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Expressões

Tendo como base as conversas com Gabriela, Camila e Raquel, e a cartilha do


coletivo Quadrinistas Indígenas, o Plural reuniu oito termos e expressões
depreciativas sobre os povos originários para tirar do vocabulário. Confira:
Tupiniquim (como sinônimo de brasileiro)

Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), o povo Tupiniquim habita três Terras


Indígenas em Aracruz, no norte do Espírito Santo. Atualmente, são cerca de
2.901 indígenas Tupiniquim no Brasil.
O termo Tupiniquim, no entanto, é comumente utilizado para se referir a algo
nacional, por exemplo, ao invés de “cinema brasileiro”, utiliza-se “cinema
Tupiniquim”. Conforme o ISA e a cartilha do Quadrinistas Indígenas, os
Tupiniquim são um povo com especificidades e algo só é Tupiniquim se for
produzido por eles.
“O uso do termo Tupinikim (ou Tupiniquim) como sinônimo de ‘ser brasileiro’
acaba apagando e trazendo difamação a toda uma cultura que resiste até hoje”,
pontua Raquel Teixeira.
Índio

Apesar de ser muito utilizado atualmente, o termo “índio”, quando empregado


por pessoas não-indígenas, carrega um imaginário estereotipado e perpetua ideias
trazidas pela colonização.
Gabriela de Carvalho Freire explica que o termo é associado à chegada dos
europeus no Brasil. “Eles chegaram aqui e acharam que estavam nas Índias, por
isso chamavam a população originária de ‘índio’.”
Uma alternativa para o termo é utilizar a palavra “indígena”, que, segundo
Gabriela, significa uma população originária, autóctone.
Tabajara (como sinônimo de algo falsificado ou ruim)

O povo Tabajara vive hoje em três estados brasileiros: Piauí, Ceará e Paraíba.
São cerca de 2.881 indígenas. Utilizar o nome de um povo para designar algo
negativo ou de má qualidade é uma forma de discriminá-lo.
“Quando são utilizado falas/termos que associam toda uma raça a questões
pejorativas e negativas, depreciando a forma de viver, apagando ou revivendo
estereótipos colonialistas, podemos considerar como violências aos povos
indígenas. Ao evitar o uso de tais termos, podemos respeitar diversas etnias que
já sofrem com políticas públicas pouco favoráveis à perpetuação de sua cultura”,
diz Raquel.
Tribo
O termo “tribo”, segundo a cartilha dos Quadrinistas Indígenas, remete a uma
ideia de uma população primitiva, sem organização ou capacidade. Além disso,
carrega um imaginário depreciativo de estereótipos e preconceitos.
Por isso, é preferível utilizar o termo “povo” ou, para se referir a um local ou
território “aldeia” ou “comunidade”.
Descobrimento do Brasil

O Brasil, evidentemente, não foi descoberto. Já havia milhões de povos nativos


vivendo em terras brasileiras antes dos colonizadores chegarem. No processo
colonizador, essas populações foram dizimadas, junto de suas culturas, línguas e
costumes.
Por isso, falar em “descobrimento” do país, além de equivocado é fazer
referência à violência extrema cometida contra os povos originários e negros do
Brasil.
Programa de índio

Comum no cotidiano das pessoas, a expressão “programa de índio” é outra forma


de associar as populações originárias a alguma atividade ou evento considerado
chato, entediante.
“Essa expressão também é uma forma pejorativa de olhar para os costumes
indígenas, como se fossem coisas atrasadas e não interessantes”, afirma Gabriela.
Muito cacique para pouco índio

De acordo com a antropóloga, a expressão “muito cacique para pouco índio” se


relaciona com o incômodo que as sociedades não-indígenas sentem com a forma
de organização política das comunidades originárias.
“Geralmente, as populações indígenas se organizam de uma forma não tão
centralizada como a nossa (com um Estado e algumas figuras que concentram a
representação do poder). Elas não têm isso. Há uma divisão maior de poderes
dentro da sociedade indígena. Essa expressão é uma forma preconceituosa que
temos quando vemos a maneira de lidar com poder de um jeito diferente.”
Quem fala “mim” é índio

Existe uma ideia muito difundida entre a população brasileira de que os


indígenas falariam usando o pronome “mim” seguido de um verbo no infinitivo.
Por exemplo: “mim fazer”, “mim não comer”. Esse imaginário, inclusive, foi
bastante repercutido em produções cinematográficas e desenhos animados (tanto
norte-americanas quanto brasileiras) que representavam as populações
originárias.
Atribuir essa construção considerada gramaticalmente errada pela norma culta da
Língua Portuguesa aos povos originários é mais uma forma de discriminá-los.

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