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DISCIPLINA: SAÚDE MENTAL

DOCENTE: MILENA OLIVEIRA

DISCENTE: JOANNE NASCIMENTO

RESENHA CRÍTICA: NISE O CORAÇÃO DA LOUCURA

REFERÊNCIAS:
NISE: o coração da loucura. Direção de Roberto Berliner. Rio de Janeiro, 2016. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=bOrymJuwVvI . Acesso em: 17 abr. 2022.
VIEIRA, Priscila Piazentini. Reflexões sobre A História da Loucura de Michel Foucaut. Revista
Aulas. 2006/2007.
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Brasil. Reforma psiquiátrica e política da saúde mental no Brasil.
Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental. Brasília, nov. 2005.

Esse texto fará uma breve associação do filme Nise: o coração da loucura com as bases
teóricas referenciadas acima, que abordam a história da loucura e seus aspectos desde a idade
média e as mudanças aderidas na reforma psiquiátrica no Brasil a partir século XX. O foco será
a contextualização da psiquiatria apresentada no filme com o que é descrito nos textos e apontar
quais mudanças exercidas por Nise ao longo da história se assemelham com as promovidas
durante a reforma psiquiátrica posteriormente.

A história do trabalho de Nise para psiquiatria se passa num hospital psiquiátrico público
no Rio de Janeiro em meados das décadas de 40 e 50. No filme vê-se de início a médica
retornando ao hospital após um período fora e se deparando com a propagação e aplicação de
técnicas de tratamento invasivas e agressivas aos pacientes. Em uma apresentação os médicos
da instituição apresentam o eletrochoque e a lobotomia como métodos revolucionários e de
sucesso do tratamento psiquiátrico; horrorizada e ao se negar a aderir de tais práticas para o
tratamento de seus pacientes, Nise é realocada no setor mais desvalorizado do hospital, a terapia
ocupacional.
Ao longo do filme nota-se no trabalho de Nise a tentativa de modificar a forma que a
psiquiatria tradicional trata os pacientes. Começando pela nomenclatura, a doutora diz que os
médicos e enfermeiros é que estão a serviço dos internos e portanto eles deveriam ser chamados
de clientes.

O Engenho de dentro, hospital psiquiátrico, é uma instituição marcada por


características da psiquiatria tradicionalista, pré reforma. Internamento como forma de exílio
do louco da sociedade, um espaço de confinamento para garantir a segurança da sociedade
quanto aos perigos que os internos podem apresentar. Um lugar que como Foucault diz, é “onde
tudo o que há de estranho no homem seria sufocado e reduzido ao silêncio”. Nesse cenário,
assim como é dito no texto “Reflexões sobre a história da loucura”, o internamento assume um
valor terapêutico apenas através do reajustamento político, social e moral da relação entre
loucura e desatino, podendo assim a medicina se apossar de todas as experiências da loucura.

As técnicas de trepanação e eletrochoque demonstram bem que o objetivo dos hospitais


não eram tratar, mas sim sanar os sintomas aparentes da loucura. Silenciando todo
comportamento que pudesse representar algum risco ou incômodo a sociedade, nem que para
isso fosse preciso “matar” uma parte da mente daquele paciente, como Nise explica à
responsável por um dos pacientes durante o filme.

Apesar da resistência inicial, da parte dos funcionários e também dos clientes, os


métodos de terapia ocupacional de Nise vão aos poucos tendo espaço, chamando atenção dos
internos e demonstrando eficácia. Em seu trabalho Nise vai contra o modelo hospitalocêntrico
onde a relação médico/paciente é de autoridade, estabelecendo uma relação de escuta e respeito,
procurando entender as demandas e as necessidades de cada um e dando a eles a liberdade
necessária para se expressarem.

Utilizando a pintura e as artes em gerais ela consegue extrair expressões do inconsciente


dos esquizofrênicos, estudando a história de cada um ela pôde correlacionar com suas artes e
algumas vezes até interpretar o que desejavam expressar. Os trabalhos feitos na terapia
ocupacional além de importantes formas de expressão do inconsciente também se mostraram
como grandes obras de arte, chamando atenção de críticos que se interessaram e passaram a se
envolver no projeto.

O trabalho de Nise no hospital psiquiátrico enfrentou bastante resistência por parte dos
médicos tradicionalistas, mas também possibilitou que os doentes mentais fossem vistos pelas
pessoas de fora de forma mais humanizadas, que fossem enxergados como pessoas além de
seus transtornos, o que para a época foi um grande avanço. Explorando suas capacidades de
demonstrar afetividade uns com os outros e também com a introdução de animais no processo
terapêutico, seu trabalho foi inovador e autêntico.

Acredito que seja possível observar na história de Nise, e em sua relação com os internos
do hospital, características da reforma psiquiátrica que só teria início décadas depois. A frente
de seu tempo, Nise trouxe a ideia da psiquiatria humanitária em ações como a promoção da
relação entre o doente e sua família, ou nas tentativas de leva-los para além dos muros do
hospital.

Suas ações tiveram importância de nível médico, político e social. Um grande marco
para a psiquiatria brasileira que foi muito bem relatado nesse filme.

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