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Canto Coletivo em Extensão
Canto Coletivo em Extensão
EM EXTENSÃO
Novos olhares para o Trabalho Vocal
em diferentes contextos
Vivianne Aparecida Lopes (Org.)
Vivianne Aparecida Lopes
(Organizadora)
Editora CRV
Curitiba – Brasil
2022
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Imagem da capa: Freepik | Freepik (modificado)
Revisão: Os Autores
C232
Canto Coletivo em Extensão: novos olhares para o Trabalho Vocal em diferentes contextos /
Vivianne Aparecida Lopes (organizadora). – Curitiba : CRV, 2022.
154 p.
Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-3458-1
ISBN Físico 978-65-251-3463-5
DOI 10.24824/978652513463.5
2022
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
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Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNOESC)
Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA)
Paulo Romualdo Hernandes (UNIFAL-MG)
Renato Francisco dos Santos Paula (UFG)
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Sydione Santos (UEPG)
Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA)
Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)
Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO�������������������������������������������������������������������������������������������� 9
Vivianne Aparecida Lopes
PREFÁCIO����������������������������������������������������������������������������������������������������� 13
Cíntia Thais Morato
Contextualização
1 Izabel Padovani é cantora e prof.ª de Técnica Alexander formada pelo The Alexander Technique Centre em
Viena. É formada em Licenciatura pela UFSCar e pós-graduada pela Unicamp. Sua discografia inclui setes
CDs, o mais recente, um álbum gravado ao vivo no Teatro Santa Maria em Curitiba, com a Orquestra à Base
de Sopros de Curitiba, com a obra de Guinga. Tem sido convidada para ministrar workshops e oficinas sobre
o tema Técnica Alexander para Cantores em eventos como a Oficina de Música de Curitiba e os Festivais
de Música de Itajaí, Tatuí, Ouro Preto, Festival de Teatro da UFU, SIMB – Florianópolis, Universidade de
Música de Mendoza, UFRGS, Unicamp, Casa do Brasil na Alemanha, Escola Canto do Brasil, entre outros.
16
caminhos que fizeram surgir a Técnica que leva seu nome. A lenda sobre a ascen-
dência escocesa de Alexander talvez venha da sua relação com Robert Robertson,
a quem reverenciava como a um pai. Robertson, escocês, foi seu professor na
adolescência e praticamente o adotou, dando-lhe aulas particulares aos finais
de semana. O mestre adorava Shakespeare e o apresentou ao jovem Alexander,
que também se tornou um admirador do autor e, mais tarde, um especialista em
declamar suas obras (CARRINGTON; CAREY, 1992; PADOVANI, 2017).
Em 1889, Alexander, então com vinte anos, se muda para Melbourne,
nessa época a maior cidade da Tasmânia, uma metrópole com intensa vida
cultural. Ali o jovem procura desenvolvimento e busca seu espaço como
ator, tendo aulas com figuras importantes do meio artístico. Chega a obter
sucesso na profissão de ator, recebendo críticas favoráveis em várias de suas
performances. No auge da sua produtividade artística, começa a sentir os
primeiros problemas com a voz, uma rouquidão que aparecia principalmente
enquanto recitava. O diagnóstico era irritação da mucosa da garganta e do
nariz e inflamação das pregas vocais, que, segundo os médicos, estavam
muito relaxadas. Também sua úvula era muito grande, provocando acessos
de tosse. O tratamento indicado nesse caso era cirúrgico, orientação que ele
nunca seguiu. Seu médico prescrevia um tratamento que ajudava a recuperar
sua voz entre as apresentações; manter silêncio era uma das prescrições.
Apesar do tratamento, a rouquidão reaparecia, progressivamente pior, com
a volta aos palcos. Abalado com sua condição, Alexander se vê propenso a
deixar os palcos e dedica-se a entender, num cuidadoso trabalho de obser-
vação com a ajuda de espelhos, os motivos da sua rouquidão. Sua pesquisa
baseava-se em um pressuposto: se ao começar uma performance sua voz
tinha um bom funcionamento, mas ao final ela se mostrava com problemas,
seria razoável concluir que a causa se encontrava no que ele estava fazendo
enquanto atuava. Suas observações perduraram cerca de uma década e o
levaram a descobertas que, mais tarde, foram relatadas em quatro livros de
sua autoria (CARRINGTON; CAREY, 1992).
Em 1904, parte então para Londres, levando na bagagem sua experiência
pessoal e sua prática como professor daquilo que hoje chamamos Técnica
Alexander. Nessa época ele ainda não havia esquematizado em palavras essas
descobertas. Dos livros que escreveu em Londres, o terceiro, intitulado O
Uso de Si Mesmo, editado em 1932, talvez seja o que melhor expõe suas
ideias. Foi escrito para ajudar na formação da primeira turma de professores
da Técnica Alexander que aconteceu de 1931 a 1934. Alexander faleceu em
1955 em Londres, e a Técnica Alexander hoje, além dos cursos de formação
que existem pelos quatro continentes, está presente nas grades curriculares
de importantes universidades pelo mundo (PADOVANI, 2017).
18
Os princípios da técnica
Nas primeiras décadas do séc. XX, as práticas que viam o corpo em uma
perspectiva não mecanicista começaram a ganhar voz. Alexander foi um dos
primeiros a trabalhar sob essa perspectiva. As técnicas somáticas, da qual a
Técnica Alexander faz parte, entendem o corpo como um organismo vivo
indivisível e indissociável da consciência. O corpo não é uma matéria inerte
habitada por uma consciência, mas é ele mesmo um elemento da consciência
humana. Estão impressos no corpo valores socioculturais, políticos, espirituais,
influências do meio ambiente, emoções e pensamentos.
O termo “somático” se origina da palavra grega soma, que significa
“corpo vivo”. No Dicionário Larousse de Dança (2007, p. 210), o verbete
“educação somática” tem o seguinte significado: “Campo disciplinar que
emerge de um conjunto de métodos que tem por objeto o aprendizado da
consciência do corpo em movimento no espaço”. Thomas Hanna, filósofo
e criador da técnica Hanna Somatic Education, redefine o termo somático.
Para ele, somático é o estudo dos fenômenos de integração corpo-mente sob a
perspectiva da experiência pessoal, em um processo de autopercepção psico-
física que leva à transformação da qualidade da consciência (HANNA, 1972).
Alexander (2010, p. 11-14) também entende o homem como uma unidade
psicofísica. Para ele, qualquer forma de ensino, escolar ou não, deveria levar
em consideração a “unidade indivisível do organismo humano”, pois processos
mentais e físicos acontecem simultaneamente em toda e qualquer atividade
humana. Alexander suscita seus leitores a pensar se atos como andar, falar, dor-
mir ou mesmo tomar uma decisão são “puramente mental ou puramente físico”.
George Lakoff (apud TRINDADE, 2016, p. 24-25), um dos fundadores
da teoria da linguística cognitiva, defende a ideia de que processos mentais,
o que inclui o pensamento, são elaborados a partir de experiências corporais.
Lakoff não só acredita que mente e corpo são interdependentes, mas coloca
ainda a reflexão sobre como a forma do corpo e a maneira de se movimentar
determina e condiciona nossa forma de pensar.
O início das descobertas de Alexander é relatado no livro O uso
de si mesmo:
Esse foi o início das descobertas que o levaram ao termo controle primor-
dial. Segundo suas observações, a cabeça, o pescoço e o tronco precisam estar
em correlação, pois a cabeça direcionada para frente e para cima, deixando
o pescoço livre, favorece o alongamento de toda a coluna, que, junto com
o alargamento dorsal, promove um equilíbrio que determina a organização
do restante do corpo. Dessa forma, as articulações se descomprimem e os
membros inferiores e superiores ficam livres para o movimento. Isso tudo
influencia a respiração, pois um corpo livre de tensões favorece o fluxo aéreo.
David Garlick (1990), médico fisiologista e professor da Universidade
New South Wales na Austrália, publicou uma pesquisa apontando que, quando
usamos nossos músculos extensores, o volume de ar que respiramos aumenta,
enquanto, quando usamos os flexores, o volume de ar diminui. Uma atividade
maior dos músculos extensores é, segundo Garlick, uma das respostas em um
corpo que pratica a Técnica Alexander.
A mesma ideia é encontrada em um artigo de Cacciatore e Johnson
(2016), que além de serem, respectivamente, neurocientista e físico, são pro-
fessores da Técnica Alexander. Eles afirmam que a execução do movimento
de sentar e levantar da cadeira, quando orientado pelos professores de Técnica
Alexander, aponta para um uso dos músculos extensores do tronco, quadril
e pernas. Essa musculatura é responsável pela resposta antigravitacional e é
utilizada em todas as fases do ato de levantar e sentar na cadeira.
Segundo artigo científico do médico cirurgião Hansraj (2014), uma pessoa,
ao olhar o celular inclinando sua cabeça para frente, acrescenta um peso extra
para a coluna cervical e região dorsal de 12kg a uma inclinação de 15 graus, 18
kg a 30 graus, 22 kg a 45 graus e 27 kg a 60 graus, cerca de cinco vezes mais
do que o peso da cabeça, que tem cerca de 4,5 a 6 kg em posição neutra. Esse
é um exemplo de como a consciência do uso do nosso corpo nas atividades
diárias é fundamental, pois processos de compensação, ocorrem o tempo todo.
Quando Alexander comenta sobre a questão do alargamento dorsal como
um complemento ao primeiro controle, ele se refere às observações que o
levaram à criação do termo direção. Para ele, junto ao equilíbrio entre cabeça,
pescoço e tronco, é preciso que as costas se alonguem e se alarguem, favo-
recendo a expansão do tronco. Sobre esse tema cito a palestra publicada na
Revista Direction de Walter Carrington, aluno que se tornou o braço direito
de Alexander e que seguiu dirigindo a primeira escola de formação de pro-
fessores da técnica criada pelo mestre:
e, para que isso aconteça, o pescoço deve estar livre, a cabeça ir para cima
e para frente (expandir) e as costas alongarem-se e alargarem-se. Mas é
preciso encontrar a maneira de fazer isso acontecer sem esforço muscular.
Não adianta expandir, tentando empurrar, puxar ou esticar. É preciso dar
instruções ao seu corpo e persuadi-lo (CARRINGTON, 1985, n. p.).
O professor trabalha com suas mãos no aluno – mas não para manipulá-lo,
ou nem mesmo para massageá-lo, e sim para sugerir à sua musculatura uma
orientação gentil, guiando-o para um estado novo, leve e em equilíbrio. Se o
aluno conseguir “não fazer”, ou em outras palavras, deixar que o professor
o guie nesse estado mais apropriado, ele perceberá uma mudança aconte-
cer. O grau de consciência sensorial dessas mudanças varia enormemente
de pessoa para pessoa; portanto, algumas pessoas as perceberão mais que
outras. Mas, normalmente, as mudanças são percebidas como uma sensação
de leveza, facilidade e liberdade de movimento (HOLLAND, 1978, n. p.).
O método
REFERÊNCIAS
ALEXANDER, Frederick Matthias. A suprema herança do homem. São
Paulo: Pólen Editorial, 2014.
GARLIK, David. The lost sixth sense: A medical scientist looks at the Ale-
xander Technique. Austrália: Stat Books, 1990.
Contextualização
1 Moacyr Costa Filho, tenor recitalista e concertista, natural de Salvador, BA, Professor do Curso de Graduação
em Canto e Coordenador da Oficina e do Curso Básico de Canto da Escola de Música da Universidade
Federal da Bahia; Mestre em Música, por esta instituição, tendo sido orientado por Professora Doutora
Alda Oliveira; e Doutor em Música sob a orientação do Professor Doutor António Salgado e a coorientação
do Professor Doutor Luis Jesus, na Universidade de Aveiro, Portugal. Foi regente e preparador vocal do
Madrigal da UCSAL, do Coro de Câmara da Bahia, do Coral Santo Antônio, do Coro Dante Alighieri e do
Cantus Primus: Grupo Vocal de Câmara e Ópera; e preparador vocal do Coro do Teatro Castro Alves. Fundou
e presidiu a Companhia de Canto da Bahia, onde também foi solista e preparador vocal. Recentemente,
tem atuado como pesquisador nas áreas da pedagogia e da performance do canto, da ciência da voz e do
movimento físico, e da preparação vocal de coros.
32
Interlocuções teóricas
preliminar, indo até à explicação dos fatos psíquicos, que vêm a ser os acon-
tecimentos reais ou fenômenos relacionados aos sujeitos a que pertencem
(ABBAGNANO, 1999). Por outro lado, o panorama holístico é essencial ao
entendimento da funcionalidade do corpo humano, enquanto sistema orgânico
interconectado e parte integrante do universo macro e micro. O termo holismo
(do grego holos: totalidade), criado por Jan Smuts (1870-1950), baseia-se no
princípio de que há no universo uma tendência integradora. Ao referenciar
Smuts, Crema (1989) descreve o pensamento do filósofo e estadista sul-afri-
cano que considera a visão do todo como princípio fundamental do movimento
holístico. Na concepção de Smuts, o termo holismo atinge sentido universal:
Ainda que não possa ser dito que os sistemas orgânicos possuem uma
inteligência capaz de realizar, eles contêm um tipo especial de conhe-
cimento. Por exemplo, no momento da concepção, as células começam
a proliferar e, por um período, os órgãos se alojam na estrutura externa
do corpo. Como conseguem realizá-lo é um mistério, mas eles o fazem,
e eles “sabem”. [...] O sistema muscular, também, possui o que poderia
ser denominado de uma lógica inata. Se um músculo funciona sozinho,
em um grupo, ou em conjunção com outros, pode: 1) relaxar enquanto o
seu opositor natural tensiona; 2) contrair ativamente quando o ponto A
é atraído para o ponto B [a porção de um músculo é atraída por outra];
ou 3) servir de suporte em movimento contrário à contração ativa de um
sistema oponente, quando cada sistema está sendo mantido em um estado
de tensão equilibrada. Consequentemente, esses sistemas irão responder
favoravelmente a qualquer estímulo que consiga requerer aquelas ativi-
dades que fazem parte do seu potencial lógico de movimento.
Por outro lado, os sistemas orgânicos responderão com relutância, quando
forçados a se adaptar a um ambiente adverso. Eles ‘sabem’ o que podem
e o que não podem fazer (REID, 1992, p. 4-5).
2 Glote: espaço existente entre as pregas vocais na sua fase de abertura (abdução).
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O modo pelo qual uma atividade física (por exemplo, fonação) é executada
e utilizada para realizar um objetivo pretendido (por exemplo, a expressão
artística); uma forma particular de fazer as coisas. [...] A técnica vocal é
a maneira pela qual o mecanismo vocal reage, é a ligação física entre a
intenção e a expressão artísticas.
Uma técnica ou função que está em conformidade com as leis da natureza
é eficiente; aquela que as infringe é ineficaz. O objetivo final do treino
vocal é, portanto, estabelecer uma técnica que satisfaça e esteja de acordo
com o potencial de movimento do sistema muscular e orgânico envolvidos
no processo de fonação (REID, 1995, p. 370).
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fon-
tes, 1999.
MILLER, Richard. The structure of singing: system and art in vocal tech-
nique. New York: S. Books Ed., 1996.
VENNARD, William. Singing: the mecanism and the technique. New York:
Fischer Ed., 1967.
Contextualização
O capítulo que se segue apresenta uma série de reflexões e possibilidades
pedagógicas para que os preparadores vocais, regentes e coralistas despertem
e desenvolvam a consciência corporal ativa aplicada ao ato do canto.
Em nossa prática docente, observamos e desenvolvemos atividades de
ensino que compreendem o cantor como um ser psicofísico, ou seja, entende-
mos que corpo e mente são uma única unidade, indissociável, e fundamentados
no pensamento de Alexander Lowen (1985, p. 11), acreditamos que tudo o
que acontece na mente, reflete-se no corpo, além de gerar uma interferência
negativa ou positiva no resultado sonoro do cantor (SIMÕES, 2012; 2019).
Para o cantor, o corpo é o instrumento e o agente primordial da produção
musical. Porém, ao longo de nossa vida, acumulamos tensões e desenvolve-
mos padrões físicos corporais e mentais que se intensificam quando estamos
em situações de exposição – como em performances, situações de risco ou
perigo, e de fragilidades emocionais (SIMÕES, 2019).
Os bloqueios emocionais e as tensões corporais geram hábitos inadequa-
dos de uso do corpo e como consequência, para tentar manter um equilíbrio,
inconscientemente acontece uma compensação corporal por mau uso do corpo
e são adicionados vícios e padrões deletérios que comprometem a produção
vocal, o bem-estar e a saúde corporal do cantor, necessitando, portanto, de
maior atenção por parte dos preparadores vocais e regentes.
Simões (2019, p. 141-143) analisou em conjunto com um fisioterapeuta3,
o corpo de sessenta e um coralistas entre crianças e adolescentes de um coro
1 Doutora em Educação Musical pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Canto pela Universidade
de Aveiro – Portugal. Licenciada em Música pela Universidade Federal de Ouro Preto. Preparadora vocal de
coros infantojuvenil há mais de 15 anos.
2 Doutorando em Regência coral pela Universidade de Aveiro – Portugal. Mestre em Educação pela
Universidade Vale do Rio Verde e Licenciado em Música pela Universidade Federal de Ouro Preto. É
maestro de coros infantojuvenis há mais de 20 anos.
3 Elgem Moura é fisioterapeuta e atuou como pesquisador coletivo na pesquisa intitulada “práticas musicorporais
para a preparação vocal de jovens coralistas” (SIMÕES, 2019) desenvolvida no Programa de Pós-Graduação
em Educação Musical da Universidade Federal de Minas Gerais.
50
Adequação de ali- O centro da gravidade do corpo está alinhado com o restante dos
nhamento corporal membros como pés, joelhos, quadril, ombros, costa e pescoço.
Retificação da
Curvatura lombar menor que 45º, havendo compressão na região
lombar
Projeção do quadril
Projeção da região pélvica (quadril) para frente.
em antepulsão
Colapso do tronco Desvio lateral tronco (flexibilização do tronco para um dos lados).
continua...
CANTO COLETIVO EM EXTENSÃO:
novos olhares para o Trabalho Vocal em diferentes contextos 51
continuação
Depressão de
Ombros puxados para baixo.
ombros
Protusão de
Ombros / ombros Ombros projetados para a frente.
anteriorizados
Depressão abdo-
minal/ colapso do Compressão da musculatura abdominal para baixo.
abdômen
Depressão da
Compressão da escápula, posicionamento para baixo.
escapula
Hiperextensão dos Alongamento máximo com projeção e retificação dos joelhos para
joelhos trás.
Joelhos geno valgo Joelhos juntos voltados para dentro, pés afastados.
continua...
52
continuação
Práticas musicorporais
[...] uma vivência holística, que integra o fazer musical e o corpo, consi-
derando, desta forma, que ambos formam uma única entidade, agente das
ações que se apresentam à realização. Vivências musicorporais favorecem
a construção das experiências musicais envolvendo todos os aspectos da
corporeidade do indivíduo (sensoriais, emocionais, mentais, dentre outros)
em conexão com o contexto ao redor (SANTIAGO, 2015, p. 98).
Técnica Alexander
Compreender que a percepção sobre si mesmo tende a ser enganosa, uma vez que
Percepção sensorial enganosa.
está associada aos hábitos de uso.
Dar mais importância ao modo pelo qual realizamos a ação e não ao resultado final.
Melos pelos quais.
É pensar em atividade.
Direção de uso consciente. Direcionar o pensamento que antecede e acompanha toda ação muscular.
Bioenergética
5 Essa alteração é comum e pode ser vista em exames de videolaringoscopia. Uma das causas é ser um
movimento compensatório em quem apresenta problemas de desvios posturais ou outros padrões que
envolvam o desalinhamento da cabeça, pescoço e ombros.
60
da figura 3 enquanto as mãos se afastam uma para cima, outra para baixo,
conforme a figura 4.
Fazer contato com seus sentimentos e emoções, entender o que está aconte-
cendo com sua mente, aceitar e libertar em formato de som o que está sentindo,
62
Considerações finais
REFERÊNCIAS
CARNASSALE, Gabriela Josias. O ensino de canto para crianças e ado-
lescentes. 1995. 179 f. Dissertação (Mestrado em Artes) – Universidade de
Campinas (UNICAMP), Campinas, 1995.
COELHO, Helena de Souza Nunes Wöhl. Técnica vocal para coros. São
Leopoldo: Sinodal, 1994.
Contextualização
Inicio esse texto contando de onde parte a história que ele conta. A
história de um longo caminho, percurso de descobertas, encontros e per-
das. Ela começa com meu primeiro encontro com um coro, o Coral Infantil
do Conservatório de Música Alberto Nepomuceno em Fortaleza, no Ceará.
Depois dessa primeira experiência, o canto coral guiou meu caminho como
profissional de música – cantei em coro ao longo de toda a minha graduação
e comecei a reger antes ainda de concluí-la.
Subi em um palco pela primeira vez sem estar em um coral ainda na gra-
duação, com o Cinco em Ponto, um grupo vocal formado por cinco cantoras.
A exposição inédita que experimentei naquele momento tornou evidente um
corpo que até então eu não tinha notado que estava à mostra para a plateia.
Nessa experiência descobri que a imagem que eu tinha de mim mesma no
palco era muito diferente daquela presenciada por quem estava na plateia. Por
exemplo: por mais que eu tentasse me movimentar no palco, sempre ouvia
das pessoas que assistiam as apresentações do grupo que eu precisava me
“mexer” mais. Ouvia também que meus ombros “subiam” quando eu cantava.
Além disso, quando os shows começaram a ser mais frequentes, percebi que
sempre saía do palco com muita dor nas costas.
Na tentativa de compreender esse “recém-descoberto” corpo, ingres-
sei, em uma segunda graduação em Artes Cênicas (a primeira tinha sido em
Música). Embora este tenha sido um período de muito aprendizado e descober-
tas com relação ao meu corpo, eu já era, naquele momento, além de cantora,
professora de canto e regente de corais, o que acrescentou às questões que me
levaram às Artes Cênicas outras relacionadas ao corpo dos meus alunos ou
cantores coralistas. Ainda nesse caminho de investigação, ingressei no Mes-
trado em Educação, interessada em pesquisar, dentro de um grupo coral que
tivesse um trabalho cênico além do musical, como este grupo desenvolvia este
trabalho que precisava olhar para o corpo na preparação vocal; quais seriam
1 Regente, cantora e pesquisadora, doutora em Música pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).
Professora de Canto Coral e Técnica Vocal no curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal
do Ceará. Educadora somática com formação em Antiginástica, Método Bertazzo e Método GDS de Cadeias
Musculares e Articulares.
68
2 Termo que aqui deve ser entendido como a qualidade de um corpo fluido em cena, no qual corpo e voz
estejam realmente integrados, nenhum desses dificultando ou inibindo o trabalho do outro.
CANTO COLETIVO EM EXTENSÃO:
novos olhares para o Trabalho Vocal em diferentes contextos 69
vocal de maneira mais fácil e rápida. Percebi que os trabalhos de corpo com os
corais eram mais tranquilos e fáceis, e que as reclamações de cansaço ou dor
nesses trabalhos diminuíam bastante. Comecei a pensar como poderia usar os
movimentos, materiais, princípios e procedimentos de uma sessão de Antigi-
nástica para conduzir minhas aulas. As experiências realizadas me levaram à
ideia de como seria estruturar uma aula prática sobre aspectos específicos de
técnica vocal que envolvesse o corpo por inteiro, não apenas a musculatura
vocal e respiratória (que se costuma resumir ao diafragma e intercostais);
que utilizasse movimentos como suporte para o canto; que possibilitasse à
cantora e ao cantor entender que tudo o que envolve seu corpo tem influência
direta e real sobre sua voz, inclusive aspectos que costumam ser vistos como
distantes, como o modo como o pé se apoia no chão ou a posição do joelho.
4 Com essa expressão refiro-me à ideia de que o corpo coordena suas funções fisiológicas elementares em
estreita relação com suas funções mais complexas (como imaginação, percepção, emoção e ação). Ou seja,
as dimensões corporal, emocional e psicológica estão inter-relacionadas e interligadas no funcionamento
e comportamento de uma pessoa.
CANTO COLETIVO EM EXTENSÃO:
novos olhares para o Trabalho Vocal em diferentes contextos 71
POSTURA RESPIRAÇÃO
REPERTÓRIO VOCALIZAÇÃO
DEITADOS
SENTADOS
EM PÉ
Princípios
Consciência
Escolha
Sobre este ponto, trago um exemplo que costumo levantar quando falo
a respeito desta proposta. Numa situação de aula de canto, é comum nos
depararmos com cantores que não conseguem abrir a boca de maneira a tornar
possíveis determinados resultados sonoros (cantar um agudo ou articular uma
vogal, por exemplo). “Abrir a boca”, embora possa se referir a movimentar
estruturas musculares internas que possibilitem ampliar a cavidade orofa-
ríngea, elevando o véu palatal e descendo a língua, deve aqui ser entendido
também como movimentar a articulação temporomandibular para separar a
mandíbula do maxilar, afastando as arcadas dentárias. Em geral eu dava à
pessoa uma instrução simples: “abra a boca”. Esse pedido, no entanto, nem
sempre funciona; por vezes a pessoa realmente acredita que abriu a boca, mas
não há qualquer indicação externa (descida da mandíbula) que mostre alguma
diferença na abertura de sua boca. Eu posso repetir a sugestão, reforçando-a:
“abra a boca o máximo que você conseguir”. A pessoa, no entanto, depois de
um grande e visível esforço, não modifica em quase nada a abertura de sua
boca. Posso então tentar outra abordagem, pedindo que ela se olhe em um
espelho. Aqui há algumas reações costumeiras: na primeira, a pessoa nota,
às vezes com algum espanto, que sua boca realmente não está aberta, e com
algum esforço consegue realizar o movimento de abertura. Essa abertura, no
entanto, não se mantém quando iniciamos as vocalizações. Também é possí-
vel que a pessoa, mesmo tendo observado que sua boca não está aberta, não
consiga, ainda que com esforço, abri-la. Ou pode ser ainda que a pessoa não
consiga sequer ver que sua boca quase não abre. Neste caso7, várias pergun-
tas podem surgir. Por que a pessoa não consegue abrir sua boca? Por que ela
não consegue sentir que sua boca não está suficientemente aberta? O que eu
poderia fazer, nesse caso, para ajudá-la a abrir sua boca?
Não há uma única resposta simples para nenhuma dessas perguntas.
O que a Somática me ajudou a descobrir foi que cada pessoa traz consigo
sua história de vida inscrita em seu corpo, e que assim há inúmeros motivos
possíveis para que alguém não consiga abrir a boca. Por exemplo, é possível
que esta pessoa tenha ouvido (e há várias maneiras diferentes de “ouvir”) que
deveria “fechar a boca”. E essa indicação pode ter sido agressiva ou hostil
o suficiente para que ela entendesse que era importante, para se proteger,
não mais abrir sua boca. Neste caso, minha simples instrução “abra a boca”
não é suficiente para romper aquela anterior; o simples observar de sua boca
fechada também não diz a essa pessoa que agora é seguro abrir a boca. É
melhor manter-se sob a proteção de sua boca fechada.
7 É importante salientar que aqui não me refiro a problemas que possam ter sido causados por processos
infecciosos do músculo envolvido na abertura da boca, complicações decorrentes de cirurgia ou
anomalias congênitas.
CANTO COLETIVO EM EXTENSÃO:
novos olhares para o Trabalho Vocal em diferentes contextos 77
Verticalidade
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BERTHERAT, Thérèse; BERNSTEIN, Carol. O corpo tem suas razões:
antiginástica e consciência de si. São Paulo: Martins Fontes, 1977.
Contextualização
1 Nascida em Lisboa, Ana Isabel Pereira é doutora em Ciências Musicais, na especialidade de Ensino e
Psicologia da Música, pela Universidade NOVA de Lisboa. É investigadora integrada do Centro de Estudos de
Sociologia e Estética Musical (CESEM) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da mesma universidade
(NOVA FCSH). Concluiu o Mestrado em Ensino de Música no Ensino Básico na NOVA FCSH. É Professora
Adjunta Convidada na Escola Superior de Educação de Lisboa (Instituto Politécnico de Lisboa) desde 2015,
e na NOVA FCSH desde 2020. Na sua tese de doutoramento investigou a influência de se cantar com sílaba
neutra ou texto na performance vocal de canções, no uso da voz cantada e no reconhecimento auditivo de
crianças entre os 4 e 9 anos de idade. Os seus principais interesses de investigação incluem o estudo da
aprendizagem e desenvolvimento musical e a avaliação do desempenho vocal em crianças.
82
Por outro lado, a opção de solicitar o eco dos padrões com texto (pala-
vras) e com sílaba neutra foi também tomada com base na literatura. Conforme
será discutido mais à frente, os estudos dedicados a investigar se as crianças
cantam melhor com sílaba neutra (isto é, se cantam melhor uma melodia
apresentada com uma sílaba neutra) ou com texto (com palavras) revelaram
resultados inconsistentes: melhor com sílaba neutra (GOETZE, 1985); ligei-
ramente melhores com sílaba neutra (LEVINOWITZ, 1989); sem diferenças
significativas, mas melhor com sílaba neutra (SMALE, 1987); sem diferenças
significativas, mas pontuações ligeiramente mais altas com texto (RUTKO-
WSKI, 1993); pontuações significativamente mais altas com texto para os 4
anos por comparação com 5 anos de idade (JACOBI-KARNA, 1996); e sem
diferenças significativas (LANGE, 1999). Contudo, a comparação entre estes
estudos é limitada, uma vez que foram utilizados procedimentos diferentes.
Tendo em conta estes resultados antecedentes e o fato da maioria dos
estudos utilizar canções e não padrões, durante um dos processos de revisão
da SVDM, Rutkowski (1999) procurou ter em consideração a influência do
texto e sílaba neutra na performance vocal de padrões. A investigadora não
encontrou diferenças significativas entre os modos de resposta (texto/sílaba
neutra) para crianças com 5 e 6 anos de idade. Não obstante, observou dife-
renças individuais em favor do uso da sílaba neutra, sugerindo que “algumas
crianças cantam melhor quando não lhes é pedido que cantem palavras, talvez
porque as palavras cantadas estão demasiado relacionadas com os seus padrões
de fala, enquanto outras não consideram as palavras cantadas um problema”
(RUTKOWSKI, 1999, p. 208, tradução livre). Assim, a versão atual da SVDM
inclui ambos os modos (texto/sílaba neutra) na forma de administrar o ins-
trumento. Este detalhe revelou-se pertinente já que Rutkowski (2015) numa
recente reanálise dos dados de Rutkowski e Miller (2003b) com crianças de
6 anos e de Rutkowski (2014), com crianças de 5 anos, mostrou efeitos prin-
cipais significativos para o modo de resposta a favor da sílaba neutra, tanto
para o uso da voz cantada como para a afinação. No que respeita à afinação,
este resultado foi corroborado em Pereira e Rodrigues (2019) com crianças
portuguesas dos 4 aos 9 anos de idade, embora o mesmo não se tenha veri-
ficado para o uso da voz cantada. Esta diferença entre resultados, e apesar
de terem sido aplicados os mesmos procedimentos, pode ser explicada pela
familiaridade dos participantes portugueses com o canto de canções e padrões
com sílaba neutra e com texto nas suas atividades de sala de aula (PEREIRA;
RODRIGUES, 2019). No entanto, é de sublinhar o resultado comum no que
diz respeito à influência do canto com sílaba neutra na afinação.
86
entre ré4 e lá4 (acima do dó central). Numa sessão ensinou ambas as canções
com texto e de seguida ambas com a sílaba neutra “loo”. A recolha de dados
teve lugar imediatamente após essa sessão. Uma das canções foi utilizada para
avaliação individual e a outra para avaliação em grupo. As respostas foram
medidas utilizando um aparelho Visi-Pitch, que dispõe de um gráfico visual com
os sons medidos em Hertz. Os resultados revelaram que as crianças cantavam
mais afinadas com sílaba neutra, e que as maiores diferenças se verificaram nas
crianças mais novas a favor do texto. Além disso, os alunos do jardim-de-in-
fância e do 1º ano cantaram mais afinados individualmente do que em grupo.
Foram apontadas algumas limitações a este estudo: as canções foram gravadas
no mesmo dia em que foram ensinadas, pelo que pode não ter havido tempo
suficiente para aprender o texto, donde resultou melhor afinação com sílaba
neutra; e a não existência de um centro tonal, uma vez que ambas as canções
eram pentatónicas (LANGE, 1999). De fato, a investigadora poderia ter consi-
derado: (i) ensinar as canções de uma forma contrabalançada (uma das canções
primeiro com texto e a outra com uma sílaba neutra, e depois vice-versa); (ii)
ensinar as canções ao longo de algumas sessões para maior familiarização; e
(iii) escolher as canções em tonalidade maior ou menor em vez de pentatónica,
uma vez que se aproxima mais da cultura musical dos participantes.
Com 106 participantes de 4 e 5 anos de idade, Smale (1987) utilizou
uma canção com as mesmas características que a do estudo de Goetze (1985),
embora apresentando uma tessitura mais reduzida (ré4 – sol4). O objetivo do
estudo era também determinar se as crianças cantavam melhor com texto ou
com sílaba neutra e, para além disso, se cantavam melhor a solo ou em unís-
sono com um modelo vocal. A cada criança foi pedido que executasse quatro
tarefas vocais: (i) cantar a primeira frase da canção com texto como eco ao
investigador; (ii) cantar a primeira frase da canção com texto em uníssono com
o investigador; (iii) cantar a primeira frase da canção com uma sílaba neutra
como eco ao investigador; (iv) cantar a primeira frase da canção com uma
sílaba neutra em uníssono com o investigador. Os resultados não revelaram
diferenças significativas na afinação entre o uso de texto e sílaba neutra, embora
se tenha verificado uma tendência para cantar mais afinado usando uma sílaba
neutra. Os resultados revelaram ainda que as crianças cantavam mais afinadas
a solo do que em simultâneo com um modelo vocal. Neste estudo aplicam-se
as mesmas limitações apontadas ao estudo de Goetze (1985).
O estudo de Levinowitz (1989) também envolveu crianças com 4 e 5
anos de idade, num total de trinta e cinco, e procurou investigar se as crian-
ças cantavam melhor uma canção apresentada com texto e outra com sílaba
neutra, e se existiria uma relação entre o desempenho vocal da canção e o
desenvolvimento da linguagem (medido através do Teste de Vocabulário da
Imagem de Peabody). A investigadora questionava-se se as crianças com
CANTO COLETIVO EM EXTENSÃO:
novos olhares para o Trabalho Vocal em diferentes contextos 89
Em jeito de conclusão
Não é correto etiquetar uma criança como sendo má cantora quando esta
demonstra dificuldade em cantar afinado. Na ausência de uma deficiência
física, todas as crianças nascem com a possibilidade de usar a voz cantada
de forma adequada (GORDON, 2012). Assim sendo, os professores e edu-
cadores devem nutrir as competências vocais das crianças desde tenra idade,
providenciando inúmeras oportunidades para o canto e procurando incessan-
temente estratégias eficazes de as ajudar a superar as fragilidades no uso da
voz cantada. Tal como sublinha Hedden (2012), em última análise, o ônus
da afinação pertence ao professor e cabe-lhe a tarefa de pesar os fatores que
podem afetar a performance vocal e a capacidade de afinação. Um desses
fatores, conforme detalhado ao longo deste texto, é o uso de sílaba neutra e
de texto. Paralelamente, deve-se dar prioridade a técnicas que permitam a
expansão dos registros vocais, e só depois atender às questões de afinação.
Tanto Rutkowski (2015) como Pereira e Rodrigues (2019) demonstraram que
as crianças cantam mais sons afinados quando estes pertencem aos registros
usáveis e que, grosso modo, quando conseguem aceder a mais registros o
número de sons afinados também aumenta. Por outro lado, estes estudos
também revelaram que a afinação é beneficiada quando as crianças cantam
padrões com sílaba neutra. Assim sendo, os professores e educadores devem
sentir-se encorajados a incluir atividades que ofereçam essa oportunidade
na prática vocal. No que respeita a canções, a investigação tem mostrado
que as crianças mais novas se beneficiam da aprendizagem de canções com
texto, embora existam evidências de que aprender canções com sílaba neutra
também pode beneficiar a afinação, especialmente em crianças mais velhas.
Deve também existir oportunidade para avaliar as competências vocais
das crianças de forma consistente e regular. Na prática vocal coletiva pode-
rão ser criadas oportunidades para as crianças cantarem pequenas frases ou
padrões melódicos pertencentes ao repertório que estão a trabalhar, tanto a
solo como em pequenos grupos. Para tal, podem ser empregadas estratégias
lúdicas que envolvam as crianças na tarefa sem sentir que estão sob escrutí-
nio. Em função de cada performance, o professor ou educador poderá intervir
construtivamente e usar técnicas adequadas para correção ou melhoria do
resultado, se necessário. No início do ano, como base de trabalho, poderá ser
usado um instrumento como a SVDM (Singing Voice Development Measure)
de Rutkowski (2015), que possibilitará tirar uma “fotografia” do desenvolvi-
mento vocal de cada criança. Embora seja um processo moroso, poderá ser
muito útil para ir ao encontro das necessidades individuais e, eventualmente,
determinar o uso de algumas estratégias em detrimento de outras para ajudar
as crianças a evoluir vocalmente.
92
REFERÊNCIAS
DEMOREST, Steven. M.; NICHOLS, Brian; PFORDRESHER, Peter Q. The
effects of focused instruction on young children’s singing accuracy. Psycho-
logy of Music, v. 46, n. 4, p. 488-499, 2018.
GORDON, Edwin E. A music leaning theory for newborn and young chil-
dren. 3. ed. Chicago: GIA Publications, 2003.
LANGE, Diane M. The effect of the use of text in music instruction on the
tonal aptitude, tonal accuracy, and tonal understanding of kindergarten
students. 1999. 194 f. Dissertação (Doutorado em Filosofia/Educação Musi-
cal) – Escola de Música da Michigan State University, East Lansing, 1999.
PEREIRA, Ana Isabel. The influence of singing with text and a neutral
syllable on Portuguese children’s vocal performance, song recognition,
and use of singing voice. 2019. Dissertação (Doutorado em Ciências Musi-
cais) – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de
Lisboa, Lisboa, 2019.
RUTKOWSKI, Joanne. The use of words versus a neutral syllable for evalua-
ting children’s use of singing voice. In: EASTERN REGIONAL MEETING
OF THE MUSIC EDUCATORS’/NATIONAL CONFERENCE, 1993, Sprin-
gfield, MA. Anais... 1993. Springfield, MA: [s. n.], 1993.
WELCH, Graham F.; SERGEANT, Desmond C.; WHITE, Peta J. Age, sex,
and vocal task as factors in singing “in tune” during the first years of schoo-
ling. Bulletin for the Council of Research in Music Education, v. 133,
p. 153-160, 1997.
WELCH, Graham F.; SERGEANT, Desmond C.; WHITE, Peta J. The singing
competences of five-year-old developing singers. Bulletin of the Council for
Research in Music Education, v. 127, p. 155-162, 1995-1996.
ARRANJOS CRIATIVOS PARA O
TRABALHO VOCAL COLETIVO:
um relato de experiência
Thiago Rodrigues1
Contextualização
1 Bacharel em Regência pela Universidade do Sagrado Coração (2005). Especialista em Educação Musical
pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar (2018) e em Musicalização Infantil pela Faculdade de
Tecnologia de Palmas. Técnico em Regência Coral pelo Conservatório de Tatuí (2015). Atualmente é regente
do coral da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos de Bauru/SP e professor de música do Instituto das
Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus – Colégio São Francisco de Assis, Bauru/SP.
98
Por que não perguntar a elas o que sabem sobre o seu próprio modo de vida?
Por que não dialogar com e entre elas sobre o que vivem e o que desejam,
antes de investiga-las ou de realizar ‘experimentos’ sobre elas? Por que se
reúnem para fazer música juntos? O que esperam aprender? O que tocam?
O que querem tocar? O que ensinam? O que aprendem? Como ensinam e
aprendem? (BRANDÃO, s. d. apud DUTRA; JOLY, 2016, p. 63).
Construindo os arranjos
Para a elaboração dos arranjos um dos aspectos principais que procuro
pensar é em uma escrita simples, prática e funcional. A proposta é que os
coralistas e o público ouçam o arranjo e se conectem com ele. Em se tratando
de coro infantil, destaco também que antes de iniciar a escrita dos arranjos
é importante que o regente ou arranjador faça uma leitura prévia da letra da
música, a fim de verificar se os textos são apropriados ao público infantil.
Outro aspecto relevante: extensão e tessitura vocal da criança (pensar na nota
mais grave e na nota mais aguda do arranjo). Destaco ainda que a escolha da
música a ser arranjada deve ser voltada para o tipo de grupo que se conduz.
Neste contexto, reforço que a opinião das crianças envolvidas é fundamental no
processo, bem como pensar em um arranjo que, vocalmente, seja possível de
ser executado pelo grupo. Qual é a região vocal mais confortável para as crian-
ças cantarem? O arranjo está ajustado às características vocais das crianças?
As características sociais também são relevantes nesse cenário. Pergun-
ta-se: Qual a realidade social dos componentes do grupo? Como eles vivem?
Que tipo de repertório é mais conhecido e ouvido neste contexto? São aspectos
importantes a se considerar.
100
Praticando
variedade rítmica para que a voz estacionária não perca a continuidade meló-
dica e a independência em relação à outra” (TRAGTENBERG, 1994, p. 27).
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BARTLE, Jean Ashworth. Sound Advice: becoming a better children’s choir
conductor. New York: Oxford University Press, 2003.
Contextualização
1 Professor associado do Departamento de Música da Universidade Federal de Ouro Preto, atuando como
professor e pesquisador nas seguintes áreas: Performance Musical; Percepção Musical, Canto Coral,
Educação Musical e Musicologia. Possui doutorado em História (2013) pela Universidade Federal de
Minas Gerais; é mestre em Música (2001) pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro; tem
Especialização em Lazer (1994) e título de Bacharel em Música, com ênfase em Regência, (1985) pela
Universidade Federal de Minas Gerais. É professor colaborador do Programa de Pós-graduação em Música
da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).
108
2 Historiadores da música dão destaque a essa maneira de dirigir o conjunto, situação que, inclusive, tem
sido retratada em filmes. Na internet há exemplos de representação dessa maneira de dirigir de Lully.
Sugerimos, na área de busca da internet, procurar por Marche pour la cérémonie des Turcs, de Lully, e
apreciar vídeos disponíveis.
110
3 Lully adotou esse nome ao se mudar para a França. Seu nome de batismo era Giovanni Battista Lulli.
4 Como exemplo, sugerimos dois espetáculos: a) A Orquestra Juvenil da Bahia (Neojiba) apresenta Tico-Tico
no fubá, composição de Zequinha de Abreu com arranjo do tubista e compositor Jamberê Cerqueira, durante
o concerto de encerramento da Turnê Europa 2018, na Philharmonie de Paria no dia 17/set./2018. Neste
espetáculo a orquestra se apresenta sem o regente no pódio. Ele, a bem da verdade, é o pianista Ricardo
Castro que participa do concerto tocando o seu instrumento, o piano (Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=SFRR3wdmDqE).
b) Os grupos Ponto de Partida (de Barbacena/MG) e os Meninos de Araçuaí (Araçuaí/MG) exibem o musical
Prá Nhá Terra, gravado em 2007 e que esteve em turnê pelo Brasil desde aquele ano. No espetáculo o coro
canta e encena sem a presença do regente à sua frente, a dirigi-lo (Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=pAYmpl-K7dA).
CANTO COLETIVO EM EXTENSÃO:
novos olhares para o Trabalho Vocal em diferentes contextos 111
importante que o concerto. Nem por isso suas atividades deixam de ser
relevantes. Somente em casos especiais, em virtude de uma urgência, de
imprevistos que impedem o trabalho dos regentes titulares nos concertos,
eles os substituem nas apresentações musicais.
No coral, se põem estrategicamente dento do grupo para, discretamente,
atuarem como integrantes de um dos naipes e realizarem movimentos que
orientam os demais durante a performance. Isso repete a prática antiga de
pequenos grupos de câmara, os madrigais como são chamados, sendo bastante
comum. Portanto, as maneiras encontradas de reger grupos são muitas. Não
se resumem, como exposto acima, àquelas em que os regentes se mostram e
são facilmente vistos devido à maneira como se postam no palco para suas
exibições junto a grupos musicais.
Os regentes atuais são o resultado de maneiras de atuar que se defini-
ram durante o século XIX. Foi neste século que se notou o crescimento das
orquestras, bandas de música e corais. Foi neste século também que nasceu de
forma definitiva o regente moderno. De acordo com o maestro e compositor
norte-americano Leomard Bernstein (1918-1990):
coros. No entanto, notamos que o mesmo não ocorre quando se põem a dirigir
orquestras ou bandas de música. E a recíproca é verdadeira: nem todos que
se distinguem na regência de grupos instrumentais obtém o mesmo resultado
na condução de coros. E isso independe da organização desses conjuntos, se
são profissionais, semiprofissionais ou amadores.
Muitas competências são esperadas de regentes que pretendem trabalhar
com corais para que possam exercer com segurança seus trabalhos e desenvol-
ver uma liderança eficiente. Eles devem ter conhecimento musical profundo
e cultura geral sólida. Devem aperfeiçoar suas habilidades físicas com vistas
ao bom padrão de gestual e comunicação eficaz destinada à correção de faltas,
motivação, exemplificação e equilíbrio da sonoridade. É preciso lembrar que “a
sonoridade de um coro depende muito do tipo de gestual utilizado pelo regente”
(FIGUEIREDO, 2006, p. 12). Enquanto intérprete, recriar as intenções do com-
positor, entender de estilos e períodos históricos além do seu estilo próprio
(MATHIAS, 1986). Finalmente, o regente moderno deve adquirir habilidade
suficiente para lidar com as novas tecnologias em benefício da administração,
da comunicação social e da otimização de trabalhos cotidianos dos corais.
Para Hilary Apfelstadt, professora emérita de estudos corais na Uni-
versidade de Toronto, “líderes eficientes são capazes de obter a cooperação
de outras pessoas e aproveitar os recursos resultantes dessa cooperação para
a realização de um objetivo” (APFELSTADT, 2001). Mathias enxerga na
influência social uma das prerrogativas de um líder para trabalhos em grupo.
De acordo com ele, “o maestro, líder, é aquele que faz com que as pessoas
cresçam, aquele que valoriza o esforço de cada elemento através de interre-
lações pessoais, buscando uma unidade dentro do grupo” (MATHIAS, 1986,
p. 18). Mas, o que faz um líder? O maestro Nelson Mathias diz que:
O líder deve assumir o controle; o líder deve desenvolver uma estrutura psico-
lógica para se estabelecer o ambiente apropriado para um trabalho em comum;
o líder deve ser capaz de promover desenvolvimento de habilidades musicais
adequadas nos participantes; o líder deve ser capaz de gerar satisfação com-
partilhada (ROBINSON, s. d. apud APFELSTADT, 2001, n. p.).
114
Requer um direcionamento do estudo por parte do líder para que esta não seja
apenas mais uma disciplina dentro do curriculum geral básico de formação,
mas que seja algo diferenciador nesse processo de estruturação da persona-
lidade, de formação do caráter, do despertar da sensibilidade e do raciocínio,
de desenvolvimento do senso humanístico (SCHIMITI, 2003, n. p.).
Considerações finais
5 Madrigal Renascentista (Belo Horizonte) sob direção de Isaac Karabstcheky e o Coral de Ouro Preto (Ouro
Preto/MG) sob direção de Uburajara Quaranta Cabral fazem parte desta lista. Ambos deram atenção para
a música renascentista. O Madrigal Renascentista tornou-se a partir dos anos setenta um dos principais
intérpretes de música contemporânea. Ao Coral de Ouro Preto coube dar atenção especial a repertório de
música popular brasileira, principalmente a bossa nova, algo inédito e precursor de novas abordagens em
repertório coral na época.
CANTO COLETIVO EM EXTENSÃO:
novos olhares para o Trabalho Vocal em diferentes contextos 117
Aquela década foi, sem dúvida, uma das mais ricas para o movimento coral
brasileiro. Regentes entenderam ser necessário formar parceria com outros pro-
fissionais (diretores de teatro, coreógrafos, professores de técnica vocal e canto,
cenógrafos e técnicos em iluminação de palco, operadores de vídeo) para dar
conta das demandas surgidas. Perceberam todos não ser aconselhável trabalhar
sozinhos. As parcerias fomentam diálogos, trocas de ideias e de compromissos.
E a importância da regência na prática vocal coletiva se evidencia.
6 Tornaram-se referência nessa época, segundo o maestro Carlos Alberto Pinto Fonseca, os trabalhos
desenvolvidos por Samuel Kerr (Coral Paulistano e Coral da Unesp) e Thelma Chan, em São Paulo, capital,
com o Grupo Cantolivre, além de Marcos Leite no Rio de Janeiro, com o Cobra Coral e posteriormente o
Garganta Profunda.
118
REFERÊNCIAS
APFELSTADT, Hilary. Aplicando modelos de liderança no treinamento de
regentes corais. In: CONVENÇÃO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRA-
SILEIRA DE REGENTES DE COROS, 1., 2001, Brasília, DF. Anais... Bra-
sília-DF: Associação Brasileira de Regentes de Coros, 2001.
BEHLAU, Mara; REDDER, Maria Inês. O regente de coral e sua voz. Infor-
mativo Aparc., n. 5, ago. 2001.
Contextualização
A atividade coral como agente de transformação sociocultural foi tema
de minha tese de doutorado, defendida em 2007 no Instituto de Psicologia
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CHEVITARESE, 2007). Nesse
estudo, tendo como referenciais o sociólogo francês Joffre Dumazedier (1915-
2002), que defende a importância do lazer na formação do indivíduo, e o
educador brasileiro Paulo Freire (1921-1997), que introduz uma nova rela-
ção, baseada no diálogo, na descentralização do poder, na educação para
a liberdade e autonomia, no desenvolvimento do pensamento crítico, e na
conscientização do indivíduo como sujeito histórico, busquei conhecer quais
transformações socioculturais ocorreram no Coral Infantil Meninos de Luz,
sob minha direção de 2001 a 2007, com crianças entre 8 e 16 anos de idade,
na Comunidade Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, situada entre os bairros de
Copacabana e Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro.
Para Joffre Dumazedier:
1 Graduada em Regência pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, mestre em Música Brasileira pela
Universidade do Rio de Janeiro – UNIRIO e doutora em Psicossociologia de Comunidades pela UFRJ. Criou e dirige
os coros Infantil da UFRJ (1989) e Brasil Ensemble-UFRJ (1999), que vêm desenvolvendo um trabalho artístico
reconhecido no meio musical. Criou o projeto “A escola vai à ópera”, voltado para o público infantil, tendo produzido
dez óperas infantis, assistidas por mais de 20.000 crianças. Na área administrativa atuou como Vice decana e
Decana do Centro de Letras e Artes, Pró-reitora de Extensão, Diretora Artística da Escola de Música, Diretora
de Cultura Esporte e Lazer da Pró-reitoria de Extensão e Diretora da Escola de Música da UFRJ. Atualmente
coordena as ações de canto coral do projeto “Um Novo Olhar”, parceria entre a UFRJ e a FUNARTE.
122
Os cantores
A dinâmica de ensaios
Realizamos dois ensaios por semana, com duração de duas horas cada
um, perfazendo um total de 4 horas de ensaio, de março a dezembro. Os
ensaios jamais são cancelados porque considero importante manter a rotina
de trabalho e para que as crianças saibam que, com toda certeza, estarei lá
esperando por elas. Normalmente chego à minha sala uma hora antes do ensaio
começar, arrumo as cadeiras na forma que desejo trabalhar para que, quando
as crianças entram na sala encontrem um ambiente limpo, organizado e agra-
dável para recebê-las. Isso me ajuda a ter uma rotina e a alcançar qualidade
e equilíbrio no ensaio, porque ao entrarem naquele ambiente, as crianças se
sentem acolhidas e seguras. Bartle (2003) chama a atenção para a importância
de uma sala bem arrumada para termos um ambiente mais propício para o
ensaio. Planejo meus ensaios de forma que nunca precise de ensaios extras e
que todas as obras estejam prontas pelo menos uma semana antes do concerto.
A semana do concerto é reservada para os ajustes finais e para exercitar o
canto de todo o repertório do concerto, de modo que o cantor crie resistência
física e mantenha o interesse durante a execução de todas as obras.
A técnica vocal tem lugar de destaque em meu ensaio, sendo a base do traba-
lho desenvolvido. Ela precisa estar presente durante todo tempo em que cantamos,
desde o aquecimento vocal, passando pelo ensaio do repertório, quando a técnica
é aplicada e fixada, até a realização de nossos concertos (RHEINBOLDT, 2018).
Ninguém poderia imaginar uma orquestra onde os instrumentistas não sabem
CANTO COLETIVO EM EXTENSÃO:
novos olhares para o Trabalho Vocal em diferentes contextos 125
tocar seu instrumento. No coro, o instrumento é a voz e ela precisa ser trabalhada
a cada instante. Além disto, costumo chegar uma hora antes do ensaio também
para trabalhar técnica vocal com as crianças que desejam se aprimorar. Como
são muitas crianças interessadas, divido em dois grupos: às terças-feiras atendo
as crianças de vozes mais agudas e às quintas-feiras as de vozes mais graves.
Não existe um só ensaio em que a técnica vocal não esteja presente.
Sempre inicio com alongamentos, passando por exercícios de respiração e de
controle de saída de ar, exercícios em glissando e vocalises. Gosto também de
criar vocalises que possam preparar o cantor para alguma dificuldade espe-
cífica do repertório. A seguir entramos propriamente no estudo do repertório
coral. Durante todo o estudo, a técnica vocal é aplicada ao repertório, de modo
que o cantor compreenda a importância da técnica para a sonoridade do coro.
Aos poucos a criança começa a perceber a diferença na sua voz quando ela
faz uso da técnica e a partir dessa percepção ela mesmo passa a exigir que
façamos exercícios vocais para que sua voz soe com mais facilidade. É preciso
pensar em uma técnica vocal que seja ao mesmo tempo prazerosa e eficiente
para que tenhamos um bom resultado. A partir do momento em que a criança
percebe que consegue cantar com mais facilidade e que sua voz está soando
mais bonita, ela mesmo passa a se interessar e a exigir que dediquemos mais
tempo às aulas de técnica vocal. A partir daí é a criança que exige que eu tra-
balhe mais e mais a sua voz. Não porque eu estou impondo, mas porque ela
percebeu que o trabalho vocal faz bem à sua voz. E isso faz toda diferença!
Atualmente tenho uma auxiliar, ex-aluna, que auxilia nos ensaios, como
voluntária. Essa ajuda tem sido muito valiosa porque, como lido com um grupo
muito grande e heterogêneo, quando uma ou um grupo de crianças apresentam
alguma dificuldade, posso separar esse grupo de maneira que minha auxiliar
faça um trabalho focado, com o objetivo de resolver esse problema. Nesse
caso ela trabalha durante 20 ou 30 minutos com esses cantores, reforçando o
aprendizado, e depois juntamos todas as crianças novamente.
Assim como Bartle (2003) e Leck (2020), considero importante o uso de
partituras pelas crianças. Todas os cantores recebem a partitura da obra que
será estudada e são orientadas a segui-la enquanto trabalhamos a peça, mesmo
que ela ainda não saiba solfejar. Aos poucos a criança percebe que a linha
melódica representada na partitura segue o mesmo movimento da melodia, e
com isso, aprende mais rapidamente. Sempre adoto os termos técnicos musi-
cais em todas as instruções dadas às crianças. Assim é comum dar instruções
como: vamos começar do compasso 5, ou vamos pegar da casa 2, ou vamos
fazer do terceiro sistema, do segundo compasso, ou agora vamos cantar o
tema dessa obra, ou vamos fazer da capo, ou vamos fazer da modulação, e
assim por diante. Esse procedimento tem feito com que as crianças lidem
com a partitura com desenvoltura e aprendam as músicas mais rapidamente.
126
O repertório coral
um em seu estado preparou a obra e fizemos um coro virtual que ficou muito
interessante e que se encontra no YouTube. Esse coro virtual teve sua estreia
na mostra de coros realizada no I Congresso Internacional de Música Coral
Infantojuvenil. Fizemos ainda duas obras para o Natal interpretadas pelo
Coral Infantil da UFRJ e o coral Brasil Ensemble-UFRJ formado por alunos
de canto da UFRJ e ex-cantores do coral infantil. A primeira foi “Alguém no
Céu”, de Danilo Caymmi, com arranjo de Fábio Adour; e a segunda, “Jingle
Bell Rock”, de Joe Beal & Jim Boothe, com arranjo de Alexandre Brasolim
e adaptação minha, para incluir o coral infantil.
O ensaio de cada grupo foi feito separadamente e os cantores ouvidos
um a um. Em seguida passamos ao processo de gravação, quando os cantores
gravaram sua linha melódica, ouvindo uma guia, para que todos a realizassem
com a mesma precisão rítmica e melódica. Os cantores enviaram, através do
classroom, as gravações feitas, que foram editadas, e o produto final reenviado
aos cantores, a fim de que gravassem os vídeos. Os vídeos foram feitos com
celular e encaminhados para edição e finalização.
Apesar de todas as dificuldades de adaptação à nova sistemática de
ensaios, tivemos resultados muito positivos em relação ao amadurecimento
dos cantores. Optamos por fazer ensaios mais curtos, com dez a quinze crian-
ças no máximo por vez, de maneira que as crianças não ficassem muito tempo
paradas, até chegar sua vez de cantar. Em alguns momentos juntávamos o
grupo todo, para que os vínculos não se perdessem. Em um primeiro momento
algumas crianças sentiram-se menos confiantes para cantar sozinhas, mas
aos poucos isso foi se transformando e ao final do primeiro ano, já podíamos
perceber as crianças com mais autoconfiança, cantando com segurança, com
melhor afinação e participando ativamente das aulas virtuais.
Em setembro de 2021 retornamos aos ensaios presenciais e participamos
da gravação e estreia da ópera “BEM no meio”, com libreto de Karen Acioly
e música do compositor francês Camille Rocailleux, e de dois concertos de
Natal, sendo um com orquestra, na Sala Cecilia Meireles, e outro no Centro
Cultural do Banco do Brasil, RJ.
Pergunta 1:
O que você sente antes, durante e depois do concerto?
Resposta: Olha só... Toda pessoa fica nervosa um pouquinho antes de
entrar, entendeu? Mas, tipo assim, se a gente ficar tão nervosa na hora da
apresentação a gente não vai conseguir cantar direito. Então eu fico nervosa
um pouco, mas depois eu respiro assim, olhando para aquele palco, para
aquelas pessoas maravilhosas que tão olhando, aplaudindo... Aí já vai aca-
bando o nervosismo, já vai começando a ficar melhor...
Aí canto direito, entendeu?
Pergunta 2:
O que você diria a um amigo para convencê-lo a vir cantar no coral?
Resposta 1: Que é uma coisa muito legal porque você trabalha a sua voz
e você descobre que tem o dom de cantar, acaba descobrindo.
Resposta 2: Ah... Eu falo que é muito bom, que tem apresentações em
muitos outros lugares que eles ainda não foram, tipo assim, a maioria dos
meus amigos nunca foram ao Theatro Municipal, a Sala Cecília Meireles...
é muito bom.
Considerações finais
Para finalizar gostaria de trazer um depoimento. Quando as crianças
do coral infantil vão crescendo, algumas delas se interessam em ir para a
faculdade. Muitos desses cantores são as primeiras pessoas de sua família
a entrar para uma universidade. Como elas já fazem parte da universidade
CANTO COLETIVO EM EXTENSÃO:
novos olhares para o Trabalho Vocal em diferentes contextos 133
REFERÊNCIAS
BARTLE, Jean Ashworth. Sound Advice: becoming a better children’s choir
conductor. Canadá: Oxford University Press, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 41. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005.
Contextualização
que algo novo está prestes a ocorrer. Então, quando, afinal, emite seus sons,
estes não serão mais, necessariamente, uma resposta ao que tinha ouvido
anteriormente, mas pode ser uma nova propositura, à qual o bebê parece
esperar a reação de quem com ele dialoga.
Essa simples observação tem muito a nos ensinar, pois mostra que as
respostas ou provocações não são casuais ou aleatórias, mas têm um propósito,
semelhante ao jogo, que poderá ser de imitação, ou de proposição de novos
sons. Essa constatação reforça a afirmação de que o jogo é uma capacidade
inata e a maneira mais espontânea de aprendizado.
Durante muito tempo, se acreditou que a música surgisse depois da lingua-
gem. No entanto, hoje se defende que não existe essa divisão entre linguagem
verbal e musical. Veja-se o que dizem os três psicólogos citados anteriormente:
para a ideia de Arte como entretenimento. Com isso, tornou-se comum enten-
der a música como diversão. Embora ela possa, muitas vezes, ser considerada
passatempo, o objetivo de uma aula de música não é entreter os alunos.
Em 1993, foi aprovada uma nova Lei de Diretrizes e Bases, nº 9.394/96,
ainda vigente, que restituiu à música e às outras artes o papel de disciplina curri-
cular. No entanto, elas continuaram a ser colocadas num horário único na grade
curricular, preservando – embora sem assim o denominar –, o caráter polivalente
que existia desde 1971. Nos últimos anos, várias Leis foram publicadas com
o objetivo de garantir a presença da música na escola, mas isso não significa
que ela tenha, afinal, reconquistado seu espaço. As propostas de ordenação dos
conteúdos disciplinares foram feitas pela BNCC – a Base Nacional Comum
Curricular – aprovada em 2018, com o propósito de ordenar o currículo de todos
os níveis da educação básica. Nesse documento, as linguagens artísticas foram
contempladas, o que representa, sem dúvida, um avanço, mas seus resultados
ainda terão de esperar algum tempo para se confirmarem.
Durante os anos em que a música ficou à margem no currículo esco-
lar da educação básica, sua função foi sendo esquecida. Embora existam
escolas que valorizem essa arte e a tornem presente na sala de aula, ainda
é comum se encontrar outras, que a consideram útil para descansar a mente
e relaxar.
No entanto, essa linguagem precisa ser compreendida como forma de
conhecimento e como arte. No primeiro item, reúne uma série de técnicas
que ajudam o estudante a se aproximar da música, tocando e/ou cantando,
o que demanda rotinas e repetições, tanto quanto inovação e criatividade.
Nenhuma forma de conhecimento pode vingar, se omitir de seu contexto o
conhecimento estrutural. Como arte, o papel da música se amplia e ela se
aproxima de aspectos subjetivos, pois a arte canaliza a emoção.
um cantor ou uma cantora adultos. O que eles fazem com a voz, seja no estilo
lírico ou popular, nem sempre é adequado a crianças.
A melhor maneira de se trabalhar o canto com crianças é utilizar a res-
sonância de cabeça. Ressonância de peito requer domínio técnico, ainda não
acessível a ela. Se cantar sons muito graves, sua voz será deturpada e pode ser
prejudicada. A esse respeito, Doreen Rao, renomada regente do Glenn Ellis
Chicago Choir na década de 1980, defende veementemente o uso da voz de
cabeça com crianças e adolescentes:
Os jogos vocais permitem o apuro da escuta e da ação e, por isso, são essen-
ciais em qualquer trabalho de educação musical. Até a segunda metade do século
XX o trabalho de musicalização se amparava no ensino de repertório tradicional,
precisão de escuta e ritmo, movimentos corporais e execução compatível com o
estágio em que o aluno se encontrava. Houve pesquisadores exemplares nesse
campo, como Dalcroze, Willems, Suzuki, Kodály e Orff. É possível ter mais
informações a respeito deles em ampla bibliografia, mas uma síntese dessas
abordagens está em Fonterrada, De tramas e fios (2005, p. 119-178).
A mudança nos modos de encarar o ensino e a aprendizagem de música
se instalou a partir da segunda metade do século XX, quando vários edu-
cadores/compositores começaram a olhar de modo especial para as ativi-
dades de criação e perceberam que a maneira mais bem-sucedida e natural
é trabalhar com jogos. Há muitos tipos de jogos que podem ser desenvol-
vidos nas aulas de música e nos ensaios de coro, como os de escuta, os de
integração entre som e movimento e os jogos vocais criativos, em que a
criança é estimulada a explorar a própria voz e a criar com ela. Há também
outras possibilidades, como os jogos de imitação e a invenção de trechos
musicais pela própria criança. Servem de estímulo as propostas de educa-
dores como John Paynter (1970; 1972; 1992), Murray Schafer (1991; 2010;
2018), George Self (1967), entre outros, que estimulam os estudantes a se
apropriarem do pensamento composicional para criar, individualmente ou
em grupo, as próprias propostas.
Nesta exposição, não destaquei, especialmente, jogos vocais ou corais,
pois penso que todos eles podem ser aplicados à prática coral. São jogos que
desenvolvem, ao mesmo tempo, uma série de habilidades: aperfeiçoamento da
escuta de diversos ambientes, imitação desses sons com materiais disponíveis
CANTO COLETIVO EM EXTENSÃO:
novos olhares para o Trabalho Vocal em diferentes contextos 145
em sala de aula, mas, também, com a própria voz; integração entre som e
movimento, consciência e uso do espaço; práticas criativas.
Quer se trate de atividade desenvolvida em aulas de música ou durante
a prática coral, é interessante que os cantores participem da exploração da
própria voz e consigam fazer proposituras musicais com elas. Esse trabalho
pode ser desenvolvido individualmente e em grupo e é um excelente meio de
apurar a escuta, relacionar-se musicalmente com as outras pessoas do grupo
e criar coletivamente, a partir de improvisações, ou de pequenos trabalhos,
anteriormente planejados. Ao propor atividades como essas para o grupo, as
possibilidades de adquirir fluência no canto, na escuta de si mesmo e do outro
e na capacidade de reação rápida são incentivadas e aperfeiçoadas. Essas
habilidades podem ser mais facilmente obtidas se a proposta da aula – ou do
ensaio – não se limitar a questões técnicas, que podem ser intercaladas com
atividades corporais, jogos diversos e preparo de repertório.
Para concluir
REFERÊNCIAS
BRANDT, Anthony; GEBRIAN, Molly; SLEVEC, L. Robert. Music and
Early Language Acquisition. Frontier in Psychology, v. 11, p. 327-391,
Sep. 2012. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/
fpsyg.2012.00327/full#:~:text=Language%20is%20typically%20
viewed%20as,on%20or%20derivative%20of%20language. Acesso em:
15 mar. 2021.
B
Bioenergética 53, 54, 56, 59, 60, 61, 62, 63
C
Canto 3, 4, 9, 10, 11, 15, 16, 20, 24, 25, 26, 29, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37,
38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 49, 52, 53, 57, 58, 63, 64, 65, 67, 68,
69, 70, 74, 76, 77, 78, 79, 80, 85, 91, 97, 106, 107, 108, 109, 112, 114, 115,
116, 117, 118, 119, 121, 122, 124, 128, 131, 132, 134, 135, 136, 137, 138,
139, 140, 141, 142, 143, 144, 145, 146
Canto coletivo 3, 4, 9, 10, 11, 31, 34, 35, 36, 37, 52, 114, 116, 135, 138, 145
Canto coral 29, 36, 64, 65, 67, 69, 80, 97, 106, 107, 116, 117, 118, 119, 121,
122, 124, 134, 135, 138, 140, 145
Cantor 9, 15, 24, 27, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45,
46, 49, 50, 52, 53, 54, 58, 59, 62, 64, 67, 69, 70, 73, 74, 75, 76, 79, 82, 83,
86, 91, 98, 107, 108, 109, 110, 115, 117, 123, 124, 125, 126, 130, 131, 132,
133, 135, 141, 142, 143, 145
Cinestesia 20
Comunidade 121, 123, 136, 139
Concerto 36, 108, 110, 111, 124, 128, 129, 130, 131, 132
Consciência 18, 20, 21, 22, 24, 25, 37, 40, 43, 44, 49, 54, 55, 57, 58, 60, 62,
68, 70, 74, 75, 77, 78, 79, 80, 84, 122, 126, 137, 144, 145
Coral Infantil da Universidade Federal do Rio de Janeiro 10, 121, 122
Coro 9, 31, 35, 36, 43, 49, 52, 63, 67, 97, 98, 99, 100, 104, 108, 110, 113,
115, 116, 119, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 129, 130, 131, 132, 133, 134,
135, 141, 142, 143, 144
Corpo 4, 9, 10, 15, 16, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 31, 32,
34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 43, 44, 45, 47, 49, 50, 52, 53, 54, 55, 56, 57,
58, 61, 62, 63, 65, 67, 68, 69, 70, 71, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 114, 137
150
D
Desafinação 82, 83
Desenvolvimento vocal 10, 35, 43, 44, 45, 82, 83, 86, 91, 93, 100, 142, 143
Dinâmica de ensaios 124
Direção musical 108
E
Educação musical 9, 11, 35, 43, 45, 49, 53, 64, 82, 92, 93, 95, 97, 105, 106,
107, 116, 135, 139, 140, 144
Educação somática 9, 10, 16, 18, 67, 68, 69, 70, 73, 77, 80
Escolha 10, 75, 77, 78, 98, 99, 126, 140, 143
F
Fala 19, 22, 25, 39, 47, 62, 68, 85, 132, 136
G
Grupo vocal 9, 10, 31, 32, 35, 43, 67, 97, 98, 105, 108, 112, 114, 115, 116
J
Jogos vocais 144
M
Meio ambiente 18, 19, 25, 136, 139
Melodia 10, 58, 59, 60, 81, 82, 85, 86, 87, 89, 90, 97, 100, 102, 105, 125, 144
Método DVP 43, 44, 45
Movimento 18, 20, 21, 22, 25, 26, 29, 31, 34, 37, 38, 39, 41, 43, 44, 45, 46,
54, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 68, 70, 71, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 101, 102, 105,
115, 116, 117, 119, 125, 136, 140, 144, 145
Música 4, 10, 11, 15, 29, 31, 34, 35, 36, 42, 46, 49, 53, 63, 64, 65, 67, 80,
81, 90, 92, 93, 97, 98, 99, 100, 104, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 113, 115,
CANTO COLETIVO EM EXTENSÃO:
novos olhares para o Trabalho Vocal em diferentes contextos 151
116, 118, 119, 121, 122, 126, 127, 128, 129, 130, 131, 134, 135, 136, 137,
138, 139, 140, 141, 142, 143, 144, 145, 146
P
Pedagogia vocal 9, 11, 34, 52, 53
Performance vocal 81, 82, 83, 85, 87, 89, 90, 91, 137
Prática musicorporal 9, 49, 53, 54, 55, 56, 58, 59, 61, 62, 65
Práticas vocais 9, 10, 67, 135
Práticas vocais coletivas 9, 10, 67
Prática vocal 9, 10, 15, 81, 82, 86, 87, 89, 90, 91, 100, 117, 121, 138
Prática vocal coletiva 9, 10, 15, 81, 82, 87, 91, 100, 117, 121
Preparação vocal 31, 35, 36, 49, 52, 64, 65, 67, 68, 70, 71, 72, 73, 74, 79, 80
Preparadores vocais 31, 32, 33, 35, 38, 49, 52, 53, 58, 62, 68
Professores de canto 24, 33, 35, 38, 41
R
Regente 10, 31, 35, 36, 37, 43, 67, 97, 98, 99, 100, 105, 106, 107, 108, 109,
110, 111, 112, 113, 114, 116, 118, 123, 126, 127, 137, 140, 141, 142, 143, 144
Relação corpo-voz 9, 10
Repertório 10, 36, 42, 45, 53, 58, 63, 68, 70, 71, 72, 75, 79, 81, 89, 91, 97,
98, 99, 100, 110, 112, 115, 116, 122, 124, 125, 126, 127, 130, 134, 142, 143,
144, 145
S
Sala de aula 81, 85, 123, 138, 140, 145
Ser humano 37, 56, 69, 135, 136, 138, 139, 140
Sílaba neutra 10, 81, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91
T
Tai Chi Chuan 53, 54, 57, 60, 61
Técnica Alexander 9, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 25, 26, 27, 29, 53,
54, 55, 59, 62, 64
Técnica vocal 15, 33, 34, 35, 36, 41, 44, 45, 46, 53, 61, 63, 67, 68, 69, 71,
72, 73, 116, 117, 124, 125
Texto e sílaba neutra 85, 86, 87, 88, 89, 90
Trabalho corporal 9, 15, 68
152
V
Verticalidade 72, 77, 78, 79
Voz cantada 10, 23, 25, 34, 35, 37, 43, 68, 81, 83, 84, 85, 86, 91, 93, 106,
114, 135, 139, 140, 141, 142
SOBRE O LIVRO
Tiragem: 1000
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm
Tipologia: Times New Roman 10,5/11,5/13/16/18
Arial 8/8,5
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal Supremo 250 g (capa)