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AFINAÇÃO

SEM MISTÉRIOS

GILSON NASPOLINI

Gilson Naspolini é baterista, educador, produtor musical


e criador de conteúdo digital.
9 VERDADES
DOS TAMBORES
O Intervalo (distância sonora) entre os
tambores é mais importante do que a
maioria pensa e a medida é chave para
obter aquela ressonância extra entre os
tambores. O diâmetro tem um grande
impacto na afinação, muito mais do
que a profundidade.

Um pequeníssimo movimento no
parafuso de afinação pode causar
grandes diferenças e elevar a afinação
drasticamente, muito mais ainda se o
aro for Super Hoop ou Die-Cast. Mais
ainda, pequenos movimentos nos
parafusos da resposta, provocam uma
mudança maior do que os da
batedeira.

Tenha atenção com o posicionamento


de microfones sobre os tambores.
Por exemplo, colocar um microfone
perto da borda externa de um tambor
pode captar harmônicos de alta
frequência, mas situá-lo apenas uma
polegada a mais de distância pode
reduzir drasticamente estes mesmos
harmônicos.

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9 VERDADES
DOS TAMBORES
Um som ou afinação que funciona para
um local pequeno, poderá não soar tão
bem em um local maior. Deve-se levar
em consideração qual componente do
som irá chegar à platéia. Por exemplo, a
escolha das peles, se forem
microfonadas, haverá de ser diferente.
Um jogo de peles com muito sustain
(vibração de longa duração) pode se
transformar em um pesadelo para seu
técnico de som. Enquanto o baterista
pode estar numa apresentação
inspirada, o som pode parecer
embolado numa sessão de gravação ou
num local maior, levando em conta
harmônicos (sobras) prolongados e o
conjunto obtido com outros
instrumentos. Em locais maiores com
microfones muito próximos das peles,
tipicamente os bateristas usam peles
duplas (tipo G2 da Evans) pois o som
fica mais abafado e controlado. O
baterista deve também levar em conta
que dependendo do tamanho do local,
a reverberação da bateria chega com
atraso à platéia, ou seja, deve-se pensar
em tocar de modo mais simplista ou
selecionando notas e viradas, pois o
público não ouvirá os detalhes.

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9 VERDADES
DOS TAMBORES
Todos os tambores soam diferente a zero,
cinco, quinze, trinta ou quarenta metros de
distância. Por isso o que soa bem para o
baterista enquanto toca, pode ser terrível para
a platéia, microfonando ou não. É muito
importante ouvir como soa sua bateria em
diferentes distâncias, especialmente junto aos
outros instrumentos. Percorra a sala e
selecione peles e afinações de acordo. Uma
afinação alta chega mais longe, uma baixa,
não.

O som ouvido numa gravação, em casa,


nunca é fiel ao som da bateria, na maior parte
das ocasiões. O que você ouve, em geral, é
uma versão alterada de acordo com gosto do
produtor e o músico. Às vezes, não é sequer
possível reproduzir ao vivo um bom som de
um disco sem recorrer à truques eletrônicos
(uso de triggers e bateria sampler, por
exemplo).

Um tambor/pele/instrumento menos caro


não significa inferior; em alguns casos, pode
acontecer o contrário, desde que se obtenha
o som desejado. Por exemplo, um tambor de
Birch ou Beech, com aros regulares, além de
serem menos caros que tambores de Maple
com aros Die-Cast, poderá produzir o som
penetrante que você precisa para sua caixa.

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9 VERDADES
DOS TAMBORES
O respiro do tambor
(aquele buraquinho) é feito
para deixar o casco respirar;
quando usadas resposta e
batedeira e uma mudança
atmosférica acontece,
ocorre umidade; o furo
serve para eliminar este
efeito. Este é um típico
problema quando se sai de
um clima frio para um
quente, ou vice-versa, assim
como "suam" as janelas na
sua casa ou carro. O respiro
tem pouco efeito sobre o
timbre do tambor.
Você deve esticar as peles
(mesmo sem motivo) em
todos os tambores. Este
assentamento é necessário
e muito importante no
processo de se obter um
som com qualidade e
consistência.

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PELES:
QUANDO TROCAR

Há vários indicadores que


determinam quando uma pele deve
ser trocada. Só não esqueça, estamos
de elasticidade existe, ou apenas foi
falando tanto do ponto de vista
forçada. Sem dúvidas, é hora de
prático quanto do "purista". Fora o
trocar de pele.
óbvio, quando há um buraco na pele,
qualquer pele deve produzir um som
Quando tentamos afinar grave
que "denuncia" que ela deve ser
(assumindo que você assentou as
trocada. Mas qual som? Você deve ser
peles corretamente), o tambor não
o juiz que decidirá quando trocar.
chega ao ponto desejado e começa
Mesmo assim, seguem algumas
a produzir um som distorcido ou
simples dicas.
um zunido. Este é um indicador de
que a pele começou a afrouxar e
Quando a camada porosa começar
assim não tem mais capacidade de
a desaparecer. Se você usou a pele
ficar em constante contato com o
até este ponto, com certeza já deve
tambor. Nas peles de filme duplo
estar com a afinação nas alturas (de
(como na G2), isto pode ocorrer
tanto reapertar); ou você tem uma
antes pois o filme superior sempre
pegada e tanto; ou a pele está no
terá uma tensão diferente do filme
tambor há muito tempo. Quando a
inferior. A pele não estará
pele já descrita anteriormente é
completamente perdida, mas será
removida do tambor, percebe-se uma
necessário usar uma afinação mais
aparência achatada, ondulada. Este é
alta à partir deste momento ou
o indicador de que a pele foi esticada
como alternativa, pode-se tentar re-
além de seus limites, afinada num
assentá-la usando um secador de
ponto onde quase nada
cabelos.

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AFINANDO E
ASSENTANDO

Para se familiarizar com o procedimento, recomenda-se começar com um


tambor médio, como o de 12". Não confundir com a afinação da bateria
completa. Quando afinar ela inteira, você pode preferir começar por outro
tambor. Em primeiro lugar, focalizaremos em obter o melhor som do seu
tambor.

AFINANDO A RESPOSTA

Assumindo que você tenha


inspecionado as bordas do casco
(verificando se estão sem qualquer
dano), pode-se prosseguir da
seguinte forma:

Escolha o tipo de peles de acordo com seu gosto (filmes simples, duplos,
hidráulicos, porosos, etc.)
Retire apenas a pele batedeira, caso você reconheça que a pele de
resposta se encontra em bom estado e você conheça o som que deseja
alcançar. Caso você queira testar novas possibilidades de afinação ou
queira conhecer o som real do seu tambor (da madeira), retire todas as
peles.

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AFINANDO E
ASSENTANDO

Uma vez sem nenhuma pele, de umas batidinhas com a mão ou


mesmo com uma baqueta na madeira, no caso do tambor, de modo
a sentir qualquer vibração anormal. Se as canoas zunirem, pode-se
desmontá-las e tentar novamente com alguns chumaços de algodão
ou feltro, colocados internamente nas canoas, resolvendo o problema
do zunido (note que é normal as cabeças das canoas, que acomodam
os parafusos, zunirem, afinal os parafusos não estarão ali colocados
neste momento). Pode-se também colocar uma película de borracha
ou feltro entre a canoa e o casco do tambor.

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AFINANDO E
ASSENTANDO
Coloque o tambor sobre uma
superfície acarpetada com a
borda da batedeira para baixo e
então coloque a pele de resposta,
o aro e proceda com os parafusos.

É muito importante apertar os


parafusos apenas até fazerem
contato ou com as arruelas ou o Você pode usar duas chaves de
aro. Se suas canoas são macias o afinação simultaneamente, em
suficiente, pode usar os dedos. Se parafusos opostos, apertando ao
o caso é de resistência maior, use mesmo tempo, de meia em meia
uma chave de afinação. Em volta, até observar que as rugas na
ambos os casos, uma vez feito o pele sumiram. Ou então você pode
contato entre o parafuso/aro, volte usar apenas uma chave, mas
um 1/4 de volta. apertando da mesma maneira (de
meia em meia volta) e afinando em
"estrela" (parafusos opostos). Dessa
maneira, mantenha uma das mãos
empurrando a pele no centro,
formando rugas nos cantos; aperte
até que elas sumam. Lembre-se,
estamos apenas assentando a pele.
Agora neste momento a nota
musical não tem importância.

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AFINANDO E
ASSENTANDO

Levante o tambor e bata na pele uma


vez, preste atenção se o som tem
algum tipo de distorção. Se tiver
distorções, aperte cada parafuso mais
meia volta e repita o procedimento até
que o som não apresente problemas.
Não tenha medo de apertar realmente
muito acima de uma afinação normal, é
essencial que a pele produza um som
limpo e sem distorções antes de
continuar.

Agora, coloque o tambor novamente


sobre o carpete, e vá batendo com a
chave de afinação, suavemente, à uma
distância de 3 a 4 cm da borda. no
mesmo lugar, em cada canoa. Ouça a
ressonância de cada batida e iguale as
canoas, deste modo o tambor estará
"afinado consigo mesmo"; a ordem em
que isto é feito não é importante neste
momento.

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AFINANDO E
ASSENTANDO

Empurre suavemente com a palma da mão no


centro do tambor de modo a poder quebrar a cola
da borda da pele (se houver, dependendo do
modelo ou marca); lembre-se, não queremos que
você atravesse a mão na pele, vá com calma!
Digamos que você conseguirá afundar uns 6mm
no centro da pele. Agora volte a fazer aquela
afinação do item 20, de modo que o tambor fique
novamente afinado consigo mesmo.

Você pode deixar o tambor assentando por umas


12 horas (se puder se dar a esse luxo) ou com um
secador de cabelo, não muito quente, passando
pelas bordas do tambor. Dê umas duas ou três
voltas com o secador, à uma distância de uns 5 à 8
cm da pele. Deve-se levar uns 8 segundos para dar
uma volta completa num tambor de umas 12". Isto
acomoda o filme, o aro da pele e do tambor,
finalizando o processo de "assentar". Mas atenção:
não aqueça demais a pele, pois pode haver quebra
das moléculas do filme e esse pode endurecer
depois de frio, perdendo toda sua elasticidade!

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AFINANDO E
ASSENTANDO

Uma vez a pele assentada, você deve soltar novamente os parafusos, do


mesmo modo que os apertou, até chegar no ponto de contato entre o
parafuso e o aro.
Repita o processo da "afinação em estrela"; assim que as rugas sumirem,
você provavelmente encontrará o som mais grave que sua pele pode
chegar, estando bem colocada. Subir mais a afinação daqui pra frente,
depende da afinação dos demais tambores em conjunto, então é sugerido
que você pare por enquanto.

AFINANDO A BATEDEIRA

Coloque o tambor sobre uma superfície


acarpetada, dessa vez com a resposta (já
instalada) para baixo. Repita os
processos de instalação da pele,
conforme visto na colocação da pele de
resposta.

Considerando que você achou a


afinação desejada nas peles de resposta,
afinar as batedeiras a partir de agora
será menos complicado.

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PARAFUSOS
AFINADOS
ENTRE SI

Você pode optar em fazer o mesmo Afinando dessa maneira, o


processo de bater com a chave de afinação recomendável é iniciar todo
na borda, próximo ao parafuso, afinando o processo pelo tambor
cada parafuso até achar uma frequência mais grave, assim você
comum à todos; porém muitas vezes dessa garante que terá um surdo
maneira você acaba chegando numa com som de surdo e não
afinação que não se adequa com os parecendo um tom de 12".
tambores vizinhos.
Comece no surdo e vá
subindo até o primeiro tom,
assim você naturalmente
achará afinações de cada
tambor, possivelmente
casados entre si.

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TÉCNICA DO
PARAFUSO
MESTRE

Uma maneira mais prática e Este parafuso é que vai determinar o "toque
menos "amarrada" de se final" da sua afinação, deixando o tom mais
achar a afinação da ou menos alto (grave ou agudo), casando
batedeira somada à assim com os demais tons da sua bateria.
resposta, é deixar um dos
parafusos mandar na Não se preocupe de apertá-lo mais do que
afinação. os outros, porém lembre-se que ele está
fazendo apenas o "toque final". Dessa
Considerando que o aro já maneira, você não precisa casar todos os
está colocado da maneira parafusos (afiná-los entre si) e acaba por
correta (evitando que ele encontrar o som mais rapidamente. Não
fique torto com a pressão), esqueça: não aperte demasiadamente mais
deixe um dos parafusos que os outros parafusos!
frouxo.

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CONSIDERAÇÕES
FINAIS

Afinar uma bateria não é uma tarefa mecânica, exige


sensibilidade e experiência, que deve ser adquirida com muitas
tentativas e prováveis erros. Pesquise e teste diferentes maneiras
de afinar, assim como diferentes kits de peles. Com a tecnologia
de hoje, muitas vezes o processo de assentar a pele já garante
um ótimo som, com peles e tambores afinados entre si.

E Lembre-se: o resultado não depende apenas de uma boa


bateria com peles boas; depende também da sua
sala/estúdio/palco, da temperatura do local e das variações
climáticas (umidade do ar). Há dias que você simplesmente não
consegue chegar no resultado desejado! Não se deixe desanimar,
tente amanhã. Tente sempre!

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QUEM É
GILSON NASPOLINI
GILSON NASPOLINI É BATERISTA, EDUCADOR, PRODUTOR
MUSICAL E CRIADOR DE CONTEÚDO DIGITAL.

Músico com mais de 24 anos de experiência. No Brasil gravou


e se apresentou com nomes como Bêca Arruda, Marília
Dutra, Neguinho & Emanuel, Pandora 101, entre outros. Nos
Estados Unidos, se apresentou com o cantor norte-americano
Doc Drinkwater.

Atualmente trabalhando com as bandas As The Palaces


Burn, O Mundo Analógico, TalkBox e 3 Snow Dogs (Rush
Tribute).

No universo online ficou conhecido por seu extenso trabalho


com aulas de bateria no seu canal do YouTube e com a série
de lives da TVMaldita, entrevistando, ao lado de Aquiles
Priester, os maiores nomes da bateria do Brasil e do mundo.

@gilsonnaspolini

/gilsonnaspolinioficial

@gilsonnaspolini

Fonte Bibliográfica:
How To Tune Your Drums por Dave Black
The Bible Of Drum Tunning por Scott Johnson
Fotos gentilmente cedidas por Odery Drums e arquivo pessoal

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