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Curso 192371 Aula 15 Cd7e Completo
Curso 192371 Aula 15 Cd7e Completo
Direito
Processual Penal - 2022 (Pós-Edital)
Autor:
Leonardo Ribas Tavares, Equipe
Materiais Carreiras Jurídicas
02 de Fevereiro de 2022
Sumário
1. Sentença penal ............................................................................................................................................... 3
1.1 Classificações dos atos judiciais ............................................................................................................... 3
Doutrina complementar ............................................................................................................................... 14
1.2 Conteúdo da sentença ............................................................................................................................ 16
1.2.1 Relatório ............................................................................................................................................. 17
1.2.2 Fundamentação ................................................................................................................................... 18
Jurisprudência pertinente ............................................................................................................................. 23
1.2.3 Dispositivo .......................................................................................................................................... 25
1.2.4 Autenticação ....................................................................................................................................... 26
Doutrina complementar ............................................................................................................................... 27
1.3 Sentença absolutória .............................................................................................................................. 28
Doutrina complementar ............................................................................................................................... 29
1.4 Causas de absolvição ............................................................................................................................. 30
Doutrina complementar ............................................................................................................................... 37
1.5 Efeitos da sentença absolutória ............................................................................................................. 38
1.5.1 Efeitos secundários .............................................................................................................................. 41
Doutrina complementar ............................................................................................................................... 42
1.6 Sentença condenatória .......................................................................................................................... 43
1.6.1 Elementos ........................................................................................................................................... 43
Doutrina complementar ............................................................................................................................... 46
1.6.2 Detração para regime inicial de pena...................................................................................................... 47
1.6.3 Efeitos penais ...................................................................................................................................... 51
1.6.4 Efeitos extrapenais ............................................................................................................................... 60
Doutrina complementar ............................................................................................................................... 71
Jurisprudência pertinente ............................................................................................................................. 72
1.7 Vinculação da sentença ao pedido do Ministério Público...................................................................... 82
Jurisprudência pertinente ............................................................................................................................. 85
1.8 Publicação da sentença .......................................................................................................................... 86
Doutrina complementar ............................................................................................................................... 87
1.9 Esgotamento da instância ...................................................................................................................... 88
1.10 Intimação da sentença ......................................................................................................................... 89
Doutrina complementar ............................................................................................................................... 92
1.11 Princípio da correlação e da consubstanciação ................................................................................... 93
Jurisprudência pertinente ............................................................................................................................. 96
1.12 “Emendatio libelli” ............................................................................................................................... 98
1.12.1 Oportunidade para emendatio libelli................................................................................................... 102
Jurisprudência pertinente ........................................................................................................................... 106
1.12.2 Procedimento .................................................................................................................................. 107
1.12.3 Emendatio libelli nas instâncias superiores .......................................................................................... 110
1.13 “Mutatio libelli” .................................................................................................................................. 112
1.13.1 Oportunidade para mutatio libelli ...................................................................................................... 118
1.13.2 Fato novo e fato diverso.................................................................................................................... 119
1.13.3 Procedimento .................................................................................................................................. 120
1.13.4 Mutatio nas ações penais privadas ..................................................................................................... 124
2. Coisa julgada .............................................................................................................................................. 127
Doutrina complementar ............................................................................................................................. 129
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Leonardo Ribas Tavares, Equipe Materiais Carreiras Jurídicas
Aula 15
1. SENTENÇA PENAL
Durante todo o trâmite do processo o juiz pratica os mais variados e diversos atos processuais. Atos que,
evidentemente, têm consequências jurídicas determinantes para o resultado final e, por isso mesmo, devem
e viabilizam recursos pelas partes.
Já houve preocupação legislativa em definir e sistematizar esses atos judiciais no processo, tanto civil quanto
penal. Isso é importante porque, normalmente, para cada tipo de ato judicial existe um recurso
apropriado/específico. Se a parte não souber identificar qual o ato prolatado pelo juiz (qual a espécie de
decisão) não saberá escolher qual o recurso a ser interposto.
Nesse ponto que estamos queremos compreender a classificação dos atos judiciais, a nomenclatura e a
sistematização deles na lei e pela doutrina, dando-se ênfase ao mais importante deles – a sentença.
Forma ou outra, costuma-se tomar mais em conta as consequências dos atos do juiz do que propriamente o
conteúdo para se estabelecer as classificações.
No Código de Processo Civil, é o art. 203 que traz a classificação, com o complemento do art. 204 que define
o que é acórdão:
Olha o que dizem os artigos 800 e 593 do CPP, que servem de parâmetro:
Art. 800. Os juízes singulares darão seus despachos e decisões dentro dos prazos seguintes,
quando outros não estiverem estabelecidos:
II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos
não previstos no Capítulo anterior; [...]
Por essa breve transcrição da lei, já podemos demonstrar a importância prática de saber diferenciar. Se eu
te perguntasse : qual o prazo legal (impróprio) que o juiz tem para prolatar uma decisão de pronúncia? Se
te perguntasse qual o recurso cabível para a mesma decisão, você saberia dizer? Perceba que, antes de mais
nada, precisamos saber definir qual a espécie de decisão que configura a pronúncia, para, num segundo
momento, podermos responder a essas questões.
BRASILEIRO reconhece a falta de consenso e a dificuldade na classificação dos atos judiciais, propondo uma
das variadas classificações existentes:
Não obstante a falta de sistematização no CPP, precisamos compreender algumas classificações doutrinárias
em relação aos atos do juiz, pelo menos as mais conhecidas – começando pela mais importante e aceita de
forma mais abrangente:
despachos: manifestações simples, que não abordam pontos controvertidos, geralmente com finalidade de
dar andamento ao processo (impulso processual) rumo à sentença; de regra são irrecorríveis e normalmente
não têm carga decisória; só admitirão impugnação quando houver ‘inversão tumultuária’ no processo,
mediante correição parcial;
decisões interlocutórias: dão soluções sobre questões controversas, envolvendo a contraposição das partes,
podendo ou não colocar fim ao processo; sua classificação é residual (aquilo que não for sentença ou
despacho tenderá a ser decisão interlocutória); é um pronunciamento judicial de natureza decisória (art. 203
do CPC); se subdividem no processo penal:
Decisão interlocutória é aquela dotada de carga decisória, podendo acarretar (ou não) a extinção
do processo, porém sem enfrentamento do mérito principal, ou seja, sem se pronunciar quanto
à culpabilidade ou inocência do acusado (Lima, 2018).
a) simples – não colocam fim ao processo nem a fase do procedimento (ex. preventiva, liberdade
provisória, relaxamento do flagrante, quebra de sigilo, busca e apreensão, decisão sobre assistência,
recebimento da denúncia, desclassificação); “constituem a maioria das decisões judiciais e destinam-se a
solucionar incidentes que venham a surgir antes da sentença, sem, porém, acarretar qualquer extinção, seja
do processo, seja de uma fase do respectivo procedimento” (Avena, 2017); comportam recurso em sentido
estrito (RESE) para impugnação se houver previsão na lei (art. 581, CPP);
quando, então, será cabível a interposição do recurso em sentido estrito. Caracterizado error in
procedendo, que importe em inversão tumultuária do processo, e desde que não haja recurso
específico previsto em lei, é possível a interposição de correição parcial. De todo modo, quando
irrecorríveis, as interlocutórias simples poderão ter seu conteúdo impugnado por ocasião de
futura e eventual apelação, em matéria preliminar, valendo lembrar que, na hipótese de se tratar
de nulidade relativa, deve ter havido oportuna arguição (CPP, art. 571), sob pena de preclusão.
Nada impede, ademais, a utilização das ações autônomas de impugnação, como o habeas corpus
e o mandado de segurança (Lima, 2018).
b) mistas – colocam fim ao processo ou a uma fase dele; comportam RESE se houver previsão, caso
contrário apelação (593, II, CPP); se subdividem:
Decisões interlocutórias mistas são aquelas que extinguem o processo, sem julgamento de
mérito, as que determinam o fim de uma etapa do procedimento, tangenciando o mérito do
direito de punir (v.g. pronúncia), e as que resolvem procedimentos incidentais de maneira
definitiva. Em síntese, são aquelas que, julgando ou não o mérito, põem fim ao procedimento ou
a uma de suas fases. Tais decisões são denominadas de interlocutórias porquanto são proferidas
no curso de um processo ou procedimento, antes de se completar totalmente e se extinguir o
procedimento com a decisão definitiva de seu mérito em sentido estrito. Diferenciam-se das
interlocutórias simples porquanto acarretam a extinção do processo ou a extinção de uma fase
do procedimento criminal. O instrumento adequado para a impugnação de decisões
interlocutórias mistas é o recurso em sentido estrito, mas desde que tal decisão conste do rol do
art. 581 do CPP. Caso contrário, a impugnação adequada será a apelação, com fundamento no
art. 593, II do CPP (Lima, 2018).
Decisões interlocutórias mistas não terminativas: também chamadas de decisões com força de
definitivas, são as que, a despeito de não acarretarem a extinção do processo, extinguem uma
etapa do procedimento. A respeito, o único exemplo aceito pela unanimidade da doutrina é a
pronúncia, que encerra a primeira etapa do procedimento do júri (juditium acusationes) e
inaugura a segunda fase (juditium causae). Compreendemos, porém, que também podem
enquadrar-se nesta classificação as decisões que rejeitam as defesas preliminares (antes do
recebimento da denúncia ou da queixa) previstas em algumas formas procedimentais, já que
nestes casos a decisão do magistrado que desacolhe a defesa oferecida e recebe a denúncia está
extinguindo uma fase do procedimento (a fase da defesa preliminar) e dando início a outra (o
início do processo penal propriamente dito). Exemplos: desacolhimento da defesa preliminar
prevista no art. 514 do CPP em relação aos crimes funcionais afiançáveis imputados a
funcionários públicos; desacolhimento da defesa prévia prevista no art. 55 da Lei 11.343/2006
em crimes relacionados a drogas; e desacolhimento da defesa preliminar prevista no art. 81 da
Lei 9.099/1995.
Segundo parte da doutrina, as decisões interlocutórias não importam em qualquer manifestação
quanto a aspectos de mérito. A afirmação, contudo, não procede. Não há a menor relevância
para que se classifique uma decisão como interlocutória no fato de haver ou não abordagem de
aspectos relativos ao mérito. Isso porque não é apenas na sentença condenatória e na sentença
absolutória que há exame meritório. Tal ocorre, em verdade, cada vez que o magistrado, para
decidir, necessita adentrar, ainda que superficialmente, em questões relativas à autoria, à
materialidade, à tipicidade, à presença de qualificadoras etc. Veja-se:
1. Desclassificação operada no procedimento dos crimes dolosos contra a vida (art. 419 do CPP):
trata-se de decisão interlocutória simples, embora envolva prejulgamento de mérito, pois de
outro modo não poderia o juiz afirmar que o crime imputado não é doloso contra a vida e,
portanto, desclassificá-lo para outro, encaminhando o processo ao juízo comum.
2. Absolvição sumária (arts. 397 e 415 do CPP): trata-se, como vimos antes (item 13.1.3), de
decisão interlocutória mista terminativa, pois extingue o processo e absolve o réu em julgamento
antecipado do processo (por isso não é sentença stricto sensu). E, inequivocamente, adentra em
aspectos de mérito, por exemplo, quando reconhece a presença inequívoca de causa excludente
de ilicitude.
3. Pronúncia (art. 413 do CPP): trata-se de decisão interlocutória mista não terminativa, já que
apenas extingue uma fase do procedimento do júri. Sem embargo, essa decisão efetua
prejulgamento de mérito ao afirmar a existência de indícios de autoria e de prova da
materialidade do crime, manter ou afastar qualificadoras etc.
4. Não recebimento da denúncia em face da ausência de requisitos formais: trata-se de decisão
interlocutória mista terminativa, a qual, todavia, não importa em qualquer enfrentamento de
mérito, já que se limita a desacolher a inicial por considerá-la inepta, v.g., pela precária
individualização do acusado.
Em todos esses exemplos, as decisões foram classificadas como interlocutórias, sem embargo de
não ocorrer o enfrentamento de mérito em apenas uma delas. Isso demonstra que é
absolutamente equivocado o entendimento de que nessa espécie de decisão não há qualquer
análise meritória (Avena, 2017).
[...] põe fim a uma etapa do procedimento, tangenciando o mérito, porém sem causar a extinção
do processo. É o que ocorre, a título de exemplo, com a pronúncia, que encerra um juízo de
admissibilidade da imputação de crime doloso contra a vida, autorizando que o acusado seja
submetido a julgamento perante o Tribunal do Júri (Lima, 2018).
Não sei se você reparou, mas nessa classificação já trouxemos divergência doutrinária : enquanto
NORBERTO AVENA diz que as decisões com força de definitiva são as interlocutórias mistas não terminativas;
BRASILEIRO diz que são as interlocutórias mistas terminativas. Essa nomenclatura vem lá do art. 593 do CPP
(abaixo transcrito); mas não se preocupe que, no particular, a divergência não tem reflexos práticos
importantes.
II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos
não previstos no Capítulo anterior; [...]
3) sentenças (stricto sensu): põe fim ao processo, absolvendo ou condenando o réu, dando como
procedente ou improcedente a imputação após instrução probatória; têm carga decisória plena, gerando
sucumbência, ordinariamente passíveis de apelação (593, I e III do CPP).
Note que aqui no item 3 estamos nos referindo a sentença no sentido estrito da palavra. Isso porque muitas
vezes o CPP fala em sentença, mas está a se referir a outro tipo de provimento judicial. Em outras palavras:
na própria lei não há rigor científico na utilização da locução – o Código de Processo Penal trabalha com o
termo num sentido amplo.
Segundo a classificação mais usual, então, podemos conceber dessa forma os atos do juiz:
Atos do juiz
Despacho
Simples
Decisão
Terminativa
interlocutória
Mista
Sentença Não terminativa
BRASILEIRO também define, trazendo alguns apontamentos, inclusive definindo aresto como o acórdão
transitado em julgado.
Para o Código de Processo Penal, sentença é tão somente a decisão que julga o mérito principal,
ou seja, a decisão judicial que condena ou absolve o acusado. A contrario sensu, as decisões que
extinguem o processo sem julgamento de mérito, segundo o CPP, são tratadas como decisões
interlocutórias mistas. Em sentido estrito, sentença é o pronunciamento final do juízo de 1º grau,
geralmente um juiz singular (monocrático), mas o CPP também se refere à sentença quanto às
decisões finais de juízos colegiados de 1º grau, tais como aquelas oriundas do Tribunal do Júri e
dos Conselhos de Justiça, no âmbito da Justiça Militar. Em sentido amplo, a sentença também
abrange os acórdãos, que são decisões dos Tribunais, desde que haja julgamento do mérito.
Quando o acórdão transita em julgado, é denominado aresto. A expressão "sentença definitiva"
a que se refere, por exemplo, o art. 82 do CPP, não se confunde com "sentença transitada em
julgado" (v.g., art. 282 do CPP). Sentença definitiva é aquela que põe fim ao processo com
julgamento de mérito. Sentença transitada em julgado é aquela contra a qual não cabe mais
recurso, seja em virtude da preclusão das impugnações cabíveis, seja em virtude do esgotamento
da via recursal disponível (Lima, 2018).
Sentença é o ato que extingue o processo com ou sem julgamento do mérito. A sentença de
mérito é o destino natural do processo. A pretensão é formulada perante o Poder Judiciário para
ser resolvida, por meio de uma sentença, que definirá – por isso são chamadas definitivas – a
relação material debatida em juízo. No processo penal, isto significa decidir o direito de punir
estatal, condenando ou absolvendo o acusado. A sentença que extingue o processo sem
julgamento do mérito é denominada sentença terminativa. De outro lado, denomina-se
sentença definitiva o ato que extingue o processo com julgamento do mérito. No caso de
acolhimento ou rejeição do pedido, a sentença de absolvição ou de condenação é denominada
sentença definitiva em sentido estrito. No processo penal existem também as sentenças
definitivas em sentido lato, isto é, sentença que extingue o processo com julgamento do mérito,
decidindo sobre o direito de punir estatal, embora sem absolver ou condenar o acusado. Assim,
a sentença que julga extinta a punibilidade declara a inexistência do direito de punir, sendo uma
sentença de mérito, ou seja, definitiva, mas não em sentido estrito, posto que não julga a
imputação, absolvendo ou condenando o acusado. Criticável, portanto, a nova redação do art.
397, IV, do CPP, ao incluir entre as hipóteses de “absolvição sumária”, a extinção de punibilidade
(Badaró, 2017).
Essas são as categorias mais aceitas: despachos, decisões interlocutórias e sentenças. Basicamente as
mesmas do processo civil. GUILHERME DE SOUZA NUCCI e RENATO BRASILEIRO DE LIMA (dentre outros), todavia,
trazem uma quarta categoria e precisamos referir: as decisões definitivas. Na verdade, o que este autor trata
como uma categoria autônoma, outros referem como sendo uma espécie de decisão interlocutória.
Decisões definitivas. São aquelas que julgam o mérito, acarretando a extinção do processo ou
do procedimento. Quando se diz ''julgar o mérito", significa dizer julgar o direito de punir do
Estado, leia-se, dizer se o Estado tem (ou não) o direito de punir o acusado. Quando se julga o
mérito principal, a decisão estará analisando a procedência ou improcedência do pedido de
condenação do acusado, para fins de prolação de sentença condenatória ou absolutória. No
entanto, o mérito também pode ser julgado sem condenação, nem absolvição. De fato, quando
o juiz julga extinta a punibilidade, está julgando o mérito, já que está reconhecendo que o direito
de punir do Estado não existe ou deixou de existir, porém não ingressa na análise do "mérito
principal" para declarar a inocência ou a culpabilidade do acusado. Essas decisões definitivas
subdividem-se em:
a) sentença definitiva ou decisão definitiva em sentido estrito: é a decisão em que o juiz aprecia
o "mérito principal", condenando ou absolvendo o acusado;
b) decisões definitivas em sentido amplo ou decisões terminativas de mérito: são aquelas em que
o juiz decide o mérito e extingue o processo ou o procedimento, mas não condena, nem
tampouco absolve o acusado. Nesse ponto, convém lembrar que o processo penal não se resume
ao de natureza condenatória. Portanto, não existe mérito apenas no sentido de se julgar
procedente (ou não) o pedido de condenação do acusado. Com efeito, as ações autônomas de
impugnação (habeas corpus, revisão criminal e mandado de segurança) também possuem seu
próprio pedido, que não é a pretensão punitiva e, portanto, têm seu próprio mérito, que pode
ser matéria exclusivamente processual. Assim, quando se extingue o processo referente a uma
ação autônoma de impugnação, tem-se aí uma decisão definitiva em sentido amplo, já que o
mérito desta ação foi resolvido e o respectivo processo penal não condenatório foi extinto (Lima,
2018).
Decisões definitivas: são as tomadas pelo juiz, colocando fim ao processo, julgando o mérito em
sentido lato, ou seja, decidindo acerca da pretensão punitiva do Estado, mas sem avaliar a
procedência ou improcedência da imputação. Nessas hipóteses, somente chegam a afastar a
pretensão punitiva estatal, por reconhecerem presente alguma causa extintiva da punibilidade
(ex.: decisão que reconhece a existência da prescrição). Diferem das interlocutórias mistas, pois
estas, embora coloquem fim ao processo ou a uma fase do mesmo, não avaliam a pretensão
punitiva do Estado (Nucci, 2018).
Finalmente, para facilitar a identificação, AVENA traz alguns questionamentos que ajudariam na tarefa de
classificar os pronunciamentos judiciais, além de um esquema didático :
3) Trata-se de uma decisão que, não sendo despacho nem sentença, põe termo ao processo,
importando em seu arquivamento? Em caso positivo, haverá decisão interlocutória mista
terminativa.
4) Trata-se de uma decisão que, não sendo despacho nem sentença, põe termo a uma fase do
processo, dando início a outra, sem importar em seu arquivamento? Em caso positivo, haverá
decisão interlocutória mista não terminativa (Avena, 2017).
Podemos perceber, por essa classificação, que nem toda vez que o réu ‘se livra’ da
imputação teremos uma sentença – só lembrar dos casos de impronúncia e de absolvição
sumária, por exemplo, inclusive passíveis de apelação (art. 416, CPP).
de primeiro grau no caso de processos que tenham por objeto crimes praticados por organização
criminosa)” (Badaró, 2017).
• sentenças subjetivamente complexas: proferidas por órgãos colegiados heterogêneos, a exemplo do
tribunal do júri, formado por um juiz togado e vários outros juízes leigos; os jurados decidem sobre o
fato e a autoria e o juiz presidente aplica a pena conforme o entendimento daqueles.
b) sentenças formais: decidem questões processuais, podendo colocar fim ao processo ou à instância (ex.
rejeição da denúncia por inépcia – art. 395, I);
Outra:
vista razões de política criminal, inspiradoras das causas de perdão judicial Logo, declara que não
há direito de punir e não confere ao Estado direito algum (Nucci, 2015).
Existe uma classificação que é mais conhecida no processo civil, mas também é utilizada no processo penal;
por ela, as decisões podem ser:
• condenatórias: que reconhecem a culpa do réu para efeito de dar vazão do jus puniendi do Estado,
condenando-o ao cumprimento de uma pena;
• declaratórias: quando absolvem ou julgam extinta a punibilidade; no caso da absolvição, consagram
o estado de inocência, inerente a todo ser humano, desde o nascimento. Portanto, nada constituem,
nenhum direito geram ou criam, mas apenas declaram o natural, ainda que fundamentado em
diversas razões (Nucci, 2015);
[...] são aquelas que se limitam a declarar uma situação jurídica preexistente. Exemplos: a decisão
judicial que reconhece a extinção da punibilidade pela morte do réu, pela prescrição, pelo
cumprimento das condições acordadas em transação penal etc.; e o pronunciamento do juiz que
anula o processo penal em face da constatação de uma nulidade absoluta (lembre-se de que
nestas, ao contrário das relativas, o ato existe, mas não é válido e nem eficaz, sendo essa a razão
pela qual a nulidade absoluta é declarada e não decretada) (Avena, 2017).
• constitutivas: aquelas que têm como eficácia preponderante a modificação de situação jurídica,
podendo ser de natureza positiva, quando fazem surgir uma nova situação jurídica (v.g., decisão
concessiva de reabilitação criminal, que conduz o acusado a um novo status, o de reabilitado), ou
negativa, que importam em desconstituir um ato jurídico anterior, até então válido e eficaz (v.g., a
revisão criminal visa à desconstituição de sentença condenatória ou absolutória imprópria transitada
em julgado) (Lima, 2018);
• mandamentais: como o próprio nome sugere, são aquelas decisões que consubstanciam uma ordem,
um comando judicial – como acontece no habeas corpus e no mandado de segurança –, devendo ser
cumpridas na medida dos seus termos, inclusive sob pena de crime de desobediência;
• executivas: nem todos as referem, mas “existe a possibilidade de sentença executiva no processo
penal, ainda que em sede de processos instaurados de oficio ou a requerimento do Ministério Público
ou do ofendido, ou mediante representação da autoridade policial (CPP, art. 127). É o que ocorre, a
título de exemplo, com a medida assecuratória de sequestro, cabível quando houver indícios
veementes de que os bens foram adquiridos com os proventos da infração penal (CPP, art. 125). A
eficácia executiva fica evidenciada a partir da autorização de venda dos bens inscritos no registro de
imóveis após a sentença condenatória transitada em julgado (CPP, art. 133)” (Lima, 2018).
Decisões executáveis e não executáveis e condicionais: leva-se em conta, neste caso, a eficácia
produzida pela decisão no sentido de admitir ou não sua execução imediata.
• Decisões executáveis: são aquelas que podem ser executadas imediatamente. Exemplo: a
sentença absolutória proferida pelo juiz, que importa em imediata liberdade ao réu nos termos
do art. 596 do CPP.
• Decisões não executáveis: são aquelas que, opostamente, não admitem execução imediata,
condicionando-se ao trânsito em julgado. Exemplos: a sentença condenatória, pois a pena nela
estabelecida não pode ser executada antes do respectivo trânsito em julgado sob pena de
infringência ao princípio constitucional da presunção de inocência; a sentença que impõe medida
de segurança, dispondo o art. 171 da Lei 7.210/1984 que somente depois de transitada em
julgado será expedida a guia para a execução; e a decisão que extingue a medida de segurança,
que, na disciplina do art. 179 da Lei 7.210/1984, apenas viabiliza a desinternação ou liberação do
indivíduo após a preclusão ou o esgotamento de todas as vias recursais (Avena, 2017).
Finalmente, diante de uma classificação conhecida também do processo civil, é importante lembrar que a
sentença “deve se ater ao objeto do processo, não podendo implicar em julgamento citra petita, ultra petita
ou extra petita:”
Sentença citra petita é aquela que não analisa todos os fatos articulados na denúncia ou na
queixa. Embora seja nula, é possível o saneamento da omissão mediante a oposição de embargos
declaratórios. Caso estes não sejam opostos, restará ao prejudicado alegar em preliminar de
apelação a nulidade integral da sentença, buscando a sua cassação para que outra seja proferida
pelo magistrado de 1.º Grau.
Sentença ultra petita é aquela que vai além do que consta no pedido formulado pelo autor (v.g.,
condenando por roubo e estupro indivíduo acusado apenas do primeiro desses crimes). Tal
decisão será absolutamente nula na parte em que extrapolar a imputação.
Sentença extra petita é aquela que reconhece objeto de natureza diversa à daquele requerido
na inicial (v.g., condenando por furto o indivíduo acusado de estelionato). Esta modalidade
decisória é absolutamente nula, não sendo possível saná-la nem mesmo por embargos de
declaração, pois não se trata, neste caso, de omissão do decisum, mas de flagrante desobediência
ao princípio da correlação entre o fato imputado e a decisão judicial (Avena, 2017).
Doutrina complementar
NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016). “As sentenças
possíveis em direito processual penal não encontram um padrão rígido de conceituação, como de certa
maneira ainda subsiste no âmbito do processo civil. Sem embargo, um critério exato do que seja sentença,
isto é, um conceito abrangente de todas as suas possibilidades é um ideal distante. O que é viável é uma
noção, um indicativo do que se poderia entender por sentença. [...] A leitura dos arts. 381 e seguintes dá
margem à interpretação de que “sentença é apenas a decisão que julga o mérito principal, ou seja, a que
condena ou absolve o réu”, decidindo acerca da imputação feita em desfavor do acusado, o que não é
verdadeiro. Esta noção corresponde à sentença em sentido estrito, mas há sentenças que não encerram
o processo, a exemplo da “sentença” de pronúncia (§ 1º, art. 413, CPP), que poderia ser assimilada a uma
“decisão interlocutória mista não terminativa”.
NORBERTO AVENA (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017). “Por
despachos de mero expediente compreendem-se os atos ordinatórios do processo, ou seja, aqueles que
têm por objetivo impulsioná-lo, relacionados ao cumprimento das várias etapas que integram cada
procedimento legalmente previsto. Exemplos: determinação de que seja o réu citado, de que sejam
intimadas testemunhas arroladas, vista às partes para que se manifestem sobre desistência de
testemunhas, aprazamento de audiências etc. Tratando-se de manifestações sem carga decisória,
caracterizam-se pela irrecorribilidade, muito embora possam ensejar correição parcial pelo prejudicado
se forem exarados ao arrepio da lei. Afinal, não se pode ignorar que os despachos objetivam ordenar a
sequência de atos do procedimento, de forma a permitir que o processo alcance sua última etapa, que é
a sentença. Se, em vez de por ordem aos atos do processo, os despachos exarados pelo juiz importarem
em inversão na ordem desses atos, provocando tumulto processual, surge o fenômeno chamado de
inversão tumultuária, que é um dos móveis do pedido correicional. Lembre-se de que a correição parcial,
em princípio, não possui natureza recursal, mas sim de uma medida de caráter administrativo-disciplinar
oponível contra atos de magistrado praticados por error in procedendo (erro de procedimento) ou abuso
de poder”.
AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 15ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018). “São atos meramente
ordenatórios, sem cunho decisório e que não causam prejuízo para acusação ou defesa, sendo,
portanto, irrecorríveis. Nesta categoria entram os despachos de “junte-se”, “intime-se”, “dê-se
vista” e congêneres”.
NORBERTO AVENA (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017). “As decisões
interlocutórias integram uma classificação intermediária entre os despachos de mero expediente e as
sentenças propriamente ditas. Possuem carga decisória, podendo acarretar ou não a extinção do
processo, conforme o caso. Em termos de regra geral e para facilitar sua identificação, é possível afirmar
que, no processo de conhecimento, o enquadramento de uma determinada manifestação judicial como
decisão interlocutória ocorre de forma residual, ou seja, deve-se considerar como tais os pronunciamentos
que não possam ser enquadrados nem como despachos de mero expediente e nem como sentenças
“stricto sensu”. Há duas ordens de decisões interlocutórias: a) Decisões interlocutórias simples: constituem
a maioria das decisões judiciais e destinam-se a solucionar incidentes que venham a surgir antes da
sentença, sem, porém, acarretar qualquer extinção, seja do processo, seja de uma fase do respectivo
procedimento. Exemplos: decretação da prisão preventiva, concessão de liberdade provisória,
relaxamento da prisão em flagrante, deferimento ou indeferimento da habilitação do assistente de
acusação, desclassificação (art. 419 do CPP), recebimento da denúncia e da queixa-crime etc. Esta forma
de pronunciamento judicial é impugnável por meio de recurso em sentido estrito, quando houver
previsão legal dessa via impugnativa para o caso concreto em análise. Não havendo possibilidade de
ingresso desse recurso, poderá ser atacada por meio de habeas corpus, mandado de segurança ou
correição parcial, que não possuem natureza recursal (...). b) Decisões interlocutórias mistas: são
pronunciamentos do juiz que ocorrem antes da sentença final, possuindo, obviamente, carga decisória.
Diferenciam-se das decisões interlocutórias simples porque, ao contrário destas, acarretam a extinção do
processo (provocando o respectivo arquivamento) ou a extinção de uma fase do procedimento criminal.
Produzindo sucumbência, serão sempre impugnáveis. Subclassificam-se as decisões interlocutórias
mistas em • Decisões interlocutórias mistas terminativas: também chamadas de decisões definitivas, são
aquelas que, conquanto não possuam natureza de sentença, acarretam a extinção do processo ou do
procedimento. • Decisões interlocutórias mistas não terminativas: também chamadas de decisões com
força de definitivas, são as que, a despeito de não acarretarem a extinção do processo, extinguem uma
etapa do procedimento. A respeito, o único exemplo aceito pela unanimidade da doutrina é a pronúncia,
que encerra a primeira etapa do procedimento do júri (juditium acusationes) e inaugura a segunda fase
(juditium causae). Compreendemos, porém, que também podem enquadrar-se nesta classificação as
decisões que rejeitam as defesas preliminares (antes do recebimento da denúncia ou da queixa) previstas
em algumas formas procedimentais, já que nestes casos a decisão do magistrado que desacolhe a defesa
oferecida e recebe a denúncia está extinguindo uma fase do procedimento (a fase da defesa preliminar)
e dando início a outra (o início do processo penal propriamente dito). Exemplos: desacolhimento da defesa
preliminar prevista no art. 514 do CPP em relação aos crimes funcionais afiançáveis imputados a
funcionários públicos; desacolhimento da defesa prévia prevista no art. 55 da Lei 11.343/2006 em crimes
relacionados a drogas; e desacolhimento da defesa preliminar prevista no art. 81 da Lei 9.099/1995”.
AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 15ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018). “Interlocutórias simples: pouco
mais do que um despacho de mero expediente, já possui um mínimo de caráter decisório e gera gravame
para uma das partes. Como regra, não cabe recurso dessa decisão, salvo expressa disposição legal, sem
negar-se, contudo, a possibilidade de utilização das ações impugnativas, como habeas corpus e mandado
de segurança, conforme o caso. São exemplos: decisão que recebe a denúncia ou queixa, indefere o
pedido de habilitação como assistente da acusação etc. Interlocutórias mistas: também consideradas
como decisões com força de definitiva, possuem cunho decisório e geram gravame ou prejuízo para a
parte atingida. Encerram o processo sem julgamento do mérito ou finalizam uma etapa do procedimento,
por isso podem ser terminativas ou não. Como regra, não há produção de coisa julgada material e são
atacáveis pela via do recurso em sentido estrito (mas há exceções, em que a lei prevê o recurso de
apelação). Nessa categoria inserem-se as decisões de rejeição da denúncia ou queixa, pronúncia (não
terminativa), impronúncia (decisão terminativa atacável pela apelação, art. 593, II, do CPP),
desclassificação, a decisão que acolhe a exceção de coisa julgada ou litispendência etc”.
NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016). “Outras classificações
são esposadas pela doutrina. Assim, Julio Fabbrini Mirabete firma que “a mais corrente classificação das
decisões, ou sentenças em sentido amplo, as divide em:” 1) “interlocutórias simples”, caracterizadas como
aquelas que “dirimem questões emergentes relativas à regularidade ou marcha do processo, exigindo um
pronunciamento decisório sem penetrar no mérito da causa”, a exemplo da decisão de recebimento da
denúncia ou da que decreta prisão preventiva, que se distinguem dos meros despachos; 2) “interlocutórias
mistas, também chamadas de ‘decisões com força de definitivas’”, em terminologia adotada pelo art. 593,
II, CPP, assim definidas porque “encerram ou uma etapa do procedimento ou a própria relação processual,
sem o julgamento do mérito da causa”, sendo, no primeiro caso, denominadas “de interlocutórias mistas
não terminativas”, tal como ocorre com a pronúncia – que remete o feito ao tribunal do júri – e, no segundo
caso, “de interlocutórias mistas terminativas”; 3) “definitivas ou sentenças em sentido próprio”,
provimentos que “solucionam a lide, julgando o mérito da causa”, podendo se apresentar como
condenatórias, absolutórias e terminativas de mérito”.
Nesse sentido, é o artigo 381 do CPP – também aplicável aos acórdãos (“decisões tomadas por órgãos
colegiados de instância superior”, NUCCI) – que disciplina.
No referido artigo temos os elementos necessários de uma sentença judicial. A falta de um ou mais deles
pode implicar em nulidade, observado o art. 564, IV do CPP e demais regras e princípios atinentes. Nem todo
vício gera nulidade (invalidação); constatamos isso quando estudamos as nulidades no processo penal.
O Código de Processo Penal, no art. 381 e seguintes, disciplina os requisitos formais da sentença
penal. A ausência dessas formalidades torna viciada a decisão, sendo que a natureza dessa
mácula pode oscilar de uma simples irregularidade até a inexistência do ato, dependendo do
caso concreto (Avena, 2017).
concluiu que efetivamente Mévio furtara, e o condena a um ano de reclusão. Se furtar é crime
punido com um a quatro anos, e se Mévio furtou, logo deve ser condenado (Filho, 2010).
Analisando sistematicamente, de uma maneira abrangente e generalizada, podemos dizer que toda
sentença, seja cível ou criminal, essencialmente tem três partes: relatório, fundamentação e dispositivo (há
os que destacam a autenticação). No caso da sentença penal condenatória, talvez (para alguns) uma quarta
parte – a dosimetria (para outros a dosimetria estaria incluída no dispositivo).
1.2.1 Relatório
I - os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias para identificá-las;
Tanto a qualificação das partes (inciso I) quanto a exposição referida no inciso II estão dentro do que
compreendemos como relatório. Constitui a parte primeira da sentença, na qual o juiz deve
relatar/descrever, de forma objetiva e impessoal, aquilo que de mais importante ocorreu ao longo do
procedimento, principalmente os fatos e atos processuais que foram determinantes para o desfecho do
processo.
Existem sentenças que dispensam o relatório❓ SIM, pelo menos dois exemplos se
apresentam: 1º) as sentenças do Juizado Especial (art. 81, § 3º da Lei 9.099/1995); 2º) as
sentenças do Tribunal do Júri, em que o relatório do processo é feito antes, quando da
preparação, e não dentro da sentença quando do julgamento em plenário (art. 423, II c/c o art.
492 do CPP).
A prática forense e a jurisprudência têm usado e admitido (muito em razão da grande demanda de processos)
relatórios cada vez mais concisos/enxutos, sem que isso implique em nulidade.
Em linhas gerais, o relatório consiste no resumo das principais etapas do procedimento e dos
incidentes que, eventualmente, tenham sido suscitados ou resolvidos no curso do processo.
Ressalvada a hipótese prevista no art. 81, § 3.º, da Lei 9.099/1995, que dispensa o relatório nas
sentenças do Juizado Especial Criminal, a ausência dessa formalidade é causa de nulidade
absoluta da sentença, já que se trata de formalidade essencial do ato (art. 564, IV, do CPP). A
exigência de identificação das partes, prevista no art. 381, I, do CPP, justifica-se no fato de que a
coisa julgada, consistente na imutabilidade da decisão, apenas ocorre entre partes determinadas.
Sendo assim, há a necessidade de que sejam elas individualizadas, se não por seus nomes, no
mínimo com as indicações necessárias às suas identificações de forma segura. Evidentemente,
nos processos iniciados por meio de denúncia, não será preciso e até seria atécnico mencionar o
juiz na sentença o nome do Promotor de Justiça que a subscreveu, mesmo porque a
impessoalidade é característica da instituição ministerial. O Promotor fala em nome do
Ministério Público e não em nome próprio. Tratando-se, porém, de ação penal intentada
mediante queixa, a referência ao nome do querelante é obrigatória, sob pena de nulidade.
Quanto à ausência do nome da vítima na sentença proferida em ação penal pública, não sendo
sujeito ativo ou passivo da demanda, a omissão, quando muito, poderá caracterizar uma
irregularidade, sem força para nulificar o ato. Nesse sentido: “Não há nulidade por ausência de
menção do nome da vítima na sentença condenatória, se esta faz alusão constante à denúncia,
onde consta a qualificação completa”. Se, contudo, a vítima habilitou-se como assistente de
acusação, neste caso a referência a essa habilitação deverá ser feita, mas não a título de
identificação das partes, e sim como incidente processual ocorrido após o recebimento da
denúncia. Mesmo nesse caso, não vislumbramos nulidade (e sim irregularidade) pela ausência
de menção ao nome da vítima-assistente, bastando que o fato de sua admissão no processo seja
mencionado. Tocante à identificação do réu, trata-se de formalidade obrigatória sob pena de
nulidade absoluta, com presunção de prejuízo. Mesmo porque, sendo a qualificação do acusado
ou os elementos pelos quais se possa identificá-lo requisito obrigatório da denúncia e da queixa
(art. 41 do CPP), não seria admissível ao juiz, no ato que encerra o processo de conhecimento,
omitir-se na respectiva menção. Entretanto, conforme refere MIRABETE, o erro material a respeito
do nome não é substancial, desde que se possa identificar a parte. Perceba-se que, na prática,
são frequentes as hipóteses de réus processados com nome falso, não importando esta situação
em nulidade quando não houver dúvida de que a pessoa acusada é, fisicamente, aquela contra
quem se pretendeu imputar o fato criminoso. Por outro lado, relativamente à exigência de
exposição sucinta da acusação e da defesa, consiste na referência, pelo magistrado, às teses
acusatórias e defensivas suscitadas no processo, importando a ausência, mais uma vez, em causa
de nulidade. Não é necessário, para fins de cumprir esta exigência legal, que o relatório seja
minucioso quanto à referência às teses das partes, sendo suficiente que ao delinear as fases do
procedimento criminal faça menção aos argumentos por elas deduzidos perante o juiz. E se,
ausente menção às teses das partes no relatório, forem estas apreciadas na fundamentação?
Segundo o princípio pas de nullité sans grief, evidenciado no art. 563 do CPP, não há que se falar
em declaração de nulidade se não estiver concretamente demonstrado o prejuízo. Assim, afasta-
se a mácula de nulidade se, mesmo existente o defeito no relatório, o decisum analisa em seu
bojo a prova coletada em face dos argumentos oferecidos pelos interessados (Avena, 2017).
1.2.2 Fundamentação
Seguimos no art. 381 do CPP, que diz o que a sentença deve conter:
Esses incisos tratam, a bem da verdade, da motivação ou da fundamentação das sentenças. É a parte mais
importante e ao mesmo tempo a mais complexa das decisões judiciais, sem as quais elas não ganham
legitimidade✔; a própria Constituição Federal se preocupou com isso ao estabelecer, no artigo 93, que:
IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas
as decisões, sob pena de nulidade [...];
O juiz tem o seu livre convencimento (art. 155, CPP) – é fato; todavia, para que esse poder não se torne
arbitrário, tanto a Constituição Federal quanto as leis, nas mais variadas áreas jurídicas, exigem a motivação.
O Pacote Anticrime, nessa toada, estabeleceu no CPP como causa de nulidade a carência de fundamentação
(art. 564, V). A Lei 13.964/2019, além disso, aproveitou e trouxe para o CPP os parâmetros legais para avaliar
sobre a carência de fundamentação. Aquilo que está no § 1º do art. 489 do CPC foi incorporado
(praticamente idêntico) no § 2º do art. 315 do CPP. Embora esses parâmetros tenham sido alocados no
capítulo do Código que trata da prisão preventiva, eles são perfeitamente aplicáveis para outras espécies de
decisões judiciais; tanto que o § 2º do art. 315 fala em qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,
sentença ou acórdão.
Repare que normativamente o ‘cerco’ vai se fechando em relação à necessidade de fundamentação das
decisões judiciais. A CF exige e consigna sobre nulidade; o CPP exige e também consigna sobre nulidade; a
jurisprudência há muito exige motivação concreta, e isso também foi referido pela lei no § 2º do art. 312 do
1
CPP; a lei vai além e erige parâmetros mais objetivos e específicos de fundamentação.
Quando um juiz fundamenta uma decisão, em verdade está explicando as razões ou os motivos pelos quais
chegou a essa ou àquela conclusão, de acordo com os fatos, na conformidade da lei e com base no Direito.
Grosso modo, está ‘prestando contas’ sobre o regular exercício da sua função jurisdicional, sujeitando seu
entendimento ao exame democrático.
Consiste a motivação no raciocínio lógico realizado pelo juiz a partir do contexto probatório
inserido ao processo. [...] A motivação deverá abranger tanto as matérias de fato relativas à
autoria e à materialidade como as matérias jurídicas que constituem as teses de acusação e
defesa. Além disso, devem ser indicados os dispositivos de lei incidentes no caso concreto
(Avena, 2017).
Se as opções tomadas por um deputado/senador são legitimadas pelo voto popular que esses
‘representantes do povo’ receberam, as decisões dos juízes ganham legitimidade e têm escrutínio (além da
seleção pelo concurso e investidura) pela motivação das decisões que proferem.
“Tenha-se em mente, então, que esse dever judicial de explicar as razões de decidir desempenha funções
processuais (ou endoprocessuais) e funções políticas (ou extraprocessuais). Quanto às primeiras, é dizer, as
que se voltam a proteger interesses que se desenvolvem na própria relação processual, o dever de motivação
serve para:”
• assegurar um mecanismo formal de controle das partes sobre a atividade intelectual do julgador;
• garantir a atuação imparcial do órgão julgador;
• permitir o melhor exercício do direito ao recurso;
• facilitar o julgamento do recurso pelos órgãos destinatários da impugnação.
No tocante à função política (extraprocessual), a motivação tem feição “nitidamente político-social, pois
consubstancia o controle social que a população em geral exerce sobre a atividade judiciária, dando ao
sistema judiciário um sentido claramente democrático, a pressupor, portanto, o exercício limitado do poder
e sua permanente justificação (GOMES FILHO). [...] Pode-se dizer, sob tal perspectiva, que a motivação é uma
característica essencial à própria legitimação do Poder Judiciário”1.
[...] é exigência inerente ao Estado Democrático de Direito e, por outro lado, é instrumento para
viabilizar o controle das decisões judiciais e assegurar o exercício do direito de defesa. A decisão
judicial não é um ato autoritário, um ato que nasce do arbítrio do julgador, daí a necessidade de
adequada fundamentação. [...] Muito além de uma garantia individual das partes, a motivação
das decisões judiciais funciona como exigência inerente ao próprio exercício da função
jurisdicional. Não por outro motivo, a garantia da motivação vem prevista na Constituição
Federal no capítulo pertinente ao Poder Judiciário, e não no capítulo dos direitos e garantias
individuais, em que se encontra grande parte das garantias processuais. Destarte, sob o enfoque
da sociedade, pode-se dizer que a motivação também
3 apresenta uma relevância extraprocessual.
[...] Sendo a sentença um ato decisório de fundamental importância no processo penal,
porquanto haverá a análise da pretensão punitiva do Estado para fins de absolver ou condenar o
acusado, é evidente que a fundamentação não pode ser dispensada. Incumbe ao juiz, nesse
momento, enfrentar todas as questões de fato e de direito que sejam relevantes para a solução
do caso concreto, de modo a certificar a realização da hipótese de incidência da norma e os
efeitos dela resultantes, justificando, assim, a conclusão a que chegará no dispositivo. Daí dispor
o CPP que a sentença conterá a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a
decisão e a indicação dos artigos de lei aplicados (art. 381, III e IV). Essa indicação dos artigos de
lei aplicados, todavia, pode ser suprida se houver referência implícita a eles. Exemplificando, por
mais que o juiz sequer tenha feito menção ao art. 16 do CP, que trata do arrependimento
posterior, não haverá nulidade da decisão se dela constar que foi negada a diminuição da pena
pelo fato de não ter sido comprovada a reparação integral do dano até o recebimento da
denúncia (Lima, 2018).
A preocupação do legislador brasileiro com a motivação das decisões sempre foi grande. Isso
foi demonstrado mais uma vez com o Pacote Anticrime. Como dito, a Lei 13.964/2019,
aproveitando do art. 489 do CPC, indicou os principais vícios de fundamentação das decisões
judiciais, no art. 315 do CPP:
1
ROGÉRIO SCHIETTI CRUZ. Dever de motivação das decisões judiciais no novo Código de Processo Civil e
reflexos na jurisdição criminal. Coleção Repercussões do Novo CPC. Processo penal. Coord. Geral FREDIE
DIDIER JR.
I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação
com a causa ou a questão decidida;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a
conclusão adotada pelo julgador;
No particular, mesmo antes do Pacote Anticrime, muitos já sustentavam (com razão) sobre a aplicação
subsidiária, ao processo penal, do regramento constante no Código de Processo Civil. Agora há regramento
próprio, dispensando necessidade de analogia (art. 3º).
Esse aproveitamento de regras já existentes em outro diploma é muito salutar. Isso porque é possível
resgatar a experiência que já se tem na interpretação dessas normas e a própria jurisprudência construída
sobre o assunto. Aquilo que estudamos sobre o art. 489 do CPC, aplica-se aqui quanto ao art. 315 do CPP.
Existem decisões que dispensam a fundamentação❓ SIM, muito excepcionalmente, mas SIM. A exceção
fica por conta da decisão dos jurados no Tribunal do Júri, submetidas ao sigilo (Constituição Federal, art. 5º,
XXXVIII), garantia específica incompatível com a fundamentação.
Se a fundamentação funciona como regra geral para a prolação de uma sentença, não se pode
negar que, no âmbito do Tribunal do Júri, as decisões dos jurados não precisam ser motivadas.
Isso porque, de acordo com o art. 5°, inciso XXXVIII, da Magna Carta, tem-se como uma das
garantias do júri o sigilo das votações. Ou seja, fosse o jurado obrigado a fundamentar sua
decisão, seria possível identificar-se o sentido de seu voto. Daí a desnecessidade de
fundamentação do voto do jurado, limitando-se o mesmo a um singelo "sim" ou "não" para cada
quesito que lhe for formulado, nos exatos termos do art. 486, caput, do CPP. Perceba-se que essa
desnecessidade de motivação aplica-se apenas às questões apreciadas pelos jurados –
materialidade, autoria, eventual absolvição do acusado, causas de diminuição de pena,
qualificadoras e causas de aumento de pena –, já que apenas o juiz leigo está protegido pela
garantia constitucional do sigilo das votações. Todavia, quanto à pena a ser aplicada pelo juiz
presidente, há necessidade de fundamentação do decreto condenatório, já que vigora, em
relação ao juiz togado, o sistema da persuasão racional (convencimento motivado) (Lima, 2018).
E até onde vai, ou, qual a extensão desse dever judicial de motivação das decisões❓ A resposta vem nas
palavras de NORBERTO AVENA:
Ainda dentro do contexto da fundamentação, há se falar da chamada fundamentação por referência ou per
relationem. Reflete as situações em que o juiz, ao invés de trazer fundamentos de sua autoria ou de seu
intelecto na decisão que prolata, faz remissão/referência a razões outras, normalmente trazidas pelas partes.
Em outras palavras: quando o juiz adota como motivo da sua decisão as razões que as próprias partes
trouxeram em suas manifestações processuais.
Normalmente isso acontece diante da pertinência ou da propriedade das razões apresentadas pelas partes
– que devem ser especificadas pelo juiz –, que acabam por ser aproveitadas por economia e brevidade
processual (evitando-se a redundância), dentro do contexto de uma fundamentação judicial mais
abrangente. Duas orientações doutrinárias sobre a validade da fundamentação per relationem:
Primeira: Não há vedação a que utilize o Poder Judiciário de motivação ad relationem. Trata-se
do entendimento majoritário, ao qual também aderimos. Mas, cuidado: admitir esta forma de
fundamentação não importa autorizar a mera referência à decisão tomada como fundamento do
decisum. Não basta, enfim, para suprir a exigência constitucional de fundamentação das decisões
judiciais, a simples transcrição, por exemplo, de parecer do Ministério Público. É necessário que
sejam apontados, de forma expressa, quais os excertos do decisório foram invocados para afastar
as teses recursais.
Segunda: O emprego da fundamentação ad relationem é inconstitucional, afrontando o disposto
no art. 93, IX, da CF. Neste sentido, observa MAGALHÃES GOMES que tal prática, “além de não
atender a apontada exigência de legitimidade, transferindo o ônus de motivar a sujeito diverso,
também pode comprometer um dos objetivos processuais da motivação, que é assegurar a
imparcialidade da decisão, pois não é certo que as próprias razões do provimento sejam dadas
por uma das partes” (Avena, 2017).
Jurisprudência pertinente
[...] 2. Na presente hipótese, não obstante o argumento defensivo de ausência de justa causa e de inépcia
da exordial, verificou-se que a denúncia apresentou a descrição dos fatos e possibilitou o exercício do
direito de defesa. O fato de o magistrado ter tomado providências de modo a dar andamento ao trâmite
processual não caracteriza prejuízo capaz de induzir à declaração de nulidade do processo. 3. A sentença
condenatória apresentou fundamentos suficientes para demonstrar a materialidade e a autoria delitiva.
Vale dizer que o magistrado não está obrigado a infirmar cada uma das teses aduzidas pela defesa, desde
que explicite os motivos que o conduziram a decidir pela condenação do acusado. Neste caso, as provas
testemunhais e laudos periciais. 4. Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg no AREsp: 1038097 SP
2017/0003481-4, Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de Julgamento: 05/06/2018, T5 - QUINTA TURMA,
Data de Publicação: DJe 01/08/2018).
[...] 1. A reprodução de fundamentos declinados pelas partes ou pelo órgão do Ministério Público ou
mesmo de outras decisões atendem ao comando normativo, e também constitucional, que impõe a
necessidade de fundamentação das decisões judiciais. O que não se tolera é a ausência de
fundamentação. [...] (EREsp 1021851/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado em
28/06/2012, DJe 04/10/2012)
1.2.3 Dispositivo
Conforme o art. 381 do Código de Processo Penal, a sentença também deve conter:
V - o dispositivo;
É a conclusão, o desfecho do ato decisório que encerra os seus comandos essenciais. É a expressa resolução
do juiz que normalmente decorre da fundamentação que utilizou. É o dispositivo que norteia a execução
do julgado, daí a necessidade de ser claro, preciso e específico. Quer saber, direta e objetivamente, o que o
juiz decidiu em determinado processo? Veja o dispositivo.
É nessa parte da sentença penal que deve estar claro se o magistrado absolveu ou condenou o réu. No
primeiro caso especificando a causa do art. 386 do CPP aplicável; no segundo, dizendo em qual crime,
indicando em qual tipo penal (artigo de lei penal incriminadora) julgou o réu incurso, inclusive para efeito de
aplicação da pena (inc. III do art. 387 do CPP).
Nesta fase, tratando-se de sentença condenatória, deverá o juiz consignar o tipo legal (artigo de
lei) em que inserida a conduta criminosa pela qual está sendo responsabilizado o réu. A falta
dessa indicação é causa de nulidade, que, todavia, estará sanada se tiver sido feita referência ao
nomem iuris do crime. Já na sentença absolutória, impõe-se ao magistrado declinar o respectivo
fundamento dentre os incorporados aos arts. 386, 397 ou 415 do CPP, v.g., a atipicidade da
conduta, a ausência de provas de autoria, o agir sob o amparo de excludente de ilicitude etc. Esta
referência é importante pelo fato de que, em determinadas hipóteses, a sentença penal
absolutória elide a obrigação de indenizar, assegurando-se ao réu absolvido a certeza de que
contra si não poderá ser intentada ação de reparação de danos pelo ofendido. Isto ocorre nas
hipóteses previstas nos arts. 65 do CPP e 935 do Código Civil, o primeiro tratando da decisão que
reconhece ter sido o fato praticado ao abrigo de excludentes de ilicitude, e o segundo, da
hipótese em que a sentença penal considera provada a inexistência do fato imputado ou provada
a circunstância de não ter o réu concorrido para a prática da infração penal. Perceba-se que a
falta de menção, na sentença absolutória, ao inciso dos arts. 386, 397 ou 415 do CPP, no qual ela
se sustenta, não implicará nulidade se, pelo teor de sua motivação, for possível deduzir, com
certeza, qual seja esse fundamento. Incide, neste caso, o princípio geral de que nenhuma
nulidade será declarada se não houver causado prejuízo a qualquer das partes (art. 563 do CPP)
(Avena, 2017).
A ausência de dispositivo é vício gravíssimo, até mesmo pela conclusão lógica de que uma
decisão sem dispositivo não é propriamente uma decisão, já que nada decide. Por isso, é tratada
pela doutrina como hipótese de inexistência jurídica do provimento judicial, que deve ser tratado
como um não ato (Lima, 2018).
Ainda, é sobre o dispositivo da sentença que se opera a coisa julgada e não sobre os motivos.
Conforme já assentou o Superior Tribunal de Justiça, na relatoria do Ministro LUIZ FUX (quando
atuava naquela Corte), o dispositivo da sentença não necessariamente se confunde com o texto
final do julgado, mas deve ser localizado em todos os momentos da sentença em que o julgador
deu solução às questões que integram a causa petendi, seja da demanda do autor, seja da
defesa do réu.
A expressão deve ser entendida no seu sentido substancial e não apenas formalístico, de modo que
compreenda não apenas a fase final da sentença, mas também tudo quanto o juiz porventura tenha
considerado e resolvido acerca do pedido feito pelas partes. Assim, os motivos acabam sendo indispensáveis
para determinar com exatidão o significado e o alcance do dispositivo (Reclamação nº 4.421-DF, julg.
23/02/2011).
1.2.4 Autenticação
Evidente que é a assinatura do juiz que confere autenticidade para a sentença; sem esse elemento fica
inviável assegurar-se autoria da decisão proferida. Aliás, preocupado com isso, nosso Código ainda
estabelece:
Art. 388. A sentença poderá ser datilografada e neste caso o juiz a rubricará em todas as folhas.
Admite-se hoje em dia a assinatura digital e caso a “sentença seja proferida oralmente em audiência,
hipótese em que geralmente é registrada por meio da estenotipia ou gravada, o provimento jurisdicional
somente terá valor como decisão judicial quando houver sua conferência,
SENTENÇA
Prevalece o entendimento no sentido de que a não aposição da assinatura do juiz torna a decisão
inexistente, já que é ela que confere autenticidade à sentença. Há, todavia, quem entenda que,
desde que ainda seja possível que o juiz prolator da decisão aponha validamente sua assinatura
na sentença, trata-se de mera irregularidade. Especificamente em relação à rubrica do juiz em
todas as páginas da sentença (CPP, art. 388), há precedentes do STJ no sentido da irrelevância
dessa formalidade (Lima, 2018).
Doutrina complementar
FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018). “Os requisitos formais,
chamados por Hélio Tornaghi de parte intrínseca da sentença, desdobram-se em: (i) Relatório (ou
exposição ou histórico). É requisito do art. 381, I e II, do CPP. É um resumo histórico do que ocorreu nos
autos, de sua marcha processual. Pontes de Miranda o denominou “história relevante do processo”,
compreendendo-se assim que inexiste a necessidade de o magistrado expor fatos periféricos ou
irrelevantes em seu relatório. Todavia, deve aludir expressamente aos incidentes e à solução dada às
questões intercorrentes. (ii) Motivação (ou fundamentação), requisito pelo qual o juiz está obrigado a
indicar os motivos de fato e de direito que o levaram a tomar a decisão (art. 381, III). É também garantia
constitucional de que os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário são públicos e “fundamentadas
todas as decisões, sob pena de nulidade” (art. 93, IX, da CF). Além do mais, deve o magistrado apreciar toda
a matéria levantada tanto pela acusação como pela defesa, sob pena de nulidade. Desse modo, reveste-
se de nulidade o ato decisório que, descumprindo o mandamento constitucional que impõe a qualquer
juiz ou tribunal o dever de motivar a sentença ou o acórdão, deixa de examinar fundamento relevante em
que se apoia a acusação ou a defesa técnica do acusado (nesse sentido: STF, 1ª T., HC 74.073-1/RJ, rel. Min.
Celso de Mello, DJU, 27 jun. 1997, p. 30227). É bom que se frise, no entanto, não ser necessário que o juiz
sentenciante transcreva toda a argumentação das partes, mas apenas que, sucintamente, exponha os
fatos para não causar prejuízo a estas (nesse sentido: STJ, 5ª T., RHC 6.700/SP, rel. Min. Edson Vidigal, DJU,
3 nov. 1997, p. 56340). (iii) Conclusão (ou parte dispositiva) é a decisão propriamente dita, em que o juiz
julga o acusado após a fundamentação da sentença. Conforme o art. 381, o magistrado deve mencionar
“a indicação dos artigos de lei aplicados” (inciso IV) e o “dispositivo” (inciso V). É a parte do decisum em
que o magistrado presta a tutela jurisdicional, viabilizando o jus puniendi do Estado. Nula é a sentença
em que o juiz não indica os artigos de lei (CPP, arts. 381, V, e 564, III, m). Nesse sentido: RT, 590/364, 610/412
e 621/358. Da mesma forma, na sentença o juiz deve examinar toda a matéria articulada pela acusação e
pela defesa, sendo nula a sentença que deixa de considerar todos os fatos articulados na inicial acusatória
(RT, 429/439, 556/373 e 607/336)”.
FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018). “De uma maneira geral, nas
sentenças, pode ser visualizada a seguinte estrutura: (1) o relatório, traduzindo-se num resumo do
processo (que é dispensado nas sentenças proferidas na esfera dos juizados especiais criminais, a teor do
§ 3º, do art. 81, da Lei nº 9.099/1995, sendo, contudo, causa de nulidade absoluta a sua falta nos demais
procedimentos e nem sempre gerando nulidade a sua deficiência21); (2) a fundamentação, motivação ou
fundamentos (são as razões de decidir), cuja falta implica nulidade absoluta, não se confundindo
“fundamentação sucinta com falta de motivação”22; e (3) o dispositivo ou conclusão (onde consta o núcleo
da decisão). As partes da sentença devem figurar, com as devidas adaptações, em todas as decisões
proferidas pelo Poder Judiciário, seja de natureza condenatória ou não. Em face dessa similitude das
sentenças, os enunciados que cuidam da sentença condenatória no Código de Processo Penal são
aplicáveis, mutatis mutandis, às sentenças ou às decisões de natureza diversa”.
VICENTE GRECO FILHO (Manual de processo penal, 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012). “A sentença tem requisitos
formais intrínsecos e extrínsecos. Os requisitos intrínsecos são o relatório, a fundamentação e o dispositivo
ou conclusão. Os extrínsecos são a data e a assinatura, que a autenticam, e as rubricas nas folhas, se for
datilografada. O relatório é o resumo das ocorrências do processo, desde a identificação das partes,
exposição sucinta da acusação e da defesa, até à prova colhida e eventuais incidentes resolvidos. A
fundamentação é a indicação dos motivos, de fato e de direito, que conduzem à conclusão. O dispositivo
é a parte em que o juiz, coerente com a fundamentação, aplica a lei ao caso concreto e condena ou absolve
o acusado, apontando os dispositivos legais que incidem na hipótese. Mais adiante se discorrerá sobre
aspectos especiais da sentença absolutória e da sentença condenatória”.
a) sentenças absolutórias próprias: são as mais comuns, aquelas que não acolhem a pretensão punitiva,
liberando o acusado de qualquer sanção; são aquelas que julgam “improcedente o pedido condenatório
formulado pela acusação, importando em reconhecimento pleno da inocência do acusado, da qual não
decorre a imposição de medida de segurança” (Lima, 2018). Em termos mais simples: são aquelas que
absolvem ‘mesmo’, ‘de verdade’, não resultando em qualquer imposição para o réu.
b) sentenças absolutórias impróprias: embora não acolham a pretensão punitiva, reconhecem a prática do
injusto penal e aplicam ao réu medida de segurança. Para aqueles casos em que o réu é inimputável, nos
termos do art. 386, parágrafo único, inc. III do CPP e art. 96 e seguintes do Código Penal. Ganham o nome de
impróprias justamente porque, não obstante a absolvição, o sujeito fica submetido a essa medida que, na
prática, impõe restrições à sua liberdade. NUCCI, falando das sentenças, assim consigna:
c) absolvição sumária: como o próprio nome sugere, esse tipo de absolvição ocorre de modo antecipado,
antes do momento oportuno de julgamento e, em certa medida, sem uma análise profunda e acurada do
mérito. Existem duas formas de absolvição sumária: i) aquela prevista no art. 397 do CPP – uma espécie de
julgamento antecipado da lide no processo penal, mediante a qual o juiz, diante de manifesta situação de
absolvição assim o declara antes mesmo da produção das provas; ii) aquela que encerra primeira fase do
procedimento do júri (art. 415 do CPP), na qual o juiz verifica uma clara situação de inocência ou de isenção
de pena e absolve o réu antes mesmo de encaminhá-lo a julgamento em plenário.
Embora o nome jurídico seja o mesmo e ambas as situações não sejam compatíveis com a dúvida, implicando
em julgamento de mérito, caracterizam modalidades diferentes. A primeira ocorre no procedimento
ordinário, antes da produção das provas; a segunda é do rito especial do júri (bifásico) e tem lugar apenas
após a produção de provas que se realiza na primeira fase.
Absolvição sumária: prevista no art. 397 (procedimento comum) e no art. 415 (primeira fase do
procedimento do júri) do CPP, esta decisão também funciona como espécie de sentença
absolutória, já que o fato de se tratar de um julgamento antecipado da demanda não lhe retira
a natureza jurídica de sentença, sobretudo se considerarmos que há efetivo julgamento do
mérito, reconhecendo o juiz categoricamente, por exemplo, tratar-se de conduta
manifestamente atípica. Em outras palavras, o fato de se tratar de uma decisão proferida no
limiar do processo não tem o condão de alterar sua natureza jurídica de sentença, já que há
efetiva análise do mérito, para fins de se absolver o acusado. Ressalva especial, todavia, deve ser
feita quanto à hipótese do art. 397, IV, do CPP, que elenca a extinção da punibilidade como uma
das causas de absolvição sumária. Pelo menos no âmbito do STJ – veja-se o teor da súmula n° 18
-, a decisão que reconhece a extinção da punibilidade tem natureza declaratória, e não
absolutória (Lima, 2018).
Além dessas três espécies, BRASILEIRO ainda faz alusão a outras duas:
Doutrina complementar
FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018). “O Código de Processo Penal,
em seu art. 386, prevê sete hipóteses de absolvição. Os incisos II, V e VII tratam de hipóteses de falta de
provas. Dão ensejo ao ajuizamento, na esfera cível, de ação de reparação de dano. Não possibilitam a ação
de regresso ao trabalho do funcionário público”.
NORBERTO AVENA (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017). “A sentença
absolutória é aquela que julga improcedente a acusação por qualquer das razões mencionadas no art.
386 do CPP”.
Essa necessidade é imposta pela lei. O caput do art. 386 do CPP estabelece que quando o juiz absolver o
réu mencionará “a causa na parte dispositiva”, nesses termos:
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:
É no estudo da ação civil ex delicto que analisamos as repercussões das sentenças criminais perante a seara
cível, tendo como norte a regra geral do art. 935 do Código Civil:
Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais
sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem
decididas no juízo criminal.
Note-se que aquilo que o Código chama de causa diz respeito à verdadeira motivação do julgado,
na medida em que se presta a fundamentar a decisão de absolvição, essa, sim, indicativa da parte
efetivamente dispositiva da sentença. Com a decisão, pois, de absolvição, fundada em quaisquer
dos motivos ou causas arroladas no art. 386 do CPP, ficam deduzidas e repelidas todas as
alegações que a acusação poderia incluir ou acrescentar para o acolhimento da pretensão
punitiva, em relação àquele(s) fato(s) específico(s). Observe-se, porém, que algumas dessas
causas ou motivações da absolvição poderão constituir também limites objetivos da coisa julgada
absolutória, com eficácia preclusiva até mesmo em relação à jurisdição civil, como ocorre, por
exemplo, com aquelas constantes dos incisos I (prova da inexistência do fato), IV (estar provado
que o réu não concorreu para a infração penal) e V (existência de causas de justificação ou
excludentes da culpabilidade), subordinantes daquela instância (civil) no curso de eventual ação
civil ex delicto (arts. 65 e 66, CPP), ainda que, para estas últimas (art. 386, V, CPP), a subordinação
nem sempre será suficiente para afastar a responsabilidade civil (art. 188, CC). Para efeitos
penais, é a decisão de absolvição que, passada em julgado, tem como efeito a preclusão de toda
e qualquer via impugnativa de seu conteúdo, impedindo a instauração de nova persecução penal
sob o mesmo fundamento de fato (Pacelli, 2018).
Neste momento, o foco é saber interpretar os motivos de absolvição constantes dos incisos do art. 386 do
CPP. Nesse sentido, vamos um a um para melhor compreender.
Quando as provas produzidas demonstram (veja que a lei fala em provada) que o fato sobre o qual se baseia
a acusação não aconteceu – juízo de convicção/certeza; o fato utilizado para subsunção ao modelo legal de
conduta proibida não existiu. Nesse caso, “o juiz formou sua convicção no sentido da inexistência do fato
delituoso. Não se trata de falta de provas, ou de um estado de dúvida. Na verdade, há prova nos autos que
confirmam peremptoriamente que o fato delituoso imputado ao acusado não ocorreu” (Lima, 2018). Essa
causa de absolvição exclui também a responsabilidade civil.
A decisão judicial aqui mencionada diz respeito não à insuficiência de provas, como é o caso da
maioria das hipóteses do art. 386, mas à possibilidade de existir prova categórica da inexistência
da própria materialidade apontada na denúncia ou queixa. O dispositivo é bastante ousado, na
medida em que pretende possível a produção de certeza quanto à inexistência de algo, quando
muito mais viável e factível se nos apresenta a possibilidade de se comprovar a existência do que
quer que seja (Pacelli, 2018).
Quando não há provas suficientes e seguras de que o fato tenha, efetivamente, ocorrido (materialidade); há
aplicação do in dubio pro reo (juízo de dúvida); esse motivo permite o ajuizamento de ação civil para (talvez
com novas provas) demonstrar a ocorrência do ilícito, nos termos do art. 66 do Código de Processo Penal.
Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta
quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato.
Hipóteses de absolvição: (I e II) inexistência do fato e/ou falta de prova da existência dele; tem-
se aqui hipótese de decisão fundada em prova material e também na ausência dela. Aliás, em
processo penal, em matéria de condenação, já o vimos, o critério de certeza judicial jamais
poderá ser formal, dependendo, sempre, de prova provada, isto é, da efetiva comprovação dos
fatos e circunstâncias amparadas em provas (daí a expressão verdade material – ver art. 155, CPP
e seguintes). A decisão que julga provada a inexistência do fato tem consequências também civis,
impedindo a reabertura de discussão em qualquer outro processo, inclusive de natureza cível,
nos termos do disposto no art. 935 do Código Civil (ver art. 66, CPP). Já a decisão que absolve por
falta de prova da existência do fato somente produz efeitos no âmbito criminal. E os efeitos são
de coisa julgada material, já que se trata de sentença definitiva, de cuja autoridade (da sentença)
se obtém eficácia preclusiva em quaisquer outros processos penais. Impõe-se aqui a aplicação
do princípio da vedação da revisão pro societate, a impedir que aquele que tenha sido absolvido
em processo penal seja de novo julgado pelo mesmo fato (Pacto de San José da Costa Rica, art.
8, § 4º, conforme Decreto nº 678/92) (Pacelli, et al., 2018).
Situação que reflete hipótese em que o fato imputado ocorreu, todavia ele não é típico, não constitui um
crime, falta alguma elementar. Quando o juiz reconhece que a conduta atribuída ao acusado aconteceu, mas
ela não caracteriza uma infração penal. Esse tipo de absolvição normalmente não impede a responsabilização
civil; afinal, um mesmo fato pode não constituir um delito, mas representar um ilícito civil passível de
indenização – nos termos do art. 67, III do CPP.
III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime.
[...] sempre que o legislador utiliza a expressão "não constituir o fato infração penal", refere-se à
atipicidade da conduta imputada ao agente, seja no plano formal, seja no plano material.
Exemplificando, constatada a mínima ofensividade da conduta, a ausência de periculosidade do
agente, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a lesão jurídica inexpressiva,
pressupostos indispensáveis para a aplicação do princípio da insignificância, deve o juiz absolver
o acusado com base no inciso III do art. 386 do CPP, haja vista a atipicidade material da conduta
(Lima, 2018).
[...] ao que parece, a se julgar pelos demais dispositivos alinhados no art. 386, o presente
dispositivo para a absolvição se refere unicamente ao juízo de tipicidade. Os demais elementos
do crime (ilicitude e culpabilidade) se conteriam no inciso VI, logo adiante. Mesmo a presença de
eventual erro de tipo, que, segundo o direito brasileiro (à exceção do erro na descriminante
putativa – art. 20, § 1º, CP), excluiria o dolo e o tipo, se encontra naquela parte dispositiva (VI)
(Pacelli, et al., 2018).
[...] Em princípio, também nesta espécie de absolvição criminal não haverá qualquer efeito civil
sobre a obrigação de indenizar, que poderá ser normalmente discutida no juízo cível por meio da
ação própria. Contudo, no caso de imputação de crime culposo, levando em conta que tanto na
esfera penal quanto na órbita civil externa-se a culpa por meio do agir imprudente, negligente
ou imperito, entendemos que se o indivíduo for absolvido no processo criminal sob o
fundamento de que está comprovado que sua conduta não se enquadrou em qualquer daquelas
formas de comportamento, a absolvição criminal também deve refletir no cível. Isso porque,
nesse caso, as razões da atipicidade criminal terão sido as mesmas da atipicidade civil, quais
sejam, ausência de imprudência, negligência ou imperícia, implicando paradoxo jurídico pensar
que possa o juízo criminal afastar peremptoriamente a culpa e que, malgrado esta situação,
possa a mesma culpa ser reconhecida no campo da responsabilidade civil pela obrigação de
indenizar (Avena, 2017).
Essa causa de absolvição refere-se à autoria, não existia antes da Lei 11.690/2008 (que a introduziu no CPP)
e serve para as situações em que o juiz conclui, com convicção (juízo de certeza), que o réu não foi autor da
infração penal. Em se tratando de decisão categórica (repare que o termo utilizado é provado), vincula o
juízo cível. Ou seja: réu que é absolvido por essa razão não poderá ser responsabilizado na esfera cível.
É o que deveria acontecer, por exemplo, num determinado processo em que o réu comprovasse seu álibi,
com as provas do processo demonstrando, sem sombra de dúvida, que no exato momento do crime
acontecido o acusado estivesse em outro local.
Obviamente, os exemplos forenses nesse sentido serão raros, já que o juiz se contenta, em
princípio, com a dúvida sobre a autoria ou a participação. É que qualquer juízo condenatório
pressupõe convencimento, isto é, certeza judicial. Desnecessário, no ponto, recorrer-se ao in
dubio pro reo, se assentada a compreensão, garantista, no sentido de que o ato de decisão há
que ser sempre um ato essencialmente de conhecimento. A vantagem de semelhante disposição
é a possibilidade de eficácia preclusiva que também gerará efeitos no juízo cível, a impedir
reabertura das discussões nesse sentido, o que não era e não é garantido pela absolvição com
base da ausência de prova (da participação). Agora, a partir da nova redação, será efetivamente
possível a negativa de autoria. Não como ausência de prova, mas como prova provada, ou seja,
como fato devidamente comprovado em juízo, em contraditório e sob a ampla defesa (Pacelli, et
al., 2018).
Essa situação também diz respeito à autoria/coautoria/participação; mas, qual a diferença da anterior? É
que nesta o juízo sobre a negativa de autoria não é de convicção/certeza – in dubio pro reo. É quando o juiz,
na sentença e avaliando todo o contexto probatório, pensa assim : ‘o réu pode até ter cometido o crime,
mas existem dúvidas (razoáveis) sobre isso’. Quando existiu um fato criminoso e não se conseguiu
demonstrar que o réu dele tomou parte ativa.
A avaliação é subjetiva, evidentemente, mas isso poderia acontecer, por exemplo, num determinado
processo em que o réu nega o crime, apresenta algumas evidências inconsistentes de álibi, ao mesmo tempo
em que o Ministério Público traz apenas alguns indícios da autoria e não consegue provar, acima de dúvida
razoável, que o réu tomou parte da empreitada criminosa.
“Embora os dispositivos se refiram a ter o réu concorrido para a infração, o dispositivo não se aplica apenas
aos casos de concurso de agentes, devendo ser aplicável também ao autor único” (Badaró, 2017).
Como a decisão não é categórica, resta possível a responsabilização civil; até porque, além de o ônus da
prova ser diferenciado, cada processo produz a sua prova e no cível a sorte das partes pode ser diferente
nesse aspecto.
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23,
26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua
existência;
Essa causa de absolvição toma em conta as excludentes de ilicitude e de culpabilidade; enquanto no inciso
III se discute tipicidade, aqui a valoração se dá sobre outros elementos do crime. Importante notar que o
juízo pode ser de convicção/certeza, como também de dúvida, desde que esta seja fundada, no sentido de
razoável e com base empírica.
[...] havendo certeza (ou mesmo fundada dúvida) sobre a existência de causa excludente da
ilicitude ou da culpabilidade, incumbe ao juiz absolver o acusado. Apesar de o dispositivo fazer
menção expressa apenas aos dispositivos da parte geral do Código Penal, é evidente que a
absolvição também será possível diante de causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade
prevista na parte especial do Código Penal ou no âmbito da legislação especial (v.g., art. 128 do
CP) (Lima, 2018).
O reconhecimento da circunstância faz coisa julgada no cível quando isso for categoricamente decidido, nos
termos do art. 65 do CPP; contudo, de um modo geral, não prejudica direito de terceiros (arts. 929 e 930 do
Código Civil).
Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em
estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no
exercício regular de direito.
Existe uma lógica nisso, justamente porque atos praticados com excludentes de ilicitude, grosso
modo, não são ilícitos, tanto no crime quanto no cível. Veja-se o art. 188 do Código Civil:
Quanto às descriminantes putativas: i) para uns deveria haver indenização em razão da negligência (art. 186,
CC) na apreciação dos fatos, que seria presumida nessas situações; ii) para outros, reconhecido o erro na
apreciação dos fatos, a indenização só seria possível se houvesse concreta negligência, a ser constatada e
provada no caso, empiricamente.
qualquer reflexo na obrigação de indenizar. Sem embargo, deve-se ressaltar a existência de forte
posição no sentido de que a absolvição sob o fundamento das descriminantes putativas produzirá
coisa julgada na esfera cível quando a falsa percepção da realidade em que incorreu o agente
não tiver decorrido de sua negligência na apreciação dos fatos. Nesse sentido, esclarece
HUMBERTO THEODORO JÚNIOR que “a legítima defesa putativa se equipara à real, para efeito de
excluir a ilicitude da reação. O direito penal isenta de pena tanto o autor da legítima defesa real
como o da legítima defesa putativa. Mas, segundo certa doutrina, para o agente ficar isento do
dever de indenizar, é preciso que não tenha incorrido culposamente na suposição errônea da
agressão, que de fato inexistiu”.
Fundada dúvida sobre a existência de circunstâncias que excluam o crime ou de causas que
isentem o réu de pena: contempla-se a hipótese em que, muito embora não haja certeza quanto
à efetiva ocorrência destas situações, haja fundada dúvida a respeito. Em verdade, esta previsão
revela-se absolutamente desnecessária, a um, porque é da essência do direito penal e processual
penal que a dúvida resolva-se em favor do acusado (in dubio pro reo) e, a dois, pelo fato de que,
havendo incerteza quanto à ocorrência de tais excludentes de ilicitude, dolo ou culpabilidade,
restaria possível ao juiz absolver o réu com base no art. 386, VII, do CPP, que possui caráter
residual. Sem embargo de tudo isso, cabe ponderar que a absolvição fundada em dúvida quanto
à presença de excludente, seja ela qual for, não produzirá reflexos civis com o fim de excluir a
obrigação de indenizar. Tal ocorre unicamente quando o magistrado criminal afirmar,
categoricamente, ter o acusado agido ao amparo de excludente de ilicitude, ressalvando-se,
ainda assim, o direito de terceiros como expusemos alhures. Este, aliás, o sentido do art. 65 do
CPP ao dispor que “faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer [juízo de certeza,
portanto] ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito
cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito” (Avena, 2017).
Por último, ainda no art. 386 do Código de Processo Penal, uma hipótese residual para motivar a absolvição:
Evidente que essa causa de absolvição busca amparo no in dubio pro reo, é supletiva, genérica e abrangente,
referindo-se tanto à materialidade quanto à autoria, e só deve ser usada quando nenhuma outra, mais
específica, se enquadrar na situação concreta. É utilizada quando não há provas consistentes para a
condenação; nesse sentido, reflete uma decisão que não é categórica (juízo de incerteza) e, por isso mesmo,
não vincula a esfera cível.
Eis um dos grandes exemplos de cláusula genérica. Ora, se já prevista a hipótese de absolvição
por ausência de prova quanto à existência do fato; por ausência de prova quanto à autoria ou à
participação; de absolvição por fundada dúvida quanto às excludentes de ilicitude e de
culpabilidade, além dos casos de erro de tipo, para que a hipótese de falta de prova para a
condenação? Com efeito, os incisos anteriores abrangem o fato, a autoria/participação e a sua
(do fato) valoração jurídico-penal, parecendo-nos suficientes para a fundamentação da decisão
absolutória. Mas, como visto, em nada prejudicam o dispositivo; até, ao contrário, poderão
facilitar absolvições não enquadráveis nos demais dispositivos [...] (Pacelli, et al., 2018).
“Os incisos I, III e IV e VI, primeira parte, do caput do art. 386 do CPP preveem casos em que a inocência do
acusado restou comprovada. Já os incisos II, V e VI, segunda parte, e VII contemplam hipóteses de
insuficiência de provas para a condenação. Na prática, contudo, a grande maioria das sentenças absolutórias
tem por fundamento o inciso VII” (Badaró, 2017).
Para finalizar, criamos uma tabela com todas as causas de absolvição, desdobrando aquelas do inciso VI do
art. 386 do CPP, para efeito de consolidar os aspectos mais importantes em cada uma delas. Nesse sentido,
leia-se:
vinculante = quando a decisão do crime vincula a esfera cível (art. 935 do CC e outros);
Suponha que durante o andamento de um processo penal se descubra que o réu, ao tempo
do fato, era menor de 18 anos; qual a causa de absolvição que o juiz deveria utilizar❓
Nenhuma delas. Em verdade, não seria caso de julgamento de mérito (de absolvição), mas
sim de trancamento/anulação da ação penal for falta de legitimidade passiva do agente –
inimputável2.
2
Já vimos essa compreensão ser cobrada em prova prática de sentença para concurso da magistratura.
Outra questão correlata: réu que é absolvido pode apelar? Teria interesse recursal? SIM, na situação em
que pretendesse alterar o motivo da sua absolvição. Lembre-se que conforme a causa da absolvição haverá
ou não vinculação da esfera cível – daí o seu legítimo interesse em recorrer.
Doutrina complementar
NORBERTO AVENA (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017). “I. Estar
provada a inexistência do fato: nesta situação, o juiz criminal constata a partir da prova coligida ao
processo que o fato imputado na denúncia ou queixa evidentemente não ocorreu. Esta modalidade de
absolvição, consoante a regra do art. 935 do Código Civil, faz coisa julgada no cível, afastando a
possibilidade de ingresso posterior de ação de reparação dos danos supostamente causados com a
infração penal. II. Não haver prova da existência do fato: trata-se da hipótese em que não foi comprovada
a materialidade ou a existência do fato imputado. Este fundamento da sentença não produz qualquer
reflexo na esfera cível, sendo possível, a despeito da absolvição operada no juízo criminal, acionar o ofensor
no juízo cível visando ao pagamento de indenização. Tal ausência de reflexo civil decorre, primeiramente,
da circunstância de que o art. 935 do CC apenas proíbe a dedução de ação civil de indenização quando a
questão afeta à inexistência do delito tiver sido decidida na esfera penal. Ora, se a absolvição penal
fundamentou-se na ausência de provas de ocorrência do fato típico, é porque não decidiu sobre a
inexistência do fato, apenas afirmando que não há provas de que este tenha efetivamente ocorrido. Em
segundo lugar, há que se referir, também, a regra expressa do art. 66 do CPP, dispondo que “não obstante
a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido,
categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato”. III. Não constituir o fato infração penal:
trata-se do reconhecimento da atipicidade da infração descrita na inicial. Em princípio, também nesta
espécie de absolvição criminal não haverá qualquer efeito civil sobre a obrigação de indenizar, que poderá
ser normalmente discutida no juízo cível por meio da ação própria. Contudo, no caso de imputação de
crime culposo, levando em conta que tanto na esfera penal quanto na órbita civil externa-se a culpa por
meio do agir imprudente, negligente ou imperito, entendemos que se o indivíduo for absolvido no
processo criminal sob o fundamento de que está comprovado que sua conduta não se enquadrou em
qualquer daquelas formas de comportamento, a absolvição criminal também deve refletir no cível. Isso
porque, nesse caso, as razões da atipicidade criminal terão sido as mesmas da atipicidade civil, quais
sejam, ausência de imprudência, negligência ou imperícia, implicando paradoxo jurídico pensar que
possa o juízo criminal afastar peremptoriamente a culpa e que, malgrado esta situação, possa a mesma
culpa ser reconhecida no campo da responsabilidade civil pela obrigação de indenizar. IV. Estar provado
que o réu não concorreu para a infração penal: trata-se de motivo de absolvição incorporado pela Lei
11.690, de 9 de junho de 2008, ao modificar a redação do art. 386 do CPP. Anteriormente, previa-se neste
inciso apenas a absolvição pela inexistência de provas de ter o réu concorrido para a infração penal,
situação esta que, agora, foi relegada ao inciso V. Esta distinção realizada pelo legislador releva em face
da coisa julgada cível que, por interpretação do art. 935 do Código Civil, é produzida pela sentença penal
que reconhece não ter o réu concorrido para a infração penal, ao contrário do que ocorre quando se limita
o magistrado a absolvê-lo sob o fundamento de que não há provas de autoria ou participação, pois neste
último caso fica aberto o flanco para que, no cível, busque a vítima produzir esta prova com vistas à
obtenção de indenização por parte do réu. V. Não existir prova de ter o réu concorrido para a infração
penal: a hipótese diverge daquela em que a absolvição fundamenta-se na circunstância de “estar
comprovado que o réu não concorreu para a infração penal”, que tem previsão específica no art. 386, IV,
do CPP. Tratando-se desta última situação, haverá coisa julgada cível, ex vi do art. 935 do CC, o que não
ocorre com a absolvição fulcrada no inciso em comento (V). VI. Existirem circunstâncias que excluam o
crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1.º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo
se houver fundada dúvida sobre a sua existência: neste caso, vislumbram-se três fundamentos distintos
da absolvição criminal”.
FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018). “O inciso I (inexistência do
fato) possui importante repercussão na esfera cível, na medida em que impossibilita o ajuizamento de
ação civil ex delicto para reparação do dano (CPP, art. 66). A mesma repercussão possui o inciso IV (estar
provado que o réu não concorreu para a infração penal). No inciso III (fato não constitui crime), nada
impede a discussão sobre eventual indenização por perdas e danos no juízo cível, nos termos expressos
do art. 67, III, do Código de Processo Penal, pois um fato pode não ser considerado criminoso, mas
constituir ilícito civil. No inciso VI, 1ª parte (circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena: arts.
20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28), muito embora o reconhecimento de que o réu agiu sob o manto
justificador de uma causa excludente da ilicitude (legítima defesa, estado de necessidade etc.) faça coisa
julgada no juízo cível (CPP, art. 65), subsiste a responsabilidade do autor em indenizar o prejudicado,
quando este não for o culpado pela situação de perigo ou pelo ataque injustificado (é o chamado terceiro
inocente), cabendo ao primeiro apenas a ação regressiva contra o criador do perigo. Por exemplo: para
desviar de um pedestre imprudente, o motorista destrói um carro que estava regularmente estacionado.
Apesar de beneficiar-se do estado de necessidade na esfera criminal, o motorista deverá indenizar o dono
do veículo destruído (terceiro inocente), para depois voltar-se regressivamente contra o pedestre criador
da situação de perigo. Não está livre, portanto, de responder por uma demanda cível. Finalmente, no inciso
VI, 2ª parte: quando houver fundada dúvida sobre a existência de circunstâncias que excluam o crime ou
isentem o réu de pena. Nesse caso, o ofendido não estará impedido de discutir eventual indenização por
perdas e danos no juízo cível. O réu pode apelar da própria sentença absolutória para que se mude o
fundamento legal de sua absolvição. Exemplo: é absolvido por insuficiência de prova onde se aplicou o
princípio in dubio pro reo (art. 386, VII) e pretende que seja reconhecida a inexistência do fato (art. 386, I)”.
VICENTE GRECO FILHO (Manual de processo penal, 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012). “Na sentença absolutória,
deverá o juiz expor as razões da improcedência da imputação, apontando um dos incisos do art. 386 em
que se enquadra a hipótese. Essa indicação é importante para se definir a repercussão civil da sentença.
Serão examinadas as hipóteses e a respectiva repercussão civil. I – Estar provada a inexistência do fato. O
juiz concluirá desta maneira quando categoricamente estiver convencido de que o fato, em sua existência
no mundo da experiência, não ocorreu. Nessa hipótese, a absolvição criminal faz coisa julgada na área
cível e exclui a possibilidade de indenização (art. 66), porque não há fato a indenizar. II – Não haver prova
da existência do fato. Havendo dúvida quanto à existência do fato, a absolvição não impedirá a ação civil
de ressarcimento, em que poderão ser feitas outras provas e a cognição do juiz é diferente. A dúvida que
impede a condenação penal pode não impedir a indenização civil, tendo em vista o diferente grau de
cognição e convencimento numa e noutra esfera. III – Não constituir o fato infração penal. Ocorrerá a
absolvição, nesse caso, se o juiz reconhece que o fato é atípico, que não há ilícito penal. A indenização civil,
contudo, permanece possível, porque o que não é ilícito penal pode bem ser ilícito civil. É o que ocorre
comumente em processos por estelionato quando o juiz reconhece que a fraude não é penal, mas pode
ser civil. IV – Estar provado que o réu não concorreu para a infração penal. A hipótese, que foi acrescentada
pela Lei n. 11.690/2008, equivale ao inciso I, de modo que faz coisa julgada no cível e exclui indenização
pelo fundamento da autoria, porque a sentença penal conclui pela inexistência do fato em face de
alguém. Acontece, porém, que há casos de responsabilidade civil por ato ou fato de terceiro, de modo que,
mesmo excluído cabalmente da participação no crime, pode, ainda, haver responsabilidade civil, mas por
esse outro fundamento, se for o caso. V – Não existir prova de que tenha o réu concorrido para a infração.
A dúvida quanto à autoria ou participação também leva à absolvição, mas não exclui a reparação civil se
na ação de conhecimento civil o juiz se convencer do contrário, segundo as mesmas observações feitas
no inciso II. VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22,
23, 26 e § 1o do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência.
Se a circunstância é subjetiva, fica sempre aberta a possibilidade de ação civil de ressarcimento, porque a
culpa penal é diferente da civil e, também, existem casos de responsabilidade civil independentemente
de culpa, a chamada responsabilidade objetiva. A hipótese abrange não só as dirimentes propriamente
ditas, o erro, a coação moral e a obediência a ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico,
mas também as descriminantes putativas e a inimputabilidade. Ou seja, fica sempre aberta a
possibilidade de questionamento da responsabilidade na área cível segundo suas regras e princípios,
inclusive de terceiros, se for o caso”.
O principal efeito da sentença absolutória, como não poderia deixar de ser, é a colocação do réu que estiver
preso em liberdade. Ao se declarar o estado de inocência do acusado, seria um contrassenso mantê-lo preso
aguardando eventual interposição e análise de recurso por instância superior.
Então, quando o juiz profere uma sentença absolutória num processo de réu preso – e não importa a causa
ou o inciso do art. 386 do CPP –, necessariamente deverá determinar a soltura do acusado, com imediata
expedição de alvará de soltura , independentemente do trânsito em julgado da decisão.
Alguns poderiam pensar: e se o Ministério Público recorresse da sentença? Mesmo assim seria o caso de
soltura? SIM, nos exatos termos do art. 596 do Código de Processo Penal.
Art. 596. A apelação da sentença absolutória não impedirá que o réu seja posto imediatamente
em liberdade.
Importante assimilar que a soltura vai se aplicar para todas as situações em que, naquele processo, o réu
esteja preso. Não importam os antecedentes do acusado, sua periculosidade ou qualquer outra condição
pessoal. Também não interessa se o crime imputado é grave ou não. A expressão se for o caso❌, prevista
no inc. I, atualmente não tem qualquer aplicação prática e resta revogada tacitamente.
Observe-se que a expressão “se for o caso”, incorporada ao art. 386, parágrafo único, I, do CPP,
na atualidade, não tem qualquer aplicação. Justificava-se à época em que editado o Código de
Processo Penal, quando dispunha o art. 596 do CPP que, se o crime imputado tivesse cominada
pena máxima igual ou superior a oito anos de reclusão, o réu preso, ainda que absolvido,
permaneceria segregado até o julgamento da apelação eventualmente interposta pela acusação.
Revogada, porém, essa redação dada pela Lei 263/1948, o Código de Processo Penal passou a
vedar que o réu absolvido seja mantido preso pelo delito em que operada a absolvição (Avena,
2017).
Sabemos que as medidas cautelares não têm prazo legal de duração; entretanto, pelo dispositivo em
referência, percebemos que quando absolve o juiz deve ordenar a cessação de qualquer uma delas que
eventualmente tenha sido imposta ao réu.
Lembre-se que todas as medidas cautelares, inclusive a prisão, são acessórias (uma das suas características),
não tem ‘vida própria’ ou autonomia e um dos seus pressupostos elementares é o fumus comissi delicti. A
sentença de absolvição desnatura, por completo, esse pressuposto, fazendo necessária e inarredável a
revogação de eventual cautelar que tenha sido imposta durante a persecução penal.
Assim, os réus não poderão continuar submetidos a medidas cautelares a partir do momento em que são
absolvidos – não faz sentido. Por exemplo: se o réu está cumprindo recolhimento domiciliar e monitoração
eletrônica (art. 319, incisos V e IX do CPP), quando for sentenciado o juiz ordenará a cessação (linguagem
imperativa – dever) dessas medidas de natureza provisória, na própria sentença.
Esse efeito é específico para as sentenças absolutórias impróprias – aquelas em que o juiz afasta o crime por
ausência de culpabilidade, mas reconhece ‘injusto penal’, em estado de inimputabilidade, a justificar medida
de segurança (art. 96, Código Penal).
O Supremo Tribunal Federal já reconheceu, em mais de uma oportunidade, que a medida de segurança, por
ser constritiva de liberdade, só pode ser aplicada diante do devido processo legal. Evidente: o fato de o sujeito
ser inimputável não afasta o contraditório, a ampla defesa, dentre outros direitos e garantias individuais que
a todos se estende – muito pelo contrário.
A aplicação dessa medida de segurança não é automática e para todos os casos. É preciso distinguir as
situações.
inimputável permaneceu solto durante o curso da persecução, deve permanecer solto, a não ser
que surjam motivos que autorizem a imposição da medida cautelar de internação provisória.
Portanto, não se pode falar em aplicação provisória de medida de segurança, restando
prejudicado o disposto no art. 596, parágrafo único, do CPP, à luz da regra de tratamento que
deriva do princípio da presunção de inocência. A medida de internação provisória a que se refere
o art. 319, VII, do CPP, só poderá ser decretada se presentes o fumus comissi delicti e o periculum
libertatis, jamais como efeito automático da sentença absolutória imprópria, e desde que o crime
tenha sido praticado com violência ou grave ameaça e haja risco de reiteração (Lima, 2018).
A doutrina chama de efeitos secundários da absolvição aqueles que não estão no parágrafo único do art. 386
do CPP, mas sim dizem respeito a hipóteses específicas que atingem apenas alguns casos.
Vamos trazer as disposições legais (primeiro do CPP), para que fique claro.
Art. 337. Se a fiança for declarada sem efeito ou passar em julgado sentença que houver
absolvido o acusado ou declarada extinta a ação penal, o valor que a constituir, atualizado, será
restituído sem desconto, salvo o disposto no parágrafo único do art. 336 deste Código.
Restituição da fiança é um dos efeitos, portanto, da sentença absolutória. Interessante notar que esse
efeito, diferente dos outros analisados até agora, só se opera com o trânsito em julgado. Fiança é
caução/garantia e diante do fim do processo não há razão para mantê-la.
III - se for julgada extinta a punibilidade ou absolvido o réu, por sentença transitada em julgado.
Art. 141. O arresto será levantado ou cancelada a hipoteca, se, por sentença irrecorrível, o réu
for absolvido ou julgada extinta a punibilidade.
Estamos diante de medidas cautelares de natureza patrimonial. A absolvição também vai implicar no
levantamento delas - são instrumentais; perdem a utilidade com a improcedência da imputação.
De todo modo, há também outras medidas cautelares em curso no nosso atual CPP, de que são
exemplos a restituição de coisa apreendida (art. 118 e seguintes), além do sequestro, do arresto
e da especialização de hipoteca, todas de natureza patrimonial, reunidas, estas últimas, sob a
rubrica das medidas assecuratórias (art. 125, e seguintes, CPP). No entanto, para cada uma delas
há dispositivo expresso estabelecendo consequências jurídicas para a absolvição. No art. 131,
por exemplo, o sequestro será levantado se absolvido o réu, por decisão passada em julgado, o
que ocorre também em relação ao arresto (art. 141, CPP). Teria havido revogação dos citados
dispositivos (que exigem o trânsito em julgado da decisão absolutória para o levantamento de
sequestro, arresto e especialização de hipoteca)? A nosso aviso, sim. E, sem dúvida. Como
vimos, a decisão absolutória inverte o juízo de cautelaridade, no ponto em que afasta o fumus
boni iuris; a presunção, aliás, passa a ser outra: a da inexistência do delito (fumus comissi delicti).
Assim, não vemos razão alguma para manter a antiga e superada lógica do CPP, que sempre
partiu da presunção de culpabilidade e de periculosidade do agente aprisionado
provisoriamente. A regra, com a decisão judicial de absolvição, é a não imposição de quaisquer
medidas cautelares ao acusado (Pacelli, et al., 2018).
Outro efeito da sentença absolutória está na Lei 12.037/2009, que trata da identificação criminal:
Alguns autores apontam a impossibilidade de ser processado novamente pelo mesmo fato (princípio do ne
bis in idem)3 e o impedimento da propositura de ação civil de indenização (conforme a hipótese de
absolvição) como efeitos, também, da sentença absolutória.
Doutrina complementar
FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018). “Os efeitos da sentença
absolutória são os previstos no art. 386, parágrafo único (“I – mandará, se for o caso, pôr o réu em liberdade;
II – ordenará a cessação das medidas cautelares e provisoriamente aplicadas; III – aplicará medida de
segurança, se cabível”; v. Súmula 422 do STF). A lei, portanto, aboliu a referência à cessação das penas
acessórias provisoriamente aplicadas, anteriormente previstas no inciso II. Transitada em julgado a
sentença, deve ser levantada a medida assecuratória consistente no sequestro (art. 125) e na hipoteca legal
(art. 141). A fiança deve ser restituída (art. 337). A decisão impede que se argua a exceção da verdade nos
crimes contra a honra (CP, art. 138, § 3º, III; CPP, art. 523)”.
NORBERTO AVENA (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017). “Como efeito
principal da sentença absolutória própria (absolvição sem imposição de medida de segurança) está a
liberdade do réu, não importando, para tanto, fatores outros como seus antecedentes, a circunstância de
ter ou não transitado em julgado a decisão absolutória e a natureza do crime pelo qual processado. Assim,
caso esteja preso, deverá ser imediatamente posto em liberdade, não ficando suspenso este efeito pela
superveniência de recurso da acusação. Neste sentido, dispõe o art. 386, parágrafo único, I, do CPP, que
na sentença absolutória o juiz “mandará, se for o caso, pôr o réu em liberdade”. E, igualmente, o art. 596
do mesmo diploma ao estabelecer que “a apelação da sentença absolutória não impedirá que o réu seja
posto imediatamente em liberdade. [...] Trata-se de outros efeitos que podem ser produzidos pela
sentença absolutória em relação a hipóteses específicas, como, por exemplo: a) Levantamento do
sequestro incidente sobre bens do acusado supostamente adquiridos com o produto da infração penal
(art. 131, III, do CPP); b) Cancelamento da hipoteca legal e do arresto determinados sobre o patrimônio
lícito do acusado (art. 141 do CPP); c) Restituição integral da fiança (art. 337 do CPP); d) Impedimento da
propositura de ação civil de indenização quando fundada a absolvição em excludentes de ilicitude (art. 65
3
Nos parece que isso tem mais a ver com a coisa julgada.
do CPP) ou no entendimento do juiz de que comprovada a inexistência do fato, ou de que o réu não
concorreu para a infração penal (art. 935 do CC)”.
1.6.1 Elementos
II - mencionará as outras circunstâncias apuradas e tudo o mais que deva ser levado em conta
na aplicação da pena, de acordo com o disposto nos arts. 59 e 60 do Decreto-Lei no 2.848, de 7
de dezembro de 1940 - Código Penal;
A dosimetria da pena é uma matéria mais ajustada aos estudos de Direito Penal4; a isso se referem os
primeiros três incisos do art. 387 do CPP. Adota-se o critério trifásico (de NELSON HUNGRIA) para, ao final,
chegar-se ao quantum adequado e proporcional.
A individualização da pena tem assento constitucional entre nós (art. 5°, XLVI). Segundo ALBERTO
SILVA FRANCO, tal princípio garante, em resumo, a todo cidadão, condenado num processo-crime,
uma pena particularizada, pessoal, distinta e, portanto, inextensível a outro cidadão, em situação
fática igual ou assemelhada. Trata-se, pois, de verdadeiro direito fundamental do cidadão
posicionado frente ao poder repressivo do Estado. Daí por que, nas palavras do autor, "não é
possível, em face da ordem constitucional vigente, a cominação legal de pena, exata na sua
4
Por isso mesmo não vamos, aqui, esmiuçá-la.
quantidade, nem a aplicação ou execução de pena, sem intervenção judicial, para efeito de
adaptá-la ao fato concreto, ao delinquente ou às vicissitudes de seu cumprimento" (Lima, 2018).
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os
prejuízos sofridos pelo ofendido;
Somente a título de revisão (essa questão é tratada na ação civil ex delicto), trazemos a tese nº 983, firmada
no STJ, em repetitivo afetado na sessão do dia 11/10/2017 (que resolve algumas questões controvertidas
em relação ao tema):
Nos casos de violência contra a mulher praticados no âmbito doméstico e familiar, é possível a
fixação de valor mínimo indenizatório a título de dano moral, desde que haja pedido expresso
da acusação ou da parte ofendida, ainda que não especificada a quantia, e independentemente
de instrução probatória (Recurso Especial n. 1.675.874/MS afetado, em substituição ao REsp n.
1.683.324/DF, para julgamento sob o rito dos repetitivos, em conjunto com o REsp n.
1.643.051/MS).
"[...] a simples relevância de haver pedido expresso na denúncia, a fim de garantir o exercício
do contraditório e da ampla defesa, ao meu ver, é bastante para que o Juiz sentenciante, a
partir dos elementos de prova que o levaram à condenação, fixe o valor mínimo a título de
reparação dos danos morais causados pela infração perpetrada, não sendo exigível produção de
prova específica para aferição da profundidade e/ou extensão do dano. O merecimento à
indenização é ínsito à própria condição de vítima de violência doméstica e familiar. O dano, pois,
é 'in re ipsa'". [...] "A reforma do processo penal, ao prever a regra do art. 387, inc. IV, do Código
de Processo Penal, autorizando o juiz a fixar valor mínimo da indenização dos danos decorrentes
da infração penal, teve, dentre outros objetivos, remodelar o papel da vítima no processo. O
lesado passou a ter seus interesses (patrimoniais e extrapatrimoniais) tutelados, ainda que de
modo parcial e acessório. Essa tendência de 'reposicionamento' da vítima se reflete na
preocupação do sistema penal também com a responsabilidade civil [...]. E tal caminho vem
sendo reiteradamente acolhido por esta Corte Superior, ao admitir, tanto a fixação de danos
morais na sentença penal condenatória, como a dispensa da exigência de quantificação do
montante pretendido por ocasião do pedido, até mesmo para se evitar o desvirtuamento da
finalidade precípua da ação penal, que diz respeito a elucidação da infração penal propriamente
dita.
“As normas previstas no Título XI a que se refere o presente dispositivo (V) foram inteiramente abarcadas
pela Lei nº 7.209/84, que instituiu a Lei de Execuções Penais. A referência, portanto, não tem mais razão de
ser”.
Publicação da sentença: A citada norma, do inciso VI, não tem mais eficácia, dado que já revogado
o antigo art. 73, § 1º, do Código Penal, que dispunha sobre a necessidade de publicação em
periódico de grande circulação, às custas do acusado, ou, por órgão oficial, se inexistente aquele
(inciso I). Previa também a publicação resumida da sentença, ressalvadas hipóteses especiais
(inciso II). Como se percebe, havia forte tendência à execração pública do condenado. Idêntica
previsão se encontra da Lei nº 8.078/90, relativamente aos delitos praticados contra o
consumidor, conforme anota Guilherme NUCCI (Ob. cit., p. 573). Embora se possa reconhecer a
necessidade de uma proteção mais eficaz ao consumidor, sobretudo em relação a
comportamentos de alta lesividade, a publicação da condenação em órgão de comunicação de
grande circulação nos parece excessiva. Podem-se tutelar os interesses do consumidor com a
simples divulgação dos fatos, sem, contudo, referir-se expressamente ao produtor de serviços
e/ou de bens. Naturalmente, quando de grande monta os prejuízos causados, e, mais, quando
em risco novas reiterações de danos, a medida poderia ser excepcionalmente aceitável. Fora de
tais situações, a ampla divulgação do nome do condenado apresentará contornos de
linchamento moral, tendo em vista desfrutarem o empresário individual e a sociedade
empresária, merecida ou imerecidamente, de reputação comercial (Pacelli, et al., 2018).
O juiz, ao proferir a sentença condenatória, por imposição legal, terá de decidir sobre medidas cautelares
(inclusive a prisão preventiva) – impondo-as ou mantendo-as, se for o caso, mediante decisão fundamentada
e de acordo com todos os pressupostos e requisitos legais (art. 282 e ss. e art. 311 e ss. do CPP, dentre
outros)5. Diferente do que muitos podem pensar , a prisão não é automática e o fato de o réu ser
condenado não significa que tenha de permanecer preso.
Agora, então, por ocasião da sentença condenatória (se for absolutória, não há como impor
prisão alguma!) deve o juiz fundamentar a necessidade de manutenção de eventual prisão já
realizada. Poderá ele, do mesmo modo, julgando presentes razões para a prisão preventiva (art.
312, CPP), decretá-la, fundamentadamente. A medida é muitíssimo bem-vinda e se encontra na
linha das determinações constitucionais pertinentes, e, particularmente, ao disposto no art. 5º,
LXI, no sentido de que “ninguém será preso e nem mantido preso senão por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente”, ressalvadas as hipóteses de flagrante
delito e de crimes ou transgressões militares previstas em lei. Perderá fôlego, assim, antiga
jurisprudência consagradora da tese da desnecessidade de nova fundamentação para a prisão,
nas hipóteses em que houvesse anterior motivação (na prisão realizada antes da sentença).
Nesse passo, cumpre observar: se a prisão anterior se reportou, por exemplo, à garantia de
ordem pública, a nova fundamentação poderá se limitar aos elementos que ainda se fizerem
presentes, esclarecendo a manutenção das mesmas circunstâncias de fato e de direito que
teriam justificado a prisão anterior. Já as prisões de natureza instrumental, isto é, destinadas a
tutelar a efetividade do processo penal, reclamarão nova fundamentação, sobretudo aquela
justificada na conveniência da instrução criminal (art. 312, CPP). Pode-se até aceitar uma nova
fundamentação em termos mais sintéticos; mas há que se exigir, de todo modo, a explicitação
quanto à permanência, no tempo, das mesmas circunstâncias autorizativas da prisão anterior
(Pacelli, et al., 2018).
Doutrina complementar
FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018). “O juiz, ao proferir decisão
condenatória, deverá observar o disposto no art. 387 do CPP: (i) Mencionará as circunstâncias agravantes
ou atenuantes definidas no Código Penal e cuja existência reconhecer (inciso I). (ii) Mencionará as outras
circunstâncias apuradas e tudo o mais que deva ser levado em conta na aplicação da pena, de acordo
com o disposto nos arts. 59 e 60 do Código Penal (inciso II): a lei aqui substituiu a referência a antigos
artigos do Código Penal (42 e 43). (iii) Aplicará as penas de acordo com essas conclusões (inciso III): o
legislador cuidou de abolir a referência às penas acessórias, as quais já haviam sido rechaçadas pela parte
geral do Código Penal. (iv) Fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido (inciso IV): o inciso IV deve ser conjugado com a atual
redação do art. 63, parágrafo único, o qual dispõe que, “Transitada em julgado a sentença condenatória, a
execução poderá ser efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código
sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano”.
VICENTE GRECO FILHO (Manual de processo penal, 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012). “O art. 387 enumera
requisitos de conteúdo que a sentença condenatória deve respeitar. [...] I – mencionará as circunstâncias
agravantes ou atenuantes referidas no Código Penal e as judiciais e tudo o mais que influir, quer na pena-
base, quer nos aumentos. Só dispensa fundamentação a imposição da pena mínima, o que não é
recomendável, mas prevalece; II – aplicará as penas de acordo com essas considerações, justificando,
5
Tudo isso é analisado quando estudamos medidas cautelares e prisão preventiva na sentença.
passo a passo, as opções e operações que fizer, tanto na pena privativa de liberdade quanto na de multa,
se houver; III – definirá, fundamentadamente, o primeiro regime de cumprimento da pena privativa da
liberdade, segundo os critérios do Código Penal, e se é feita, ou não, a conversão desta em multa, bem
como se se concede, ou não, o perdão judicial nos casos em que a lei o admite. [...] IV – no caso de semi-
imputabilidade, deverá decidir se haverá redução da pena e conversão desta em medida de segurança.
Há polêmica a respeito das operações a serem feitas no caso de semi-imputabilidade: se o juiz deve aplicar
a pena e decidir se a reduz ou se a converte, ou se o juiz deve aplicar a pena, reduzi-la e, depois, con-vertê-
la, se for o caso. O entendimento dominante, inclusive o que está sendo utilizado na prática do Estado de
São Paulo, é o da dupla operação: tem sido feita a redução da pena e, também, a conversão, porque os
arts. 26, parágrafo único, e 98 do Código Penal não se excluem. Temos, contudo, opinião contrária, porque,
se o acusado precisa de tratamento, não se deveria indagar a respeito de redução de pena, que é benefício
para aquele semi-imputável que merece pena e que efetivamente irá cumpri-la. A questão tem relevância
em virtude da chamada prescrição retroativa, cujo prazo pode ser alterado com a redução que antecede
a conversão, porque é a quantidade da pena em concreto que dará a base de cálculo para a prescrição da
ação penal; V – decidirá sobre a concessão, ou não, da suspensão condicional da pena nos casos em que
a lei a admite. Tendo em vista que hoje a suspensão condicional da pena é pena ou modo de cumprimento
de pena, não pode o juiz deixar para apreciar a sua concessão, ou não, no momento da prisão, como se
fazia antigamente. A decisão da concessão, ou não, do benefício é parte indissociável da sentença que
será nula se não a contiver, não se admitindo, também, concessão hipotética ou condicional. Se o juiz, no
momento da sentença, não tiver condições de apreciar o cabimento da suspensão condicional da pena,
deverá, antes de proferi-la, colher os elementos necessários para a adequada apreciação, porque não
poderá fazê-lo posteriormente; VI – deverá decidir, fundamentadamente, se o acusado poderá apelar em
liberdade, conforme se expôs no capítulo sobre a liberdade provisória, mantendo ou não a prisão anterior;
VII – deverá determinar, se for o caso, a expedição de mandado de prisão ou recomendar o réu na prisão
em que se encontra, porque muda o título de sua prisão, se for o caso de prisão preventiva; VIII – deverá
arbitrar fiança se o crime for afiançável e se é sob ela que deve permanecer o acusado em liberdade; IX –
fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos
pelo ofendido. Este componente, em princípio, só raramente será aplicado, por diversas razões. Grande
número de infrações penais não tem ofendido ou prejudicado determinado; mesmo que exista, nos autos
não se discute, em contraditório, o valor da reparação civil, não detendo o juiz elementos para fixá-la; pode
haver infração, como, por exemplo, as do sistema financeiro, em que o número de vítimas é grande e em
que as situações de dano são variadas, o que inviabiliza qualquer estimativa no âmbito do processo penal
etc. É possível admitir que, mediante pedido expresso do ofendido que se habilite como assistente, o juiz,
após contraditório em que o réu deve ter o devido processo legal quanto à indenização, possa fixar uma
indenização, mas que, então, não será a mínima, mas a definitiva, com força de coisa julgada. Essa prática,
porém, será terrivelmente danosa e perturbadora para o processo penal, porque a discussão derivar-se-á
para a indenização civil, desviando o curso e objeto do processo penal. Imagine-se que 5 vítimas, por
exemplo, se habilitem como assistente e passem a discutir questões civis. O processo penal será
fatalmente perturbado, o que o juiz penal não pode permitir, devendo, então, remeter as partes para o
juízo cível competente. Melhor será sempre adotar essa prática, ou seja, o juiz penal entender inviável a
apuração de qualquer valor que seja de indenização e deixar que a parte procure a reparação diretamente
no cível”.
Ainda dentro do art. 387 do Código de Processo Penal, temos o seguinte dispositivo, introduzido pela Lei
12.736/2012:
Aqui temos uma espécie de detração ‘pelo avesso’, que serviria não para diminuir a pena, mas sim para fixar
o regime inicial de cumprimento, tomando em conta apenas o tempo de prisão referente ao processo em
que se aplica.
Sempre foi instituto utilizado em fase de execução de pena, conforme disciplina da Lei de Execução Penal (nº
7.210/1984):
“Ocorre que, objetivando agilizar a concessão dos benefícios da execução penal ao condenado,
especialmente quanto ao regime prisional, a Lei 12.736/2012, em seu art. 1.º, estabeleceu que a detração
deverá ser considerada pelo juiz que proferir a sentença condenatória. Referido diploma ainda inseriu o § 2.º
no art. 387 do CPP”, antes citado.
Ou seja: “a partir da entrada em vigor da Lei nº 12.736/12, o regime prisional inicial deixa de ser estabelecido
com base na pena definitiva, e passa a ser fixado levando-se em conta o quantum de pena resultante do
desconto do tempo de prisão cautelar ou internação provisória a que o acusado foi submetido durante o
processo”. Se “antes a detração era feita apenas pelo juízo da execução, doravante essa análise deverá ser
feita pelo próprio magistrado do processo de conhecimento, por ocasião da prolação da sentença
condenatória” (Lima, 2018).
De plano se pode visualizar uma modalidade diferente de detração a ser reconhecida na própria
sentença condenatória. Impende destacar de início que não se trata de detração do tempo de
privação de liberdade na pena e sim de sua consideração para a fixação do regime penitenciário
para o início do seu cumprimento. Significa que o magistrado não poderá modificar a pena
definitiva fixada. O total da pena imposta, sem a detração, deverá ser considerado para todos os
demais efeitos penais e incidentes na execução. Nunca é demais ressaltar que o tempo de
privação de liberdade anterior somente será considerado na sentença se estiver relacionado com
o delito objeto da condenação. Se a prisão ocorrer por outro motivo de natureza cautelar e outra
infração penal (ou seja, não decorrer de providências relacionadas ao crime objeto do processo)
não poderá haver essa espécie de detração para o cálculo do regime de pena. Importante frisar
que não há se cogitar na detração, inclusive na prisão relativa à outra infração, quando absolvido
de forma definitiva o acusado em outro processo, se naquele juízo tiver sido decretada prisão de
natureza provisória. Por questão lógica, a lei não estabelece essa regra, até porque toda prisão
antes do trânsito em julgado deverá ter fundamentação cautelar. Assim, a privação da liberdade
decorreria de ato imputável ao agente. No entanto, como referido, pensamos que o princípio
encampado pela alteração (de extrema valia, diga-se) é para exclusivamente decotar o tempo de
prisão da sentença condenatória na fixação do regime da pena imposta no respectivo processo
criminal (Pacelli, et al., 2018).
Essa é uma regra geral, um dos elementos da sentença condenatória; todavia, existem situações concretas
que vão impedir a sua aplicação. Em algumas hipóteses o juiz pode se abster de aplicar essa ‘detração’,
deixando a questão para o juízo da execução penal. Diante de outras condenações, por exemplo, pode se
fazer necessária a unificação das penas para fixar o regime de cumprimento – tarefa que ficará ao encargo
do juízo da execução.
[...] se a regra, doravante, é que a detração seja feita na própria sentença condenatória (CPP, art.
387, § 2°), não se pode olvidar que, em certas situações, é praticamente inviável exigir-se do juiz
sentenciante tamanho grau de aprofundamento em relação à situação prisional do condenado.
Basta supor hipótese de acusado que tenha contra si diversas prisões cautelares decretadas por
juízos diversos, além de inúmeras execuções penais resultantes de sentenças condenatórias com
trânsito em julgado. Nesse caso, até mesmo como forma de não se transformar o juiz do processo
de conhecimento em verdadeiro juízo da execução, o que poderia vir de encontro ao princípio
da celeridade e à própria garantia da razoável duração do processo (CF, art. 5°, LXXVIII), haja vista
a evidente demora que a análise da detração causaria para a prolação da sentença condenatória
na audiência una de instrução e julgamento, é possível que o juiz sentenciante se abstenha de
fazer a detração naquele momento, o que, evidentemente, não causará maiores prejuízos ao
acusado, já que tal benefício será, posteriormente, analisado pelo juízo da execução. Para tanto,
MOUGENOT faz uma análise crítica e científica a respeito do instituto, tomando em conta disposições
normativas da Lei de Execução Penal.
Feitas essas considerações, cumpre finalmente salientar que o dispositivo foi acrescentado em
um claro propósito legislativo de evitar a prisão corporal, haja vista o estado caótico em que se
encontram nossas penitenciárias. Assim, pretendeu-se exercer um juízo de detração antecipado
para, valendo-se das regras constantes no art. 33, parágrafo primeiro, do Código Penal, impor-se
regime inicial mais brando do que aquele recomendável. Com efeito, em um caso de condenação
pela prática de um roubo circunstanciado a que foi imposta pena de 6 (seis) anos de reclusão, se
constatado que o acusado permaneceu provisoriamente preso por 2 (dois) anos, dever-se-ia fixar
o regime inicial aberto (art. 33, § 1º, alínea c, do Código Penal). Porém, esta leitura fria não é
possível. Em primeiro lugar, o regime inicial de cumprimento de pena não está adstrito a padrões
quantitativos, mas também à gravidade concreta e às circunstâncias judiciais em que o delito foi
cometido, conforme artigo 59, inciso III, do Código Penal. Desta feita, a simples operação
matemática conduziria a injustiças perenes e liberação desenfreada de réus condenados por
delitos graves. Em segundo lugar, cabe esclarecer que a regra deve ser interpretada em
consonância com os dispositivos relacionados à progressão de regime, insculpidos no art. 112 da
Lei n. 7.210/84. Portanto, cumpre ao juiz exercer uma operação matemática atinente à
progressão de regime, a fim de verificar se o lapso para a progressão de regime coincide com o
da detração. Somente assim será possível cogitar-se na fixação de regime mais benéfico. Como
exemplo, se o réu foi condenado à pena de 6 (seis) anos por roubo circunstanciado em regime
inicial fechado e permaneceu preso por 6 (seis) meses, analisando-se o critério estabelecido no
artigo 112 da Lei de Execuções Penais e o lapso temporal de 1/6 (um sexto) para progressão do
regime, fica evidente que o réu não fará jus ao regime intermediário. Isso porque a progressão
para regime semiaberto ocorrerá com o cumprimento de 1 (um) ano de pena corporal e, na
hipótese, ficou detido provisoriamente por apenas 6 (seis) meses. Assim, operada a detração
sobre o lapso necessário para progressão de regime, o réu deverá, no caso elucubrado, aguardar
mais 6 (seis) meses presos e, aí sim, se presentes também os requisitos subjetivos, ser transferido
ao regime semiaberto. Outra forma de pensar – insista-se – incorreria em grave equívoco e
prematuras fixações de regimes iniciais incompatíveis com as circunstâncias concretas e judiciais
(Bonfim, 2015).
requisito objetivo temporal da progressão seja respeitado significa conferir a eles tratamento diferenciado
sem fundamento razoável, o que certamente não foi o objetivo da Lei nº 12.736/2012.
[...] embora não seja permitida a análise de eventuais requisitos subjetivos de benefícios próprios
da execução penal para o indeferimento da detração prevista no artigo 387, § 2º, do Código de
Processo Penal, este instituto não terá incidência quando a subtração do tempo de prisão
provisória na pena definitiva não for suficiente para a alteração dos intervalos previstos no artigo
33, § 2º, do Código Penal. Conclusão diversa seria permitir, aí sim, uma verdadeira progressão de
regime prisional no âmbito do processo de conhecimento sem a devida análise do requisito
subjetivo previsto na parte final do artigo 112 da Lei de Execução Penal. (AgRg no AREsp
1066530/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 06/02/2018, DJe
16/02/2018).
Os efeitos penais da sentença condenatória são classificados pela doutrina como principais/primários e
reflexos/secundários.
cumprimento da pena: hoje não se admite, por orientação atual do STF, o cumprimento provisório da
pena a partir do esgotamento da 2ª instância recursal;
lançamento do nome do réu no rol dos culpados: era efeito previsto no revogado (pela Lei 12.403/2011)
art. 393 do CPP, que assim dispunha:
Não obstante a revogação da previsão legal, persiste o efeito por ser inerente ao controle estatal que deve
existir em relação às pessoas que são condenadas, inclusive para efeito do registro de antecedentes
criminais. Não obstante, diante da presunção de inocência, a inscrição do nome só deve ocorrer após o
trânsito em julgado da condenação.
O lançamento do nome do réu no rol dos culpados nada mais é do que o registro no livro
específico, existente nos ofícios criminais, denominado "Registro do Rol dos Culpados”, que se
constitui de uma das vias da guia de recolhimento – enviada para a Vara das Execuções Criminais
- contendo todos os dados relativos à condenação e ao processo. Deve-se frisar que este
dispositivo deveria ter sido alterado há muito tempo, pelo menos desde a entrada em vigor da
Constituição Federal de 1988, que consagra, expressamente, o princípio da presunção de
inocência. Assim, não se lança o nome do réu nesse rol antes do trânsito em julgado (Nucci,
2018).
Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em
julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.
Reincidente é o réu que tem condenação definitiva (que não seja de crime político ou militar) quando comete
novo crime. Efeito reflexo da condenação, portanto, é fazer com que o agente seja considerado reincidente
caso cometa outra posterior (ao trânsito em julgado da anterior) infração penal.
Aliás, a reincidência é condição reconhecida pelo juiz na sentença condenatória, sendo circunstância
agravante da pena (art. 61, I do Código Penal).
O réu não será considerado reincidente se já tiver decorrido tempo maior que cinco (5) anos do cumprimento
ou extinção da pena. Por exemplo: suponha que um réu tenha sido condenado a uma pena de 5 anos e 4
meses por roubo e termina de cumprir a pena em 15/01/2013; se hoje ele praticar novo crime (como já se
passaram mais de cinco anos) não será considerado reincidente (ou os efeitos do instituto desaparecerão) –
quando muito portador de maus antecedentes.
A propósito – e para compreendermos a questão dos maus antecedentes, vejamos a Súmula 444 do STJ:
O STF também já assentou que “inquéritos ou processos em andamento, que ainda não tenham transitado
em julgado, não devem ser levados em consideração como maus antecedentes na dosimetria da pena”. Esse
entendimento dos tribunais superiores nos leva à conclusão de que teremos maus antecedentes criminais
em duas situações, basicamente:
naquelas condenações definitivas em que o prazo depurador de 5 anos foi ultrapassado (afasta-se a
reincidência, mas constituem-se os maus antecedentes);
naquelas em que o trânsito em julgado das condenações anteriores ocorrer depois da prática do novo crime,
mas antes da sentença (do julgamento do novo crime).
Essa segunda situação costuma ocorrer quando o processo pelo segundo crime tramita mais rápido (por
vezes o réu está preso) que o processo pelo primeiro. Como o juiz analisa os antecedentes na sentença
(circunstância judicial do art. 59 do Código Penal), para efeito de aplicar a pena, naquele momento o sujeito
tem uma condenação definitiva, mas ela não implica reincidência porque o trânsito em julgado ocorre depois
da prática do novo crime.
Lembre-se: para que o agente seja considerado reincidente, o trânsito em julgado tem de ser
anterior ao cometimento do novo crime! Se for posterior, mas acontecer antes do
julgamento (sentença) do novo crime, caracterizar-se-ão os maus antecedentes.
Exemplo: sujeito comete furto em 15/1/2017 e responde solto o processo; pratica roubo em
20/3/2018 (preso em flagrante com conversão para preventiva); nesse meio tempo, em 10/5/2018, transita
em julgado a condenação pelo furto; a sentença do roubo é prolatada depois disso, em 05/7/2018; ora,
quando o juiz condená-lo pelo roubo não poderá considerá-lo reincidente porque quando cometeu o roubo
(interessa a data do crime) não tinha condenação transitada em julgado pelo furto, mas deverá toma-lo como
portador de maus antecedentes – afinal, tem condenação definitiva pelo furto (no momento em que é
julgado pelo roubo), o que não viola a presunção de inocência (cujo afastamento exigiria trânsito em
julgado).
publica
Furto responde Roubo responde T. J. cond. def.
05.7.18 sentença
15.1.17 solto 20.3.18 preso 10.5.18 furto
roubo
I. Maus antecedentes relativização no caso concreto. A Corte estadual, ao manter por maioria
de votos o entendimento de que o paciente seria possuidor de maus antecedentes, assim
fundamentou (fls. 337-338): Extrai-se dos autos que o juiz prolator da sentença condenatória
valorou negativamente os antecedentes do réu, diante da folha de antecedentes criminais
juntadas às fls. 68/7, onde consta uma condenação transitada em julgado em 26/08/91, com
imputação do crime previsto no art. 16 da Lei 6.368/76, com pena de 06 meses de detenção. O
douto Relator entendeu que a existência da referida condenação não caracteriza maus
antecedentes, tendo em vista o transcurso do lapso temporal superior a 5 (cinco) anos, pois
sequer implica reincidência. Pois bem.
Dúvidas não há de que, "Nos termos da orientação desta Casa, é possível a exasperação da pena-
base com fulcro em condenações anteriores transitadas em julgado há mais de 5 (cinco) anos,
porquanto, apesar de não espelharem a reincidência, pois alcançadas pelo período depurador
previsto no art. 64, inciso I, do Código Penal, podem ser utilizadas para caracterizar os maus
antecedentes do réu. Precedentes." (AgRg no HC n. 358.465/SP, Rel. Ministro Antonio Saldanha
Palheiro, 6ª T., DJe 10/2/2017).
Sem embargo desse entendimento, as peculiaridades deste caso concreto me levam a decidir de
forma distinta. Com efeito, as instâncias ordinárias, ao concluírem pela existência de maus
antecedentes, fizeram referência a somente uma condenação anterior: porte de drogas para
consumo próprio, perpetrado ainda na vigência da Lei n. 6.368/1976, em que foi aplicada ao
acusado pena de 6 meses de detenção, cujo trânsito em julgado ocorreu em 26/8/1991.
Dadas tais peculiaridades, tenho a compreensão de que não há como reconhecer a existência de
maus antecedentes e afastar a aplicação da minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei de Drogas
pela simples existência de uma condenação transitada em julgado com extinção da punibilidade
há tanto tempo, máxime porque, conforme consignou o Desembargador relator dos embargos
infringentes e de nulidade (vencido), "durante o transcurso de mais de 25 anos desde a extinção
da pena, não voltou a delinquir" (fl. 333). Saliento frise-se que não estou afirmando que o mero
decurso do período depurador da reincidência seja suficiente para, por si só, impedir toda e
qualquer valoração sobre os antecedentes, até porque a hipótese prevista no art. 64, I, do
Código Penal trata tão somente da reincidência. Da mesma forma, não estou, simplesmente,
descuidando de observar o entendimento desta Corte de que condenações prévias, com trânsito
em julgado há mais de 5 anos, apesar de não ensejarem reincidência, podem servir de alicerce
para valoração desfavorável dos antecedentes.
Contudo, considero que eternizar a valoração negativa dos antecedentes para afastar a
minorante em questão, sem nenhuma ponderação sobre as circunstâncias do caso concreto,
não se coaduna com o Direito Penal do fato. Rememoro, por oportuno, que a discussão sobre o
tema não é recente nesta Corte Superior de Justiça. Por ocasião do julgamento do RHC n.
2.227/MG, em sessão realizada no dia 18/12/1992, o Ministro Vicente Cernicchiaro, ao apreciar
caso similar, enfatizou, em voto vencedor, que "o fato, como acontecimento histórico, nem
sempre é relevante normativamente", havendo salientado que a norma inserta no inciso I do
art. 64 do Código Penal "harmoniza-se com o sistema do Código Penal que subscreve o princípio
- tempus omnia solvet". Nesse contexto, concluiu que "Não há, pois, estigma permanente no
Direito Penal" (Relator Ministro Pedro Acioli, rel. p/ acórdão Ministro Vicente Cernicchiaro, 6ª
T., DJ 29/3/1993). [...]
A teoria em apreço encontra inspiração em artigo intitulado The Right to Privacy, de autoria de
Samuel D. Warren e do então futuro juiz da Suprema Corte norte-americana Louis Brandeis,
publicado em 15/12/1890, em edição da Harvard Law Review (Vol. IV, December 15, 1890, N. 5),
que bem desdobra o right to be let alone. É certo que tanto o artigo quanto os casos debatidos
nos citados julgados tratam da extensão do dano pela violação do direito à privacidade e do
direito de ser deixado em paz (direito ao esquecimento), na esfera civil. Entretanto, entendo que
a essência dessa doutrina com adaptações e temperamentos, por óbvio pode ser invocada no
caso, pois, no que diz respeito ao direito de ser esquecido, de que é titular aquele sobre quem
recai o peso de uma condenação penal, o substancioso voto lançado no referido REsp n.
1.334.097/RJ não poderia ser mais esclarecedor: Especificamente no que concerne ao confronto
entre o direito de informação e o direito ao esquecimento dos condenados e dos absolvidos
em processo criminal, a doutrina não vacila em dar prevalência, em regra, ao último,
ressalvando-se como aqui se ressalvou a hipótese de crimes genuinamente históricos, quando
a narrativa desvinculada dos envolvidos se fizer impraticável: Se a pessoa deixou de atrair
notoriedade, desaparecendo o interesse público em torno dela, merece ser deixada de lado,
como desejar.
Isso é tanto mais verdade com relação, por exemplo, a quem já cumpriu pena criminal e que
precisa reajustar-se à sociedade. Ele há de ter o direito a não ver repassados ao público os fatos
que o levaram à penitenciária (MENDES, Gilmar Ferreira [et. al.]. Curso de direito constitucional.
São Paulo: Saraiva, 2007, p. 374).
________________________
Mas não é por isso tudo que a informação ou comunicação de fatos criminosos sejam ilimitadas,
infensas a qualquer restrição. Máxime quando se tem em conta a divulgação de um fato
criminoso associado a certa pessoa a quem se atribua sua autoria. Há uma primeira restrição
que, na palavra de Hermano Duval, diz com o direito ao esquecimento que assiste ao condenado,
o que para Costa Andrade representa um direito à ressocialização do criminoso, não estranho à
legislação pátria [...] Por esse direito, então, aquele que tenha cometido um crime, todavia já
cumprida a pena respectiva, vê a propósito preservada sua privacidade, honra e imagem. Cuida-
se inclusive de garantir ou facilitar a interação e reintegração do indivíduo à sociedade, quando
em liberdade, cujos direitos da personalidade não podem, por evento passado e expirado, ser
diminuídos. Isso encerra até corolário da admissão, já antes externada, de que fatos passados,
em geral, já não mais despertam interesse coletivo. Assim também com relação ao crime, que
acaba perdendo, com o tempo, aquele interesse público que avultava no momento de seu
cometimento ou mesmo de seu julgamento.
É claro que essa consideração não se aplica àqueles crimes históricos, que passam enfim para a
história, aos grandes genocídios, como é o exemplo nazista, citado por Costa Andrade. Aliás, pelo
contrário, esses são casos que não devem mesmo ser esquecidos (GODOY, Claudio Luiz Bueno
de. A liberdade de imprensa e os direitos da personalidade. São Paulo: Atlas, 2001, p. 89-90).
________________________
Igualmente, faço menção ao REsp n. 1.160.440/MG (DJe 31/3/2016), também de minha relatoria,
em que a Sexta Turma, à unanimidade, novamente decidiu relativizar a existência de dois
registros penais antigos, de modo a não lhes imprimir excessivo relevo a ponto de impedir a
Tenho por certo que foi também por esses fundamentos que o legislador de 1977, mediante a
alteração na Parte Geral do Código Penal ocasionada pela Lei n. 6.146, instituiu a temporalidade
para a reincidência e positivou o "período depurador" no art. 46, parágrafo único, então vigente,
denominado no item 13 da respectiva Exposição de Motivos como "prescrição da reincidência",
e cuja previsão normativa foi mantida no art. 64, I, do atual Codex. Aliás, em conferência
proferida no Seminário Internacional "O Tribunal Internacional e a Constituição Brasileira"
promovido pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, em 30/9/1999 , o
Professor Dr. Luiz Luisi acentuou que "a proibição de penas perpétuas é um corolário da
orientação humanitária ordenada pela Constituição, como princípio orientador da legislação
penal" (trecho citado pelo Ministro Gilmar Mendes, em voto proferido no HC n. 126.315/SP).
Com efeito, não se pode tornar perpétua a valoração negativa dos antecedentes, nem perenizar
o estigma de criminoso para fins de aplicação da reprimenda, sob pena de violação da regra geral
que permeia o sistema. Afinal, a transitoriedade é consectário natural da ordem das coisas. Se o
transcurso do tempo impede que condenações anteriores configurem reincidência, esse
mesmo fundamento o lapso temporal deve ser sopesado na análise das condenações
geradoras, em tese, de maus antecedentes. Embora o Supremo Tribunal Federal ainda não
tenha decidido o mérito do RE n. 593.818 RG/SC que, em repercussão geral já reconhecida (DJe
3/4/2009), decidirá se existe ou não um prazo limite para se sopesar uma condenação anterior
como maus antecedentes , considero que, no caso, firme na ideia que subjaz à temporalidade
dos antecedentes criminais, deve ser relativizado o único registro anterior do acusado, tão
antigo, de modo a não lhe imprimir o excessivo relevo que pretenderam as instâncias ordinárias.
II. Nova dosimetria. Porque afastados os maus antecedentes, deve a pena-base do paciente ser
reduzida ao mínimo legal (5 anos de reclusão e pagamento de 500 dias-multa), haja vista que
todas as demais circunstâncias judiciais lhe foram tidas como favoráveis. Por conseguinte, devem
os autos retornar ao Juízo da 2ª Vara Criminal da Comarca de Corumbá MS para se manifestar
sobre a causa especial de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006,
a fim de que analise o eventual preenchimento dos demais requisitos necessários ao
reconhecimento da benesse em questão, quais sejam, a não dedicação a atividades delituosas e
a não integração em organização criminosa. Registro que essa mesma solução retorno dos autos
ao Juízo de primeiro grau para a análise dos demais requisitos necessários para a aplicação da
benesse prevista no § 4º do art. 33 da Lei de Drogas foi adotada pela Sexta Turma desta Corte
Superior de Justiça, em caso no qual se considerou que o único processo anterior existente em
desfavor do réu não poderia ser considerado para fins de reincidência (HC n. 390.038/SP, Rel.
Ministro Rogerio Schietti, DJe 15/2/2018).
III. Dispositivo. À vista do exposto, com fundamento no art. 34, XX, do RISTJ, concedo
parcialmente a ordem, para afastar os maus antecedentes do paciente, reduzir a sua reprimenda-
base para o mínimo legal (5 anos de reclusão e pagamento de 500 dias-multa) e, por conseguinte,
determinar o retorno dos autos ao Juízo da 2ª Vara Criminal da Comarca de Corumbá MS, a fim
de que analise o eventual preenchimento, pelo acusado, dos demais requisitos necessários ao
reconhecimento da minorante prevista no art. 33, § 4º, da Lei de Drogas (Processo n. 0003672-
60.2015.8.12.0008). Comunique-se, com urgência, o inteiro teor desta decisão às instâncias
ordinárias, para as providências cabíveis. Publique-se e intimem-se. Brasília (DF), 11 de maio de
2018. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ.
autorizar regressão do regime carcerário: esse efeito secundário está previsto na Lei de Execução Penal:
Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a
transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado: [...]
II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em execução,
torne incabível o regime (artigo 111).
Art. 111. Quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em
processos distintos, a determinação do regime de cumprimento será feita pelo resultado da soma
ou unificação das penas, observada, quando for o caso, a detração ou remição.
Regressão é a transferência do condenado para qualquer dos regimes de cumprimento de pena mais
rigorosos.
revogar livramento condicional: eis os termos do Código Penal que retratam esse efeito reflexo:
Art. 87 - O juiz poderá, também, revogar o livramento, se o liberado deixar de cumprir qualquer
das obrigações constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por crime ou
contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade.
cumprimento
da pena
principais
nome no rol
dos culpados
EFEITOS
PENAIS (art. reincidência
91, CP)
regressão
regime
carcerário
reflexos
revogação
sursis
revogação
livramento
condicional
1.6.4 Efeitos extrapenais
[...] a condenação do acusado torna certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime.
Isso significa dizer que, com o trânsito em julgado da sentença condenatória, esta decisão passa
a valer como título executivo judicial, nos termos do art. 475-N, II, do CPC (art. 515, VI, do novo
CPC). Porém, apesar de reconhecido o an debeatur, ou seja, a obrigação de indenizar, resta
definir o quantum debeatur (valor da indenização devida), daí por que a vítima (ou seus
sucessores), independentemente do ajuizamento de uma ação ordinária de conhecimento, deve
promover a liquidação por artigos e ulterior execução no cível. Importante lembrar que, com o
advento da Lei nº 11.719/08, passa a ser possível que, na própria sentença condenatória, ocorra
a fixação de valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os
prejuízos sofridos pelo ofendido (CPP, art. 387, IV). Trata-se de norma processual, daí por que
tem aplicação imediata às sentenças proferidas após a entrada em vigor da Lei n° 11.719/08.
Afinal, o disposto no art. 387, IV, do CPP, apenas modificou o momento em que deve ser fixado
o mencionado valor. Esta importante mudança permite que, doravante, o ofendido não seja
obrigado a promover a liquidação para apuração do quantum debeatur, podendo promover, de
imediato, a execução da sentença condenatória transitada em julgado. Esse valor, todavia, não é
definitivo para a vítima. De fato, de acordo com o art. 63, parágrafo único, do CPP, transitada em
julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo valor fixado nos termos
do inciso IV do art. 387, sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente
sofrido. Esse dever de indenizar pode ser "exercido contra os herdeiros do acusado condenado
por sentença irrecorrível, desde que observados os limites do patrimônio transferido. Como se
trata de efeito extrapenal da condenação, não há falar em violação ao princípio da pessoalidade
da pena (CF, art. 5º, XLV). Outro detalhe importante é que somente pode figurar como legitimado
passivo dessa execução civil lastreada na sentença condenatória irrecorrível aquele que figurou
como acusado no processo penal. Na hipótese de a vítima pretender buscar o ressarcimento
contra eventual responsável civil (e não diretamente em face do acusado), deve ingressar com
ação de conhecimento no juízo cível, já que os efeitos da coisa julgada penal não podem
prejudicar terceiros que não interviram no feito criminal (Lima, 2018).
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte
ou detenção constitua fato ilícito;
[...] deve incidir tão somente sobre os objetos proibidos ou que se encontrassem em situação de
ilegalidade à época do cometimento do delito, e não sobre quaisquer instrumentos utilizados
pelo agente. É sabido que, em regra, os instrumentos utilizados pelo agente para a prática
delituosa (strumenta sceleris) devem ser apreendidos pela autoridade policial, nos termos do art.
6°, II, do CPP. Caso não tenham sido encontrados na cena do crime, é possível que sobre eles
recaia posterior busca domiciliar e/ou pessoal, consoante disposto no art. 240, §§ 1° e 2°, do CPP.
Ao final do processo, se a posse de tais instrumentos constituir fato ilícito, deve ocorrer o
confisco, nos termos do art. 91, II, "a", do CP, ressalvado o direito do lesado (aquele que sofreu
o prejuízo material) e do terceiro de boa-fé (pessoa não vinculada à prática delituosa) (Lima,
2018).
[...] cuida-se do confisco, incidente apenas sobre os objetos proibidos ou que se encontram em
situação de ilegalidade no momento da prática da conduta típica, e não sobre qualquer
instrumento utilizado na prática da infração penal. Observe-se que o art. 91, II, “a”, do CP, é
taxativo quando condiciona a proibição de restituição a que sejam coisas cujo fabrico, alienação,
porte, uso ou detenção constituam fatos ilícitos. A título de ilustração, imaginem-se as seguintes
situações:
Exemplo 1: Certa pessoa, utilizando-se de arma de fogo de uso restrito, mata alguém, sendo
condenado por sentença transitada em julgado. Ora, tratando-se o objeto do crime de
instrumento proibido, deverá ser confiscado, não podendo ser restituído ao agente, mesmo
depois de cumprida sua pena.
Exemplo 2: Considere-se, agora, que o agente tenha sido condenado pelo crime de falsificação
de documentos, o qual praticou com o uso de sua impressora particular. Apreendido esse
equipamento, poderá ser restituído a ele, inclusive antes do trânsito em julgado da sentença,
pois não se trata de objeto de uso ou porte proibido.
Exemplo 3: Suponha-se que um indivíduo venha a matar um desafeto, atropelando-o,
dolosamente, na direção de veículo furtado de terceiro de boa-fé. Nesse caso, prefalado
automóvel encontrava-se em situação de ilegalidade quando praticado o atropelamento, pois foi
furtado. Não obstante, tratando-se de bem pertencente a outrem, poderá ser restituído ao
legítimo titular, pois o art. 91, II, do CP, ressalva do confisco a hipótese em que o instrumento do
crime pertença a terceiro de boa-fé (Avena, 2017).
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente
com a prática do fato criminoso.
dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e
contra eles executadas até o limite do valor do patrimônio transferido" (CF, art. 5º, XLV). Além
disso, a pena restritiva de perda de bens e valores tem destinatário diverso - Fundo Penitenciário,
e não a União -, além de atingir o patrimônio lícito do condenado, ao passo que o confisco alcança
bens ilícitos. Superada essa distinção, convém lembrar que há outros dispositivos constitucionais
e legais que cuidam da perda de bens como efeito da condenação:
a) Consoante disposto no art. 243, caput, da Constituição Federal, com redação dada pela
Emenda Constitucional nº 81 de 2014, as propriedades rurais e urbanas de qualquer região do
país onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho
escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de
habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções
previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. Ademais, todo e qualquer bem
de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins
e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação
específica, na forma da lei (CF, art. 243, parágrafo único, com redação dada pela Emenda
Constitucional 81 de 2014);
b) Por força do art. 62 da Lei de Drogas, é possível o confisco de veículos, embarcações, aeronaves
e quaisquer outros meios de transporte, os maquinários, utensílios, instrumentos e objetos de
qualquer natureza, utilizados para a prática dos crimes definidos na Lei nº 11.343/06;
c) A lei que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor prevê que, na hipótese
do crime do art. 20 ser cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação
de qualquer natureza, constitui efeito da condenação transitada em julgado a destruição do
material apreendido (Lei nº 7.716/89, art. 20, § 4º);
d) A Lei nº 9.613/98, com redação dada pela Lei nº 12.683/12, também prevê como efeito da
condenação a perda, em favor da União - e dos Estados, nos casos de competência da Justiça
Estadual -, de todos os bens, direitos e valores relacionados, direta ou indiretamente, à prática
dos crimes previstos nesta Lei, inclusive aqueles utilizados para prestar a fiança, ressalvado o
direito do lesado ou de terceiro de boa-fé;
e) De acordo com o art. 184 da Lei nº 9.472/97, que prevê o crime de desenvolvimento
clandestino de telecomunicações em seu art. 183, um dos efeitos da condenação é a perda, em
favor da Agência Nacional de Telecomunicações, ressalvado o direito do lesado ou de terceiros
de boa-fé, dos bens empregados na atividade clandestina, sem prejuízo de sua apreensão
cautelar (Lima, 2018).
Efeitos extrapenais específicos: são “chamados de extrapenais porque repercutem em outros ramos do
direito, à exceção do Penal” (Lima, 2018). “Não são automáticos e tampouco obrigatórios, dependendo, para
que se operem, de declaração fundamentada na sentença condenatória. Esta motivação deve ser
direcionada à demonstração de que, além de se tratar de hipótese que autoriza a aplicação do efeito, este
se mostra adequado ao caso concreto que gerou a condenação” (Avena, 2017). Nesse sentido, a propósito,
é muito claro o parágrafo único do art. 92 do Código Penal:
Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser
motivadamente declarados na sentença.
Esta fundamentação a que se refere o Código Penal não se satisfaz com a mera reprodução dos
critérios objetivos previstos na lei para a aplicação de tais efeitos (v.g., no caso de perda de cargo,
aplicação de pena privativa superior a um ano e crime praticado com abuso de poder). Exige-se,
ademais, que o magistrado aponte a necessidade e adequação de tal medida às circunstâncias
fáticas que deram ensejo à condenação do acusado. Nessa linha, como já se pronunciou o STJ, os
efeitos específicos da condenação não são automáticos, mesmo que presentes, em princípio, os
requisitos do art. 92, I, do Código Penal. Deve a sentença declarar, motivadamente, os
fundamentos da perda do cargo, função pública ou mandato eletivo, em fiel observância do art.
92, parágrafo único, do CP, c/c art. 93, IX, da Constituição Federal, sob pena de reconhecimento
da nulidade do dispositivo da sentença condenatória em relação a esse ponto.
Outro detalhe importante acerca desses efeitos é que sua aplicação não está condicionada à
existência de requerimento expresso nesse sentido constante da peça acusatória. Ora, sendo a
perda do cargo, função pública ou mandato eletivo, conforme disposto no artigo 92 do Código
Penal, consequência da condenação, mostra-se dispensável a veiculação, na denúncia, de pedido
visando a sua implementação.
O Pacote Anticrime introduziu o chamado confisco alargado de bens, nos seguintes termos:
Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior
a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime,
dos bens correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que
seja compatível com o seu rendimento lícito.
§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do
condenado todos os bens:
I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou
indireto, na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e
§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público,
por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada.
ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
É um efeito específico e, nessa condição, não se aplica a todos os casos (somente condenações por crimes
que tenham cominada pena máxima maior que 6 anos), automaticamente e nem de ofício, dependendo de
requerimento expresso do Ministério Público, na denúncia e com indicação da diferença apurada (§ 3º), para
efeito de viabilizar contraditório e ampla defesa durante o curso do processo.
Em relação ao disposto no § 2º, parte da doutrina vem entendo a disposição como inversora do ônus da
prova e questionando a sua constitucionalidade:
Com críticas contundentes e tratando sobre o objeto desse confisco alargado, vejam-se as ponderações de
CEZAR ROBERTO BITENCOURT:
O objeto desse ‘confisco’ deste art. 91-A, no entanto, não serão os instrumentos ou produtos do
crime, como ocorre no ‘confisco-efeito da condenação’ constante do art. 91, propriamente, mas
é o próprio patrimônio do condenado, em qualquer crime com pena superior a seis anos, mesmo
que não seja daqueles praticados contra a Administração Pública. Trata-se, dito em bom
português, de locupletação indevida dos cofres públicos, para não usar um termo mais forte!
Ademais, o objeto desse novo ‘confisco’ previsto pelo art. 91-A não é o produto ou proveito do
crime, o que seria mais do que razoável, além de constitucional, mas sim os bens correspondentes
à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu
rendimento lícito, segundo valoração do judiciário, portanto, independente de qualquer vínculo
ou relação com o crime pelo qual fora condenado! Trata-se, repetindo, de absurdo e vergonhoso
confisco de bens do cidadão, sem causa legítima. O que será isso, essa ‘perda de bens’, senão um
autêntico, odioso e vergonhoso confisco do patrimônio do cidadão sem justa causa? (Bitencourt,
Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal - Vol. 1 - Parte Geral – 26ª edição de 2020)
Esse é um panorama geral, apenas para efeito de contextualização, do confisco alargado trazido pela Lei
13.964/2019, tema que pertence mais aos campos do direito material. De qualquer modo, já percebemos as
dificuldades de implementação do instituto, com respeitáveis vozes apontando sua inconstitucionalidade.
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes
praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos
demais casos.
[...] para efeitos penais, distintamente do que ocorre no âmbito do direito administrativo,
considera-se funcionário público quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce
cargo, emprego ou função pública. Destarte, para a caracterização do conceito de funcionário
público, é desnecessária a permanência ou remuneração pelo Estado, pois, além de cargo ou
emprego, a lei penal menciona função pública, deixando claro que, na ótica penal, para que seja
alguém considerado funcionário público, basta o simples exercício de uma função pública. Neste
contexto, exercendo o indivíduo as atribuições pertinentes a um cargo ou, simplesmente, uma
função pública, poderá estar sujeito à perda, caso seja isto motivadamente declarado no âmbito
da própria sentença condenatória – desde, é claro, que ocorrentes as situações mencionadas no
art. 92, I, do Estatuto Repressivo. [...] Diante do trânsito em julgado de sentença penal
condenatória que decreta a perda do cargo ou função pública, a autoridade administrativa tem
o dever de proceder à demissão do servidor ou à cassação da aposentadoria,
independentemente da instauração de processo administrativo disciplinar, que se mostra
desnecessária. Isso porque qualquer resultado a que chegar a apuração realizada no âmbito
administrativo não terá o condão de modificar a força do decreto penal condenatório.
Evidentemente, o efeito extrapenal em exame não se aplica a juízes e membros do Ministério
Público, que têm assegurada a garantia da vitaliciedade nos arts. 95, I, e 128, § 5.º, I, “a”, ambos
da CF, somente podendo ser demitidos mediante ação judicial própria.
Questão controvertida refere-se aos senadores e deputados federais. Isto porque, relativamente
a estes, a Constituição Federal, em tese, condiciona a perda do mandato em face da sentença
penal condenatória transitada em julgado a que haja deliberação neste sentido, tomada por voto
secreto e por maioria absoluta da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, mediante
provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional,
assegurada, ainda, a ampla defesa (art. 55, VI e § 2.º, da CF). A mesma regra estender-se-ia aos
deputados estaduais, em face do que estabelece o art. 27, § 1.º, da CF, não alcançando, porém,
os vereadores, que se submetem integralmente à disciplina do art. 92, I, do CP.
Ocorre que, inovando sobre o tema, em 17.12.2012, o STF, no julgamento da Ação Penal
Originária 470/MG, relativa ao caso conhecido como “mensalão”, decidiu, por maioria de votos,
que uma vez condenado criminalmente um réu detentor de mandato eletivo, caberá ao Poder
Judiciário decidir, em definitivo, sobre a perda do mandato, não competindo ao Poder Legislativo
II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos,
sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado;
A incapacidade, prevista no art. 92, II, do CP, como efeito da sentença condenatória, independe
da quantidade de pena aplicada, sendo o bastante que se trate de crime doloso, punido com
reclusão e que, por sua natureza, reiteração ou modo de execução, revele-se incompatível com
o exercício de poder familiar, tutela ou curatela. É o caso, por exemplo, do pai condenado por
estupro contra uma de suas filhas. Em reforço à disposição do Código Penal, estabelece o art. 23,
§ 2.º, da Lei 8.069/1990 (incluído pela Lei 12.962/2014) que “a condenação criminal do pai ou da
mãe não implicará a destituição do poder familiar, exceto na hipótese de condenação por crime
doloso, sujeito à pena de reclusão, contra o próprio filho ou filha”.
A incapacitação para o exercício do poder familiar, como efeito da sentença criminal
condenatória, alcança tanto o filho contra o qual foi praticada a infração penal como os demais
filhos, desde que a eles tenha sido estendido o gravame. Todavia, há uma diferença fundamental:
é que, relativamente ao filho que foi vítima do delito, o efeito é permanente; já no tocante aos
demais é possível a reversão, com retomada do poder familiar, caso o condenado venha a ser
beneficiado com a reabilitação criminal de que trata o art. 93 do CP. Esta, inclusive, é a
interpretação consagrada pela jurisprudência sobre o art. 93, parágrafo único, do Código Penal,
quando preceitua que a reabilitação poderá atingir os efeitos do art. 92, vedada a reintegração
na situação anterior nos casos dos incisos I e II. “A declaração de incapacidade para o exercício
do pátrio poder, como efeito da sentença criminal condenatória, tem caráter permanente com
relação ao filho contra o qual foi praticada a infração penal, e também permanente para os
demais, desde que a eles tenha sido estendida o gravame, sujeita, no entanto, quanto a estes, a
suspensão, ditada pela reabilitação (art. 93 do CP)”.
Exemplo: Considere-se que determinado indivíduo seja condenado por estupro contra uma de
suas filhas. Sobrevindo sentença condenatória e sendo a incapacidade para o exercício do poder
familiar determinada no decisum, ficará o dito genitor privado do seu exercício não apenas
quanto à filha violentada, mas também em relação a todos os demais filhos que porventura tiver.
Contudo, quanto a estes últimos, será possível o restabelecimento da situação anterior
(retomada do poder familiar) na hipótese de, cumprida a pena imposta, ser deferida a
reabilitação criminal do condenado (art. 93, parágrafo único, do CP).
Frise-se que o efeito é próprio da condenação pela prática de crime doloso, não se estendendo
aos delitos culposos e às contravenções penais. Ademais, tratando-se de efeito específico, sua
aplicação fica restrita aos casos em que a declaração da incapacidade seja necessária e
conveniente, nos termos de exaustiva fundamentação do magistrado no corpo da sentença
condenatória.
Parcela doutrinária defende o entendimento de que este efeito teria sido revogado pelo Estatuto
da Criança e do Adolescente, em vigor desde 1990, quando estatuiu que a perda e a suspensão
do poder familiar dependerão de ação própria, respeitado o contraditório (art. 24 da Lei
8.069/1990). Seguindo a posição dominante, filiamo-nos à corrente oposta, vale dizer, no sentido
de que não há repercussão da Lei 8.069/1990 sobre a aludida previsão do Código Penal. Isto
porque, no caso do art. 92, II, do CP, a perda do poder familiar é efeito extrapenal de uma
sentença condenatória, diferentemente da previsão do Estatuto da Criança e do Adolescente,
em que a perda ou suspensão do poder familiar é decorrência do descumprimento dos deveres
dos pais em relação aos filhos menores, independentemente de se tratar ou não esta violação
de prática criminosa (Avena, 2017).
Vale o apontamento de que a Lei 13.715, de 2018, alterou o art. 23, § 2º do Estatuto da Criança
e do Adolescente, bem como o art. 1.638 do Código Civil, para efeito de estender a possibilidade
de perda do poder familiar para aquele que praticar crime contra vítima “igualmente titular do
mesmo poder familiar”. Como exemplo, a hipótese de o pai praticar o crime não contra o filho,
mas sim contra a mãe.
III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso.
Observe-se, por derradeiro, que esta ordem de efeito é atingida plenamente pela reabilitação
criminal, conforme se depreende da regra do art. 93, parágrafo único, do Estatuto Repressivo.
Isto significa dizer que, reabilitado o indivíduo, este retoma automaticamente a possibilidade de
conduzir veículos automotores ou de habilitar-se a esta finalidade (Avena, 2017).
NORBERTO AVENA ainda destaca 3 efeitos da condenação que seriam decorrentes de previsão constitucional:
reparação
dano
obrigatórios
perda
bens/coisas
EFEITOS
EXTRAPENAIS
perda
(art. 92, CP)
cargo/função
incapacitação
específicos
poder familiar
inabilitação
direção
veículo
1. Suspensão dos direitos políticos: Nos termos do art. 15, III, da Carta da República, a
condenação criminal transitada em julgado, enquanto perdurarem seus efeitos, acarreta,
automática e obrigatoriamente, a suspensão dos direitos políticos do condenado. A suspensão
cessa apenas com o cumprimento ou a extinção da pena, independendo de reabilitação ou de
prova de reparação de danos (Súmula 9 do TSE). O referido art. 15, III, da Constituição Federal
aplica-se como consequência direta e imediata do trânsito em julgado da condenação,
independente de fundamentação na sentença a respeito. Além disso, como refere ALEXANDRE DE
MORAES, é indiferente o tipo de infração penal cometida, abrangendo não só aquelas decorrentes
da prática de crimes dolosos ou culposos, mas também as decorrentes de contravenção penal,
independentemente da aplicação de pena privativa de liberdade, pois a ratio do citado
dispositivo é permitir que os cargos públicos eletivos sejam reservados somente para os cidadãos
insuspeitos, preservando-se a dignidade da representação democrática. Nessa esteira, também,
já se pronunciou o STF, observando que “não é o recolhimento do condenado à prisão que
justifica a suspensão de seus direitos políticos, mas o juízo de reprovabilidade expresso na
condenação”. Outro aspecto a atentar é que a suspensão dos direitos perdura pelo tempo em
que persistirem as sanções impostas ao condenado, não importando o fato de encontrar-se ele
em gozo de livramento condicional, suspensão condicional da pena (sursis) ou prisão domiciliar.
2. Impedimento à naturalização: conforme estabelecido no art. 12, II, “b”, da Constituição
Federal, consideram-se brasileiros naturalizados “os estrangeiros de qualquer nacionalidade,
residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem
condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira” (grifamos). Portanto, a
existência de condenação criminal transitada em julgado obsta o processo de naturalização do
estrangeiro.
Doutrina complementar
NORBERTO AVENA (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017). “São efeitos
penais principais ou primários da sentença condenatória transitada em julgado a aplicação da pena, que
pode ser privativa da liberdade, restritiva de direito ou pena de multa, bem como a inclusão do nome do
réu no rol dos culpados. Questão importante concerne à possibilidade de execução imediata desses
efeitos, vale dizer, independente do trânsito em julgado da sentença condenatória. Não é possível tal
execução”.
FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018). “São efeitos da sentença
condenatória: (i) certeza da obrigação de reparar o dano resultante da infração: nesse ponto a sentença é
meramente declaratória, uma vez que a obrigação de reparar o dano surge com o crime, e não com a
sentença (CPP, art. 63); (ii) perda de instrumentos ou do produto do crime: conforme art. 91, II, do Código
Penal; (iii) outros efeitos previstos no art. 92 do Código Penal (vide incisos: a perda do cargo, função
pública...); (iv) prisão do réu: no tocante à prisão decorrente de sentença condenatória recorrível, convém
informar que o art. 594 do CPP, que dispõe que o réu não poderá apelar sem recolher-se à prisão, ou
prestar fiança, salvo se for primário e de bons antecedentes, assim reconhecido na sentença condenatória,
ou condenado por crime de que se livre solto, foi revogado expressamente pela Lei n. 11.719/2008. Da
mesma forma, o art. 595 do CPP também acabou sendo revogado pela Lei n. 12.403/2011, pois se o réu não
precisa recolher-se à prisão para recorrer, caso fuja, a apelação não poderá se tornar deserta. Cumpre
consignar que, na atual sistemática do Código de Processo Penal, “o juiz decidirá, fundamentadamente,
sobre a manutenção ou, se for o caso, imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem
prejuízo do conhecimento da apelação que vier a ser interposta” (CPP, art. 387, § 1º). Assim, o réu somente
será preso se estiverem presentes os requisitos da prisão preventiva e a sua segregação cautelar deixou
de ser condição para o conhecimento do recurso. [...]Agora, antes da condenação definitiva, o sujeito só
pode ser preso em três situações: flagrante delito, prisão preventiva e prisão temporária (CPP, art. 283).
Em momento anterior à sentença final, só haverá prisão se demonstradas a sua necessidade e urgência.
Mesmo assim, se couberem outras medidas coercitivas menos drásticas, como, por exemplo, obrigação
de comparecer ao fórum mensalmente, proibição de se ausentar da comarca, submeter-se ao
monitoramento eletrônico etc., não se imporá a prisão preventiva (CPP, art. 319); (v) lançamento do nome
no rol dos culpados (art. 393, II): Por força do art. 5º, LVII, da CF, o lançamento do réu no rol dos culpados
jamais poderia ocorrer antes do trânsito em julgado da decisão final. De qualquer modo, a Lei n.
12.403/2011, em seu art. 4º, cuidou de revogar expressamente aludido dispositivo legal”.
NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016). “Os artigos 91 e 92,
do Código Penal, rezam sobre os seguintes efeitos condenatórios: 1) “tornar certa a obrigação de indenizar
o dano causado pelo crime”, sendo a sentença condenatória penal um título executivo judicial que
legitima o ofendido a ajuizar, de plano, ação executiva, na parte líquida. Do eventual remanescente
ilíquido, exige-se a competente liquidação (art. 63, CPP); 2) “a perda em favor da União” dos produtos do
crime ou de bem decorrente do proveito do delito, bem como dos instrumentos do crime cujo porte,
fabrico, uso, alienação ou detenção constitua fato ilícito, “ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de
boa-fé”. Ressalte-se que há outras hipóteses de perda de bens tanto na Constituição quanto na legislação
extravagante, consoante o art. 243, CF/1988, que prevê a expropriação de glebas usadas para “culturas
ilegais de plantas psicotrópicas” e o confisco de “todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em
decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins”; os arts. 63 e 72 da Lei nº 11.343/2006, que
disciplinam o perdimento de bens a ser explicitado na sentença e de destruição da substância
entorpecente apreendida; o art. 20, § 4º, da Lei nº 7.716/1989, que estabelece como “efeito da condenação,
após o trânsito em julgado da decisão, a destruição” de “símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou
propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada” empregados para fins de divulgação do nazismo; e
o art. 7º da Lei nº 9.613/1998, com redação dada pela Lei nº 12.683/2012, que prevê a perda de todos os bens,
direitos e valores relacionados, direta ou indiretamente, à prática dos crimes previstos na lei, incluídos os
bens utilizados para prestar fiança. 3) “a perda de cargo ou função pública ou mandato eletivo” quando
aplicada pena superior a quatro anos ou, nos crimes contra a Administração Pública, se a pena for igual
ou superior a um ano (efeito do art. 92, I, CP, que não é automático e deve restar motivado na sentença, a
teor do seu parágrafo único). Este efeito não se aplica a juízes e membros do Ministério Público, aos quais
é assegurada a garantia da vitaliciedade (arts. 95, I e 128, § 5º, I, “a”, da CF/1988), dependendo a perda do
cargo de ação própria, tampouco aos senadores e deputados federais, cuja perda do mandado dependerá
de deliberação da respectiva casa, mediante provocação dos legitimados pelo art. 55, § 2º, CF/1988,
estendendo-se esta regra aos deputados estaduais, por disposição do art. 27, § 1º, CF/1988. 4) “a
incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de
reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado” (efeito do art. 92, II, CP, que não é automático e
deve restar motivado na sentença, a teor do seu parágrafo único); 5) “a inabilitação para dirigir veículo,
quando utilizado como meio para a prática de crime doloso” (efeito do art. 92, III, CP, que não é automático
e deve restar motivado na sentença, a teor do seu parágrafo único)”.
Jurisprudência pertinente
Súmulas
Súmula 231, STJ: A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução
da pena abaixo do mínimo legal.
Súmula 442, STJ: É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes,
a majorante do roubo.
Súmula 443, STJ: O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo
circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua
exasperação a mera indicação do número de majorantes.
Súmula 444, STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso
para agravar a pena-base.
Súmula 493, STJ: É inadmissível a fixação de pena substitutiva (art. 44 do CP) como
condição especial ao regime aberto.
Súmula 545, STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento
do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, d, do Código Penal.
Súmula 587, STJ: Para a incidência da majorante prevista no art. 40, V, da Lei n.
11.343/2006, é desnecessária a efetiva transposição de fronteiras entre estados da
Federação, sendo suficiente a demonstração inequívoca da intenção de realizar o
tráfico interestadual.
Súmula 588, STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com
violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos.
Súmula 607, STJ: A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei nº
11.343/2006) configura-se com a prova da destinação internacional das drogas, ainda
que não consumada a transposição de fronteiras.
Supremo Tribunal Federal - STF
SENTENÇA CONDENATÓRIA – PRESCRIÇÃO – PRAZO – EFICÁCIA INTERRUPTIVA – MANUTENÇÃO. A
desconstituição parcial do título condenatório, considerado acolhimento de pedido em revisão criminal,
concedida. (STJ – HC 150160 / SP - SÃO PAULO HABEAS CORPUS Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO
Redator(a) do acórdão: Min. ALEXANDRE DE MORAES Julgamento: 12/03/2019 Publicação: 03/06/2019).
[...] 1. A legislação penal é muito clara em diferenciar os maus antecedentes da reincidência. O art. 64, do
CP, ao afastar os efeitos da reincidência, o faz para fins da circunstância agravante do art. 61, I; não para a
fixação da pena-base do art. 59, que trata dos antecedentes. 2. Não se pretende induzir ao raciocínio de
que a pessoa que já sofreu condenação penal terá registros criminais valorados pelo resto da vida, mas
que, havendo reiteração delitiva, a depender do caso concreto, o juiz poderá avaliar essa sentença
condenatória anterior. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF – RE 901145 AgR / SP,
Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES Julgamento: 26/10/2018).
[...] Cultivo ilegal de plantas psicotrópicas. Expropriação. Art. 243 da CF/88. [...] Responsabilidade subjetiva,
com inversão de ônus da prova. [...] Fixada a tese: “A expropriação prevista no art. 243 da CF pode ser
afastada, desde que o proprietário comprove que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in
eligendo”.[...] (RE 635336, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 14/12/2016).
[...] É possível o confisco de todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do
tráfico de drogas, sem a necessidade de se perquirir a habitualidade, reiteração do uso do bem para tal
finalidade, a sua modificação para dificultar a descoberta do local do acondicionamento da droga ou
qualquer outro requisito além daqueles previstos expressamente no artigo 243, parágrafo único, da
Constituição Federal. [...] (RE 638491, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 17/05/2017,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-186 DIVULG 22-08-2017).
QUESTÃO DE ORDEM NA AÇÃO PENAL. CONSTITUCIONAL. PERDA DE MANDATO PARLAMENTAR.
SUSPENSÃO E PERDA DOS DIREITOS POLÍTICOS. 1. A perda do mandato parlamentar, no caso em pauta,
deriva do preceito constitucional que impõe a suspensão ou a cassação dos direitos políticos. 2. Questão
de ordem resolvida no sentido de que, determinada a suspensão dos direitos políticos, a suspensão ou a
perda do cargo são medidas decorrentes do julgado e imediatamente exequíveis após o trânsito em
julgado da condenação criminal, sendo desimportante para a conclusão o exercício ou não de cargo
eletivo no momento do julgamento. (AP 396 QO, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado
em 26/06/2013).
[...] Perda do mandato parlamentar: É da competência das Casas Legislativas decidir sobre a perda do
mandato do Congressista condenado criminalmente (artigo 55, VI e § 2º, da CF). Regra excepcionada –
adoção, no ponto, da tese proposta pelo eminente revisor, Ministro Luís Roberto Barroso -, quando a
condenação impõe o cumprimento de pena em regime fechado, e não viável o trabalho externo diante
da impossibilidade de cumprimento da fração mínima de 1/6 da pena para a obtenção do benefício
durante o mandato e antes de consumada a ausência do Congressista a 1/3 das sessões ordinárias da Casa
Legislativa da qual faça parte. Hipótese de perda automática do mandato, cumprindo à Mesa da Câmara
dos Deputados declará-la, em conformidade com o artigo 55, III, § 3º, da CF. Precedente: MC no MS
32.326/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, 02.9.2013. 8. Suspensão dos direitos políticos do condenado quando
do trânsito em julgado da condenação (art. 15, III, da CF). (AP 694, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira
Turma, julgado em 02/05/2017).
PENA – FIXAÇÃO – ANTECEDENTES CRIMINAIS – INQUÉRITOS E PROCESSOS EM CURSO –
DESINFLUÊNCIA. Ante o princípio constitucional da não culpabilidade, inquéritos e processos criminais
em curso são neutros na definição dos antecedentes criminais. (RE 591054, Relator(a): Min. MARCO
AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 17/12/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL -
MÉRITO).
[...] Quando o paciente não pode ser considerado reincidente, diante do transcurso de lapso temporal
superior a cinco anos, conforme previsto no art. 64, I, do Código Penal, a existência de condenações
anteriores não caracteriza maus antecedentes. Precedentes. [...] (HC 119200, Relator(a): Min. DIAS
TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 11/02/2014).
[...] 1. A circunstância judicial conduta social, prevista no art. 59 do Código Penal, compreende o
comportamento do agente no meio familiar, no ambiente de trabalho e no relacionamento com outros
indivíduos. Vale dizer, os antecedentes sociais do réu não se confundem com os seus antecedentes
criminais. São vetores diversos, com regramentos próprios. Doutrina e jurisprudência. 2. Assim, revela-se
inidônea a invocação de condenações anteriores transitadas em julgado para considerar a conduta social
desfavorável, sobretudo se verificado que as ocorrências criminais foram utilizadas para exasperar a
sanção em outros momentos da dosimetria. 3. Recurso ordinário em habeas corpus provido. (RHC 130132,
Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 10/05/2016).
[...] I – A circunstância judicial – mal causado pelo tóxico – valorada negativamente pelo juízo sentenciante
é ínsita à conduta delituosa, incorporada ao próprio tipo penal, não podendo, pois, ser utilizada como
elemento hábil a proporcionar a majoração da reprimenda, sob pena de indesejado bis in idem. II – No
caso sob exame, o intuito de obter lucro fácil também está contido na conduta de comercializar a droga,
de modo que não cabe invocá-lo para o fim de majorar a pena-base, ante a possibilidade de, novamente,
incorrer-se em bis in idem. [...] (HC 107532, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 08/05/2012).
[...] Tráfico de entorpecentes. Crime praticado durante a vigência da Lei nº 11.464/07. Pena inferior a 8 anos
de reclusão. Obrigatoriedade de imposição do regime inicial fechado. Declaração incidental de
inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90. Ofensa à garantia constitucional da
individualização da pena (inciso XLVI do art. 5º da CF/88). Fundamentação necessária (CP, art. 33, § 3º, c/c
o art. 59). Possibilidade de fixação, no caso em exame, do regime semiaberto para o início de cumprimento
da pena privativa de liberdade. Ordem concedida. [...] Ordem concedida tão somente para remover o
óbice constante do § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº 11.464/07, o qual
determina que “[a] pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado“.
Declaração incidental de inconstitucionalidade, com efeito ex nunc, da obrigatoriedade de fixação do
regime fechado para início do cumprimento de pena decorrente da condenação por crime hediondo ou
equiparado. (HC 111840, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 27/06/2012).
[...] TRÁFICO DE DROGAS. ART. 44 DA LEI 11.343/2006: IMPOSSIBILIDADE DE CONVERSÃO DA PENA
PRIVATIVA DE LIBERDADE EM PENA RESTRITIVA DE DIREITOS. DECLARAÇÃO INCIDENTAL DE
INCONSTITUCIONALIDADE. OFENSA À GARANTIA CONSTITUCIONAL DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA
(INCISO XLVI DO ART. 5º DA CF/88). [...] Ordem parcialmente concedida tão-somente para remover o óbice
da parte final do art. 44 da Lei 11.343/2006, assim como da expressão análoga “vedada a conversão em
penas restritivas de direitos”, constante do § 4º do art. 33 do mesmo diploma legal. Declaração incidental
de inconstitucionalidade, com efeito ex nunc, da proibição de substituição da pena privativa de liberdade
pela pena restritiva de direitos; determinando-se ao Juízo da execução penal que faça a avaliação das
condições objetivas e subjetivas da convolação em causa, na concreta situação do paciente. (HC 97256,
Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 01/09/2010).
Superior Tribunal de Justiça - STJ
[...] 4. A perda de cargo público descrita no art. 92, I, a, do Código Penal não é decorrência lógica de
sentença condenatória, visto que exige, além de fundamentação concreta, adequação ao princípio da
proporcionalidade, devendo ser avaliadas as circunstâncias em que o delito foi praticado e a pena
aplicada. 5. Nos termos do art. 92, I, do CP, é inidônea a fundamentação de decisão de perda de cargo
público que se limita a apontar ofensa a bem jurídico em decorrência de abuso de poder ou de violação
de dever para com a administração pública. 6. Agravo regimental parcialmente provido. (STJ - AgRg nos
EDcl no REsp: 1868513 SP 2020/0071148-6, Relator: Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Data de
Julgamento: 06/04/2021, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 09/04/2021).
[...] 1. É firme a jurisprudência desta Corte Superior no sentido de que o período ao qual o Decreto
Presidencial se refere, para fins de indulto, é aquele correspondente à prisão pena, não se computando,
para o preenchimento do requisito objetivo, o período relativo à detração penal, que se opera diante de
constrição por medida cautelar. Precedentes. 2. Na espécie, o Tribunal de origem concluiu pela
possibilidade de cômputo da detração do tempo de prisão provisória como pena cumprida, para fins de
concessão do indulto natalino previsto no Decreto Presidencial n. 9.246/2017, extinguindo,
consequentemente, a punibilidade do apenado em relação aos fatos objeto da execução penal em
questão. Diante da dissonância entre referido entendimento e a jurisprudência consolidada deste
Superior Tribunal de Justiça, o benefício do indulto concedido ao apenado foi afastado no decisum
monocrático agravado, o que não merece reparos. 3. Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg no
AREsp: 1789603 GO 2020/0301823-4, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Data de
Julgamento: 13/04/2021, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 19/04/2021).
[...] 1. Reconhecida a impugnação a todos os fundamentos da decisão atacada, deve ser conhecido o
agravo em recurso especial. 2. É entendimento desta Corte que o direito de visita tem objetivo de
ressocialização do condenado, não podendo ser negado sob o fundamento de o visitante estar cumprindo
pena em regime aberto, já que os efeitos da sentença penal condenatória não podem restringir o gozo
de outros direitos individuais, ante as vedações constitucionais à perpetuidade e à transcendência da
sanção penal. 3. Agravo regimental provido para dar provimento ao agravo em recurso especial. (STJ -
AgRg no AREsp: 1650427 DF 2020/0014809-5, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento:
30/06/2020, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 06/08/2020).
[...] 2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça não reconhece bis in idem quando condenações
distintas são utilizadas para avaliar negativamente a circunstância agravante da reincidência e a
circunstância judicial relacionada aos antecedentes criminais. 3. Deve ser reconhecida a confissão parcial
do acusado, pois ele assumiu ter puxado o celular da mão da vítima, confirmando a prática de um furto; e
a confissão, ainda que parcial, desde que empregada para fundamentar a condenação, deve servir para
atenuar a pena, nos termos do art. 65, inciso III, alínea d, do Código Penal. 4. [...] a Terceira Seção deste
Superior Tribunal pacificou o entendimento de que é possível, na segunda fase da dosimetria da pena, a
compensação da agravante da reincidência com a atenuante da confissão espontânea, por serem
igualmente preponderantes, de acordo com o art. 67 do Código Penal. 5. Habeas corpus concedido de
ofício para redimensionar a pena, nos termos do voto. (STJ - HC: 528390 SP 2019/0247669-6, Relator:
Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Data de Julgamento: 10/03/2020, T5 - QUINTA TURMA, Data
de Publicação: DJe 25/03/2020).
[...] 1. A despeito da inexistência de previsão legal para a detração penal na hipótese de submissão do
sentenciado a medidas cautelares diversas da prisão, o período de recolhimento domiciliar noturno, por
comprometer o status libertatis, deve ser detraído da pena em observância aos princípios da
proporcionalidade e do non bis in idem. 2. Agravo regimental provido. (STJ - AgRg no HC: 565899 SP
2020/0061961-4, Relator: Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Data de Julgamento: 27/10/2020, T5 -
QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 12/11/2020).
[...] 1. Nos termos da jurisprudência desta Corte Superior de Justiça, à exceção dos casos do crime de
tortura - que não é a hipótese dos autos - , a perda de cargo ou função pública prevista no inciso I do art.
92 do Código Penal não é consequência automática da condenação, sendo necessário existir
fundamentação concreta e específica para esse desiderato, o que não foi delineado, na espécie, pelas
instâncias ordinárias. 2. Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg no AREsp: 1638764 PR 2019/0383629-
4, Relator: Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento: 03/11/2020, T6 - SEXTA TURMA).
[...] 1. No tocante à suposta ausência de fundamentação idônea para a exasperação da basal, vale registrar
que, nos termos do art. 59 do Código Penal, o magistrado sentenciante deve efetuar a dosimetria da pena
"atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos,
às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima". 2. Essa
ponderação não se revela numa mera operação aritmética, em que se atribuem pesos absolutos a cada
uma das circunstâncias judiciais, mas sim num exercício de discricionariedade vinculada, pautada pela
proporcionalidade, razoabilidade e pelo princípio da individualização da pena. 3. No caso concreto, as
instâncias ordinárias elevaram a pena-base levando em consideração uma das qualificadoras, as
circunstâncias do delito e a repercussão no núcleo familiar da vítima. 4. A pena para o delito de homicídio
qualificado é de reclusão de 12 a 30 anos. Como a diferença entre a pena mínima e a máxima para o delito
praticado é de 18 anos, é proporcional o aumento para cada circunstância negativada em até 3 anos (1/6
de 18 anos). 5. A jurisprudência deste Superior Tribunal firmou-se no sentido de que a exasperação da
basal, pela negativação de circunstâncias judiciais, deve seguir o parâmetro de 1/6 (um sexto) para cada
circunstância valorada, fração que se firmou em estrita observância aos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade. 6. O Magistrado sentenciante majorou a pena básica em 10 anos, ante a negativação
de quatro circunstâncias judiciais. Cada circunstância, portanto, representou um aumento de 2 anos e 6
meses na pena, quantum inferior ao considerado proporcional por esta Corte. 7. Agravo regimental a que
se nega provimento. (STJ - AgRg no HC: 559940 SP 2020/0025144-6, Relator: Ministro ANTONIO
SALDANHA PALHEIRO, Data de Julgamento: 12/08/2020, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe
17/08/2020).
contidos no dispositivo, sob pena de violação ao princípio que proíbe o emprego da interpretação
analógica in malam partem, como consectário lógico do princípio da reserva legal, que veda a imposição
de penalidade sem previsão legal prévia e expressa. Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg no AREsp:
980297 RN 2016/0237726-8, Relator: Ministro FELIX FISCHER, Data de Julgamento: 20/03/2018, T5 - QUINTA
TURMA, Data de Publicação: DJe 23/03/2018).
[...] No presente caso, o agente praticou o delito quando ocupava emprego público na Empresa Brasileira
de Correios e Telégrafos, tendo sido aprovado em concurso público para outro cargo na Universidade
Federal de Pernambuco, durante o trâmite processual. 9. Em regra, a pena de perdimento deve ser restrita
ao cargo público ocupado ou função pública exercida no momento do delito. Assim, a perda do cargo
público, por violação de dever inerente a ela, necessita ser por crime cometido no exercício desse cargo,
valendo-se o envolvido da função para a prática do delito. 10. Salienta-se que se o Magistrado a quo
considerar, motivadamente, que o novo cargo guarda correlação com as atribuições do anterior, ou seja,
naquele em que foram praticados os crimes, mostra-se devida a perda da nova função, uma vez que tal
ato visa a anular a possibilidade de reiteração de ilícitos da mesma natureza, o que não ocorreu no caso.
Dessa forma, como o crime em questão fora praticado quando o acusado era empregado público da
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, não poderia, sem qualquer fundamentação e por extensão,
ser determinada a perda do cargo na UFPE. [...] (REsp 1452935/PE, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 14/03/2017, DJe 17/03/2017).
[...] A Sexta Turma desta Corte não tem admitido a cassação da aposentadoria como consectário lógico
da condenação criminal, em razão de ausência de previsão legal. Precedente. [...] (RMS 31.980/ES, Rel.
Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 02/10/2012, DJe 30/10/2012).
[...] Condenado por crime funcional praticado em atividade, anteriormente à aposentaria, que se deu no
curso da ação penal, não é possível declarar a perda do cargo e da função pública de servidor inativo,
como efeito específico da condenação. A cassação da aposentadoria, com lastro no art. 92, I, alínea "a", do
Código Penal, é ilegítima, tendo em vista a falta de previsão legal e a impossibilidade de ampliar essas
hipóteses em prejuízo do condenado. [...] (REsp 1416477/SP, Rel. Ministro WALTER DE ALMEIDA
GUILHERME (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), QUINTA TURMA, julgado em 18/11/2014, DJe
26/11/2014).
[...] 1. Cinge-se a controvérsia à possibilidade de efeitos extrapenais do decisum condenatório de agente
político (prefeito) alcançarem novo mandato - recondução ao cargo público obtida por meio de eleições
democráticas -, a provocar o afastamento do cargo atual (arts. 83 e 89 da Lei n. 8.666/1993). 2. No caso, ao
contrário da pretensão recursal - em relação ao pedido de afastamento de prefeito eleito para novo
mandato -, o acórdão estadual não violou o art. 83 da Lei n. 8.666/1993, pois, se fosse julgado e condenado
em 2001, ao tempo em que era prefeito (mandato de 2001 a 2004), não resta dúvida de que perderia o
mandato eletivo, em decorrência do previsto no art. 83 da Lei n. 8.666/1993. 3. Com a eleição para prefeito
em 2009, firmou-se nova investidura originária, com outra diplomação concedida pelo juízo eleitoral -
para período de mandato eletivo diverso (2009 a 2012). Consequentemente, não pode perder o cargo por
um fato anterior, cometido em 2001, porque aquele período de mandato eletivo já se encontra encerrado,
desde o ano de 2004. 4. A norma de regência determina a perda do mandato eletivo. Logo, por óbvio, o
cargo em questão só pode ser aquele que o infrator ocupava à época da conduta típica. Em outros termos,
caso o servidor ou agente político se mantivesse no mesmo cargo, ceteris paribus, até o decisum
condenatório, perderia-o em razão do disposto no art. 83 da Lei n. 8.666/1993. Hipótese inexistente in casu.
5. Exige-se, em acréscimo, para a conveniente adequação dos efeitos da condenação penal, que o
decisum seja revestido de motivação concreta para o afastamento do mandato eletivo (art. 92, parágrafo
único, do CP). 6. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, improvido. (REsp 1244666/RS, Rel.
Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 16/08/2012, DJe 27/08/2012).
[...] A teor do art. 38, § 1.º, inciso I, e § 2.° da Lei n.º 8.625/93, a perda do cargo de membro do Ministério
Público somente pode ocorrer após o trânsito em julgado de ação civil proposta para esse fim. E, ainda,
essa ação somente pode ser ajuizada pelo Procurador-Geral de Justiça, quando previamente autorizado
pelo Colégio de Procuradores, o que constitui condição de procedibilidade, juntamente com o trânsito
em julgado da sentença penal condenatória. 7. Em se tratando de normas legais de mesma hierarquia, o
fato de a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público prever regras específicas e diferenciadas das do
Código Penal para a perda de cargo, em atenção ao princípio da especialidade - lex specialis derogat
generali -, deve prevalecer o que dispõe a referida lei orgânica. 8. Recurso especial parcialmente provido,
tão somente para afastar a determinação de perda de cargo exarada no acórdão recorrido. (REsp
1251621/AM, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 16/10/2014).
[...] 1. Para que seja declarada a perda do cargo público, na hipótese descrita no art. 92, inciso I, alínea "b",
do Código Penal, são necessários dois requisitos: a) que o quantum da sanção penal privativa de liberdade
seja superior a 4 anos; e b) que a decisão proferida apresente-se de forma motivada, com a explicitação
das razões que ensejaram o cabimento da medida. 2. Embora o artigo 92, inciso I, alínea "b", do Código
Penal, não exija, para a perda do cargo público, que o crime praticado afete bem jurídico que envolva a
Administração Pública, a sentença condenatória deve deduzir, de forma fundamentada e concreta, a
necessidade de sua destituição, notadamente quando o agente, ao praticar o delito, não se encontra no
exercício das atribuições que o cargo lhe conferia. [...] (REsp 1044866/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI
CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 02/10/2014).
[...] 1. Não há falar em flagrante ilegalidade se o Juízo sentenciante considera na fixação da pena
condenações pretéritas, ainda que tenha transcorrido lapso temporal superior a 5 (cinco) anos entre o
efetivo cumprimento das penas e a infração posterior, pois, embora não sejam aptas a gerar a
reincidência, nos termos do art. 64, inciso I, do Código Penal, são passíveis de serem consideradas como
maus antecedentes no sopesamento negativo das circunstâncias judiciais. 2. Na hipótese dos autos, ainda
que condenações anteriores possam, em princípio, caracterizar os maus antecedentes do paciente, tenho
que a peculiaridade de terem sido os delitos cometidos em sua forma culposa mostra-se suficiente para
infirmar o entendimento consolidado nesta Corte, pois que a sua adoção no caso em exame afrontaria os
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade na fixação da pena privativa de liberdade, com o
aumento da pena do crime doloso por crime culposo cometido em passado distante. 3. Habeas corpus
concedido. (HC 198.557/MG, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em
13/03/2012, DJe 16/04/2012).
[...] Ocorre bis in idem quando, apesar de existente apenas uma condenação transitada em julgado, são
considerados os maus antecedentes e a reincidência para exasperação da pena. [...] (HC 147.202/MG, Rel.
Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 28/02/2012, DJe 12/03/2012).
[...] Não podem as instâncias ordinárias valorar negativamente a culpabilidade, a personalidade e a
conduta social tendo como fundamento condenações por fatos posteriores ao crime em julgamento e,
com isso, agravar a pena-base do paciente. Precedentes. [...] (HC 189.385/RS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 20/02/2014, DJe 06/03/2014).
[...] O fato de a vítima não ter contribuído para o delito é circunstância judicial neutra e não deve levar ao
aumento da sanção. [...] (HC 217.819/BA, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,
julgado em 21/11/2013, DJe 09/12/2013).
[...] A experiência sexual anterior e a eventual homossexualidade do ofendido, assim como não
desnaturam o crime sexual praticado, com violência presumida, contra menor de 14 anos, não servem
para justificar a diminuição da pena-base, à título de comportamento da vítima. [...] (REsp 897.734/PR, Rel.
Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 03/02/2015, DJe 13/02/2015).
[...] A ausência de elementos capazes de afirmar o desvio de personalidade e conduta social da agravante
não é motivo para reduzir-lhe a pena-base. Essas circunstâncias judiciais foram neutralizadas pela análise
que tiveram, tornando-se, por isso, irrelevantes para o trabalho dosimétrico, pois destituídas do poder de
valoração negativa. Ademais, cabe observar que a desconsideração das circunstâncias judiciais favoráveis
à agravante não lhe causou prejuízo algum, justamente porque em nada contribuiu para ampliar-lhe a
pena-base. [...] (AgRg no AREsp 547.028/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 02/08/2018).
[...] A circunstância judicial da personalidade deve ser valorada a partir da realização de um retrato
psíquico do agente, não bastando a consideração vaga, genérica e descolada de qualquer elemento
concreto extraído dos autos no sentido de que o réu é agressivo. [...] A circunstância judicial da conduta
social analisa fatores como o convívio social, familiar e laboral do agente. Dizer que o paciente é antissocial,
sem agregar qualquer argumento concreto que desabone sua conduta, é inservível para negativação de
tal vetor. [...] (HC 420.344/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
02/08/2018, DJe 14/08/2018).
[...] Na atenuante inominada, circunstância relevante, anterior ou posterior ao delito, não disposta em lei,
mas que influencia no juízo de reprovação do autor, não são avaliados os antecedentes criminais, já
previstos como circunstância judicial do art. 59 do CP. [...] (REsp 1405989/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, Rel. p/ Acórdão Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 18/08/2015).
[...] Esta Corte tem entendido que a falta de certidão cartorária (certidão de objeto e pé) não impede o
reconhecimento dos maus antecedentes, o que pode ser feito pela folha de antecedentes criminais. [...]
(HC 287.090/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 08/05/2014).
[...] Embora a lei não preveja percentuais mínimo e máximo de majoração da pena pela reincidência, a
jurisprudência desta Corte tem-se inclinado no sentido de que o incremento da pena em fração superior
a 1/6, pela aplicação dessa agravante, deve ser devida e concretamente fundamentada [...] (HC 200.900/RJ,
Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 27/09/2012).
[...] A jurisprudência é firme nesta Corte Superior no sentido de que, se a confissão foi utilizada para
corroborar o acervo probatório e fundamentar a condenação, deve incidir a atenuante prevista no art. 65,
III, "d", do Código Penal, sendo irrelevante o fato de haver sido qualificada. [...] (EREsp 1416247/GO, Rel.
Ministro RIBEIRO DANTAS, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/06/2016, DJe 28/06/2016).
[...] Conforme o entendimento consolidado desta Corte, a atenuante da menoridade é sempre
considerada preponderante em relação às demais agravantes de caráter subjetivo e também em relação
às de caráter objetivo. Essa conclusão decorre da interpretação acerca do art. 67 do Código Penal, que
estabelece a escala de preponderância entres as circunstâncias a serem valoradas na segunda etapa do
modelo trifásico. Dentro dessa sistemática, a menoridade relativa, assim como a senilidade, possuem
maior grau de preponderância em relação àquelas igualmente preponderantes, decorrentes dos motivos
determinantes do crime e reincidência, nos termos do art. 67 do Código Penal, e, a fortiori, em relação às
circunstâncias objetivas. [...] (HC 441.341/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
22/05/2018, DJe 30/05/2018).
[...] 3. Tratando-se de réu multireincidente, promover a compensação entre a confissão e a reincidência,
implicaria em ofensa aos princípios da individualização da pena e da proporcionalidade. 4. A
multireincidência exige maior reprovação do que aquela conduta perpetrada por quem ostenta a
condição de reincidente por força, apenas, de um único evento isolado em sua vida, devendo, pois,
prevalecer sobre a confissão. [...] (AgRg no REsp 1424247/DF, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 03/02/2015, DJe 13/02/2015).
[...] 1. Nos termos do art. 42 da Lei n. 11.343/2006, mostra-se devido o aumento da reprimenda na primeira
fase da dosimetria, com base na elevada quantidade de drogas apreendidas. 2. Tanto o Supremo Tribunal
Federal quanto esta Corte Superior de Justiça firmaram o entendimento de que a apreensão de grande
quantidade de drogas, a depender das peculiaridades do caso concreto, é hábil a denotar a dedicação do
acusado a atividades criminosas ou mesmo a sua integração em organização criminosa e,
consequentemente, a impedir a aplicação da causa especial de diminuição de pena prevista no § 4º do
art. 33 da Lei n. 11.343/2006, porque indica maior envolvimento do agente com o mundo das drogas. 3. Por
ocasião do julgamento do HC n. 112.776/MS - leading case sobre a discussão acerca do bis in idem nos
casos de dosimetria da pena no crime de tráfico de drogas -, em sessão plenária ocorrida no dia 19/12/2013,
Supremo Tribunal Federal, por maioria de votos, firmou o posicionamento de que configura bis in idem a
utilização da quantidade de drogas na primeira fase da dosimetria, como circunstância desfavorável, e,
na terceira, para justificar a aplicação da causa especial de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33
em patamar inferior ao máximo legal. 4. Também caracteriza bis in idem a utilização da quantidade de
drogas apreendidas, na primeira fase da dosimetria, a fim de justificar a exasperação da pena-base e,
novamente, na terceira etapa, para fundamentar o afastamento do redutor previsto no art. 33, § 4º, da Lei
n. 11.343/2006, seja a pretexto de integrar o agente organização criminosa, seja para evidenciar a sua
dedicação a atividades criminosas. Ressalva pessoal deste relator. 5. Não configura bis in idem caso, além
da quantidade de drogas, haja outros elementos concretos nos autos, suficientes o bastante - tais como
apetrechos destinados à traficância, anotações sobre contabilidade do tráfico, munições, armas de fogo,
processos em andamento etc. -, que permitam a conclusão de que o agente se dedica a atividades
criminosas e/ou integra organização criminosa. Também não há falar em bis in idem quando a natureza
da droga é sopesada para o aumento da pena-base e a sua quantidade, por exemplo, para justificar a
impossibilidade de incidência da minorante, porque, nesse caso, tais elementos estão sendo considerados
de forma não cumulativa.6. Uma vez caracterizado o tráfico entre estados da Federação ou entre estes e
o Distrito Federal - circunstância que atrai a incidência da majorante prevista no inciso V do art. 40 -, a
distância percorrida e/ou o número de fronteiras ultrapassadas pelo agente podem lastrear a escolha da
fração de aumento de pena decorrente da interestadualidade do delito. [...] (HC 373.523/SP, Rel. Ministro
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 14/08/2018, DJe 21/08/2018).
[...] Ademais, quanto à aplicação da causa de diminuição prevista no art. 33 § 4º da Lei n. 11.343/06, esta
Corte Superior assentou o entendimento no sentido de que "Reconhecida a reincidência do agente, não
se admite a aplicação da mencionada benesse, porquanto ausente o preenchimento dos requisitos legais.
A utilização de tal vetor concomitantemente na segunda e terceira fase da dosimetria não enseja bis in
idem" (HC 449.317/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Ribeiro Dantas, DJe de 15/8/2018). [...] (AgRg nos EDcl no
AREsp 718.114/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 23/08/2018, DJe 03/09/2018).
[...] A causa de aumento de pena prevista no art. 40, inciso III, da Lei n.º 11.343/2006 tem natureza objetiva,
não sendo necessária a efetiva comprovação de mercancia na respectiva entidade de ensino, ou mesmo
de que o comércio visava a atingir os estudantes, sendo suficiente que a prática ilícita tenha ocorrido em
locais próximos, ou seja, nas imediações do estabelecimento. 2. A razão de ser da norma é punir de forma
mais severa quem, por traficar nas dependências ou na proximidade de estabelecimento de ensino, tem
maior proveito na difusão e no comércio de drogas em região de grande circulação de pessoas, expondo
os frequentadores do local a um risco inerente à atividade criminosa da narcotraficância. 3. Na espécie,
diante da prática do delito em dia e horário (domingo de madrugada) em que o estabelecimento de
ensino não estava em funcionamento, de modo a facilitar a prática criminosa e a disseminação de drogas
em área de maior aglomeração de pessoas, não há falar em incidência da majorante, pois ausente a ratio
legis da norma em tela. [...] (REsp 1719792/MG, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA
TURMA, julgado em 13/03/2018, DJe 26/03/2018).
[...] Quanto à dosimetria, considerando a existência de circunstância judicial desfavorável, justificada a
imposição de regime prisional mais gravoso. [...] (AgRg na RvCr 4.383/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/08/2018, DJe 28/08/2018).
[...] 1. Considerando que a norma não limitou e nem regulamentou como será quantificado o valor mínimo
para a indenização e considerando que a legislação penal sempre priorizou o ressarcimento da vítima em
relação aos prejuízos sofridos, o juiz que se sentir apto, diante de um caso concreto, a quantificar, ao
menos o mínimo, o valor do dano moral sofrido pela vítima, não poderá ser impedido de faze-lo. 2. Ao fixar
o valor de indenização previsto no artigo 387, IV, do CPP, o juiz deverá fundamentar minimamente a
opção, indicando o quantum que refere-se ao dano moral. 3. Recurso especial improvido. (REsp
1585684/DF, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 09/08/2016, DJe
24/08/2016).
[...] Nos termos do entendimento desta Corte Superior a reparação civil dos danos sofridos pela vítima do
fato criminoso, prevista no art. 387, IV, do Código de Processo Penal, inclui também os danos de natureza
moral, e para que haja a fixação na sentença do valor mínimo devido a título de indenização, é necessário
pedido expresso, sob pena de afronta à ampla defesa. [...] (AgRg no AREsp 720.055/RJ, Rel. Ministro
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 26/06/2018, DJe 02/08/2018).
[...] A fixação de valor mínimo para reparação dos danos materiais causados pela infração exige, além de
pedido expresso na inicial, a indicação de valor e instrução probatória específica, de modo a possibilitar
ao réu o direito de defesa com a comprovação de inexistência de prejuízo a ser reparado ou a indicação
de quantum diverso. [...] (AgRg no REsp 1724625/RS, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA,
julgado em 21/06/2018, DJe 28/06/2018).
RECURSO ESPECIAL. RECURSO SUBMETIDO AO RITO DOS REPETITIVOS (ART. 1.036 DO CPC, C/C O ART.
256, I, DO RISTJ). VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. DANOS MORAIS.
INDENIZAÇÃO MÍNIMA. ART. 397, IV, DO CPP. PEDIDO NECESSÁRIO. PRODUÇÃO DE PROVA ESPECÍFICA
DISPENSÁVEL. DANO IN RE IPSA. FIXAÇÃO CONSOANTE PRUDENTE ARBÍTRIO DO JUÍZO. RECURSO
ESPECIAL PROVIDO. [...] TESE: Nos casos de violência contra a mulher praticados no âmbito doméstico e
familiar, é possível a fixação de valor mínimo indenizatório a título de dano moral, desde que haja pedido
expresso da acusação ou da parte ofendida, ainda que não especificada a quantia, e independentemente
de instrução probatória. (REsp 1643051/MS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 28/02/2018, DJe 08/03/2018).
[...] A reparação civil dos danos sofridos pela vítima do fato criminoso, prevista no art. 387, inciso IV, do
Código de Processo Penal, deve ser deferida sempre que requerida e inclui também os danos de natureza
moral. 3. "Nos casos de violência contra a mulher praticados no âmbito doméstico e familiar, é possível a
fixação de valor mínimo indenizatório a título de dano moral, desde que haja pedido expresso da acusação
ou da parte ofendida, ainda que não especificada a quantia e independentemente de instrução
probatória (Resp n. 1675874, Rel. Ministro ROGÉRIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 28/2/2018, sob
o rito dos recursos especiais repetitivos, Tema 983). [...] (AgRg no REsp 1687660/MS, Rel. Ministro JOEL ILAN
PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 24/04/2018).
[...] No que se refere à fixação de valor mínimo a título de reparação de danos, esta Corte adotou o
entendimento de que a regra do art. 387, inciso IV, do Código de Processo Penal é norma híbrida, de
direito processual e material, razão pela que não se aplica a delitos praticados antes da entrada em vigor
da Lei n.º 11.719/2008, que deu nova redação ao dispositivo. VI - Na hipótese, conclui-se pela efetiva violação
ao artigo 387, IV, do Código de Processo Penal e, portanto, pela necessidade de afastamento da
condenação dos recorrentes ao pagamento de indenização a título de valor mínimo de reparação de
danos supostamente causados pela conduta típica, uma vez que os crimes ocorreram anteriormente à
vigência da Lei n.º 11.719/2008. Precedentes. [...] (AgInt no HC 404.550/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER,
QUINTA TURMA, julgado em 21/06/2018, DJe 28/06/2018).
[...] A liberdade no curso da instrução processual não impede a decretação da prisão preventiva na
sentença condenatória, desde que presentes os requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal, o que
se verifica no caso em exame. [...] (RHC 101.041/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado
em 04/09/2018, DJe 14/09/2018).
[...] Preservados os motivos que ensejaram a conversão da prisão temporária em prisão preventiva, bem
como que mantiveram o recorrente acautelado durante toda a instrução criminal, reputa-se legítima a
conservação da segregação cautelar após a sentença condenatória. [...] (RHC 99.113/RO, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 04/09/2018, DJe 14/09/2018).
[...] Na hipótese, o conteúdo da sentença, ao indeferir o direito de o paciente recorrer em liberdade,
encontra-se em harmonia com a jurisprudência desta Corte, no sentido de que a necessidade da
segregação fica reforçada pela superveniência da condenação, tendo o paciente respondido a ação penal
preso, uma vez que a existência de édito condenatório enfraquece sua presunção de não culpabilidade,
de modo que se mostra adequada a manutenção da prisão. [...] (HC 463.792/SP, Rel. Ministro REYNALDO
SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 04/09/2018, DJe 13/09/2018).
Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o
Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora
nenhuma tenha sido alegada.
Note que pela letra da lei a pergunta tem uma só resposta – SIM . Todavia, parcela da doutrina
compreende que essa disposição não teria sido recepcionada pela Constituição Federal e/ou seria
inconstitucional frente ao sistema acusatório. Representando essa posição minoritária, trazemos a lição de
AURY LOPES JR.:
Não nos parece seja esta a melhor opção. Do mesmo modo que o promotor pode pedir a absolvição, em
razão do livre convencimento, ao juiz é possível condenar. Não fosse assim, haveria violação indireta à
obrigatoriedade e indisponibilidade da ação penal pública; afinal, o promotor poderia denunciar já com a
‘intenção’ de pedir a absolvição e qualquer controle judicial em relação a isso seria impraticável. Lembre-se
que no processo penal, regra geral, as partes não têm a faculdade de dispor do objeto da relação de direito
material.
Processo penal e princípio do dispositivo: Nunca é demais insistir: o nosso CPP não acolheu o
antiquíssimo modelo do processo de disputa, de luta, no qual a pujança da atuação de uma das
partes, inevitavelmente, implicará a sua vitória. Não cuida o processo penal de uma disputa entre
direitos subjetivos ou interesses de partes, ao final da qual se afirma como titular deles (direitos
ou interesses) o vencedor da demanda. Muito ao contrário, e já o dissemos em outras
oportunidades, em trabalhos distintos, não há vencedor e nem vencido no processo penal
brasileiro. Somos todos perdedores, a começar pela vítima. A escolha nacional foi no sentido da
adoção do modelo da obrigatoriedade da ação penal, com o que ficou afastado o princípio do
dispositivo, segundo o qual podem as partes livremente dispor do objeto da relação de direito
material. E essa opção, de longa data e feita em ambiente de pouquíssimas liberdades públicas,
não contraria nenhuma determinação constitucional, ao ponto de reputar inválida a norma do
art. 385, CPP. Pode-se não aderir a ela, optando-se pelo modelo da discricionariedade, com
ampla concessão de poderes e faculdades ao Ministério Público, no sentido de deixar em suas
mãos a política de persecução penal. Mas, repita-se, não foi essa a escolha do atual CPP e nem
do constituinte de 1988, que sequer teve coragem de esclarecer em que consistiria o tal controle
externo da atividade policial, como consta do art. 129, VII, da Constituição da República.
Importante destacar que há ementa de julgado do STF assentado que se teria “como afastada a
pretensão acusatória quando há manifestação do titular da ação penal pública pela absolvição
do acusado, não podendo o magistrado condenar de ofício” (Ação Penal n, 960, STF, 1ª Turma,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13.6.2017, publicado no DJ em 28.6.2017). Entretanto,
fundamental advertir que esse excerto da ementa não coincide com nenhum fundamento do
voto do relator ou mesmo dos demais julgadores. É dizer: em nenhuma passagem da decisão
proferida, há fundamentos no sentido de que haveria essa vinculação ao pedido de absolvição.
Tanto é assim que, em outro julgado, se encontra posicionamento no sentido de que “a
indisponibilidade da ação penal pública não proíbe que o Ministério Público possa opinar pela
absolvição do réu, mas exclui a vinculação do juízo à manifestação do Parquet, tendo em vista a
vedação inscrita nos artigos 42 e 576 do Código de Processo Penal, que impedem o Ministério
Público de desistir da ação penal ou do recurso que haja interposto” (Ação Penal 921-RS, STF, 1ª
Turma, unânime, Rel. Min. Luiz Fux, julgado monocraticamente em 20.6.2017, publicado no DJ
em 30.6.2017). Então, embora produzida em terreno impregnado pelo obscurantismo –
relembre-se, no ponto, que havia previsão de defesa na Inquisição espanhola –, nada há que
impeça a aplicação do citado art. 385, no âmbito de um modelo processual orientado pela
objetividade da atuação do Ministério Público. Observe-se que a citada legislação nos oferece
também inegável traço de modernidade, especificamente no ponto em que classifica a atuação
do Ministério Público na fase final (de alegações finais) do processo, como verdadeira atividade
de custos legis. Confira-se: “[...] ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição
[...]”. Para nós, o parquet, do princípio ao fim, subordina-se apenas à sua consciência, tal como
ocorre com a magistratura, atuando, sempre, como custos legis, de modo a bem zelar pela
correta aplicação da lei. É dizer: ele é parte apenas do ponto de vista formal. Conosco, lições de
Jorge FIGUEIREDO DIAS, excepcional penalista de além-mar (Direito processual penal. 1. ed.
Reimpressão, Coimbra, 2004, p. 195): “Da mesma forma que, acabamos de ver, não vale em
processo penal o princípio da discussão (processo como duelo de partes), em qualquer de suas
manifestações mais importantes, também ali não há lugar para o princípio dispositivo. Isto é,
como já se sugeriu, consequência da fundamental indisponibilidade do objecto processual penal
e conduz à impossibilidade de desistência da acusação pública, de acordos eficazes entre a
acusação e a defesa e de limitações postas ao tribunal na apreciação jurídica do caso submetido
a julgamento. [...] Pode o MP ter pedido a absolvição do arguido e o tribunal condená-lo – como
pode a defesa, considerando provado o crime, pedir apenas a condenação em uma pena leve e
o tribunal absolver o arguido” (Pacelli, et al., 2018).
E quando se tratar de crime de ação penal privada exclusiva? Neste caso, é inaplicável a regra
do art. 385 do CPP. É que nesta modalidade de processo criminal, o princípio vigorante é o da
disponibilidade, podendo o querelante dele desistir caso não mais tenha interesse na punição do
querelado. Assim, sobrevindo de parte do querelante pedido de absolvição, tal deverá ser
interpretado pelo juízo como desistência da ação penal, o que o impede de prosseguir o feito
com a prolação de sentença condenatória. E mais: a simples ausência de pedido de condenação
na fase de debates orais, memoriais ou alegações finais já é suficiente, por si, para que o
magistrado criminal esteja obrigado a proceder à extinção da punibilidade do réu mediante
reconhecimento da perempção, nos exatos termos do art. 60, III, do CPP (Avena, 2017).
De se lembrar que, na hipótese de ação penal privada subsidiária da pública, eventual pedido de
absolvição formulado pelo advogado do querelante não dará ensejo à extinção da punibilidade,
porquanto, em sua essência, esta espécie de ação penal é de natureza pública. De mais a mais,
como a intervenção do MP é obrigatória, nada impede que, em sentido diverso do querelante,
haja pedido de condenação formulado pelo órgão ministerial (Lima, 2018).
Jurisprudência pertinente
Art. 389. A sentença será publicada em mão do escrivão, que lavrará nos autos o respectivo
termo, registrando-a em livro especialmente destinado a esse fim.
É o instituto que reflete a formal existência da sentença, representando seu ‘nascimento’ jurídico; antes da
publicação não há, para todos os efeitos, sentença – só depois. Com a publicação da sentença opera-se o
esgotamento da instância em primeiro grau de jurisdição, implicando na sua imutabilidade, como, a
propósito, estabelece o Código de Processo Civil:
Repare que a lei (do tempo em que não havia sistema informatizado) não exige maiores formalidades,
estabelecendo que a publicação da sentença se dará com a simples entrega dela nas mãos do escrivão (que
deve registrar e lavrar termo). Claro que hoje, em tempos de processo eletrônico, esse ato ganha formas
digitais e automatizadas de plena valia. Nesse sentido, vejam-se algumas disposições da Lei 11.419/2006,
que trata da informatização do processo judicial:
Art. 4º Os tribunais poderão criar Diário da Justiça eletrônico, disponibilizado em sítio da rede
mundial de computadores, para publicação de atos judiciais e administrativos próprios e dos
órgãos a eles subordinados, bem como comunicações em geral. [...]
§ 2º A publicação eletrônica na forma deste artigo substitui qualquer outro meio e publicação
oficial, para quaisquer efeitos legais, à exceção dos casos que, por lei, exigem intimação ou vista
pessoal.
Não se pode confundir publicação com intimação. O primeiro ato traduz a existência jurídico-
formal da sentença e se dá com a entrega em mão do escrivão; o segundo é ato de comunicação
processual, serve para cientificar as partes sobre a sentença (que não podem ‘adivinhar’ o dia
que o juiz entrega esse ato jurisdicional), se dá com a ‘publicação’ no Diário da Justiça e
representa o termo inicial para o prazo recursal.
Finalmente, dentro da ideia de fiscalização desse importante ato processual (sentença), é da publicação que
se conta o prazo para a ciência do Ministério Público:
Art. 390. O escrivão, dentro de três dias após a publicação, e sob pena de suspensão de cinco
dias, dará conhecimento da sentença ao órgão do Ministério Público.
Doutrina complementar
FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018). “Para que produza efeitos com
relação às partes e terceiros é necessário que a sentença seja publicada (art. 389, 1ª parte). A publicação
da sentença dá-se no momento em que ela é recebida no cartório pelo escrivão. É a data de entrega em
cartório, e não da assinatura da sentença. Em outros casos, quando esta é proferida em audiência, ter-se-
á por publicada no instante da sua leitura pelo juiz. A publicação da sentença é obrigatória mesmo nos
processos em que determinados atos são sigilosos. Com a publicação, o juiz não pode mais alterar a
sentença por ele prolatada. Torna-se irretratável (cabível somente nas hipóteses de embargos
declaratórios). Quanto aos erros materiais a legislação é omissa, sendo aceito que a qualquer tempo
proceda-se à correção dos pequenos erros materiais a requerimento das partes, permitindo-se a correção
inclusive ex officio pelo juiz”.
NORBERTO AVENA (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017). “De acordo
com o art. 389, 1.ª parte, do CPP, a sentença será publicada em mão do escrivão, que lavrará nos autos o
respectivo termo. A interpretação literal do dispositivo sugere que a publicação ocorre no momento em
que é a sentença recebida pelo escrivão e por ele registrada, ou seja, transcrita no livro próprio.
Independentemente desta exegese, a verdade é que, na maioria das comarcas, o registro da sentença e
sua consequente divulgação é realizado em sistema informatizado, abolindo-se, assim, o chamado “livro
de registro”. Pois bem, até que haja a publicação, não existe, propriamente, a sentença. Há apenas uma
expectativa de pronunciamento jurisprudencial, como ensina Mirabete. Trata-se, então, a publicação do
ato que formaliza a sentença, sendo obrigatória, independentemente da natureza da ação penal – pública
(condicionada ou incondicionada) ou privada. Observe-se que desimporta, para fins de considerar-se
publicada a sentença, a data nela aposta pelo juízo e tampouco a data da intimação das partes de seu
teor. Intimação não se confunde com publicação. Esta, reitera-se, ocorre na data da entrega em cartório
com registro em livro pela escrivania. Se a sentença for proferida em audiência, entende-se que se torna
pública na medida em que está sendo ditada pelo juiz ao escrevente. O mesmo ocorre no caso da
sentença proferida nos julgamentos pelo júri, que se considera publicada no momento em que o
magistrado procede, ao final da sessão, à sua leitura. Em ambas as situações, será desnecessário o termo
nos autos indicando a publicação, pois no próprio termo de audiência ou na ata de plenário já ficará
consignado que publicada a decisão na respectiva data. Uma vez confeccionada e publicada a sentença,
não poderá mais o juiz alterá-la, salvo na oposição de oportunos embargos declaratórios ou na hipótese
de ter ocorrido erro material, que pode ser retificado ex officio. Na hipótese de sentença condenatória
recorrível, efeito importante da publicação é a interrupção da prescrição, conforme alteração introduzida
ao Código Penal pela Lei 11.596/2007. Antes dessa modificação legislativa, previa-se como marco
interruptivo “a sentença condenatória recorrível”. Na atual redação, considera-se que se interrompe a
prescrição “pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis” (art. 117, IV, do CP)”.
AVENA define e explica quando ainda se admite a atuação do juízo de primeiro grau após a prolação da
sentença.
Nem mesmo nulidades absolutas, que, como regra, admitem reconhecimento ex officio, poderão
ser declaradas pelo juiz após o esgotamento da instância.
b) Com vistas ao suprimento ou esclarecimento de omissões, obscuridades, contradições ou
ambiguidades, quando tiverem sido opostos embargos declaratórios, nos termos autorizados
pela lei processual.
c) Na hipótese de interposição de recurso com efeito regressivo, isto é, recurso que permita ao
prolator retratar-se da decisão recorrida antes do encaminhamento ao Órgão competente para
seu julgamento na instância superior, a exemplo do que ocorre com o recurso em sentido estrito
(art. 589 do CPP).
Note que essas hipóteses trazidas são excepcionais. A regra é que, publicada a sentença – devido ao
esgotamento da instância – não se admita mais a alteração do julgado pelo próprio magistrado prolator,
inclusive para efeito da esperada segurança jurídica que esse importante ato do processo deve ter.
Ministério Público – “sempre pessoal, nos termos dos arts. 370, § 4.º, 390, 798, § 5.º, e 800, § 2.º,
todos do CPP” (Avena, 2017).
I – receber, inclusive quando necessário, mediante entrega dos autos com vista, intimação
pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição ou instância administrativa, contando-se-lhes
em dobro todos os prazos;
CPP. Art. 370. § 1º A intimação [...] do advogado do querelante e do assistente far-se-á por
publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos judiciais da comarca, incluindo, sob pena
de nulidade, o nome do acusado.
Advogado constituído e acusado – o art. 392 prevê várias hipóteses (de estar o réu preso, solto,
foragido, ter defensor constituído ou dativo, de ser a infração afiançável ou não). Numa espécie de resumo
do art. 392, teríamos o seguinte:
Entretanto – daí a razão pela qual não vale a pena o estudo fracionado e detalhado das hipóteses do art. 392
do CPP –, o ideal, segundo já se decidiu e recomenda a doutrina, é que tanto o advogado quanto o acusado
sejam intimados da sentença. Isso em razão da ampla defesa, considerando que ambos têm legitimidade
para interpor recurso e o réu não pode se defender por si (não tem capacidade postulatória e a defesa técnica
é indeclinável – arts. 261 e 263 do CPP).
Apesar de certos incisos do art. 392 dispensarem a intimação do acusado solto em alguns casos,
é pacífico o entendimento no sentido da obrigatória intimação do acusado, pessoalmente ou por
edital (se não for encontrado) e do defensor, seja o acusado preso, revel, foragido ou em
liberdade provisória e seja o defensor constituído ou dativo, em fiel observância ao princípio da
ampla defesa, salvo na hipótese de sentença absolutória própria (sem imposição de medida de
segurança), quando se admite a intimação de um ou outro (Lima, 2018).
O tema carrega algumas controvérsias. Veja que o posicionamento mais recente do STJ é diferente desse
pregado por RENATO BRASILEIRO:
[...] A jurisprudência desta Corte Superior firmou-se no sentido de que, consoante o disposto no
art. 392, II, do Código de Processo Penal, tratando-se de réu solto, mostra-se suficiente a
intimação do defensor constituído acerca da sentença condenatória, não havendo qualquer
cerceamento ao direito de defesa pela ausência de intimação pessoal do réu. V - Em que pese a
r. sentença condenatória tenha determinado a intimação pessoal do ora agravante, tal
providência não era obrigatória ou necessária por ausência de expressa previsão legal, sendo
suficiente a intimação do advogado então constituído pelo recorrente, inexistindo o alegado
cerceamento ao direito de defesa. (AgRg nos EDcl no RHC 90.694/PB, Rel. Ministro FELIX FISCHER,
QUINTA TURMA, julgado em 24/05/2018, DJe 30/05/2018)
A Corte Superior está admitindo válida a intimação da sentença, mesmo que condenatória, somente para o
advogado (desde que constituído) do réu solto. No mesmo sentido AVENA:
A partir destas normas, a jurisprudência majoritária tem exigido, como condição para o trânsito
em julgado e até mesmo conhecimento de recursos interpostos pela defesa, que, tratando-se de
réu preso, proceda-se à intimação tanto do réu como de seu defensor (na forma prevista no art.
370 do CPP). Destarte, condenado o réu e encontrando-se ele preso, ainda que tenha sido
intimado seu defensor e que tenha este interposto o competente recurso, será necessária,
também, a sua intimação pessoal. Já quanto ao réu solto, se assistido por advogado constituído,
bastará a intimação deste último. Se, por outro lado, estiver sendo patrocinado por defensor
público ou dativo, aí sim será preciso, tal como ocorre em relação ao preso, a sua intimação
pessoal ou, se não localizado, por edital com prazo de 90 dias se for o caso de condenação a pena
igual ou superior a um ano de prisão, e de 60 dias se for o caso de condenação a outra pena (art.
392, § 1.º, do CPP). Cumpre lembrar que, na hipótese de intimação editalícia da sentença, o prazo
da apelação somente se esgota cinco dias após o término do fixado no edital (art. 392, § 2.º, do
CPP). Agora, se o réu foi localizado e intimado pessoalmente durante o período do edital, ficará
este prejudicado, considerando-se que o prazo flui a partir da data em que se deu a ciência
pessoal. [...] E no que tange à intimação da sentença absolutória? Segundo precedentes do
Pretório Excelso, tratando-se de sentença absolutória, não ocorre nulidade na ausência de
intimação pessoal do réu do teor dessa decisão, sendo suficiente a ciência de seu advogado a
respeito, na forma prevista em lei (Avena, 2017).
Consolidando, poderíamos dizer o seguinte: segundo posicionamento majoritário, tanto o réu quanto o seu
defensor devem ser intimados da sentença✔ - é o que se recomenda. Não haverá nulidade, todavia
(observada a jurisprudência), nas situações de absolvição em que somente um ou outro for intimado e nas
situações de condenação quando somente o advogado constituído for intimado e o réu estiver solto.
Cumpre reforçar que não existe intimação por hora certa❌, apenas citação. Outrossim, a intimação por
edital só tem validade quando inviabilizada (por se esgotarem os meios de localização) a intimação pessoal.
E como se contam os prazos para eventual recurso❓ Bom, no processo penal é diferente do processo civil.
Aqui não vai se contar da juntada do mandado e sim da efetiva intimação (quando ela ocorre). Vejamos o
art. 798 do Código de Processo Penal:
a) da intimação;
Não bastasse a clareza da lei, o Supremo Tribunal Federal teve de pacificar a questão com a edição da Súmula
710:
O fato de o art. 600 do CPP falar em termo de apelação estabeleceu a praxe forense de o mandado de
intimação da sentença para o réu ser acompanhado de uma espécie de declaração quanto ao seu propósito
de recorrer – aliás, isso parece bastante salutar quando o réu está preso. De qualquer modo, conforme já
assentou o STJ, não há qualquer preceito legal que exija, quando da intimação da sentença penal
condenatória, que se indague o réu sobre seu desejo de recorrer (HC 77.964-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j.
21/02/2008).
Doutrina complementar
FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018). “A intimação da sentença
deverá ser feita ao réu pessoalmente, esteja solto ou preso, por adoção do princípio da ampla defesa, bem
como a seu defensor, fluindo o prazo recursal a partir da última intimação efetuada (nesse sentido: STF, 2ª
T., HC 72.220-2/SC, rel. Min. Néri da Silveira, DJU, 26 maio 1995, p. 15158)”. O Ministério Público será sempre
intimado pessoalmente da sentença (CPP, art. 390)”.
RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017). “Prolatada e publicada a
sentença, na sequência é necessário que se façam as intimações previstas em lei, a fim de que as partes
e eventualmente terceiros dela tomem conhecimento formal, e a partir de então decidam a respeito das
providências que se apresentarem cabíveis. [...]A intimação do representante do Ministério Público, em
qualquer processo e grau de jurisdição, será feita pessoalmente, com a entrega dos autos, nos termos em
que dispõe o art. 41, IV, da Lei n. 8.625/ 93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) e o art. 370, § 4º, do
CPP, devendo constar certidão nos autos dando notícia da prática do ato. Quanto à intimação da
Defensoria Pública, dispõe o art. 128, I, da Lei Complementar n. 80/94 que constitui prerrogativa dos
Defensores Públicos do Estado, dentre outras, a intimação pessoal em qualquer processo e grau de
É fácil compreender e assimilar esse axioma quando se tomam em conta as diferenças (particularidades e
especificidades) do processo penal frente ao processo civil. Enquanto no processo civil é o pedido que
delimita o objeto da demanda e o réu deve, além dos fatos, defender-se com as razões de direito (art. 336
do CPC), no processo penal o pedido é absolutamente secundário, sequer está previsto como requisito da
acusação (art. 41 do CPP), na qual o mais importante é a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias.
Utilizando a teoria geral, poderíamos dizer que no processo penal é a causa de pedir que delimita o objeto
do processo, não o pedido. Este, quando ocorre, é genérico no sentido da condenação, sem maior relevância
ou consequências jurídicas; não há exigência legal de especificações do pedido como ocorre no processo civil
(art. 319, inc. IV do Código de Processo Civil).
Ora, se o objeto da demanda criminal é delimitado pelo fato criminoso – em outras palavras, pela conduta
imputada ao réu –, nada mais natural que ele exercer o contraditório e pautar sua defesa exatamente em
relação a isso; eis a lógica do princípio da consubstanciação.
[...] a providência final que, em regra, espera-se no processo penal condenatório (excluída, por
ora, a hipótese de transação penal realizada nos Juizados Especiais Criminais) é a absolvição ou
a condenação do réu nas sanções em que se achar ele incurso, isto é, nas penas cominadas no
tipo penal correspondente à conduta reconhecidamente praticada. Afirma-se, com isso, que o
pedido seria sempre genérico, no sentido de com ele se viabilizar a correta aplicação da lei penal,
independentemente da alegação do direito cabível trazida aos autos pelas partes. O Juiz Criminal
estaria vinculado apenas à imputação dos fatos, atribuindo-lhes, uma vez reconhecidos, a
consequência jurídica que lhe parecer adequada, tanto no que respeita à classificação (juízo de
tipicidade) quanto à pena e à quantidade de pena a ser imposta. Se no processo civil o autor
delimita tanto a matéria a ser conhecida quanto a providência que lhe parece necessária a
satisfazer seus interesses, no processo penal cumpre ao autor delimitar unicamente a causa
petendi, ou seja, o fato delituoso merecedor de reprimenda penal. O juízo de adequação típica,
o enquadramento jurídico do fato, bem como a dosimetria da pena a ser aplicada, encontram-
se, todos, na própria lei, cabendo ao juiz a tarefa de revelar seu conteúdo (Pacelli, 2018).
Daí a razão (princípio da consubstanciação) de eventuais equívocos na classificação do crime (art. 41, CPP)
não darem margem a nulidades (constituem mera irregularidade), caracterizando-se como vícios passíveis
de correção a qualquer tempo. Como o réu se defende dos fatos a ele atribuídos✔, o equívoco na
capitulação jurídica, regra geral, não lhe gera prejuízo algum.
Se o Ministério Público denuncia o agente por ter subtraído um relógio de determinada vítima, nas
circunstâncias que deve descrever, por exigência legal (art. 41, CPP), é dessa específica subtração (fato
criminoso imputado) que o réu deve se defender, inclusive com base nisso norteando a produção de
eventuais provas; não da classificação jurídica❌ que o promotor (com base na sua opinio delicti) atrelou ao
art. 155 do Código Penal.
Ok, mas não é só isso! Atrelado ao princípio da consubstanciação temos outro de grande relevância: o
princípio da correlação ou congruência.
A correlação prega que o processo deve ter uma identidade de objeto, do começo ao fim. Considera-se que
as condutas (em tese criminosas, mas aí a questão já é outra, de tipicidade) atribuídas na acusação delimitam
a área de prestação jurisdicional. Os brocardos ‘narra mihi factum dabo tibi jus’ e ‘jura novit curia’ vêm a
calhar para estabelecer que o juiz deve considerar os fatos expressamente trazidos pela parte acusadora
– e não outros – para aplicar o direito ao caso concreto.
E por que deve ser assim❓ Por que existe o princípio da correlação❓
Imagine o contrário; suponha que o juiz pudesse condenar o réu por fatos outros que não estivessem na
acusação e em nenhum momento a ele fossem atribuídos. Evidente que assim fazendo (o julgador) o réu não
teria a oportunidade de se defender, de exercer o contraditório em relação a eles. Seria surpreendido com
uma condenação em relação a condutas que não pôde contraditar e produzir provas, violando-se, assim, o
devido processo legal.
Portanto, o fato imputado ao réu na peça acusatória deve guardar harmônica correspondência com o fato
reconhecido pelo juiz na sentença, sob pena de violação aos princípios do contraditório e da ampla defesa.
É na tutela desses princípios e para um devido processo legal que serve o axioma da correlação.
Garantia do réu. No que diz respeito à causa de pedir, o princípio da correlação constitui garantia
do réu. É que os fatos narrados pelo acusador constituirão, ao longo do processo, os únicos fatos
dos quais o acusado poderá e deverá defender-se. É contra aqueles fatos que se deve dirigir a
prova da defesa. A inobservância ao princípio da correlação, considerando fatos não narrados
pela acusação ou pela defesa, surpreenderia, de modo inaceitável, as partes, impedindo-lhes o
exercício do contraditório e da ampla defesa. A sentença que não guardar correlação com a
acusação será, portanto, nula, porque incorrerá no cerceamento ao direito de defesa (Bonfim,
2015).
Como já ensinou BADARÓ, no tema da correlação, o que importa é o fato processual e não o fato penal. Este
é apenas o modelo abstrato de conduta, o tipo penal, uma entidade extraída de uma situação hipotética.
Aquele, diferentemente, é um concreto acontecimento, um fato naturalístico tido por existente (para efeito
da imputação), mas que pode não ter efetivamente acontecido.
O fato processual é o fato imputado e, como tal, é algo meramente afirmado, isto é, um
acontecimento concreto que se diz ter ocorrido. O processo não tem por objeto um tipo penal,
uma abstração ou um modelo. O processo penal gira em torno da imputação de uma situação
real, concreta [...]. Quando se fala em identidade do objeto do processo, na verdade, tem-se em
vista a identidade de duas representações. A representação do fato imputado deve ser igual à
representação do fato em que se funda a sentença. [...] Trata-se de um conceito de identidade
jurídico e não lógico. A representação do fato contido na imputação não precisa ser
absolutamente idêntica à representação do mesmo contida na sentença. Não é necessário que
haja uma adequação perfeita em toda a sua extensão. Pode haver variação de alguns elementos
de ambas as representações dos fatos, sem que isso represente alteração do objeto do processo.
[...] Outro aspecto da identidade do objeto do processo é a necessidade de que a sentença julgue
toda a imputação. O juiz não pode considerar um fato novo ou um fato diverso do fato imputado,
mas também não pode deixar de julgar todo o fato imputado. A sentença não pode ser ultra ou
extra petita, mas também não se admite a sentença citra petita.
Há se considerar que a imputação é a atribuição de um fato penalmente relevante a alguém, o que exige
que esse fato seja juridicamente qualificado do ponto de vista do Direito Penal.
A descrição do fato é elemento necessário de qualquer imputação. Como explica SANSÒ, o que
não é descrito não é imputado, vez que o objeto da imputação se especifica mediante uma
descrição que o determina e o indica. Se não há imputação sem descrição não se pode falar em
imputação implícita. Ou o fato imputado foi descrito, e portanto consta da denúncia ou queixa
de forma explícita, ou não há descrição, não se podendo falar em imputação, nem mesmo
implícita.
“A qualificação jurídica do fato também integra a imputação. Porém, permanecendo inalterado o substrato
fático da imputação, eventual mudança na qualificação jurídica de tal fato não representa, para fins de
Exemplo: se um réu é denunciado por ter subtraído uma bicicleta de uma determinada vítima, em
determinado dia e circunstâncias, não poderá esse mesmo réu, nem que a vítima seja a mesma, ser
condenado porque dela roubou uma bolsa em outra oportunidade (por mais que isso tenha acontecido).
Sem a imputação formal desse último fato processual ocorreria violação ao princípio da congruência.
Outro: se um réu é denunciado por um furto simples, a ele atribuindo-se uma específica subtração, não
poderá ser condenado por um furto qualificado pelo rompimento de obstáculo, se essa circunstância (o
rompimento do obstáculo) não estiver narrada na denúncia. O que importa é verificar a narrativa fática
(indicação de como e qual obstáculo foi rompido, concretamente) e não se o promotor fez referência ao inc.
I do § 4º do art. 155 do Código Penal (isso é classificação jurídica).
Com. Exam. (MPE PR) - Promotor de Justiça (MPE PR)/2017. Defina o princípio da
correlação entre a denúncia e a sentença. Há ofensa a este princípio
quando o juiz, em procedimento comum ordinário e em crime de alçada
pública, reconhece, na sentença, a agravante da reincidência que não
tenha sido descrita na exordial acusatória? Justifique.
Conforme arremata BADARÓ, o juiz não pode condenar o acusado, mudando as circunstâncias instrumentais,
modais, temporais ou espaciais de execução do delito, sem dar-lhe a oportunidade de se defender da prática
de um delito diverso daquele imputado inicialmente, toda vez que tal mudança seja relevante em face da
tese defensiva, causando surpresa ao imputado.
Jurisprudência pertinente
não constituindo nulidade processual o pronunciamento judicial que, ao condenar o acusado, não
extrapola o contexto descrito na peça acusatória. [...] (STF – RHC 128096 / RS, Relator(a): Min. MARCO
AURÉLIO Julgamento: 18/12/2018).
[...] PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA. DOSIMETRIA DA PENA. JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. [...] 2. A orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que o “princípio
da congruência ou correlação no processo penal estabelece a necessidade de correspondência entre a
exposição dos fatos narrados pela acusação e a sentença. Por isso, o réu se defende dos fatos, e não da
classificação jurídica da conduta a ele imputada” [...]. (STF – RHC 148232 AgR / PE, Relator(a): Min.
ROBERTO BARROSO Julgamento: 22/10/2018).
[...] Ninguém pode ser punido por fato que não lhe foi irrogado, eis que a denúncia fixa os limites da
atuação do magistrado, que não poderá decidir além ou fora da imputação, sob pena, como visto, de
violação ao princípio da congruência, ou correlação entre acusação e sentença penal. [...] (HC 129284,
Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 17/10/2017).
Superior Tribunal de Justiça - STJ
[...] 2. O princípio da congruência ou correlação no processo penal estabelece a necessidade de
correspondência entre a exposição dos fatos narrados pela acusação e a sentença. Por isso, o réu se
defende dos fatos, e não da classificação jurídica da conduta a ele imputada. 3. A jurisprudência desta
Suprema Corte é firme na direção de não reconhecer constrangimento ilegal quando o magistrado
sentenciante confere nova definição jurídica aos fatos delineados na acusação. Precedentes. 4. Alegação
suscitada apenas por ocasião da interposição de agravo regimental configura inovação recursal, o que
inviabiliza o conhecimento da matéria. Não se admite, em sede de agravo regimental, a ampliação
objetiva da demanda, visando à análise de teses omitidas na impetração. Precedentes. 5. Agravo
regimental conhecido e não provido. (STF - HC: 176334 PE 0030131-05.2019.1.00.0000, Relator: ROSA
WEBER, Data de Julgamento: 27/04/2021, Primeira Turma, Data de Publicação: 12/05/2021).
[...] 2. Conforme o entendimento consolidado neste Tribunal, não configura julgamento ultra petita ou
extra petita, com violação ao princípio da congruência ou da adstrição, o provimento jurisdicional
proferido nos limites do pedido, o qual deve ser interpretado lógica e sistematicamente a partir de toda a
petição inicial. Precedentes. 3. Não cabe, em recurso especial, reexaminar matéria fático-probatória e a
interpretação de cláusulas contratuais (Súmulas 5 e 7/STJ). 4. Agravo interno a que se nega provimento.
(STJ - AgInt no REsp: 1708607 PR 2017/0289795-2, Relator: Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, Data de
Julgamento: 20/04/2020, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 24/04/2020).
[...] 1. O princípio da correlação entre a denúncia e a sentença condenatória representa, no sistema
processual penal, uma das mais importantes garantias ao acusado, porquanto descreve balizas para a
prolação do édito repressivo ao dispor que deve haver precisa correspondência entre o fato imputado ao
réu e a sua responsabilidade penal. 2. No caso dos autos, verifica-se que em momento algum houve
alteração do contexto fático descrito na denúncia para condenar o agravante pelo crime de receptação,
cujas elementares estão devidamente descritas na inicial acusatória, circunstância que afasta a ocorrência
de violação ao princípio da congruência. (STJ - AgRg no AREsp: 1490745 SP 2019/0124285-8, Relator:
Ministro JORGE MUSSI, Data de Julgamento: 20/08/2019, T5 - QUINTA TURMA).
[...] 1. No procedimento de competência do Tribunal do Júri, o princípio da correlação ou congruência,
corolário dos princípios da ampla defesa e do contraditório, exige limitação entre a acusação admitida na
sentença de pronúncia e o julgamento ocorrido pela resposta dos jurados aos quesitos. (...) (STJ - REsp:
1752018 MT 2018/0161569-8, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento: 14/05/2019, T6 - SEXTA
TURMA, Data de Publicação: DJe 21/05/2019).
[...] VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO ENTRE ACUSAÇÃO E SENTENÇA. NÃO OCORRÊNCIA.
HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. Não se verifica, na via do habeas corpus, violação ao princípio da
correlação por encontrarem-se descritos na inicial acusatória os mesmos fatos pelos quais condenado o
paciente, restando valorada como clara sua posição de liderança e comando na organização criminosa,
permitindo assim o exercício pleno da defesa. 2. Não reconhecido pelo decreto condenatório qualquer
fato novo, não constante da denúncia, descabe a incidência do procedimento do art. 384 do Código de
Processo Penal, pois mantido o mesmo limite do caso penal. 3. Habeas corpus denegado. (STJ - HC: 439289
SP 2018/0049018-0, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento: 12/03/2019, T6 - SEXTA TURMA,
Data de Publicação: DJe 18/03/2019).
[...] VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO NÃO CONFIGURADA. AGRAVO IMPROVIDO. 1. Não ofende
o princípio da correlação a condenação por agravantes ou atenuantes não descritas na denúncia.
Inteligência dos arts. 385 e 387, I, do Código de Processo Penal. 2. Agravo regimental improvido. (STJ -
AgRg no AREsp: 1373120 MG 2018/0257426-3, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento:
07/05/2019, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 14/05/2019).
[...] 1. Nos termos da jurisprudência do STJ, à luz do princípio da correlação ou da congruência, o juiz está
adstrito aos limites da acusação, sendo-lhe defeso se afastar dos fatos descritos na denúncia, podendo,
contudo, dar-lhes capitulação jurídica diversa, ainda que implique em penalidade mais severa, nos termos
do art. 383 do CPP. 2. Na espécie, mostra-se plenamente possível e válida a nova capitulação jurídica dada
na sentença e mantida no acórdão impugnado, que, em razão dos fatos narrados na denúncia,
desclassificou o delito de concussão para corrupção passiva. 3. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg
no REsp: 1675716 RS 2017/0137201-4, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento: 13/12/2018, T6
- SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 04/02/2019).
[...] 3. O magistrado, desde que observados os fatos da causa (causa de pedir remota) e os pedidos
deduzidos, pode julgar a demanda com respaldo em fundamentos jurídicos diferentes daqueles
apresentados pelas partes, o que em nada afronta o princípio da congruência. Precedentes. (STJ - AgInt
no AREsp: 833851 SP 2015/0317769-6, Relator: Ministro GURGEL DE FARIA, Data de Julgamento: 01/07/2019,
T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 02/08/2019).
[...] Nos termos da jurisprudência desta Casa, "Não ofende o princípio da congruência a condenação por
agravantes ou atenuantes não descritas na denúncia. Inteligência dos arts. 385 e 387, I, do Código de
Processo Penal" (HC 219.068/RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Rel. p/ Acórdão Ministro NEFI
CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 10/05/2016, DJe 20/05/2016). [...] (HC 381.590/SC, Rel. Ministro
ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 06/06/2017, DJe 13/06/2017)
[...] As agravantes, ao contrário das qualificadoras, sequer precisam constar da denúncia para serem
reconhecidas pelo Juiz. É suficiente, para que incidam no cálculo da pena, a existência nos autos de
elementos que as identifiquem. [...] (HC 93211, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em
12/02/2008).
Iniciamos pela compreensão da locução: libelli ou libelo “é a denominação dada à peça escrita em que se
veicula a acusação” (Badaró, 2000). Atribuição das partes, jamais do juiz diante do sistema acusatório.
Emendatio libelli, então, significa a emenda dessa peça acusatória, a correção na imputação feita sem que
se altere sua essência – qual seja, o fato processual –, apenas a classificação jurídica (questão de direito). E
diga-se, desde já, para não causar confusão: classificação, definição e capitulação jurídica significam a mesma
coisa❗
O Código de Processo Penal prevê a emendatio tanto para a sentença quanto para a decisão de pronúncia,
respectivamente:
Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá
atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais
grave.
Art. 418. O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da acusação, embora
o acusado fique sujeito a pena mais grave.
Nas palavras da lei, a emendatio libelli é a mudança na definição jurídica, sem a modificação do fato contido
na acusação. É exatamente isso, sem meias palavras!
Com a emendatio libelli o juiz faz a adequação do fato ao modelo legal de conduta proibida; promove o
magistrado um ajuste na classificação jurídica da infração penal, valendo-se das máximas jura novit curia (o
juiz conhece o direito) e/ou narra mihi factum dabo tibi jus (narra-me o fato e te darei o direito). Repare que
a atividade de subsunção do fato à norma é da essência da função jurisdicional. Ora, é exatamente isso que
o instituto procura garantir, independentemente da interveniência de quem quer que seja.
[...] ao Estado interessa tanto a condenação do culpado quanto a absolvição do inocente, o que
efetivamente deve ser buscado é a correta aplicação da lei penal ao caso concreto,
independentemente do papel desempenhado pelas partes, no que se refere especificamente ao
direito cabível. E essa, a de dizer o direito, é uma tarefa destinada com exclusividade aos órgãos
do Poder Judiciário. [...] A emendatio libelli é a expressão mais eloquente desse compromisso
com a preservação da ordem jurídica. Uma vez narrado o fato na denúncia ou queixa, a
consequência jurídica que dele extrai o seu autor, Ministério Público ou querelante, não vincula,
nem poderia vincular, o juiz da causa. Narra-me o fato que te darei o direito, como dizia o antigo
brocardo latino. Obviamente, a pena a ser aplicada não resulta da escolha do autor da ação, mas
de imposição legal. Assim, a emendatio não é outra coisa senão a correção da inicial (libelo, nessa
acepção), para o fim de adequar o fato narrado e efetivamente provado (ou não provado, se a
sentença não for condenatória, caso em que seria dispensável a emendatio) ao tipo penal
previsto na lei (Pacelli, 2018).
Note que isso pode acontecer, segundo a parte final dos dois artigos citados, mesmo que o juiz acabe por
aplicar uma sanção mais grave do que aquela cominada ao tipo penal desconsiderado.
Não haveria nenhum problema, justamente porque vige no processo penal, como vimos, o princípio da
consubstanciação (o réu se defende dos fatos, não da definição jurídica); por outro lado, a correlação deve
ser observada apenas quanto ao fato processual, não propriamente em relação à tipicidade. Desde que os
fatos considerados sejam os mesmos, o instituto teria plena aplicação.
Por exemplo, a denúncia narra um furto, mas o promotor o qualifica no art. 157 do CP. Na
sentença, o juiz poderá corrigir a qualificação para o art. 155 do CP (Badaró, 2017).
Exemplificando, suponha-se que, em denúncia oferecida pelo Ministério Público, seja imputado
ao acusado a prática do crime de furto qualificado pela fraude, cuja pena é de reclusão, de 2
(dois) a 8 (oito) anos e multa, constando da peça acusatória que o agente teria se valido de fraude
para burlar a vigilância da vítima, afastando seu cuidado com a res, posteriormente subtraída.
Porém, por ocasião do juízo de subsunção, o órgão Ministerial, equivocadamente, classifica esse
fato delituoso como um crime de estelionato, previsto no art. 171, caput, do CP, com pena de
reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa, deixando de oferecer a proposta de suspensão
condicional do processo pelo fato de o acusado estar sendo processado por outro crime. Ao
sentenciar o feito, é evidente que a autoridade judiciária não está vinculada à classificação
formulada pela acusação. [...] Portanto, independentemente do aditamento da peça acusatória
e da adoção de quaisquer providências instrutórias, é plenamente possível que o juiz profira a
sentença condenatória com a capitulação jurídica que lhe parecer mais adequada, ainda que
dessa nova definição jurídica resulte pena mais grave. Logo, no exemplo acima citado, caberia ao
juiz condenar o acusado pela prática do crime de furto qualificado (CP, art. 155, § 4°, II), aplicando
o quantum de pena cominado ao referido delito: reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa
(Lima, 2018).
Pela emendatio libelli, mantêm-se os fatos narrados, mas se conclui que esses fatos – que
constituem a causa petendi da demanda – correspondem a um tipo penal diverso daquele
atribuído pela acusação na peça inicial. Portanto, se o juiz prolatar sentença apenas corrigindo a
definição jurídica, e não oferecendo uma nova, temos a figura aqui estudada. Exemplos: a
desclassificação de crime de extorsão mediante sequestro para extorsão simples; a
desclassificação do estelionato para apropriação indébita etc (Bonfim, 2015).
Por exemplo: a denúncia narra que fulano empurrou a vítima e arrebatou-lhe a corrente do
pescoço, qualificando como furto tal episódio. Nada impede seja proferida sentença
condenatória por roubo, sem ofensa ao contraditório, já que o acusado não se defendia de uma
imputação por furto, mas da acusação de ter empurrado a vítima e arrebatado sua corrente.
Nesse caso, diz-se que houve uma simples emenda na acusação (emendatio libelli), consistente
em mera alteração na sua classificação legal. Trata-se de aplicação pura do brocardo jura novit
curia, pois, se o juiz conhece o direito, basta narrar-lhe os fatos (narra mihi factum dabo tibi jus)
(Capez, 2018).
de defesa ou oblívio ao devido processo legal, porquanto o acusado se defende dos fatos
narrados na denúncia e não do delito nela qualificado. 3. Hipótese em que a falta de intimação
do acusado, em face da desclassificação do delito, não configura cerceamento de defesa. 4.
"Habeas-corpus " indeferido. (HC 73389, Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Segunda Turma,
julgado em 30/04/1996, DJ 06-09-1996 PP-31851 EMENT VOL-01840-02 PP-00292).
Todos esses exemplos tem uma coisa em comum: os fatos da acusação foram aproveitados na íntegra, sem
nenhuma alteração ou acréscimo na narrativa. A modificação, pelo juiz, deu-se exclusivamente em relação
à definição jurídica (ou classificação, ou capitulação, ou qualificação jurídica – como queiram). Não poderia
ser diferente, considerando que a alteração da acusação o juiz, por si, jamais pode fazer – em razão do
sistema acusatório.
Sem muitos efeitos práticos, afinal tudo se refere (ao final) à mudança da definição jurídica, parte da doutrina
destaca 3 formas de emendatio libelli:
1) Emendatio libelli por defeito de capitulação: situação na qual o juiz profere sentença
condenatória ou decisão de pronúncia em conformidade exata com o fato descrito na denúncia
ou na queixa. Sem embargo, reconhece que tal fato amolda-se ao dispositivo penal distinto
daquele que constou na inicial. Exemplo: denunciado o acusado por roubo, mas, por equívoco,
capitulada esta infração na denúncia como o art. 147 do CP (crime de ameaça). Na sentença, o
juiz poderá condenar o réu pelo crime descrito (roubo), esclarecendo, porém, que se trata de
conduta que tem enquadramento no art. 157 do Estatuto Repressivo, cuja pena, evidentemente,
é maior do que a relativa ao artigo equivocadamente atribuído na denúncia.
2) Emendatio libelli por interpretação diferente: examinando a descrição do fato constante da
denúncia ou da queixa, realiza o juiz interpretação diferente da que o fez o Ministério Público ou
o querelante quanto ao enquadramento da conduta narrada. Exemplo: Considere-se que tenha
sido denunciado o agente por homicídio qualificado por meio cruel, por ter cortado a garganta
de colega de cela enquanto este dormia, causando-lhe morte instantânea. Entendendo o
magistrado que esse fato, tal como narrado, não configura a qualificadora do meio cruel (art.
121, § 2.º, III, CP), mas sim a qualificadora do uso de recurso que impossibilitou a defesa do
ofendido (art. 121, § 2.º, IV, CP), poderá reconhecer essa última circunstância independente de
qualquer aditamento da inicial pelo Ministério Público. É que, nesse caso, a nova definição
jurídica atribuída não terá sido decorrência de qualquer inovação ao fato descrito, mas sim de
interpretação diversa quanto ao enquadramento desse mesmo fato.
3) Emendatio libelli por supressão de circunstância: neste caso, o magistrado atribui nova
capitulação ao fato imputado em razão da não constatação, pelas provas angariadas na fase
instrutória, de elemento ou circunstância que estejam contidos na inicial. Em suma, há, aqui,
modificação fática, mas não para acrescentar, e sim para subtrair circunstâncias do fato descrito,
importando esta simples supressão na mudança de classificação jurídica (artigo). Exemplo:
denunciado o acusado por crime de roubo capitulado no art. 157 do CP, sobrevém, no curso da
instrução, a prova de que não houve violência nem grave ameaça. Diante disso, o juiz, suprimindo
da inicial a referência à violência e à ameaça, condena o réu por furto simples. Há, neste caso,
emendatio libelli, já que o furto se encaixa na descrição do roubo. Defendendo-se de um roubo,
defende-se o acusado de furto + violência/ameaça. Desta sorte, basta retirar de um roubo as
Muitos, hoje, como NORBERTO AVENA no último exemplo, tratam a emendatio libelli como se fosse uma
desclassificação, não fazendo distinções entre uma coisa e outra; afinal, ‘desclassificar’ nada mais é do que
deslocar de uma classe (jurídica/típica) para outra. Estritamente falando haveria distinção, mas também sem
muitos efeitos práticos; na desclassificação o juiz rejeitaria parte da imputação, rejeitaria algum elemento
ou circunstância fática para, em consequência, mudar a classificação jurídica. PACELLI & FISCHER esclarecem:
Desclassificação: Já o contrário pode ocorrer. Pode ser que a denúncia narre fatos que
ultrapassam os elementos contidos no tipo penal resultante da emendatio: No exemplo anterior,
suponha-se que a denúncia narre a subtração violenta da coisa, capitulando-a, porém, como
hipótese de furto (art. 155, CP). Suponha-se, mais, que o juiz, entendendo não comprovada a
violência, resolva aplicar aos fatos a sanção do crime de furto, tal como descrito,
equivocadamente, na denúncia. Aqui, teria havido um erro na classificação (deveria ter sido
capitulado o art. 157 e não o art. 155, relativo ao furto), já que efetivamente imputada a prática
de subtração violenta da coisa (roubo e não furto). No entanto, não se trataria, a rigor, de
emendatio libelli. Nesta, o juiz não pode modificar a descrição do fato contido na denúncia, nos
termos do art. 383, CPP. A decisão de condenação significaria, então, hipótese de
desclassificação, mediante a qual o juiz rejeita a existência de uma situação de fato, e, aí sim e
só por isso, faz capitulação diversa daquela que deveria constar (mas não constou) da peça
acusatória (Pacelli, et al., 2018).
Finalmente, há se considerar que não existe restrição quanto à aplicação da emendatio libelli em qualquer
espécie de ação penal, mesmo que condicionada ou privada. Seja denúncia, seja queixa-crime, não
concordando com a qualificação jurídica o juiz poderá aplicar o instituto.
O entendimento corrente, inclusive pela jurisprudência, é de que o momento adequado para o juiz aplicar
a emendatio libelli é quando da sentença , não antes ou em outra oportunidade do procedimento criminal.
“A uma porque o dispositivo que trata da emendatio libelli no CPP - art. 383 - está inserido no Título que
trata da "sentença". Em segundo lugar, ainda prevalece o entendimento de que, no processo penal, o
acusado defende-se dos fatos que lhe são imputados, pouco importando a classificação que lhes seja
atribuída” (Lima, 2018) – de maneira que não haveria razão para se antecipar essa análise que diz respeito
somente à qualificação jurídica.
O Superior Tribunal de Justiça, a seu turno, tem precedente no sentido de que não é possível que o
magistrado, ao receber a denúncia, altere a capitulação jurídica dos fatos a fim de justificar a inocorrência
de prescrição da pretensão punitiva e, consequentemente, viabilizar o prosseguimento da ação penal. No
informativo 509, de 05/12/2012, consta a seguinte notícia:
A verificação da existência de justa causa para a ação penal, vale dizer, da possibilidade jurídica
do pedido, do interesse de agir e da legitimidade para agir, é feita a partir do que contido na
peça inaugural, que não pode ser corrigida ou modificada pelo magistrado quando do seu
recebimento. Com efeito, ainda que se trate de mera retificação da capitulação jurídica dos fatos
descritos na vestibular, tal procedimento apenas é cabível quando da prolação da sentença, nos
termos do art. 383 do CPP (emendatio libelli). Quanto ao ponto, é imperioso destacar que, ainda
que o acusado se defenda dos fatos narrados na denúncia, e não da definição jurídica a eles dada
pelo MP, não se pode admitir que, no ato em que é analisada a própria viabilidade da
persecução criminal, o magistrado se manifeste sobre a adequação típica da conduta imputada
ao réu, o que, evidentemente, configura indevida antecipação de juízo de valor acerca do
mérito da ação penal. Dessa forma, havendo erro na correta tipificação dos fatos descritos pelo
órgão ministerial, ou dúvida quanto ao exato enquadramento jurídico a eles dado, cumpre ao
magistrado receber a denúncia tal como proposta, para que, no momento em que for prolatar a
sentença, proceda às correções necessárias. Ressalte-se que a doutrina e a jurisprudência têm
admitido em determinados casos a correção do enquadramento típico logo no ato de
recebimento da exordial acusatória, mas somente para beneficiar o réu ou para permitir a
correta fixação da competência ou do procedimento a ser adotado. Por outro lado, não se pode
admitir que o magistrado, em prejuízo ao réu e sem que exista erro grosseiro por parte do
membro do Parquet, atue de modo a alterar os parâmetros da denúncia formulada, o que
configura violação ao princípio dispositivo, desrespeito à titularidade da ação penal e
antecipação do julgamento do mérito do processo. Portanto, já transcorrido o lapso
prescricional previsto para o crime imputado na denúncia quando do juízo de admissibilidade da
acusação, é imperiosa a extinção da punibilidade do agente pela prescrição da pretensão punitiva
estatal. Precedentes citados do STF: HC 89.686-SP, DJ 17/8/2007; do STJ: HC 103.763-MG, DJe
16/3/2009. RHC 27.628-GO, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 13/11/2012.
Temos de considerar que a classificação jurídica inicial operada pelo Ministério Público tem relevantes
consequências dentro de um processo: define o procedimento a ser adotado (art. 394, CPP); traduz requisito
objetivo para a concessão de benefícios penais, como transação e suspensão condicional do processo (arts.
76 e 89 da Lei 9.099/1995); demarca o prazo prescricional (art. 109 do Código Penal); estabelece sobre a
admissibilidade de prisão preventiva e outras medidas cautelares (arts. 313, I e 283, § 1º do CPP) e ainda
elege o juízo competente (se for uma infração penal de menor potencial ofensivo, por exemplo, deverá ser
apurada no Juizado). Tudo isso sem falar de eventuais repercussões da gravidade abstrata do crime (art. 282,
II, CPP), prevista como parâmetro de adequação das medidas cautelares.
Em outras palavras: dentro de um processo, o réu está submetido, dadas as várias consequências legais, à
sorte do crime que lhe é imputado; isso tem tudo a ver com a gravidade da infração penal, que decorre da
pena; esta, por sua vez, resulta da tipificação, da classificação jurídica.
Dito isso, é fácil perceber que eventual equívoco na definição jurídica da acusação pode implicar em sérios
erros de ordem processual, além de prejuízos ao réu, em detrimento de seus direitos e garantias (legais e
constitucionais). Um desacerto na denúncia, por exemplo, pode fazer com que o processo tramite por um
juízo incompetente; pode fazer com que ao réu não seja proposta transação ou suspensão condicional do
processo; enfim e sem esgotar as possibilidades, pode fazer com que seja preso indevidamente e o
procedimento adotado não seja o previsto em lei.
Daí a razão de a jurisprudência permitir que o juiz, mesmo antes da sentença e de forma excepcional (quando
a conclusão é evidente e independe de instrução probatória), proceda à correta adequação típica dos fatos
narrados na denúncia para viabilizar, desde logo, o reconhecimento de direitos do réu caracterizados como
temas de ordem pública decorrentes da reclassificação do crime. Nesse sentido, o Informativo 553:
Com efeito, é válida a concessão de direito processual ou material urgente, em tema de ordem
pública, mesmo quando o fundamento para isso seja decorrência de readequação típica dos fatos
acusatórios, em qualquer fase do processo de conhecimento. De fato, o limite do caso penal são
os fatos indicados na peça acusatória. Irrelevante é a adequação típica indicada pelo agente
ministerial, que em nada limita a persecução ou as partes do processo - o juiz e mesmo o
acusador podem compreender até a sentença que os fatos descritos caracterizam crimes outros.
Daí porque não cabe ao juiz corrigir defeito de enquadramento típico da denúncia - na sentença
simplesmente enquadrará os fatos ao direito, na forma do art. 383 do CPP, como simples
exercício de jurisdição. É a emendatio libelli reservada para o momento da prolação da sentença,
ocasião em que o magistrado, após encerrada a instrução e debates, decidirá o direito aos fatos
acusatórios - sem qualquer limitação de enquadramento típico. Ocorre que matérias de ordem
pública, de enfrentamento necessário em qualquer fase processual - como competência,
trancamento da ação, sursis processual ou prescrição -, podem exigir como fundamento inicial
o adequado enquadramento típico dos fatos acusatórios, como descritos (assim independendo
da instrução). Não se trata de alteração do limite do caso penal pela mudança do tipo penal
denunciado - irrelevante aos limites do caso penal - e sim de decidir se há direito material ou
processual de ordem pública, como, por exemplo, a definição do direito à transação penal,
porque os fatos denunciados configuram em verdade crime diverso, de pequeno potencial
ofensivo. Trate-se de simples condição do exercício da jurisdição, aplicando o direito aos fatos
narrados na denúncia para a solução de temas urgentes de conhecimento necessário. Cuida-se
de manifestação em tudo favorável à defesa, pois permite incidir desde logo direitos do acusado.
Impedir o exame judicial em qualquer fase do processo como meio de aplicar direitos materiais
e processuais urgentes, de conhecimento obrigatório ao juiz, faz com que se tenha não somente
a mora no reconhecimento desses direitos, como até pode torná-los prejudicados. Prejuízo pleno
também pode ocorrer, como no direito à transação penal ou sursis processual se realizado o
correto enquadramento típico na sentença, ou acórdão de apelação. Ou no enquadramento da
supressão de valores mediante fraude bancária como estelionato ou furto, pois diferentes os
locais da consumação e, como incompetência relativa, sem renovação dos atos no foro
adequado. Assim, há direito do acusado a ver reconhecida a incompetência, a prescrição, o
direito à transação, a inexistência de justa causa, e, se isso pode reconhecer o magistrado sem
dilação probatória, pela mera aplicação do direito aos fatos denunciados, pode e deve essa
decisão dar-se durante a ação penal, como temas de ordem pública, mesmo antes da sentença.
Se a solução do direito ao caso penal dá-se em regra pela sentença - daí os arts. 383 e 384 do CPP
- temas de ordem pública podem ser previamente solvidos. HC 241.206-SP, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 11/11/2014, DJe 11/12/2014.
Emendatio libelli, portanto e regra geral, somente quando da sentença. Deliberação judicial para mudar
classificação jurídica antes disso, só muito excepcionalmente, “quando não depender de nenhuma dilação
probatória, bastando, para tanto, a análise dos fatos na denúncia, in status assertiones, para verificar o erro
na imputação. Ao contrário, se depender de revolver as provas existentes nos autos, não deverá o
magistrado fazê-lo neste momento procedimental, sob pena de prematura análise, com riscos à efetividade
do processo, em razão dos incidentes que gerará” (Lima, 2018).
É nessa linha a lição de ANTÔNIO SCARANCE FERNANDES, que aponta a presença de 3 (três) vícios
principais que podem macular a classificação e eventualmente exigir a sua correção:
a) classificação atípica: quando não há o tipo penal nela indicado. É muito difícil que o promotor
ou o querelante crie um tipo novo, antes inexistente no ordenamento, como oferecer acusação
por crime previsto em projeto não sancionado ou em medida provisória não convertida em lei.
O que pode suceder é a classificação por crime banido do sistema normativo por lei posterior,
sem ser possível enquadrar o fato em outro tipo remanescente. Nesses casos, o fato descrito é
atípico e, por isso, o juiz deve rejeitar a denúncia ou queixa (CPP, art. 43, I) e, se não o fizer, o
tribunal pode trancar o processo por falta de justa causa em processo de habeas corpus;
b) classificação errônea: ocorre erro quando falta correspondência entre o artigo de lei indicado
na denúncia ou queixa e o fato narrado;
c) classificação excessiva: há abuso quando o promotor ou o querelante classifica o fato descrito
em um tipo rigoroso em vez de situá-lo em outro menos grave e mais apropriado (Lima, 2018).
Jurisprudência pertinente
[...] O órgão jurisdicional não tem competência para substituir-se ao Ministério Público, titular da ação
penal pública, para o fim de retificar a classificação jurídica proposta. Nesse passo, dominante o
entendimento que, em regra, o momento adequado para a emendatio libelli é o da prolação da sentença,
não o recebimento da denúncia, em razão da topografia do art. 383 no CPP e do entendimento que o
acusado defende-se dos fatos imputados, e não da classificação que lhes atribuem. Entrementes,
jurisprudência e doutrina apontam no sentido da anuência com a antecipação da emendatio libelli, nas
hipóteses em que a inadequada subsunção típica macular a competência absoluta, o adequado
procedimento ou restringir benefícios penais por excesso de acusação. [...] (HC 258.581/RS, Rel. Ministro
RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 18/02/2016).
1.12.2 Procedimento
Diferente da mutatio libelli, a emendatio não prevê uma forma de atuação do juiz na aplicação do instituto
ou mesmo a necessidade de intimação ou oitiva prévia das partes. Basta olhar o art. 383 para perceber a lei
não estabeleceu nenhum tipo de providência anterior à mudança da definição jurídica; simplesmente deve
acontecer, de forma fundamentada, na sentença.
Não obstante, alguns autores, em posição minoritária na doutrina, defendem a necessidade de oitiva das
partes antes da aplicação da emendatio libelli.
A permissão dada ao juiz para mudar a qualificação jurídica do fato não significa que possa fazê-
lo, diretamente, sem qualquer comunicação às partes. Os princípios iura novit curia e narra mihi
factum, dabo tibi jus apenas asseguram que o juiz pode alterar a capitulação dos fatos constantes
da denúncia. Porém, outro princípio, o do contraditório, impõe-lhe a comunicação prévia às
partes, antes de tomar uma decisão, ainda que se trate daquelas que podem ser tomadas de
ofício. O respeito ao contraditório visa, também, a evitar surpresas às partes. O contraditório não
se aplica apenas à matéria fática, principalmente aos dados probatórios, mas também diz
respeito às questões de direito. [...] Embora o réu se defenda dos fatos imputados e não da
classificação legal dos fatos, o certo é que o tipo penal exerce influência decisiva na condução da
defesa, de forma que sua alteração poderia surpreendê-la (Badaró, 2000).
Afinal, o contraditório não é aplicável apenas às questões fáticas, notadamente quanto à
produção da prova, mas também guarda relação com as questões de direito debatidas no curso
do processo. Perfeitamente aplicável, nessa hipótese, o quanto disposto no art. 10 do novo CPC,
que prevê que o juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a
respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate
de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. Como o dispositivo não faz qualquer ressalva
quanto à natureza desse fundamento, não se pode interpretá-lo de maneira restritiva. Logo,
independentemente de sua natureza - questão de fato ou de direito -, ambas as partes devem
ter a oportunidade de se manifestar quanto a ele (Lima, 2018).
Esse posicionamento minoritário, inclusive sugerindo a aplicação de dispositivo do Código de Processo Civil,
acaba por ‘fazer tábula rasa’ das diferenças e peculiaridades do processo penal (de que falamos antes),
colocando em segundo plano o princípio da consubstanciação. A jurisprudência do STJ permanece firme no
entendimento majoritário:
[...] Segundo o art. 383 do Código de Processo Penal, o juiz pode dar aos eventos delituosos
descritos na inicial acusatória a classificação legal que entender mais adequada, procedendo à
emenda na acusação (emendatio libelli), sem que isso gere surpresa para a defesa. (HC 411574,
Rel. Min. Felix Fischer, publ. 13/10/2017)
Sustentando o pensamento contrário à oitiva das partes, vejamos as lições de PACELLI & FISCHER:
exercício da ampla defesa impõe ao defensor técnico o dever das cogitações possíveis acerca do
juízo de subsunção (adequação do tipo ao fato) a ser feito em relação à conduta imputada, até
como questionamento essencial à questão de direito. Não pode ele se limitar à impugnação dos
fatos; impõe-se-lhe, também, especular sobre o direito cabível (Pacelli, et al., 2018).
Para finalizar o tópico, os dois parágrafos do art. 383 do Código de Processo Penal merecem ser explicados,
começando ‘de trás para a frente’ por razões didáticas:
Simples, caso o juiz altere a classificação jurídica do fato na sentença e perceba, com isso, que a nova infração
não é da sua alçada, deverá declinar da competência, encaminhando o processo para o juízo competente –
nada mais lógico!
Essa norma é no mesmo sentido de anterior Súmula do Superior Tribunal de Justiça (nº 337), que assim
estabelece:
Em suma: seja porque o juiz não acolheu alguma imputação tal como proposta pela acusação, seja porque
modificou a definição jurídica, antes de apreciar os fatos (julgando o mérito propriamente dito, para
condenar ou absolver), deverá oportunizar o benefício da suspensão condicional do processo, previsto no
art. 89 da Lei nº 9.099/1995, mediante vista para o Ministério Público. AVENA explica e exemplifica:
E se o crime para o qual foi operada a desclassificação provocada pela emendatio libelli tiver
cominada pena mínima abstrata igual ou inferior a um ano, possibilitando, em consequência, a
suspensão condicional do processo a que alude o art. 89 da Lei 9.099/1995? Nesta hipótese,
preceitua o art. 383, § 1.º, do CPP, que “o juiz procederá de acordo com o disposto em lei”. Em
síntese, simetricamente à situação anteriormente analisada, deverá o magistrado criminal
proferir, fundamentadamente, decisão desclassificatória e, antes de manifestar-se quanto à
condenação ou absolvição, facultar vista ao Ministério Público quanto à possibilidade de ser
efetivado ao acusado o sursis processual. Entendendo o Parquet não ser o caso de efetuar essa
proposta (v.g., pelos péssimos antecedentes do indivíduo), ou sendo ela efetuada pelo Promotor
de Justiça e recusada pelo réu, retornarão os autos ao juiz para prosseguir sua decisão e decidir
quanto à condenação ou absolvição do imputado. [...] Exemplo:
Considere-se que tenha sido o réu denunciado por roubo praticado mediante violência real
causadora de lesões corporais graves (art. 157, § 3.º, do CP – pena: 7 a 15 anos). Suponha-se que,
no curso da instrução, venha a ficar comprovado que não houve qualquer subtração ou tentativa
de subtração do patrimônio da vítima pelo réu, reclamando-se a desclassificação do crime
descrito de roubo para lesões corporais graves (art. 129, § 1.º, do CP – pena: 1 a 5 anos). A
hipótese, evidentemente, não importa em qualquer acréscimo de circunstâncias ao fato descrito,
caracterizando-se como emendatio libelli (roubo = subtração + lesões corporais – portanto, ao
defender-se de roubo, já se defendeu o réu do crime de lesões). Ora, se tivesse atribuído a
denúncia, desde o início do processo, o crime de lesões graves, teria sido possível ao Promotor
de Justiça propor ao acusado a suspensão condicional do processo a que alude o art. 89 da Lei
9.099/1995, pois a pena mínima cominada a tal infração é de um ano. Considerando, todavia,
que a inicial atribuiu o delito de roubo, que tem apenamento mínimo de quatro anos, restou
inviabilizada essa medida. Destarte, para não causar prejuízo ao réu, impõe-se que o magistrado,
ao receber conclusos os autos para a sentença, proceda à desclassificação do crime de roubo
para lesões graves, restringindo-se, contudo, ao aspecto da correta tipificação da conduta, isto
é, sem qualquer juízo acerca da condenação ou absolvição. Depois de realizada essa
desclassificação, deverá o juiz determinar vista do processo ao Ministério Público para que se
manifeste quanto à possibilidade de propor ao acusado o sursis processual de que trata o art. 89
da Lei 9.099/1995 (Avena, 2017).
Segundo o art. 617 do Código de Processo Penal, o instituto em referência pode ser aplicado perante os
tribunais.
Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383,
386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o
réu houver apelado da sentença.
Este resumido artigo do CPP é bastante conhecido; não exatamente por prever a emendatio libelli (art. 383)
para os tribunais, câmaras ou turmas, mas sim por estabelecer o princípio que veda a reformatio in pejus. “O
princípio em tela consubstancia-se em proibição de revisão do julgamento do qual, sem haver recurso
acusatório específico, resulte alteração prejudicial à situação do réu” (Pacelli, et al., 2018). É estudado, com
mais propriedade, quando tratamos de recursos no processo penal. A premissa fundamental para sua
possível incidência, é que o Ministério Público não tenha recorrido e impugnado a matéria passível de
reforma que prejudique o réu.
De qualquer modo, a compreensão que resta, no que agora nos interessa, é que a emendatio libelli poderá
ser aplicada pelos tribunais; afinal, eles também têm o livre convencimento, que não é exclusivo dos
magistrados de primeira instância – desde que os acórdãos não importem em violação à ne reformatio in
pejus.
[...] se o acusado for condenado em primeira instância pela prática de crimes contra a ordem
tributária (Lei n° 8.137/90, art. 1º, I, II e IV) e apropriação indébita previdenciária (CP, art. 168-
A), dos quais tenha resultado um prejuízo equivalente a 2 milhões de reais, é perfeitamente
possível que o Tribunal dê provimento à apelação interposta pelo Ministério Público para
reconhecer a incidência da causa de aumento de pena prevista no art. 12, I, da Lei no 8.137/90,
haja vista a elevada quantia sonegada. Nesse caso, ter-se-ia hipótese de emendatio libelli
(correção da inicial) e não de mutatio libelli (alteração do próprio fato imputado ao acusado), já
que a denúncia mencionara explicitamente todos os fatos que deram ensejo à condenação do
acusado. Logo, não haveria necessidade de aditamento da denúncia. Destarte, por ocasião do
julgamento da apelação interposta pelo Ministério Público, seria perfeitamente possível que o
Tribunal alterasse a definição jurídica dos fatos, ainda que isso importasse em aplicação de pena
mais gravosa (Lima, 2018).
Note que, em razão da vedação à reformatio in pejus, no exemplo citado, caso o Ministério Público não
tivesse apelado (devolvendo, então, o conhecimento dessa questão específica à instância superior), não
poderia o tribunal reconhecer a causa de aumento e majorar a pena do réu.
Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato,
em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal
não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5
(cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública,
reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.
§ 3º Encerrada a instrução probatória, observar-se-á, se for o caso, o disposto no art. 384 deste
Código.
Quem vai estudar a matéria somente com base na lei tem problemas! BADARÓ chama a atenção para a
“absoluta imprecisão terminológica” da norma. Embora a mutatio libelli retrate situação em que deve
ocorrer a alteração dos fatos imputados e não apenas a qualificação jurídica, o legislador utilizou o termo
definição jurídica do fato – o que leva a equívocos e dificuldade na compreensão da matéria.
Ora, o que é novo ou diverso é o fato e não apenas a sua classificação legal. Alterando-se os
fatos, normalmente, haverá alteração de sua definição jurídica, mas a mudança desta é apenas
consequência da alteração fática. [...] sempre que haja alteração fática relevante, será necessário
Em termos bem simples, o art. 384 retrata hipótese em que a acusação narra determinada situação fática e
atribui uma correspondente classificação jurídica; após a instrução criminal, da análise das provas se percebe
que a situação fática é outra, ou, não é bem aquela descrita. Para não violar o princípio da correlação, a
acusação tem de ser corrigida/alterada (aditamento), o que, via de consequência, pode implicar na alteração
da classificação jurídica.
Exemplo: suponha que João seja denunciado por furto (art. 155 do Código Penal). Isso porque,
resumidamente, no dia tal, por volta de tal hora, teria clandestinamente pegado (subtraído), no calçadão do
centro da cidade, a bolsa de Maria. Essa denúncia é recebida e o procedimento segue. Ao final, depois de
produzidas as provas, descobre-se que, na verdade, João empunhou uma faca, ameaçou e obrigou Maria a
entregar-lhe a bolsa. Evidentemente, não seria correto (obrigatoriedade e indisponibilidade da ação pública)
o juiz julgar João pelo furto (afinal, não foi só uma subtração que ocorreu, houve uso de faca e grave ameaça);
também não poderia o magistrado simplesmente condenar João por roubo (art. 157 do Código Penal), sem
correção na imputação e sem dar a ele oportunidade de se defender quanto ao uso da faca e à existência de
grave ameaça. Tal atitude violaria o princípio da correlação, o contraditório e a ampla defesa. A solução para
o impasse, prevista em lei, é o dever de o Ministério Público aditar a denúncia, para efeito de, neste exemplo,
alterar/acrescer a narrativa, atribuindo a grave ameaça e o uso da faca por parte de João. Só depois desse
aditamento, após um procedimento previsto em lei (assegurando-se o contraditório e a ampla defesa), é que
o juiz poderá, se for o caso, condenar João como incurso no tipo penal do art. 157 do Código Penal.
Esse instituto decorre do sistema acusatório, do princípio da inércia da jurisdição, na medida em que o juiz
não deve tomar a iniciativa para apuração de fatos que não constam na imputação.
O art. 384 do CPP fala em elemento ou circunstância. Elementar é componente do tipo básico, dado essencial
da conduta para caracterização da infração penal. No exemplo do furto, a subtração da coisa alheia móvel
prevista no caput do art. 155 do Código Penal; no do roubo, além da subtração, a grave ameaça (prevista no
caput do art. 157 do Código Penal). Circunstância é componente do tipo derivado, dado não essencial que
se agrega ao tipo, que circunda o crime. No exemplo que demos não indicamos nenhuma circunstância, mas
num furto poderia ser a prática durante o repouso noturno, o rompimento de obstáculo ou qualquer outra
hipótese prevista nos parágrafos do art. 155 do Código Penal.
precisam constar da peça acusatória da ação penal pública, tal qual previsto pelo art. 385 do CPP
(Lima, 2018).
Note que o art. 383 (emendatio) fala em definição jurídica diversa, ao passo em que o art. 384 (mutatio)
refere a nova definição jurídica do fato. Pelo ponto de vista da lei, podemos concluir, então, que tanto a
emendatio quanto a mutatio implicam em o juiz realizar uma capitulação jurídica diferente na sentença. É o
ponto em comum dos institutos (mudança na definição jurídica) – mas, qual a diferença entre eles❓
A diferença está em que na mutatio libelli a mudança da classificação jurídica tem como pressuposto a
alteração dos fatos; A nova definição jurídica é apenas uma consequência da modificação dos fatos.
A imputação não corresponde com o que as provas mostram que efetivamente aconteceu, tendo
desconformidade naquilo que lhe é mais essencial – o fato criminoso e suas circunstâncias (art. 41, CPP). O
juiz não poderia julgar a ação dessa forma, sob pena de incorrer em violação à correlação ou gritante injustiça
frente à realidade. O juiz, por si, não pode proceder à alteração dos fatos (em razão do sistema acusatório),
de maneira que será necessário o aditamento da acusação, conforme reza o art. 384 do Código de Processo
Penal.
Os exemplos, não obstante algumas divergências na interpretação, são importantes para a compreensão do
tema. Seguem situações comuns, destacadas por AVENA, que costumam ocorrer na prática forense:
público” já faz surgir a figura do furto ou da apropriação. Não há, portanto, acréscimo de
circunstâncias, na sentença, de que não tenha o réu se defendido, pois ao defender-se de
peculato, automaticamente defendeu-se de subtração ou apropriação. A situação inversa –
desclassificação de apropriação ou furto para peculato –, acarreta mutatio, já que exige o
reconhecimento, pelo magistrado, de que a subtração ou apropriação fora praticada pelo agente
na condição de funcionário público, não se encontrando esta circunstância elementar descrita
na inicial acusatória.
Desclassificação de furto para receptação: não há dúvidas de que o procedimento exige
aplicação do disposto no art. 384 do CPP. Afinal, a conduta física de subtrair constante no art.
155 do CP é absolutamente diversa da conduta de adquirir, receber, ocultar e qualquer outra
constante similar do art. 180 do CP. Destarte, tal ordem de desclassificação importaria em
considerar o magistrado, na sentença, fundamento da condenação, conduta diferente da
descrita. Em síntese, ao defender-se de um furto, não se defendeu o réu de uma receptação. E a
recíproca também seria verdadeira, fosse o caso.
Desclassificação de injúria para calúnia: suponha-se que tenha a queixa-crime atribuído o
delito de injúria ao querelado, aduzindo que este chamou o querelante de ladrão.
Posteriormente, fica evidenciado pela prova dos autos que, em verdade, o acusado havia dito
que o querelante furtou seu aparelho celular, tipificando-se, em tese, o delito de calúnia. A
hipótese configura mutatio libelli, o que impede o magistrado de proceder à condenação por
calúnia, pois, se assim o fizesse, estaria reconhecendo fato específico – a falsa atribuição de furto
do celular –, conduta física esta da qual jamais se defendeu o réu.
Desclassificação de roubo para extorsão e vice-versa: o roubo pressupõe o ato físico do
agente de subtrair coisa alheia móvel mediante violência ou grave ameaça (art. 157 do CP). Já a
extorsão, ao contrário, consuma-se com a atitude do sujeito ativo que, mediante violência ou
grave ameaça, constrange a vítima à prática de um determinado comportamento. Trata-se, como
se vê, de situações distintas, não podendo o magistrado desclassificar uma conduta sem antes
ter sido aplicado o regramento inserido ao art. 384 do CPP (mutatio libelli), com o objetivo de
possibilitar ao réu defender-se das novas circunstâncias emergentes nos autos e que conduzirão
ao novel entendimento do magistrado na sentença.
Desclassificação de furto qualificado para furto simples: evidentemente, trata-se de mera
emendatio libelli, caracterizada pelo simples afastamento da qualificadora imputada sem
acréscimo, na sentença, de circunstâncias novas não descritas. O oposto – condenação por furto
qualificado do acusado denunciado por furto simples – importaria em mutatio libelli, já que a
sentença surpreenderia o acusado ao reconhecer circunstância não descrita na peça acusatória.
Desclassificação do crime do art. 33 da Lei 11.343/2006 para o tipo do art. 28 da mesma lei:
É acontecimento normal indivíduos acusados de porte de drogas para fim de tráfico defenderem-
se com a alegação de que traziam a droga para consumo próprio. Nesse caso, surge a indagação:
observados aspectos de competência, é possível ao Juiz condenar pelo art. 28 da Lei 11.343/2006
(porte de drogas para uso pessoal) indivíduo acusado pela prática da conduta do art. 33 da
mesma lei (porte de drogas para mercancia), sem a prévia aplicação do art. 384 do Código de
Processo Penal? Entendemos que nada impede a referida desclassificação quando a finalidade
de uso pessoal da droga tiver sido a própria tese defensiva do réu. Caso isso não ocorra – imagine-
se que a versão do acusado seja a de que a droga apreendida em seu veículo não lhe pertencia,
tendo sido lá enxertada por desafetos –, reputamos indispensável a aplicação da disciplina do
art. 384 do CPP, não sendo lícito ao juiz, sem isso, desclassificar a conduta do art. 33 para a
conduta do art. 28 da Lei 11.343/2006, pois implicaria surpreender a defesa com o
Os exemplos e as situações são os mais variados e muitos deles dão margem a controvérsia;
todavia, partindo da premissa de que há necessidade de modificação da capitulação jurídica,
a pergunta para distinguir se é caso de emendatio ou mutatio libelli é uma só: os fatos
(elementos e circunstâncias) estão correta e integralmente descritos na acusação❓ Se a
resposta for positiva – emendatio (art. 383, CPP); negativa – mutatio (art. 384).
Imaginemos que Bill Wood esteja caminhando pela rua quando Diu, um famoso punguista da
região, esbarra em Bill e leva sua carteira. Há dúvida doutrinária se este crime seria furto ou
roubo. Imaginemos então, que o promotor denuncie Diu por furto. Poderá o juiz condená-lo por
roubo sem ouvir ninguém no momento da sentença? Ou seja, sem que as partes se manifestem
sobre isso? Primeiro verifiquemos como o sistema processual se apresenta na solução deste caso
e, depois, compreendamos as críticas ao sistema posto nos arts. 383 e 384 do CPP. A resposta
para a questão acima passa por uma pergunta fundamental: o que estava descrito na denúncia?
Se na denúncia constou que Diu esbarrou em Bill, isso significa que os fatos estão
adequadamente descritos na denúncia. Uma vez que o acusado se defende dos fatos descritos
na denúncia e não da classificação do crime, então o juiz poderá condená-lo, ainda que seja por
crime mais grave, sem que ninguém precise ser ouvido ou a denúncia aditada. É a chamada
emendatio libelli prevista no art. 383 do CPP. [...] Situação diversa ocorreria caso não constasse
da denúncia o esbarrão de Diu em Bill, teríamos então a chamada mutatio libelli, prevista no art.
384 do CPP. Ora, como o acusado se defende dos fatos e não da classificação jurídica, então
haveria necessidade de aditamento pelo Ministério Público do quanto contido na denúncia
(Dezem, 2018).
De acordo com o § 3º do art. 411 (relativo ao rito do júri) e conforme o art. 384 do CPP, o momento propício
para aplicação do instituto é quando do encerramento da instrução probatória. Claro, é necessária a
completa produção da prova para que se saiba, com alguma margem de segurança, que a descrição dos fatos
na acusação está em desconformidade.
Por outro lado, a mutatio libelli não se aplica em segunda instância ou a nível recursal. Isso é o que se conclui
pela omissão voluntária ao art. 384 na norma do art. 617 do CPP. Não bastasse, veja-se a Súmula 453 do
Supremo Tribunal Federal:
Não se aplicam à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do Código de Processo
Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de
circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou
queixa.
A proibição serve para evitar que haja a supressão de instância, conforme explica BRASILEIRO:
[...] fosse possível sua aplicação em segunda instância, haveria supressão do primeiro grau de
jurisdição, já que o acusado se veria impossibilitado de se defender quanto à imputação diversa
perante o juiz de 1ª instância. Logo, se o art. 384 do CPP não foi aplicado no primeiro grau de
jurisdição, não poderá haver o aditamento da peça acusatória em sede recursal, nem tampouco
poderá o tribunal considerar fatos diversos daqueles constantes da imputação. Há, pois, uma
limitação cronológica à mutatio libelli: não se admite a possibilidade de mudança da imputação
em seu aspecto fático após o juiz proferir a sentença. [...] Na medida em que é vedada a mutatio
libelli na segunda instância, se, no julgamento de uma apelação, o Tribunal concluir que surgiu
Pode-se cogitar de mutatio libelli nos tribunais somente em caso de foro por prerrogativa de função,
justamente porque aí o réu seria julgado originariamente (não a nível recursal), não ocorrendo supressão de
instância, como na hipótese de um Senador ser julgado perante o Supremo Tribunal Federal.
Segundo a doutrina, a mutatio libelli só deveria ser utilizada na “situação em que, na instrução criminal, se
descobre ou um aspecto diverso do fato imputado ou um dado fático desconhecido que altera o fato
originário. É necessário que a alteração fática guarde relação com o fato originário. Não se enquadra em tal
previsão a hipótese em que surja fato novo, totalmente diverso e divorciado do fato inicialmente imputado”
(Badaró, 2000).
O fato novo é aquele que não se agrega àquele originariamente imputado; não tem relação com o fato
inicialmente imputado, representando uma imputação autônoma, dissociada da primeira.
De outro lado, o “fato é diverso quando os elementos de seu núcleo essencial correspondem parcialmente
aos do fato da imputação, mas com o acréscimo de algum elemento que o modifique” (Lima, 2018). Cuida-
se de uma “alteração fática provocada pela descoberta de aspectos diversos do próprio fato imputado. Deve
existir uma relação, um liame, que una esses dados fáticos com o próprio fato imputado. Isso não quer dizer
que, do ponto de vista do fato penalmente considerado, não possa surgir nova tipificação legal” (Badaró,
2000).
O que resulta da mutatio, ou o que pode dela resultar, limita-se, do ponto de vista causal e
temporal, ao núcleo da conduta imputada, ou, quando nada, ao bem jurídico protegido no tipo.
É dizer: o verbo ou a ação típica deve manter-se na nova definição do fato, assim como o objeto
material atingido. Não se pode alterar completamente a imputação, como se o fato constante da
peça acusatória não tivesse qualquer relevância. Não é disso que se trata (Pacelli, et al., 2018).
É para o fato diverso que se reserva a mutatio libelli, já que o art. 384 do CPP fala em elemento ou
circunstância da infração penal não contida na acusação. “A referência aos elementos ou circunstâncias
explicita a matéria reservada à mutatio, quando associada à infração penal. Trata-se de elementares ou de
circunstâncias que, embora não contidas na acusação, comporiam um novo tipo penal, normalmente mais
amplo (na descrição) que aquele narrado na denúncia ou na queixa (na ação subsidiária da pública)”. “É
preciso, então, que o novo elemento (ou circunstância) se agregue aos elementos básicos e essenciais
narrados na peça acusatória”.
O (exemplo) clássico: (a) no furto, surge a prova de violência ou grave ameaça na subtração da
coisa: impõe-se a mutatio, sob pena de se condenar por crime evidentemente menos grave. O
problemático: (b) no furto, prova-se lícita a posse anterior da coisa, embora retida indevidamente
pelo agente. Nesse caso, houve alteração radical: de uma subtração de algo que estava em poder
de outro, alterou-se para a manutenção da coisa. Como se vê, são completamente distintas as
ações de subtrair e de reter a coisa. No entanto, acreditamos também aqui possível a mutatio,
em razão da identidade nuclear da coisa, objeto da retenção, de modo a permitir a alteração do
furto para a apropriação indébita (Pacelli, et al., 2018).
Tudo tem a sua lógica, perceba! Na mutatio não se estabelece um novo processo, a
ideia é se aproveitar aquele já existente (inclusive com alguma economia processual)
para viabilizar a correção ou o acréscimo de elementos ou circunstâncias na infração
penal já imputada, mesmo que para isso a tipificação seja completamente alterada. Se
as provas, inesperadamente, demonstram crime outro, dissociado daquele em
apuração no processo (os fatos novos não se relacionam com os já atribuídos), o
caminho é outro, passa pela iniciativa do Ministério Público em oferecer nova denúncia, dando início a um
novo processo penal que, inclusive, deve ser distribuído e pode tramitar por outro juízo. O art. 40 do Código
de Processo Penal, a propósito, disciplina a postura do juiz nesses casos:
Art. 40. Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os juízes ou tribunais verificarem a
existência de crime de ação pública, remeterão ao Ministério Público as cópias e os documentos
necessários ao oferecimento da denúncia.
1.13.3 Procedimento
O art. 384 do CPP e seus parágrafos, buscando resguardar o contraditório e a ampla defesa, preveem um
procedimento para a emendatio libelli.
O caput fala no necessário aditamento, incumbência do Ministério Público que se verifica na imperatividade
da locução deverá aditar. O ideal, portanto, é que isso aconteça espontaneamente, de ofício pelo parquet,
evitando-se que o juiz interfira, de qualquer modo, na acusação.
[...] não há qualquer óbice a que seja tal aditamento realizado pelo Ministério Público ex officio,
vale dizer, independente de provocação judicial, caso em que o Promotor de Justiça não ficará
sujeito a prazo algum para realizá-lo, bastando que o faça antes da sentença, conforme
autorizado pelo art. 569 do CPP (Avena, 2017).
A nova disciplina da correlação entre acusação e sentença, principalmente no que toca à mutatio
libelli, reforçou sobremaneira o sistema acusatório. A necessidade de aditamento da denúncia
independe da quantidade de pena ou da gravidade dos fatos diversos surgidos no decorrer do
processo. Havendo alteração fática relevante, independentemente da pena aplicável a tal fato,
deverá o acusador aditar a denúncia ou a queixa, para incluí-la na imputação e, só assim, poderá
o juiz considerar tais fatos ao sentenciar. O problema não é de gravidade da pena, mas de
conteúdo da imputação (Badaró, 2017).
A controvérsia na doutrina surge quando o Ministério Público não toma a iniciativa; nessa situação, a questão
que se coloca é se o juiz poderia provocar o titular do órgão para que fizesse o aditamento. Parte da doutrina,
aqui representada nas palavras de BADARÓ, entende que não existe mais (depois da alteração do art. 384 pela
Lei 11.719/2008) o aditamento provocado:
O caput do art. 384 deixa claro que o aditamento da denúncia é atribuição exclusiva do
Ministério Público, não podendo o juiz aditar a peça acusatória ou impor seu aditamento ao
acusador. Ou seja, não mais existe a possibilidade de aditamento provocado, como ocorria
anteriormente. Com isso, fica fortalecido o sistema acusatório, reforçando-se a exclusividade do
Ministério Público como órgão de acusação, e preservando-se a imparcialidade do juiz, a quem
caberá apenas julgar a acusação posta originariamente (segundo a denúncia) ou
supervenientemente (por força de aditamento) pelo Ministério Público (Badaró, 2017).
Diante dessa previsão, muitos autores compreendem que persiste a possibilidade de aditamento provocado
pelo juiz, pelo menos de modo ‘parcial’. Nesse sentido:
[...] apesar de o juiz não poder baixar o processo a fim de que o Promotor de Justiça adite a peça
acusatória, como estava previsto no revogado parágrafo único do art. 384 do CPP, ainda incumbe
ao magistrado o exercício da função anômala de fiscal do princípio da obrigatoriedade, podendo
encaminhar os autos à Chefia do Ministério Público caso o órgão do Ministério Público de 1º
instância não proceda ao aditamento. [...] Na verdade, apesar de a aplicação do art. 28 do CPP
acarretar certo prejuízo à imparcialidade do magistrado, é sabido que essa função anômala
exercida pelo juiz de fiscalização do princípio da obrigatoriedade é extremamente comum no
âmbito processual penal, não apenas nos casos de não aditamento espontâneo pelo Promotor
de Justiça, mas também nas hipóteses de controle judicial do arquivamento do inquérito policial
e nos casos de recusa injustificada do oferecimento da proposta de transação penal ou de
suspensão condicional do processo (Súmula n° 696 do STF) (Lima, 2018).
Havendo o aditamento e sendo este recebido, conforme reza a parte final do § 4º do art. 384, o juiz estará
vinculado a essa segundo imputação, até para evitar acusação ‘alternativa’ em prejuízo da defesa do réu.
§ 4º Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de 5
(cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento.
Se não houver aditamento (e o juiz não se utilizar do art. 28 do CPP) ou se o aditamento não for recebido
(art. 395, CPP), segue o processo normalmente, tomando em conta a imputação originária, esta que
delimitará a prestação jurisdicional.
Vinculação do juiz ao aditamento: Ora, a vinculação aqui mencionada não ultrapassa os limites
já estabelecidos ao juiz no momento do oferecimento da denúncia, no sentido de impedir que o
magistrado reconheça e aprecie fatos e circunstâncias não constantes da peça acusatória. [...]
Assim, se feito o aditamento, os fatos ali contidos poderão ser apreciados na sentença; se não
houver (aditamento), o juiz seguirá a imputação feita na denúncia (ou queixa). Em resumo,
modificada a acusação, na mutatio, o juiz deve se limitar a ela (modificação), não se lhe
permitindo quaisquer acréscimos não contidos no aditamento (Pacelli, et al., 2018).
Em outras palavras, havendo aditamento da denúncia por força da mutatio libelli, o fato
imputado passará a ser exclusivamente o fato superveniente, que substitui o fato originário.
Nessa linha, como aduz BADARÓ, ''se o juiz condenar o acusado pelo fato originário, estará
proferindo uma sentença extra petita e, consequentemente, viciada pela nulidade absoluta, tal
qual ocorre com qualquer sentença que viole a regra da correlação entre acusação e sentença"
(Lima, 2018).
Preceitua o art. 384, § 4.º, in fine, que, com o aditamento, ficará o juiz, na sentença, adstrito aos
respectivos termos. Isto quer dizer, apenas, que não poderá o juiz reconhecer circunstâncias
outras que, ausentes na inicial, também não tiverem sido objeto do aditamento. Nada lhe
impede, porém, de julgar o indivíduo pela prática do delito exposto na inicial, e não pelo crime
objeto do aditamento, pois, de qualquer sorte, houve defesa a respeito do mesmo. Exemplo:
considere-se que tenha sido o agente denunciado por furto. No curso da instrução, surgida a
prova de violência, houve aditamento pelo Ministério Público, atribuindo o crime de roubo (art.
384, caput). Após vista à defesa (art. 384, § 2.º), suponha-se que tenha o magistrado recebido o
aditamento, inquirindo as novas testemunhas arroladas, realizando debates e proferindo
sentença. Nada obsta que, nessa oportunidade, entenda o magistrado por condenar o réu por
furto, que era a imputação inicial, e não por roubo, que foi o objeto do aditamento, pois houve,
no caso, possibilidade de defesa em relação a ambas as imputações. Aplica-se aqui, enfim, a
teoria da imputação alternativa superveniente, incidente na hipótese de mutatio libelli quando,
diante de aditamento da denúncia pelo Ministério Público em decorrência de novos elementos
ou circunstâncias surgidos na fase instrutória do processo criminal, uma nova imputação é feita
ao réu, permitindo-se ao juiz, no momento da sentença, optar por julgá-lo com base na
imputação original ou pela que sobreveio com o aditamento. Outro exemplo: o Ministério
Público denuncia alguém pelo crime de furto, sobrevindo, após, evidências no sentido de que
ocorreu, na verdade, uma apropriação indébita. Diante disto, o MP, com fulcro no art. 384 do
CPP, adita a denúncia, atribuindo o delito de apropriação. Neste cenário, haverá, dentro do
processo, duas imputações alternativas – furto ou apropriação indébita, podendo o juiz absolver
o réu ou condená-lo por qualquer delas (Avena, 2017).
Quanto aos possíveis recursos em relação a essas situações, vejamos a lição de AVENA e BRASILEIRO:
Compreendendo-se, na atual concepção do art. 384 do CPP, que ainda seja possível ao juiz
determinar vista dos autos ao Ministério Público para fins de aditamento quando constatar a
possibilidade de nova definição jurídica do fato, tal pronunciamento será irrecorrível, pois dele
não decorre qualquer sucumbência. É que tal manifestação do juiz não possui natureza jurídica
de uma decisão, no sentido técnico do termo, sujeita à preclusão ou a trânsito em julgado.
Apelável, isto sim, será a sentença do juiz exarada após, seja pelo crime objeto do aditamento
(caso tenha sido este realizado), seja pelo delito originariamente imputado ao réu (na hipótese
de recusa do Ministério Público ao aditamento e da concordância do Procurador-Geral de Justiça
com essa posição) (Avena, 2017).
O que pode a parte fazer se o magistrado rejeitar o aditamento à peça acusatória? Qual o recurso
cabível? A resposta à indagação passa, obrigatoriamente, pela análise do momento processual
em que ocorrer a rejeição do aditamento à peça acusatória. Se a rejeição do aditamento ocorrer
por meio de decisão interlocutória não temos dúvida em afirmar que o meio de impugnação será
o recurso em sentido estrito, por meio de interpretação extensiva do art. 581, I, do CPP. De modo
diverso, caso a rejeição do aditamento da peça acusatória seja feita em sede de sentença,
condenatória ou absolutória, o recurso cabível será o de apelação. Atente-se para o (ato de que,
por força da Lei n° 11.719/08, o Código passou a prever uma audiência una de instrução e
julgamento (CPP, arts. 400 e seguintes). Logo, é possível, pois, que esse aditamento ocorra na
própria audiência - note-se que o art. 384, caput, do CPP, fala em redução do aditamento a termo,
quando feito oralmente - do que se infere a possibilidade de aditamento na própria audiência.
Supondo, assim, que o aditamento tenha sido feito no curso da audiência una de instrução e
julgamento e que, após rejeitá-lo, profira o magistrado sentença absolutória ou condenatória, há
de se concluir pelo cabimento do recurso de apelação, ainda que se queira recorrer apenas
contra a rejeição do aditamento. Isso porque, segundo o art. 593, I, do CPP, caberá apelação no
prazo de 5 (cinco) dias das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz
singular. Ademais, quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito,
ainda que somente de parte da decisão se recorra (CPP, art. 593, § 4°) (Lima, 2018).
Ainda dentro do procedimento da mutatio libelli, a lei resguardou o contraditório e a ampla defesa,
especialmente pelas previsões do § 2º do art. 384 do CPP:
Veja-se que, grosso modo, o aditamento representa uma quase completa renovação do procedimento. Com
imputação nova, manifestação da defesa, reabertura da instrução e interrogatório.
Uma vez ouvida a defesa, haverá um juízo de admissibilidade sobre o aditamento da peça
acusatória. Com efeito, ao se referir à admissão do aditamento, o § 2° do art. 384 do CPP deixa
claro que o magistrado tem 02 (duas) opções: receber ou rejeitar o aditamento. Portanto, o
magistrado não é obrigado a receber o aditamento, podendo rejeitá-lo, caso entenda presente
uma das hipóteses do art. 395 do CPP. O próprio § 5º do art. 384 confirma esse entendimento,
ao prever que, não recebido o aditamento, o processo prosseguirá normalmente, com base na
imputação originária. Recebido o aditamento da peça acusatória, o juiz deve designar dia e hora
para continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado,
realização de debates e julgamento. De acordo com o art. 384, § 4°, havendo aditamento, cada
parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de 5 (cinco) dias. Apesar de o § 4º do art.
384 prever que, havendo aditamento, a parte poderá arrolar até 3 testemunhas, é certo que
poderá ser requerido qualquer tipo de prova. Note-se que o art. 384, § 4°, do CPP, estabelece
que, havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de 5
(cinco) dias. A redação do dispositivo é um pouco dúbia, já que parece referir-se à abertura de
novo prazo de 5 (cinco) dias para que as partes possam arrolar testemunhas. Tendo em conta
que a reforma processual de 2008 teve como um de seus escopos imprimir maior celeridade ao
procedimento, não faz sentido a reabertura de novo prazo para apresentação das provas
pretendidas pelas partes se cada uma delas já teve a oportunidade de se manifestar. Na medida
em que a lei já confere o prazo de 5 (cinco) dias para o aditamento (CPP, art. 384, caput), e mais
5 (cinco) dias para a oitiva da defesa (CPP, art. 384, § 2°), as provas pretendidas pelas partes
devem ser especificadas nessas oportunidades, sob pena de preclusão. Mesmo que as partes não
requeiram a produção de qualquer tipo de prova, subsiste a necessidade de designação de nova
data para a continuação da audiência de instrução e julgamento. Afinal, diante dessa imputação
superveniente, será imprescindível a realização de novo interrogatório do acusado, a fim de que
possa exercer a autodefesa (direito de audiência) sobre o fato diverso objeto do aditamento,
com ulterior alegações orais e decisão do magistrado (Lima, 2018).
Já estudamos essas situações quando falávamos da emendatio libelli. É o caso de aplicação da suspensão
condicional do processo e de alteração da competência em razão da nova imputação – isso deve ser
observado, quando for o caso. Muitos defendem, inclusive, que também a transação deve ser assegurada
quando se tratar de desclassificação para infração penal de menor potencial ofensivo.
“É majoritário o entendimento no sentido de que a mutatio libelli só pode ser feita nos crimes de ação penal
pública (incondicionada e condicionada) e nas hipóteses de ação penal privada subsidiária da pública,
recaindo sobre o Ministério Público a legitimidade para o aditamento da peça acusatória” (Lima, 2018).
Diferentemente da emendatio, a mutatio libelli somente se aplica para as ações penais públicas
e privadas subsidiárias da pública (não se aplicam para as demais modalidades de ação penal
privada por ausência de previsão legal) (Dezem, 2018).
Esse entendimento é baseado em interpretação de parte da redação do caput do art. 384 do Código de
Processo Penal:
Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato,
em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal
não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de
5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública,
reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.
Ora, ao se referir à queixa que deu causa à instauração do processo penal em crime de ação penal
pública, é de se concluir que o dispositivo refere-se à ação penal privada subsidiária da pública.
Logo, não seria possível a mutatio libelli em crimes de ação penal exclusivamente privada ou
privada personalíssima (Lima, 2018).
A questão não é pacífica ; tem muita gente sustentando o contrário: a possibilidade de mutatio libelli nas
ações penais privadas.
Na ação penal exclusivamente privada, por aplicação analógica do art. 384, caput, deve ser
admitido o aditamento da queixa pelo querelante, desde que seja realizado dentro do prazo
decadencial (Badaró, 2017).
Na reforma introduzida ao CPP pela Lei 11.719/2008, persistiu, no caput do art. 384, o impasse
jurídico já verificado na legislação anterior, qual seja, o fato de que se refere tão somente ao
aditamento pelo Ministério Público da denúncia ou da queixa subsidiária – “(...) o Ministério
Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver
sido instaurado o processo em crime de ação pública (...)”. Diante disso, parte expressiva da
doutrina considera que não há a possibilidade de aplicação da mutatio libelli na ação penal
privada exclusiva, o que implicaria violação aos princípios da oportunidade e disponibilidade que
informam essa natureza de ação. Apesar da interpretação literal do art. 384, efetivamente,
conduzir a esse entendimento, sempre compreendemos que, por analogia à faculdade inerente
ao Promotor de Justiça nos crimes de ação pública, também na ação privada exclusiva é de se
conferir ao querelante igual faculdade, possibilitando a ele o aditamento da queixa, desde, é
claro, que ainda não decorrido o prazo decadencial de seis meses contado da ciência do fato ou
de sua autoria (Avena, 2017).
[...] tal como ocorre com o Ministério Público, o querelante também pode vir a tomar
conhecimento de elementares ou circunstâncias apenas no curso da instrução processual, daí
por que não se pode negar a ele a possibilidade de proceder ao aditamento. A título de exemplo,
suponha-se que, no curso de processo penal instaurado por meio de queixa-crime que imputara
ao acusado o crime de calúnia (CP, art. 138, caput), surja prova de que o delito teria sido cometido
na presença de várias pessoas, circunstância esta não contida na peça acusatória e que autoriza
o aumento da pena em l/3 (um terço), nos termos do art. 141, III, do CP Nesse caso, pensamos
ser plenamente possível o aditamento da queixa-crime, observado, evidentemente, o prazo
decadencial (Lima, 2018).
'Emendatio' 'Mutatio'
2. COISA JULGADA
Segundo FREDERICO MARQUES, a “coisa julgada é qualidade dos efeitos da prestação jurisdicional entregue com
o julgamento da res in judicium deducta, em virtude da qual esses efeitos tornam-se imutáveis entre as
partes”; é atributo específico da jurisdição, na medida em que nem o legislador e tampouco o administrador
podem expedir atos com esses predicados de imutabilidade. “A res judicata marca inconfundivelmente o ato
jurisdicional, visto que ali se concentra, em sua plenitude, o comando emergente da sentença, tornando
estável pela imutabilidade de que passa a revestir-se dentro e fora do processo” (Marques, 1997).
A coisa julgada “não é um efeito, mas uma qualidade da decisão judicial da qual não caiba mais recurso. É a
imutabilidade da sentença, de modo a impedir a reabertura de novas indagações acerca da matéria nela
contida” (Pacelli, 2018).
Coisa julgada, segundo definição clássica de LIEBMAN, é a imutabilidade dos efeitos da sentença
e da própria sentença. Esclarece LIEBMAN que a coisa julgada não é um efeito da sentença ou a
soma dos efeitos da sentença. A coisa julgada é uma especial maneira de ser e de se manifestar
dos efeitos da sentença. É algo que se acrescenta aos efeitos da sentença, tornando-os imutáveis.
Deve-se distinguir a autoridade da coisa julgada (imutabilidade) da eficácia natural da sentença
(aptidão de produzir efeitos) (Badaró, 2017).
O Código de Processo Civil definiu e a ideia pode ser aproveitada no processo penal:
Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a
decisão de mérito não mais sujeita a recurso.
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB, no art. 6º, assim consigna:
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.
Não se pode confundir eficácia com autoridade. “A eficácia da sentença é a sua aptidão para a produção de
efeitos. A autoridade da sentença é a sua imutabilidade e indiscutibilidade – é a coisa julgada. A coisa julgada
não é uma eficácia da sentença, mas simplesmente uma qualidade que se agrega ao efeito declaratório da
sentença de mérito transitada em julgado. É a indiscutibilidade que se agrega àquilo que ficou decido no
dispositivo da sentença de mérito de que não caiba mais recurso”6.
6
Código de Processo Civil comentado. Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart, Daniel Mitidiero.
2ª ed. São Paulo: RT, 2016.
coisa julgada formal – é a imutabilidade da sentença dentro do próprio processo, com a preclusão das
vias impugnativas;
[...] seja pelo transcurso in albis do prazo recursal (não se interpôs recurso), seja pelo
esgotamento das vias recursais (interposto o recurso, este foi julgado e não há mais recurso a se
interpor). Toda sentença faz coisa julgada formal. Em outras palavras, toda sentença transita em
julgado, ao menos formalmente.
coisa julgada material – é a imutabilidade dos efeitos da sentença que a torna indiscutível em qualquer
processo.
Só fazem coisa julgada material as sentenças de mérito, pois somente estas definem a relação
jurídica material, projetando seus efeitos para fora do processo. São esses efeitos que atingem a
situação da vida (relação material), que se tornam imutáveis. [...] A coisa julgada formal é
pressuposto da coisa julgada material. [...] Não é possível ter a coisa julgada material sem a coisa
julgada formal. Formada a coisa julgada material, o objeto do processo não poderá voltar a ser
discutido em outro processo envolvendo as mesmas partes: é o que se denomina função negativa
da coisa julgada (Badaró, 2017).
[...] a decisão que rejeita a denúncia por ausência de pressupostos processuais ou de qualquer
das condições exigidas na lei para o exercício da ação penal (incluindo as condições de
procedibilidade), nos termos do art. 395, CPP. Referida decisão impediria, naquele processo, a
reabertura da discussão daquele caso penal, fazendo coisa julgada formal, pois.
Outro exemplo: a decisão que determina o arquivamento do inquérito atendendo a
requerimento do Ministério Público, por ausência de material probatório suficiente para
sustentar a opinio delicti. Embora se possa alegar que o aparecimento de novas provas permite
a reabertura das investigações naquele mesmo processo, o fato é que a decisão anterior (e não
mero despacho) teria eficácia preclusiva, típica de coisa julgada formal, em relação àquele
acervo probatório, ou seja, ao contexto em que foi proferida (Pacelli, 2018).
Conforme já ensinou CANOTILHO, “o princípio geral da segurança jurídica não é apenas um elemento essencial
do princípio do estado de direito. Exige-se estabilidade ou eficácia ex post da segurança jurídica dado que as
decisões dos poderes públicos, uma vez adotadas, na forma e no procedimento legalmente exigidos, não
devem ser arbitrariamente modificadas. Assim a segurança jurídica no âmbito dos atos jurisdicionais aponta
para a coisa julgada. A garantia da coisa julgada assenta-se na estabilidade definitiva das decisões judiciais,
quer porque está excluída a possibilidade de recurso ou a apreciação de questões já decididas e incidentes
sobre a relação processual – coisa julgada formal –, quer porque a questão de mérito é resolvida em termos
definitivos, coisa julgada material”.
Do ponto de vista da proteção do indivíduo diante do Estado, isto é, do ponto de vista, então, de
um Estado Democrático de Direito, em que as decisões judiciais são construídas com a
participação efetiva das partes (e particularmente do acusado, via contraditório e ampla defesa),
justifica-se plenamente a imutabilidade de uma decisão absolutória passada em julgado, para o
fim de garantir ao interessado (réu) uma certa margem de segurança jurídica individual em
relação aos fatos a ele imputados em regular processo penal. Mas, a nosso juízo, o que
efetivamente legitima a eficácia preclusiva da coisa julgada, cujo efeito é o de impedir novas
investidas acusatórias contra o réu absolvido, é a necessidade de se exercer um rígido controle
da atividade estatal persecutória, diante das graves consequências que normalmente derivam da
só existência de uma imputação formalizada da prática de uma conduta delituosa, no âmbito dos
interesses inerentes à dignidade humana, em todas as suas dimensões (Pacelli, 2018).
“A coisa julgada no processo penal é peculiar, pois somente produz sua plenitude de efeitos (coisa
soberanamente julgada) quando a sentença for absolutória ou declaratória de extinção da punibilidade”
(Júnior, 2018). A sentença condenatória estará sempre sujeita à revisão (revisão criminal prevista no art. 621
e ss. do CPP). De outro lado, não há revisão criminal pro societate, o que torna a sentença absolutória
imutável.
Essa distinção entre sentença condenatória e absolutória para efeitos de coisa julgada material leva alguns
autores a falar, respectivamente, em coisa julgada relativa e absoluta.
Doutrina complementar
NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016). “Coisa julgada, a rigor,
ocorre para situações onde há sentença propriamente dita, com julgamento da pretensão punitiva em
seu mérito. A coisa julgada se agrega à parte dispositiva de um julgado, tornando-o imutável. É fenômeno
que se dá com o decurso do prazo recursal “em branco” (in albis), sem que as partes interponham o
recurso cabível, ou, em tendo havido recurso, após a apreciação definitiva deste. Distinguindo as
consequências jurídicas da sentença de seu caráter de perenidade, Eugênio Pacelli pontua que coisa
julgada não é propriamente um efeito, porém uma qualidade da sentença que não desafia mais recurso.
Nas palavras do autor, a res judicata “é a imutabilidade da sentença, de modo a impedir a reabertura de
novas indagações acerca da matéria nela contida”.
RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017). “Liebman afirmou que coisa
julgada é a imutabilidade do comando emergente da sentença. Ou, como ensinou Giovanni Leone, coisa
julgada, em substância, significa decisão imutável e irrevogável; significa a imutabilidade do mandamento
que nasce da sentença”.
Com. Exam. (MPE PR) - Promotor de Justiça (MPE PR)/2016. Discorra sobre
a exceção de coisa julgada, quanto a seus limites objetivos e subjetivos, e
nas hipóteses de concurso formal de crimes e crime continuado.
Quando falamos de limites objetivos queremos definir o que, exatamente, em termos de objeto do processo,
em termos de decisão, se torna imutável. Como acabamos de ver, no processo penal essa avaliação passa
somente pela sentença absolutória (ou extintiva da punibilidade).
No que se refere às partes da sentença, já sabemos que é o dispositivo que faz coisa julgada – Ok. Mas
precisamos definir melhor a extensão disso no processo penal; o que, exatamente, torna-se imutável dentro
do dispositivo, dentro daquilo que o juiz decidiu.
A Convenção Americana de Direitos Humanos (Decreto 678/1992), no seu art. 8º, item 4, assim estabelece:
4. O acusado absolvido por sentença passada em julgado não poderá ser submetido a novo
processo pelos mesmos fatos.
Por sua vez, o Código de Processo Penal, no art. 110, assim consigna:
§ 2º A exceção de coisa julgada somente poderá ser oposta em relação ao fato principal, que
tiver sido objeto da sentença.
Diante dessas normas, podemos compreender que o objeto da coisa julgada no processo penal se consolida
em relação aos fatos, não em relação à qualificação jurídica ou às questões de direito.
Precisamos especificar melhor; para tanto, nos valeremos da lição de alguns autores, a começar por AFRÂNIO
SILVA JARDIM que consolida: “a acusação traz à decisão o fato da natureza por inteiro, ainda que não o descreva
integralmente, cabendo aos órgãos da persecução penal apresentá-lo por completo, aplicando-se, se for o
caso, o art. 384 do Código, [...], porque a sentença esgotará, definitivamente, a possibilidade de trazê-lo a
novo processo penal contra o mesmo réu” (Jardim, 2003).
AURY LOPES JR diz que interessa o fato natural, que é diferente do fato processual e do fato penal.
Os limites objetivos dizem respeito ao fato natural, objeto do processo e posterior sentença, não
interessando a qualificação jurídica que receba. Como explica CORTÉS DOMÍNGUEZ, o princípio
do ne bis in idem é uma exigência da liberdade individual que impede que os mesmos fatos sejam
processados repetidamente, sendo indiferente que eles possam ser contemplados desde
distintos ângulos penais, formais e tecnicamente distintos. É importante ressaltar que, na coisa
julgada, o foco é diferente da problemática vista na correlação. Lá, importava o conceito de fato
processual, englobando o fato penal e o natural. Aqui, a situação é distinta, pois ainda que se
possa falar em fato processual, o que realmente importa é o fato natural. Para os limites da coisa
julgada, interessa a complexidade fática decidida, independentemente da definição jurídica que
receba, pois o que se busca é evitar que o réu seja acusado de um determinado fato, cuja
definição jurídica foi recusada pelo juiz, que o absolveu no final. Pode o acusador fazer uma nova
acusação, tendo como objeto o mesmo fato natural, mas com diferente tipificação? Não, pois
existe coisa julgada. Assim, evidencia-se que a coisa julgada busca proteger o réu do bis in idem,
ou seja, nova acusação pelo mesmo fato, ainda que diverso seja o nome jurídico a ele atribuído.
Então, não existe contradição agora com a exposição anterior. Lá na correlação a situação é
diversa. Assim, recordemos que: fato processual = fato penal + fato natural. Mas, no estudo da
coisa julgada, o ponto nevrálgico é o fato natural e o imputado. Como decorrência, a coisa julgada
proíbe que exista uma nova acusação em relação ao mesmo fato natural (ainda que recebam
diferentes nomes jurídicos, ou seja, ainda que a tipificação dada seja diversa em cada processo)
e em face do mesmo imputado, que já foram objeto de processo anterior. Novamente, o que se
busca é evitar um bis in idem (de processos e de punições em relação ao mesmo fato). Dessarte,
essa impossibilidade de que alguém venha a ser novamente processado pelo mesmo fato é
considerado o efeito negativo da coisa julgada (Júnior, 2018).
[...] para fins de coisa julgada, não se pode considerar objeto do processo penal apenas o fato
naturalístico contido na imputação. O “fato principal” a que se refere o § 2.º do art. 110 do CPP
não é o fato delimitado na denúncia ou queixa, mas todo o fato naturalístico, isto é, a realidade
histórica independentemente da sua qualificação jurídica. Basta que o núcleo do tipo seja o
mesmo (não na exteriorização verbal, mas na sua essência) para que haja identidade do fato. Por
exemplo, absolvido da acusação de ter subtraído o relógio marca X (furto – CP, art. 155), não
poderá ser novamente acusado de, no mesmo dia e hora, ter-se apropriado do mesmo relógio
(apropriação indébita – CP, art. 168). Como a coisa julgada atinge o fato naturalístico em sua
inteireza, se o acusado foi absolvido de uma acusação por coautoria, fica vedada a imputação do
mesmo fato, ao mesmo acusado, a título de simples participação, ou vice-versa. Isso porque o
fato da natureza será o mesmo. Por exemplo, a morte de alguém, pouco importando se ao
acusado foi imputada a conduta auxiliar de emprestar a arma para que outrem efetuasse o
disparo, ou se foi acusado de ter atirado e matado a vítima. A ação penal deve versar sobre o
fato criminoso em sua integralidade. Mesmo que a denúncia não traga inteiramente o fato
criminoso ao processo, a coisa julgada abarcará todo o fato, inclusive o seu aspecto não deduzido
em juízo. Caso o fato não tenha sido deduzido por inteiro, e algum aspecto fático que tinha ficado
fora da imputação seja relevante para o processo penal, o Ministério Público ou o querelante
deverão, valendo-se do permissivo do caput art. 384 do CPP, aditar a denúncia ou a queixa e
incluir este segmento da realidade na imputação inicial. Se não o fizerem, mesmo assim, a coisa
julgada se formará sobre este aspecto fático que não consta da imputação originária, que não
poderá, em futuro processo, voltar a ser discutido. Se o acusado foi condenado por furto, e tal
sentença transitar em julgado, mesmo que posteriormente se descubra que tal subtração se deu
com o emprego de violência, não poderá haver novo processo por roubo (Badaró, 2017).
PACELLI também refere a realidade histórica como conteúdo da coisa julgada penal:
A definição do fato julgado deve ser encontrada no próprio sistema processual penal, ou seja, no
conjunto de normas do Código de Processo Penal, acrescidas das regras e princípios
constitucionais implantados com a Carta da República. É importante ressaltar, ainda mais uma
vez, a relevantíssima função desempenhada pelo sistema de garantias individuais trazidas com a
Constituição de 1988, que está exigindo a releitura de nosso Código de Processo Penal. E não só
da perspectiva da jurisdição penal, cuja meta é a aplicação do Direito Penal, mas sobretudo como
instrumento de afirmação das garantias individuais em um Estado Democrático de Direito, cuja
missão é, como já o afirmamos, o reequilíbrio da balança segurança pública x liberdade
individual. Conforme também já salientamos, a atividade estatal persecutória há de se
desenvolver sob rígidos padrões de eficiência, diante do risco de afetação ao patrimônio moral
de quem se achar submetido à acusação da prática de infração penal. Por isso, a imputação penal
deve coincidir o mais completamente possível com a realidade histórica, ou seja, com a verdade
dos fatos, tal como efetivamente realizados no tempo (daí falar-se em realidade histórica). De
fato, a reconstrução da realidade pela atividade probatória é tarefa das mais difíceis que se
impõe ao processo penal. Não obstante, é absolutamente imprescindível, tendo em vista que ao
Judiciário não se permite o non liquet (extinção da instância por ausência de comprovação dos
fatos alegados), exigindo-se, ao contrário, uma decisão definitiva sobre os fatos levados à
jurisdição. A decisão absolutória, qualquer que seja a sua motivação ou causa (art. 386, CPP),
haverá, portanto, de resolver definitivamente a questão penal, afastando a possibilidade de nova
discussão sobre o mesmo fato. Feitas todas essas considerações, vamos encontrar nas
disposições do art. 384 do CPP a explicitação legal, e expressa, da realidade histórica como
conteúdo da coisa julgada penal. Na verdade, pensamos que semelhante conclusão poderia ser
extraída de nosso sistema de garantias, estando contido em diversas normas de conteúdo
principiológico. O art. 384, ao permitir a mutatio libelli, autoriza o poder estatal a apreciar, mais
uma vez, todo o material probatório disponível e, entendendo cabível, alterar a imputação feita
inicialmente, com a inclusão de fato novo, a ser acrescido àqueles já descritos, podendo,
excepcionalmente, haver modificação do fato implicitamente contido na denúncia. Repetindo
exemplo já fornecido: do crime de furto, por exemplo, poder-se-ia apresentar, após a mutatio, o
delito de apropriação indébita, mantendo-se, contudo, o núcleo da ação exercida sobre coisa
certa e delimitada. Exatamente por isso, acrescida à possibilidade de aditamento da denúncia
pelo Ministério Público e pelo querelante (desde que ainda no prazo decadencial), a qualquer
tempo e antes da fase decisória, impõe-se a conclusão de que o que faz coisa julgada no juízo
criminal é o fato tal como efetivamente realizado, independentemente do acerto ou equívoco na
sua imputação. Em outras palavras: a realidade histórica. Ainda que o fato narrado na denúncia,
sobre o qual se desenvolveu toda a atividade probatória, não se subsuma efetivamente àquele
da realidade histórica, uma vez proferida a sentença definitiva nunca mais se poderá instaurar
nova persecução penal sob o mesmo fundamento, ou seja, sobre o mesmo fato. Mas para que
isso ocorra é preciso distinguir: o que será objeto da decisão e sobre o qual se estenderão os
efeitos da coisa julgada não é unicamente o núcleo central da conduta (ação ou omissão)
imputada ao réu. A coisa julgada abarcará o núcleo, bem como quaisquer que tenham sido, na
realidade, as suas circunstâncias e/ou circunstâncias elementares. Fala-se aqui em núcleo central
com a finalidade de identificar o elemento comum nas diversas definições jurídicas passíveis de
incidência sobre o mesmo fato da realidade. Por exemplo: quando se diz que alguém teria
subtraído a coisa de outrem pela prática do furto (art. 155, CP), a sentença absolutória então
proferida impedirá a reabertura da discussão sobre o núcleo central da conduta, isto é, sobre ter
havido alteração do domínio da coisa, aqui incluídas quaisquer outras ações eventualmente
aptas a permitir a transferência da propriedade, tais como a violência e a grave ameaça, que
poderiam caracterizar o roubo (art. 157). Nem mesmo se poderia pensar em nova ação penal na
qual se imputasse unicamente a prática da circunstância elementar integrante do tipo penal
efetivamente ocorrido. No exemplo anterior, do furto (narrado) e do roubo (realizado), tal
ocorreria se se pretendesse nova acusação pela prática de lesão corporal resultante da violência
utilizada para a subtração da coisa. O núcleo da conduta funcionaria, assim, como o dado da
realidade efetivamente julgado. As suas circunstâncias e/ou circunstâncias elementares estariam
cobertas pela coisa julgada como desdobramentos lógico-dedutivos do julgamento, ou seja, pela
preclusão lógica dos demais fatos cuja ocorrência dependeria da existência do núcleo então
julgado (Pacelli, 2018).
Dizem respeito a quem serão as pessoas atingidas pela imutabilidade dos efeitos da sentença. No tema há
pouco a dizer, porquanto, “segundo dispositivo constitucional expresso, a pena não passará da pessoa do
condenado (art. 5º, XLV), aplicando-se o que se convencionou chamar de princípio (e que denominamos
regra) da intranscendência da ação penal”.
Já em relação aos autores, mereceria registro a participação do particular (ofendido) nas ações
privadas (como querelante) e nas ações públicas (como assistente), dado que o Ministério
Público, seja como autor, seja quando intervém como custos legis (em essência, ele é sempre
custos legis) esgota a sua atuação no âmbito penal, no que respeita à execução da pena, somente
atuando na instância civil, para fins de execução de decisão penal (art. 68, CPP), enquanto não
estiver em funcionamento a Defensoria Pública local. [...] Então, em relação ao ofendido, tanto
a sentença penal condenatória quanto a absolutória poderão estender os seus efeitos a ele,
independentemente de sua participação efetiva no processo (na ação pública), nos limites
previstos em lei, tais as hipóteses do art. 188, art. 935, arts. 927 e seguintes, todos do CC, e arts.
63 e seguintes do CPP. O mesmo ocorre em relação ao réu da ação penal, cuja coisa julgada
poderá levar seus efeitos (da parte dispositiva e respectiva causa ou motivação [art. 386, CPP])
também para a instância civil, havendo a possibilidade, inclusive, de se impedir a reabertura de
discussão sobre a matéria decidida na instância penal também para terceiros (responsáveis civis)
quando determinadas questões estiverem decididas no juízo criminal (art. 188 e arts. 929, 930 e
935, CC) (Pacelli, 2018).
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—. 2014. Leis penais e processuais penais comentadas. 8ª. Rio de Janeiro : Forense, 2014.
—. 2015. Manual de Processo Penal e Execução Penal. RJ : Forense, 2015.
Pacelli, Eugênio. 2018. Curso de processo penal. 21. São Paulo : Atlas, 2018.
4. QUESTÕES
Art. 93, CF. [...] IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em
determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos
quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação;
Assertiva B correta. Em face do princípio da correlação entre a acusação e a sentença, pois o aditamento é
como se fosse uma nova denúncia (art. 384, § 4º, CPP), não se admitindo, majoritariamente, acusação
alternativa.
§ 4o Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de 5
(cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento.
Assertiva C incorreta. O juiz deve fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos danos e não ‘máximo’
como trazido na assertiva. Não é objeto nem pretensão do processo penal a reparação integral.
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os
prejuízos sofridos pelo ofendido;
Assertiva D incorreta. O juiz pode considerar mesmo que não tenham sido formalmente requeridas. São
institutos mais relacionados à aplicação da pena (não propriamente ao fato criminoso) e, por isso mesmo,
reconhecíveis de ofício.
Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o
Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora
nenhuma tenha sido alegada.
Assertiva E incorreta. O juiz deve decidir de forma ‘fundamentada’ sobre a manutenção, ou necessidade de
decretação/revogação da prisão preventiva. A decisão deve ser motivada. Assertiva mal formulada: decisão
fundamentada não é o oposto de resumida. Nada impediria uma decisão fundamentada e ao mesmo tempo
concisa.
2. FCC – Juiz Substituto – TJ-SC – 2015. Com relação à sentença penal, é correto afirmar:
a) Conforme a redação do CPP, ao final da instrução, se o juiz perceber a possibilidade de nova classificação
jurídica do fato em virtude de prova nos autos de circunstância ou elemento não contidos na acusação, não
havendo aditamento por parte do Ministério Público, deverá cumprir o procedimento previsto no artigo 28
do CPP.
b) A intimação da sentença penal poderá ser feita tanto na pessoa do defensor quanto na do réu, caso este
esteja solto, por expressa disposição do artigo 397, II, CPP, mas os Tribunais Superiores entendem que se a
sentença penal for condenatória, ambos deverão ser intimados, e o prazo recursal começará a fluir da
primeira intimação.
c) Em contrarrazões de apelação, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em consequência de
prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o
Ministério Público deverá propor o aditamento da denúncia no prazo de cinco dias. Se tal situação ocorrer,
o Tribunal deverá intimar o réu para oferecer nova contrarrazões em igual prazo.
d) Com a reforma processual promovida pela Lei no 11.719/08, consagrou-se a identidade física do juiz no
ordenamento processual penal brasileiro, e o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença (artigo
399, § 2º do CPP). O STJ tem confirmado a regra, e prestigiado o princípio, pacificando o entendimento de
que diante da ausência de outras normas específicas que regulamentem a matéria, deve-se impedir qualquer
tipo de mitigação ao dispositivo.
e) Conforme a redação do CPP, um dos efeitos da sentença condenatória de primeiro grau é a imediata
expedição de mandado de prisão, salvo se o juiz permitir ao réu que apele em liberdade. Neste caso, deverá
fundamentar sua decisão com base nas evidências dos autos.
►Comentários
Assertiva A correta. Diante do princípio da congruência/correlação, o Juiz não pode proferir sentença que
fuja dos limites da denúncia/acusação. Assim, verificando-se a presença de elementos novos/diferentes
daqueles constantes da inicial acusatória, deve o Ministério Público proceder ao aditamento (mutatio libeli).
Caso o Ministério Público não promova o aditamento, o juiz deve adotar o procedimento do art. 28 do CPP,
determinando a remessa ao Procurador-Geral que dará a palavra final sobre isso.
Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato,
em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal
não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5
(cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública,
reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.
Assertiva B incorreta. O artigo mencionado na assertiva (397, II, CPP) fala sobre absolvição sumária e não
sobre intimação de sentença. O artigo correto seria o 392 do CPP. Regra geral, tanto o acusado quanto seu
defensor devem ser intimados da sentença. Além disso, o prazo recursal começará a fluir da última
intimação, não da primeira.
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz
deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar
II - ao réu, pessoalmente, ou ao defensor por ele constituído, quando se livrar solto, ou, sendo
afiançável a infração, tiver prestado fiança;
III - ao defensor constituído pelo réu, se este, afiançável, ou não, a infração, expedido o mandado
de prisão, não tiver sido encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça;
IV - mediante edital, nos casos do no II, se o réu e o defensor que houver constituído não forem
encontrados, e assim o certificar o oficial de justiça;
V - mediante edital, nos casos do no III, se o defensor que o réu houver constituído também não
for encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça;
VI - mediante edital, se o réu, não tendo constituído defensor, não for encontrado, e assim o
certificar o oficial de justiça.
§ 1º O prazo do edital será de 90 dias, se tiver sido imposta pena privativa de liberdade por tempo
igual ou superior a um ano, e de 60 dias, nos outros casos.
§ 2º O prazo para apelação correrá após o término do fixado no edital, salvo se, no curso deste,
for feita a intimação por qualquer das outras formas estabelecidas neste artigo.
Assertiva C errada. A mutatio libeli não se aplica em segunda instância, pois haveria supressão de instância,
na medida em que esse fato novo não foi apreciado em primeiro grau. Vedação expressa na súmula 453,
STF.
Súmula 453, STF. Não se aplicam à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do Código de
Processo Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de
circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou queixa.
Assertiva D incorreta. Não se trata de princípio absoluto, permitindo-se a mitigação da identidade física do
juiz, como no caso de promoção de magistrado, aposentadoria, transferências etc., normalmente
aproveitando as exceções consolidadas sob a vigência do anterior Código de Processo Civil.
Assertiva E errada. O antigo art. 594 do CPP, que foi revogado pela lei 11.719/08, tinha a seguinte redação:
o réu não poderá apelar sem recolher-se à prisão, ou prestar fiança, salvo se for primário e de bons
antecedentes, assim reconhecido na sentença condenatória, ou condenado por crime que se livre solto.
Existia, portanto, ao condenado que não fosse primário e de bons antecedentes, a prisão automática
decorrente da sentença. Inclusive a impossibilidade de recorrer se não fosse recolhido à prisão. Após a
revogação do referido dispositivo, por força do § 1º do artigo 387 do CPP, o juiz deve se pronunciar, de forma
fundamentada, sobre a necessidade da manutenção/decretação da prisão preventiva, observando todos os
requisitos correspondentes. Não há que se falar em prisão automática e ou necessidade de recolher-se à
prisão para interpor eventual recurso. Toda prisão é excepcional e deve ser fundamentada, inclusive aquela
decretada na sentença.
Art. 387, § 1º, CPP. O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso,
a imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento
de apelação que vier a ser interposta.
3. CESPE – Defensor Público – DPU – 2016. A respeito da sentença condenatória e dos atos
jurisdicionais, julgue o próximo item. “Após o pronunciamento de sentença penal condenatória, o réu que
esteja solto será imediatamente recolhido à prisão”. (C/E)
►Comentários
Assertiva incorreta. Após a revogação do artigo 594 do CPP pela Lei 11.719/08 a prisão deixou de ser um
‘efeito’ automático da sentença condenatória, estabelecendo o § 1º do artigo 387 do CPP que o juiz deve
fundamentar sobre a necessidade de decretação/manutenção de eventual prisão.
Art. 387, § 1º, CPP. O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso,
a imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento
de apelação que vier a ser interposta
4. MPE-SP – Promotor de Justiça – MPE-SP – 2015. Assinale a alternativa que contém afirmação
incorreta:
a) O juiz tem o dever de cientificar a vítima do teor da sentença.
b) A sentença que reconhece a inexistência do fato impede a propositura da ação civil para reparação do
dano.
c) Se o juiz entender que o réu é inimputável por perturbação da saúde mental, proferirá a sentença
absolutória imprópria.
d) A sentença penal absolutória, que reconhece a atipicidade do fato, não impede a propositura da ação civil
para reparação do dano.
e) A sentença homologatória da transação penal serve como título executivo no cível, para efeito de
reparação do dano.
►Comentários
§ 2o O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do acusado
da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a
mantenham ou modifiquem.
Assertiva B correta. O reconhecimento de que o fato não existiu impede a propositura de ação civil para
discussão da reparação de danos.
Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta
quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato.
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23,
26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua
existência;
Assertiva D correta. O reconhecimento de que o fato não existiu também vincula o juízo cível. Lembre-se:
decisões categóricas sobre existência do fato e autoria têm esse condão.
III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime.
Assertiva E incorreta. A sentença que homologa a transação não implica reconhecimento de culpa e não
produz efeitos fora dos autos do procedimento sumaríssimo; portanto, não pode ser executada no juízo
cível. Caso o ofendido pretenda buscar reparação dos danos em razão dos fatos, deverá promover ação de
conhecimento.
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada,
não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de
pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.
5. FAURGS – Juiz Substituto – TJ/RS – 2016. Sobre a sentença em matéria criminal, considere as
afirmações abaixo.
I - A sentença penal absolutória implica, obrigatoriamente, a concessão da liberdade do réu que tenha
respondido ao processo enquanto se encontrava preso preventivamente, bem como na cessação das
medidas cautelares diversas eventualmente aplicadas.
II - Ainda que tenham sido identificados no curso do processo os prejuízos sofridos pela vítima da infração
penal, a sentença condenatória não poderá fixar valores a título de reparação do dano, pois essa atribuição
é de competência exclusiva da jurisdição cível no âmbito da ação ex delicto.
III - Em caso de sentença condenatória, o juiz poderá decidir sobre a imposição de prisão preventiva ou
medidas cautelares diversas ao réu que tenha respondido ao processo em liberdade, não sendo necessário,
todavia, que apresente fundamentos para a manutenção das medidas anteriormente decretadas.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e II.
e) Apenas II e III.
►Comentários
Alternativa A. Assertiva I correta porque compatível com a orientação dos incisos I e II do parágrafo único
do art. 386 do Código de Processo Penal:
Assertiva II errada. O art. 387, IV do CPP estabelece que o juiz fixará o valor mínimo para reparação dos
danos.
Art. 387, CPP. IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido;
Assertiva III incorreta. O Juiz deve decidir fundamentadamente sobre a decretação/manutenção da prisão
cautelar ou das medidas cautelares diversas.
Art. 387, CPP. § 1º O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso, a
imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento de
apelação que vier a ser interposta
6. CESPE – Defensor Público – DPE/RN – 2015 – ADAPTADA. Com relação aos institutos da emendatio
e da mutatio libelli, da sentença e da coisa julgada, bem como aos procedimentos comum e ordinário, aos
juizados especiais cíveis e aos crimes dolosos contra a vida, assinale a opção correta. “A figura processual
da mutatio libelli se presta à correção da equivocada capitulação jurídica dada ao fato criminoso narrado
na denúncia, incorretamente classificado pelo MP. Essa providência, ademais, pode ser conduzida pelo
próprio magistrado, sem que haja necessidade de aditamento ministerial ou oitiva prévia da defesa,
exceto no caso de a modificação ocasionar agravamento na pena do acusado”. (C/E)
►Comentários
Assertiva errada. A assertiva está errada pois retrata o instituto da emendatio libelli, previsto no artigo 383
do CPP e não o da mutatio. Além disso, está errada porque mesmo no caso de emendatio, ainda que a
modificação da capitulação jurídica ocasione agravamento da pena, pode ser realizada pelo próprio
magistrado, sem necessidade de aditamento ou oitiva prévia da defesa. A mutatio libelli, por sua vez, está
prevista no artigo 384 do CPP.
Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá
atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais
grave.
Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato,
em conseqüência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal
não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5
(cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública,
reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.
7. FGV – Analista Processual MP – MPE-RJ – 2016. Ministério Público ofereceu denúncia em face de
José pela prática do crime de apropriação indébita. Encerrada a instrução, entende o promotor que José
empregou fraude em momento pretérito ao crime, de modo que a posse do bem em momento algum foi
lícita. Em razão disso, realiza aditamento à denúncia para modificar os fatos narrados e imputar o crime
de estelionato. O aditamento é recebido e novas provas são produzidas. Após o promotor pedir a
condenação de acordo com o aditamento, e a defesa, a absolvição, o magistrado condena José nos termos
da imputação originária, que é menos grave. Diante do exposto, é correto afirmar, de acordo com o Código
de Processo Penal, que, com o aditamento do Ministério Público, foi aplicado o instituto da:
a) mutatio libelli, não podendo o magistrado condenar José na imputação originária;
b) emendatio libelli, não podendo o magistrado condenar José na imputação originária;
c) mutatio libelli, podendo o magistrado condenar José na imputação originária;
d) emendatio libelli, podendo o magistrado condenar José na imputação originária;
e) emendatio libelli, devendo o juiz submeter a questão ao Procurador Geral de Justiça, entendendo que o
crime praticado não foi o de estelionato.
►Comentários
Assertiva A correta. O aditamento configura uma ‘nova’ denúncia, estando o juiz adstrito aos elementos do
aditamento, não podendo condenar de acordo com a imputação originária.
Art. 384, CPP. § 4º Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no
prazo de 5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento.
Assertiva B incorreta. Como dito, trata-se de caso de mutatio libeli e não de emendatio.
Assertiva C errada. Conforme artigo mencionado na justificativa da alternativa A, o juiz não pode condenar
na imputação originária, estando adstrito aos termos do aditamento.
Assertiva D incorreta. Não se trata de caso de emendatio libeli.
Assertiva E errada. O juiz só deve remeter os autos ao Procurador-Geral caso entenda pela necessidade de
aditamento (mutatio libeli) nos termos do artigo 384 do CPP e o Ministério Público não o promova.
Art. 384, CPP. § 1º Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art.
28 deste Código.
8. CESPE – Defensor Público – DPU – 2015. Em relação a coisa julgada, prova criminal e restituição de
bens, medidas assecuratórias e cautelares no direito processual penal, julgue o item subsequente.”Apesar
da independência das esferas penal e civil, a absolvição criminal do réu sob o fundamento de não haver
prova da existência do fato faz coisa julgada no juízo cível”. (C/E)
►Comentários
Assertiva errada. A absolvição por falta de provas da existência do fato (art. 386, II, CPP) não faz coisa julgada
no cível; o ofendido pode ingressar com ação civil para pleitear eventual reparação do dano (art. 66, CPP).
Decisão tomada com base em falta de provas não é ‘categória’ e, por isso mesmo, não vincula o juízo cível.
Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta
quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato.
9. FCC –Juiz Substituto – TJ/AL – 2015 – adaptada. Referente a coisa julgada penal, é correto afirmar:
“Na superveniência de novos documentos que qualificam a infração penal anteriormente imputada ao réu
e pela qual se julgou extinta a punibilidade, é lícito o oferecimento de nova denúncia por tratar-se de nova
descrição fática, conforme já decidiu o STJ”. (C/E)
►Comentários
Assertiva incorreta. O instituto da coisa julgada pode ser flexibilizado apenas em favor do réu, nunca em seu
prejuízo. Desse modo, no caso narrado, não seria lícito o oferecimento de nova denúncia. Se o fato (realidade
histórica) é o mesmo operou-se a coisa julgada e daí pouco importam documentos que ‘qualifiquem’ o crime.
prescrição...), ou excludentes da ilicitude, exige certeza jurídica - sem esta, a prova de crime
com autor indicado geraria a continuidade da persecução criminal - que, por tal, possui efeitos
de coisa julgada material, ainda que contida em acolhimento a pleito ministerial de
arquivamento das peças investigatórias. 3. Promovido o arquivamento do inquérito policial pelo
reconhecimento de legítima defesa, a coisa julgada material impede rediscussão do caso penal
em qualquer novo feito criminal, descabendo perquirir a existência de novas provas.
Precedentes. 4. Recurso especial improvido. (REsp 791.471/RJ, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO,
SEXTA TURMA, julgado em 25/11/2014, DJe 16/12/2014)
10. FCC – Defensor Público – DPE-BA– 2016. Sobre os institutos jurídicos da mutatio libelli e emendatio
libelli, é correto afirmar:
a) Havendo o aditamento da denúncia depois de admitida a emendatio libelli, cada parte poderá arrolar até
cinco testemunhas para serem ouvidas.
b) O princípio da congruência não permite que o juiz atribua definição jurídica distinta daquela descrita na
denúncia quando a nova tipificação prever pena mais severa.
c) Na hipótese do juiz reconhecer a emendatio libelli, poderá, caso a nova figura típica reflita hipótese de
furto qualificado tentado, oferecer a suspensão condicional do processo, mesmo que já encerrada a
instrução processual, caso o acusado preencha os requisitos previstos na Lei nº 9.099/95.
d) O reconhecimento da emendatio libelli perpetua a competência do prolator da decisão para a análise da
nova figura típica, independentemente da nova tipificação.
e) No caso do Ministério Público não aditar a denúncia após ser reconhecida nova definição jurídica do fato
em vista de provas existentes nos autos de elementos não contidos na denúncia, deverá o Magistrado, de
pronto, julgar improcedente a denúncia originalmente proposta
►Comentários
Assertiva A errada. Não se trata de caso de emendatio libeli (art. 383, CPP), instituto que não gera o
aditamento da denúncia nem abertura de prazo para as partes arrolarem novas testemunhas. O que ocorre
nos casos de emendatio é apenas uma nova capitulação jurídica dada aos fatos já constantes da denúncia,
sem acréscimo de elementos novos/diferentes.
Assertiva B incorreta. Desde que o magistrado não inclua novos fatos/elementos, mantendo-se adstrito
àqueles narrados na denúncia, ele pode atribuir definição jurídica diversa (emendatio libeli) ainda que a nova
tipificação preveja pena mais grave (art. 383, CPP). A correlação diz respeito apenas aos fatos
(consubstanciação), não à classificação jurídica.
Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá
atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais
grave.
Assertiva C correta porque se enquadra perfeitamente à hipótese normatizada no § 1º do artigo 383 do CPP.
Como o requisito objetivo da suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/1995) considera a pena
mínima (não superior a 1 ano), a causa de diminuição (tentativa) deve ser tomada com a fração que mais
diminua a pena.
Assertiva D errada. Não há perpetuação de competência, tanto que em se tratando de competência de outro
juízo, a lei prevê a necessidade de encaminhamento.
Art. 383, CPP. § 2º Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão
encaminhados os autos.
Assertiva E incorreta. Nesse caso, deve o Magistrado remeter os autos ao procurador de Justiça, para o
procedimento previsto no art. 28 do CPP (art. 384, § 1º, do CPP).
Art. 384, CPP. § 1º Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art.
28 deste Código.
Art. 28, CPP. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o
arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de
considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de
informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do
Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então
estará o juiz obrigado a atender.
11. CESPE – Juiz Substituto – TJ/CE – 2018. Considerando a doutrina e a jurisprudência dos tribunais
superiores, assinale a opção correta, acerca da ação civil ex delicto, da competência, da jurisdição e dos
processos incidentes. “A sentença que concede o perdão judicial depois de reconhecida a culpa do réu
enseja reparação civil ex delicto”. (C/E)
►Comentários
Assertiva incorreta. Esse tipo de decisão, nos termos estritos da lei (art. 107, IX do CP) e ao largo da discussão
doutrinária, implica em extinção da punibilidade:
Conforme súmula nº 18 do STJ, não há efeito condenatório quando houver perdão judicial:
Logo, não poderá ensejar ação civil "ex delicto". De um modo geral, nesse assunto, o que vale é a regra do
art. 935 do Código Civil:
Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais
sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem
decididas no juízo criminal.
12. CESPE – Juiz Estadual – TJ/CE – 2018. Considerando a doutrina e a jurisprudência dos tribunais
superiores, assinale a opção correta, acerca da ação civil ex delicto, da competência, da jurisdição e dos
processos incidentes. “A sentença absolutória do juízo criminal que declare a inexistência do fato ou que
o réu não tenha concorrido para o crime faz coisa julgada no juízo cível, obstando a reparação civil ex
delicto.” (C/E)
►Comentários
Assertiva correta. Em regra, as instâncias (cível/criminal) são independentes. Em algumas situações, todavia,
a sentença penal vinculará a esfera cível, de acordo com o art. 935 do CC, antes citado. A decisão do crime
que for categórica (não baseada na dúvida ou incerteza) quanto à (in)existência do fato e quem seja ou não
o autor fará coisa julgada e não poderá mais ser questionada no cível.
Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta
quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato.
13. VUNESP – Juiz Substituto – TJ/SP – 2017. No procedimento comum, após o oferecimento da
resposta pelo acusado, o juiz deverá absolvê-lo sumariamente quando:
a) faltar justa causa para o exercício da ação penal ou verificar a existência manifesta de qualquer causa
excludente da culpabilidade;
b) verificar a existência manifesta de qualquer causa excludente da ilicitude do fato ou que o fato narrado
evidentemente não constitui crime;
c) a denúncia ou a queixa for manifestamente inepta ou não se convencer da existência de indícios suficientes
de autoria ou de participação;
d) faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal ou verificar que extinta a
punibilidade do agente.
►Comentários
Alternativa A incorreta. Segundo o art. 395, inciso III do Código de Processo Penal, a ausência de justa causa
é hipótese de rejeição da denúncia e não de absolvição sumária.
Entretanto, há quem defenda que o reconhecimento da ausência de justa causa após o recebimento da
denúncia (e, portanto, na fase do art. 397, CPP) tem força de absolvição sumária, fazendo coisa julgada
material.
Ainda que se adotasse o posicionamento supramencionado, a assertiva continuaria errada; isso porque, ao
contrário do que ela sugere, nem todas as causas extintivas da culpabilidade conduzem à absolvição sumária.
Existe ressalva expressa quanto à inimputabilidade no texto legal (art. 397, II, CPP).
Art. 395, CPP. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: [...] III - faltar justa causa para o
exercício da ação penal.
Art. 397, CPP. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz
deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: [...] II - a existência manifesta de
causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade;
Assertiva B correta. As duas hipóteses constantes na assertiva são causas de absolvição sumária (art. 397, II
e III CPP).
Art. 397, CPP. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz
deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: I - a existência manifesta de causa
excludente da ilicitude do fato; II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade
do agente, salvo inimputabilidade; III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou
IV - extinta a punibilidade do agente.
A assertiva C está errada. A inépcia da inicial é causa de rejeição e não de absolvição sumária (art. 395, I,
CPP). Além disso, a outra hipótese constante na assertiva é causa de impronúncia (nos casos de crimes de
competência do Tribunal do Júri - art. 414, CPP).
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: I - for manifestamente inepta.
A alternativa D também está errada. Embora a extinção de punibilidade seja causa de absolvição sumária, a
ausência de pressuposto processual ou condição para exercício da ação não passa de hipótese de rejeição
da peça acusatória (art. 395, II e art. 397, IV, CPP).
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: [...]II - faltar pressuposto processual ou
condição para o exercício da ação penal [...]
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz
deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar [...] IV - extinta a punibilidade do
agente.
14. CESPE – Delegado de Polícia – PC/ES – 2011. Marcelo recebeu sentença condenatória baseada,
unicamente, em elementos coligidos na fase do inquérito. Nessa situação, a jurisprudência do STF
reconhece a insubsistência do pronunciamento condenatório sob o fundamento de violação ao princípio
do contraditório. (C/E)
►Comentários
Assertiva correta, porque compatível com a orientação do art. 155 do Código de Processo Penal e com o
entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre o tema.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições
estabelecidas na lei civil.
15. CESPE – Defensor Público – DPE/ES – 2012. O CPP preconiza, de forma expressa, os limites objetivos
da coisa julgada, dispondo que a exceção de coisa julgada somente poderá ser oposta em relação ao fato
principal que tiver sido objeto da sentença. (C/E)
►Comentários
Assertiva correta. De acordo com o § 2º do art. 110 do Código de Processo Penal, a exceção de coisa julgada
somente poderá ser oposta em relação ao fato principal, que tiver sido objeto da sentença.
Art. 110, CPP. § 2º A exceção de coisa julgada somente poderá ser oposta em relação ao fato
principal, que tiver sido objeto da sentença.
16. CESPE – DPF – 2013. Suponha que a instrução criminal de um processo tenha sido presidida pelo
juiz titular de determinada vara e que, na fase decisória, a sentença condenatória tenha sido proferida por
juiz substituto, diverso do que tenha colhido as provas e acompanhado a instrução processual. Suponha,
ainda, que a defesa, no prazo legal, tenha apelado da decisão sob a argumentação de nulidade absoluta
da sentença condenatória em face de ter sido proferida por juiz que não presidira à instrução. Nessa
situação hipotética, não assiste razão à defesa, visto que não vigora, no processo penal, o princípio da
identidade física do juiz (C/E).
►Comentários
Assertiva está errada. A assertiva está errada. O § 2º do artigo 399 do CPP prevê que o juiz que presidiu a
instrução deverá proferir a sentença. Assim, a questão está errada ao afirmar que ‘não’ vigora o princípio da
identidade física do juiz no processo penal. Entretanto, é cediço que esse princípio não é absoluto, porquanto
em caso de o juiz que instruiu o feito se encontrar de licença, ter sido promovido/removido, ou exista outro
motivo que o impeça de sentenciar, nada impede que o feito passe ao substituto para sentença.
Entendimento firmado pelo STJ aplicando, por analogia (art. 3º, CPP), o artigo 132 do CPC/1973, no
julgamento do HC 133.407.
Art. 399, CPP. § 2º O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.
►Comentários
Assertiva A incorreta. O inciso V do artigo 392 do CPP traz a possibilidade de intimação do defensor
constituído por edital quando este não tiver sido encontrado.
III - ao defensor constituído pelo réu, se este, afiançável, ou não, a infração, expedido o mandado
de prisão, não tiver sido encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça;
V - mediante edital, nos casos do no III, se o defensor que o réu houver constituído também não
for encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça;
Assertiva B incorreta. Não há a fixação de prazo máximo de aplicação das ‘penas alternativas’ de interdição
temporária de direitos (art. 47, CP), pois elas, via de regra, seguem a pena principal restritiva de liberdade.
Assertiva C errada. O inciso IV do artigo 387 do CPP impõe ao magistrado o ‘dever’ de fixar o valor mínimo
para reparação dos danos, considerados os prejuízos sofridos. Não se tem discricionariedade (em fixar ou
não) como a alternativa propõe.
Art. 387, CPP. IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido;
Assertiva D correta. A Lei 12.403/2011 revogou o artigo 393 do CPP que permitia a inclusão do réu no rol
dos culpados após a prolação de sentença penal, ainda que recorrível. Assim, desde a revogação, exige-se o
trânsito em julgado da sentença para que se lance o nome do réu no rol dos culpados.
Assertiva E errada. As medidas de segurança são aplicadas em sentenças absolutórias impróprias, quando
se reconhece a inimputabilidade do agente. As penas privativas de liberdade, por sua vez, são aplicadas em
casos de sentenças condenatórias. Não há a possibilidade de cumulação das duas espécies de pena.
18. FCC – Juiz Substituto – TJ/CE – 2014. Na sentença condenatória, o juiz
a) não precisa fundamentar a necessidade de manutenção de prisão preventiva.
►Comentários
Alternativa A incorreta. É necessário que Juiz fundamente eventual necessidade de manutenção, decretação
de prisão preventiva.
Art. 387, CPP. § 1º O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso, a
imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento de
apelação que vier a ser interposta.
Assertiva B correta. Independentemente de terem sido alegadas, o juiz deve mencionar na sentença as
circunstâncias agravantes ou atenuantes cuja existência reconhecer.
A assertiva C está errada. O juiz pode atribuir aos fatos definição jurídica diversa, sem modificar a descrição
contida na denúncia ou queixa (emendatio libelli), sem que isso represente prejuízo à suspensão condicional
do processo.
Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá
atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais
grave.
Assertiva E incorreta. No caso de entender cabível nova definição jurídica do fato, nos termos da assertiva,
o Ministério público deve promover o aditamento (mutatio libelli). Se não o fizer, utiliza-se o art. 28 do CPP,
em analogia – não se pode decidir de pronto, como consta.
Art. 384, CPP. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do
fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração
penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo
de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação
pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.
19. CESPE – Promotor de Justiça – MPE/TO – 2012. Com relação a sentença e coisa julgada, assinale a
opção correta.
a) São requisitos mínimos para a sentença de pronúncia a certeza da autoria e a prova da existência do crime.
b) A coisa julgada formal impede, no âmbito processual penal, que qualquer outro juízo ou tribunal
reexamine a causa já decidida.
c) A sentença absolutória imprópria é assim conceituada pela doutrina porque o juiz, ao prolatá-la, apesar
de absolver o réu, impõe-lhe o cumprimento de medida de segurança, que é, em sentido amplo, uma sanção
penal.
d) O relatório, requisito formal da sentença, seja qual for o procedimento processual penal, deverá conter,
resumidamente, as teses desenvolvidas pelas partes, sob pena de nulidade do ato decisório.
►Comentários
Alternativa A está errada. Não se exige certeza da autoria e prova da existência do crime para a sentença de
pronúncia, basta que o juiz se convença da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de
autoria ou de participação.
Assertiva B incorreta. A coisa julgada formal não impede que se reexamine novamente a causa, caso surjam
novas provas, nem por outro juízo ou tribunal. Diz respeito apenas à imutabilidade no próprio procedimento.
Alternativa C correta, pois retrata o entendimento doutrinário acerca da ‘natureza’ da sentença absolutória
imprópria e da razão de sua denominação.
Alternativa D errada. No procedimento sumaríssimo, diante dos princípios que o regem (informalidade,
celeridade, oralidade), dispensa-se o relatório da sentença, razão pela qual a afirmativa é falsa.
20. CESPE – Procurador do Estado – PGE/BA – 2014. Acerca das provas, das sentenças e dos princípios
do direito processual penal, julgue os itens a seguir. “Considere que Marina tenha sido processada por
crime de furto supostamente cometido contra seu primo André e que, após a fase de produção de provas,
o MP, convencido de sua inocência, tenha opinado por sua absolvição. Nessa situação hipotética, segundo
o Código de Processo Penal, o juiz não poderá proferir sentença condenatória contra Marina”. (C/E)
►Comentários
Assertiva incorreta. O entendimento majoritário da doutrina, corroborado pela jurisprudência, é de que juiz
não está vinculado ao pedido de absolvição do Ministério Público, podendo proferir sentença condenatória
mesmo que o titular da ação pública tenha opinado pela absolvição, diante da previsão do art. 385 do CPP.
Há posicionamentos em sentido contrário, minoritários, apontando que o dispositivo seria inconstitucional,
pois feriria o princípio acusatório.
Art. 385, CPP. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda
que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes,
embora nenhuma tenha sido alegada.
21. NUCEPE – Delegado de Polícia – PC/PI – 2014 – adaptada. A sentença penal condenatória
corresponde ao ponto de convergência entre a prova da materialidade do fato e da autoria com a
culpabilidade, punibilidade e tipicidade da conduta PORQUE exaure, mediante o contraditório e a ampla
defesa, o conteúdo probatório relacionado à materialidade do fato e da autoria. (C/E)
►Comentários
22. MPE-PB – Promotor de Justiça – MPE-PB – 2011 – adaptada. A autoridade judiciária, de ofício, não
poderá reconhecer, na sentença, agravante de reincidência, não alegada pela acusação. (C/E)
►Comentários
Assertiva errada, porque vai de encontro às disposições da parte final do artigo 385 do CPP, que permite ao
juiz reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.
23. NC-UFPR – Defensor Público – DPE/PR – 2014 – adaptada. Ao oferecer denúncia em face de
Benedito, o promotor de justiça narrou que o réu subtraiu sub-repticiamente o telefone celular da vítima
Jonas, quando ambos saíam da aula no curso de Jornalismo da UFPR. Seguindo na narrativa fática, o
promotor de justiça descreveu que o réu se aproveitou de um momento de distração por parte da vítima,
para então subtrair a res. Em audiência concentrada, o magistrado abriu a instrução com a oitiva do
ofendido, momento em que este afirmou que o celular fora entregue voluntariamente a Benedito, que
havia lhe pedido para fazer uma ligação urgente para a sua mãe que estava internada em um hospital, e
que, após a entrega do telefone, o réu saiu correndo, apoderando-se definitivamente do objeto, que não
mais foi encontrado. Encerrada a instrução probatória deverá o magistrado respeitar o princípio da
correlação entre acusação e sentença, aguardando que o Ministério Público faça o aditamento da
denúncia, no prazo de 5 (cinco) dias, reduzindo a termo o aditamento, caso feito oralmente. Após o
aditamento abrirá o prazo de 5 (cinco) dias para a defesa se manifestar, e, uma vez admitido o aditamento,
a requerimento das partes, designará dia e hora para a continuação da audiência, com inquirição de
testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento. Isto porque se está
diante de hipótese de mutatio libelli. (C/E)
►Comentários
Assertiva correta. A alternativa retrata o ‘procedimento’ previsto no artigo 384 do CPP, retratando o instituto
da mutatio libelli. Note que a instrução demonstrou que os fatos se sucederam de forma diversa; não é
situação de apenas mudar a classificação jurídica.
Art. 384, CPP. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do
fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração
penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo
de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação
pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.
►Comentários
Assertiva A incorreta. No caso de emendatio libelli não se proporciona ao réu a possibilidade de manifestação
acerca da modificação da classificação jurídica dos fatos. Até porque, como se sabe, o réu se defende dos
fatos e não da classificação jurídica atribuída a eles.
Art. 383, CPP. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá
atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais
grave.
Assertiva B correta. O artigo 617 do CPP retrata essa possibilidade, desde que, evidentemente, seja
respeitado o princípio da vedação da reformatio in pejus, em caso de recurso unicamente da defesa.
Art. 617, CPP. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383,
386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o
réu houver apelado da sentença.
Assertiva C incorreta. Segundo entendimento majoritário, aplica-se a mutatio libelli apenas em ações penais
públicas e ações penais privadas subsidiárias da pública, inclusive pelo que se denota da própria leitura do
artigo 384.
Art. 384, CPP. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do
fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração
penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo
de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação
pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.
Alternativa D errada. Ao contrário da emendatio libelli a mutatio não é permitida em segunda instância,
questão inclusive sumulada pelo STF.
Súmula 453, STF. Não se aplicam à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do Código de
Processo Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de
circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou queixa.
25. CESPE – Procurador Federal – AGU – 2013. Acerca da competência, da coisa julgada e dos recursos
no processo penal, julgue os itens a seguir à luz do entendimento dos tribunais superiores e da doutrina
majoritária. “A coisa julgada, instituto intimamente relacionado com o princípio da segurança jurídica, é a
qualidade da decisão que a torna imutável, não sendo mais possível discutir seus comandos, senão por
meio de revisão criminal, se preenchidos os requisitos estabelecidos no CPP.” (C/E)
►Comentários
Assertiva é correta. A coisa julgada “não é um efeito, mas uma qualidade da decisão judicial da qual não
caiba mais recurso. É a imutabilidade da sentença, de modo a impedir a reabertura de novas indagações
acerca da matéria nela contida” (Pacelli, 2018).
O Código de Processo Civil definiu e a ideia pode ser aproveitada no processo penal:
Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a
decisão de mérito não mais sujeita a recurso.
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB, no art. 6º, assim consigna:
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.
b) A sentença que reconhece a inexistência do fato impede a propositura da ação civil para reparação do
dano.
c) Se o juiz entender que o réu é inimputável por perturbação da saúde mental, proferirá a sentença
absolutória imprópria.
d) A sentença penal absolutória, que reconhece a atipicidade do fato, não impede a propositura da ação civil
para reparação do dano.
e) A sentença homologatória da transação penal serve como título executivo no cível, para efeito de
reparação do dano.
5. FAURGS – Juiz Substituto – TJ/RS – 2016. Sobre a sentença em matéria criminal, considere as
afirmações abaixo.
I - A sentença penal absolutória implica, obrigatoriamente, a concessão da liberdade do réu que tenha
respondido ao processo enquanto se encontrava preso preventivamente, bem como na cessação das
medidas cautelares diversas eventualmente aplicadas.
II - Ainda que tenham sido identificados no curso do processo os prejuízos sofridos pela vítima
da infração penal, a sentença condenatória não poderá fixar valores a título de reparação do
dano, pois essa atribuição é de competência exclusiva da jurisdição cível no âmbito da ação ex
delicto.
III - Em caso de sentença condenatória, o juiz poderá decidir sobre a imposição de prisão preventiva ou
medidas cautelares diversas ao réu que tenha respondido ao processo em liberdade, não sendo necessário,
todavia, que apresente fundamentos para a manutenção das medidas anteriormente decretadas.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e II.
e) Apenas II e III.
6. CESPE – Defensor Público – DPE/RN – 2015 – ADAPTADA. Com relação aos institutos da emendatio
e da mutatio libelli, da sentença e da coisa julgada, bem como aos procedimentos comum e ordinário, aos
juizados especiais cíveis e aos crimes dolosos contra a vida, assinale a opção correta. “A figura processual
da mutatio libelli se presta à correção da equivocada capitulação jurídica dada ao fato criminoso narrado
na denúncia, incorretamente classificado pelo MP. Essa providência, ademais, pode ser conduzida pelo
próprio magistrado, sem que haja necessidade de aditamento ministerial ou oitiva prévia da defesa,
exceto no caso de a modificação ocasionar agravamento na pena do acusado”. (C/E)
7. FGV – Analista Processual MP – MPE-RJ – 2016. Ministério Público ofereceu denúncia em face de
José pela prática do crime de apropriação indébita. Encerrada a instrução, entende o promotor que José
empregou fraude em momento pretérito ao crime, de modo que a posse do bem em momento algum foi
lícita. Em razão disso, realiza aditamento à denúncia para modificar os fatos narrados e imputar o crime
de estelionato. O aditamento é recebido e novas provas são produzidas. Após o promotor pedir a
condenação de acordo com o aditamento, e a defesa, a absolvição, o magistrado condena José nos termos
da imputação originária, que é menos grave. Diante do exposto, é correto afirmar, de acordo com o Código
de Processo Penal, que, com o aditamento do Ministério Público, foi aplicado o instituto da:
a) mutatio libelli, não podendo o magistrado condenar José na imputação originária;
b) emendatio libelli, não podendo o magistrado condenar José na imputação originária;
c) mutatio libelli, podendo o magistrado condenar José na imputação originária;
d) emendatio libelli, podendo o magistrado condenar José na imputação originária;
e) emendatio libelli, devendo o juiz submeter a questão ao Procurador Geral de Justiça, entendendo que o
crime praticado não foi o de estelionato.
8. CESPE – Defensor Público – DPU – 2015. Em relação a coisa julgada, prova criminal e restituição de
bens, medidas assecuratórias e cautelares no direito processual penal, julgue o item subsequente. “Apesar
da independência das esferas penal e civil, a absolvição criminal do réu sob o fundamento de não haver
prova da existência do fato faz coisa julgada no juízo cível”. (C/E)
9. FCC –Juiz Substituto – TJ/AL – 2015 – adaptada. Referente a coisa julgada penal, é correto afirmar:
Na superveniência de novos documentos que qualificam a infração penal anteriormente imputada ao réu
e pela qual se julgou extinta a punibilidade, é lícito o oferecimento de nova denúncia por tratar-se de nova
descrição fática, conforme já decidiu o STJ. (C/E)
10. FCC – Defensor Público – DPE-BA– 2016. Sobre os institutos jurídicos da mutatio libelli e emendatio
libelli, é correto afirmar:
a) Havendo o aditamento da denúncia depois de admitida a emendatio libelli, cada parte poderá arrolar até
cinco testemunhas para serem ouvidas.
b) O princípio da congruência não permite que o juiz atribua definição jurídica distinta daquela descrita na
denúncia quando a nova tipificação prever pena mais severa.
c) Na hipótese do juiz reconhecer a emendatio libelli, poderá, caso a nova figura típica reflita hipótese de
furto qualificado tentado, oferecer a suspensão condicional do processo, mesmo que já encerrada a
instrução processual, caso o acusado preencha os requisitos previstos na Lei nº 9.099/95.
d) O reconhecimento da emendatio libelli perpetua a competência do prolator da decisão para a análise da
nova figura típica, independentemente da nova tipificação.
e) No caso do Ministério Público não aditar a denúncia após ser reconhecida nova definição jurídica do fato
em vista de provas existentes nos autos de elementos não contidos na denúncia, deverá o Magistrado, de
pronto, julgar improcedente a denúncia originalmente proposta.
11. CESPE – Juiz Substituto – TJ/CE – 2018. Considerando a doutrina e a jurisprudência dos tribunais
superiores, assinale a opção correta, acerca da ação civil ex delicto, da competência, da jurisdição e dos
processos incidentes. “A sentença que concede o perdão judicial depois de reconhecida a culpa do réu
enseja reparação civil ex delicto”. (C/E)
12. CESPE – Juiz Estadual – TJ/CE – 2018. Considerando a doutrina e a jurisprudência dos tribunais
superiores, assinale a opção correta, acerca da ação civil ex delicto, da competência, da jurisdição e dos
processos incidentes. “A sentença absolutória do juízo criminal que declare a inexistência do fato ou que
o réu não tenha concorrido para o crime faz coisa julgada no juízo cível, obstando a reparação civil ex
delicto”. (C/E)
13. VUNESP – Juiz Substituto – TJ/SP – 2017. No procedimento comum, após o oferecimento da
resposta pelo acusado, o juiz deverá absolvê-lo sumariamente quando:
a) faltar justa causa para o exercício da ação penal ou verificar a existência manifesta de qualquer causa
excludente da culpabilidade;
b) verificar a existência manifesta de qualquer causa excludente da ilicitude do fato ou que o fato narrado
evidentemente não constitui crime;
c) a denúncia ou a queixa for manifestamente inepta ou não se convencer da existência de indícios suficientes
de autoria ou de participação;
d) faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal ou verificar que extinta a
punibilidade do agente.
14. CESPE – Delegado de Polícia – PC/ES – 2011. Marcelo recebeu sentença condenatória baseada,
unicamente, em elementos coligidos na fase do inquérito. Nessa situação, a jurisprudência do STF
reconhece a insubsistência do pronunciamento condenatório sob o fundamento de violação ao princípio
do contraditório. (C/E)
15. CESPE – Defensor Público – DPE/ES – 2012. O CPP preconiza, de forma expressa, os limites objetivos
da coisa julgada, dispondo que a exceção de coisa julgada somente poderá ser oposta em relação ao fato
principal que tiver sido objeto da sentença. (C/E)
16. CESPE – DPF – 2013. Suponha que a instrução criminal de um processo tenha sido presidida pelo
juiz titular de determinada vara e que, na fase decisória, a sentença condenatória tenha sido proferida por
juiz substituto, diverso do que tenha colhido as provas e acompanhado a instrução processual. Suponha,
ainda, que a defesa, no prazo legal, tenha apelado da decisão sob a argumentação de nulidade absoluta
da sentença condenatória em face de ter sido proferida por juiz que não presidira à instrução. Nessa
situação hipotética, não assiste razão à defesa, visto que não vigora, no processo penal, o princípio da
identidade física do juiz (C/E).
17. FCC – Analista Judiciário – TRF 5ª – 2012. A sentença penal condenatória,
a) jamais poderá ser objeto de intimação por edital ao defensor constituído.
b) tornará definitiva a interdição de direitos cautelarmente imposta pelo prazo máximo de 8 (oito) anos.
c) poderá fixar valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos
sofridos pelo ofendido.
d) enquanto não transitar em julgado, não poderá determinar que seja o nome do réu lançado no rol dos
culpados.
e) poderá aplicar pena privativa de liberdade cumulada com medida de segurança se afirmada a especial
periculosidade do agente.
18. FCC – Juiz Substituto – TJ/CE – 2014. Na sentença condenatória, o juiz
a) não precisa fundamentar a necessidade de manutenção de prisão preventiva.
b) pode reconhecer circunstâncias agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.
c) pode atribuir ao fato definição jurídica diversa, sem modificar a descrição contida na denúncia ou na
queixa, prejudicada a suspensão condicional do processo.
d) não pode computar o tempo de prisão provisória para fins de determinação do regime inicial de pena
privativa de liberdade.
e) decidirá de pronto, no caso de entender cabível nova definição jurídica do fato, em consequência de prova
existente nos autos de elemento ou circunstância da infração não contida na acusação, se o órgão do
Ministério Público não proceder ao aditamento.
19. CESPE – Promotor de Justiça – MPE/TO – 2012. Com relação a sentença e coisa julgada, assinale a
opção correta.
a) São requisitos mínimos para a sentença de pronúncia a certeza da autoria e a prova da existência do crime.
b) A coisa julgada formal impede, no âmbito processual penal, que qualquer outro juízo ou tribunal
reexamine a causa já decidida.
c) A sentença absolutória imprópria é assim conceituada pela doutrina porque o juiz, ao prolatá-la, apesar
de absolver o réu, impõe-lhe o cumprimento de medida de segurança, que é, em sentido amplo, uma sanção
penal.
d) O relatório, requisito formal da sentença, seja qual for o procedimento processual penal, deverá conter,
resumidamente, as teses desenvolvidas pelas partes, sob pena de nulidade do ato decisório.
20. CESPE – Procurador do Estado – PGE/BA – 2014. Acerca das provas, das sentenças e dos princípios
do direito processual penal, julgue os itens a seguir. “Considere que Marina tenha sido processada por
crime de furto supostamente cometido contra seu primo André e que, após a fase de produção de provas,
o MP, convencido de sua inocência, tenha opinado por sua absolvição. Nessa situação hipotética, segundo
o Código de Processo Penal, o juiz não poderá proferir sentença condenatória contra Marina”. (C/E)
21. NUCEPE – Delegado de Polícia – PC/PI – 2014 – adaptada. A sentença penal condenatória
corresponde ao ponto de convergência entre a prova da materialidade do fato e da autoria com a
culpabilidade, punibilidade e tipicidade da conduta PORQUE exaure, mediante o contraditório e a ampla
defesa, o conteúdo probatório relacionado à materialidade do fato e da autoria. (C/E)
22. MPE-PB – Promotor de Justiça – MPE-PB – 2011 – adaptada. A autoridade judiciária, de ofício, não
poderá reconhecer, na sentença, agravante de reincidência, não alegada pela acusação. (C/E)
23. NC-UFPR – Defensor Público – DPE/PR – 2014 – adaptada. Ao oferecer denúncia em face de
Benedito, o promotor de justiça narrou que o réu subtraiu sub-repticiamente o telefone celular da vítima
Jonas, quando ambos saíam da aula no curso de Jornalismo da UFPR. Seguindo na narrativa fática, o
promotor de justiça descreveu que o réu se aproveitou de um momento de distração por parte da vítima,
para então subtrair a res. Em audiência concentrada, o magistrado abriu a instrução com a oitiva do
ofendido, momento em que este afirmou que o celular fora entregue voluntariamente a Benedito, que
havia lhe pedido para fazer uma ligação urgente para a sua mãe que estava internada em um hospital, e
que, após a entrega do telefone, o réu saiu correndo, apoderando-se definitivamente do objeto, que não
mais foi encontrado. Encerrada a instrução probatória deverá o magistrado respeitar o princípio da
correlação entre acusação e sentença, aguardando que o Ministério Público faça o aditamento da
denúncia, no prazo de 5 (cinco) dias, reduzindo a termo o aditamento, caso feito oralmente. Após o
aditamento abrirá o prazo de 5 (cinco) dias para a defesa se manifestar, e, uma vez admitido o aditamento,
a requerimento das partes, designará dia e hora para a continuação da audiência, com inquirição de
testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento. Isto porque se está
diante de hipótese de mutatio libelli. (C/E)
24. TRF 2ª – Juiz Federal – TRF 2ª – 2014. Em processo penal:
a) A “emendatio libelli” exige que seja assegurada ao réu vista sobre a possível modificação da classificação
jurídica do fato.
b) É admissível, em princípio, a “emendatio libelli” em segundo grau de jurisdição.
c) É admissível a “mutatio libelli” em ações penais exclusivamente privadas.
d) É admissível a “mutatio libelli” em segundo grau de jurisdição.
e) Todas as afirmações anteriores estão erradas.
25. CESPE – Procurador Federal – AGU – 2013. Acerca da competência, da coisa julgada e dos recursos
no processo penal, julgue os itens a seguir à luz do entendimento dos tribunais superiores e da doutrina
majoritária. “A coisa julgada, instituto intimamente relacionado com o princípio da segurança jurídica, é a
qualidade da decisão que a torna imutável, não sendo mais possível discutir seus comandos, senão por
meio de revisão criminal, se preenchidos os requisitos estabelecidos no CPP”. (C/E)
==13272f==
4.3 GABARITO
1. B 11. Errada 21. Certa
2. A 12. Certa 22. Errada
3. Errada 13. B 23. Certa
4. E 14. Certa 24. B
5. A 15. Certa 25. Certa
6. Errada 16. Errada
7. A 17. D
8. Errada 18. B
9. Errada 19. C
10. C 20. E
5. RESUMO
Despachos - manifestações simples, que não abordam pontos controvertidos, geralmente com finalidade de
dar andamento ao processo (impulso processual); de regra são irrecorríveis e normalmente não têm carga
decisória; só admitirão impugnação quando houver ‘inversão tumultuária’ no processo, mediante correição
parcial.
Decisões interlocutórias - pronunciamento judicial de natureza decisória que resolve questão controversa.
Sentenças – em sentido estrito, põem fim ao processo, absolvendo ou condenando o réu, dando como
procedente ou improcedente a imputação após instrução probatória; têm carga decisória plena,
ordinariamente passíveis de apelação (593, I e III do CPP).
o Sentenças autofágicas – juiz reconhece imputação, mas declara extinta punibilidade (ex. perdão).
SENTENÇA
(positivas e negativas); mandamentais; executivas. relatório
Decisões dos jurados no Tribunal do Júri, diante do necessário sigilo, dispensam a fundamentação.
Sentença absolutória: próprias (declaram estado de inocência); impróprias (que aplicam medida de
segurança); sumárias (arts. 397 e 415 do CPP).
Art. 386. Parágrafo único. Na sentença absolutória, o juiz: I - mandará, se for o caso, pôr o réu
em liberdade; II – ordenará a cessação das medidas cautelares e provisoriamente aplicadas; III -
aplicará medida de segurança, se cabível.
Além desses efeitos, a fiança será restituída, o sequestro/arresto/hipoteca serão levantados e o réu pode
requerer a retirada da sua identificação fotográfica.
Sentença condenatória: tem elementos próprios, destacados no art. 387 do CPP, destacando-se a aplicação
da pena, a manifestação sobre medidas cautelares e a detração para a determinação do regime inicial de
pena privativa de liberdade.
cumprimento
da pena reparação
principais dano
Efeitos previstos na Constituição Federal: i) suspensão dos direitos políticos (art. 15, III); ii) impedimento à
naturalização (art. 12, II, ‘b’); iii) submissão de oficial a julgamento de indignidade/incompatibilidade (art.
142, § 3º, VII).
Vinculação da sentença ao pedido do Ministério Público: embora doutrina minoritária questione, prevalece
a disposição do art. 385 do CPP – “Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória,
ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora
nenhuma tenha sido alegada”.
Publicação da sentença: não se pode confundir ‘publicação’ com ‘intimação’. O primeiro ato traduz a
existência jurídico-formal da sentença e se dá com a entrega em mão do escrivão; o segundo é ato de
comunicação processual, serve para cientificar as partes sobre a sentença, dando início ao prazo recursal.
Esgotamento da instância: efeito genérico da decisão que implica no encerramento do ofício jurisdicional
em primeira instância, impedindo, regra geral, a alteração da sentença; esta que só poderá ser alterada em
3 situações: correção de erros materiais; embargos de declaração; recurso com efeito regressivo.
Intimação da sentença: Ministério Público, Defensor público e nomeado serão intimados pessoalmente.
Advogado do querelante e do assistente de acusação mediante publicação. Segundo posicionamento
majoritário, tanto o réu quanto o seu defensor devem ser intimados da sentença - é o que se recomenda.
Não haverá nulidade, todavia (observada a jurisprudência), nas situações de ‘absolvição’ em que somente
um ou outro for intimado e nas situações de ‘condenação’ quando somente o advogado constituído for
intimado. Os acórdãos não precisam observar as disposições do art. 392, não se exigindo a intimação do
acusado.
Princípio da consubstanciação: no processo penal, o réu se defende em relação aos fatos a ele imputados e
não em relação ao direito ou lei aplicável.
Princípio da correlação: estabelece que o fato criminoso atribuído ao réu na acusação deve ser o mesmo
tomado em conta pelo juiz na sentença; deve haver correspondência (daí o nome do axioma), portanto,
entre as condutas que são consideradas pelo juiz (quando julga) e aquelas que foram expressamente
imputadas – essencialmente devem ser as mesmas, em todas as suas elementares e circunstâncias. O
processo deve ter identidade (jurídica) de objeto. O fato imputado ao réu na peça acusatória deve guardar
harmônica correspondência com o fato reconhecido pelo juiz na sentença, sob pena de violação aos
princípios do contraditório e da ampla defesa. É na tutela desses princípios e para um ‘devido processo legal’
que serve o axioma da correlação. O que é interessa (para a correlação) é o ‘fato processual’ e não o direito
aplicável/classificação jurídica.
‘Emendatio libelli’: mudança na definição jurídica, sem a modificação do fato contido na acusação, mesmo
que se aplique pena mais grave, nos termos do art. 383 do CPP. O juiz se vale das máximas jura novit curia
(o juiz conhece o direito) e/ou narra mihi factum dabo tibi jus (narra-me o fato e te darei o direito).
Oportunidade - o momento adequado para o juiz aplicar a emendatio libelli é quando da sentença, evitando-
se prejulgamento e considerando que essa postergação não gera prejuízo para o acusado, que se defende
dos fatos imputados e não da classificação jurídica. A correção da adequação típica só é permitida antes,
excepcionalmente, para socorrer direitos do réu em temas de ordem pública.
A emendatio libelli pode ocorrer nas instâncias superiores, desde que não implique em reformatio in pejus.
‘Mutatio libelli’: o art. 384 retrata hipótese em que a acusação narra determinada situação fática e atribui
uma correspondente classificação jurídica; após a instrução criminal, da análise das provas se percebe que a
situação fática é outra, ou, não é bem aquela descrita. Para não violar o princípio da correlação, a acusação
tem de ser corrigida/alterada (aditamento), o que, via de consequência, pode implicar na alteração da
classificação jurídica.
A pergunta para distinguir se é caso de emendatio ou mutatio libelli é uma só: os fatos (elementos e
circunstâncias) estão correta e integralmente descritos na acusação? Se a resposta for positiva – emendatio
(art. 383, CPP); negativa – mutatio (art. 384).
Oportunidade – a mutatio libelli deve ocorrer após o encerramento da instrução e não é permitida em grau
recursal, para evitar supressão de instância. Súmula 453 do STF: não se aplicam à segunda instância o art.
384 e parágrafo único do Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato
delituoso, em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou
queixa.
Fato novo x fato diverso - é para o fato diverso que se reserva a mutatio libelli, já que o art. 384 do CPP fala
em elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação. A matéria reservada à mutatio,
quando associada à infração penal, diz respeito a elementares ou circunstâncias que, embora não contidas
na acusação, comporiam um novo tipo penal, normalmente mais amplo (na descrição) que aquele narrado
na acusação. É preciso, então, que o novo elemento (ou circunstância) se agregue aos elementos básicos e
essenciais narrados na peça acusatória; caso contrário, o caminho é nova denúncia e novo processo.
Procedimento –
CPP. Art. 384. [...] o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco)
dias, [...] reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.
§ 4º Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de 5
(cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento.
Há divergência na doutrina sobre o cabimento de mutatio libelli nas ações penais exclusivamente privadas;
de qualquer modo, em se admitindo deve-se observar o prazo decadencial.
'Emendatio' 'Mutatio'
Art. 383 do CPP (respeito à correlação) Art. 384 do CPP (respeito à correlação)
Coisa julgada formal – é a imutabilidade da sentença dentro do próprio processo, com a preclusão das vias
impugnativas;
Coisa julgada material – é a imutabilidade dos efeitos da sentença que a torna indiscutível em qualquer
processo.
Limites objetivos da coisa julgada – o que faz coisa julgada no processo penal são os fatos; melhor dizendo,
o fato natural (em toda a sua integralidade), a realidade histórica, pouco importando a definição jurídica ou
o acerto/desacerto da acusação.
Limites subjetivos da coisa julgada – princípio da instranscendência (a pena não passará da pessoa do
condenado).