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Curso de Direito Comercial 11 Edicao
Curso de Direito Comercial 11 Edicao
COMERCIAL
DIREITO
Curso de
Curso de
História do Direito Comercial – um breve relato • Como
GUSTAVO utilizar o Código Comercial e a legislação esparsa• A
Teoria dos Atos de Comércio versus a Teoria da Empresa JOSÉ MARIA
DIREITO
RIBEIRO ROCHA • Empresa, microempresa e empresa de pequeno porte •
O empresário • Registro público de empresas mercantis e ROCHA FILHO
registro da propriedade industrial • Escrituração mercantil
Mestre em Direito Em- Ex-Professor de Direi-
• Nome empresarial • Marcas • Estabelecimento comercial
presarial pela Faculdade e título de estabelecimento • Invenções, modelos e desenhos to Comercial das Facul-
COMERCIAL
de Direito “Milton Cam- • Concorrência desleal • Sociedades simples e sociedades dades “Milton Campos”;
pos”; Professor de Direito empresárias • História do Direito Cambial – um breve relato Membro do Instituto Bra-
Empresarial das Facul- • Declarações cambiárias • Vencimento e pagamento • sileiro de Direito Comer-
dades “Milton Campos” e Protesto cambial • Da ação cambial • Letra de câmbio e cial Comparado e Biblio-
nota promissória • Cheque • Duplicata • História do Direito
11ª ED.
direito • administração de empresas • ciências contábeis
recomendado a:
2024
alunos • professores • profissionais
revista,
atualizada e
ampliada
+ exercícios
ISBN de fixação.
teoria geral da empresa, direito
societário, títulos de crédito, falência
e recuperação de empresas
11ª ed.
Gustavo Ribeiro Rocha
José Maria Rocha Filho
+ exercícios de fixação
2024
Conselho Editorial Editor Chefe
Doutor Cláudio Roberto Cintra Bezerra Brandão Plácido Arraes
Professor Titular da Universidade Federal de Pernambuco – Brasil
Editor
Doutora Sílvia Isabel dos Anjos Caetano Alves Tales Leon de Marco
Professora da Universidade de Lisboa – Portugal
Produtora Editorial
Doutor Georges Martyn Bárbara Rodrigues
Professor da Universidade de Ghent – Flanders/Bélgica
Capa, projeto gráfico
Doutora Agata Cecília Amato Mangiameli Nathália Torres
Professora da Universidade de Roma II – Itália
Diagramação
Doutora Ana Elisa Liberatore Silva Bechara Christiane Morais de Oliveira
Professora Titular da USP – Brasil Bárbara Rodrigues
Letícia Robini
Doutor Stelio Mangiameli Enzo Zaqueu Prates
Professor da Universidade de Teramo – Itália
WWW.EDITORADPLACIDO.COM.BR INSTAGRAM/EDITORADPLACIDO
ISBN
CDDir: 342.2
Os Autores.
SUMÁRIO
Capítulo 1
HISTÓRIA DO DIREITO COMERCIAL – um breve relato 29
1. INTRODUÇÃO 31
2. ABRANGÊNCIA DO DIREITO COMERCIAL/EMPRESARIAL 32
3. CONCEITO DE COMÉRCIO 36
4. EVOLUÇÃO DO DIREITO COMERCIAL/EMPRESARIAL 39
5. DIVISÃO DO DIREITO PRIVADO 56
6. OBJETO DO DIREITO COMERCIAL/EMPRESARIAL 58
7. FONTES DO DIREITO COMERCIAL/EMPRESARIAL 59
8. USOS E COSTUMES COMERCIAIS 61
9. TRANSCRIÇÃO DO ASSENTAMENTO DO USO E COSTUME
RELATIVO AO CHEQUE VISADO, FEITO PELA JUNTA
COMERCIAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS 63
10. PARTICULARIDADES DO DIREITO COMERCIAL/EMPRESARIAL 64
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 65
Capítulo 2
COMO UTILIZAR O CÓDIGO COMERCIAL E A LEGISLAÇÃO ESPARSA 67
1. UMA PEQUENA ADVERTÊNCIA 69
2. COMO SE LÊ UM LIVRO 69
3. ESTRUTURA DO CÓDIGO COMERCIAL 69
Capítulo 3
A TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO versus A TEORIA DA EMPRESA 73
1. INTRODUÇÃO 75
2. SISTEMAS LEGISLATIVOS 80
3. ATIVIDADE MERCANTIL E ATIVIDADE CIVIL – DIFERENÇA 82
4. SITUAÇÃO DA SOCIEDADE ANÔNIMA, DA FIRMA INDIVIDUAL
E DA EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA 85
5. EMPRESAS CIVIS/SOCIEDADES SIMPLES 87
6. EMPRESAS COMERCIAIS/SOCIEDADES EMPRESÁRIAS 90
7. REGISTRO DE EMPRESAS 92
8. CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS DE COMÉRCIO 94
9. TEORIA DOS ATOS MISTOS OU BIFRONTES 94
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 95
Capítulo 4
EMPRESA, MICROEMPRESA E EMPRESA DE PEQUENO PORTE 97
1. INTRODUÇÃO 99
2. NOÇÃO JURÍDICA DE EMPRESA 99
3. ESPÉCIES DE EMPRESA 101
4. COMO CONCEITUAR A EMPRESA 102
5. PROJETO DE LEI SOBRE EMPRESA MERCANTIL 105
6. A MICROEMPRESA E A EMPRESA DE PEQUENO PORTE 111
7. CONCEITO DE MICROEMPRESA E EMPRESA
DE PEQUENO PORTE: EVOLUÇÃO 112
8. NOVA E ATUAL SITUAÇÃO DA MICROEMPRESA E DA EMPRESA
DE PEQUENO PORTE E O MICROEMPREENDEDOR INDIVIDUAL 118
9. MODELO DE DECLARAÇÃO PARA ENQUADRAMENTO
OU DESENQUADRAMENTO: SUGESTÃO 129
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 129
Capítulo 5
O EMPRESÁRIO 131
Capítulo 6
REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS E
REGISTRO DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL 175
1. INTRODUÇÃO 177
2. REGISTROS PÚBLICOS À DISPOSIÇÃO DOS EMPRESÁRIOS 177
3. O REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS 179
4. ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO DO REGISTRO
PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS 179
4.1. O Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC) 180
4.2. A nova estrutura do Registro Público de
Empresas Mercantis e Atividades Afins 180
4.3. As Juntas Comerciais 184
4.4. A Junta Comercial do Estado de Minas Gerais (JUCEMG) 186
4.5. Questões judiciais - Competência para conhecimento 187
4.6. Efeitos e conteúdo do Registro Público de Empresas Mercantis 188
4.7. O regime sumário 188
4.8. Contrato social padrão 189
5. O REGISTRO DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL 190
5.1. O Código da Propriedade Industrial 191
5.2. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) 191
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 192
Capítulo 7
ESCRITURAÇÃO MERCANTIL 195
1. INTRODUÇÃO 197
2. CONTABILIDADE E ESCRITURAÇÃO 198
3. MÉTODOS DE ESCRITURAÇÃO 199
3.1. O método das Partidas Simples 199
3.2. O método das Partidas Dobradas 199
4. A ESCRITURAÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO 200
5. OBRIGAÇÕES COMUNS A TODOS EMPRESÁRIOS
E SOCIEDADES EMPRESÁRIAS 202
6. O “SEGREDO DOS LIVROS” 202
7. LIVROS COMERCIAIS 205
7.1. Livro obrigatório comum 205
7.2. Livros facultativos 206
7.3. Valor probante dos livros comerciais 207
7.4. Exibição judicial dos livros comerciais 208
7.5. Onde devem ser exibidos os livros comerciais 209
8. LIVROS FISCAIS 209
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 210
Capítulo 8
NOME EMPRESARIAL 213
1. INTRODUÇÃO 215
2. REGISTRO E PROTEÇÃO DO NOME EMPRESARIAL 215
3. NATUREZA JURÍDICA DO NOME EMPRESARIAL 217
4. ESPÉCIES DE NOME EMPRESARIAL 217
5. COMO SE FORMA UMA FIRMA OU RAZÃO COMERCIAL/EMPRESARIAL 218
5.1. Sistema da liberdade plena 218
5.2. Sistema da veracidade ou da autenticidade 219
5.3. Sistema das firmas derivadas ou eclético ou misto 223
6. COMO SE FORMA UMA DENOMINAÇÃO SOCIAL 223
7. NOMES DAS SOCIEDADES SIMPLES E EMPRESÁRIAS 226
8. DISTINÇÃO ENTRE FIRMA OU RAZÃO E DENOMINAÇÃO SOCIAL 229
9. VANTAGEM DA DENOMINAÇÃO SOCIAL 230
10. NOME HÍBRIDO 230
11. NOMES EMPRESARIAIS NÃO REGISTRÁVEIS 232
12. ALIENABILIDADE DO NOME EMPRESARIAL 233
13. “COLIDÊNCIA” DE NOMES EMPRESARIAIS 234
14. NOME EMPRESARIAL E MARCA: CONFLITO 235
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 239
Capítulo 9
MARCAS243
1. INTRODUÇÃO 245
2. CONCEITO DE MARCA 245
3. ANÁLISE DA LEI N. 9.279/96 - ARTS. 122 A 182 245
3.1. Marca: onde usar e espécies 246
3.2. Formas de apresentação de uma marca 248
3.3. Quem pode pedir o registro de uma marca 249
3.4. O que pode ser registrado como marca 249
3.5. O que não pode ser registrado como marca 249
3.6. Requisitos básicos para o registro 252
3.7. Marcas procedentes do exterior 253
3.8. Pedido de registro de uma marca 253
3.9. Registro de marca figurativa ou mista – Uma exigência a mais 253
3.10. Onde se faz o registro de uma marca 255
3.11. Efeitos do registro da marca 255
3.12. Sistemas legislativos 256
3.13. Obrigações do titular da marca e perda dos direitos 256
3.14. Duração de um registro de marca ou de sua proteção 256
3.15. Cessão, alteração de nome e de endereço do
titular e contrato de exploração de marca 257
3.16. Quando se perde um registro de marca 260
3.17. Nulidade do registro 261
3.18. Contrato de licenciamento de marca 263
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 268
Capítulo 10
ESTABELECIMENTO COMERCIAL E TÍTULO DE ESTABELECIMENTO 271
1. INTRODUÇÃO 273
2. ESTABELECIMENTO COMERCIAL 273
2.1. Conceito 273
2.2. Fundo de comércio, azienda e fundo de negócio 274
2.3. Composição do estabelecimento comercial 274
2.4. Natureza jurídica do estabelecimento comercial 276
2.5. Elementos do estabelecimento comercial 277
2.5.1. O capital 277
2.5.2. O trabalho 284
2.5.3. A organização 284
3. TÍTULO DE ESTABELECIMENTO 285
4. CONTRATO DE ALIENAÇÃO DO ESTABELECIMENTO 286
4.1. Modelo de contrato de alienação do estabelecimento 290
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 294
Capítulo 11
INVENÇÕES, MODELOS E DESENHOS 297
1. INTRODUÇÃO 299
2. ANÁLISE DA LEI N. 9.279/96 - ARTS. 6º A 121 300
2.1. Autor da invenção ou do modelo de utilidade 300
2.2. O que é patenteável 302
2.3. Direito de Prioridade 303
2.4. Pedido de patente 303
2.5. Duração da patente 304
2.6. Proteção conferida pela Patente 306
2.7. Nulidade da patente 306
2.8. Cessão da patente 306
2.9. Licenças para exploração da patente 306
2.10. Patente de interesse da defesa nacional 307
2.11. Desapropriação de uma patente 308
2.12. Certificado de adição de invenção 308
2.13. Extinção da patente 308
2.14. Invenção e modelo de utilidade realizado
por empregado ou prestador de serviço 309
2.15. Desenho industrial 310
3. MODELO DE RELATÓRIO DESCRITIVO 311
4. MODELO DE CONTRATO PARA EXPLORAÇÃO DE PATENTE 314
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 317
Capítulo 12
CONCORRÊNCIA DESLEAL 319
1. INTRODUÇÃO 321
2. AVIAMENTO 321
3. CLIENTELA 321
4. AVIAMENTO E CLIENTELA – NATUREZA JURÍDICA 323
5. CESSÃO DA CLIENTELA 323
6. TIPOS DE CLIENTELA 324
7. CONCORRÊNCIA DESLEAL 325
7.1. Um breve histórico 325
7.2. Conceito de concorrência desleal 325
7.3. A concorrência desleal no Brasil 326
7.4. Atos de concorrência desleal 327
7.5. Medidas legais para combater a contrafação 331
8. CONVENÇÕES DE NÃO-CONCORRÊNCIA 333
8.1. Convenções lícitas 333
8.2. Convenções ilícitas 334
8.3. Convenções de exclusividade 334
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 335
Capítulo 13
SOCIEDADES SIMPLES E SOCIEDADES EMPRESÁRIAS 337
1. CONCEITO DE SOCIEDADE 339
2. O SIGNIFICADO JURÍDICO DA PALAVRA “SOCIEDADE” 339
3. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES 340
3.1. Segundo a responsabilidade dos sócios 340
3.2. Segundo a personificação 341
3.3. Segundo a forma do capital 341
3.4. Segundo a estrutura econômica 342
4. SOCIEDADE REGULAR E SOCIEDADE IRREGULAR OU EM COMUM 343
4.1. Sociedade regular ou de direito 343
4.2. Sociedade irregular, de fato ou em comum 343
5. SOCIEDADES SIMPLES 343
5.1. Sociedade Cooperativa 351
6. SOCIEDADES EMPRESÁRIAS – CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS 352
6.1. Sociedade em comandita simples 352
6.2. Sociedade em nome coletivo 352
6.3. Sociedade em conta de participação 353
6.4. Sociedade em comandita por ações 354
6.5. Sociedade anônima 354
6.6. Sociedade anônima do futebol 355
6.7. Sociedade limitada 357
7. FORMAÇÃO DA SOCIEDADE 361
7.1. Teorias anticontratualistas 362
7.2. Teorias contratualistas 363
7.3. Teoria institucionalista 364
8. A PERSONALIDADE JURÍDICA 365
8.1. Efeitos da aquisição da personalidade jurídica 366
8.2. Pessoa jurídica 367
8.3. Desconsideração da personalidade jurídica 367
9. CONTRATO DE SOCIEDADE EMPRESÁRIA 384
9.1. Introdução 384
9.2. Elementos comuns 384
9.3. Elementos específicos 385
9.4. Estrutura do contrato social 385
9.5. Constituição de uma sociedade anônima 387
10. O CAPITAL SOCIAL 392
10.1. Natureza jurídica da contribuição dos sócios 392
10.2. Intangibilidade do capital social 396
10.3. Do aumento e diminuição do capital social 397
11. A MAIORIA DE CAPITAL SOCIAL E A ALTERAÇÃO DO CONTRATO 400
11.1. Do abuso do direito de voto 402
11.2. Do voto plural 404
12. A CONDIÇÃO DE SÓCIO 406
12.1. Aquisição da qualidade de sócio 407
12.2. Amplitude da responsabilidade do sócio 407
12.3. Do Acionista Controlador 411
12.4. Do acordo de sócios 416
12.5. Resolução da sociedade em relação ao
sócio e dissolução parcial da sociedade 417
12.5.1. Data-base para apuração dos haveres 424
13. ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE 427
13.1. A Administração da Sociedade Anônima 430
14. SOCIEDADE ENTRE CÔNJUGES 455
15. QUOTA SOCIAL 456
15.1. Natureza jurídica 456
15.2. Cessão de quotas 456
15.3. Penhora de quotas 457
15.4. Penhor de quotas 459
15.5. Quotas sem valor nominal 460
15.6. Quotas preferenciais 460
15.7. Aquisição de quotas pela própria sociedade 460
16. AÇÕES E OUTROS VALORES MOBILIÁRIOS 461
16.1. Ações 464
16.2. Transferência de ações 466
16.2.1. Aquisição de ações pela própria Companhia 468
16.3. Direitos que as ações conferem 469
16.4. Outros valores mobiliários 470
16.4.1. Debêntures 470
16.4.2. Partes Beneficiárias 471
16.4.3. Bônus De Subscrição 471
16.4.4. Criptoativos 472
17. ENCERRAMENTO TEMPORÁRIO DAS ATIVIDADES 475
17.1. Previsão legal 475
17.2. Aplicação prática 476
18. TRANSFORMAÇÃO, INCORPORAÇÃO,
FUSÃO E CISÃO DE SOCIEDADES EMPRESÁRIAS 476
19. SOCIEDADES COLIGADAS, CONTROLADORAS E CONTROLADAS 478
20. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA 481
20.1 O caso CEMIG 483
21. DISSOLUÇÃO, LIQUIDAÇÃO E EXTINÇÃO DE UMA SOCIEDADE 485
22. COMO FAZER O REGISTRO DE UM EMPRESÁRIO
E DE UMA SOCIEDADE EMPRESÁRIA 488
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 489
Capítulo 14
HISTÓRIA DO DIREITO CAMBIAL – um breve relato 501
Capítulo 15
DECLARAÇÕES CAMBIÁRIAS 517
1. INTRODUÇÃO 519
2. DECLARAÇÕES NECESSÁRIAS E EVENTUAIS 519
2.1. Saque ou emissão 519
2.2. Aceite 519
2.3. Endosso 522
2.3.1. Modalidades 524
2.3.2. Responsabilidade do endossante 529
2.4. Aval 532
2.4.1. Aval e fiança 534
2.4.2. Aval antecipado 534
2.4.3. Aval parcial 535
2.4.4. Aval posterior ao vencimento 536
2.4.5. Aval simultâneo e sucessivo 536
2.4.6. Responsabilidade e direito do avalista 538
2.4.7. Aval no Código Civil 540
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 541
Capítulo 16
VENCIMENTO E PAGAMENTO 547
1. VENCIMENTO 549
1.1. Vencimento ordinário 549
1.2. Vencimento extraordinário 550
2. PAGAMENTO 551
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 553
Capítulo 17
PROTESTO CAMBIAL 555
1. CONCEITO 557
2. EFEITOS 559
3. PROCEDIMENTO 560
4. DA CLÁUSULA “SEM PROTESTO” OU “SEM DESPESAS” 563
5. PROTESTO PARA FINS FALIMENTARES 563
6. SUSTAÇÃO E CANCELAMENTO DO PROTESTO 564
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 565
Capítulo 18
DA AÇÃO CAMBIAL 567
Capítulo 19
LETRA DE CÂMBIO E NOTA PROMISSÓRIA 579
1. INTRODUÇÃO 581
2. LETRA DE CÂMBIO 581
2.1. Requisitos da letra de câmbio 582
2.2. O sacado 584
3. NOTA PROMISSÓRIA 585
3.1. Requisitos da nota promissória 585
3.2. O emitente 588
3.3. Nota promissória vinculada a contrato 588
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 589
Capítulo 20
CHEQUE593
1. INTRODUÇÃO 595
2. REQUISITOS DO CHEQUE 596
3. DECLARAÇÕES CAMBIAIS 598
4. MODALIDADES 600
5. APRESENTAÇÃO E PAGAMENTO 601
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 603
Capítulo 21
DUPLICATA607
1. INTRODUÇÃO 609
2. REQUISITOS DA DUPLICATA 612
3. INTERVENIENTES 615
4. DO VENCIMENTO 616
5. DO PROTESTO E DA COBRANÇA 616
6. DUPLICATA SIMULADA (FRIA) 619
7. DUPLICATA ESCRITURAL 621
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 624
Capítulo 22
HISTÓRIA DO DIREITO FALIMENTAR BRASILEIRO – conceitos preliminares 627
1. HISTÓRICO 629
2. CONCEITOS PRELIMINARES 632
2.1. Noção jurídica de empresa e de empresário 632
2.2. Noção básica da falência 635
2.3. Noção básica da recuperação 636
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 638
Capítulo 23
DISPOSIÇÕES COMUNS À FALÊNCIA E À RECUPERAÇÃO 641
1. HISTÓRICO 643
2. JUÍZO COMPETENTE 643
3. ÓRGÃOS COMUNS 645
3.1. O Juiz 646
3.2. O Ministério Público 647
3.3. O Administrador Judicial 647
3.4. O Comitê de Credores 653
3.5. A Assembleia-Geral de Credores 655
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 660
Capítulo 24
DA FALÊNCIA 665
1. INTRODUÇÃO 689
2. PRESSUPOSTOS DA FALÊNCIA 689
2.1. Condição empresarial do devedor 689
2.2. Estado de insolvência ou impontualidade 689
2.3. Decretação judicial da falência 693
2.3.1 Dos recursos 696
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 698
Capítulo 26
DO PROCESSO DE FALÊNCIA – fase de sindicância 703
1. INTRODUÇÃO 705
2. DA INABILITAÇÃO PARA SER EMPRESÁRIO, EM RAZÃO DA FALÊNCIA 705
3. DOS DEVERES DO FALIDO 707
4. EFEITOS DA FALÊNCIA QUANTO ÀS OBRIGAÇÕES DO DEVEDOR 708
4.1. Efeitos da falência quanto ao patrimônio da falida 711
4.1.1. Da ação restituitória e dos embargos de terceiros 712
4.2. Efeitos da falência quanto aos contratos da falida 718
4.3. Dos atos ineficazes 726
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 730
Capítulo 27
DA VERIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS 733
1. INTRODUÇÃO 735
2. DOS CRÉDITOS EXTRACONCURSAIS 735
3. DOS CRÉDITOS CONCURSAIS 737
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 745
Capítulo 28
DO PROCESSO FALIMENTAR – fase de liquidação 747
1. INTRODUÇÃO 749
2. DA REALIZAÇÃO DO ATIVO 749
3. DO PAGAMENTO DO PASSIVO 753
4. DO ENCERRAMENTO DA FALÊNCIA E DA
EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DO FALIDO 754
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 757
Capítulo 29
DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL 759
1. INTRODUÇÃO 761
2. DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL 762
3. FASE POSTULATÓRIA 763
3.1. Requisitos para o requerimento da recuperação 763
3.2. Da legitimação ativa e deferimento do pedido 767
4. FASE DELIBERATIVA 770
4.1. Do plano de recuperação judicial 771
5. FASE EXECUTÓRIA 784
6. CONVOLAÇÃO EM FALÊNCIA 786
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 789
Capítulo 30
DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL 791
1. INTRODUÇÃO 793
2. RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL 793
3. HOMOLOGAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO 794
3.1. Homologação facultativa 794
3.2. Homologação obrigatória 795
4. CREDORES NÃO ABRANGIDOS PELA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL 796
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 797
REFERÊNCIAS799
SOBRE OS AUTORES809
PREFÁCIO
HISTÓRICO,
DE 2004
O Professor José Maria Rocha Filho está entre os que foram meus me-
lhores alunos na Faculdade de Direito da UFMG. Atento e dedicado, sempre
demonstrou grande prazer em estudar Direito Comercial, deste tendo uma
visão como poucos têm. Foi por isso que, trazendo para o livro sua larga ex-
periência no trato da matéria, sua obra cresce e valoriza-se, principalmente
pela segurança que nos oferece.
O tratamento que ele dá à disciplina busca esclarecer que a unificação
legislativa ditada pelo Código Civil brasileiro não tirou, de forma alguma,
a autonomia do Direito Comercial que, diante dos princípios da disciplina
mercantil, o Direito Civil ditado pela Comissão elaboradora do novo Código
Civil não conseguiu chegar a uma unificação que consideramos impossível.
É que não houve unificação lógica, didática e nem científica. E unificação
legislativa não tem sentido em um Código. Por que, então, não introduziram,
para economizar tempo, normas do Direito Penal, do Direito Administrativo,
do Direito do Trabalho e outras? Foi por isso que o Autor chama de Direito
Comercial/Empresarial a disciplina.Acertadamente, como também entendemos,
esclareceu que a pretensão da Comissão elaboradora do anteprojeto do Código
Civil não conseguiu, e achamos que não conseguirá, acabar com a autonomia do
Direito Comercial. Entendemos, até, que aquela Comissão repudiou as seculares
expressões conhecidas como comércio, comercial, comerciante e mercantil.
Na ânsia de apresentar uma novidade, a Comissão elaboradora do anteprojeto
copiou o Codice Civile italiano de 1942, nascido sob a influência de Mussolini,
ditador que odiava os comerciantes e a atividade mercantil por eles exercida.
Quando trata das fontes do Direito Comercial/Empresarial, o Autor indaga
se o Direito Civil é ou pode ser considerado como fonte do Direito Comer-
cial. A resposta ele próprio dá de forma inteligente, negando o fato. Disse ele
ser negativa a resposta, pois “muito embora haja quem diga seja ele (o Direito
Civil) fonte subsidiária, secundária, pelo fato de suprir as lacunas ou omissões
do Direito Comercial, que é fragmentário”, tal entendimento não lhe parece
correto. Com bastante segurança explica: “Ademais, como direito comum, o
Direito Civil se aplica a todas as relações de direito privado, quando não for
25
afastado pelas regras do direito especial, ainda que estabelecidas ao lado das
regras civis. São elas que definem o que é matéria comercial/empresarial, a ela
(matéria comercial/empresarial) se aplicando com exclusividade”.
Tratando de assuntos relacionados com assentamento dos usos e costumes,
ele é perfeito, pela experiência adquirida como Superintendente de Registro
do Comércio e Procurador da Junta Comercial do Estado de Minas Gerais.
O livro é em tudo didático e o Autor, por isso mesmo, procura utili-
zar-se de uma linguagem própria para compreensão daqueles que se iniciam
no estudo da matéria. A fim de evitar confusão com a linguagem do Código
Civil, ele se esforça no estudo das sociedades mercantis e firmas individuais,
penetrando no estudo das empresas civis e sociedades simples, das empresas
comerciais e sociedades empresárias e, principalmente, do registro de empresas.
Para melhorar os estudos, apresenta ao final de cada capítulo o que chama de
“exercício para fixação”. Com isto, formula uma série de perguntas para que
o estudioso possa responder. Basta treinar que a fixação ocorrerá.
Mas são importantes suas lições sobre a participação na atividade mercantil
do menor, do incapaz, do proibido, do falido e do estrangeiro. Seus esclareci-
mentos são em tudo muito seguros. Não se descuidou de apresentar modelos do
texto de Projeto de Lei, regulamentando atividade mercantil, como o Projeto
de Lei sobre Empresa Individual de Responsabilidade Limitada.
O livro dá um excelente tratamento à Propriedade Industrial, abordan-
do as invenções, desenhos e modelos registráveis. Orienta muito bem sobre
patente, sua proteção, nulidade, cessão, licenças e tudo mais que diz respeito a
tal instituto jurídico. Não esqueceu o Autor de tratar da concorrência desleal,
do aviamento e da clientela.
Por fim, trata das sociedades, sua classificação, formação, sociedade regular
e irregular, sociedades empresárias, formação das sociedades, seus contratos,
sociedades coligadas, controladoras e controladas, bem assim da transformação,
fusão e cisão de sociedades empresárias. Se as sociedades foram criadas, tratou
finalmente da dissolução, liquidação e extinção das sociedades.
Não temos dúvida em recomendar este livro a todos aqueles que querem
aprofundar nos conceitos gerais do Direito Comercial, fazendo uma distinção
dos princípios puros da ciência comercial daquilo que o novo Código Civil
pretende, sem alcançar. Então, este livro é em tudo útil aos que não têm maior
experiência no trato da matéria comercial.
1
Doutor em Direito Comercial pela UFMG. Do Instituto Brasileiro de Direito Comercial
Comparado e Biblioteca Tullio Ascarelli, da USP.
26
ADVERTÊNCIA
27
Capítulo 1
HISTÓRIA
DO DIREITO
COMERCIAL
um breve relato
E por que teria surgido esse Direito? Quando e como isso aconteceu?
Dizem os historiadores da ciência da qual se trata que o Direito Comercial
surgiu em função de o Direito Comum (Direito Civil) não ter tido condições
de satisfazer as necessidades do comércio. E isso aconteceu na chamada Idade
Média, período que vai do começo do século V até meados do século XV.
Mais ainda: o Direito Comercial nasceu de forma fragmentária, já que tem sua
origem nos usos e costumes mercantis/comerciais da época, sendo, portanto,
a esse tempo, um Direito consuetudinário, costumeiro.
2
MICHAELIS 2000: Moderno Dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Reader´s
Digest; São Paulo: Melhoramentos, 2000 2v.
31
2. ABRANGÊNCIA DO DIREITO
COMERCIAL/EMPRESARIAL
Até o advento da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002, afirmávamos: o
Direito Comercial abarca as atividades de intermediação e as de produção.
Fica, porém, uma questão, não resolvida, pensamos, pela Lei n. 10.406:
quando é que o exercício dessas atividades constituirá, ou não, elemento de empresa?
Impossível responder, servindo-se apenas das disposições da mencionada Lei
n.10.406, vez que ela não definiu a empresa; definiu empresário e sociedade
empresária. Quando, então, haverá elemento de empresa? Quando houver
risco, atendimento de necessidades alheias, finalidade lucrativa e utilização do
trabalho alheio, dentre outros? E não seria empresário quem (não exercendo
32
atividade intelectual, de natureza literária, artística ou científica) utilizasse ape-
nas sua própria força de trabalho? Ou que exercesse uma atividade totalmente
mecanizada, informatizada? Por quê?
Pelo fato de a Lei n. 10.406 não ter definido empresa, o tema comporta
diferentes compreensões e, à vista disso, com certa frequência a questão é sub-
metida ao Judiciário, em função, repita-se, de não se ter definido a empresa e
em função dos interesses em jogo. Este tema será tratado oportunamente, de
maneira mais adequada e aprofundada, no Capítulo 13, desta obra.
Abstraindo-nos dessa questão, que não vem ao caso agora, o certo é que,
conforme está disposto no Código Civil brasileiro, as sociedades agrícolas (em
que pese a disposição do art. 984, que revela ser isso uma “faculdade”) e as
imobiliárias – que estavam, ambas, fora do campo de abrangência do Direito
Comercial brasileiro –, assim como qualquer outra em que fique patente o
exercício profissional de atividade econômica organizada para a produção ou
a circulação de bens ou de serviços (v.g. as prestadoras de serviços), passaram
a integrar o rol das sociedades empresárias (antes mercantis ou comerciais) e,
como tal, deverão ser registradas na Junta Comercial.
Isso fica mais patente ainda quando vamos ao art. 971 da Lei n. 10.406
e verificamos que ele abre ao produtor rural (essa expressão, à vista do disposto
nos arts. 966 e 967, seria preferível àquela outra, “empresário rural”, contida
no art. 971), ao rurícola, enfim, a possibilidade de ele se inscrever no Regis-
tro Público de Empresas Mercantis, “caso em que, depois de inscrito, ficará
equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro”. Em seguida,
no art. 984, a Lei n. 10.406, dá o mesmo tratamento à “sociedade que tenha
por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural”. Por outras
palavras, inscrevendo-se no Registro Público de Empresas Mercantis, ela “ficará
equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária”.
Por que a expressão “produtor rural”, ou mesmo “rurícola”, seria
preferível àquela outra –“empresário rural” –, contida no art. 971, citado?
Primeiro, porque “produtor rural”, ou “rurícola”, é, na verdade, aquele que,
com o trabalho agropecuário impessoal e profissional, cria, aperfeiçoa e dis-
tribui, industrializados ou não, produtos naturais, alimentícios, atendendo,
assim, necessidades alheias, exigências do mercado. Trata-se, então, não resta
dúvida, de um empresário, nos exatos termos do art. 966 da Lei n. 10.406,
citada. “Empresário de fato”, embora essa expressão, à vista do disposto na
Lei n. 10.406, de 2002, e como será explicado mais à frente, não fique bem.
É que, pelo atual Código Civil brasileiro (art. 971), essa sua condição de
empresário é precária, vez que ela só será aperfeiçoada quando ele obtiver
seu registro como tal, nos termos do art. 967 do mesmo diploma legal. Essa
exigência, ao que tudo indica, é para que ele, “produtor rural” ou “ruríco-
la”, possa invocar em seu favor os benefícios que essa e outras leis põem à
disposição do empresário ou de uma sociedade empresária. Essa, parece, a
única forma de entender a parte final dos mencionados arts. 971 e 984: ficar
“equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro” e ficar
33
“equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária”. Por outras pa-
lavras, para o legislador de 2002, uma pessoa – física ou jurídica – somente
será empresária, para fins de pleitear os benefícios postos à disposição de um
empresário ou de uma sociedade empresária, se obtiver o registro como tal,
na Junta Comercial. Segundo, porque a própria Lei n. 10.406 já o denomina,
desde logo, “empresário”, reconhecendo, assim, como foi dito acima, que o
“produtor rural” ou “rurícola” é um empresário. E o é por “exercer, pro-
fissionalmente, uma atividade econômica organizada para a produção ou a
circulação de bens ou serviços”. Isso é o que o constitui empresário; não, a sua
inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis. Logo, não há razão
para se afirmar, depois, que ele, registrando-se, “ficará equiparado, para todos
os efeitos, ao empresário sujeito a registro”. Por oportuno, cabe perguntar: o
que é equiparar? Equiparar é “comparar pessoas ou coisas, considerando-as
iguais”. Como, então, igualar a “empresário” a pessoa que já é considerada
“empresária” pela própria lei? A única explicação cabível, pois, para essa res-
salva é a que foi dada há pouco. Ou seja: tendo o registro, essa pessoa – física
ou jurídica – poderá pleitear os benefícios que essa e outras leis põem à
disposição do empresário e da sociedade empresária, tal como definidos pela
Lei n. 10.406, citada. Terceiro, porque, pelo mencionado art. 971, o “produtor
rural” ou “rurícola”, a seu exclusivo critério, pode ou não ser equiparado a
“empresário sujeito a registro”, ou seja, capaz de ter a lei ao seu lado; capaz
de pleitear, com base nela, os benefícios que ela liberaliza. Como conseguirá
essa equiparação? Requerendo sua inscrição no Registro Público de Empresas
Mercantis, reza o art. 971, citado. Assim sendo, qual produtor rural, qual ru-
rícola ou que sociedade que tenha por objeto atividade própria de produtor
rural, tal como aqui foi explicado, deixará, à vista dessa nova ordem jurídica,
de se inscrever no Registro Público de Empresas Mercantis? Mesmo porque,
cabe enfatizar, não se pode chamar de “produtor rural” ou “rurícola” a pes-
soa que planta para sua própria e exclusiva subsistência; subsistência própria
e de sua família. Essa pessoa, efetivamente, não é um “produtor rural”; não
é um “rurícola”, na exata extensão desses termos. Por conseguinte, não é
empresária e nem tem, em princípio, interesse em sê-lo.
Em que pese tais considerações, os Enunciados 201 e 202, surgidos na
III Jornada de Direito Civil, realizada entre fim de 2003 e meados de 2004,
mantiveram a confusão. Eis a redação que lhes foi dada:
34
O primeiro, por tudo que dissemos antes, revela-se desnecessário, espe-
cialmente ao dar ao “produtor rural” ou “rurícola” – pessoa física ou jurídica
– o direito de “requerer concordata”. Embora nossa atual lei falimentar seja de
2005, há muito já se sabia que o instituto da concordata desapareceria de nosso
Ordenamento Jurídico. Ademais, se o “produtor rural” ou “rurícola”, pessoa
física ou jurídica, eram, nos termos do art. 966 do Código Civil, considerados
empresários, obviamente se sujeitavam à lei falimentar em vigor. O segundo
estabelece que seu registro na Junta Comercial é “facultativo e de natureza
constitutiva”, contrariando frontalmente o art. 966 do Código Civil que es-
tabelece: “considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica
organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”. Isso, conforme
já dissemos, é o que o constitui empresário; não, a sua inscrição no Registro
Público de Empresas Mercantis.
Cumpre notar, também, que os Enunciados evidenciam contradição
intrínseca: se apenas os “produtores rurais” ou “rurícolas” inscritos no registro
público de empresas mercantis estão sujeitos à falência, podendo, então, re-
querer recuperação, e se tais institutos não se aplicam aos “produtores rurais”
ou “rurícolas” que não optam pelo registro, na verdade, portanto, não serão
“produtores rurais” ou “rurícolas”; serão pessoas que plantam para sua própria
e exclusiva subsistência; subsistência própria e de sua família, conforme expli-
cado item 2), como aceitar que ele seja facultativo? O registro do “produtor
rural” ou “rurícola”, em obediência ao disposto no art. 967, do Código Civil,
também é obrigatório. Afinal, se ele não se registrar perante a Junta Comercial
não poderá, v.g., ser efetivamente chamado “produtor rural” ou “rurícola” e,
como tal, não poderá requerer recuperação judicial, pois não atenderá ao dis-
posto no caput do art. 48, da Lei n. 11.101/2005, que condiciona o pedido à
comprovação do exercício regular – vale dizer, devidamente registrado perante
a Junta Comercial – há mais de dois anos3. Contudo, em 2013 – alguns anos,
pois, após o advento da Lei n. 11.101/2005 –, houve o acréscimo do § 2º no
art. 48, da mencionada Lei, incluído pela Lei nº 12.873, admitindo que a prova
do exercício de atividade rural, por pessoa jurídica, superior a dois anos, pode
ser feita através da Declaração de Informações Econômico-fiscais da Pessoa
Jurídica – DIPJ, que tenha sido entregue tempestivamente, o que, de certa
forma, confirma que o registro perante a Junta Comercial é declaratório; mas,
concomitantemente relativiza sua obrigatoriedade, nesse caso.
Em consonância com a ideia de desnecessidade do registro perante a Junta
Comercial para se fazer prova da condição empresarial, cumpre notar que em
julho de 2019 foi editado o enunciado n. 97, pelo Conselho da Justiça Federal,
durante a III Jornada de Direito Comercial, in verbis:
3
Essa situação vem sendo alterada ao longo dos anos, conforme se vê do julgamento do REsp
1.800.032-MT, julgado em 5/11/2019, em que o Superior Tribunal de Justiça decidiu que
o registro não precisa ter mais de dois anos, mas, sim, o exercício da atividade. E, em 2020,
o tema foi considerado na reforma da Lei n. 11.101.
35
Enunciado 97 – O produtor rural, pessoa natural ou jurídica, na
ocasião do pedido de recuperação judicial, não precisa estar inscrito há
mais de dois anos no Registro Público de Empresas Mercantis, bastando
a demonstração de exercício de atividade rural por esse período e a
comprovação da inscrição anterior ao pedido.
Tal enunciado corrobora, pois, o disposto no art. 48, §2º, da Lei n. 11.101/2005.
Então, não resta dúvida que as sociedades agrícolas, assim como as imo-
biliárias, passaram a integrar o rol das sociedades empresárias.
Assim, somente as sociedades de profissionais liberais, as que exerçam atividade
intelectual, de natureza científica, literária ou artística (observada a limitação imposta
pelo art. 966, parágrafo único, do Código Civil – excluída, é claro, a socieda-
de de advogados, por força do disposto nos arts. 15 e 16 da Lei n. 8.906, de
4/7/1994, que dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados
do Brasil –) e as cooperativas, que integram o rol das sociedades simples e, como
tal, a exemplo das associações, fundações, organizações religiosas e partidos
políticos, deverão ser inscritas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas (art. 45
c/c arts. 966, 967, 982, 998 e 1.150).
E é claro que os profissionais liberais (pessoas físicas, naturais), para exercerem,
individualmente, sem sócio, sua atividade, não precisarão e nem poderão – por
não serem pessoas jurídicas (o art. 44 da Lei n. 10.406 não lhes dá essa condição)
– se inscrever no Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Deverão apenas, como
já acontece hoje, ter registro no órgão incumbido de fiscalizar sua profissão
(OAB, CRM, CREA, CRC etc.).
Por conseguinte e com o advento do Código Civil de 2002, o Direito
Comercial/Empresarial brasileiro passou a abranger toda e qualquer “atividade
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”, que, a
teor dos arts. 966 e 982 do Código Civil, deve ser exercida, profissionalmente,
por empresário ou sociedade empresária ou, a teor do disposto na Lei n. 12.441,
de 2011, por “empresa individual de responsabilidade limitada”.
Voltaremos ao assunto, nos Capítulos 3 e 5.
3. CONCEITO DE COMÉRCIO
O comércio pode ser entendido, como fato social e econômico, como
sendo uma atividade desenvolvida pelo ser humano, em que se evidencia a
circulação da riqueza produzida, aumentando-lhe a utilidade.
36
individual. Permuta que era efetuada diretamente de produtor a consumidor.
Imperava, portanto, a economia de troca ou escambo.
Com o passar dos tempos, esse mecanismo das trocas em espécie foi se
tornando cada vez mais complexo e surgiu, então, a “mercadoria-padrão”, para
servir de intermediária no processo circulatório, para facilitar ou promover a troca.
Para tanto, conchas, animais e, mais tarde, pedras e metais preciosos come-
çaram a servir de denominador comum de valor, facilitando ou promovendo a
troca. Estava inventada, assim, a moeda. E, consequentemente, a economia de
troca ou escambo evolui, imediatamente, para a economia de mercado ou monetária.
O homem passou, portanto, a não mais produzir para seu próprio sustento,
para a troca pura e simples. Passou a produzir para vender, adquirir moeda e
aplicá-la em novo ciclo de produção, depois de satisfeitas suas necessidades
básicas. Iniciado estava o processo de especialização em uma só linha de pro-
dução, ao mesmo tempo em que o comércio se aparelhava, dessa forma, para
desempenhar sua função econômica e social.
Percebe-se pelo relato que, de fato, o comércio nada mais é que uma
atividade humana e que, em seus fundamentos, nítida está a ideia de troca.
Essa atividade humana dependia, pois, da liberdade que cada ser humano tinha
para decidir o que cultivar ou produzir, por vontade própria, buscando o lucro,
sem planejamento ou intervenção estatal. No continente africano de séculos
atrás “os mercados evoluíram de forma natural no momento em que comerciantes se
encontraram em locais convenientes, normalmente em uma encruzilhada”4, o que, na
verdade, ocorreu de forma semelhante em outros locais do planeta, com a
criação de “leis” voluntárias.
37
porque a troca direta de produtor a consumidor, vimos, não é, economica-
mente, ato de comércio, não se confunde com o comércio, efetivamente, por
não se fazer presente, no caso, a intermediação, essa atividade humana que faz
aumentar o valor dos produtos; é apenas um escambo (milho por feijão, v.g.).
Se fosse comércio, já o teríamos desde aquela fase primitiva.
Para se chegar ao conceito jurídico é preciso ter em mente que o conceito
econômico, porém, não se ajusta ao pertencente ao Direito. É que muitas ativi-
dades relacionadas com a circulação da riqueza – e, pois, atividades de interme-
diação – não eram consideradas, pelo Direito, como mercantis ou comerciais.
Economicamente, porém, eram verdadeiros atos de comércio. Exemplo disso,
no Brasil, até a entrada em vigor da Lei n. 10.406, de 2002, era a atividade de
compra e venda de imóveis. Outras não se encaixavam no conceito econô-
mico, mas eram abarcadas pelo conceito jurídico. O emitir ou sacar uma nota
promissória ou uma letra de câmbio, ou mesmo avalizar qualquer delas, era,
pelo conceito jurídico, um ato de comércio.
Por isso, não se tem, até hoje, um conceito jurídico próprio para o co-
mércio, abrangendo toda sua extensão.
Vidari, um dos grandes comercialistas dos tempos modernos, assim o
definiu, juridicamente, no dizer do Professor Rubens Requião6:
6
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 2005, 26 ed., p. 5.
38
a norma específica, do Direito Comercial. A questão, pois, era tormentosa e
pensar sobre ela nos faz entender melhor o porquê de o legislador pátrio, na
Lei n. 10.406, de 2002, ter preferido adotar a “teoria da empresa” ao invés
de permanecer com a “teoria dos atos de comércio”.
Resultado: chegou-se à conclusão de que, no sentido jurídico, o comércio nada
mais é que “o conjunto ou complexo de atividades a que, num determinado
país e numa determinada conjuntura histórica, se aplica o Direito Comercial
desse país”. Por outras palavras, serão comerciais/empresariais, num determi-
nado país e numa determinada época, as atividades assim definidas pelo Direito
Comercial/Empresarial daquele país.
E o advento da Lei n. 10.406, de 2002, não altera essa conclusão; ao
contrário, dá-lhe força, vez que define: no Brasil, haverá atividade empresarial
sempre que alguém – pessoa física ou jurídica – exercer, profissionalmente,
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens
ou de serviços.
39
algumas regras dispersas, tendo em vista que os romanos não valorizavam o
comércio, por ser uma atividade pouco exaltada por eles, sendo destinada a
escravos, servos e estrangeiros7.
Mesmo porque os senadores e patrícios (nobres romanos) eram proibidos
de exercê-la. Apesar disso, porém, ao se aproximar a decadência de Roma, as
profundas transformações de sua estrutura econômica deixam transparecer
um crescimento da atividade mercantil, que é interrompido pela invasão dos
bárbaros e pelo fracionamento do império.
Somente depois do século XI é que assistiremos a uma nova fase de
crescimento econômico na Europa.
A esse tempo, o Direito Civil romano, que era internacional, já havia
cedido espaço para o Direito territorial, local, já com características de Direito
Privado, mas com forte influência, ainda, das antigas fórmulas jurídicas e do
Direito Canônico, que condenava, de forma vigorosa, as atividades lucrativas.
Era pecado obter lucro; emprestar com usura ou juros.
O ambiente social e jurídico, pois, era hostil à mercancia.
Por isso, os comerciantes se uniram e criaram as suas famosas corporações,
para se oporem àquela situação. Enriquecidas e organizadas, as corporações de
mercadores adquiriram grande sucesso e poderes políticos e militares, conquis-
tando, consequentemente, a autonomia de já consagrados centros comerciais,
tais como Gênova,Veneza e Florença. E o exemplo se repete em toda a Europa
Ocidental, de modo especial na própria Itália e na Alemanha, onde ficou célebre
a Liga Hanseática, ou seja, a liga alemã de cidades comerciais.
Foi exatamente nesse período da história que começou a surgir, como um corpo
sistemático e como consequência natural e lógica das regras das corporações (em
especial, dos assentos jurisprudenciais de seus juízes: os cônsules), o Direito Comercial.
Por outros termos, os comerciantes criaram, para si e entre si, um direito
costumeiro, que era aplicado no âmbito de suas corporações pelos juízes eleitos
(os cônsules) por suas assembleias. A esse juízo consular, portanto, muito deve
a sistematização das regras do mercado. E ganharam notoriedade os seguintes
repositórios de decisões consulares: Rôles d’Oleron (França), Consuetudines
(Gênova) e Capitulare Nauticum (Veneza).
A esse tempo, o já consagrado “corpo sistemático” de regras jurídicas a respeito
da atividade comercial era um Direito a serviço do comerciante, sujeito ativo da rela-
ção estabelecida e, por isso mesmo, denominou-se essa fase como sendo a subjetivista
do Direito Comercial, que era, então, um Direito corporativo, profissional, especial,
consuetudinário e autônomo em relação ao Direito territorial e civil da época.
Mas tal foi o sucesso do Juízo Consular, que julgava segundo os usos e
costumes e sob a inspiração da equidade, sem falar no poder político e social
das corporações, que, aos poucos, foi abarcando as demandas existentes entre
comerciantes e não comerciantes. O povo preferia a justiça das corporações.
7
MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação empresarial. 7 ed.. São
Paulo: Atlas, 2013, p.16.
40
Floresceu, consequentemente, no Estado, o pensamento da necessidade de se
delimitar o conceito de matéria de comércio para se determinar, assim, a com-
petência judiciária do juízo consular. Afinal, argumentaram os representantes
do Estado, nem tudo na vida do comerciante era absorvido por sua profissão.
E, pois, nem todas as demandas podiam ser submetidas ao Juízo Consular.
Assim, passou a ser considerada matéria de comércio apenas “a compra e
venda de mercadoria para revenda e a sucessiva revenda; os negócios de moe-
da através de bancos; e as letras de câmbio, por sua conexão com os negócios
comerciais propriamente ditos”.
Tinha início a fase objetivista do Direito Comercial. Por que objetivista?
Porque já não se levava em consideração o sujeito, mas o objeto, a atividade, o
ato de comércio. Consequentemente, o Juízo Consular só podia ser invocado
por comerciantes matriculados e, mesmo assim, se se estivesse diante de um
ato de comércio, tal como havia sido definido.
Logo a seguir, uma nova fase começou a ser engendrada. É que pelo fato
de o direito outorgado pelo Estado ser precário e sofrer sua justiça as injunções
das conveniências políticas, sociais e econômicas, o povo continuava a preferir o
Juízo Consular, impondo, por esse caminho, o alargamento de sua competência.
Com isso, a autoridade dos juízes consulares – que no início só alcançava os
comerciantes inscritos ou matriculados na corporação – chegou até aos comer-
ciantes não matriculados. Mais ainda: praticado um ato de comércio, qualquer que
fosse seu autor, teria ele, em função do conceito objetivo do Direito Comercial,
acesso ao direito especial dos comerciantes. Conciliavam, assim, fase subjetiva com
objetiva, formando aquela que se chamou eclética, por conter elementos colhidos
do sistema subjetivo e do objetivo, com acentuada tendência para o último.
Chegamos a 1807 e o Direito Comercial passa a ser conhecido como a
Disciplina dos Atos de Comércio. É que, nesse ano, veio à luz o Código Napo-
leônico (originariamente publicado, em 21 de março de 1804, com o nome
de “Código Civil dos Franceses”, foi renomeado, em 1807, para “Código
Napoleônico”), que adotou, declaradamente, o conceito objetivista.Vale dizer:
adotou a teoria dos atos de comércio. E por quê? Porque, não fosse assim, estaria
negado o ideal de “igualdade de todos perante a lei”, da Revolução Francesa.
Não fosse assim, continuaria existindo, em França, o privilégio de classe, já
que os comerciantes teriam uma justiça própria, um direito próprio. Por isso
o Código de Comércio passou a ser um estatuto disciplinador dos atos de
comércio. Consequentemente, todos os cidadãos a ele estavam sujeitos.
Tal diretriz, é óbvio, foi largamente copiada por outros países e a base
do Direito Comercial foi deslocada da figura do comerciante (sujeito) para a
dos atos de comércio (objeto), mesmo não tendo os comercialistas, até hoje,
conseguido definir, com precisão, o que seja ato de comércio.
Exatamente por isso, os comercialistas deram início a novas cogitações,
principalmente depois do significativo crescimento da economia capitalista.
E enalteceram a figura do empresário e da empresa, que passou a ser vista como
“a organização dos fatores de produção, para a criação ou oferta de bens e/ou
41
serviços”. Os atos de comércio passaram, então, a ser definidos como “todo e
qualquer ato de um comerciante que seja relativo a sua atividade comercial”.
Com isso, tanto o comerciante (sujeito) como o ato de comércio (objeto)
passaram a ter importância para o Direito Comercial quando se referiam à
exploração de uma empresa. Por outras palavras, isoladamente, eles nada valiam.
O que importava era a empresa mercantil ou comercial, aqui entendida como um
organismo econômico que criava ou oferecia (sujeito, portanto) bens e/ou serviços.
Esse novo conceito ganhou força com a edição do Código Comercial alemão
de 1897, e, assim, o Direito Comercial passou a ser conhecido como o Direito
das empresas mercantis ou comerciais. Não, Direito Empresarial. Esta, pelas razões
expostas, a fase a que se chamou de subjetiva moderna.
Aí, em síntese, o processo de evolução do Direito Comercial.
8
GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte
corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. 2 ed.. São Paulo:
Editora Planeta do Brasil, 2007, p. 96 e 103/104.
9
GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte
corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. 2 ed.. São Paulo:
Editora Planeta do Brasil, 2007, p. 189.
10
GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte
corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. 2 ed.. São Paulo:
Editora Planeta do Brasil, 2007, p. 115.
42
razão das restrições ilimitadas impostas por Portugal, que dificultavam e/ou
impediam a geração e circulação de riqueza – v.g., limitações aos direitos de
locomoção, de produção, de fazer negócios, de comprar e vender bens variados
–, como o comércio poderia se manter e se ampliar? A resposta é clara: seria
impossível, pois ao não se garantir o direito ao comércio, retira-se também o
direito de escolha de com quem negociar11. Por isso, destacamos esse momento
da chegada da Coroa Portuguesa como um marco para o comércio no Brasil,
e, consequentemente, para o Direito Comercial.
Após essas medidas, especialmente a Abertura dos Portos, “os portos brasi-
leiros se viram atulhados de produtos ingleses, numa escala nunca antes imaginada”12 ,
alterando significativamente o cenário comercial brasileiro13, que era, até aquele
momento, uma terra proibida para os estrangeiros, mas que passou a receber
navios de outros países – especialmente os ingleses – e estimular o comércio
e o surgimento de indústrias. Paralelamente, cria-se o Banco do Brasil. E à
medida que o tempo passava, crescia, na Colônia, um sentimento de naciona-
lismo, de soberania, da necessidade de um Direito próprio.Vê-se, portanto, que
desde a chegada dos portugueses ao Brasil até esse momento de nossa história
colonial, era evidente o forte intervencionismo14 na economia – o controle
estatal advinha de Portugal, com claros traços paternalistas (a Coroa Portuguesa
decidia pelo Brasil) e protecionistas (com o isolamento do mercado interno
brasileiro), advindos da monarquia absolutista; Lopes destaca que apesar do Di-
reito Comercial ter sua origem nos costumes, ao longo desse período colonial,
“mudanças foram realizadas ao longo dos anos, indicando o quanto a jurisdição mercantil
se tornara assunto de Estado e quanto já estava submetida ao poder político da Coroa”15.
O referido autor também destaca que essa situação não se interrompeu após
182216, pois mesmo com a Independência e com a Constituição de 1824, o
11
COSSAER, Lode;WEGGE, Maarten. Como você sabe? Conhecimento e a presunção de liberdade.
In: Por que liberdade? Trad. Matheus Pacini, rev.Vinícius Cintra. Ottawa, IL, USA: Students for
Liberty & The Atlas Network/ Jameson Books Inc.. 2013, p. 71-81.
12
GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte
corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. 2 ed.. São Paulo:
Editora Planeta do Brasil, 2007, p. 179.
13
GOMES cita que “em 1809, um ano depois da abertura dos portos, já existiam mais de cem
empresas comerciais britânicas operando no Rio.” In: GOMES, Laurentino. 1808: como uma
rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram
a história de Portugal e do Brasil. 2 ed.. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007, p. 184.
14
Segundo o economista austríaco Mises, o intervencionismo revela um governo “desejoso de
interferir nos fenômenos de mercado”, de forma que “o governo não somente fracassa em proteger
o funcionamento harmonioso da economia de mercado, como também interfere em vários fenômenos de
mercado: interfere nos preços, nos padrões salariais, nas taxas de juro e de lucro”, restringindo, assim, a
supremacia do consumidor, que é o personagem central. In: Mises, Ludwig von. As seis lições.
Trad. Maria Luiza Borges. 9 ed., São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2018, p. 84/85.
15
LOPES, José Reinaldo de Lima. A formação do direito comercial brasileiro. Cadernos Direito
GV, v.4, n. 6. São Paulo: FGV, 2007, p. 16.
16
Nos séculos posteriores, há diversos exemplos de intervenção estatal na economia de nosso
País, tais como a criação da Companhia Siderúrgica Nacional e da Companhia Vale do Rio
43
direito mercantil brasileiro permanecia “um ramo relativamente definido de direito
privado, mas no qual não se notava ainda tanto a autonomia dos privados exigida por
um ideário liberal”17, o que nos permite afirmar que permanecia perceptível a
herança patrimonialista lusitana18, com a ausência de limites claros entre o pú-
blico e o privado, além de um imenso volume de leis que atribuem inúmeras
funções ao Estado brasileiro, para que este assuma o protagonismo, para ser o
“provedor” da vida de cada cidadão brasileiro19, com clara orientação paternalista.
Doce (anos 1940), da Petrobrás (anos 1950), da Eletrobrás (anos 1960) e da Telebrás (anos
1970). Além disso, a Constituição da República de 1988 dispõe sobre monopólios estatais –
ainda que abrandados pela Emenda Constitucional n. 9/1995 –, e as participações em pessoas
jurídicas de direito privado, tal como se vê na atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social – BNDES, via BNDESPAR. Em meados de 2020, o Estado brasileiro era
sócio, via BNDESPAR, em diversas sociedades empresárias, desde as mais conhecidas Petróleo
Brasileiro S.A. Petrobrás e Vale S/A, nos setores de petróleo, gás e mineração, passando pelo
setor energético, v.g., Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG, chegando até a ter
participação no setor imobiliário (MRV Engenharia e Participações S.A.), de papel e celulose
(Suzano S.A.) e de bens de consumo (Bombril S.A.). Disponível em < https://www.bndes.
gov.br/wps/portal/site/home/transparencia/consulta-operacoes-bndes/carteira-acionaria>
Acesso em 2/7/2020.
17
LOPES, José Reinaldo de Lima. A formação do direito comercial brasileiro. Cadernos Direito
GV, v.4, n. 6. São Paulo: FGV, 2007, p. 17.
18
Lustosa da Costa é taxativo quanto a isso: “Da Coroa portuguesa à administração colonial, do
Reino Unido ao Império brasileiro, da Independência à República, da política dos governadores da
República Velha ao Estado Novo de Vargas, mantiveram-se intactos o regime patrimonialista e o poder
do estamento.” In: Lustosa da Costa, Frederico. Relações Estado-Sociedade no Brasil: Repre-
sentações para Uso de Reformadores. Revista de Ciências Sociais, vol. 52, no 1, Rio de Janeiro,
2009, pp. 161 a 199.
19
Tais constatações permitem afirmar que, no Brasil – apesar dos movimentos que podem ser
alinhados às tendências liberais, identificados ao longo de nossa história, primeiro em defesa
da independência, v.g., Inconfidência Mineira (1789) e a Revolução Pernambucana de 1817
(Revolução dos Padres) e depois, em defesa da República, com alguns políticos se declarando
liberais, assim como alguns partidos políticos –, houve apenas lampejos de liberalismo em
momentos pontuais, tais como nas duas primeiras décadas do século XX e na última década
dele, durante o curto governo do Presidente Itamar Franco (1992-1994), com a transição ao
seu sucessor, Presidente Fernando Henrique Cardoso, que juntos, foram responsáveis pelo
Plano Real, visando à estabilização da economia, diminuição de gastos públicos e equilíbrio
das contas públicas. Nesses anos da década de 1990, houve privatizações de estatais, abertura
ao capital estrangeiro, e o movimento de criação e intensificação das agências reguladoras,
o que pode ser considerado um ponto de mudança do Estado interventor para regulador
das atividades econômicas. Porém, nunca houve, efetivamente, a consolidação de um Estado
liberal brasileiro, com um Estado necessário, mas com poderes limitados e funções que se
ativessem à manutenção das instituições básicas (vida, saúde, liberdade e propriedade privada),
mostrando-se um governo no seu papel como um meio, um instrumento, “nem um distribuidor
de favores e doações nem um senhor ou um deus para ser cegamente servido e idolatrado”, conforme
alerta Friedman, logo na introdução de sua obra Capitalismo e Liberdade. Isso não é, nem
nunca foi, a realidade brasileira. O que se vê é uma “economia mista” – expressão usada por
Mises –, significando que o Governo atua na área econômica, com participação em sociedades
empresárias e, até mesmo, participando da gestão delas. O referido autor austríaco relata que
essa realidade é a de muitos países, mesmo os tidos como mais liberais, pois, segundo ele, o
programa liberal não é totalmente executado, o que costuma se revelar em um socialismo
moderado (MISES, Ludwig von. Liberalismo - segundo a tradição clássica. 2 ed. Trad. Haydn
Coutinho Pimenta. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010, p. 34).
44
A consideração das características político-econômicas do Brasil, desde o ano
1.500, é importante para o entendimento da evolução histórica do comércio
e do Direito Comercial em nosso País; afinal, conforme alertam importantes
economistas, tanto da Escola Austríaca – Mises afirma que “eventos políticos são
a consequência inevitável da mudança das políticas econômicas”20 –, como também
da Escola de Chicago – Friedman ensina que “existe uma relação íntima entre
economia e política”21 –, para entendermos a economia, o mercado, o empreen-
dedorismo e as Leis de um país, é preciso relacionar isso com política daquele
Estado e as tentativas de intervenção, maiores ou menores, para distorção do
mercado ou impedimento de seu funcionamento normal.
O ano de 1822 nos traz, em setembro, a Independência de Portugal e,
no ano seguinte, a convocação da Assembléia Constituinte e Legislativa que,
instalada, promulgou a famosa “Lei de 20 de outubro”, determinando que
continuassem em vigor, no Império, as leis portuguesas vigentes em 25 de
abril de 1821. Entre elas, a “Lei da Boa Razão”, de 18/8/1769, que permitiu
a invocação de normas legais “das nações cristãs, iluminadas e polidas, que com
elas estavam resplandecendo na boa, depurada e sã jurisprudência”. É dizer:
era possível, agora, a invocação do Direito estrangeiro como subsidiário do
lusitano, que passava a ser também brasileiro. Aí, a importância, para nós, da
“Lei da Boa Razão”.
Mas, na questão econômica, é certo que as mudanças tenderiam a ser
mais lentas e gradativas, conforme explica Carvalho:
“À época da independência, a economia colonial podia ser descrita
de maneira simplificada. Era composta por: grandes latifúndios vol-
tados para a produção de mercadorias exportáveis, como o açúcar, o
tabaco, o algodão; fazendas dedicadas à produção agropecuária para
o mercado interno (cereais, leite e carne) e à criação de gado, estas
últimas sobretudo no norte e no sul; e centros mineradores já em
fase de decadência. Acrescente-se ainda grande número de pequenas
propriedades voltadas para a agricultura e a pecuária de subsistência.
Nas cidades costeiras, capitais de províncias, predominavam o grande
e o pequeno comércio. Os comerciantes mais ricos eram os que se
dedicavam ao tráfico de escravos.”22
20
MISES, Ludwig von. As seis lições. Trad. Maria Luiza Borges. 9ª ed., São Paulo: Instituto
Ludwig von Mises Brasil, 2018, p. 153.
21
FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e Liberdade. Rio de Janeiro: LTC, 2014, p. 4.
22
CARVALHO, José Murilo de. Fundamentos da sociedade e política brasileiras. In: Sistema Político
Brasileiro: uma introdução. São Paulo: Unesp, 2007, p.19-31.
45
“E o que são os negócios comerciais? Dizem os nossos compêndios
porque se aprende na aula do comércio – que o comércio consiste
em vender e revender para se fazer lucro; – mas será comércio só
vender e revender? Não haverá muitos outros atos acessórios, que se
devam considerar como comércio?”23.
46
Também é importante pontuar, nesse contexto, mesmo que brevemente,
as questões de Ordem Econômica Constitucional, dispostas nos arts. 170 a 192,
da Constituição da República de 1988. Não é nossa intenção propor um apro-
fundamento dos estudos de Direito Constitucional – vez que o presente Curso
não se destina a isso –, mas cumpre notar que, naqueles artigos, especialmente
no art. 170, há importantes princípios, relacionados à atividade empresarial.
Por isso, destaca-se o art. 170 dispõe, in verbis:
26
MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação empresarial. 7 ed.. São
Paulo: Atlas, 2013, p. 40.
47
às garantias previstas na Constituição. Beccaria já alertava quanto a isso, no sé-
culo XVIII: “cada cidadão deve ter a convicção de poder fazer tudo o que não contraria
as leis, sem temer outro inconveniente além daquele que pode resultar da ação mesma”.27
Afinal, devemos sempre ter em mente que a riqueza é produzida pelas pessoas
que, exercendo sua liberdade, inventam, produzem, compram, vendem, poupam
parte de sua renda para posteriores negócios e investimentos etc., exercendo
individualmente, dentre outros direitos, o de propriedade, com interações vo-
luntárias que propiciam o que se pode chamar de cooperação em larga escala28.
Mas, no atual estágio do Brasil, é clara a mistura de ideias: um Estado
menor, garantindo as liberdades individuais, consagradas no art. 5°, da CR/88,
v.g., igualdade, liberdade, propriedade, vida privada etc., convivendo com um
Estado protagonista, conforme se vê nos arts. 6° e 7°, da CR/88, que tratam
dos direitos sociais. Entretanto, é indubitável que nossa atual Constituição
estabelece “diretrizes voltadas também para o eficiente funcionamento do mercado, de
forma a viabilizar o pleno exercício privado da atividade empresarial”29.
Essas diretivas poderiam sugerir uma aparente contradição, ao propor,
simultaneamente, uma forma econômica capitalista – valorizando a proprieda-
de privada dos meios de produção e a livre iniciativa –, e o intervencionismo
sistemático estatal, visando resultados socializadores, característica que remete
à Constituição de Weimar, na Alemanha, de 1919, por ser um marco constitu-
cional relativo à inserção da ordem econômica em seu texto, relacionando-a
à existência digna30.
Mas, antes de uma reflexão sobre tais aspectos, oportuno ter em mente
o alerta do Ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal,
feito no encerramento do Congresso Brasileiro de Direito Comercial, em
São Paulo, em 2014:
“Precisamos superar o preconceito e a desconfiança que ainda exis-
tem no Brasil em relação ao empreededorismo e à iniciativa privada.
Temos um capitalismo envergonhado. Ser progressista significa querer
distribuir as riquezas de forma mais justa. Mas a história provou que,
ao menos no atual estágio da condição humana, a iniciativa privada
27
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Trad. Lucia Guidicini e Alessandro Berti Contessa.
2 ed. 3 tir. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 56.
28
PALMER, Tom G. Por que ser libertário?. In: Por que liberdade? Trad. Matheus Pacini, rev.Vi-
nícius Cintra. Ottawa, IL, USA: Students for Liberty & The Atlas Network/ Jameson Books Inc..
2013, p. 5-13.
29
PIMENTA, Eduardo Goulart. Direito societário. 2 ed. atual. e ampl., Belo Horizonte: Expert.
2020, p. 36.
30
Constituição de Weimar, art. 151, caput: “A organização da vida econômica deve cor-
responder aos princípios da justiça e ter como objetivo a garantia de uma existência
humana digna a todos. Dentro destes limites, a liberdade econômica do indivíduo deve
ser assegurada” (tradução livre). Texto original: “Die Ordnung des Wirtschaftslebens muss
den Grundsätzen der Gerechtigkeit mit dem Ziele der Gewährleistung eines mens-
chenwürdigen Daseins für alle entsprechen. In diesen Grenzen ist die wirtschaftliche
Freiheit des einzelnen zu sichern”.
48
é melhor geradora de riquezas do que o Estado. Trata-se de uma
constatação e não de uma opção ideológica. Precisamos aceitar esta
realidade e pensar a vida a partir dela.”31
31
BARROSO, Luis Roberto. Estado e livre iniciativa na experiência constitucional brasileira. Apon-
tamentos para a conferência de encerramento do Congresso Brasileiro de Direito Comercial,
São Paulo, 11 de abril de 2014.
32
Laissez-faire é uma expressão francesa que pode ser traduzida como “deixar fazer”, di-
retamente associada à economia liberal, que propõe que Estado não deve interferir no
funcionamento do mercado, limitando-se a proteger, basicamente, a Lei e a ordem.
33
Mises explica que o sistema de liberdade econômica “é a economia de mercado, é o sistema em
que a cooperação dos indivíduos na divisão social do trabalho se realiza pelo mercado”, em que todos
prestam serviços entre si, em diferentes funções e carreiras, frisando que o mercado não é
um lugar, mas, sim, “um processo, é a forma pela qual, ao vender e comprar, ao produzir e consumir, as
pessoas estão contribuindo para o funcionamento global da sociedade”, podendo, inclusive, mudarem
seu status ao longo desse processo, de forma que “num sistema desprovido de mercado, em que o
governo determina tudo, todas essas outras liberdades [de expressão, de pensamento, de culto, de imprensa
etc.] são ilusórias, ainda que postas em forma de lei e inscritas na constituição”. In: MISES, Ludwig
von. As seis lições. Trad. Maria Luiza Borges. 9ª ed., São Paulo: Instituto Ludwig von Mises
Brasil, 2018, p. 55/56.
34
BARROSO, Luis Roberto. A Ordem Econômica Constitucional e os limites à atuação estatal no
controle de preços. Revista de Direito Administrativo. v. 226, Rio de Janeiro: FGV, 2001, p. 187-212.
49
da propriedade; liberdade contratual x dirigismo contratual), sempre tendo
em conta o alerta de Barroso, no sentido de que o Estado não pode pretender
subverter os papéis de cada um na Economia e pretender que a iniciativa pri-
vada renuncie ao lucro e, em lugar dele, “oriente sua atividade para a consecução
dos princípios-fins [v.g., existência digna, diminuição das desigualdades sociais
etc. ] da ordem econômica como um todo, com sacrifício da livre-iniciativa”, pois isso
seria dirigismo. E continua seu raciocínio, exemplificando:
“O Poder Público não pode supor, e.g., que uma empresa esteja
obrigada a admitir um número x de empregados, independentemente
de suas necessidades, apenas para promover o pleno emprego. Ou
ainda que o setor privado deva compulsoriamente doar produtos para
aqueles que não têm condições de adquiri-los, ou que se instalem
fábricas obrigatoriamente em determinadas regiões do País, de modo
a impulsionar seu desenvolvimento.”35
35
BARROSO, Luis Roberto. A Ordem Econômica Constitucional e os limites à atuação estatal no
controle de preços. Revista de Direito Administrativo. v. 226, Rio de Janeiro: FGV, 2001, p. 187-212.
36
MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação empresarial. 7 ed.. São
Paulo: Atlas, 2013, p. 42.
37
MISES, Ludwig von. Intervencionismo, Uma Análise Econômica. 2 ed. São Paulo: Instituto Ludwig
von Mises Brasil, 2010, p. 80.
50
forma como lhe aprouver e em prol de sua atividade econômica; tudo isso revela
o importante papel do empresário para a sociedade, para a coletividade, tanto
que se tem o princípio da preservação da empresa, justamente para garantir
essa função social de uma sociedade empresária. Mas, sempre tendo em mente
que a liberdade de iniciativa deve se sobrepor à burocracia, pois o fim almejado
pelos empresários é o lucro, enquanto o ambiente burocrático, conforme alerta
Mises, tende a causar gastos supérfluos, em razão da dificuldade de se fazer
avaliações, próprias de uma organização empresarial, tal como sua contabilidade
e escrituração a fim de se calcular os lucros e perdas, por exemplo, bem como
dos critérios formais de seleção, nomeação e promoção das pessoas envolvidas,
distintos dos que são feitos pela iniciativa privada38. O empresário deve exercer
sua empresa com liberdade, sem ter que se preocupar mais com os desejos e
caprichos formais a ele impostos – para evitar sanções negativas –, do que com
sua atuação econômica na busca pelo lucro, conforme alerta Mises, sob pena o
empresário burocratizar o seu negócio39. Afinal, ensina o festejado economista,
“nenhuma empresa privada, qualquer que seja o tamanho, pode tornar-se burocrática,
na medida em que é total e unicamente operada em bases lucrativas” (sic), de maneira
que se o empresário tiver que atender a “preconceitos políticos e à suscetibilidade
de todos os tipos”, vale dizer, cedendo ao intervencionismo simplesmente para
ter que “evitar que seja continuamente importunada por vários órgãos estatais”, com
o tempo, ele perceberá que “não está mais em condições de basear seus cálculos sobre
o sólido princípio de lucros e perdas”40.
Dessa forma, estando mais claros os papéis do Público (Estado) e do
Privado (empresários e empreendedores) na questão econômica, oportuna a
observação de Gomes:
38
MISES, Ludwig von. Liberalismo segundo a tradição clássica. 2 ed., trad. Haydn Coutinho Pimenta
São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010, p. 120/122.
39
Há autores, contudo, que defendem o contrário, alegando que, no século XXI, o empresário
deve agir pautado pela sustentabilidade, aceitação social, redução das desigualdades etc., a fim
de aumentar a própria reputação. (NALINI, José Renato. Ética empresarial. In: Coletânea da
atividade negocial/ org.: André Guilherme Lemos Jorge et al. – São Paulo: Universidade
Nove de Julho - UNINOVE, 2019, p. 221/227).
40
MISES, Ludwig von. Liberalismo segundo a tradição clássica. 2 ed., trad. Haydn Coutinho Pimenta
São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010, p. 122.
41
GOMES, Fábio Bellote. Manual de Direito Empresarial. 4 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo:
RT, 2013, p. 46.
51
Brasil. Afinal, “no plano da Constituição de 1988, a liberdade é consagrada, principio-
logicamente, como fundamento da República Federativa do Brasil e como fundamento
da ordem econômica”42, que se revela de diferentes formas na atividade negocial,
v.g., liberdade de iniciativa, liberdade de comércio e indústria, liberdade de
concorrência, liberdade contratual etc.. E, conforme alerta Pimenta, a empresa
e o mercado livre “dependem da intervenção normativa sobre o funcionamento deles,
de modo a corrigir suas inevitáveis falhas e moldar-lhes o exercício conforme os valores
prevalentes à época”43. O Estado é importante para determinar o que Friedman
denomina “regras do jogo” – o mercado deve ser impessoal, sem rivalidades
pessoais, para ser competitivo realmente –, mas sem que aquele tenha que par-
ticipar diretamente do jogo, atuando como um árbitro e mantendo as regras
em vigor, de forma a evitar a coerção de um indivíduo por outro, a propiciar
a execução dos contratos que foram celebrados voluntariamente, a evitar a
criação e manutenção de monopólios – para garantir, efetivamente, a liberdade
de troca, de outros atuarem no mesmo ramo –, etc.44.
Pensamos que, visando garantir essa ideia, o Constituinte inseriu os incisos
do art. 170, destacados acima, para que, a partir de seu entendimento e aplica-
ção adequada, o operador do Direito possa definir, claramente, quais seriam as
práticas econômicas e empresariais nocivas ao modelo Constitucional e quais
normas infraconstitucionais tendem a assegurar o modelo Constitucional, vez
que, nos termos do art. 173, da CR/88, é poder-dever do Estado reprimir abusos
do poder econômico e atos de concorrência desleal, não só do Direito Comer-
cial, como também do Direito Econômico. Assim, ao se falar, por exemplo, em
garantir o direito subjetivo à livre concorrência, surge concomitantemente, o
dever jurídico de não agir de forma desleal, anticoncorrencial, afetando não
só os concorrentes diretos, como também o mercado, o consumidor.
Voltando os olhos mais especialmente ao Direito Comercial, um impor-
tante princípio é o da livre iniciativa, que nas palavras do Ministro Barroso,
“pode ser decomposto em alguns elementos que lhe dão conteúdo, todos eles desdobrados
no teto constitucional”45, vinculando-o à propriedade privada (CR/88, art. 5°,
XXII), à liberdade de empresa, à livre concorrência e à liberdade para contratar
(CR/88, art. 5°, II).
Várias dessas questões serão trabalhadas ao longo dos próximos Capítulos
deste Curso, mas a título meramente exemplificativo e didático, vejamos o
quadro abaixo:
42
GRAU, Eros Roberto. Princípios da ordem econômica e empresa. In: Coletânea da atividade
negocial/ org.: André Guilherme Lemos Jorge et al. – São Paulo: Universidade Nove de
Julho - UNINOVE, 2019, p. 20.
43
PIMENTA, Eduardo Goulart. Direito societário. 2 ed. atual. e ampl., Belo Horizonte: Expert.
2020, p. 28.
44
FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e Liberdade. Rio de Janeiro: LTC, 2014.
45
BARROSO, Luis Roberto. A Ordem Econômica Constitucional e os limites à atuação estatal no
controle de preços. Revista de Direito Administrativo. v. 226, Rio de Janeiro: FGV, 2001, p. 187-212.
52
Princípio Constitucional Ato analisado Norma Infraconstitucional
Outros atos tem sua situação mais complexa e entrelaçada com um ou mais
princípios, tal como acontece com a proteção às Microempresas e Empresas
de Pequeno Porte52. A priori, tal proteção poderia ser considerada contrária à
livre concorrência, mas esse choque seria apenas aparente, pois a intenção é
proteger as pessoas que possuem menores condições de competitividade no
mercado, se comparadas aos grandes empresários e conglomerados, para que,
dessa maneira, seja efetivada a liberdade de concorrência e de iniciativa.
Orientados por esses princípios, consagrados a partir de 1988, vencidos o
preconceito e a desconfiança em relação à iniciativa privada, podemos passar
à nossa atual legislação.
Com isso – o advento do Código Civil de 200253 – mudou-se o foco
do Direito Comercial brasileiro: o que interessa, agora, é a empresa (atividade
46
Sobre Marcas e Patentes, veja-se especialmente os Capítulos 9 e 11.
47
Sobre a proteção à responsabilidade limitada do sócio, veja-se especialmente os Capítulos 5 e 13.
48
Sobre a proteção conferida ao ponto comercial, na locação comercial, veja-se especialmente
o Capítulo10.
49
Sobre a preservação da empresa, veja-se especialmente os Capítulos 10 e 13.
50
Sobre a EIRELI, veja-se especialmente o Capítulo 5.
51
Sobre a proteção ao nome empresarial e à marca, veja-se especialmente os Capítulos 8 e 9.
52
Sobre Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, veja-se especialmente o Capítulo 4.
53
O Código Civil brasileiro, de 2002, em seu Livro II, pode ser entendido, em síntese, como
uma cópia do pensamento fascista de Benito Mussolini, que, tal como alertado pelo festeja-
do Prof. Wille Duarte Costa, no prefácio histórico desta obra, não gostava de comerciantes
e da atividade mercantil. Afinal, dentre as características atribuídas ao regime fascista, por
estudiosos do tema – v.g., Renzo de Felice e Emilio Gentile –, estão a busca por um Estado
forte, em contraposição ao liberalismo, à mentalidade liberal – criticada por Alfredo Rocco,
jurista que foi ministro da justiça de Benito Mussolini –, com adoção de medidas populistas,
direcionadas a combater o livre mercado; organização da classe trabalhadora, com forte apoio
53
econômica organizada), exercida, profissionalmente, por um empresário ou por uma
sociedade empresária (para a produção ou a circulação de bens ou de serviços) e
não mais a prática de atos de comércio. Mas, apesar dessa mudança de foco, a Lei n.
10.406/2002 não definiu a empresa; definiu o empresário e a sociedade empre-
sária. De qualquer forma, com essa mudança de foco, nosso Direito Comercial
se afastou da “teoria dos atos de comércio”, criada pelos franceses, e abraçou a
“teoria da empresa”, criada pelos italianos; saiu da chamada fase “objetivista”,
determinada pelo Regulamento n. 737, e entrou, novamente, na fase “subjetivis-
ta”; uma fase “subjetivista mais que moderna” (para não se confundir com a fase
“subjetivista moderna”, própria do processo de evolução do Direito Comercial
no mundo), uma fase subjetivista contemporânea, diferente, com característica
própria, onde a figura central, na verdade, é o empresário e a sociedade empresária,
sujeitos de direito; não a empresa, que não é sujeito, mas objeto, vez que exercida por
um empresário ou por uma sociedade empresária. Por outras palavras, não é a empresa
quem faz a produção ou a circulação de bens ou serviços; é o empresário ou a
sociedade empresária, por intermédio da empresa. O sujeito, pois, não há dúvida, é
o empresário ou a sociedade empresária (Lei n. 10.406/2002, arts. 966 e 982).
Aí, portanto, o porquê de termos falado em fase subjetivista mais que moderna,
contemporânea, diferente. E aí, também, a razão de muitos quererem, agora,
chamar o Direito Comercial de “Direito Empresarial”. De notar, entretanto,
que o Código Civil brasileiro, de 2002, não fez essa alteração de nome e nem
a autorizou; apenas chamou a si, por opção do legislador, a competência para
disciplinar uma parte da matéria comercial; parte que ele denominou “direito
de empresa”; não, “direito empresarial”. Apenas isso; nada mais. Mesmo porque
não está definido, ali, todo o objeto, todo o conteúdo do Direito Comercial.
O que, no Código Civil de 2002, se chama “direito de empresa” é apenas uma
pequena parte do conteúdo do Direito Comercial brasileiro. Por conseguinte,
inadmissível para nós, pelo simples fato de ter vindo à luz o Código Civil de
2002, a pretendida alteração do nome desse ramo do Direito.
No primeiro semestre de 2019 foi editada a Medida Provisória n. 881,
com o objetivo de “instituir a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica e
estabelecer garantias de livre mercado, conforme determina o art. 170 da Constituição
Federal”, conforme se vê em sua exposição de motivos, que também enalteceu
que “a liberdade econômica é cientificamente um fator necessário e preponderante para o
desenvolvimento e crescimento econômico de um país”, de forma a valorizar o empre-
endedorismo, a livre iniciativa, a presunção de boa-fé na atividade econômica,
no intuito de diminuir a intervenção do Estado, especialmente nas atividades
consideradas de baixo risco de causar danos.
aos sindicatos, para que atuem junto ao Governo, que tende a implementar uma legislação
trabalhista com grande proteção ao trabalhador, para evitar a ameaça do grande capital; e,
finalmente, a idolatria por um líder com imagem vinculada à classe operária. Diante dessas
características, é fácil concluir que o pensamento fascista não valorizava o comerciante e a
atividade comercial. Afinal, conforme destaca o economista Mises, o programa econômico
da Itália de Mussolini era “totalmente antiliberal e a política econômica totalmente intervencionista”
(MISES, Ludwig von. Liberalismo - segundo a tradição clássica. 2 ed. Trad. Haydn Coutinho
Pimenta. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010, p. 75).
54
Dentre as propostas mais relacionadas aos temas de Direito Comercial,
estavam a reforma de regras referentes à Empresa Individual de Responsabili-
dade Limitada (EIRELI), mudanças relacionadas às sociedades anônimas e ao
mercado de capitais, favorecendo a adesão de empresários de menor porte, a
criação da sociedade limitada unipessoal, bem como alterações relacionadas ao
Registro Público de Empresas Mercantis.
Após os debates do Congresso Nacional, a referida Medida Provisória
n. 881 foi sancionada, em 20 de setembro de 2019 (Lei n. 13.874/2019), mais
conhecida como “Lei da Liberdade Econômica”. A essência da nova Lei pode
ser vista logo em seu art. 1°, que destaca:
• “proteção à livre iniciativa e ao livre exercício de atividade econômica” (art. 1º, caput);
• “atuação do Estado como agente normativo e regulador, nos termos do inciso IV
do caput do art. 1º, do parágrafo único do art. 170 e do caput do art. 174 da
Constituição Federal” (art. 1º, caput);
• interpretação “em favor da liberdade econômica, da boa-fé e do respeito aos
contratos, aos investimentos e à propriedade todas as normas de ordenação pública
sobre atividades econômicas privadas” (art. 1º, § 2º).
Para tanto, foram expressos os princípios que norteiam a Liberdade Eco-
nômica, no art. 2º, in verbis:
“I - a liberdade como uma garantia no exercício de atividades econômicas;
II - a boa-fé do particular perante o poder público;
III - a intervenção subsidiária e excepcional do Estado sobre o exercício
de atividades econômicas; e
IV - o reconhecimento da vulnerabilidade do particular perante o Estado.
Parágrafo único. Regulamento disporá sobre os critérios de aferição
para afastamento do inciso IV do caput deste artigo, limitados a questões
de má-fé, hipersuficiência ou reincidência.”
54
CC, art. 421: “A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato.
Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção
mínima e a excepcionalidade da revisão contratual.”
55
item 6.2., além de instituir a sociedade limitada unipessoal, que será abordada no
Capítulo 13, item 6.6., todos deste Curso. Tais mudanças, dentre outras inseridas
pela Lei da Liberdade Econômica (Lei n. 13.874/2019), visam à melhoria do
ambiente de negócios no Brasil, o que é imprescindível para o desenvolvimento
econômico e social,“porque são os empreendedores que geram emprego e renda
para a população, e não o Estado”55, conforme importante alerta de Ramos.
Pode-se concluir, pois, que o chamado Direito Comercial – também de-
nominado empresarial, de negócios, mercantil etc. –, está em constante mutação,
apesar de manter, ao longo de séculos, suas características e sua autonomia. Con-
forme sintetizado por Adeodato, “a dinâmica da empresa é diretamente proporcional
às modificações aceleradas por que passa a economia”56, sendo um fenômeno que pode
ser considerado iniciado na Idade Média – como um direito próprio dos comer-
ciantes –, passando pela revolução burguesa e evoluindo desde a teoria francesa
dos atos de comércio até a teoria italiana da empresa, indo muito além da mera
mudança na nomenclatura ou na denominação desse ramo do Direito Privado.
56
consiste em estabelecer uma proposição geral com base no conhecimento
de certo número de dados singulares ou de proposições de menor ge-
neralidade.Vale dizer: ele sugere, induz, incita, faz conexão ou interação,
junta por acoplamento.
E essa autonomia jurídica do Direito Comercial/Empresarial, registre-se,
está expressa no Código Civil brasileiro de 2002, que fez, em parte, a unificação
legislativa do Direito Civil e do Direito Comercial. Nele, a matéria comercial/
empresarial, que o legislador resolveu denominar “Direito de Empresa”, está
disciplinada no Livro II da Parte Especial, tem 230 artigos (do 966 ao 1.195) e
não se confunde, de forma alguma, com a matéria civil, disciplinada nos demais
artigos da Lei n. 10.406, de 2002. Não tivesse ele autonomia jurídica, não
haveria razão para esse tratamento diferenciado, na mesma lei.
A divisão do Direito Privado, então, está presente em nosso País, muito
embora seja grande o movimento no sentido de unificá-lo.
Se tal acontecer, ou seja, se houver essa unificação, o Direito Comercial,
ou Empresarial, perderá sua autonomia jurídica? Deixará de existir?
A resposta é negativa. O Direito Comercial/Empresarial, mesmo havendo
efetiva unificação do Direito Privado, continuará a existir, enquanto disciplina
científica, didática, autônoma. Apenas o Código Comercial desaparecerá. Nada
mais. Aliás, boa parte dele já desapareceu, conforme registrado no item 4, retro.
Nem por isso o Direito Comercial/Empresarial perdeu sua autonomia jurídica;
nem por isso deixou de existir.
57
vinculadas ao Registro Público de Empresas Mercantis, vez que, se não tiverem,
tratarão de introduzir e evidenciar, em seus atos orgânicos, a existência de um
ou mais elementos de empresa, o que autorizará seu registro na Junta Comercial.
E a unificação legislativa obtida por meio da Lei n. 10.406, citada, só fez
confirmar essa assertiva, como evidenciado no item 2, deste capítulo.
Se assim é, podemos afirmar, esse movimento de unificação não é deter-
minado pelo Direito Civil, mas pelo próprio Direito Comercial/Empresarial.
Mas é possível uma unificação total, plena, no Brasil?
Sim, desde que eliminemos as grandes diferenças que evidenciam os limites
das atividades comerciais/empresariais e civis (não empresariais). Profundas modi-
ficações, portanto, haverão de ser feitas na legislação, de modo a tornar os institutos,
de um e de outro, compatíveis. Não poderá existir, por exemplo, a insolvência co-
mercial (falência) ao lado da insolvência civil, como ocorre nos dias atuais. Se assim
não se fizer, ainda que as matérias sejam disciplinadas por uma única lei, não haverá,
de fato, unificação; não se acabará, na realidade, com a divisão do Direito Privado.
Essa pretendida unificação, portanto, será muito difícil de ser conseguida, no Brasil.
58
país, qual é o objeto de seu Direito Comercial. Basta lembrar que, juridica-
mente, comércio é um “conjunto de atos a que, num determinado país, numa
determinada conjuntura histórica, se aplica o Direito Comercial desse país”.
Consequentemente, é por intermédio da “lei comercial/empresarial” que se faz
a distinção entre matéria comercial/empresária e matéria civil (não empresária).
Prova disso é que, no Código Civil de 2002, à matéria comercial ali definida
– a que o legislador, recorde-se, chamou “Direito de Empresa” – foi dedicado um
livro específico, possibilitando-nos, assim, fazer, sem maiores dificuldades, a distinção.
57
FERRAZ JR.,Tércio Sampaio. Introdução em estudo do Direito. 5 ed. São Paulo:Atlas, 2007, p. 225.
58
SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa – Teoria da empresa e direito societário. São Paulo:
Atlas, 2007, p. 82.
59
FERRAZ JR.,Tércio Sampaio. Introdução em estudo do Direito. 5 ed. São Paulo:Atlas, 2007, p. 227.
59
A resposta, pelo acima exposto, será negativa, muito embora haja quem60
diga seja ele fonte subsidiária, secundária, pelo fato de suprir as lacunas ou
omissões do Direito Comercial, que é fragmentário.
Tal entendimento, porém, não nos parece correto. E nem mesmo o fato
de a Lei n. 10.406, de 10.1.2002, que instituiu o Código Civil brasileiro, ter
chamado a si a competência para tratar dos assuntos de que cogitavam os arts.
1º a 456 de nosso vetusto Código Comercial impõe uma mudança de opi-
nião. Basta pensar no conceito de fonte e no como e porque surgiu o Direito
Comercial, para se perceber nossa filiação à corrente oposta.
Ademais, como direito comum, o Direito Civil se aplica a todas as relações
de direito privado, quando não for afastado pelas regras do direito especial.
E as regras jurídicas comerciais/empresariais, vimos, constituem um direito
especial, ainda que estabelecidas ao lado das regras civis. São elas que definem
o que é matéria comercial/empresarial, a ela (matéria comercial/empresarial)
se aplicando com exclusividade. Sobre essa diferença e, a fim de exemplificar
isso, mister notar a explicação de Lopes:
60
Empresarial. O Direito Comercial/Empresarial, permita-se a repetição, não
nasceu do Direito Civil, mas a latere do Direito Civil.
E considerando que o Direito Comercial foi, no início, um direito costu-
meiro ou consuetudinário, conserva ele, até hoje, como fonte subsidiária, os usos e
costumes comerciais. Tal entendimento é adotado, também, por outros autores62, que
defendem a importância das práticas mercantis para a interpretação das normas
e aplicação do Direito. E, junto dos usos e costumes, como fonte secundária, há
quem elenque a doutrina, a analogia, a jurisprudência e os princípios gerais de
Direito. Mas, não há consenso acerca delas: enquanto há quem rechace a ideia da
doutrina como fonte, por ser apenas meio para auxiliar o processo de compreensão,
outros a defendem como fonte63. O mesmo fenômeno pode ser identificado
com relação aos princípios gerais de Direito64, a jurisprudência65 e a analogia66.
Por isso, enfatizamos a questão dos usos e costumes como fonte secundária.
61
seja imperativa, de ordem pública, cabendo a quem invocar o uso e costume
provar sua existência e sua vigência.
Diante disso, cabe perguntar:
67
STJ, Súmula 370:“Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.”
62
Ademais, a mencionada Lei n. 7.357, de 2.9.1985, recepcionou a ideia
do cheque visado e incorporou-a, por seu art. 7º, ao seu texto. Assim, embora
nem tanto utilizado mais, já não se pode dizer, na atualidade, que o cheque
visado é um uso ou costume comercial, pura e simplesmente. Hoje, no Brasil,
é um instituto de Direito Positivo.
E já que o Direito Comercial/Empresarial mantém, tradicionalmente, os
usos e costumes como fontes subsidiárias, vejamos sua classificação:
usos propriamente ditos ou usos de direito – os que são imperativos e têm
força de lei. É dizer: a lei determina, no caso, a utilização do uso e
costume do lugar. A eficácia desses usos e costumes, pois, decorre
da lei e não da vontade das partes;
usos interpretativos ou convencionais – os que não são imperativos e
recebem eficácia da simples vontade das partes. Decorrem, portanto,
da prática espontânea dos comerciantes; de sua utilização – a seu
critério – em suas relações comerciais/empresariais.
63
4º) decorridos os prazos de que trata o n. 3 e não apresentado para
pagamento o cheque visado, é costume restabelecer, por meio de
estorno contábil, a quantia bloqueada, no crédito do sacador.
Registre-se e publique-se.
Belo Horizonte, 8 de março de 1965
Lauro Gomes Vidal, Presidente.”
Outras existem, mas essas são mais que suficientes para bem caracterizar
o Direito Comercial/Empresarial.
64
EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO
1. A que ramo do Direito pertence o Direito Comercial/Empresarial?
2. Como e por que surgiu o Direito Comercial?
3. Atualmente, qual é a abrangência do Direito Comercial/Empresarial brasileiro?
4. Economicamente, como se define o comércio? E juridicamente?
5. Em que fase histórica, e como, começou a se cristalizar o Direito Comercial?
6. Como se explica a divisão do Direito Privado?
7. Como se explica ou se justifica a autonomia do Direito Comercial/Empre-
sarial diante do Direito Civil?
8. O que é matéria comercial/empresarial?
9. Por que se diz que a doutrina unificadora do Direito Privado não é deter-
minada pelo Direito Civil?
10. Quais são as fontes do Direito Comercial/Empresarial?
11. O Direito Civil pode ser considerado como fonte do Direito Comercial/
Empresarial? Por quê?
12. Como surgem os usos e costumes comerciais? Como são/devem ser exercidos?
13. O que se exige para a formação de um uso ou costume comercial?
14. Como se classificam os usos e costumes comerciais, e como fazer o
enquadramento de um uso ou costume comercial nessa classificação?
15. O que é necessário para que se registre um uso ou costume comercial?
16. Qual o ônus para quem invoca um uso ou costume comercial?
17. Os usos e costumes podem ser contra a lei? Se negativa sua resposta,
como explicar a substituição de uma lei por um uso ou costume comercial?
Ou essa substituição não pode ocorrer?
18. Quais são as peculiaridades do Direito Comercial/Empresarial? Explique-as.
19. Qual a importância da distinção entre os papéis do Estado e do particular
para se entender o Direito Comercial brasileiro?
20. Explique por que os aspectos econômicos são relevantes para o entendi-
mento da evolução do direito Comercial.
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