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Tfc. Vindi 2021
Tfc. Vindi 2021
Fontes Históricas
Conceito e Tipologia
As fontes históricas têm sido definidas como vestígios deixados pelos nossos
antepassados ou nossos ancestrais nos lugares onde viveram, tal como
enfatiza Pinsky (2006), é tudo aquilo que produzido pelo homem ou trazendo
vestígios da sua interferência pode nos proporcionar um acesso à
compreensão humana.
De acordo com Silva & Silva (2009) “a herança material e imaterial deixada
pelos antepassados é que serve de base para a construção do conhecimento
histórico” (p. 158). Esta ideia é reforçada por Padilha & Nascimento (2015), que
salientam o forte contributo que as fontes históricas têm na construção da
história, reforçando, ainda, que a sua utilização possibilita uma maior
compreensão dos acontecimentos históricos. Do mesmo modo, permitem o
acesso ao passado, o qual já não podemos vivenciar, nem alcançar
directamente (Marrou, 1976). Este autor salienta ainda que muitas fontes que
possuímos são representadas “ pelos documentos arqueológicos, as
inscrições, os papiros descobertos ao acaso das escavações” (p.63).
Com o passar dos anos, o conceito de documento foi alterado e foi necessário
reflectir e interpretar o que “nos diziam”. As fontes históricas passaram a ser
relacionadas com os termos registo e vestígio (Silva & Silva, 2009). Em curtos
traços e segundo o dicionário online Priberam (2018), registo é o acto de
registar, conservar factos ou actos e vestígio é um rasto ou pegada deixada
“Aquilo que fica ou sobra do que desapareceu ou passou.” (Priberam, 2018,
para. 1).
A importância da oralidade
A linguagem oral é um dos aspectos fundamentais de nossa vida, pois é por
meio dela que nos socializamos, construímos conhecimentos, organizamos.
nossos pensamentos e experiências ingressaram no mundo. Assim, ela amplia
nossas possibilidades de inserção e de participação nas diversas práticas
sociais.
Fontes orais são relatos transmitidos por meio das palavras, como mitos,
fábulas, músicas e a poesia não-escrita, e ajudam a compreender o dia-a-dia
de um povo e como compreendem a natureza.
As fontes orais podem ser entendidas também como materiais gravados por
um historiador atendendo às necessidades de sua pesquisa, em função de
objectivos e hipóteses bem específicos. Cabe destacar que a tendência hoje é
preferir a expressão “fonte oral” no lugar de “história oral”, pois tem a vantagem
de banalizar o procedimento, visto que todo pesquisador do muito
contemporâneo tem naturalmente, sem fazer muito alarde, o recurso às
testemunhas orais (FRANK, 1999, p. 105).
“Os projectos de História oral diferem dos demais por tratar de matéria que se
relaciona com as pessoas, seres vivos, alcançáveis, que se valem de
narrativas decorrentes da memória que é sempre: dinâmica, variável e,
sobretudo selectiva” (MEIHY; RIBEIRO, 2011, p. 69). Daí necessidade de todo
um planejamento e conhecimento a priori do que se pretende estudar em um
projecto de História oral.
Para realização das entrevistas é necessário um roteiro geral que embaçará os
roteiros individuais dos entrevistados.
O roteiro geral tem dupla função: sistematiza os dados levantados durante a pesquisa
exaustiva sobre o tema e permite a articulação desses dados com as questões que
impulsionaram o projecto, orientando, dessa forma, as actividades subsequentes. Ele deve
reunir um cronograma minucioso do tema tratado, análises sobre o assunto e dados sobre
documentos considerados centrais, como leis, atas, manifestos etc. Ao longo da pesquisa, o
roteiro geral sofrerá alterações, incorporando-se-lhe informações e interpretações obtidas nas
entrevistas e em outras fontes. (ALBERTI, 2015, p. 176).
A entrevista de História é, antes de mais nada, uma relação entre pessoas diferentes, com
experiências diferentes e muitas vezes de gerações diferentes. Em geral, o entrevistado é
colocado diante de uma situação sui generis, na qual é solicitado a falar sobre sua vida a uma
pessoa quase estranha e ainda por cima diante de um gravador ou câmara. Por isso convém
reservar um tempo relativamente longo para realização da entrevista. Um depoimento de
menos de uma hora de duração dificilmente rende tudo o que poderia. Em geral considera-se
que a duração de uma sessão deve ser de aproximadamente duas horas, mas há sessões que
se estendem por mais tempo. Muitas vezes ocorre de entrevistado e entrevistador
encontrarem-se várias vezes, como no caso das entrevistas de História de vida.
Realizar uma entrevista não é uma tarefa fácil, o entrevistador tem que estar
atento a todas as etapas que norteiam a entrevista. Paralelamente a realização
da entrevista é interessante ter um caderno de campo, para registo das
expressões da entrevista e análise do andamento do mesmo.
A História oral testemunhal se faz imperiosa em caso de entrevistas com pessoas ou grupos
que padeceram torturas, agressões físicas relevantes, ataques, exclusões, marcas que
ultrapassam a individualidade. Por afectar gerações ou interferir no andamento das relações
sociais, esses eventos merecem tratamentos especiais e justificam o„ trabalho de memórias,
que ganha condição de dever social. (MEIHY; RIEBEIRO, 2011, p. 86).
Entrevista com pessoas que tenham passado por algum trauma merecem
cuidados, ética, é preciso deixa o narrador à vontade, nesse caso melhor
valorizar os estímulos do que perguntas objectivas, dando mais condição de
escolha para o entrevistado.
Quase sempre, a História oral temática equivale à formulação de documentos que se opõem às
situações estabelecidas. A contundência faz parte da História oral temática que se explica no
confronto de opiniões firmadas. Assim, por natureza, a História oral temática é sempre de
caráter social e nela as entrevistas não se sustentam sozinhas ou em versões
únicas. (MEIHY, HOLANDA, 2017, p. 38).
Tradição oral
Tradição oral, é uma mensagem transmitida de uma geração para a seguinte.
A tradição oral propriamente dita transmite evidências para as gerações
futuras.
A origem de Tradição oral pode repousar num testemunho ocular ou num boato
ou numa nova criação baseada em diferentes textos orais existentes,
combinados e adaptada para criar uma nova mensagem. Mas somente as
tradições baseadas em narrativas de testemunhos oculares são realmente
válidas (Vansina, p. 141).
As tradições incluem o verbalismo e a transmissão oral, sustenta Vansina, que
inclui «não apenas depoimentos como crónicas orais de um reino ou
genealogia de uma sociedade segmentaria, que conscientemente pretenderam
descrever acontecimentos passados, mas também da literatura oral que
fornecerá detalhes sobre o passado, muito valiosos por se tratar de testemunho
inconsciente e como fonte importante para a história das ideias, dos valores e
da habilidade oral» (Ibidem, p. 142).
José Redinha define a tradição como um «processo social onde o património
cultural se transmite de geração - a - geração por contacto e continuidade»
(RENDINHA, 1974, p. 325).
O autor Jan Vansina diz que a Tradição Oral consiste em «mensagens verbais
onde são relatadas declarações de geração actual que especifica que as
mensagens devem ser declarações orais faladas, cantadas, gritadas em
instrumentos musicas e que deve haver transmissão por palavras pelo menos
para uma geração». Ainda segundo ele «a tradição oral foi definida como
testemunho transmitido oralmente de uma geração a outra. Suas
características particulares são o verbalismo e sua maneira de transmissão.
Um documento oral pode ser definido de diversas maneiras, pois um indivíduo
pode interromper seu testemunho, corrigir-se, recomeçar, etc. O testemunho
consiste em todas as declarações feitas por uma pessoa sobre a mesma
sequência de acontecimentos passados, contanto que ele não tenha adquirido
novas informações entre as diversas declarações» (VANSINA, p. 140).
A tradição oral é uma das mais complexas formas de se trabalhar com História
Oral, pois se baseia na busca dos mitos fundadores e explicações não
racionais. “A complexidade da tradição oral reside no conhecimento do outro
nos detalhes auto-explicativos de sua cultura” (MEIHY; HOLANDA, 2017, p.
40). A tradição oral, não se limita apenas na entrevista, exige conhecimentos
profundos do conjunto mitológico no qual a comunidade organiza sua visão de
mundo.
A tradição oral, no caso, deve revelar além das estruturas e comportamentos do grupo a noção
de passado e presente daquela cultura. Ainda que a tradição oral também implique entrevista
com uma ou mais pessoas vivas, ela remete às questões do passado longínquo que se
manifesta pelo que chamamos de folclore e pela transmissão geracional, de pais para filhos ou
de indivíduos para indivíduos. (MEIHY; RIBEIRO, 2011, p. 92).
Os trabalhos com a tradição oral são de resultados mais lentos, pois exigem
uma observação constante do grupo, a entrevista deve abranger uma pessoa
que tem um grau maior de vivências e experiências na comunidade, mais
velha. “Nesse tipo de pesquisa o sujeito é mais colectivo e menos individual, e
por isso a carga da tradição comunitária é mais prezada e presente porque
continuada” (MEIHY, RIBEIRO, 2011, p. 93).
Nesse contexto, as Histórias orais ocupam o primeiro plano no conjunto mais amplo de estudos
inovadores sobre História social e cultural que tiveram profundo impacto revisionista sobre
conceitos de processo e explicação históricos, mesmo em áreas tradicionais como a da História
diplomática e política.
O principal alvo dessas críticas era a memória não ser confiável como fonte histórica porque
era distorcida pela deterioração física e pela nostalgia da velhice, por preconceitos do
entrevistador e do entrevistado e pela influência de versões colectivas e retrospectivas do
passado.
A memória como fonte, principalmente a memória colectiva tem sido objecto de
estudo de muitos pesquisadores. Para Frisch (2006, p. 75) “a memória
colectiva passou a fazer parte dos estudos históricos por muitos meios e
formas”. Este ainda destaca que:
São as sociedades cuja memória social é sobretudo, oral, ou que estão em vias de constituir
uma memória colectiva escrita, aquelas que melhor permitem compreender esta luta pela
dominação da recordação e da tradição, esta manifestação da memória.
A memória como fonte de conhecimento possibilita uma reinterpretação do
passado das sociedades humanas ao longo do tempo, permite outras leituras
das vivências colectiva e social de sua História. É importante ressaltar que a
memória individual está povoada do imaginário colectivo. A História oral, não
permite apenas uma reinterpretação da memória individual, mais uma
rememoração que necessariamente se associará a memória colectiva. “A
memória é um elemento essencial do que se costuma chamar de identidade,
individual ou colectiva, cuja busca é uma das actividades fundamentais dos
indivíduos e das sociedades de hoje.” (LE GOFF, 2013, p. 435).
Geralmente, estabelecer uma concordância entre fonte oral e escrita fica difícil
porque tratam de coisas diferentes. Um estrangeiro que escreve sobre um país
habitualmente se restringe a factos económicos e políticos, muitas vezes ainda
mal compreendidos. A fonte oral voltada para o interior menciona os
estrangeiros apenas de passagem; quando o faz. Assim sendo, em muitos
casos as duas fontes não têm nada em comum, ainda que se refiram ao
mesmo período. Casos de concordância, cronológica principalmente, são
encontrados em locais onde os estrangeiros se estabeleceram por tempo
suficientemente longo para se interessarem pela política local e entende-la.
Tem-se um exemplo disso no vale do Senegal a partir do século XVIII
.
Em caso de contradição entre fontes orais, deve-se escolher a mais provável.
A prática, muito difundida, de tentar encontrar um acordo não faz sentido.
Uma contradição flagrante entre uma fonte oral e uma fonte arqueológica se
resolve em favor da última, se esta for um dado imediato, isto é, se a fonte for
um objecto e não uma inferência, pois neste caso a probabilidade da fonte oral
pode ser maior. Um conflito entre uma fonte escrita e uma oral se resolve
exactamente como se tratasse de duas fontes orais. Devemos ter em mente
que a informação quantitativa escrita, de modo geral, é mais digna de
confiança, mas que a informação oral relativa aos motivos é geralmente mais
precisa que a das fontes escritas. Por fim, cabe ao historiador tentar
estabelecer o que é mais provável. Num caso extremo, se dispomos de apenas
uma fonte oral, cujas prováveis deformações pudemos demonstrar, devemos
interpreta-la tendo em conta as deformações e utiliza-la.
Diante do mundo acelerado por conta também da globalização, importante dizer que não se anula o
modo de percepção histórica do sujeito. Mas sim, coloca o sujeito como protagonista desse processo,
pois a ele cabe a tarefa de dá sentido a história a cultura do povo. Na dinâmica em que é posta a acção,
o sujeito muitas vezes deixa escapar a criatividade pela história e memória, que deixam de contribuir
para a manutenção da vida, que é história e pode ser contínua a partir da memória.
Desse modo, considera-se a história oral como um canal para uma visão mais
humanizada, pois são consideradas nesse modo de penetrá-la a proposta da
micro-história, a qual evidencia os pressupostos da história social trazendo a
baila as discussões de baixo para cima. A história oral encontrou seu lugar,
pois não se configura mais contra as críticas feitas a ela. Mas se posiciona no
campo da pesquisa e da produção histórica considerando o macro, o micro, o
social o político o individual voltada para uma prática historiográfica actual.
Porém, importante enfatizar que ao desenvolver esse processo, alguns
aspectos são necessários ressaltar para Portelli (1997), a história oral é
encarada como instrumento para fornecer informações sobre o passado, o que
lhe interessa é a subjectividade dos narrados. Portanto ainda de acordo com
Portelli, o respeito pelo valor e a importância que cada indivíduo tem se
configura como uma das principais lições de ética sobre a pesquisa na História
Oral. Onde cada indivíduo é em potencial um arcabouço de informação, e deve
ser visto como únicos nas suas narrativas.
Sobretudo, por se considerar as fontes orais uma das mais antigas maneiras
de produzir história, para Garrido (1992), a História Oral, desenvolveu-se em
situações e lugares em que a tradição de trabalho de campo da história
subsistia, a exemplo da história política, história agrária, história local.
Firmando-se numa proposta plural de fazer história. Alberti (1989: p. 52),
ratifica ao falar:
Porém, para desenvolvê-la alguns cuidados são necessários uma vez que
vamos lidar com subjectividades, na qual são as memórias individuais é o
agente ativo da história, cabendo então ao pesquisador à responsabilidade de
saber conduzir esse processo de forma ética. Segundo Portelli (1996). O
paradoxo da história oral e das memórias, incide na natureza da fonte -
pessoas não objectos, documentos, nesse aspecto são histórias de vida que o
entrevistado apresenta como sua história com suas particularidades e a
motivação para contar consiste no interesse em expressar o significado da
experiência, o que para ele tem uma importância impar, pois está narrando a
sua história e as subjectividades contida, sendo tecida pelo significado que se
dá pelos fatos narrados.
A identidade surge não tanto da plenitude da identidade que já está dentro de nós como
indivíduos, mas de uma falta de inteireza que é "preenchida" a partir de nosso exterior, pelas
formas através das quais nós imaginamos ser vistos por outros. Psicanaliticamente, nós
continuamos buscando a "identidade" e construindo biografias que tecem as diferentes partes
de nossos eus divididos numa unidade porque procuramos recapturar esse prazer fantasiado
da plenitude (HALL, 2006, p. 39).
Cultura
Quando aborda-se a cultura, a mesma poder ser analisada sob vários enfoques
antropológicos (ideias, crenças, valores, normas, atitudes, padrões de conduta,
abstracção do comportamento, instituições, técnicas e artefactos), artefactos
estes que decorrem da técnica, mas com a utilização condicionada através da
abstracção do comportamento, no qual as instituições ordenam padrões de
conduta, expressos por atitudes, normas, valores, crenças e ideias (MARCONI;
PRESSOTO, 2010).
Assim sendo, entende-se que a identidade cultural possui vários entraves para
sua definição, e que as principais análises de seu processo de identificação
devem estar ligadas a elementos próprios da cultura, sendo ela atrelada a uma
existência de uma essência que marca as diferenças entre povos e nações, e
que atualmente está ligada ao senso de pertencimento do indivíduo a
determinado grupo que o represente, em sua identidade.
ANGOLA
Concebem a identidade como um dado que definiria de uma vez por todas o indivíduo e que o
marcaria de maneira quase indelével. Esta preexistiria ao indivíduo que não poderia deixar de
aderir a ela, sob pena de se tornar um marginal, um “desenraizado”. Assim concebida, a
identidade surge como uma essência que não é susceptível de evoluir e sobre a qual nem o
indivíduo nem o grupo têm qualquer preensão (Cuche, 1999, p. 137).
A identidade cultural não pode ser reduzida à sua dimensão atributiva: não é uma identidade
recebida de uma vez por todas. A identidade etcnocultural não é mais que um sentimento de
pertença ou uma identificação com uma colectividade mais ou menos imaginária. O que conta
são as representações que os indivíduos formam da realidade social e das suas divisões
(Cuche, 1999, p. 139).
Os conhecimentos comuns aos habitantes das culturas locais, bem como todo o ambiente
físico (a organização do espaço, os edifícios, a natureza, etc.), são vistos como relativamente
fixos, persistem para além do tempo e podem mesmo incorporar rituais, símbolos e cerimónias
que contribuem para reforçar os elos que ligam os indivíduos a um lugar e a partilhar de um
sentimento comum face ao passado (p. 91).
Para fala da importância fundamental que literacia, o conhecimento da realidade popular tem
ou deveria ter para um sólido, enraizado e profundo desenvolvimento, nada melhor do que
recorrer à sabedoria dos mestres e desafiar cada terra, cada aldeia, cada freguesia, cada
bairro, cada escola dos mais diversos níveis a recolherem, estudarem, conhecerem e
divulgarem os usos e costumes da sua terra.