Você está na página 1de 48

estúdio 88

D O C U M E N TAÇÃO DE
VI D EO P E R FO R MAN C E S
ORG.
ELAINE TEDESCO E LU RABELLO
estúdio 88
D O C U M E N TAÇÃO DE
VI D EO P E R FO R MAN C E S
ORG.
ELAINE TEDESCO E LU RABELLO

E82 Estúdio 88: documentação de videoperformances /


organizadoras Elaine Tedesco e Lu Rabello; tradução
Ricardo Romanoff. -Porto Alegre: Ed. Azulejo Arte
Impressa, 2020. 94p.: il.; 12x17cm.

1. Arte Contemporânea. 2. Documentação. 3. Videoarte.


4. Videoperformance. 5. Práticas Artísticas.
I. Tedesco, Elaine. II. Rabello, Lu. III. Velasco, Marion. IV.
Koch, Lucia. V. Zimovski, Adauany. VI. Romanoff, Ricardo.

ISBN 978-85-69059-18-9
CDU 7”18/20”

Maria do Rocio F. Teixeira - CRB-10/457


SUMÁRIO

9_ABERTURA_LU RABELLO

11_SIMPLESMENTE ACONTECIA
_ADAUANY PIEVE ZIMOVSKI

14_ESTÚDIO 88
VIDEOPERFORMANCES: UM
DEPOIMENTO_ELAINE TEDESCO

34, 44, 52, 62_ENTREVISTA COM


LUCIA KOCH

74_NOTAS SOBRE A DIFUSÃO DOS


VÍDEOS PRODUZIDOS NO ESTÚDIO
88_MARION VELASCO

82_ENGLISH VERSION
Lucia Koch, Elaine Tedesco e Marion Velasco
foto: Marconi Souto
ADRIANA DAHMER, MARA
TORRES, ÁLVARO ÁLVARES,
ROSACOSTA, MARION
CLAUDIA SACKS, VELASCO,
ELAINE TEDESCO, OTÁVIO
FLÁVIO ROBERTO SCHNEIDERS,
GONÇALVES, PAULO
IGNÊS BIURRUM,
BORGESE, JOÃO RICHARD JOHN,
GUIMARÃES, PAULO CAMPOS,
LÍGIA PETRUCCI, LIA MENNA
LUCIA KOCH, BARRETO,
MAURO GARCIA
6
VASCO PIVA 7
Esta publicação propõe a organização e catalogação do pro-
jeto Estúdio 88: pesquisa de videoperformance realizado por
Elaine Tedesco, Marion Velasco e Lucia Koch nos anos de
1988 e 1989 em Porto Alegre.

O Estúdio 88 foi um laboratório de experimentações para


videoperformance que aconteceu no Instituto de Artes da
UFRGS no final dos anos 1980. Envolveu diretamente jovens
artistas, músicos, atores, bailarinos e contou com a partici-
pação da artista e professora Mara Álvares.

Este material resgata o acervo do Estúdio 88 para contar um


pedaço da história da videoarte no sul do país durante esse
período, especialmente como forma de complementar o que
aconteceu na cena brasileira da arte contemporânea.

Lu Rabello
8 9
SIMPLESMENTE ACONTECIA

O passado é belo porque ninguém se dá conta de uma


emoção no momento. Ela cresce depois, e assim não
sentimos emoções completas a respeito do presente,
apenas do passado.

Virginia Woolf

Essa citação de Virgínia Woolf é, aparentemente, famosa.


Não conheço seu contexto original, mas consta na epígra-
fe de uma autobiografia que li recentemente e trago-a para
dentro desse texto com a intenção de falar do presente que
mobiliza um conteúdo existente naquilo que se convencio-
nou chamar de passado.
As experiências e os processos que estão apresentados nes-
te documento não me parecem ser uma tentativa de fusão,
ou mesmo de completude em relação a algo que estava in-
completo. Não consigo imaginar uma finalização para um
procedimento que pode ser infinito, esse de rever, resgatar,
reeditar, re-registrar. Por isso meu olhar sobre o Estúdio 88
hoje é duplamente enviesado. Cada olho vai pra um lugar e
nem sempre existe a reunificação.
No entanto, me encanta a ideia de Woolf de uma emoção que
cresce depois. O “crescimento” não necessariamente preci-
sa ser lido no sentido da intensidade, mas pode ser também
interpretado como crescimento de volume, de possibilidades
de leitura, de uma feitura constante. Esta publicação amplia
o arquivo do Estúdio 88 e amplia nosso contato com ele.

Adauany Pieve Zimovski

10 11
Marion Velasco
foto: Paulo Biurrum
12 13
ESTÚDIO 88 Pra lembrar um pouco da Álvares8, Elaine Tedesco, havia gravado ou performa-
VIDEOPERFORMANCES: cena local, o circuito das ar- Marion Velasco, Lucia Koch, do. Anotei as passagens dos
UM DEPOIMENTO1 tes apresentava a chamada Paulo Biurrum, Ignês Bor- trabalhos de Lucia, Marion,
geração 80, com as galerias gese, Lígia Petrucci, Adriana Paulo, Flávio, Mara e Vulgo
Arte e Fato e Tina Presser Torres, Flávio Roberto Gon- Valentin.
Em 1986, o artista Guto representando muitos ar- çalves, Richard John, Otávio
Ver as cenas gravadas, há,
Lacaz2 ministrou um wor- tistas jovens, eram tempos Schneiders, João Guimarães,
praticamente três décadas,
kshop de performance, no dos primeiros shows da ban- Mauro Garcia Dahmer, Álva-
fez emergir, de imediato, um
DAV_IA_UFRGS. Depois des- da DeFalla5, que, em 1985, ro RosaCosta, Claudia Sacks,
estranhamento diante das
se curso eu, Lucia Koch e participou da performance Lia Menna Barreto e Paulo
imagens que me pertence-
Marion Velasco realizamos Porquê Choras? de Rogério Campos.
ram. Identifiquei nos meus
duas performances em tea- Nazari e Telmo Lanes6. No
O trabalho de pesquisa e res- vídeos, a recorrência de re-
tro: - Mucosa, quando as da- teatro, Elcio Rossini dirigia
gate do material do Estúdio ferências à dança, do uso
mas esperam o convite para Passagem para Java (1986)7.
88 consistiu inicialmente em: de toucas e vestimentas de
dançar, apresentada na sala As mais diversas formas de
digitalização, revisão, regra- plástico e, uma ironia sobre
Álvaro Moreira e o Salão Per- Live art se conectavam e nos
vação e edição de imagens, estereótipos do feminino. O
formance, apresentado na interessavam, por isso, quan-
juntamente com a inclusão painel de fundo, instalado
Sala Quorpo Santo, ambas do soubemos da compra de
de novos sons, implicando na sala, tinha no centro, um
em 1987, em Porto Alegre3. uma câmera de vídeo pelo
em distensões de sentidos. plástico com padrão floral,
Ao mesmo tempo, grupos de DAV_IA_UFRGS, pensamos
Como estratégia para tra- usado para toalhas de mesa.
música, como o Vulgo Valen- em usá-la. O desejo de ex-
balhar com os arquivos do Em mais de uma videoperfor-
tin4 e dança, como o Haicai, perimentar o vídeo, entender
Estúdio 88, iniciei por rever mance a performer está pre-
formados por amigos nossos, o uso do equipamento e, es-
as cópias das fitas VHS que sa a ele por uma touca longa,
também faziam performan- pecialmente, testar as pos-
ficaram comigo - ver e re- noutra, a performer se deslo-
ces em suas apresentações. sibilidades da performance
ver, marcar, anotar, lembrar ca com um objeto de espuma
mediada pela câmera, nos
1 Este texto foi publicado, numa ver- o que havia sido importan- que poderia lembrar uma
são ampliada em: TEDESCO, Elaine. levou a planejar o Estúdio 88:
te, quais as ideias tidas para colher gigante ou evocar um
Estúdio 88 videoperformances: um pesquisa de videoperforman-
depoimento, In: Convergências: pes- cada sequência ou bloco. pegador de borboletas.
quisa artística e práticas experimen- ce. O projeto foi financiado
tais / Organizadores: Alberto Ribas
Quem estava gravando? Se-
pela FAPERGS e dele parti-
Semeler ... [et aL.]. Porto Alegre: parei, mentalmente, o que eu
UFRGS, 2019. ciparam: a professora Mara
14 15
Elaine Tedesco e Lucia Koch
1988, Praça do Dmae, Porto Alegre

16 17
O Estúdio 88 iniciou no pri- ginal, sem áudio. Em novem- vés do meus movimentos e impregnada por um mix-
meiro semestre de 1988, bro, daquele ano, o processo com a câmera de vídeo ao -media entre os vestígios do
mas a verba de pesquisa vin- foi enriquecido pelo uso de gravá-las. Na edição, reduzi VHS, a textura de TV digital
da da Fapergs só chegou no câmera móvel e gravação de o tempo da ação, mantendo e o aspecto eletrônico. Uma
final daquele ano, por isso, cenas ao ar livre e, finalmen- a sequência. Já o áudio foi superfície texturizada. Como
foram poucas as ações na te, com a chegada do recurso substituído, inseri uma trilha áudio, escolhi uma trilha so-
primeira etapa. Apenas eu, da pesquisa, em dezembro criada, na época, por um gru- nora composta em 2014 por
Lucia e Marion, trabalhamos montamos um estúdio im- po de músicos que, também, Mauro Garcia Dahmer e João
numa pequena sala, com um provisado numa das salas realizava performances em Guimarães, que hoje formam
único pé de luz, explorando o do oitavo andar no prédio Porto Alegre – o Vulgo Valen- o grupo Punk-Jazz.
enquadramento fixo e alguns do Instituto de Artes. Devido tin, formado por João Gui-
Nesses vídeos tem-se uma
objetos. A câmera era, ainda, a precariedade dos equipa- marães, Mauro Garcia Dah-
breve amostragem das expe-
uma porta-pack, com fita se- mentos e, a boa luminosidade mer, Vasco Piva e Eduardo
rimentações que fazíamos.
parada do corpo da mesma. da sala, optamos por gravar Reck Miranda.
As ideias eram organizadas
O vídeo Mudo faz parte des- apenas com a luz natural que
No vídeo Doce uma mulher a partir da articulação entre
sa primeira etapa do Estúdio entrava pelas janelas.
come, lentamente, o açúcar os movimentos de câmera e
88 e como escrevi, noutra
Movimento 5 é um vídeo retirado de dentro de uma ação. Explorávamos: a dupla
ocasião9, é o trabalho que
criado em parceria com Lí- maçã e derramado na mesa. performatividade — inter-re-
mais reflete a interação que
gia Petrucci e Adriana Tor- Ignês Borgese deu o nome lação entre quem performa e
nós tínhamos fazendo per-
res - integrantes do grupo de Simpatia do amor a sua quem grava a cena10; a movi-
formance coletivamente. A
de dança contemporânea ação. Os meus movimentos mentação, ritmo e gesto com
partir de uma ideia simples:
Haicai. Nas sequências Lígia de câmera acompanham os objetos de cena pelo espaço;
cochichar diante da câme-
está presa à parede por uma seus gestos. Desfocando, os limites do quadro. Primei-
ra, Lucia e Marion exploram
touca e movimenta-se indo e aproximando e afastando o ramente, trabalhamos com o
os limites do enquadramen-
vindo em direção à câmera; registro de seus movimentos enquadramento fixo e a ação
to e jogam com a borda do
enquanto Adriana executa e da mesa cheia de açúcar. ligada aos objetos e ao espa-
quadro, saindo, entrando,
sucessivos deslocamentos Na edição escolhi regravar ço determinado pelo recorte
criando movimentos apre-
laterais, ultrapassando os a sequência mirando uma escolhido. Depois, quando
sentando um cochicho. Esse
limites do enquadramento, televisão de tela plana. A passamos a usar a câmera na
material foi apenas digitali-
tudo isso encadeado atra- imagem ficou mais ruidosa mão, percebemos que cada
zado e mantido, como no ori-
18 19
20 21
mudo

1988 1’

Elaine Tedesco, Marion Velasco e Lucia Koch

ação_ Lucia Koch e Marion Velasco


câmera_ Elaine Tedesco
22 23
uma de nós utilizava os re- ras, na conversão ao digital
cursos técnicos disponíveis esse aspecto aumentou, im-
de maneira diferente e apre- pregnando as cenas.
sentava uma movimentação
Fazer vídeo é saber que com
de câmera muito pessoal,
o tempo virá o apagamento
com ritmo, velocidade e en-
e a certeza do desapareci-
quadramentos singulares.
mento. Faz 30 anos do início
Assim, a articulação entre
daquela pesquisa, essas fi-
os movimentos de câmera e
tas são, agora, como escre- 2 Guto Lacaz http://www.gutolacaz. 7 Com Ilana Kaplan e Verlaine Prie-
das ações registradas mere- com.br/ to, cenário de Fernando Limberger,
vi há algum tempo, objetos colagem de textos de Clarice Lispec-
ceram, naqueles dias, nossa 3 Um pouco mais sobre isso ver a
dormentes, mudos, posicio- Tese de Doutorado de Marion Ve-
tor, Júlio Cortázar, Miguel Magno e
atenção sobre a forma e Ricardo Almeida. http://elciorossini.
nados em minha estante de lasco – ‘falei em voz ALTA’: ERRA- blogspot.com/
o tempo de olhar de cada GEM, Voz e Outros Sons em Per-
livros. As imagens do Estú- formances Sônicas, páginas 50-54. 9 Um pouco sobre Mara Álva-
uma. No meu caso, focar era
dio 88 foram digitalizadas, https://www.lume.ufrgs.br/hand- res http://enciclopedia.itaucultural.
algo que, várias vezes, eu le/10183/165242 org.br/pessoa9204/mara-alvares
mas por quanto tempo po-
dispensava em detrimento 4 Sobre uma das performances do 9 Sobre isso ver: TEDESCO, Elaine.
deremos acessá-las? Vulgo Valentin https://www.youtu- ANOTAÇÕES SOBRE O ESTÚDIO
da vontade de investigar be.com/watch?v=3D9VnOokYoQ 88: Pesquisa de videoperformance
o borrão das formas e das http://anpap.org.br/anais/2015/co-
5 Sobre o DeFalla https://pt.wikipe- mites/cpa/elaine_tedesco.pdf
cores provocados pela luz dia.org/wiki/DeFalla
10 Ibidem.
no movimento dos corpos. 6 Sobre isso ver a dissertação
Creio que havia um certo Elaine Tedesco de Mestrado de Leonardo Felipe.
Rock my art, ou o esteticismo de
fascínio em usar a câmera Porque choras? ou o dia em que
Edu K. Entrou pra história da arte,
e performar, visualmente, o
Dissertação de mestrado; UFR-
movimento do meu corpo, GS, 2013, disponível em: https://
lume.ufrgs.br/bitstream/hand-
ao olhar as ações de minhas le/10183/87668/000911766.pdf?-
colaboradoras, era uma câ- sequence=1&isAllowed=y
mera sensorial, uma câmera
na pele, desfocada do olhar.
Se com a passagem do tem-
po o VHS deixa as cores
mais descoladas das figu-
24 25
vídeos vídeos

whispering

1988 5’24”

criação coletiva_ Elaine Tedesco, Marion Velasco,


Lucia Koch, João Guimarães e Richard John

edição_ Elaine Tedesco

26 27
vídeos vídeos

iemanjá and other


spiritual things

1988 8’19”

Marion Velasco

câmera_ Elaine Tedesco


28 29
vídeos vídeos

30 31
vídeos vídeos

32 33
FOI UM PROJETO MUITO
vídeos entrevista com Luciavídeos
Koch

CONCENTRADO
EXPLORAVA QUASE
ERA IMPORTANTE SÓ A LUZ QUE
FREQUENTAR UM ENTRAVA PELAS
ESPAÇO QUE NÃO ERA JANELAS
FREQUENTADO, COM
UM EQUIPAMENTO QUE ERA UMA VIDEO-
A GENTE NÃO TINHA CÂMERA (SEPARADA
ACESSO FACILMENTE DO GRAVADOR), NÃO
ERA CAMCORDER,
LEMBRO BEM DA TUDO ERA PRESO AO
CONDIÇÃO INCRÍVEL ESPAÇO, PLUGADO
QUE AQUELE ESPAÇO POR FIOS
TINHA DE LUZ NATURAL
E COMO A GENTE ERA MUITO LIMITADO
E AO MESMO TEMPO
MUITO RICO
34
entrevista com Lucia Koch 35
vídeos vídeos

álbum
1988

Lucia Koch

câmera_ Elaine Tedesco

36 37
vídeos vídeos

1988 14’ 34”

Mara Álvares

câmera e edição_ Elaine Tedesco


som (beat e pós)_ Maurício Rossini

mágica

38 39
vídeos vídeos

40 41
vídeos vídeos

caminhada
1988-2017 3’34”

Mara Álvares

câmera e edição_ Elaine Tedesco

42 43
vídeos entrevista com Luciavídeos
Koch

A PERFORMANCE
DA MARA ERA TODA
DESENHADA NO
E TODAS AS CHÃO DA SALA E
PARTICIPAÇÕES COM GESTOS ERA
TINHAM A VER REDESENHAVA
COM DESLOCAR-SE AQUILO QUE ELA
NAQUELE ESPAÇO, TINHA DIAGRAMADO
COM O PERÍMETRO ALÍ, TINHA UMA
DA SALA RESPOSTA A UM
MONTE DE LIMITES

44
entrevista com Lucia Koch 45
vídeos vídeos

1988 3’ 39”

experimento x Paulo Biurrum

ações_ Lucia Koch

46 47
vídeos vídeos

experimento z
1988

Otávio Schneiders

ações_ Elaine Tedesco, Lucia Koch e Paulo Biurrum

48 49
vídeos vídeos

everest
1988 22’ 23”

João Guimarães, Mauro Garcia


Dahmer, Álvaro RosaCosta,
Claudia Sacks

câmera_ Elaine Tedesco

50 51
LEMBREI QUE EM
vídeos entrevista com Luciavídeos
Koch

ALGUNS MOMENTOS
DO ESTÚDIO 88 HAVIA MOMENTOS
VESTIAMOS UMAS MUITO SEM DIREÇÃO
PEÇAS QUE TÍNHAMOS (SEM DESTINO!), EM
FEITO COM PLÁSTICO QUE A GENTE FICAVA
ESTAMPADO, UMAS SÓ EXPLORANDO
TOUCAS GIGANTES, O ESPAÇO, A
E TINHA SEMPRE MÚSICA (MUITO
MÚSICA, NOS PRINCE, TRILHA DO
MOVÍAMOS COM SOMETHING WILD -
AQUELAS VESTES FILME DO JONATHAN
DEMME, DAVID BOWIE,
TALKING HEADS...)
E OS MATERIAIS
E OBJETOS QUE
LEVÁVAMOS PARA LÁ
52
entrevista com Lucia Koch 53
vídeos vídeos

movimento 5
1988 2’ 22”

Elaine Tedesco

dança_ Adriana Torres e Lígia Petrucci


som_ grupo Vulgo Valentin, formado por João
Guimarães, Mauro Garcia Dahmer, Vasco Piva e
Eduardo Reck Miranda
arquivo e remasterização_ Vasco Piva

54 55
vídeos vídeos

1988-2014 2’ 24”

alguns passos Elaine Tedesco

ação, câmera e edição_ Elaine Tedesco


música_ Petite musique de clown triste, de Erik Satie

56 57
vídeos vídeos

1988 1’ 47”

Elaine Tedesco

ação, câmera e edição_ Elaine Tedesco

pose
música_ Elaine Tedesco, Marion Velasco e Lucia Koch

58 59
vídeos vídeos

1988-2014 1’ 35”

Ignês Borgese

câmera e edição_ Elaine Tedesco


música_ trilha sonora composta em 2014,

Doce / Simpatia do amor


pelo grupo Punk Jazz (Mauro Garcia
Dahmer e João Guimarães)

60 61
O FATO DE NÃO TER
vídeos entrevista com Luciavídeos
Koch

MUITO ROTEIRO PARA ERA LEGAL PORQUE


NADA ERA BOM, ERAM ERA UM AMBIENTE
COLABORAÇÕES ÀS EROTIZADO, O JEITO
VEZES ACORDADAS QUE A GENTE FICAVA
MAS NORMALMENTE ALÍ, AS AÇÕES, NÃO
INVOLUNTÁRIAS, SEI SE ERA O SOL QUE
QUANDO VOCÊ VIA ENTRAVA, A MÚSICA...
ESTAVA FAZENDO TALVEZ PORQUE ERA
ALGUMA COISA COM DESCONTROLADO E AO
ALGUÉM E NÃO SABIA MESMO CONSTANTE
MUITO ONDE IA DAR, (...) ACONTECIA DENTRO
ÀS VEZES NÃO DAVA DAQUELE ESPAÇO
EM NADA SUPOSTAMENTE
ACADÊMICO MAS
TOTALMENTE LIVRE
TAMBÉM
62
entrevista com Lucia Koch 63
vídeos vídeos

1988 2’ 58”

Elaine Tedesco e
Lucia Koch

câmera_ Lucia Koch


dança_ Elaine Tedesco
música_ Prince

64 65
vídeos vídeos

1988 6’ 15”

Lucia Koch

câmera_ Elaine Tedesco

66 67
vídeos vídeos

colette

1988 2’ 29”

Marion Velasco

câmera_ Elaine Tedesco e Lucia Koch


68 69
vídeos vídeos

foto: Elaine Tedesco


70 71
Marion Velasco desenvolveu
o projeto de pesquisa Artes
plásticas ao vivo, orientado por
Mara Álvares, onde editou parte
da produção do Estúdio 88.

72 73
NOTAS SOBRE pela disciplina Seminário de A pós-produção1 durou vá- em duas partes, gravadas
A DIFUSÃO DOS Atividades Artísticas. rios dias, onde os artistas pela Elaine e, pela Lucia,
VÍDEOS PRODUZIDOS No ano seguinte, já gradua-
editaram os próprios vídeos, apenas na primeira parte.
NO ESTÚDIO 88 da, fui contemplada em edi-
com os operadores da LU- As ações, os figurinos e
MIERE Produções2. Depois os lugares eram diferen-
tal do CNPq, com uma bolsa
disso, fiz a montagem final e tes nos dois momentos. A
de aperfeiçoamento/ espe-
Instigada por um comen- o desenho de Trabalhos para primeira parte aconteceu
cialização, para desenvolver
tário, sobre a produção ar- o Mundo ficou assim: numa grande sala de aula
o projeto de pesquisa Artes
tística gerada no Estúdio 88 do Instituto de Artes, com
Plásticas ao Vivo – experi- 0. Introdução: abertura com
ter ficado circunscrita ao as persianas fechadas. Eu
mentação e análise da perfor- título e colagem de imagens
contexto acadêmico, aponto vestia um avental azul,
mance e do seu vocabulário de todos os trabalhos, criada
algumas situações e acon- confeccionado e pintado
de expressão, sob orientação pelas artistas Luisa Meyer e
tecimentos, que demostram por mim e performava
da Profª e artista Mara Alva- Marijane Ricacheneisky;
a reverberação acadêmica com uma travessa de por-
res, entre março de 1989 a
mas, também, sua inserção 1. Videoperformances: celana branca, cheia d´á-
fevereiro de 1990.
na programação cultural lo- - Sit for a portrait de Elai- gua, uma toalha de lavabo
cal e nacional, na virada da- Como parte desta pesqui- azul, um pincel e um pote
ne Tedesco;
quela década. sa, concebi e produzi o ví- com tinta azul. As ações
deo Trabalhos para o Mundo, - Álbum de Lucia Koch; consistiam em lavar, se-
Ainda em 1988, a convite da
(1990, 37´, VHS, colorido), - Interferência de Paulo car e pintar as mãos e os
Profª Marilene Pietá, o traba-
que reuniu quatro videoper- Biurrum com Nívia pés de azul e, posar junto
lho que eu, Elaine Tedesco e
formances produzidas no Martini; a uma imagem de Ieman-
Lucia Koch desenvolvíamos,
Estúdio 88 e um registro de já4. A câmera começava
no campo da performance e - Iemanjá and Other Spi-
performance sonora realiza- fixa, depois, criava zooms
do vídeo, foi apresentado e ritual Things de Marion
da em teatro da cidade. As no meu corpo e no ma-
comentado com estudantes Velasco. A performance
quatro videoperformances nuseio dos objetos. A se-
do curso de graduação em investigava o aspecto
eram independentes entre si, gunda parte foi gravada
Artes Plásticas do Instituto performativo de cultos
tinham temáticas e tempos um tempo depois, numa
de Artes/UFRGS, no Painel populares, ritos religiosos
diversos e precisavam de al- sala menor, com as pare-
sobre Performance e Proces- e cerimônias sagradas
guma edição. des revestidas de madei-
so de Trabalho, promovido ancestrais3 e, foi dividida
ra e as janelas abertas.
74 75
Eu vestia uma saia de ram, tocaram instrumentos de escala”. Lembra que “na fita VHS, na pinacoteca do
veludo marrom, um sutiã musicais tradicionais, como produtora havia uma ilha de MARGS – Museu de Arte do
vermelho e as ações con- guitarra, baixo, bateria e edição com dois vídeos e um Rio Grande do Sul, pelo pe-
sistiam em lavar, segurar violino, além de teclado, controle remoto que sin- ríodo de 11 de setembro a 14
a imagem de Iemanjá e computador e samples. Pro- cronizava as máquinas, um de outubro de 1990.
criar um percurso, com duziram ruído, performaram aparelho de k7(áudio) e um
Na ocasião, a imprensa local
ela, pela sala. Por conta com chapas de metal e fogo, toca discos”. E, que, na edi-
enfatizou o fato deste Salão
do intervalo entre as gra- num cenário que, também, ção dos vídeos, o processo e
regional ter sido criado e
vações, foi preciso reper- apresentava graffitis e móbi- as necessidades dos artistas
organizado pela Associação
formar a pintura dos pés le com rolo de papel e textos, “eram inovadores (...) e, devi-
Francisco Lisboa, com edi-
e das mãos. Em Trabalhos criados por eles. do às inovações, era preciso
ções regulares entre 1953 a
para o Mundo, as duas par- gastar um bom tempo adap-
Recentemente, para lembrar 1960. Durante o período da
tes foram editadas juntas. tando as ideias aos recursos
o contexto desta produção, ditadura militar, as ativida-
Enquanto, as imagens di- do equipamento”.
conversei7 com Mario Lucio des e premiações do Salão
gitalizadas apresentam,
Rodrigues, que foi técnico Ao final da pós-produção, foram suspensas e só retor-
apenas, a segunda parte
da LUMIERE Produções, en- foram feitas três cópias do naram no período de abertu-
da performance.
tre 1989 e 1994. Da conver- vídeo em VHS e, foram es- ra política, em 1987. A, então,
2. Registro de performance sa sobre pós-produção das ses documentos que passa- presidenta da Associação,
sonora: Show5 do Vulgo Va- nossas videoperformances, ram por diversos circuitos, a Blanca Brites, comentou que
lentin. O coletivo era formado os equipamentos e procedi- começar por uma Festa de a edição de 1990 foi refor-
pelos músicos Mauro Garcia mentos usados no período Lançamento8, que aconteceu mulada para incluir “todas
Dahmer, João Carlos Guima- e as diferenças entre a edi- no dia 4 de junho de 1990, no as manifestações, como ví-
rães, Vasco Piva, Güenther ção de videoarte e de vídeos Teatro Bar Porto de Elis, em deo e performance (...). Esta
Andreas e Eduardo Reck institucionais, destaco o Porto Alegre. mudança significa uma ade-
Miranda. Na performance trecho em que Mario conta quação aos novos tempos da
Em seguida, Trabalhos para o
realizada, ao vivo, no Teatro que “aquele era o boom do produção artística onde os
Mundo foi inscrito e selecio-
Renascença6, em 1988, os VHS. O vídeo estava ao al- meios eletrônicos passaram
nado no 9º Salão de Artes
artistas usaram adereços de cance do cidadão comum e a ter presença considerá-
Plásticas Câmara Municipal
látex da artista Lia Menna as empresas se deram conta vel”9. No folder do 9º Salão
de Porto Alegre, sendo ex-
Barreto, cantaram, recita- e [o] utilizavam em gran- de Artes Plásticas Câmara
posto em tevê e tocador de
76 77
Municipal de Porto Alegre10, promoveram a difusão dos nam possíveis co.MEMORAR streaming para internet, estúdio de
TV, unidade móvel, etc. http://lu-
consta o nome de todos ar- vídeos produzidos no Estúdio (buscar na memória e feste- miere.com.br
tistas que integraram o vídeo 88 e, só tiveram a duração, jar junto) o “movimento das 3 O imaginário religioso era uma
Trabalhos para o Mundo. desta difusão. Hoje, a circu- coisas” e, agora, a produção das questões apontadas no projeto
enviado ao CNPq, propondo um alar-
lação deste trabalho se com- desta publicação. gamento do estudo da performance,
Depois disso, Trabalhos para em relação às culturas.
prova pelos depoimentos,
o Mundo participou da pro- 4 Orixá feminino nas religiões de
nos documentos do CNPq,
gramação do Projeto Vídeo Emoção é o movimento pelo matriz africana. A imagem foi um
nos releases encaminhados qual o espírito apreende o mo- presente da minha avó materna –
na Segunda, promovido pela imigrante alemã que, na fase madu-
aos meios de comunicação, vimento das coisas, dos seres, ra, se iniciou nos ritos da Umbanda
Secretaria Municipal de Cul- ou o seu próprio. [...] O movi-
nas matérias e notas publi- e foi praticante. Guardo, em acervo,
tura / PMPA, sendo apresen- mento é o próprio espírito das fotografias e stills dos vídeos desta
cadas na imprensa local e coisas e dos seres, é aquilo que primeira parte da performance.
tado no Centro Cultural do nos faz “vibrar interiormente”,
nos folders dos eventos, por 5 Parte da performance encontra-
DMAE, no dia 05 de novem- na profundidade. -se aqui: https://www.youtube.com/
onde passou.
bro de 1990. Antes disso, o David Lapoujade watch?v=7Xy-N7KaVOc

vídeo foi apresentado no Felizmente, a atualização de 6 Localizado no Centro Municipal


de Cultura, Arte e Lazer Lupicínio
Programa VT de Vanguarda da parte da nossa produção ar- Rodrigues, Porto Alegre
TVE/RS, com transmissão, tística, foi realizada com a di- 7 A entrevista foi feita por e-mail,
em circuito nacional, pelas gitalização dos documentos em 15 e 17 de dezembro de 2018.
Marion Velasco Atualmente, Mario Lucio trabalha na
TV Culturas de São Paulo, originais do Estúdio 88 – que TV Educativa/RS, em Porto Alegre.
Rio de Janeiro e Salvador, no foram menos manipulados e 8 Nesse dia, também foi apresenta-
dia 30 de junho de 1990. melhor conservados. Essas do o videoclipe da música Screw You
Susie Doll da banda DeFalla, dirigido
fitas de vídeo, contendo nos- por Beto Souza e Alex Sernambi, fei-
Infelizmente, o uso intensivo 1 Na minha tese de doutorado “faLei
sas ações e performances to com imagens de show gravadas
das três fitas VHS e o exces- em Voz ALTA”: ERRAGEM, Voz e Ou- em filme Super8 vencido e interfe-
que, agora, Elaine se refere tros Sons em Performances Sônicas rências na película criadas por Lucia
so de umidade, na cidade de (2017 p.61-62), apresento informa- Koch, Marijane Ricacheneisky, Luisa
como “objetos dormentes, ções sobre as trilhas sonoras usadas
Porto Alegre, promoveram Meyer e por mim.
mudos, posicionados na es- e links para outros documentos. Dis-
o desgaste, a deterioração ponível em: https://lume.ufrgs.br/ 9 A partir da matéria sobre o even-
tante de livros”, apesar da handle/10183/165242 to, publicada no Jornal Zero Hora
e a, consequente, perda das em 11 de setembro de 1990.
imobilidade (repouso, deso- 2 A LUMIERE Produções se locali-
mesmas. zava na Av. Osvaldo Aranha, Porto
cupação, torpor) e do lugar 10 A pesquisa sobre o Salão foi feita
Alegre/RS. Hoje, em outro endereço, no Núcleo de Documentação e Pes-
É interessante pensar que, (estante de livros), duram segue trabalhando com produção quisa do Museu de Arte do Rio Gran-
de vídeos e novas atividades, como:
os documentos editados - existem, resistem ali e, tor- de do Sul/MARGS.

78 79
80 81
english version english version

This publication aims to organize The experiences and processes that Álvaro Moreira theatre, and Salão The research and recovery of Estú-
and to catalog the archives of Estú- are presented in this document do Performance [Performance Room], dio 88 material initially consisted of
dio 88: pesquisa de videoperformance not seem to be an attempt to merge, showed at Quorpo Santo audito- digitizing, reviewing, rewriting, and
[Studio 88: video performance or to find completeness regarding rium, both in Porto Alegre3. At the editing, along with the inclusion of
study], a project developed by art- something that was incomplete. I time, bands like Vulgo Valentin4 new sounds, which implied some dis-
ists Elaine Tedesco, Marion Velasco, cannot imagine an ending to a proce- and dance groups such as Haicai, tensions of meaning.
and Lucia Koch between 1988 and dure that can be infinite, that of re- formed by friends, used to present
1989 in Porto Alegre. viewing, rescuing, re-editing, re-reg- performances during their shows. It In order to work with the Estúdio
istering. So my view towards Estúdio is worth remembering some other 88 archives, I started reviewing cop-
Estúdio 88 was a laboratory for video 88 today is doubly biased. Each eye aspects of that moment. The local ies of VHS tapes that I had. I began
performance experimentation that looks at a different place, most of the art scene featured the so-called to watch and tag them, take notes,
took place at UFRGS Art School in time, without a reunification. “80s Generation”. Arte e Fato and and remember what was important
the late 1980s. It directly involved Tina Presser galleries represented back then, which ideas came up for
young artists, musicians, actors, and However, I am delighted by Woolf’s a lot of young artists. Those were each sequence. Who was recording
dancers, and was attended by artist idea of ​​an emotion that expands the times of the first concerts by the performances? I separated what
and professor Mara Álvares. later. “Expansion” does not need to rock group DeFalla5, which in 1985 I had recorded or performed. I wrote
be understood in the sense of its in- joined the performance Porquê Cho- down the passages of Lucia, Marion,
This material recovers the Estúdio 88 tensity. It can also be interpreted as Paulo, Flávio, Mara and Vulgo Valen-
collection to tell a little of the history ras? [Why Do you cry?] by Rogério
an expansion of volume, as reading Nazari and Telmo Lanes6. In the tin’s works.
of video art in Southern Brazil during possibilities, in a constant process
that period, especially to broaden theaters, Elcio Rossini directed Pas- Watching those shootings of almost
of making. This publication expands sagem para Java [Ticket to Java]
the understanding of Brazil’s con- the archive of Estúdio 88 and also ex- three decades ago immediately
temporary art scene. (1986)7. We were interested in a caused a kind of strangeness. I iden-
pands our contact with it. wide variety of live art expressions. tify the recurrence of dance refer-
Lu Rabello Adauany Pieve Zimovski When we first heard that UFRGS ences in my videos, the use of plastic
Art School had bought a camcord- caps and clothing, and an ironic ap-
er, we thought about using it. We proach to feminine stereotypes. The
IT SIMPLY HAPPENED ESTUDIO 88 VIDEOPERFOR- had the desire to experiment video, back panel in the living room had a
MANCES: A TESTIMONIAL11 to understand the use of the equip- floral-patterned plastic in the center
The past is beautiful because one
never realizes an emotion at the time. ment, and to test the possibilities used for tablecloths. In more than
In 1986, artist Guto Lacaz2 held a
It expands later, and thus we don’t of camera-mediated performance. one video, the performer is attached
performance workshop at UFRGS
have complete emotions about the All that led us to plan Estúdio 88: to it by a long cap. In another, the
Art School. After the classes, in
present, only about the past. pesquisa de video-performance [Stu- performer moves with a foam object
1987, Lucia Koch, Marion Velas-
Virginia Woolf dio 88: video-performance study]. that could resemble a giant spoon or
co, and I performed two theatri-
The project was funded by regional evoke a butterfly catcher.
cal performances: Mucosa, quando
research institution FAPERGS and
This quote from Virginia Woolf is ap- as damas esperam o convite para
joined by Mara Álvares8, Elaine Te- Estúdio 88 begun in the first half
parently famous. I do not know its dançar [Mucosa, when ladies wait for
desco, Marion Velasco, Lucia Koch, of 1988, but research funding
original context, but it is written in an invitation to dance], presented at
Paulo Biurrum, Ignês Borgese, Lí- from FAPERGS was available only
the epigraph of an autobiography I gia Petrucci, Adriana Torres, Flávio later that year. Because of that,
read recently. I bring it into this text 1 This text was published in a larger ver- Roberto Gonçalves, Richard John, there were few actions in the early
aiming to approach the present mo- sion in: Estúdio 88 videoperformances: um Otávio Schneiders, João Guimarães, months. Lucia, Marion, and I used
ment that mobilizes something that depoimento, in: Convergências: pesquisa Mauro Garcia Dahmer, Álvaro Rosa to work in a small room with a sin-
exists in what we conventionally call artística e práticas experimentais / Org.: Costa, Claudia Sacks, Lia Menna gle light, exploring static frames
the past. Alberto Ribas Semeler ... [et al.]. Porto and objects. The camera was still a
Barreto, and Paulo Campos.
Alegre: UFRGS, 2019.

82 83
english version english version

portapak, with the tape carried out- Dahmer, Vasco Piva, and Eduardo time of looking at each one. In my 6 See Leonardo Felipe’s master’s disserta-
side. The video entitled Mudo [Mute] Reck Miranda. case, focusing was something I of- tion Rock my art, ou o esteticismo de Porquê
is part of this first phase of Estúdio ten dismissed. I would instead in- choras? ou o dia em que Edu K. Entrou pra
88. As I wrote in another moment9, In Doce [Sweet], a woman slowly vestigate the blur of light-induced
história da arte, UFRGS, 2013, available
eats sugar from an apple, which was at: https://lume.ufrgs.br/bitstream/han-
this is the work that most closely shapes and colors in the movement
spilled on a table. Ignês Borgese dle/10183/87668/000911766.pdf ?se-
resembles the interaction we used of bodies. I believe there was a fas- quence=1&isAllowed=y
to have while performing collective- named her action Simpatia do cination regarding the camera and
ly. It came out from a simple idea: amor [Love Spell]. My camera move- visually performing the movement 7 With Ilana Kaplan and Verlaine Prieto, set
the act of whispering in front of the ments follow her gestures, blurring of my body. While shooting the ac- by Fernando Limberger, collage of texts by
camera. Lucia and Marion explored the images, and moving in and out of tions of my collaborators, the equip-
Clarice Lispector, Júlio Cortázar, Miguel
her body and the table. While editing, Magno, and Ricardo Almeida: http://elcio-
the limits of the frame. They played ment became a sensory camera with
I chose to re-shoot the sequence, rossini.blogspot.com/
with the edges, leaving, entering, a near the skin, blurry approach. If
and creating movements and whis- recording a flat-screen television. over time, VHS detaches colors from 8 A little about Mara Álvares: http://enci-
pers. This material was digitized and The image got noisier and filled with figures, in the conversion to digital, clopedia.itaucultural.org.br/pessoa9204/
kept, as in the original version, with- a mix-media of VHS traces, digital this aspect increased, impregnating mara-alvares
out audio. In November of that year, TV texture, and an electronic as- the scenes. 9 See: TEDESCO, Elaine. ANOTAÇÕES
the process evolved with a portable pect, creating a textured surface. SOBRE O ESTÚDIO 88: Pesquisa de vid-
camera and outdoor shootings. Fi- In this work, I chose a soundtrack Making a video is to know that, in eoperformance. http://anpap.org.br/
nally, in December, as we received composed in 2014 by Mauro Garcia the long run, we face erasures and anais/2015/comites/cpa/elaine_tedesco.
the fund resources, we set up an im- Dahmer and João Guimarães, who the certainty of disappearance. Thir- pdf
provised studio in one of the rooms today form the Punk-Jazz group. ty years after this research began,
10 Ibid.
in the eighth floor of the Art History these tapes are now, as I wrote some
These videos are a brief sampling time ago, numb, silent objects placed
building. Due to the precarity of the of the experiments we produced.
equipment and the good luminosity on my bookshelf. Estúdio 88 images
Our insights were organized in the have been digitized, but how long
of the space, we chose to record only articulation between camera and
with natural light. will we be able to access them? INTERVIEW WITH LUCIA KOCH
movements. We explored the double
Movimento 5 [Movement 5] is a performativity — the interrelation-
video created in partnership with ship between who performs and who
Elaine Tedesco IT WAS A VERY CONCENTRATED
Lígia Petrucci and Adriana Torres— records the scene10; the movement, PROJECT (P.34)
members of the contemporary dance rhythm, and gesture with objects
group Haicai. In the scenes, Ligia is on stage; and the frame boundar- IT WAS IMPORTANT TO VISIT EMPTY
tied to the wall by a cap. She moves ies. First, we worked with a static 2 See more about Guto Lacaz at http:// SPACES USING EQUIPMENT THAT WE
frame and the action related to the www.gutolacaz.com.br/ COULD NOT EASILY ACCESS (P. 34)
back and forth towards the camera.
At the same time, Adriana performs objects and the area determined by 3 See Marion Velasco’s doctoral thesis:
the frame. Then, while exploring with I REMEMBER WELL THE INCREDIBLE
successive lateral shifts beyond ‘falei em Voz ALTA’: ERRAGEM, Voz e Out- CONDITIONS OF THAT ROOM WITH
the frame limits, while all of this camera in hand, we realized that ros Sons em Performances Sônicas (2017 p. NATURAL LIGHT, AND HOW WE
is connected through my camera each of us used the available tech- 50-54), https://www.lume.ufrgs.br/han- EXPLORED ALMOST ONLY THE
movements. While editing, I reduced nical resources differently. We also dle/10183/165242 LUMINOSITY OF THE WINDOWS
had very particular camera move- (P. 34-35)
the action time while maintaining the 4 To see more about one of Vulgo Valen-
sequence. The audio has changed by ments, with different pace, speed, tin’s performances: https://www.youtube. IT WAS A VIDEO-CAMERA (APART FROM
the inclusion of a track created at and framing. Thus, the articulation com/watch?v=3D9VnOokYoQ THE RECORDER), NOT A CAMCORDER,
the time by Vulgo Valentin—formed between camera movements and AND EVERYTHING WAS ATTACHED IN
recorded actions deserved, in those 5 To see more about DeFalla: https:// THE SPACE, PLUGGED IN BY WIRES
by João Guimarães, Mauro Garcia en.wikipedia.org/wiki/DeFalla
days, our attention on the form and (P. 35)

84 85
english version english version

IT WAS CONSTRAINED AND VIBRANT NOTES ON THE DIFFUSION ater. The four works were indepen- drying, painting my hands and
AT THE SAME TIME (P. 35) dent. They had diverse themes, dealt feet in blue, and posing next to an
OF ESTÚDIO 88 VIDEOS
differently with time, and needed image of Iemanjá4. The shooting
ALL THE PERFORMANCES WERE
RELATED TO MOVEMENTS WITHIN I was recently prompted by a com- some editing. began static and then zoomed in
THAT SPACE, WORKING WITH THE ment about Estúdio 88 artistic pro- on my body and my hands, which
PERIMETER OF THE ROOM (P. 44) The post-production1 process lasted manipulated the objects. The
duction, which would seemingly be
several days. The artists edited their second part was recorded later
limited to the academic context. I
MARA’S PERFORMANCE WAS GUIDED own videos along with operators of in a smaller room with wood-pan-
BY A DRAWING ON THE FLOOR AND point out here some situations and
the LUMIERE company2, and then eled walls and open windows. I
QITH GESTURES, SHE USED TO events that show not only the aca-
REDRAW WHAT SHE HAD OUTLINED.
I conceived the final cut. The script wore a brown velvet skirt and a
demic repercussion but also its inser-
THERE WERE ANSWERS TO A LOT OF of Trabalhos para o Mundo was like red bra. The actions consisted
tion in the local and national cultural
LIMITS (P.45) this: of washing, holding the image of
scenes at the turn of the decade.
I REMEMBERED THAT IN SOME 0. Introduction: opening created by Iemanjá, and creating a path with
In 1988, professor Marilene Pietá her around the room. Because of
MOMENTS OF ESTÚDIO 88 WE WORE artists Luisa Meyer and Marijane Ri-
CLOTHES THAT WE HAD MADE WITH invited artists Elaine Tedesco, Lucia the gap between the shootings, I
cacheneisky with title and images of
PRINTED PLASTIC, LIKE GIANT CAPS. Koch, and I to show and discuss the had to repaint my feet and hands.
THERE WAS MUSIC ALL THE TIME, AND all the works;
work we were developing in the field In Trabalhos para o mundo, both
WE MOVED AROUND WEARING THAT
CLOTHING (P. 52)
of performance and video to under- 1. Video performances: parts were edited together; the
graduate students of UFRGS Art digitized images present only the
School. This presentation was held as - Sit for a portrait by Elaine Te-
SOMETIMES WE HAD NO DIRECTION second part of the performance.
(NOR A DESTINATION!), WHILE part of the Panel on Performance and desco;
WE WERE EXPLORING SPACES, Work Process, promoted by the disci- 2. Record of sound performance
MUSIC (A LOT OF PRINCE, - Álbum [Album] by Lucia Koch;
pline Seminar of Artistic Activities. Show5 by Vulgo Valentin collective,
JONATHAN DEMME’S SOMETHING
WILD SOUNDTRACK, DAVID BOWIE, - Interferência [Interference] by formed by musicians Mauro
TALKING HEADS...), AND MATERIALS In the following year, as a graduate, Paulo Biurrum and Nívia Martini; Garcia Dahmer, João Guimarães,
AND OBJECTS WE TOOK THERE (P. 53) I was awarded a CNPq scholarship Vasco Piva, Güenther Andreas,
for further development/specializa- - Iemanjá and Other Spiritual and Eduardo Reck Miranda. The
THE FACT THAT THERE WAS NOT MUCH tion of the research project Artes Things by Marion Velasco. This performance was realized live at
OF A SCRIPT FOR ANYTHING WAS
Plásticas ao Vivo – experimentação performance examined the per- the Renascença theater6 in Porto
GREAT. WE HAD COLLABORATIONS,
SOMETIMES ARRANGED, BUT USUALLY e análise da performance e do seu formative character of popular Alegre, in 1988. The artists used
INVOLUNTARY. SUDDENLY WE WERE vocabulário de expressão [Live Arts cults, religious rites, and ancient latex props created by artist Lia
DOING SOMETHING WITH SOMEONE – experimentation and analysis of sacred ceremonies3. It was divid- Menna Barreto. They sang and
WITHOUT KNOWING WHERE IT WOULD
performance and its expression vo- ed into two parts — both recorded recited texts, and played traditional
TAKE US, SOMETIMES TO NOWHERE
(P. 62) cabulary], from March 1989 to Feb- by Elaine and, the first, also by musical instruments, computer, and
ruary 1990, under the supervision of Lucia. Actions, costumes, and samples. They also produced noise
IT WAS COOL BECAUSE IT WAS AN professor and artist Mara Alvares. locations were different in each and performed with metal and fire,
EROTIC ENVIRONMENT, THE WAY WE section. The first took place in the displays with texts, and sheet music
WERE THERE, THE ACTIONS, I DON’T As part of this research, I conceived Art School, in a large classroom
KNOW IF IT WAS THE SUN THAT CAME written on suspended paper with
and produced Trabalhos para o Mun- with shutters closed. I wore a
IN OR THE MUSIC... MAYBE BECAUSE scrolling, in a scenario with graffiti
IT WAS UNCONTROLLED AND AT do [Works for the World] (1990, 37’, blue apron, which was made and created by them.
THE SAME TIME CONSTANT (...) IT VHS, color). This work brought to- painted by me. I performed with
HAPPENED WITHIN THAT SUPPOSEDLY gether four video performances de- a white porcelain platter filled Recently, I spoke with Mario Lucio
ACADEMIC AMBIENT, BUT IT WAS veloped by Estúdio 88 and a record-
TOTALLY FREE TOO (P. 63) with water, a blue washcloth, a Rodrigues7, who was a technician
ing of a sound performance, which brush, and a pot with blue paint. at LUMIERE between 1989 and
was presented in a Porto Alegre the- The actions consisted of washing, 1994, to remember the context of

86 87
english version english version

this production. We talked about the and held again only in 1987. Blanca of the original Estúdio 88 docu- formance in its relationship with different
post-production of our video perfor- Brites, former president of the in- ments—which were less handled and cultures.
mances, the equipment and proce- stitution, commented that the 1990 better preserved. Elaine now refers 4 A female orixá in African religions. The
dures we used, and the differences edition was reshaped to include “all to these recordings of our actions image was a gift from my maternal grand-
between editing art and institutional languages, such as video and perfor- and performances as “numb, silent mother who, in her mature phase, began to
videos. Mario says, “that was the VHS mance (...). This change means an ad- objects placed on the bookshelf.” join rites of the Umbanda religion. I keep a
boom. Videotapes were within reach aptation to the new times of artistic Despite that immobility (rest, idle- collection of photographs and video stills
of the average citizen, and compa- production in which electronic media ness, numbness) and place (book- of the first part of the performance.
nies realized and used it on a large achieved a considerable presence.”9 shelf), the tapes last, exist, resist, 5 Part of the performance can be
scale.” He recalls that “in the video The booklet of the event shows the and allow us to remember and to found here: https://www.youtube.com/
company there was an editing sta- names of all artists who joined the celebrate the “movement of things” watch?v=7Xy-N7KaVOc
tion with two videos and a remote process of Trabalhos para o Mundo. and, now, this publication.
6 Located at Lupicínio Rodrigues City
control able to synchronize the ma-
This work was also exhibited in the Center for Culture, Art, and Leisure, Porto
chines, a cassette (audio) player, Alegre.
and a turntable.” During the editing, project Vídeo na Segunda [Video on
Emotion is the movement by which
artists’ processes and needs “were Mondays], held by the Porto Alegre the spirit grasps the movement of 7 The interview was done by email, on
innovative... and because of the in- City Culture Department10, and pre- things, of beings, or its own. [...] December 15 and 17, 2018. Currently, Ma-
novations, you had to spend a lot of sented at Centro Cultural do DMAE Movement is the very spirit of things rio Lucio works at TV Educativa in Porto
on November 5, 1990. Before that, it and beings, it’s what makes us “vi- Alegre.
time adapting ideas to features of
was broadcasted by VT de Vanguar- brate inwardly”, in depth.
the equipment.” 8 That day, it was also shown the music
da [Avant-garde video], a tv show David Lapoujade video Screw You Susie Doll by rock group
At the end of post-production, we of TVE (Rio Grande do Sul’s public DeFalla, directed by Beto Souza and Alex
made three VHS copies of the video. channel) and TV Cultura (public sta- Sernambi, and made with footages record-
This material was shown in several tion of São Paulo, Rio de Janeiro, and ed with old Super-8 film and interferences
places, such as the opening party Salvador) on June 30, 1990. Marion Velasco created by Lucia Koch, Marijane Ricache-
of Trabalhos para o mundo8, which neisky, Luisa Meyer, and I.
took place on June 4, 1990, at the Unfortunately, the excessive use of
9 Published in Zero Hora newspaper on
Porto de Elis theater in Porto Alegre. the videotapes and the moist weath- 1 In my doctoral thesis, faLei em Voz ALTA”: September 11, 1990.
er of Porto Alegre deteriorated the ERRAGEM, Voz e Outros Sons em Perfor-
Then Trabalhos para o Mundo was recordings, resulting in the loss of mances Sônicas (2017, p. 61-62), I present 10 The research about the exhibition was
selected for the 9º Salão de Artes the material. information about the soundtracks that developed at the Documentation and Re-
Plásticas show of Porto Alegre City were used and links to other documents. search Center of MARGS.
Council, exhibited with a TV and a It is interesting to think that the ed- Available at: https://lume.ufrgs.br/han-
VHS player at MARGS – Art Museum ited documents promoted the diffu- dle/10183/165242

of Rio Grande do Sul, from Septem- sion of the videos produced in Estú-
2 The company LUMIERE Produções was
ber 11 to October 14, 1990. dio 88 and only lasted for the time
located at Osvaldo Aranha Avenue, in
of those broadcastings. Today, the Porto Alegre. Located today in another ad-
At the time, the local press empha- circulation of this work is demon- dress, it continues to work with video pro-
sized that this regional event was strated in testimonies, scholarship duction and new activities such as video
created and organized by Francisco records, press releases, and articles streaming, TV studio, live broadcast units,
Lisboa Association. Although regu- published in the local press and etc.: http://lumiere.com.br
larly held from 1953 to 1960, during booklets of the events in which they
3 Religious imagery was one of the issues
the Brazilian military dictatorship were shown. raised in the project sent to CNPq, pro-
(1964-1985), the activities and posing a broadening of the study of per-
awards of the event were suspended, Luckily, part of our artistic produc-
tion was updated by the digitization
88 89
Marion Velasco

1988, Praça do Dmae,


Porto Alegre

90 91
Agradecimentos

Carlos Pasquetti, Guto Lacaz, Adauany Pieve Zimovski e


Departamento de Artes Visuais da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul.

Aos participantes: Adriana Torres, Álvaro RosaCosta,


Claudia Sacks, Flávio Roberto Gonçalves, Ignês Borgese,
João Guimarães, Lígia Petrucci, Lucia Koch, Mauro Garcia
Dahmer, Mara Álvares, Marion Velasco, Otávio Schneiders,
Paulo Biurrum, Richard John, Paulo Campos, Lia Menna
Barreto e Vasco Piva.

Imagem da capa: Elaine Tedesco


Design gráfico: Lu Rabello_vinco estúdio
Tradução: Ricardo Romanoff

editora azulejo arte impressa

Pesquisa
Videoarte: o audiovisual sem destino
92 93
94

Você também pode gostar