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Unidade I

ESTRATÉGIA DE LEITURA DE
TEXTO NÃO VERBAL

Prof. Adilson Oliveira


Semiótica visual:
os percursos do olhar

Texto:
 É uma relação entre um plano de
expressão e um plano de conteúdo.
 Plano de conteúdo: significado do texto.
 Plano de expressão: manifestação do
conteúdo em um sistema de significação
verbal, não verbal ou sincrético.

 Sistema verbal: línguas naturais.


 Sistema não verbal: música, artes
plásticas.
 Sistema sincrético: várias linguagens.
(canções, filme etc.)
Texto não verbal

 Plano de conteúdo: significado do texto.

Ex: futebol, natureza, nudez etc.


 Plano de expressão: manifestação do
conteúdo em um sistema de significação
não verbal.

Ex: linear, pictórico etc.


Plano do conteúdo: a nudez
Fotografia

Análise do plano do conteúdo da fotografia


de E. Boubat:
 Nu: natureza x cultura.
 Natureza: é figurativizada
no busto nu.
 Cultura: é figurativizada
nos adereços (arranjo
do cabelo e o tecido que
envolve a cintura).

 Nu deixa de ser simplesmente o despido,


a natureza, e passa a ser o nu
articulado com valores culturais.
Pintura: a nudez

 Conteúdo: corpos femininos.


 Obra de Botticelli: as mulheres são
esguias.
 Obra de Rubens: as mulheres são
robustas.
 Antes de retratar corpos, estes são postos
em discursos de estéticas contrárias.
“A primavera” “As três graças”
Botticelli Rubens
Conteúdo: valorização

 Valorização prática: valores


de uso (utilitários: manuseio,
conforto, potência...).
Ex: foto ou desenho do corpo
em um livro de biologia.
 Valorização utópica: valores
existenciais (identidade, vida, aventura...)
Ex: foto de uma atriz ou foto de moda.
 Valorização lúdica: valores artísticos
(refinamento, luxo...)
Ex: fotos, pinturas, esculturas.
 Valorização crítica: relações
qualidade/preço, custo/benefício.
Ex: foto denotando sensualidade em parte
do corpo (fetiche por pé).
Plano da expressão

 Estilo linear: traçado feito por meio de


linhas; próprio do Classicismo.
(Botticelli)
 Estilo pictórico: traçado feito por meio
de manchas; próprio do Barroco.
(Caravaggio)
Caravaggio
Botticelli
Estilo linear

 Disposição de imagens representadas em


planos.
 Formas fechadas pelas linhas.
 Pluralidade de elementos descontínuos.
 Clareza na disposição.

“Nascimento de Vênus”, Boticelli


Estilo pictórico

 Plasticidade com manchas.


 As manchas formam profundidade.
 Imagens com formas abertas, sem os
limites das linhas do estilo linear.
 Formas abertas criam unidade entre os
elementos mostrados por meio de uma
obscuridade de sombras.

Davi com a
cabeça de Golias
Caravaggio
Categorias da expressão

Linear Pictórica
desenho linha mancha
contornos fechados abertos
disposição plano profundidade
totalidade multiplicidade unidade
clareza absoluta relativa
Interatividade

Em texto não verbal:


I. É mais relevante o entendimento do
conteúdo.
II. É mais relevante o entendimento da
expressão.
III. Existe a relação entre conteúdo e
expressão.
a) Apenas I está correta.
b) Apenas II está correta.
c) Apenas III está correta.
d) Apenas I e II estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão
corretas.
Resposta

Em texto não verbal:


I. É mais relevante o entendimento do
conteúdo.
II. É mais relevante o entendimento da
expressão.
III. Existe a relação entre conteúdo e
expressão.
a) Apenas I está correta.
b) Apenas II está correta.
c) Apenas III está correta.
d) Apenas I e II estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão
corretas.
Texto sincrético

texto sincrético

 Articulação entre sistema semiótico


plástico com sistema semiótico verbal.
 Palavras: função de ancoragem (quando
as palavras explicam a imagem). Ex:
legenda de fotos jornalísticas.
 Palavras: função de etapa (quando entre
palavra e imagem ocorre relação
complementar, que se resolve na relação
complementar). Ex: diálogos das HQs.
Texto sincrético

 Fotografia e legenda: função de etapa.


 Legenda: “Procura-se Marighela”.
 Sem a dimensão verbal, texto reduz-se à
imagem de um homem desnudo, que
aponta para o peito com uma das mãos.

Veja, nº 11
11/11/1968
Texto sincrético

 Carlos Marighela representa um dos


nomes mais importantes da resistência
contra o fascismo brasileiro;
assassinado durante a ditadura de 64, foi
considerado, pelo Governo, inimigo
público nº 1.
 A cicatriz apontada em seu peito foi feita
pela bala que o atravessou durante uma
emboscada feita por policiais políticos.
 Fotografia: orienta-se pela categoria
semântica opressão x liberdade.
Texto sincrético

 Texto verbal da fotografia: “Procura-se


Marighela”.
 Voz passiva sintética.
 Marighela é o sujeito, o “-se” é pronome
apassivador.
 Marighela é procurado por alguém.
 “alguém” é indefinido.
 O pronome “-se” tem função de ocultar o
sujeito.
Texto sincrético

 Assim, não se diz quem procura


Marighela; a frase na legenda fica
impessoal.
 Não se mostram também os motivos
para a procura de Marighela.
 Se a frase fosse: “A polícia política da
ditadura militar procura Marighela”: o
papel social dos perseguidores ficaria
explicitado.
Texto sincrético

 A legenda “Procura-se Marighela” e o


tipo de fonte remetem à famosa frase
usada na perseguição aos “foras da lei”.
 Texto está construído na estilização
(estilo) das fotos dos bandidos.
 O texto da legenda afirma a
opressão, que vem negada
pela imagem de Marighela.

Texto verbal: função de etapa.


Texto sincrético: livro infantil

Fragmento do livro “Borboleta Azul”, de


Lenira Almeida Heck.
“Cansada de voar, a Borboleta Azul pousou
sobre um poste e, do alto, ficou a observar
o vaivém dos homens.”
Borboleta Azul

 Palavras e imagem: mesmo conteúdo.


 Palavras explicam (repetem o mesmo
conteúdo) a imagem.

função de ancoragem
O livro segue a vertente tradicional das
obras para o público infantojuvenil:
 Criatividade é desconsiderada.
 Entre as temáticas tradicionais –
paisagens, vultos familiares, patrióticos –
a autora explora de bichos.
Texto sincrético: texto infantil

 MACHADO, Ana Maria. O gato do mato e


o cachorro do morro. SP: Ática.
 Ex: imagem e palavra: função de etapa.
Texto de Ana Maria Machado

 Figura visual: construção de formas por


meio da semelhança e do contraste entre
linhas, figuras, planos, cores e espaços.
 As formas visuais não têm compromisso
de fidelidade à reprodução dos objetos
da realidade visível.
 As figuras visuais opõem-se a qualquer
representação verossímil que tente dar a
ilusão de realidade.
 Na obra, ocorre integração das figuras:
gato/mato; cachorro/morro.
Texto sincrético

 Há técnica da perspectiva e da
centralização na linha do horizonte, que
divide o quadro em dois planos básicos:
o primeiro, frontal (figura), e o segundo,
secundário e mais distante (fundo).
Interatividade

Sobre a tirinha, indique a afirmação falsa:


a) A palavra e a imagem complementam-se.
b) O humor no último quadro é entendido
pela interação verbal e imagem.
c) A imagem supera em entendimento.
d) A forma animal – urubu – não pode ser
substituída por outro bicho para não
corromper o sentido do texto.
e) A tirinha é um texto sincrético.
Resposta

Sobre a tirinha, indique a afirmação falsa:


c) A imagem supera em entendimento.
Texto não verbal: ritmo

 Ritmo: palavra polissêmica.


Música:
a) Ritmo é andamento da música; a
velocidade com a qual se executa uma
peça musical; classifica-se em: adagio,
andante e allegro.
b) Ritmo é um gênero musical; por meio de
uma divisão regular de acentuação de
tempos fortes e fracos, temos: samba,
baião, maracatu, rock, jazz etc.
Texto não verbal: música

 O que lemos na música “Garota de


Ipanema”, de Tom Jobim e Vinícius de
Moraes?
Texto não verbal: música

 Ritmo: bossa nova (tipologia).


 Ritmo: andamento é andante.
 Há contraste rítmico entre a 1ª parte e a
2ª parte da música.
 1ª parte: descreve o desfile da garota de
Ipanema; o ritmo é mais acelerado; há
mais acentos tônicos; essa parte é mais
rítmica que melódica.
 2ª parte: descreve o estado passional do
enunciador-enunciado; ritmo menos
acelerado; essa parte é mais melódica
que rítmica.
Ritmo na música

Da 1ª para a 2ª partes, não muda a


batida ou andamento, mas a forma de
subdividir os acentos tônicos e átonos.
 Categoria tonicidade: tônicos x átonos.
 Tonicidade: estabelece a forma na qual
os acentos podem ser sentidos em
relação a essa extensão. Assim:
 Quanto mais acentos tônicos, mais
marcações e mais ritmo.
 Quanto menos ritmo, mais duração
melódica.
Texto não verbal: ritmo

 Se há um ritmo acelerado e outro


desacelerado em uma música, pode-se
falar em uma pintura acelerada e em
outra desacelerada?
 Na música, as marcações tônicas são da
ordem do tempo e sua realização é uma
duração; na pintura, são da ordem do
espaço e sua realização é uma
localização.
Ritmo na pintura

 Pintura “Composição com traços


cinzentos”, de Mondrian.
 Tem mais ritmo.
 É mais acelerada.

pintura “Composição
com amarelo”, de
Mondrian.
Tem mais melodia.
É mais desacelerada.
Conteúdo e expressão

Texto verbal, plástico ou musical:


 2 planos: conteúdo e expressão.
Conteúdo e expressão:
 Têm o mesmo ritmo ou têm ritmos
contrários.
Ritmo

Garfield, Jim Davis


Na tirinha de Garfield:
 Ritmo no plano do conteúdo e no plano
da expressão é o mesmo: aceleração.
Categorias

Fotografia, pintura, HQ:


 Bidimensionais.
 Elementos plásticos: relação linear x
relação planar.
 Relação linear: colocação dos elementos
lado a lado no espaço.

categoria: intercalado x intercalante


 Relação planar: colocação dos
elementos uns em torno dos outros

categoria: circundado x circundante


Categorias

 Na tirinha de Garfield, a relação é linear


(elementos – abóbora e gato – estão lado
a lado).
Interatividade

Assinale a alternativa correta:

a) A fotografia é um texto sincrético.


b) O conteúdo é a disposição clássica de
jogadores de futebol para posar para
fotografia.
c) A relação é fundamentalmente planar.
d) Os elementos estão dispostos apenas
linearmente.
e) O ritmo é acelerado.
Resposta

Assinale a alternativa correta:

a) A fotografia é um texto sincrético.


b) O conteúdo é a disposição clássica de
jogadores de futebol para posar para
fotografia.
c) A relação é fundamentalmente planar.
d) Os elementos estão dispostos apenas
linearmente.
e) O ritmo é acelerado.
Escultura e arquitetura

Monumento de Vitor Brecheret

Estatueta de Vitalino Ferreira dos Santos


Escultura e arquitetura

Texto de Vitor Brecheret e Vitalino Ferreira:


 Feitos em materiais e tamanhos
diferentes.
 Brecheret é destaque da escultura
moderna brasileira e “Monumento às
Bandeiras” é uma obra única; Vitalino é
artesão popular, e seus “Retirantes”,
com pequenas variações, são modelo
repetido por ele e por outros do meio.
 No plano do conteúdo, as esculturas
divergem: na de Brecheret é o fazer
migrador explorador dos bandeirantes,
na do mestre Vitalino é o fazer
migrador dos retirantes.
Plano da expressão

No entanto, ambos têm algo em comum:


elemento plástico.
 Nas esculturas: colocam-se seus
personagens em fila

categoria anterioridade x posterioridade


Plano da expressão

anterioridade posterioridade
Plano do conteúdo

 “Monumento às Bandeiras”: trata do


processo de expansão de território;
imposição de uma civilização em lugar
selvagem.
Colocados em fila, os bandeirantes
caminham da anterioridade para
posterioridade:
natureza não natureza cultura
 “Retirantes”: trata da seca do Nordeste.
 Colocados em fila, os retirantes
caminham da anterioridade para
posterioridade:
morte não morte vida
Arquitetura

 Prédio da FAU (Faculdade de Arquitetura


e Urbanismo – USP), arquitetado por
Vilanova Artigas.
 Desafio para o leitor: entender como o
teto, enorme e pesado, pode ficar
equilibrado em apoios cilíndricos.
Arquitetura

 Parte interna do prédio da FAU.

 Liberdade no tratamento do espaço:


ocupação das laterais e um grande vazio
central, formando a praça.
 Cobertura retangular, com grelha
tridimensional com domos translúcidos.
 Rampas de ligação entre diversos níveis.
 Continuidade dos espaços.
Plano de expressão

Categoria formal:
 continuidade x descontinuidade

 A comunicação por rampas prevalece


sobre as ligações por escadas; as
rampas interligam o subsolo, térreo
e os andares.
Plano de expressão

 Prédio da FAU: o volume, em sua


construção, é orientado pela articulação
de planos horizontais e verticais.
 Esses planos constroem o chão por
onde se caminha e as paredes que
definem seus limites.
 A categoria continuidade x
descontinuidade realiza-se na categoria
horizontal x vertical.
Plano do conteúdo

 O plano do conteúdo relaciona-se com


a continuidade/horizontalidade na
expressão do espaço coletivo; o privado
relaciona-se com a descontinuidade/
verticalidade na expressão do mesmo
espaço.
 Texto arquitetônico – prédio da FAU: o
espaço público, contudo, continua a se
realizar dentro da construção, distribuído
por seus andares; as rampas e os
corredores amplos maximizam o efeito
de continuidade.
Interatividade

Sobre o texto de uma planta de prédio


residencial, pode-se afirmar:
a) No plano da expressão, ocorre apenas a
categoria de continuidade.
b) Proteção de grade descreve a
continuidade do espaço coletivo.
c) A verticalidade, marcada pelos andares,
constitui-se de espaço privado.
d) Trata-se de um texto sincrético.
e) No plano do conteúdo, encontra-se o
efeito de continuidade na verticalidade
do prédio.
Resposta

Sobre o texto de uma planta de prédio


residencial, pode-se afirmar:
a) No plano da expressão, ocorre apenas a
categoria de continuidade.
b) Proteção de grade descreve a
continuidade do espaço coletivo.
c) A verticalidade, marcada pelos andares,
constitui-se de espaço privado.
d) Trata-se de um texto sincrético.
e) No plano do conteúdo, encontra-se o
efeito de continuidade na verticalidade
do prédio.
ATÉ A PRÓXIMA!

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