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INTRODUÇÃO

:
A emergência sanitária desencadeada pelo novo coronavírus, síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2), ainda que não tenha sido a primeira crise epidemiológica
global desse século, é a mais articulada ao processo de globalização. Apesar das crises sanitárias anteriores -. gripe aviária, em 1997 e 2004, Sars, em 2002, gripe suína, em
2009-2010 e o H1N1 em 2009 -2010-, também terem suas origens e agravamento consoante as ações antrópicas contras os biomas e ecossistemas (CUETO, 2020), a Covid-19
teve a sua disseminação ampliada através das vastas redes de mobilidades transcontinentais. Suas interações espaciais perpassaram as de naturezas territoriais. Para além disso,
tem sua escala de impacto variada pelo contexto socioespacial local por ela encontrada (CATAIA 2020, apud SANTOS, 1996; CATAIA & RIBEIRO, 2017).

No Brasil, país onde a Covid-19 tem avançado mais intensamente sobre as populações historicamente vulneráveis, os atuais marcadores sociais têm
demonstrado significativas mudanças na dinâmica criminal dos grandes centros do país, principalmente quanto aos índices de criminalidade violenta. Exemplificado: durante
os seis primeiros meses de 2020- período que acompanha parte do isolamento social-, enquanto os crimes contra o patrimônio, por exemplo, seguiram em brusca tendência de
queda (-24%), em contrapartida, as Mortes Violentas Intencionais (MVI), categoria “que engloba todas as vítimas de homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de
morte, homicídios de policiais e mortes decorrentes de intervenções policiais’’ (IPEIA, 2020), apresentou um crescimento de 7,1%, quando comparado com o mesmo período
de 2019.

A eventual perda de lucratividade da tráfico varejista de drogas por conta da pouca circulação de pessoas nas ruas, além do aumento no volume de apreensões de
drogas, sobretudo da maconha e da cocaína, podem ter colaborado para arranjos que privilegiam o conflito armado entre facções rivais pela ampliação ou proteção de seus
territórios uma vez que, qualquer alteração significativa das dinâmicas criminais desse grupos criminosos pode propiciar significativos aumentos nas taxas de mortes violentas
intencionais (FBSP, 2020). Ademais, os níveis crescentes de violência letal servem como admissíveis indicadores do poder exercido por esses de grupos criminosos sendo
que, a letalidade é umas das suas formas mais típicas de resolução de conflitos e controle territorial (BERG, VASORI, 2020).
Problema de pesquisa

• Até o ano de 2016, cerca de três facções disputavam o monopólio do tráfico de drogas nas comunidades pobres da cidade de Salvador: “Caveira”,
“Comando da paz, ou CP” e “Katiara”. As duas primeiras são mais antigas e predominam na cidade, enquanto a terceira é bastante consolidada no
Recôncavo (PIEDADE, SANTOS, 2016). Desse modo, a emergência das facções tem colaborado com o “processo de fragmentação sócio-política-
espacial do tecido urbano” (SOUZA, 1996, p. 123) de Salvador, onde cerca de 70% dos homicídios são atribuídos ao tráfico de drogas local (LIMA,
2017).

• Destaca-se ainda que, nesses últimos meses que sucedem o período da pandemia, um fator substancial em relação à articulação entre distintas
redes de narcotráfico tem chamado a atenção de setores responsáveis pela segurança pública na Bahia. Informações vinculadas à impressa (local e
nacional) (ALOÍSIO, 2020), noticiaram o estabelecimento de uma das maiores facções criminosas da região Sudeste (o Comando Vermelho), no tráfico
de drogas local. Estabelecimento, que segundo a matéria publicada, deu-se por meio de uma aliança fixada entre o grupo de narcotraficantes fluminenses
com a mais antiga das facções baianas, o Comando da Paz. Esta articulação entre grupos criminosos regionalmente distintos se opera tanto pela
manutenção/controle territorial, como pelo fornecimento de grandes quantidades de drogas e armamento de grosso calibre.
• As atuais articulações entre facções criminosas de territórios distintos, independente da escala espacial, corroboram a ideia de Souza (2001), uma vez
que nessa situação, observa-se “[...] uma rede a articular dois ou mais territórios contínuos” (SOUZA, 2001, p. 94). Frisa-se ainda que, atualmente, o CP
tem o monopólio da venda de drogas em grande parcela territorial do aglomerado de bairros conhecido como Complexo Nordeste de Amaralina, do qual
fazem parte quatro dos bairros mais populosos da capital baiana: Nordeste de Amaralina, Chapada do Rio Vermelho, Santa Cruz e Vale das Pedrinhas, e
que perfazem uma população de aproximadamente 77 mil moradores (SALVADOR, 2017, p. 157-166).
• Nesse contexto, questiona-se: quais foram os reais impactos da Covid-19 nos arranjos territoriais das facções criminosas que controlam o tráfico local de
drogas na cidade de Salvador?
• Objetivo Geral: analisar a incidência e a espacialização dos Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI) na
cidade de Salvador, e a sua relação com o fenômeno das facções criminosas no contexto das medidas de
isolamento social no ano de 2020 em comparação ao período de 2019.

• Objetivos específicos:

• Identificar, mapear e quantificar os territórios dominados por tais grupos na cidade de Salvador;
• Realizar uma abordagem acerca da violência letal no contexto das medidas de contenção da Covid-19;
• A pesquisa é do tipo Quanti-Quali de natureza descritiva ;

• Bibliográfico e Documental : com o levantamento de dados articulados em livro, revistas e sítios oficiais, em
meio físico ou digital, quanto documental, com o levantamento de dados oriundos da Secretaria de Segurança
Publica do Estado da Bahia (SSP),

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