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INSTITUTO POLITECNICO DE PESQUISA DE MOÇAMBIQUE

Curso: Enfermagem geral Período: Pós-Laboral

Trabalho em grupo de Ética

Tema: Direitos e deveres dos pacientes

Estudantes: 1º Ano I Semestre

 Zenilda Medson Langa


Docente: Dra. Simeria

Maputo, Abril de 2024


Índice
1. Introdução....................................................................................................................................1

2. Deveres dos pacientes..................................................................................................................2

3. Direitos dos pacientes..................................................................................................................3

4. Consequências ao nível da comunidade......................................................................................6

5. Conclusão....................................................................................................................................9

6. Referências bibliográficas.........................................................................................................10
1. Introdução

O Direito à Saúde é um direito fundamental consagrado na Constituição da República de


Moçambique conforme consagrado no artigo 89: “Todos os cidadãos têm direito à assistência
médica e sanitária, nos termos da lei, bem como o dever de promover e defender a saúde
pública”. É nesse sentido que o Sistema Nacional de Saúde (SNS) moçambicano, criado através
da Lei n.º 25/91, de 31 de Dezembro, estabelece mecanismos para a realização daquele
objectivo.

Para a efectivação deste desiderato, o governo moçambicano através da Resolução n.º 73/2007,
de 18 de Dezembro, adoptou a Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (CDDD), composta por
22 artigos que se subdividem entre os direitos e deveres do doente, dos quais 12 correspondem
aos direitos e os restantes 10 artigos aos deveres.

A CDDD não é um documento muito conhecido, isto é, não houve muita divulgação desde a sua
aprovação em 2007. 13 anos passaram e a Carta revela-se um tanto a quanto desajustada para a
actual realidade e necessidades de saúde dos utentes de saúde.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que o respeito pelos direitos dos pacientes
não é apenas uma questão ética, mas também uma questão de saúde pública, contribuindo para
sistemas de saúde mais eficazes e equitativos.

Os direitos dos pacientes têm papel fundamental na promoção de uma assistência à saúde
centrada nas pessoas, o que abrange um atendimento digno, de respeito e livre de discriminação.

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2. Deveres dos pacientes

De acordo com a Resolução № 73/2007, de 18 de Dezembro os deveres dos pacientes são:

1. O doente tem o dever de zelar pelo seu estado de saúde.

Dever de se abster de atitudes, comportamentos e hábitos que ponham em risco a sua própria
saúde ou a de terceiros.

2. O doente tem o dever de fornecer aos profissionais de saúde todas as informações


necessárias para obtenção de um correcto diagnóstico e adequado tratamento.

Dever de colaborar com os profissionais da saúde, nomeadamente respeitando as recomendações


que são feitas e fornecendo todas as informações necessárias para obtenção de um diagnóstico
correcto e um tratamento adequado.

3. O doente tem o dever de respeitar os direitos dos outros doentes.

O paciente deverá respeitar os direitos dos demais pacientes, acompanhantes, funcionários e


prestadores de serviços da Instituição.

4. O doente tem o dever de colaborar com os profissionais de saúde, respeitando as


indicações que lhe são recomendadas e, por si, livremente aceites.

O paciente deverá demonstrar o entendimento das ações efetuadas ou propostas visando a cura
dos agravos à sua saúde, a prevenção das complicações ou sequelas, sua reabilitação e a
promoção de sua saúde, podendo fazer perguntas sempre que tiver dúvidas.

5. O doente tem o dever de respeitar as regras de funcionamento dos serviços de saúde.

O paciente deverá conhecer e respeitar as normas e regulamentos da Instituição por meio do


Manual de Orientação ao Paciente.

6. O doente tem o dever de utilizar os serviços de saúde de forma apropriada e de colaborar


activamente na redução de gastos desnecessários.
7. O doente tem o dever de reconhecer o trabalho sanitário feito.
8. O doente tem o dever de não oferecer valores monetários ou qualquer outro bem em troca
dos serviços prestados.
9. O doente tem o dever de respeitar os profissionais de saúde.

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10. O doente tem o dever de colaborar na higiene, limpeza e ornamentação das unidades
sanitárias.

3. Direitos dos pacientes

De acordo com a Resolução № 73/2007, de 18 de Dezembro os direitos dos pacientes são:

1. O doente tem direito a ser tratado no respeito pela dignidade humana.

É um direito humano fundamental, que adquire particular importância em situação de doença.


Deve ser respeitado por todos os profissionais de saúde envolvidos no processo de prestação de
cuidados, quer no que se refere aos aspectos técnicos, quer no que concerne a actos de
acolhimento, orientação e encaminhamento dos doentes. É também indispensável que o doente
seja informado sobre a identidade e a profissão de todo o pessoal que participa no seu
tratamento. Este direito abrange ainda as condições das instalações e equipamentos, que têm de
proporcionar o conforto e o bem-estar exigidos pela situação de vulnerabilidade em que o doente
se encontra.

2. O doente tem direito ao respeito pelas suas convicções culturais, filosóficas e religiosas.

Cada doente é uma pessoa com as suas convicções culturais e religiosas. As instituições e os
prestadores de cuidados de saúde têm, assim, de respeitar esses valores e providenciar a sua
satisfação. O apoio de familiares e amigos deve ser facilitado e incentivado. Do mesmo modo,
deve ser proporcionado o apoio espiritual requerido pelo doente ou, se necessário, por quem
legitimamente o represente, de acordo com as suas convicções.

3. O doente tem direito a receber os cuidados apropriados ao seu estado de saúde, no âmbito
dos cuidados preventivos, curativos, de reabilitação e terminais.

Os serviços de saúde devem estar acessíveis a todos os cidadãos, de forma a prestar, em tempo
útil, os cuidados técnicos e científicos que assegurem a melhoria da condição do doente e seu
restabelecimento, assim como o acompanhamento digno e humano em situações terminais. Em
nenhuma circunstância os doentes podem ser objecto de discriminação. Os recursos existentes
devem ser integralmente postos ao serviço do doente e da comunidade, até ao limite das
disponibilidades.

4. O doente tem direito à prestação de cuidados continuados.

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Em situação de doença, todos os cidadãos têm o direito de obter dos diversos níveis de prestação
de cuidados (hospitais, centros e postos de saúde) uma resposta pronta e eficiente, que lhes
proporcione o necessário acompanhamento até ao seu completo restabelecimento. Para isso,
hospitais, centros e postos de saúde têm de coordenar de forma a não haver qualquer
descontinuidade na prestação de cuidados que possam ocasionar danos ao doente. O doente e
seus familiares têm direito a ser informados das razões da transferência de um nível de cuidados
para outro e a ser esclarecidos de que a continuidade da sua prestação fica garantida. Ao doente e
sua família são proporcionados os conhecimentos e as informações que se mostrem essenciais
aos cuidados que o doente deve continuar a receber no seu domicílio. Quando necessário e
possível, deverão ser postos à sua disposição cuidados domiciliários ou comunitários.

5. O doente tem direito a ser informado acerca dos serviços de saúde existentes, suas
competências e níveis de cuidados

Ao cidadão tem que ser fornecida informação acerca dos serviços de saúde locais, regionais e
nacionais existentes, suas competências e níveis de cuidados, regras de organização e
funcionamento, de modo a optimizar e a tornar mais cómoda a sua utilização. Os serviços
prestadores dos diversos níveis de cuidados devem providenciar no sentido de o doente ser
sempre acompanhado dos elementos de diagnóstico e terapêutica considerados importantes para
a continuação do tratamento. Assim se evitam novos exames e tratamentos, penosos para o
doente e dispendiosos para a comunidade.

6. O doente tem direito a ser informado sobre a sua situação de saúde.

Esta informação deve ser prestada de forma clara, devendo ter sempre em conta a personalidade,
o grau de instrução e as condições clínicas e psíquicas do doente. Especificamente, a informação
deve conter elementos relativos ao diagnóstico (tipo de doença), ao prognóstico (evolução da
doença), tratamentos a efectuar, possíveis riscos e eventuais tratamentos alternativos. O doente
pode desejar não ser informado do seu estado de saúde, devendo indicar, caso o entenda, quem
deve receber a informação em seu lugar.

7. O doente tem o direito de obter uma segunda opinião sobre a sua situação de saúde.

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Este direito, que se traduz na obtenção de parecer de um outro clínico, permite ao doente
complementar a informação sobre o seu estado de saúde, dando-lhe a possibilidade de decidir, de
forma mais esclarecida, sobre o tratamento a prosseguir.

8. O doente tem direito a dar ou recusar o seu consentimento, antes de qualquer acto médico
ou participação em investigação ou ensino clínico.

O consentimento do doente é imprescindível para a realização de qualquer acto médico, após ter
sido correctamente informado. O doente pode, exceptuando alguns casos particulares, decidir, de
forma livre e esclarecida, se aceita ou recusa um tratamento ou uma intervenção, bem como
alterar a sua decisão. Pretende-se assim assegurar e estimular o direito à autodeterminação, ou
seja, a capacidade e a autonomia que os doentes têm de decidir sobre si próprios. O
consentimento pode ser presumido em situações de emergência. Em caso de incapacidade este
direito deve ser exercido pelo representante legal do doente.

9. O doente tem direito à confidencialidade de toda a informação clínica e elementos


identificativos que lhe respeitam.

Todas as informações referentes ao estado de saúde do doente – situação clínica, diagnóstico,


prognóstico, tratamento e dados de carácter pessoal – são confidenciais. Contudo, se o doente der
o seu consentimento e não houver prejuízos para terceiros, ou se a lei o determinar, podem estas
informações ser utilizadas. Este direito implica a obrigatoriedade do segredo profissional, a
respeitar por todo o pessoal que desenvolve a sua actividade nos serviços de saúde.

10. O doente tem direito de acesso aos dados registados no seu processo clínico.

A informação clínica e os elementos identificativos de um doente estão contidos no seu processo


clínico. O doente tem o direito de tomar conhecimento dos dados registados no seu processo,
devendo essa informação ser fornecida de forma precisa e esclarecedora. A omissão de alguns
desses dados apenas é justificável se a sua revelação for considerada prejudicial para o doente ou
se contiverem informação sobre terceiras pessoas.

11. O doente tem direito à privacidade na prestação de todo e qualquer acto médico.

A prestação de cuidados de saúde efectua-se no respeito rigoroso do direito do doente à


privacidade, o que significa que qualquer acto de diagnóstico ou terapêutica só pode ser
efectuado na presença dos profissionais indispensáveis à sua execução, salvo se o doente

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consentir ou pedir a presença de outros elementos. A vida privada ou familiar do doente não
pode ser objecto de intromissão, a não ser que se mostre necessária para o diagnóstico ou
tratamento e o doente expresse o seu consentimento.

12. O doente tem direito por si, ou por quem o represente, a apresentar sugestões e
reclamações.

O doente, por si, por quem legitimamente o substitua ou por organizações representativas, pode
avaliar a qualidade dos cuidados prestados e apresentar sugestões ou reclamações. Para esse
efeito, devem existir nos serviços de saúde, o gabinete do utente e ou o livro de reclamações. O
doente terá sempre de receber, em tempo útil, resposta ou informação acerca do seguimento dado
às suas sugestões e queixas.

4. Consequências ao nível da comunidade

O Ministério da Saúde reconhece os Comités de Qualidade e Humanização dos Cuidados de


Saúde nas Unidades Sanitárias como a principal forma de diálogo e ligação entre os serviços de
saúde e as comunidades. Os Termos de Referência revistos afirmam que o Comité de Qualidade
e Humanização das Unidades Sanitárias constitui uma equipa de assessoria e coordenação ao
processo de implementação das actividades de qualidade e humanização no âmbito da Unidade
Sanitária. Destina-se a empreender uma política institucional de resgate de valores humanitários
e de garantia de qualidade nos serviços de saúde, em benefício dos utentes e trabalhadores,
através da gestão participativa.

Contudo, o sector de saúde dispõe, também, da Carta dos Direitos e Deveres do Doente, como
instrumento que, no nosso entendimento, define o padrão da prestação de serviços, de
comportamento, e concede espaço ao cidadão individual ou colectivamente, para a exigência
directa de Serviços de Saúde de qualidade.

A este último propósito, cabe ressaltar que, no quadro do Direito (Direito a apresentar sugestões,
queixas e reclamações), é estabelecido que, através dos canais disponibilizados pelas
Autoridades Sanitárias, os doentes têm direito a apresentar, individual ou colectivamente,
petições, sugestões, reclamações ou queixas sobre a organização e funcionamento dos Serviços
de Saúde; e de ter as suas queixas atendidas prontamente e de maneira equitativa.

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O que se apreende do exposto é que, enquanto os Comités de Qualidade e Humanização
funcionam numa lógica essencialmente de Democracia Representativa, a Carta dos Direitos e
Deveres do Doente insere-se numa abordagem de Democracia Participativa, buscando promover
uma cidadania activa do doente e/ou cidadão na sua interacção directa com as unidades
sanitárias.

Segundo Augusta Correia, o envolvimento comunitário nesta unidade sanitária é materializado


através de encontros programados trimestralmente (abrindo-se espaço para a realização de
encontros extraordinários, caso haja necessidade) entre a unidade sanitária e a comunidade onde
há exposição dos problemas detectados pela comunidade na unidade sanitária, isto é, é um
encontro de interacção entre a unidade sanitária e a comunidade.

Existe um instrumento a cores, denominado satisfatórmetro, que é uma caixa fechada colocada à
disposição dos utentes, onde vermelho = Mau; Amarelo = Médio; e Verde = Bom/Excelente,
através do qual os utentes podem expressar a sua satisfação relativamente aos serviços prestados
pela unidade sanitária, e existe, igualmente, o livro de reclamações e sugestões, pese embora se
verifique o mau uso destas ferramentas.

No tocante à relação existente entre a unidade sanitária e a comunidade local, Augusta Correia
afirmou: “No geral, a relação entre o Centro de Saúde e a comunidade é boa, na medida em que
os utentes ajudam na identificação dos problemas da unidade sanitária em relação à sua prestação
e igualmente a unidade sanitária desenvolve actividades que visam satisfazer as necessidade
apresentadas pela comunidade ”.

Lorta Manhiça afirmou ainda que é possível observar alguns resultados advindos desta relação
existente entre o CSN e a comunidade local, das quais se pode destacar: a integração de
membros da comunidade no processo de gestão de filas, realização de jornadas de limpeza,
organização do arquivo clínico, conserto de sanitários com fundos da própria comunidade assim
como a integração de membros da comunidade na gestão de medicamentos na farmácia.

A sociedade civil diz que ainda há falta de atendimento humanizado nos hospitais públicos, em
parte pela falta de instrumentos para a penalização dos profissionais de saúde envolvidos. O
Ministério da Saúde reconhece o problema e diz estar a trabalhar para ultrapassá-lo.

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A negligência médica, as cobranças ilícitas, e a falta de cortesia são alguns factores que afectam
o sector público da Saúde no país, de acordo com as organizações da sociedade civil, numa
reunião com académicos e membros do Ministério da Saúde.

Para a sociedade civil, a situação impede que o cidadão tenha atendimento de qualidade. A
sociedade civil refere, igualmente, que o mau atendimento nas unidades sanitárias deve-se, por
um lado, à falta de um instrumento para penalizar os maus profissionais.

Por sua vez, o Ministério da Saúde diz que está a par dos problemas e trabalhos estão em curso
para melhorar a situação.

Para o filósofo Severino Ngoenha a formação dos profissionais de saúde deve ser um processo
contínuo para enraizar humanismo no sector, com vista a melhoria na prestação de serviços.

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5. Conclusão

Findo o trabalho podemos concluir que os deveres e direitos dos pacientes estão legislados de
modo que possam ser aplicados da melhor forma no desempenho das funções dos técnicos de
medicina e o respeito dos mesmo facilita o bom ambiente de trabalho com a comunidade pois a
mesma diz que as suas opiniões durante a realização das consultas não levada em conta e a sua
maioria revela que os profissionais de saúde não têm respeito algum pela opinião expressa pelos
utentes em relação aos serviços prestados.

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6. Referências bibliográficas

AUGUSTO, João Arménio, Ética e Qualidade do Serviço Público, DRCIE: Outubro 2008.

CESC. Desafio da articulação entre os cidadãos e os Comités de Qualidade e Humanização dos Cuidados
de Saúde como órgãos de representação da comunidade. 2018.

Assembleia da República, Constituição da República de Moçambique, Maputo, 2004.

Resolução n.º 73/2007, de 18 de Dezembro

https://www.observatoriodesaude.org/carta-dos-direitos-e-deveres-do-doente-desajustada-a-
actual-realidade/

https://opais.co.mz/ha-mau-atendimento-nos-hospitais-publicos-defende-sociedade-civil/

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