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Corioh-Mho
2022
Antes de tudo...
Rishibe Kohan é uma sátira ao personagem Kishibe
Rohan, de Hirohiko Araki, criado por mim (Keyson Correia)
para ser meu personagem jogável na campanha de RPG
narrada pelo meu amigo Weverton “CHUI” Godoi, que
originou a história contada nesse livro.
Dedico esta obra aos meus amigos:
Weverton “CHUI” Godoi, o Mestre. Sem ele nada disso
existiria!
Leonardo Caxilé, Jogador do personagem “Raymond
Franklin”.
Rhavier Braz, Jogador do personagem “Joseph Jones”.
Daniel Alves, Jogador do personagem “Kayn Argent”.
Lucas Fernandes, Jogador do personagem “Gordon T.
Vicentino “.
Alisson Cavalcante, Jogador do personagem “Hatrick
Galloway”.
e Duelist4, Jogador do personagem “Luke Rexhold”.
Dedico também a minha futura esposa, Cely
Baracho. Que me apoiou a escrever desde o início.
Aos meus pais que sempre me apoiaram em tudo o
que fiz e faço.
E a todos os meus amigos próximos
— Keyson Correia
2 Rishibe Kohan
Capítulo I – Uma viagem clandestina.
Capítulo I
Uma viagem
clandestina.
Eu precisava de mais inspirações para minhas
obras e fazia meses que não saia de Corioh-Mho.
Então decidi que buscaria alguma no exterior como
de costume.
Era dia 9 de novembro de 2020, eu estava
ansioso para rabiscar e fazer mais um mangá. No dia
passado eu já havia terminado os 6 manuscritos do
meu mangá principal, mas nem por isso eu me sentia
saciado. Eu preciso mostrar mais e mais minhas
obras ao mundo.
Heaven’s Door 1
Kirose Hoichi, um garoto de 16 anos, estudante
do Colégio Gudobaoka e um grande fã meu, diga-se
de passagem... Dizia isto enquanto puxava uma
cadeira ao lado de minha mesa no café onde estava.
— Ah, Olá Hoichi! Sim, provavelmente partirei
depois de amanhã. Irei atravessar o Pacífico em
direção a América. Será a experiência perfeita para
minha próxima obra!
— Atravessar o Pacífico? Já comprou as
passagens? Tazamada me disse que essa época do
ano está impossível de viajar sem falir, todas as
passagens no aeroporto estão custando uma
fortuna...
— Quem disse que irei de avião?!
Falei enquanto sorria, com uma expressão de
deboche.
2 Rishibe Kohan
Capítulo I – Uma viagem clandestina.
Heaven’s Door 3
— Mas... Eu posso ser útil! Meu Echoes pode
detectar perigos a distância e até nos camuflar, criar
distraç... PERA AI!! UM BARCO PESQUEIRO?!!
— NÃO! Eu já disse... Irei sozinho, Hoichi. Já
estou decidido!
— Então quer dizer que o senhor realmente
viajará sozinho num barco pesqueiro, sem nem
mesmo consegui utilizar aquilo?
Hoshikazu Tazamada, outro aluno do Colégio
Gudobaoka e amigo de Hoichi, com um ano de
diferença e quase terminando o ensino médio, tão fã
de minhas obras quanto ele.
— D-De onde você veio Tazamada, E como sabe
que é um barco pesqueiro?
— Ah eu estava passando, ouvi Hoichi gritando
e resolvi me juntar a mesa. Garçom, um café expresso
por favor! Aliás sobre o barco, foi o Rosuke que disse
ter visto você conversando com um pescador estranho
próximo ao porto alguns dias atrás.
— Tazamada, me ajude a convencer o senhor
Kohan a nos levar! Tenho certeza de que seremos
úteis nessa viagem...
— NÃO HOICHI! Eu já disse! Ninguém irá
comigo, não posso fazer vocês correrem perigo por
minha causa e além do mais, eu sou maior de idade
4 Rishibe Kohan
Capítulo I – Uma viagem clandestina.
Heaven’s Door 5
mesmo invisível, ele teria uma aparência? Bem...
Acho que talvez um dia eu ainda publique essa obra,
eu planejava transformá-la em uma possível
animação num futuro próximo naquela época, mas
acho que não será tão fácil agora já que... Enfim!
Vamos por partes né?!
6 Rishibe Kohan
Capítulo I – Uma viagem clandestina.
Heaven’s Door 7
— Então, vamos! Aliás, quando liguei para você
a uns dias atrás, você disse que primeiro iriamos ao
México, certo? Lá vão embarcar mais pessoas?
— Sim, mais 2 pessoas vão partir de lá conosco.
— Vejo que realmente essa será uma
experiência única. Mal posso esperar para começar a
esboçar e rascunhar.
8 Rishibe Kohan
Capítulo I – Uma viagem clandestina.
Heaven’s Door 9
— Senhor Rishibe, ficaremos aqui por algum
tempo até que os outros 2 companheiros cheguem.
Não se preocupe, eu cuidarei de nossas hospedagens.
Disse Ceasar, nos guiando até o hotel Manson de
Mita.
— Sem nenhum problema e sem pressa
também.
O respondi com um sorriso no rosto, apesar de me
sentir estranho com a forma que ele citou os outros 2
migrantes que faltavam embarcar.
No dia seguinte encontrei com Ceasar no lobby
do hotel e aproveitei para perguntar...
— Ceasar, você saberia me dizer onde nessa
cidade eu poderia comprar um novo caderno para
continuar meu manuscrito?
— Infelizmente não, senhor Rishibe... Se quiser
procurar recomendo que vá ao centro da cidade, mas
volte logo! Acho que partiremos ainda essa noite.
Indo ao centro daquela cidade, achei uma bela
lojinha de materiais escolares onde comprei um
grande caderno em que pudesse alojar todo o
manuscrito daquela obra. Já me era útil, mas eu
queria procurar mais. Passei boas horas rodando por
ali e comprei algumas lembrancinhas de lá. Um
chaveiro escrito “Nada nos puede parar!” ... seria
aquilo um presságio?
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Capítulo I – Uma viagem clandestina.
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paciência com os rapazes que iram conosco a partir
daqui. Digamos que eles são um pouco rudes.
— Como assim um pouco rudes?
— Eles são contrabandistas e geralmente não
gostam de serem perturbados durante a viagem.
— Entendo, negócios né?
— Não meus, mas sim. Só espero não ter
problemas.
Assim fomos conversando até o barco.
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Capítulo I – Uma viagem clandestina.
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sei que ele desceu e se juntou a mesa antes de mim...
a menos que...
Pensei que o tal vulto poderia ter se escondido
em um dos quartos ou até mesmo descido para a sala
de máquinas do barco. Sai às pressas abrindo cada
porta de cada quarto. Procurando nos armários e
debaixo das camas. Logo em seguida fui a sala do
motor do barco, mas não havia ninguém em lugar
algum. Retornei à sala e refiz a pergunta.
— De novo, quem de vocês acabou de descer e
se juntar a mesa, logo antes de min?
— O que diabos você está querendo afinal,
magrelo? Sente-se e coma o jantar como todos os
outros. E pare de perturbar nosso silêncio!
Disse o outro rapaz forte.
— Acho que você não me entendeu claramente,
parede rochosa. Estou dizendo que alguém aqui
estava usando um rádio para se comunicar com
alguém de fora.
— Em outras palavras, ele disse que há um
informante entre nós!
Exclamou Daniera, assustada e cuspindo parte da
comida que estava em sua boca.
— Isso mesmo! Se todos ficarem calados não
vamos saber quem foi e o traidor pode acabar nos
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Capítulo I – Uma viagem clandestina.
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los junto a carga de cocaína que alojamos no motor
do barco. Recebemos por “entregá-los” e vamos
embora. Simples!
Exclamou aquele verme musculoso.
— Droga... Então é isso... Bem, irei para o meu
quarto para escrever se não se importarem.
— Haha! Nada disso amigo!
Mal pude perceber e o outro brutamonte já
estava atrás de mim. Ele segurou meus braços... Foi
aí que eu tentei, pela primeira vez naquela viagem e
em muito tempo, usar novamente aquilo. Por um
milésimo de segundo tudo escureceu. E naquele
momento eu me via projetado no ar, como em uma
projeção astral. Onde a alma se desprende do corpo e
pode vagar livremente. Sei que para todos naquela
sala o tempo correu como de costume. Mas para mim
e para aquele troglodita enorme foram como horas
parados em uma imensidão escura e fria. Durante
esse tempo, todo o corpo do brutamonte se desfazia
em páginas. Era como se cada músculo dele fosse um
livro. E ele, uma grande estante em um formato
humanoide, por mais grotesco que isso pareça.
Eu pude pesquisar nessa estante exatamente o
que eu queria, mas sentia que meu tempo nessa
projeção era muito menos que o suficiente. Apressei-
me e tentei ao máximo achar algo que me ajudasse a
nos tirar daquela situação horrenda em que
estávamos, mas infelizmente a única coisa que eu
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Capítulo I – Uma viagem clandestina.
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A sirene foi se aproximando. E então um
barulho de pancada vindo de cima, na parte exterior
do barco. Era como se algum tipo de prancha tivesse
sido posta para dar acesso de um barco ao outro.
— Aqui estão eles senhor. E como previsto
achamos direitinho o nosso amigo Ceasar.
Ouvi um dos brutamontes falar, e uma outra voz o
respondeu.
— É assim que se faz rapazes..., mas e a droga?
— Está no motor do barco. O imbecil do Ceasar
nem suspeitou sobre a quantia que estávamos
trazendo.
Disse o outro troglodita.
— E temos bastante gente aqui também, isso
vai gerar uma recompensa gorda né senhor
Stanford!?
— Calma rapazes! Tudo no seu tempo. Primeiro
levamos o palerma do Ceasar em cana por migração
clandestina e deportamos todos os outros...
— Todos não! Tem um cara aí estranho... ele me
assusta um pouco, tive sonhos estranhos com ele e
vocês sabem como funcionam meus sonhos, eles
sempre acontecem... E sinceramente, a cara de
psicopata dele... prende aquele louco dos desenhos lá.
O de cabelos ciano.
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Capítulo I – Uma viagem clandestina.
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Capítulo II
O real início do
pesadelo.
Fomos levados, eu e Ceasar, em um camburão
por quase 10 horas sendo jogados de um lado para o
outro, aqueles malditos policiais pareciam estar
levando gado, até chegarmos na prisão de “altíssima
segurança” de Ivanovich Hill.
Incrível como a corrupção nesse país é. Não tive
direito a absolutamente nada. Nenhum recurso foi me
dado e ainda precisei passar quase 13 dias em uma
cela com outros 4 indivíduos repugnantes.
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Capítulo II – O real início do pesadelo.
Heaven’s Door 21
ele me deixar na mão. Me deixei levar pelo sentimento
de desentendimento e por uma fração de segundos fiz
uma cara de espanto. Eu não devia ter tentado aquilo
sabendo que não me correspondia tanto quanto
antes.
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Capítulo II – O real início do pesadelo.
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— Espera, “japonês burro”? Como assim,
“japonês burro”?!
— O que foi? Não gostou, foi?!
— Não! Não gostei!
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Capítulo II – O real início do pesadelo.
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A escuridão se dissipou. Voltamos aos nossos
corpos e por um breve período, acredito que ele
também, mas eu me senti fraco como se tivesse
corrido uma maratona e logo em seguida escalado um
prédio de 12 andares sem ao menos um descanso.
Segundos depois minha energia voltou subitamente e
eu me sentia em chamas, Literalmente! Eu estava me
enxergando sendo consumido por um fogo azul. Não
só eu, mas Igor, Carl e os outros dois também. Eu não
fazia ideia de como aquilo havia acontecido, mas em
um leve relance eu pude vê-lo. Era meu amigo de
longa data que pairava no ar próximo ao teto da sala.
Ele acenava com uma cara feliz e gesticulava me
passando a mensagem de que “Tudo está bem, eu
voltei!”, mas ele estava sendo consumido por chamas
douradas! Ao ver ele, o meu Heaven’s Door, naquele
estado eu enlouqueci. Era como se naquele momento
eu tivesse perdido tudo. Uma súbita tristeza surgiu
no âmago do meu coração e eu não consegui me
conter. Comecei a gritar e me joguei no chão tentando
apagar aquelas chamas. Todos na cela se afastaram
e então um guarda abriu a cela... essas são minhas
únicas memorias daquele momento.
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Capítulo II – O real início do pesadelo.
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tentei cobrir meu rosto com a fronha do travesseiro
em uma tentativa inútil de adiar o inevitável. Sem
jeito e lutando contra a falta de ar, sufoquei e
novamente desmaiei.
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a minha. Quando os passos chegaram bem
próximos...
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Capítulo II – O real início do pesadelo.
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repetindo essa frase diversas vezes cochichando pra
mim mesmo.
— Esse cara deve estar louco... Acho que é
melhor deixá-lo aí. Ele não me parece perigoso, sei lá.
— Você tem certeza? Ele pode saber de algo que
nos ajude a entender o que aconteceu aqui!
— ESTAMOS TODOS PERDIDOOOOOS!
— Acho que não. Ele parece ser só mais um dos
detentos que nos colocávamos em uma cela na ala de
solitárias por problemas psicológicos. Aparentemente
a falta de um psicólogo ativo nessa droga gerou isso
daí, olha! Esse lugar nunca foi bem gerenciado...
E olha que se chamava prisão de “altíssima
segurança” de Ivanovich Hill.
— F’thang Rh’jhvath
Novamente eu pude ouvir aquela voz estranha.
E meus olhos não podiam acreditar no que estavam
vendo. Era bizarro e eu nunca havia presenciado uma
visão tão angustiante.
— Vo-Vo-Você ouviu isso?!
Disse o prisioneiro.
— Isso o que?
— Essa voz?!
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Capítulo II – O real início do pesadelo.
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sido mais uma daquelas alucinações, mas o que não
fazia sentido era que o prisioneiro também havia
ouviu aquela voz. Decidi sair de baixo da cama e
seguir aqueles dois, bem devagar e mantendo uma
distância segura. Mesmo que eu já soubesse quem
era um deles, não fazia ideia de quem era o outro. E
por mais inofensivo que ele me aparentasse não me
parecia uma boa ideia ir tão perto.
Eles me notaram, mas seguiram em frente. Já
que não ligaram de eu segui-los eu continuei. Aquele
corredor me era familiar. Ao dobrar uma esquina a
direita nele eu percebi que se tratava do corredor de
acesso a parte exterior da prisão. Onde ficava a
recepção, copa, e escadas para alguns escritórios.
— É, a porta parece estar trancada.
— E você não tem a chave?
— Eu tenh... An? Cadê a minha chave de
acesso?
— Ah meu deus...
— Bem deixa eu ver se consigo abri-la pondo a
senha.
O policial estava tentando abrir a porta de saída da
prisão e não estava conseguindo.
— É, parece que só abre com a senha de
superior que é o sobrenome do diretor que é... Droga,
não lembro.
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— Kohan, Rishibe Kohan! E o seu?
Cumprimentei-o como um japonês faria. Por
um momento eu havia esquecido que estava na
América.
— Joseph. Joseph Jones.
O policial me respondeu com uma cara de confuso.
— E você?
Perguntei ao presidiário.
— Bem, eu me chamo Raymond.
Respondeu o presidiário com uma feição amistosa.
— O que houve por aqui? Quando eu acordei
minha cela estava sem porta e estava tudo destruído.
— Eu não faço ideia. Cochilei na minha sala por
um período e quando acordei tudo estava tranquilo.
Foi quando ouvi o nosso amigo aí gritando na sala
vizinha a minha, onde ocorrem os interrogatórios. Sei
que precisamos sair daqui pra saber o que está
acontecendo. Vamos a minha sala. Acho que tenho o
nome do diretor anotado. Daí voltamos a abrimos a
porta.
— Okay. Então vamos!
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Capítulo II – O real início do pesadelo.
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estava acabado e que estávamos todos perdidos ou sei
lá o que?
— Ah! — Falei suspirando. Eu sabia que em
algum momento eu teria que explicar isso, mas estava
cansado demais para fazê-los entender como meu
Heaven’s Door funcionava... — Bem aquilo... Não foi
nada, esqueça!
— Hmm... Ainda não confio em você. Mantenha
distância!
— Certo.
Foi aí então, passando novamente pelo
refeitório que eu ouvi algo. Parecia como alguma coisa
respirando e logo menos...
— Olhem! Sangue!
Exclamei aos que estavam seguindo a minha frente.
Naquele momento Joseph já havia começado a subir
as escadas e por isso acho que ele não me ouviu.
— Tem sangue aqui no chão!
Disse a Luke, que ao me ouvir virou bruscamente seu
olhar para mim. E então me virei ao balcão.
— Eu já ouvi o barulho de algo se alimentando
aqui antes.
— Parece fresco... Será que é um lobo ou um
urso... ou coisa assim?
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Capítulo II – O real início do pesadelo.
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— Não entendi. Por que você jogou isso? Se tiver
algo por aqui com certeza ouviu isso e pode estar
vindo pra cá, você sabe né?
Disse Luke olhando para mim com uma cara de
confuso.
— Não tinha pensado nisso, acho melhor irmos
atrás dos outros então.
— É. Pelo menos se isso vier matar a gente,
morremos juntos hahaha!
Disse Luke, rindo, como se não acreditasse muito no
que eu o havia contado.
Seguimos então pelo corredor até as escadas
onde Joseph e Raymond haviam subido. Ao me
aproximar da escada senti outro calafrio, nesse ponto
eu já estava ficando de saco cheio daquilo, e no canto
da minha visão eu pude enxergar aquela figura
humanoide de antes, pouco antes de subir o primeiro
degrau, ela estava se esgueirando em uma das celas.
Eu ignorei aquilo mesmo sentindo que não devia e
pensei “Eu devo estar alucinando de novo. Já
aconteceu outras vezes, deve ser isso.” e segui
subindo até o segundo andar.
No fim da escada nos deparamos com um
corredor que levava a várias salas com portinhas de
escritório. A segunda porta a esquerda estava aberta
e alguns barulhos vinham de lá. Luke e eu seguimos
até ela e pouco antes de chegarmos...
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Capítulo II – O real início do pesadelo.
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dando a mínima sobre termos achado uma mancha
de sangue no refeitório.
— Eu acho melhor nos apressarmos, estou
sentindo calafrios e com um mal pressentimento.
— Sobre uma sombra que estava atras de mim?
Você só está ficando louco. Não fale besteiras.
— Mas Joseph, eu também ouvi aquela voz.
— Então você também deve estar ficando louco.
Eu não ouvi nem vi e nem senti nada naquela hora.
— Tá bom, vamos parar de perder tempo e
vamos logo à tal sala do diretor senhor fulano.
Falei enquanto seguia pelo corredor.
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Capítulo II – O real início do pesadelo.
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corpo contra ela, mas não a moveu um centímetro
sequer.
— Arrh! Essa porta tem Titanium por dentro é?!
Naquele momento me passou pela cabeça: “A
maçaneta não se mexe? Será que tem alguma coisa
segurando-a. OU ALGUÉM?!... Não, não. Não deve ser
isso. Não posso deixar o medo me vencer.”
— Tá, já que todo mundo vai tentar arrombar a
porta, eu também vou tentar!
Disse Luke se posicionando em frente a porta em uma
base de luta, por um instante me veio uma esperança
ao ver ele tão bem-disposto. Ele chutou a porta com
tanta força que ela estremeceu e fez um estrondo
gigantesco. Mas nada de abrir.
— Vocês já pensaram em tentar quebrar aquele
vidro, talvez dê pra abrir por dentro. Ou ao menos
tirar o que estiver barrando a maçaneta.
Todos me olharam com um olhar surpreso e
suspiraram.
— Como diabos eu não pensei nisso...
— Ninguém pensou né! Hahahaha!
Disseram Joseph e Raymond enquanto riam da
situação.
— Okay, então deixa comigo!
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Capítulo II – O real início do pesadelo.
Heaven’s Door 45
Ali eu tentei pela primeira vez girar a maçaneta
externa e então senti que ela realmente estava fria,
não aponto de conseguir grudar a mão de alguém e
causar uma queimadura de frio. Não havia frio saindo
pela janela da porta. Aquilo estava cada vez mais
estranho.
— Ai cara! Vai com calma! Não precisa apertar
tanto!
— Amigo isso foi uma queimadura de frio, é o
mínimo que eu tenho que fazer. Deixa-me enfaixar
direito isso daqui.
Disse Raymond ao Luke, enquanto enrolava a mão
queimada com um pedaço rasgado da calça dele.
— Isso... Isso não faz sentido!
Falou Joseph com um olhar assustado e mais pálido
do que o de costume.
— Deixa eu ver uma coisa...
Eu disse enquanto colocava a mão por dentro da
janela da porta, cuidadosamente para não esbarrar
em nenhum caco de vidro dali.
Ao aproximar minha mão da maçaneta interna.
Era como se algo estivesse puxando minha mão para
a maçaneta. Eu consegui sentir como se houvesse
alguém colocando a mão em cima da minha e a
apertando contra a maçaneta.
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Capítulo II – O real início do pesadelo.
— AH NÃO, DROGA!
Gritei e no impulso puxei minha mão com toda minha
força para fora. Acabei esbarrando em alguns cacos e
me cortando, mas a dor foi mínima em comparação
ao que passava pela minha cabeça.
— Tem alguma coisa lá dentro! Eu senti
puxando minha mão para a maçaneta. Algo não quer
nos deixar entrar aí. PRECISAMOS ABRIR ESSA
PORTA A QUALQUER CUSTO!
Falei enquanto encarava os outros rapazes.
— Eu vou pôr a mão por dentro e girar a
maçaneta interna e você põe toda força pra girar a
maçaneta de fora. Certo?
Disse Joseph já enfiando a mão pela janelinha e
agarrando a maçaneta.
— 3, 2, 1, VAI!!!
Nós dois colocamos toda nossa força. A porta rangeu
e a maçaneta destravou de uma vez, e começou a ficar
levemente mais quente do que antes. Seja lá o que
estava agindo sobre a porta, havia cansado.
— Nossa! Até que enfim... Que coisa difícil.
Disse Joseph ofegante.
— Vamos lá! Vamos achar o nome do diretor e
dar o fora daqui.
— Eu vou com você!
Heaven’s Door 47
Exclamou Luke, entrando logo após Joseph.
— Ei! Tem um corpo deitado de bruços aqui!
Exclamou Joseph olhando para trás, para min e para
Raymond.
Joseph então se aproximou do cadáver e ao
tentar virá-lo de frente não houve um segundo sequer
para pensar. O até então cadáver o agarrou com a
mão pelo braço. A porta bateu como se uma rajada de
vento houvesse a empurrado de dentro para fora da
sala. E novamente ela estava trancada.
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Capítulo II – O real início do pesadelo.
Heaven’s Door 49
semelhante à de uma gárgula de mármore, e em um
milésimo de segundo saltou em direção a Raymond.
— AAAAAAAHHHH!!!!!
Gritou Raymond inutilmente. Sendo agarrado e
derrubado ao chão pela criatura grotesca.
— CARALHO! RAYMOOOND!!!
Naquele instante senti a mão de alguém na
minha, Era Joseph. Sua mão estava cheia de sangue
e seu braço estava com uma caneta fincada. Ele
colocou toda sua força para a abrir a porta comigo.
Houve também um barulho de tiro dentro da sala. E
então conseguimos abrir a porta novamente.
— Rápido precisamos ajudar o Raymond!
Falei enquanto tirava minhas botas. Agarrei uma das
minhas meias e corri em direção aquela coisa.
— MAS O QUE É AQUILO?!... EI, ESPERA!
Disse Joseph, completamente pasmo ao ver Raymond
no chão com uma criatura grotesca em cima dele,
tentando lhe morder.
— SOCOOORROOOO!!
Não sei no que eu estava pensando naquele
momento. Sai em disparada com uma meia na mão
em direção ao troço. Ele ainda tentou me golpear com
as garras de sua mão direita, mas felizmente, ou
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Capítulo II – O real início do pesadelo.
Heaven’s Door 51
Joseph chutou sem piedade o braço esquerdo
da criatura de fora para dentro enquanto eu a puxava
pelo braço direito no sentido contrário. A criatura
rotacionou o corpo caindo por cima de mim, e eu de
costas no chão ensanguentado.
Naquele momento houve um clarão seguido de
um estrondo que fez as portas naquele corredor
balançarem como se fossem folhas de papel ao vento.
A criatura saltou em direção a escada e simplesmente
desapareceu em um piscar de olhos.
Eu me levantei com as pernas ainda meio
bambas. A cena que eu via ali era terrível. Raymond
estava desacordado no chão, Luke ajoelhado olhando
fixamente para um ponto no chão, Joseph
desesperado rasgando partes da roupa de Raymond e
as amarrando em volta do ombro dele na tentativa de
estancar o sangue no ferimento.
Passaram-se alguns minutos e nada do
Raymond acordar, mas seu pulso era estável. Luke,
no mesmo tempo, também desmaiou. E Joseph
estava quase sem esperanças ajoelhado ao lado de
Raymon. Quando finalmente um suspiro seguido de
uma tosse.
— Aiii! Tá doendo!
— GRAÇAS A DEUS! VOCÊ TA VIVO CARA!
— Não me sinto nada vivo, se quer saber.
— Olha Kohan! O Raymond acordou!
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Capítulo II – O real início do pesadelo.
Heaven’s Door 53
Luke ainda tinha pulso, mas bem fraco. Eu o
arrastei para uma das salas que estavam sem porta.
O escorei na parede e movi a mesa que havia ali para
cobri-lo e escondê-lo. Sai da sala tentando entulhar a
entrada para dificultar a entrada daquela coisa se ela
voltasse.
— Vamos indo, ele deve estar seguro ali.
— Tá bom. Consegue se levantar Ray?
— Unff! Eu acho que dá, Aii! É tá dando, só
preciso de um apoio pra não ter risco de cair.
— Vamos lá eu te ajudo. Kohan, o nome do
diretor é Ethan Armstrong. Vá na frente verificando o
caminho e abra a porta. Más se tentar fugir eu atiro!
— Fica frio aí, se eu quisesse fugir você nem
perceberia.
Finalmente tínhamos a senha, mas pelo preço
de abandonar um conhecido à mercê da sorte. Fui na
frente verificando as salas do corredor, a escada, as
celas, o refeitório e todas as possíveis brechas onde
aquela criatura pudesse estar se escondendo.
Pensando bem, de nada adiantaria se eu a
encontrasse. Provavelmente seriamos mortos ali
mesmo, pois não estávamos em condições de entrar
em outro combate.
Chegando na porta, digitei o nome do diretor
naquele terminal azul cintilante. A porta se abriu
54 Rishibe Kohan
Capítulo II – O real início do pesadelo.
Heaven’s Door 55
Capítulo III
Da prisão à Loucura.
Para variar um pouco nossa situação. Saímos
da prisão para seu estacionamento. Onde o caos
continuava. Vários carros estavam destruídos e
abandonados. Várias manchas de sangue e marcas
de luta espalhadas por todos os lugares.
— Olhem, tem um outro prisioneiro ali.
Cochichou Joseph.
— O que é que ele tá fazendo?
Indagou Raymond.
O homem estava atrás de um carro. Ele colocou
as mãos dos lados da traseira do carro
vagarosamente. E repentinamente começou a
chacoalhar o carro de um lado para o outro. O carro
quase se retorcia com a força do brutamonte que o
balançava. Aquele homem tinha quase 3 metros de
altura e seus músculos eram como pedras talhadas.
A porta de passageiro da frente se abriu com o
chacoalhar, era o que aparentava. E dela saiu um
56 Rishibe Kohan
Capítulo III – Da prisão à loucura.
Heaven’s Door 57
cheio. Não fazia ideia de quantas balas ainda
restavam no cartucho da Glock. Então peguei uma
pequena pedra que se soltava do calçamento dali e
arremessei em direção a um dos carros.
Para a minha surpresa aquilo funcionou
melhor do que o esperado. O brutamonte se virou e
gritou:
— QUEM ESTÁ Aí! APAREÇA AGORA SEU
MERDA! VOCÊ SERÁ O PRÓXIMO!
Mesmo assim, a cabeça dele ainda estava sendo
protegida pelo seu ombro direito no ponto de vista em
que eu mirava. A única forma de acertá-lo era frente
a frente.
O Brutamontes voltou a atenção ao coitado
caído e com o giro de seu corpo tentou acertá-lo com
o pedaço do para-choque que havia arrancado do
carro. O homem, que agora se tornava claramente um
outro prisioneiro, esquivou-se rapidamente rolando
para a direita e ficando cara a cara comigo. Eu havia
dado a volta no carro me aproximando dele e quando
ele me viu fiz um sinal de silêncio.
Durante tudo isso minha atenção era somente
para aquela briga, mal pude notar que Joseph e
Raymond se aproximavam por trás do gigante.
— Ei otário! É melhor ficar paradinho aí!
58 Rishibe Kohan
Capítulo III – Da prisão à loucura.
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O barulho do disparo me deixou tonto e
ensurdecido. A bala entrou pela testa e saiu pela
nuca, estourando o crânio e espalhando miolos por
lodo lado. Por um momento eu fiquei pasmo. “Eu...
Eu matei um cara... Eu...” era o que passava em
minha cabeça. Ali ainda estático eu sorri. Não era um
sorriso de alívio. Era um sorriso de prazer. Eu senti
medo de mim mesmo.
Ao ver aquela cena, Raymond não conseguiu
conter o enjoou lhe causado e vomitou no pneu do
carro onde estava escorado.
— Não acho que precisava disso. Nem sabíamos
quem era ele. E VOCÊ PARADINHO AI!
Disse Joseph observando a cena e ordenando
ao outro prisioneiro.
— Quem é você?
Perguntou em seguida.
— Eu me chamo... Me chamo Kayn, Kayn
Argent... Obrigado por me salvarem.
— Tanto faz, O que esse cara queria com você
afinal? E por que você estava dentro desse carro?
— Não me lembro de muita coisa. Quando
houve a rebelião, vários prisioneiros fizeram um
buraco no muro externo e escaparam por lá. Mas
alguma coisa aconteceu depois disso. Um barulho
estranho e não lembro mais de nada. Quando acordei
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
Heaven’s Door 61
Disse Kayn, levantando-se devagar.
— Eu servi a alguns anos atrás. Fui preso por
matar um companheiro. Mas ele não era um de nós.
Tenho certeza de que o que fiz foi o certo.
Acrescentou ele.
— Então tá bom. Então vamos sair daqui. Não
tenho certeza, mas acho que seguindo aquela estrada
ali vamos dar em uma cidadezinha. Não é tão perto,
mas acho que é nossa única opção. Vocês vão na
frente.
Disse Joseph empunhando a Glock.
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
Heaven’s Door 63
indiscutivelmente o mais estiloso e belo. Com meus
lindos olhos azuis e cabelo cortado e tingido por mim
mesmo em um azul-celeste reluzente, sou uma visão
imponente. Mesmo na prisão, demonstrei minha
habilidade de moda, improvisando minhas próprias
roupas com as linhas retiradas de fardas velhas
jogadas no lixo. Minha criatividade e habilidade
manual são incomparáveis, além de um belíssimo ato
sustentável. Com meu cropped com rasgos
losangulares, minha calça skinny feita à mão com
contornos desenhados e minha tiara de tecido
dourada com pontas lindas, eu sou quase a
personificação do conceito de beleza. Apenas um
desenho feito pelo meu querido Heaven’s Door
poderia capturar toda a minha grandiosidade.
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
Heaven’s Door 65
A Senhora Mhin Huo nos acolheu em sua casa.
Ficamos todos na sala de estar. Eu me sentei no chão
escorado a parede, Joseph ficou em pé próximo ao
corredor, Raymond sentou-se em um banquinho
próximo a um relógio pêndulo. E Kayn sentou-se
próximo à porta.
Ela nos trouxe um chá muito cheiroso em
xícaras de porcelana, brancas com desenhos
dourados.
— Não obrigado, não gosto tanto de chá.
Disse Joseph.
— Não seja por isso, já lhe trago um café. Pode
ser?
— Um café eu aceito. Muito obrigado.
— Não precisa agradecer.
— Eu vou ao banheiro. Onde fica senhorita
Mhin Huo?
Perguntou Kayn gentilmente.
— Ah meu filho, o banheiro é essa pequena
casinha de madeira do lado externo aos fundos. Pode
sair pela porta da cozinha se quiser.
— Muito obrigado.
Respondeu Kayn.
— Ah obrigado!
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
Heaven’s Door 67
— Não lembro. Só lembro de tomar aquele chá
e cair no sono. EU SABIA QUE TINHA ALGUMA
COISA NELE!
— É, mas você só agradeceu e tomou. Por que
está tão bravo agora?
— Droga!
— Precisamos saber como sair daqui. Pelo visto
só tem aquela boca estranha.
Me aproximei novamente da boca, e quando
cheguei bem próximo ela se abriu, saindo uma língua
em minha direção. Rapidamente dei alguns passos
para trás assustado. Pude ouvir ao longe uma risada
infantil. Logo percebi que a língua era de papelão. E
tudo tinha meio que essa aparência agora.
— O que diabos está acontecendo aqui? E onde
nós estamos?
— Que boa pergunta Raymond. Pena que não
tenho uma boa resposta. Mas acho que fomos
sequestrados.
Respondi com um tom de sarcasmo.
Seguimos pelo corredor atrás da língua. Que
tinha a aparência de entranhas e quanto mais
andávamos, mais longo ele parecia ser. Até que
chegamos a outra sala totalmente vazia. Nela, apenas
um duto de ar, próximo ao chão, na parede.
— E agora? Vamos ter que nos espremer ali?
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
Heaven’s Door 69
— Eu preciso registrá-lo.
Andamos por ali observando tudo que havia
naquele lugar. Os livros das estantes era todos com
um mesmo aspecto. Vários tamanhos e diversas
cores, mas nenhum escrito. Claramente uma
alucinação, mas estávamos lúcidos? Aquilo não fazia
o menor sentido e era exatamente por isso que me
encantava.
— Raymond, achou algum livro com algo
escrito?
— Ainda não. E se eles estiverem mais próximos
do chão? Digo do nosso teto.
— É uma boa suposição, mas acho que não.
Falei enquanto soltava um livro para ver se ele
cairia para cima. E para minha surpresa ele caiu em
direção aos meus pés.
— A gravidade aqui também não faz sentido.
— Olha Kohan, tem uma porta bem ali, lá em
cima.
— E como chegaremos lá?
— Tem esta escada aí que está escorada na
estante. Podemos levá-la até a porta e tentar subir por
ela.
— Boa ideia.
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
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— Suba logo Raymond! Você precisa ver isso
aqui!
— Eu estou tentando. Não sou magro como
você. Eu vo- AAAAH!
Disse Raymond tentando passar da escada
para o portal. Ele escorregou e caiu sentado no teto
da biblioteca.
— HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA! Cara, isso
foi HILARIO! HAHAHAHAAHAHA!
— Filho da… poderia ter me ajudado. Estendido
a mão ou sei lá!
— É só subir de novo cara, vamos.
— Foda-se vou fazer do meu jeito.
Raymond começou a derrubar os livros
das estantes e empilhá-los próximo a parede criando
uma rampa. Aquilo demoraria um século então decidi
observar a sala que havia do outro lado da porta.
Mais uma construção inimaginável e
contraditória, pois esta não estava de ponta a cabeça.
A sala principal de uma catedral ou tempo antigo.
Incrivelmente alta e feita de puro mármore com
colunas escupidas e detalhadas com ouro, janelas
com mosaicos de cores pastel e bancos de madeira
talhados com desenhos tão detalhados que mal pude
notar um homem em pé no presbitério.
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
Heaven’s Door 73
Perguntou Kayn já quase chegando a mim em uma
corrida leve.
— Seu cuzão! Em vez de me ajudar ficou rindo
de mim enquanto eu caia da merda dessa escada.
— Ah Raymond! Me segura pelas pernas
Kohan, eu o ajudo.
Disse Kayn, deitando-se no chão e estendendo a mão
para Raymond.
— Se você estivesse no meu lugar também teria
rido.
Respondi Raymond, ainda limpando as lagrimas de
tanto rir.
— E que lugar é esse? Por que tá tudo de cabeça
para baixo?
— Boa pergunta. Outra ótima pergunta é: por
que uma porta leva de uma biblioteca de ponta a
cabeça a um templo religioso?
Respondi a Kayn.
— Uma pergunta melhor ainda! Como que você
chegou aqui, Kayn?
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
Heaven’s Door 75
— Abaixa Kayn!
Lancei o candelabro com toda minha força em
direção ao ser que havia ali. Em milésimos de um
segundo ele mudou sua posição, movendo-se a
direita, somente o necessário para que o candelabro
não o atingisse. O mesmo chocou-se contra a parede
logo atrás do ser.
O indivíduo então começou a andar
lentamente, saindo da escuridão e entrando onde os
raios de luz, que entravam pelo gigantesco e circular
vitral que havia atrás do altar, pudessem o tocar. A
figura parecia-se com um homem, apesar de sua pele
ser extremamente pálida e suas orelhas levemente
pontiagudas. Ele vestia roupas antigas, pareciam
vestimentas nobres dos anos 30.
— Oh, meu filho! Por que toda essa
agressividade? Saiba que não estou aqui com
intenção de lhe causar mal algum, pelo contrário!
Venho-lhes mostrar o caminho para escapar desta
vida mundana. Desejo que sejam como eu, livres!
— Do que esse velho tá falando?
Perguntou Kayn.
— Papo de religioso. Por isso me recuso a
acreditar nessas crenças, isso não leva ninguém a
lugar algum. Só queremos ir embora!
Respondeu Raymond.
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
Heaven’s Door 77
imaginam. No entanto, se minhas palavras não são
suficientes, permitam-me deixá-los partir.
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
Heaven’s Door 79
— Cuidado menino, você vai pegar um resfriado
nessa chuva!
Exclamou a Senhora, mas Raymond não deu ouvidos.
Do lado de fora da casa o temporal era
avassalador. Mal dava para ver 2 metros a nossa
frente. Felizmente o banheiro era próximo o suficiente
para o vermos ainda de dentro da casa.
Raymond saiu na chuva até o banheiro. Abriu
a porta e com espanto virou para trás.
— Não tem ninguém aqui!
Disse Raymond. E logo em seguida uma voz abafada
gritando veio de um lugar mais ao lado.
— AQUI! NO PORÃO! ABRAM A PORTA!
RAPIDO!
Andamos em meio ao temporal em direção a voz
que quase não se ouvia devido o barulho intenso da
chuva. Logo ao lado da casa havia uma porta dupla
de madeira, inclinada a 45° graus do chão, com
algumas tábuas que a fortificavam e uma em
específico que a atravessava de ponta a ponta a
trancando.
— Vamos, me ajudem com isso daqui.
Disse Joseph, já segurando uma das pontas da
tábua.
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
Heaven’s Door 81
— MEU DEUS! PRA QUE CHUTAR A PORTA
DESSE JEITO SEU LOUCO!
— Ah desculpe, eu não estava ouvindo vocês.
Pensei que ninguém iria vir até aqui então quis tentar
arrombá-la.
Respondeu Kayn a Joseph, pondo a mão atras
da cabeça e sorrindo sem jeito.
— Vocês precisam ver isso! Venham!
Acrescentou ele logo em seguida.
— Esperem, aí pode ter escorpião e ratos!
Disse a senhora Mhin Huo.
— Não tem problemas. Escorpiões e ratos não
são nada comparados ao que já passamos.
Falei olhando profundamente em seus olhos.
— Me leve, quero ir junto. Se há algo no meu
porão que vocês têm interesse eu preciso saber o que
é.
Respondeu ela, expressando curiosidade.
Descemos então as escadas. Kayn foi na frente
nos guiando, logo atrás dele estavam Joseph e
Raymond. Eu ia por último, auxiliando a senhora
Mhin Huo com a cadeira de rodas. O mais intrigante
era que boa parte da casa havia sido adaptada para
ela, com rampas e corrimãos. Mas o porão não. Havia
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
Heaven’s Door 83
— É, parece mesmo.
— Pera aí. Você estava dormindo na sala,
sentado e escorado na parede. Como sabe sobre isso?
— Ele também estava lá.
— E eu também.
Disse Raymond.
— Do que diabos vocês estão falando? Vocês
estavam dormindo na sala, eu vi! Não sejam ridículos.
— Realmente eu pensei que era um sonho, mas
o Raymond surgiu do nada atrás de mim de um lugar
que não havia porta de entrada. Estávamos em uma
sala de mármore totalmente branca com uma porta
estranha. História longa, mas encontramos Kayn em
meio aquela loucura. E estávamos os 3 em um templo
quando um ser que parecia aquela silhueta que vimos
agora pouco apareceu e começou a encher nosso saco
com um papo de salvação e aceitação. Como diz o
Raymond...
— Papo de religioso!
— Isso mesmo!
— Então foi um surto coletivo? É isso?
— Que surto coletivo cara? Aquilo foi real!
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
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— PERA AI! OLHA RAYMOND! EU TENHO O
DESENHO DO SONHO!
— CARA! ISSO É IMPOSSIVEL!
— Vocês estão, todos, ficando malucos!
— Não, Eu também tive sonhos estranhos esses
dias. Sempre achei que eram só pesadelos.
Disse a senhora Huo.
— Você já esteve lá?
— Em uma biblioteca? Não. E nem em um
templo. Meus sonhos eram em uma praça antiga. Mas
não tinha nenhum padre.
— Eu não estou entendendo nada.
Disse Joseph.
Peguei o livro que estava na mesa e o folheei,
mas como Raymond havia dito não tinha nada escrito
nele.
Por estar mais próximo da mesa, pude notar
que havia uma rachadura no chão seguindo o
contorno dela. E ao segui-la encontrei um cadeado,
que prendia os dois lados da ranhura no chão. Fiquei
intrigado e levantei o pano da mesa para que pudesse
ver abaixo dela. Lá estavam 2 hastes de ferro presas
ao chão.
— Olha! De baixo dessa mesa tem um alçapão!
Ele está trancado.
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
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— Mais uma escada. Quem diria.
Falei rindo.
— Eu vou primeiro.
Disse Kayn enquanto descia os primeiros degraus.
— Estou logo atras de você.
Falou Raymond.
— Pode ir, eu fico aqui com a senhora Huo.
Disse Joseph olhando para mim.
— Tudo bem, qualquer coisa de mais estranha
que aconteça lá eu tentarei gritar pra te chamar.
Respondi a ele o cumprimentando como os
americanos e comecei a descer a escada.
— Tá muito escuro aqui, não consigo ver um
palmo a minha frente. Alguém tem uma lanterna aí?
Disse Raymond. E suas preces foram
atendidas.
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
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a ouro e um amplo espaço que abrigava dezenas de
pessoas vestidas em trajes ritualísticos. A grandeza e
magnificência do ídolo que aqueles homens
encapuzados adoravam era algo inacreditável. Mesmo
que a luz das tochas não fosse suficiente para
iluminar toda a gigantesca sala, o pouco que
alcançava o ídolo era o suficiente para ver que ele não
era nenhum dos deuses adorados pelos povos que eu
conhecia. Sua figura escamosa lembrava a de um
dragão, e sua presença ali era assustadora.
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
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da dor em minha perna. Ele logo virou para mim e
deu um passo se aproximando.
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
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futuro, parecia saída de um jogo de temática
steampunk.
Eu e Raymond ficamos paralisados, imóveis
nos degraus da escada, enquanto observávamos a
figura se aproximar cada vez mais. Ele passou por nós
sem se importar com nossa presença, como se
estivéssemos invisíveis, e continuou descendo a
escada em direção ao templo subterrâneo. Sua
atitude tranquila só aumentou o meu desconcerto
com tudo o que estava acontecendo.
Quando ele finalmente parou em frente a
Joseph, que vinha um pouco atrás de nós, entregou-
lhe algo que não pude identificar naquele momento.
Fez um gesto com a cabeça, indicando para Joseph e
Kayn continuarem subindo as escadas, e prosseguiu
em sua descida em direção ao culto subterrâneo.
Seguimos nosso caminho e ele seguiu o dele.
Quando chegamos ao porão da casa da senhora Huo
nos deparamos com uma cena intrigante para
adicionar mais dúvidas em nossas mente.
A Senhora Huo havia desaparecido, Apenas a
cadeira de rodas com a toalha que ela carregava em
seu ombro e uma pequena boneca de pano estavam
lá.
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
Heaven’s Door 95
moto, aparentemente tentando dar partida no
veículo. Suas roupas eram um pouco mais
trabalhadas, e com tons de vermelho e dourado mais
reluzentes.
Lembrei daquele momento na prisão, aonde
Raymond ia em direção ao carniçal clamando por
ajuda. Essa lembrança me deu uma grande ideia.
Decidi agir exatamente como o carniçal. Deixei
meus ombros caídos, me curvei levemente para
frente, deixei meus joelhos igualmente curvados e sai
pela porta.
Os cultistas demoraram um pouco para me
notar pois estavam determinados a dar partida no
veículo, mas logo um deles virou para min e falou.
— Ora ora, o que temos aqui?
Disse um deles enquanto batia com a mão no ombro
do outro.
Eu continuei dando passos lentos em direção a
eles, mantendo a mesma postura que o carniçal. Pude
ouvir atrás de mim um cochicho.
— A não, ele virou aquilo!
Sussurrou Raymond.
— Agacha! Olha lá! Tem dois cultista ali. Ele
deve ter alguma coisa em mente pra está agindo
assim. Não deve der virado um carniçal.
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Capítulo III – Da prisão à loucura.
“HEAVEN’S DOOR!”
Mais uma vez eu me via projetado no ar, como
em uma projeção astral. Onde a alma se desprende
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do corpo e pode vagar livremente. Senti que meu
tempo era extremamente curto para ler o toda a
estante que o cultista se tornará. Busquei somente
registros de sua memória recente e pude entender o
que nos esperava. Toda aquela região na floresta
estava cercada de cultistas vindo em direção a casa.
Logo após ler o vislumbre de memória. A escuridão se
dissipou e retornamos aos nossos corpos.
O cultista, que havia sentido aquilo, agora
expressava um horror completo e tentava me socar a
todo custo, enquanto se esquivava dos golpes que eu
desferia contra ele. Até que brilhantemente ele
decidiu jogar lama no meu rosto.
Um único problema se agravava ali, voltando da
escuridão gélida eu me senti completamente
impulsionado a matar aquele cultista. E qualquer um
que me impedisse de tomar aquela moto para mim.
Revidei aquele desaforo igualmente. Peguei um
punhado de terra molhada e enfiei na boca do
cultista. Logo em seguida dei-lhe um soco certeiro na
base de seu maxilar. Diferente do meu companheiro
de cela Igor, que era um brutamonte e claramente
acostumado com golpes assim, o cultista não resistiu
e desmaiou quase que instantaneamente.
Levantei-me e olhei para os outros. Que
estavam próximos a moto discutindo algo inaudível
pela distância que estávamos. Então decidi me
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