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Quão bom é o limite máximo da força de retenção de queda de 8kN (EUA

e Canadá) para sistemas de retenção de queda de altura?

Andrew Sulowski
Sulowski Fall Protection Inc. - 2006

Este artigo foi apresentado pelo autor no Simpósio Internacional de


Proteção de Queda – IFPS’06 – EUA - Seattle, WA em 14 e15 de junho de
2006.

Abreviaturas utilizadas no artigo:

• OSHA - Administração de segurança ocupacional e da saúde,


departamento dos EUA
• OHSAct - Ato de saúde ocupacional e de segurança, província de
Ontário, Canadá
• O.Reg. - Regulamento de Ontário
• G - Aceleração gravitacional
• ANSI - American National Normas Institute
• CSA - Associação canadense dos padrões
• CEN - Comitê Europeu de Normalização
• ISO - Organização internacional de normas
• ASTM - Sociedade americana de testes de materiais

O limite legal existente de MFRQ nos EUA e no Canadá

• OSHA 29 CFR partes 1910 e 1916 norma de segurança para a proteção


da queda na indústria da construção civil;1926.502 (d) (16) (ii) " O
sistema de retenção de queda pessoal, quando detiver uma queda,
deve limitar a força de impacto a um máximo de 1.800 libras (8kN)
quando utilizado com um cinto pára-quedista."

• OHSAct e regulamentos para projetos de construção; O.Reg. 213/91


segundo a alteração prevista em O.Reg.145/00 seção 26.6 (5) “O
sistema de retenção de queda não sujeitará um trabalhador que caia a
uma força máxima com pico maior que 8 kilonewtons."
Retenção de queda – cinto pára-quedista (+Z)

Eixos de coordenadas de força


A pergunta em questão:

O limite de 8kN para a força máxima da retenção de queda depende do


sentido da força e do ponto de aplicação sobre o corpo humano?

Nossa hipótese

O limite de 8 kN para a força máxima da retenção transmitida à vítima da


queda através do cinto pára-quedista aplica-se SOMENTE à força que atua ao
longo da coluna vertebral e aplicada através do osso pélvico.

Nota: o componente de conexão do sistema de retenção de queda deve ser


unido ao ponto de proteção contra queda do cinto pára-quedista situado na
parte traseira no meio das costas entre os ossos omoplatas, ou de forma
alternativa.

Nossa hipótese

O componente de conexão do sistema de retenção de queda pode ser


conectado ao ponto de proteção de queda situado na região peitoral na área do
esterno, contanto que o projeto do cinto tipo pára-quedista possibilite que as
fitas transfiram a maior parte da força de retenção de queda ao osso pélvico.

Quando não ocorre a transferência da força máxima de retenção de queda


ao longo da coluna vertebral?

1. A força máxima de retenção de queda experimentada nos sistemas de


proteção da queda para escadas em que a conexão ao trava-queda é frontal e
no nível da cintura. (eixo +X)
2. A força máxima de retenção de queda transmitida lateralmente na cintura
(anca) através de um ponto lateral de posicionamento de um cinto abdominal,
que esteja sendo utilizado de forma errada, como se fosse um ponto de
proteção contra queda. (eixo Y)
Trava queda em linha fixa em escadas; (+ X)

Cinto tipo “cadeirinha”; (+ X)

Ponto lateral de posicionamento; (Y)


Buscando a resposta

• Quais são os limites de resistência de corpo humano para a carga de choque


que atuam no eixo +X aplicada nas costas e no eixo Y aplicada lateralmente?
• Nota: as origens do limite de 8kN (EUA, Canadá) ou de 6kN (margem de
segurança maior, União Européia) na força máxima de retenção de queda
estão bem documentadas e estão fora do espaço desta apresentação.

Os limites para a força máxima de retenção de queda existentes para o


eixo +Z
Buscando o valor da força de choque, para o eixo +X, aplicada na coluna
vertebral

"A FORÇA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS AO CORPO HUMANO RETIDO PELA


CORDA EM UMA QUEDA”
Tese de doutorado de Helmut Magdefrau
Universidade de Ludwig-Maximilians, Munich, Alemanha, dezembro 1989.
Campo da pesquisa: montanhismo, atividade recreativas.

Resultados obtidos por Magdefrau


Os testes com o manequim (“humanóide”) em um cinto tipo “cadeirinha”
mostraram que a carga de choque de 4kN dirigiu-se para a espinha (devido à
conexão frontal da corda, ao nível da cintura) através da fita da cintura da
“cadeirinha“ causando uma fratura na coluna vertebral. Este tipo de ferimento
normalmente causa a paralisia ou morte da vítima.

Quedas similares, conectadas também ao ponto frontal, agora na altura


do externo e com um cinto tipo pára-quedista com a força máxima de retenção
de queda atuando agora sobre a estrutura sub-pélvica, não produziram
ferimentos.

Os testes com o manequim foram suplementados por testes com os


voluntários. Os testes forma acompanhados por instrumentos e as cargas de
choque foram medidas. Um dos voluntários era Magdefrau ele mesmo. Estes
testes foram executados nas montanhas dos alpes com os voluntários que
saltaram atados a uma corda dinâmica, tipo capa e alma, que fazia parte do
seu sistema de retenção de queda. Todos os testes de salto pelos voluntários
foram feitos com cintos tipo pára-quedista, e não causaram nenhum ferimento.

Conclusões da pesquisa de Magdefrau

1. Os escaladores devem utilizar cintos tipo pára-quedista. O cinto tipo


“cadeirinha” deve ser proibido.
2. O ponto inicial de ferimento para a carga de choque dirigida para a coluna
vertebral (sentido de +x) vinda de trás para frente, no nível da cintura,
causa o "assim chamado; efeito quebra coluna"; e pode ser fatal a partir
de 4 kN.
3. Um possível ferimento no corpo humano sujeitado à retenção de queda
depende do sentido da força e da parte do corpo onde é aplicada.
Nota: Amphoux, Brinkley e outros mostraram que quando a carga de choque
é aplicada ao corpo através do osso pélvico e a força é dirigida para cima ao
longo da coluna vertebral - nosso corpo pode tolerar 6 ou até 8 kN sem um
ferimento.
Os limites para a força máxima de retenção de queda existentes para o
eixo +X
Buscando o valor da força de choque, para o eixo +Y aplicada na lateral
do corpo (sobre a “anca”)

Pesquisa por Albert Zaborowski, USAF

• Uma série de 50 ensaios controlados de retenção de queda foi executada em


37 voluntários (homens) para estabelecer, se possível, o ponto inicial de dano
ao corpo humano (eixo Y, força aplicada no nível da cintura) às cargas de
choque laterais. Os voluntários utilizaram um cinto tipo abdominal. O ponto de
posicionamento lateral do cinto abdominal se encontrava por sobre a “anca”.
• Os voluntários foram expostos a cargas de choque de 3.25G a 9.02G com
duração de 0.3 a 0.1 segundos.
• Nenhum ferimento permanente ocorreu.
• Queixas físicas menores foram relatadas por 50% dos voluntários quando
exposto a 6.25G ou mais.
• Os testes foram suspensos em 9.02G devido ao perigo da flexão lateral do
torso a partir de 30 graus da vertical
Os limites para a força máxima de retenção de queda existentes para o
eixo Y
Limites para força máxima de retenção de queda em: +Z; +X e Y

Fica possível agora apresentar os resultados documentados para os


efeitos da força de choque no corpo humano ao longo da linha dos três
principais eixos e os respectivos pontos de aplicação.

Limites para força máxima de retenção de queda para +Z; +X e Y


Força máxima (de retenção de queda) em um sistema de retenção de
queda equipado com um absorvedor de energia

Quase todos os sistemas da retenção da queda empregam


absorvedores de energia a fim controlar a força máxima da retenção de uma
queda. Os padrões norte-americanos e europeus atuais limitam o impacto
máximo de choque em 8kN (Canadá) e 6kN (União Européia). Os
absorvedores de energia disponíveis no mercado são capazes de gerar uma
força máxima de retenção de queda bem abaixo destes limites.

Limites para força máxima de retenção de queda versus limite para força
máxima de retenção de queda dos absorvedores de energia
Conclusões

1. O limite legal existente de 8kN (mercado americano e canadense) para a


força máxima da retenção nos sistemas pessoais de retenção de queda, aplica-
se exclusivamente à carga de choque dirigida à área sub-pélvica e que suba ao
longo da coluna vertebral. Nossa hipótese inicial estava correta.
2. A força máxima de retenção de queda de 8kN (limite existente) pode
conduzir a um ferimento grave ou a uma fatalidade quando aplicada de forma
perpendicular à coluna vertebral, da base das costas para frente (+X). Tal
situação pode ocorrer em alguns sistemas de proteção de queda em escada, a
menos que o comprimento da ligação entre o usuário e o trilho (corda ou cabo
de aço) seja bastante curto.
3. A força máxima de retenção de queda de 8kN (limite existente) pode
conduzir a um ferimento sério quando aplicado lateralmente, de forma
perpendicular à coluna vertebral, lateralmente na altura da cintura (Y). Tal
situação pode ocorrer quando um sistema de proteção contra queda seja
conectado a argola lateral de posicionamento de um cinturão abdominal.
4. Nem todos os absorvedores de energia norte-americanos e europeus
atualmente disponíveis podem ser considerados seguros para a força máxima
de retenção de queda sobre os eixos +X e Y.
Nota: A maioria dos absorvedores de energia norte-americanos e
europeus gera uma força máxima de retenção de queda abaixo do 4kN.
Este limite parece ser seguro para o +Z e para cargas de impacto
(laterais) de Y. Porém para o sentido de +X (a reação invertida do corpo
“efeito quebra coluna”), a força de 4 kN é inaceitavelmente elevada.
Também, esta performance com valores abaixo de 4 kN não é
requisito nos padrões de proteção de queda atual das normas ANSI
(EUA), CSA (Canadá), CEN (União Européia) e da ISO (Normas
Internacionais).
Recomendações

1. Os resultados da pesquisa feita pelo Dr. Helmut Magdefrau e por


Albert Zaborowski são expostos aos usuários de equipamento de
proteção contra queda possibilitando assim que os usuários tomem
decisões apropriadas ao selecionar o equipamento correto. Isto se faz
necessário porque mudanças em normas e padrões levam anos para se
materializar.
2. Que as autoridades em todo o mundo devem ser alertadas que os
limites existentes para a força máxima de retenção de queda não são
seguros em algumas circunstâncias, e que o trabalho de pesquisa qual
foi revisto aqui pode fazer determinadas organizações serem
responsáveis por danos causados aos trabalhadores. As autoridades a
serem alertadas são:
• Os órgãos governamentais de saúde e segurança do
trabalho;
• Organizações responsáveis pela revisão e criação de
normas (CSA; ANSI; ASTM, ISO, CEN);
• Os fabricantes de equipamento da proteção da queda.
3. Que os limites legais abaixo são adotados no mundo inteiro para
a força máxima de choque de acordo com seu sentido e o ponto de
aplicação no corpo humano:
• 6kN para o eixo +Z; retenção sub-pélvica;
• 2.75 kN para o eixo +X; ponto abdominal (umbigo);
• 4kN para o eixo Y; área da “anca” (lateralmente na cintura).

Nota: conhecendo os limites acima, contudo, os responsáveis


pelo desenvolvimento de sistemas de proteção contra queda
devem se esforçar para manter a força máxima de retenção de
queda tão baixa quanto seguramente possível.
Referencias e bibliografia

1. Magdefrau H. "Die Belastung des meschlichen Korpers beim Sturz ins


Seil und deren Folgen", Ludwig-Maximilians-Universitat, Munich, 1989
2. Zaborowski A.B. "Human Tolerance to Lateral Impact With Lap Belt
Only" Proceedings of the 8tStapp Car Crash and Field Demonstration
Conference, Detroit, October 21, 1966. Detroit, Wayne University Press,
1966, p.34-71
3. Crawford H. "Survivable Impact Forces on Human Body Constrained by
Full Body Harness" Report HSL/2003/09 for the Health and Safety
Executive, U.K.
4. Brinkley J.W., Raddin J.H. "Biodynamics: Transitory Acceleration" in
Fundamentals of Aerospace Medicine, R.L.DeHart Editor, Lea&Febiger,
Philadelphia, 1985
5. Amphoux M. "Psychopathological Aspects of Personal Equipment for
Protection Against Falls" in the Fundamentals of Fall Protection,
A.C.Sulowski Editor, IFPS, Toronto, 1991
6. Snyder R.G. "Human Tolerances to extreme Impacts in Free Fall"
Aerospace Medicine, Vol.34, No.8, August 1963, p.695-709.
7. Snyder R.G. "Human Impact Tolerance", International Auto Safety
Conference,p.712-755, SAE, 1970)
8. Noel, G. et al "Some Aspects of Fall Protection Equipment Employed in
Construction and Public Works Industries", in the Fundamentals of Fall
Protection, A.C.Sulowski Editor, IFPS, Toronto, 1991.
9. Eiband A.M., "Human Tolerance to Rapidly Applied Accelerations. A
Summary of Literature", NASA, Memo No.5-19-59E, Washington, D.C.,
1959
10. Snyder R.G. et al "Study of Impact Tolerance Through Free-Fall
Investigations", The University of Michigan, UM-HSRI-77-8
11. Ruff S. "Brief Acceleration: Less than One Second" German Aviation
Medicine WWII, Vol.1, p.584-597, USAF, Washington, D.C.,1950
12. Sulowski A.C. "Performance Requirements for Class C Fall Protection
Equipment for Wood Pole Climbing and Laboratory Evaluation of
Commercially Available Equipment", the OHT Fall Protection Centre,
Toronto, Dec.1996. CEA Report No. 096 D 1007
13. Arteau J., Giguere D. "Proposed Method to Test Harnesses for Strength
and Human Factors Criteria", ISFP’88, Orlando, FL
14. Ellis J.N. "Introduction to Fall Protection", ASSE, Des Plaines, IL, 1993
15. "Fundamentals of Fall Protection", Sulowski A.C. (Editor) et al; ISFP,
Toronto, 1991.
16. Sulowski A.C. "Fall Arrest Systems — Practical Essentials", Canadian
Normas Association, Toronto, 2000.
17. OSHA 29 CFR Parts 1910 and 1926 Safety Normas for Fall Protection in
the Construction Industry; 1926.502 "Fall protection systems criteria and
practices." - section (d) "Personal fall arrest systems."

OHSAct & Regulations for Construction Projects; Ontario Regulation 145/00


Subsection 26.6 — Fall arrest systems

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