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( - BGPM Nº 96, de 28 de dezembro de 2023 - )

PRIMEIRA PARTE
ASSUNTOS NORMATIVOS

ESTADO-MAIOR

Memorando nº 30.147.2/2023-EMPM

Belo Horizonte, 22 de dezembro de 2023.

Aos Comandantes de Unidades Operacionais


Assunto: Atuação policial em face do crime de abuso e maus-tratos aos animais
Referência: Procedimento Operacional Padrão nº 1.8.0.48

A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) tem como missão constitucional a polícia ostensiva
de prevenção criminal, de segurança, de trânsito urbano e rodoviário, de florestas e de
mananciais e as atividades relacionadas com a preservação e restauração da ordem pública,
além da garantia do exercício do poder de polícia dos órgãos e entidades públicos,
especialmente das áreas fazendária, sanitária, de proteção ambiental, de uso e ocupação do
solo e de patrimônio cultural.

2 Considerando que a Lei nº 14.064/20 alterou o art. 32 da Lei nº 9.605/98, que dispõe sobre
as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente, e dá outras providências.

3 Considerando que tal mudança legislativa exige também mudanças na execução de


procedimentos policiais, seja no atendimento da ocorrência, quanto na confecção do Relatório
de Evento de Defesa Social (REDS).

4 Diante do exposto, RECOMENDO:


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4.1 Aos Comandantes de Unidade Operacional

4.1.1 Conhecer o inteiro teor do POP nº 1.8.0.048 (Atuação em face do crime de abuso e maus-
tratos aos animais);

4.1.2 Difundir o contido neste Memorando e no POP nº 1.8.0.048 à toda tropa sob seu
comando, através dos Treinamentos Táticos (TTa).

4.2 À Diretoria de Comunicação Operacional (DCO)

Difundir o contido neste memorando e no POP nº 1.8.0.048, por meio do endomarketing.

(a) MARCELO RAMOS DE OLIVEIRA, CEL PM


Chefe do Estado-Maior

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1.1 A prática de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais é tipificada como crime1.
1.2 Nos casos de maus-tratos contra cães e gatos, em razão da pena, não é possível o registro de Termo
Circunstanciado de Ocorrência (TCO).
1.3 São exemplos de atos considerados como maus-tratos contra animais2:
a) privar o animal das suas necessidades básicas;
b) lesar ou agredir o animal, causando-lhe sofrimento, dano físico ou morte, salvo nas situações
admitidas pela legislação vigente;
c) abandonar o animal;
d) obrigar o animal a realizar trabalho excessivo ou superior às suas forças ou submetê-lo a
condições ou tratamentos que resultem em sofrimento;
e) criar, manter ou expor animal em recinto desprovido de segurança, limpeza e desinfecção;
f) utilizar animal em confronto ou luta, entre animais da mesma espécie ou de espécies diferentes;
g) provocar envenenamento em animal que resulte ou não em morte;
h) deixar de propiciar morte rápida e indolor a animal cuja eutanásia seja necessária e
recomendada por médico veterinário;

1 Art. 32 da Lei nº 9.605/1998 (Sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente).
2 Art. 1º da Lei Estadual nº 22.231/2016 (Definição de maus-tratos contra animais no estado de Minas Gerais).
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i) abusar sexualmente de animal;
j) promover distúrbio psicológico e comportamental em animal;
k) outras ações ou omissões atestadas por médico veterinário;
l) impedir (o particular ou agente do poder público) que qualquer pessoa forneça nos espaços públicos
alimento e água aos animais em situação de rua 3.
1.4 O crime de maus-tratos aos animais só pode ser cometido na modalidade dolosa, o que significa
dizer que, para cometer o crime, o agente deve querer o resultado ou assumir o risco de produzi-lo.
1.5 O crime de maus-tratos aos animais pode ser constatado por qualquer policial militar. Médicos-
veterinários e Zootecnistas são profissionais capacitados para identificar e caracterizar casos de
crueldade, abuso e maus-tratos em animais4.
1.6 O Registro de Eventos de Defesa Social (REDS) do crime de maus-tratos deve ser registrado mesmo
que o alvo da infração não possua tutor/proprietário ou que a autoria do crime não seja identificada 5.

2 PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS EM OCORRÊNCIAS DE ABUSO OU MAUS-TRATOS


CONTRA OS ANIMAIS
2.1 Pelo Cento de Operações Policiais Militares (COPOM) / Sala de Operações da Unidade (SOU) / Sala
de Operações da Fração (SOF) ou correspondente, além das medidas próprias da atividade de praxe
realizadas no Atendimento e Despacho6, deverá coletar e registrar as seguintes informações:
a) descrição do abuso, maus-tratos, ferimento ou mutilação;
b) se há instrumentos, armas, armadilhas, emprego de veículos ou outros animais utilizados no ato;
c) possíveis envolvidos na infração;
d) identificar contra qual animal a conduta de abuso e maus-tratos foi praticada e, dentro do
possível, se o animal é silvestre, doméstico ou domesticado, nativo ou exótico;
e) acionar a Equipe de Policiamento de Meio Ambiente (CPMamb), se possível;
f) não sendo possível o acionamento ou deslocamento de Equipe de Policiamento de Meio
Ambiente de imediato, observar:
 se o fato estiver em andamento e não houver Equipe de Policiamento de Meio Ambiente disponível,
acionar a Equipe Policial-Militar da Unidade de Execução Operacional (UEOp) responsável pela área,
para a adoção de providências;
 se o fato não estiver em andamento, encaminhar o fato para atendimento da Fração de Policiamento

3 Art. 6º-A da Lei Estadual nº 21.970/2016 (Proteção, a identificação e o controle populacional de cães e gatos).
4 Resolução nº 1.236, de 2018 do Conselho Federal de Medicina Veterinária (Define e caracteriza crueldade, abuso
e maus-tratos contra animais vertebrados, dispõe sobre a conduta de médicos veterinários e zootecnistas.
5 Os animais são reconhecidos como seres sencientes, sujeitos de direito despersonificados, fazendo jus à tutela

jurisdicional em caso de violação de seus direitos.


6 Instrução n° 3.03.26/2018-CG (Regula as Atividades de Teleatendimento e Despacho em Emergências Policiais

na Polícia Militar de Minas Gerais);


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de Meio Ambiente responsável pela área, para adoção das providências administrativas posteriores.

2.2 Pelo policial militar


2.2.1 Medidas preliminares:
a) verificar se a conduta praticada se amolda ao tipo penal: “praticar ato de abuso, maus-tratos,
ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”;
b) identificar o autor do fato e demais envolvidos;
c) coletar informações que identifiquem o local do fato, inclusive, se possível, com coordenadas
geográficas;
d) verificar se a conduta praticada se refere a “realização de experiência dolorosa ou cruel em
animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos 7”;
e) identificar se o animal é cão ou gato, por não ser possível lavratura de TCO;
f) verificar se houve morte do animal8;
g) verificar se houve emprego de instrumentos, armas, armadilhas, veículos ou outros animais
utilizados no ato;
h) caso não seja constatado o crime de maus-tratos aos animais, registrar o fato através de
Boletim de Ocorrência Simplificado (BOS) com a natureza “U 32.002 – ATENDIMENTO DE DENÚNCIA
RELATIVO À FAUNA” ou outra natureza conforme o caso específico.

2.2.2 Constatado o crime de abuso ou de maus-tratos:


a) isolar o local e acionar perícia. Na impossibilidade do comparecimento, lançar informação em campo
próprio do REDS e os dados do policial civil que informou o não comparecimento;
b) registrar a situação encontrada no local de crime através de fotos e vídeos para a devida inserção no
REDS, que será do tipo Boletim de Ocorrência Ambiental – natureza M 30.032;
c) nos casos em que a perícia não comparecer ao local da ocorrência, buscar a juntada de laudo médico-
veterinário (ou de zootecnista) dos animais que sofreram abuso/maus-tratos;
d) na impossibilidade de comparecimento da perícia e da juntada de laudo médico-veterinário (ou de
zootecnista) que fundamente o crime de maus-tratos, o policial militar deverá descrever, no histórico do
REDS, as diligências realizadas e as dificuldades encontradas;
e) especificar, se possível, se o animal é silvestre, doméstico, ou domesticado, nativo ou exótico, bem
como verificar se as espécies estão relacionadas nas listas 9 oficiais de risco ou ameaçadas;

7 § 1º do art. 32 da Lei nº 9.605/1998 (condutas assemelhadas ao caput do artigo).


8 § 2º do art. 32 da Lei n. 9.605/1998 (causa especial de aumento de pena).
9 Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagem em Perigo de Extinção (Cites),

disponível em: https://cites.org/eng/app/appendices.php;


Deliberação Normativa COPAM n. 147, de 30 de abril de 2010, disponível em: http://www.siam.mg.gov.br/sla/do
wnload.pdf?idNorma =13192;
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f) apreender produtos, armadilhas, gaiolas, veículos e instrumentos, bem como quaisquer vestígios que
tenham correlação com a prática do crime, observada a cadeia de custódia dos vestígios coletados;
g) no caso de apreensão de animais, proceder o recolhimento e destinação, observadas todas as
providências descritas nas seguintes naturezas da DIAO, além de inserir a respectiva natureza como
secundária no REDS:
 A 31.201 - Recolhimento de Animal Doméstico: acionar o Órgão Municipal competente ou o Corpo de
Bombeiros Militar etc;
 A 31.202 - Recolhimento de Animal Exótico e A 31.203 - Recolhimento de Animal Silvestre:
acionar Equipe de Meio Ambiente da Polícia Militar e demais órgãos ambientais etc;
h) em todos os casos descritos de apreensão de animais:
 acionar órgão municipal competente ou Corpo de Bombeiros Militar (CBM) para captura e recolhimento
do animal;
 na impossibilidade do comparecimento de órgão municipal competente ou Corpo de Bombeiros Militar,
em caráter excepcional, a equipe policial-militar, após prévia avaliação de risco e conveniência da ação,
fará o recolhimento do animal;
 verificar se a equipe policial possui equipamentos suficientes para a contenção, recolhimento e
destinação do animal, bem como a necessidade de solicitar apoio material e pessoal de outros órgãos
ou entidades de proteção ao animal;
 fazer a contenção do animal, observando as condições de segurança da equipe policial, de terceiros e
do animal;
 verificar as condições físicas do animal (ferimentos e agressividade) e, se possível, a devida assistência
médico-veterinária;
i) no recolhimento de animal da fauna exótica ou silvestre, sempre que possível, a destinação
deverá ocorrer por policial militar da Fração de Meio Ambiente;
j) realizar o encaminhamento e destinação do animal recolhido para o órgão público ou entidade
competente (centros de zoonoses ou similar), que dispuser de local adequado para o acolhimento;
k) caso a localidade não disponha de ambiente público adequado para encaminhamento e destinação
do animal deverá ser designado tutor para a guarda provisória do animal, podendo ser nomeada pessoa
física com capacidade para cuidados ou pessoa jurídica (fundações, ONG, clínicas veterinárias,
faculdades ou entidades assemelhadas), sendo o fato devidamente justificado e descrito no histórico do
REDS. Em nenhuma hipótese o animal poderá ser confiado ao autor do crime;

Portaria do IBAMA n. 444, de 17 de dezembro de 2014, disponível em: https://www.ibama.gov.br/component/legi


slacao/?view=legislacao&forc e=1&legislacao=134520;
Portaria do IBAMA n. 445, de 17 de dezembro de 2014, disponível em: https://www.ibama.gov.br/component/legi
slacao/?view=legislacao&force=1&legislacao=134521.
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l) caso a espécie animal seja cão ou gato, sendo constatada a autoria e materialidade de fato típico e o
estado de flagrância, NÃO será possível a lavratura de TCO, devendo os envolvidos serem conduzidos
à Delegacia de Polícia Civil Especializada em Meio Ambiente ou com responsabilidade pela área do fato;
m) caso seja espécie animal diversa de cão ou gato, efetuar a lavratura de TCO pela PMMG;
n) relacionar e qualificar as testemunhas que presenciaram o fato, que detenham informações sobre o
evento ou acompanharam a atuação, bem como a pessoa física ou jurídica designada como tutora e o
responsável pelo recebimento do animal;
o) descrever no histórico do REDS, a situação constatada que caracteriza o crime de maus-tratos, com
o máximo de detalhes possíveis, bem como as demais informações úteis à persecução criminal;
p) considerando que os crimes de maus-tratos a animais podem ensejar autuações administrativas, é
indispensável relacionar no REDS os dados do autor, como: nome, CPF, endereço de correspondência,
contatos telefônicos, e-mail etc;
q) adotar as medidas administrativas decorrentes, conforme previsto na legislação ambiental vigente;
r) caso a Equipe Policial-Militar responsável pelo atendimento da ocorrência não seja do CPMAmb, o
REDS, também, deverá ser encaminhado à Fração de Policiamento de Meio Ambiente responsável pela
área, para adoção das medidas citadas no item q);
s) a soltura de animais silvestres no habitat será feita exclusivamente por policial militar do
CPMAmb, mediante registro de termo próprio.
2.2.3 Encerramento do registro:
a) nos casos passíveis de lavratura do TCO, o encerramento se dará preferencialmente no local da
ocorrência;
b) nos casos envolvendo cães e gatos, o encerramento se dará na Delegacia de Polícia Civil.

3 PRESCRIÇÕES DIVERSAS
Caso de indisponibilidade de Equipe de Policiamento de Meio Ambiente, a equipe policial-militar
empenhada deverá se inteirar previamente com o COPOM/SOU/SOF ou equivalente, ou diretamente
com a Fração de Policiamento de Meio Ambiente 10 sobre as orientações específicas e técnicas afetas
ao Policiamento de Meio Ambiente, necessárias ao atendimento da ocorrência.

10O contato prévio com a Fração de Policiamento de Meio Ambiente é importante para propiciar um planejamento
adequado quanto à abordagem dos infratores e reunião dos elementos probatórios decorrentes do possível
cometimento de ilícitos criminais nos casos de “rinhas”, bem como possibilitar para esses casos específicos o
acionamento dos órgãos ambientais competentes e instituições credenciadas para a destinação adequada dos
animais apreendidos.
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4 REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 5.517 de 23 de outubro de 1968. Dispõe sobre o exercício da profissão de médico-
veterinário e cria os Conselhos Federal e Regionais de Medicina Veterinária. Brasília: 1968. Disponível
em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5517.htm. Acesso em: 13 nov. 2023.

BRASIL. Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Brasília: 1998.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm. Acesso em: 13 nov. 2023.

BRASIL. Lei nº 14.604 de 29 de setembro de 2020. Aumenta as penas cominadas ao crime de maus-
tratos aos animais quando se tratar de cão ou gato. Brasília: 2020. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/l14064.htm. Acesso em: 13 nov. 2023.

CFMV. Conselho Federal de Medicina Veterinária. Resolução nº 1.236/2018-CFMV. Define e


caracteriza crueldade, abuso e maus-tratos contra animais vertebrados, dispõe sobre a conduta de
médicos veterinários e zootecnistas e dá outras providências.

Disponível em: http://ts.cfmv.gov.br/manual/arquivos/resolucao/1236.pdf. Acesso em: 13 nov. 2023.


MINAS GERAIS. Lei Estadual nº 22.231 de 20 de julho de 2016. Dispõe sobre a definição de maus-
tratos contra animais no Estado e dá outras providências. Belo Horizonte: 2016. Disponível em:
https://www.almg.gov.br/legislacao-
mineira/texto/LEI/22231/2016/?cons=1#:~:text=Disp%C3%B5e%20sobre%20a%20defini%C3%A7%C3
%A3o%20de,Art. Acesso em: 13 nov. 2023.

MINAS GERAIS. Lei Estadual nº 23.863 de 30 de julho de 2021. Acrescenta artigo à Lei Estadual nº
21.970, de 15 de janeiro de 2016, que dispõe sobre a proteção, a identificação e o controle populacional
de cães e gatos. Belo Horizonte: 2021. Disponível em: https://www.almg.gov.br/legislacao-
mineira/LEI/23863/2021/. Acesso em: 13 nov. 2023.

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Resolução nº 4.745/2018-CG. Dispõe sobre a lavratura do Termo
Circunstanciado de Ocorrências (TCO) pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). Belo Horizonte:
Comando-Geral, 2018a.
MINAS GERAIS. Secretaria de Justiça e Segurança Pública. Diretriz Integrada de Ações e Operações
(DIAO). Belo Horizonte: 2008. Disponível em: https://diao.sids.mg.gov.br/home. Acesso em: 13 nov.
2023.

MINAS GERAIS. Instrução nº 3.03.26/2018-CG. Regula as atividades de teleatendimento e despacho


em emergências policiais na PMMG. Belo Horizonte: Comando-Geral, 2018b.

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