O que já cortei, não demonstrando interesse.
Freud pragmaticamente responde que a vida é sexo e dinheiro. Me lembrei de Sabina Spielrein.
Pensando nos três pilares simbólicos na relação humana com o dinheiro: poder, prazer e segurança, sendo
as mesmas simbologias também atribuídas às pulsões sexuais, não estou entendo onde se encaixa o
comportamento infantil, já que ela parece querer na maioria das vezes o falo... Neurose histérica?