Apostila - Ead - Padrão Unifatecie - Língua Portuguesa - Sintaxe e Semântica - Atualizada 2023

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Língua Portuguesa :

Sintaxe e Semântica
Professora Ma. Maraisa Daiana da Silva
Diretor Geral
Gilmar de Oliveira

Diretor de Ensino e Pós-graduação


Daniel de Lima

Diretor Administrativo
Eduardo Santini

Coordenador NEAD - Núcleo


de Educação a Distância
Jorge Van Dal

Coordenador do Núcleo de Pesquisa


Victor Biazon
UNIFATECIE Unidade 1
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FICHA CATALOGRÁFICA Paranavaí-PR
FACULDADE DE TECNOLOGIA E (44) 3045 9898
CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ.
Núcleo de Educação a Distância;
DA SILVA, Maraisa Daiana. www.fatecie.edu.br
Língua Portuguesa : Sintaxe e Semântica.
Maraisa Daiana da Silva.
Paranavaí - PR.: Fatecie, 2020. 111 p.
As imagens utilizadas neste
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária livro foram obtidas a partir
Zineide Pereira dos Santos. do site ShutterStock
AUTOR

Olá, estimado (a) aluno (a),

Eu sou a Professora Mestra Maraisa Daiana da Silva, doutoranda em Letras, pela


Universidade Estadual de Maringá, especialista em Docência no Ensino Superior e em
Metodologias Ativas, graduada em Letras Português-Francês, pela Universidade Estadual
de Maringá, e membro do Grupo de Estudos em Análise do Discurso da UEM (GEDUEM/
CNPq), desenvolvo pesquisas no campo teórico da Análise do Discurso de linha francesa
em suas intersecções com os estudos do filósofo Michel Foucault.
Atualmente, atuo no ensino superior no Centro Universitário Cidade Verde e me
dedico às pesquisas que objetivam contribuir com uma reflexão sobre o funcionamento
discursivo da linguagem imagética, focalizando nos jogos de verdade e de poder que
subjetivam sujeitos a margem da sociedade. Objetivo, ainda, entender o processo de
identificação que a cinematografia pode oferecer à sociedade ao ler imagens.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0260988973703312

Desejo bons estudos!


APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo (a)!

Caro (a) aluno (a), é um prazer poder contribuir com a sua formação, no que tange
à língua portuguesa. A partir de agora vamos percorrer, juntos, um caminho repleto de
curiosidades, entenderemos mecanismos e compreenderemos estruturas da Língua
Portuguesa para que seja possível ampliar as possibilidades que as interações sociais nos
apresentam no nosso cotidiano. Afinal, a linguagem deve estar no centro de nossas
preocupações, já que é ela a responsável por todas as interações que estabelecemos.
Desse modo, convido você a caminhar comigo rumo ao conhecimento, para
tanto, discorreremos sobre conceitos fundamentais da nossa gramática e, a partir
desses conceitos, aplicaremos regras formais e fundamentais para o bom
desenvolvimento, escrito e falado, da língua materna.
Para isso, na unidade I, compreenderemos o funcionamento da gramática, quando
o assunto é morfologia e sintaxe, além disso, discutiremos sobre a importância dessas na
formação e também as dificuldades relacionadas a elas. Ainda nesta unidade,
entenderemos como se estabelecem as estruturas sintagmáticas do português.
Posteriormente, na unidade II, iremos compreender quais são as unidades mínimas
da língua portuguesa, como elas se estabelecem na estruturação das palavras e na
sua formação. Além disso, vamos entender um pouquinho sobre a história da língua
portuguesa, mas não só, falaremos da língua portuguesa brasileira. Afinal de contas, não
é possível falar da origem da nossa língua, sem entender o que aconteceu aqui no nosso
país.
Já na unidade III, vamos nos debruçar um pouco mais sobre a sintaxe, visto que ela
é uma das partes essenciais da gramática da língua portuguesa, responsável por entender
a função das palavras dentro de uma frase, a relação que essas palavras
estabelecem entre si e também a relação que existe entre as orações dentro de um
período.
Por fim, na unidade IV, faremos uma caminhada pela gramática, em que teremos a
oportunidade de entender os diferentes sentidos que podemos alcançar com as locuções,
conforme a sua colocação, além de compreender que os termos acessórios da
oração, assim como os integrantes, são tão importantes quanto os termos essenciais.
Desse modo, estimado (a) aluno (a), é importante entendermos que a
linguagem, manifestada tanto na fala quanto na escrita, constitui a nossa única fonte
de acesso à realidade imaterial da nossa língua. O nosso conhecimento sobre a
estrutura linguística deve estar em constante adaptação e trabalho, visto que a língua é
uma realidade mental que, em seus limites, se confunde com o próprio pensamento. Por
isso convido você, mais uma vez, a embarcar comigo, para desbravar esse mar imenso
que é a língua portuguesa.
Desejo bons estudos!
SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 7
Conceitos e Aplicabilidade

UNIDADE II.................................................................................................... 33
Estrutura e Formação Morfológica

UNIDADE III................................................................................................... 57
Estruturação Sintática I

UNIDADE IV................................................................................................... 83
Estruturação Sintática II
UNIDADE I
Conceitos e Aplicabilidade
Professora Ma. Maraisa Daiana da Silva

Plano de Estudo:
● Introdução à Morfo(sintaxe);
● O Papel da Sintaxe e da Morfologia na Formação e Suas
Dificuldades no Processo de Aprendizagem;
● Os Aspectos da Morfologia e da Sintaxe;
● O Funcionamento da Análise Sintática.

Objetivos da Aprendizagem
● Conceituar e contextualizar a Morfossintaxe;
● Compreender a Morfologia e a Sintaxe;
● Estabelecer a importância da compreensão da morfossintaxe;
● Apresentar os principais aspectos da morfologia e da Sintaxe.

7
INTRODUÇÃO

Olá, estimado aluno (a)!

Seja muito bem-vindo (a).

Sabemos que a linguagem deve estar no centro de nossas preocupações, afinal ela
é a responsável por todas as interações que estabelecemos. Nesse sentido, a gramática
pode ser entendida como uma grande aliada para o bom entendimento e bom uso da
linguagem, visto ser o mecanismo que regula uma determinada língua, em um determinado
tempo.
Assim, entender esses mecanismos e compreender as estruturas da Língua
Portuguesa significa ampliar as possibilidades que as interações sociais nos
apresentam no nosso cotidiano.
Desse modo, nesta unidade, você poderá compreender melhor como a gramática
funciona quando o assunto é morfologia e sintaxe, além de entender a importância
dessas na formação e também as dificuldades relacionadas a elas. Ainda nesta unidade,
apresentaremos os conceitos de frase, oração e período e entenderemos como se
estabelecem as estruturas sintagmáticas do português.
Para alcançar os objetivos, será necessário debruçarmos sobre vários conceitos
importantes para o entendimento do que chamamos de morfossintaxe.

Desejo bons estudos!

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 8


1. INTRODUÇÃO A MORFO(SINTAXE)

Nos últimos tempos as pesquisas referentes à Língua Portuguesa avançaram de


forma significativa quando pensamos na gramática tradicional, o que tem refletido cada
dia mais na atuação de estudantes da Língua Portuguesa. Visto isso, a preocupação na
formação desse profissional deve ir além do simples entendimento da língua materna – o
Português – e em se tornar proficientes da mesma. É necessário estar atento para que
seja possível alcançar um saber qualificado e consolidado a respeito da estrutura dessa
língua e também do seu uso real, do seu funcionamento no cotidiano. Só assim - ao
obter um entendimento mais consolidado da língua materna, de forma consciente e
inserida em seu uso real - será possível avançar na aprendizagem das competências
linguísticas.
Diante disso, a morfossintaxe se apresenta de maneira imponente, no que se
refere aos avanços gramaticais da Língua Portuguesa, o que demanda entender o que é
exatamente a morfossintaxe. Antes de chegar na morfossintaxe, é importante entender
que há dois aspectos fundamentais na unidade linguística: a forma e o sentido.
Nessa direção, a palavra pode ser estudada em seu aspecto formal, considerando
a sua forma, ou seja, a sua pronúncia, a sua composição morfológica e seu comportamento
sintático; e pode ser estudada, também, do ponto de vista semântico, isto é, do seu
significado básico. Para melhor compreensão, observe o diagrama 1.1, da divisão da
palavra “quadrinhos”, abaixo:

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 9


DIAGRAMA 1.1 – FORMA E SENTIDO DA PALAVRA

Pronúncia
(fonologia) kwadɾˈiɲuʃ

Radical: quadr
Composição
Forma Sufixo: -inho
morfológica Sufixo: -s

Admite o uso do artigo


Comportamento "os", mas não do artigo
Quadrinhos "as"; pode ser núcleo de
sintático.
um sintagma nominal.

Objeto pequeno de
Sentido
cunho decorativo.

Fonte: a autora.

Conforme o infográfico acima, é possível perceber que tanto o aspecto formal quanto
o aspecto semântico estão presentes na palavra “quadrinhos”, contudo, esses aspectos
devem ser separados quando há uma descrição, o que é de fundamental importância
quando se estuda a gramática da língua, visto a complexidade que se tem ao questionar a
relação existente entre as formas gramaticais e os significados.
A complexidade, como podemos perceber pelo mesmo infográfico, não é menor
quando o olhar se volta apenas para o aspecto formal da língua, dessa maneira, houve a
necessidade de uma subdivisão desse aspecto em três, que corresponde ao que
chamamos de fonologia, morfologia e sintaxe.
Dessa maneira, de acordo com as gramáticas modernas, podemos compreender
que a palavra, o léxico, perpassa por uma unidade de som constituída por vogais, semi-
vogais, consoantes, sílabas e acento, que vão constituir enunciados, pertencentes a uma
determinada classe morfológica. A frase, no que lhe concerne, pode ser formulada a partir
de uma palavra ou mais, desde que tenha a capacidade de suscitar a comunicação, ou
seja, é o próprio enunciado, sendo que este enunciado pode ser analisado sintaticamente.
De acordo com Perini (2005, p. 42) “A fonologia, a morfologia e a sintaxe são igual-
mente compostas por regras [...] as regras fonológicas, morfológicas e sintáticas definem
quais são as construções possíveis da língua”. Nessa etapa do livro vamos nos deter em
apenas duas: na morfologia e na sintaxe. Contudo, é importante relembrarmos, de maneira
breve, o que é a fonologia.
A saber, a fonologia é a parte da gramática que estuda a parte mínima do léxico,

o que é chamado de fonemas, e também as sílabas que tais fonemas constroem. Tem-se,

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 10


então, na fonologia, o estudo das vogais, semivogais, consoantes, dígrafos, encontros
vocálicos e consonantais, classificação das sílabas quanto à tonicidade, quanto ao número
apresentado mediante a divisão silábica, o emprego das letras, considerando as diferentes
situações de uso etc.
A morfologia, da qual discutiremos com mais afinco nos próximos tópicos, é a
responsável, dentro da linguística, pelo estudo da estrutura, formação e classificação das
palavras. Ela se particulariza por olhar para o vocábulo de forma isolada, ou seja, a
morfologia não considera o funcionamento da palavra dentro de uma frase ou período,
mas sim de forma encerrada em si.
Por sua vez, a sintaxe é a parte da gramática que se ocupa em estudar as
disposições das palavras dentro da frase e de períodos; ocupa-se, também, por
entender a relação lógica que se estabelece entre tais palavras. Discutiremos, ainda
neste capítulo, mais profundamente sobre essa importante categoria da gramática.
Ao considerar o que colocamos nas linhas anteriores, podemos concluir que a
palavra pode ser analisada de duas formas:
Entretanto, é preciso esclarecer que uma análise pode acontecer também no
âmbito da palavra e da frase, isto é, quando o estudo envolve a junção tanto da classe
gramatical da palavra quanto da sua função dentro de uma determinada frase, e é aí que
surge o que intitulamos morfossintaxe.
É interessante observar que, ainda que a Língua Portuguesa não pertença a área
das ciências exatas, quando se fala em morfossintaxe é possível chegar a uma certa
objetividade. Isso porque as funções sintáticas podem ser definidas previamente, por
exemplo, os adjetivos que ao estarem vinculados a um nome, caracterizando-o, vai
assumir, necessariamente, a função sintática de adjunto adnominal. Desse modo, a
análise morfológica deve sempre vir antes da sintática. Assim temos a seguinte relação:

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 11


DIAGRAMA 1.2 – ENGRENAGEM LINGUÍSTICA

Morfologia

Sintaxe

Morfossintaxe

Fonte: a autora.

Pode-se afirmar que na perspectiva da gramática, a engrenagem da linguagem,


quando movida pela morfologia e pela sintaxe, move algo maior, a morfossintaxe. Assim,
ainda que haja uma divisão menor entre essas duas categorias – morfologia e sintaxe –
forma e função são inseparáveis, justificando, desse modo, a importância da
morfossintaxe.
Diante do apresentado, é importante o aprofundamento, em especial, da sintaxe,
para que possamos atingir os objetivos propostos nesta unidade, sendo assim, no
próximo tópico apresentamos uma introdução à sintaxe.

1.1 Introdução à Sintaxe


Discutimos no título anterior sobre as divisões da gramática da Língua
Portuguesa e percebemos que há duas ciências, quando falamos em forma, que são de
extrema impor-tância: a morfologia e a sintaxe.
A primeira é capaz de determinar a classe que pertence cada uma das palavras de
uma frase e a segunda, por seu turno, capaz de estabelecer a função da palavra na frase.
É importante salientar que juntas, morfologia e sintaxe, ao promoverem uma análise da
função sintática e das classes gramaticais, alcançam conexões e significados importantes
no texto, por isso poderíamos pensar, ainda, na ligação entre morfossintaxe e a semântica.
Nessa direção, de acordo com a gramática gerativista, o falante de uma língua
natural, independente de qual seja, já nasce sabendo como os vocábulos se organizam
para que se estabeleça estruturas cada vez mais complexas até que se chegue nas

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 12


sentenças, ou seja, qualquer falante tem um conhecimento inato sobre a sua língua.
Assim, compreender a maneira como as palavras de uma língua se estabelecem em uma
sentença é a principal competência linguística dos seres humanos.
Negrão, Scher e Violli (2004, p. 81) exemplificam isso da seguinte forma:

Imaginemos o léxico de nossa língua como uma espécie de dicionário


mental composto pelo conjunto de itens lexicais (palavras) que utilizamos
para construir nossas sentenças. Nossa competência nos permite ter
intuições a respeito de como podemos dividir esse dicionário, agrupando
itens lexicais de acordo com algumas propriedades gramaticais que eles
compartilham. Essas propriedades nos levam a distinguir um grupo em
oposição a outro.

De tal modo, no processo em que adquirimos a nossa linguagem, a linguagem


materna, desde muito pequenos sabemos que um vocábulo como “cadeira” é diferente do
vocábulo “cair”. É bem possível ouvirmos de uma criança a palavra “caiu”, mas não
ouviremos a palavra “cadeiriu” ou “cadiu”. Isso nos mostra que a criança, ainda que muito
nova, sabe que a palavra “cair” pertence a um grupo de léxicos, como mamar, papar,
chorar, sorrir, os quais se estruturam com singulares sufixos, como -ou, -eu, -iu.
Concomitantemente, essa mesma criança sabe que a palavra cadeira pertence a um
outro grupo de léxicos, ou seja, pertence a outro conjunto de palavras, como mesa,
brinquedo, cama e assim por diante, que vão se estruturar com um sufixo diferente.
A mesma competência linguística que temos para organizar as palavras em grupos
também nos indica que os enunciados que formamos, não são apenas uma ordenação
sequencial e fechada de léxicos. Isso é perceptível quando nos damos conta que
sabemos, ainda se não tivéssemos uma educação formal da língua, que a sequência:
menina patinete a do caiu não pertence a nossa língua, da mesma maneira, sabemos
que para termos enunciados da língua portuguesa, considerando as mesmas palavras, é
necessário fazermos combinações, tais como: combinar a mais menina, do mais patinete,
caiu mais do patinete, para, só então, combinar a menina mais caiu do patinete. O que
mostra uma hierarquia, no que se refere a estrutura de uma frase, e a sua não linearidade.
Igualmente, a nossa competência linguística nos mostra que uma frase pode se
formar a partir de espécies distintas de léxicos. Temos aqueles que demandam elementos
particulares que devem atendê-los e, por outro lado, temos aqueles que se bastam ao
atender aqueles que os demandam.
Pensemos, para exemplificar na seguinte sentença: A Maria construiu uma
maquete. Espontaneamente, sabemos que o verbo construiu é um léxico da espécie que
demanda – ele exige a presença de outros. Para que o verbo “construir” se estabeleça em
uma frase, ele precisa de dois léxicos: um que responda qual foi o objeto construído e outro
que mostre quem é que o construiu. Poderíamos comprovar isso se alguém estabelecesse

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 13


um diálogo, começando apenas com a palavra “construiu”, as perguntas: quem construiu?
Construiu o quê?, apareceriam de forma automática. Essas perguntas pedem, de forma
indireta, que o nosso interlocutor reconstrua a frase, dando, ao verbo “construir”, as
demandas necessárias para se estabelecer.
Já, considerando a mesma sentença, as construções A Maria e uma maquete
pertencem àquelas espécies de léxicos que existem para servir, ou sejam, para
responderem as demandas de outras expressões ou léxicos.
Considerando todas as colocações deste subtópico, entendemos que a nossa
competência linguística é uma grande aliada quando o assunto é sintaxe, pois ela é capaz
de nos orientar no trabalho de análise da estrutura das frases de nossa língua. De
acordo com Negrão, Scher e Violli (2004, p. 106), todo falante tem um conhecimento
linguístico, baseado no tripé:

I- Sabermos organizar os itens lexicais em categorias gramaticais,


estabelecidas de acordo com as características morfológicas, distribucionais
e semânticas por eles exibidas;

II- Sabermos que a sentença resulta da projeção dessas categorias em


constituintes hierarquicamente estruturados, fazendo com que ela não seja
apenas uma seqüencia linear de itens lexicais;

III- Sabermos que esses constituintes se organizam a partir de um


núcleo cujas exigências sintáticas e semânticas devem ser satisfeitas pelos
elementos que vão compor com ele (NEGRÃO; SCHER; VIOLLI, 2004, p.
106).

Desse modo, para entender a estrutura de uma frase, como as palavras se organizam
dentro de uma sentença, requer, em um primeiro momento, considerar esse conhecimento
linguístico de qualquer falante da língua, ou seja, para iniciarmos os estudos sintáticos não
podemos desconsiderar as competências inatas do falante da língua em questão.

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 14


2. O PAPEL DA SINTAXE E DA MORFOLOGIA NA FORMAÇÃO E SUAS
DIFICULDADES NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Não é de hoje que os estudiosos da língua aceitam como verdade a premissa de


que a linguagem é articulada. Haja vista que a palavra “articulada” deriva, de
acordo com Martelotta (2008, online, grifos do autor), “[...] do diminutivo articulus do
latim artus (que significa ‘articulações dos ossos’, ‘membros do corpo’) Assim,
‘articulado’ significa ‘constituído de membros ou partes’”. E essa é uma das
características essenciais da linguagem humana, considerada um aspecto fundamental
para a diferenciação entre ela e a comunicação animal.
Nesse sentido, podemos dizer que os enunciados produzidos em uma determinada
língua não se apresentam como uma totalidade. Longe disso, a língua é divisível e pode
ser separada em unidades menores, visto que, constitui-se da união de elementos, os quais
podem ser encontrados em outros enunciados.
Observe abaixo uma possível sentença em Língua Portuguesa:

Os estudantes ouvem músicas clássicas.

A sentença apresentada, como em qualquer outra língua, é passível de divisão.


Pensando em unidades menores, podemos dividi-la, por exemplo, em cinco partes:

Os/ estudantes/ ouvem/ músicas/ clássicas.

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 15


Com isso podemos afirmar que, para formularmos sentenças, precisamos
recorrer, em um primeiro momento, à nossa memória para selecionar, entre os
vocábulos retidos durante toda a nossa vivência, aqueles que melhor expressará, no
contexto em que nos encontramos, o efeito de sentido desejável, isto é, é necessário
que consideremos os significados de cada palavra e também devemos, em um segundo
momento, articular esses vocábulos de acordo com as regras de formação da língua.
Isso significa que cada um desses vocábulos funciona de forma autônoma, sendo
possível ser inserido em sentenças diferentes, conforme as escolhas que fazemos.
Contudo, é preciso dizer que cada um desses vocábulos é formado por unidades
menores, unidades morfológicas. Vamos visualizar isso a partir da mesma sentença
utilizada anteriormente:

O/s estudante/s ouve/m música/s clássica/s.

Nas quatro palavras da sentença acima podemos notar uma oposição quando
separamos o morfema “s” da palavra estudantes, por exemplo. Essa retirada traz
consequências no valor do vocábulo que ao perder a marcação do plural – s – passa a ser
singular.
Parece óbvio esse processo da língua, contudo, muitas vezes não nos damos
conta que esse e muitos outros morfemas – unidades menores da palavra – ao serem
acrescentados ou suprimidos dão informações essenciais para que possamos alcançar o
sentido final da palavra ou ainda da sua estrutura gramatical. Entendemos por morfemas
os radicais, os prefixos, os sufixos, as vogais temáticas e todas as outras unidades
menores constituídas de um significado que podem formar uma palavra.
Agora conseguimos voltar no início do nosso tópico e entender que realmente a
linguagem é articulada, pois constatamos que ela é formada a partir da união de unidades
menores. E essa articulação, que existe em todas as línguas do mundo, não foi
inventada, há um motivo de ser assim: segundo Martellota (2008, online), “é aquela
que melhor se adapta às necessidades comunicativas humanas, permitindo que se
transmita mais informação com menos esforço”.
Nesse sentido, podemos compreender que o papel da sintaxe e da morfologia é de
extrema importância na nossa formação, pois, ao entendermos as articulações da
língua, os significados que a palavra assume ao ser colocada em um período e o
significado que é dado à palavra ao construí-la, a partir dos morfemas, estaremos
fazendo o bom uso da língua portuguesa, de forma consciente, além de sermos capazes
de atribuir o significado esperado, sem erros, em cada momento de comunicação.

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 16


2.1 Problemas relacionados à aprendizagem
É necessário termos consciência de que, a língua escrita não deve ser arquétipo
para a língua falada, o que pode ser verificado n o m eio e m q ue v ivemos, trabalhamos,
estudamos, enfim, em qualquer esfera de comunicação é perceptível que não é possível
utilizar o texto escrito em uma comunicação oral de maneira natural.
Isso porque, historicamente, a língua falada vem e sempre virá antes da
língua escrita, independente da sociedade, o que pode ser verificado, como dito
anteriormente, desde o seu uso efetivo – social – até a sua organização. Desse modo, ao
abordar a Língua Portuguesa unicamente sob o ponto de vista da gramática normativa,
pode-se provocar uma gama de conceitos falsos, além de preconceitos que estão
sempre em discussão na área de estudo em discussão.
Sabemos também que as línguas naturais, sem exceção, possuem todos os
aspectos necessários para oferecer aos seus usuários uma comunicação completa e sem
nenhum problema. Consequentemente, podemos afirmar que não existe uma língua
melhor que a outra, uma mais objetiva ou, ainda, uma mais rica e uma mais pobre, dado
que se tem uma língua que possui menos vocabulário, isso quer dizer que seus falantes
não precisam de mais palavras que as existentes para ter uma boa comunicação, pois se
precisassem, sem sombra de dúvidas, seus falantes seriam levados a criá-las.
O fato é que, indiferente da perspectiva que seja olhada a língua, seja a partir
da fonologia, da sintaxe ou da morfologia, o estudioso da linguagem sempre
constatará que não há entre as línguas uma comparação entre a melhor ou a pior, elas
são apenas diferentes. Muito menos se chegará ao consenso de que elas não evoluem,
ou seja, que são “atrasadas”.
De acordo com Fiorin (2004, p.7),
Todas as línguas até hoje estudadas constituem um sistema de comunicação
estruturado, complexo e altamente desenvolvido. Nenhum traço da estrutura
linguística pode ser atribuído a um reflexo da estrutura diferenciada de uma
sociedade agrícola ou de uma sociedade moderna industrializada.

E isso levou os pesquisadores a diferenciar, sempre mais e mais, o conhecimento


científico da linguagem e a determinação de sua norma, pois a linguística, ao se aprofundar
nas modificações da língua, percebeu que essas eram decorrentes da fala popular, dessa
maneira, o que em um dado momento era considerado errado, em um tempo futuro era
considerado correto.
Nessa perspectiva é imprescindível a sensibilidade quando voltamos o nosso olhar
para a aprendizagem que decorre da morfossintaxe, visto que não se pode entender em

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 17


uma determinada análise apenas os enunciados tidos como “corretos”. É necessário
observar atentamente as constante transformação e adaptação da língua, e lembrarmos
que esta é um organismo vivo em constante transformação.
Nessa perspectiva, um estudioso da linguagem deve estar sempre atento para
as manifestações linguísticas, pois como colocado em momento anterior, uma
expressão observada hoje como incorreta, amanhã pode vir a ser aceita, desde que
utilizada pelos falantes daquela língua, o que não impede que a descrição desse
organismo vivo seja feita de forma a compreender seu funcionamento no que tange a
estrutura frásica, os morfemas, os fonemas e, ainda, as regras que admitem a
combinação desses vocábulos.

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 18


3. OS ASPECTOS DA MORFOLOGIA E DA SINTAXE

3.1 Morfologia
Entre os assuntos mais polêmicos da área da linguística está a morfologia. Os
estudiosos da língua, ao discutirem o assunto, se agitam ao se posicionarem quanto a essa
ciência. Muitos veem na morfologia o principal aspecto da gramática, outros descartam,
sem nenhuma ponderação, a morfologia na constituição de uma teoria gramatical.
De qualquer maneira, é necessário entendermos onde a morfologia se encaixa no
engendramento da língua, assim, neste tópico objetivamos fazer uma discussão introdutória
dos aspectos morfológicos.
Em outros pontos desta unidade, vimos que a morfologia é definida como o artefato
da gramática responsável pela estrutura interna das palavras.
Mas... o que é palavra?
Bom, é um consenso entre todos, seja linguista ou não, que a palavra existe,
contudo, é bem complicado definir o que é palavra. Podemos partir da necessidade
que a linguística, assim como qualquer outra ciência, tinha de definir suas unidades de
estudo. Contudo, temos outros pontos que devem ser considerados, veja só: nós temos
no mundo desde línguas isoladas até línguas polissintéticas, a primeira carrega apenas
um significado; já a segunda, certas sequências de sons, entendidas por seus falantes
como palavras, carregam significados traduzidos por frases, ou seja, a palavra é formada
por um número tão grande de morfemas que a complexidade pode ser comparada a de
frases completas.

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 19


Devemos ainda ponderar que critérios semânticos também não são suficientes
para definir uma palavra em língua portuguesa, como podemos ter certeza que construtor
e aquele que constrói são palavra do português? As duas expressões tem o mesmo valor
semântico, isto é, o mesmo significado. Diante disso, se o nosso critério fosse o sentido,
teríamos que colocar as duas expressões na mesma classe de palavras. Porém, como visto
anteriormente, a nossa competência linguística, de falantes do português, nos indica que
a primeira expressão – construtor – é uma palavra e a segunda – aquele que constrói – é
uma frase.
Desse modo, os pesquisadores da língua preferem definir a palavra a partir de
aspectos sintáticos, pois estes funcionam independente da língua. Assim, nas palavras de
Sandalo (2006, p. 182), “Uma sequência de sons somente pode ser definida como uma
palavra se (i) puder ser usada como resposta mínima a uma pergunta e se (ii) puder ser
usada em várias posições sintáticas”.
Vejamos um exemplo para compreender o que se propõe, considere:
a) O que Joana comprou no mercado ontem?
Laranjas.
b) Joana comprou laranjas no mercado ontem.
c) Laranjas foi o que Joana comprou no mercado ontem.
Perceba que em (a) a palavra laranjas cabe como o objeto da frase e em (c) cabe
como sujeito. Dessa maneira, a sequência de sons laranjas pode aparecer em várias
posições sintáticas, portanto, é uma palavra.
Assim, entendido o que é palavra, temos a unidade máxima da morfologia. E os
elementos mínimos? Os elementos mínimos da morfologia se inscrevem no significado,
são eles que nos permite ter o sentido de palavras que nunca ouvimos. Podemos
citar como exemplo a palavra nacionalização; se nos encontrássemos diante dessa
palavra pela primeira vez, poderíamos compreender o seu significado a partir do
entendimento do significado da palavra nação e dos elementos que derivam novas
palavras em português: al, como elemento que transforma um substantivo em adjetivo,
izar como transformador de um adjetivo em verbo, e ção como transformador de verbo em
substantivo.
De tal modo, ao acrescentarmos à palavra nação a expressão al temos a
palavra nacional - um adjetivo -, ao acrescentarmos o sufixo -izar à palavra nacional temos
a palavra nacionalizar -um verbo - e, por fim, ao acrescentarmos à palavra nacionalizar o
sufixo -ção temos a palavra nacionalização, um substantivo.

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 20


Nessa perspectiva, entendemos a palavra nacionalização como o ato de
nacionalizar e, como pudemos perceber, seu significado é derivado de outros significados,
das partes que compõe a palavra, sendo que essas partes, responsáveis por trazer
significados e compor a palavra são conhecidos como morfemas, as unidades mínimas
da Morfologia.
Com isso, concluímos que a parte da gramática que estuda a palavra, a Morfologia,
tem a unidade máxima, que é a palavra, mas também tem a unidade mínima, e isso
muitas vezes é esquecido pelos estudiosos, é necessário entendermos que há dentro dessa
perspectiva os morfemas, que muito dizem quanto à construção das palavras.
Nesse sentido, a Morfologia não estuda apenas a palavra, mas sim a estrutura da
palavra, seu estudo se volta para a sua formação e seus mecanismos de flexão, sendo o
objeto de estudo as classes gramaticais, as quais estudaremos mais detalhadamente nos
próximos capítulos.

3.2 Sintaxe
Compreender a sintaxe não é uma tarefa muito fácil, visto ser uma das partes mais
objetivas e lógicas da língua portuguesa. Como observado em outros momentos
deste capítulo, a sintaxe não se ocupará dos sons das palavras, ou dos pedacinhos das
palavras (morfemas), menos ainda dos sentidos das palavras. A sintaxe é a responsável
por entender a ordenação e a organização das palavras dentro das frases, ou seja, ela é
quem vai nos ajudar a entender as regras que utilizamos (conscientemente ou não) para
formar uma sentença quando falamos ou escrevemos.
É interessante observarmos que, apesar de alguns estudiosos separarem as
partes da gramática tradicional, tantas vezes é necessário à sintaxe recorrer aos
aspectos fonológicos e morfológicos da língua para tentar explicar alguns fenômenos
dentro da sintaxe, desse modo, é importante termos consciência de que esses aspectos
podem estar relacionados entre si. A título de curiosidade, isso fez com que alguns
estudiosos propusessem um estudo que contemplasse o todo da gramática, ou seja, que
olhasse para tudo de uma só vez, um estudo conhecido como “estudos interfaciais”.
De qualquer modo, as sentenças que utilizamos para nos comunicarmos
seguem regras, como colocado anteriormente, e elas precisam ser bem definidas, para
tanto, utilizamos de critérios. Critério é entendido aqui como um padrão, uma
referência, uma forma fixa de ver as coisas, de analisar uma frase, por exemplo. Na
mesma direção, Ferrarezi Junior (2012, online) defende que “Usar um critério para
analisar uma parte da língua é escolher uma forma de ver essa parte e, então, usar

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 21


sempre essa mesma forma de ver para as mesmas coisas que se analisa”.
Nessa direção, para compreendermos a sintaxe é necessário termos bem
definidos os critérios morfológicos, é preciso saber o que é substantivo, advérbio,
adjetivo, verbo, preposição, entre outros, para então compreendermos o que é sujeito,
adjunto adnominal, predicado, objeto direto, objeto indireto e assim por diante.
Observemos, no quadro abaixo, como os critérios são estabelecidos em uma
frase na ordem da morfologia e na ordem da sintaxe:

QUADRO 3.1 – MORFOLOGIA & SINTAXE

A GAROTA OBEDECE À MÃE.


ANÁLISE MORFOLÓGICA ANÁLISE SINTÁTICA
A – Artigo definido feminino A – Adjunto adnominal
GAROTA – Substantivo comum, simples, A GAROTA – Sujeito simples
concreto, feminino, singular.
OBEDECE – Verbo obedecer, segunda GAROTA - núcleo do sujeito simples.
conjugação.
À - Combinação entre “a” artigo feminino OBEDECE À MÃE - predicado verbal
+ “a” preposição.
MÃE – Substantivo simples, comum, À MÃE - predicado verbal
singular

Fonte: a autora.

Assim, sem conhecer as interfaces da morfologia é praticamente impossível


entender as relações que elas estabelecem dentro de uma frase e a sua funcionalidade,
ou seja, seu papel dentro da sintaxe.
Como dito anteriormente, todas as línguas possuem um amplo vocabulário, além de
regras responsáveis por determinar o modo como esses vocabulários podem se
combinar para construir enunciados, objeto de estudo da sintaxe. Assim, a sintaxe ordena
os elementos linguísticos, que um usuário de uma língua utiliza, para que se estabeleça
sentenças plenas de sentido.
Sabe-se que não existe apenas uma forma de organização das palavras em uma
sentença, porém, o fato de cada língua ter uma sintaxe própria impede que construamos
sentenças com vocabulários aleatórios. Observe:

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 22


a) Próxima semana, Ana irá para o exterior.
b) Ana irá para o exterior próxima semana.
c) Ana irá, próxima semana, para o exterior.
d) Para o exterior, Ana irá próxima semana.
Podemos perceber, com os exemplos acima, que, ainda que tenhamos combinado
de formas diferentes as palavras, o sentido foi preservado e continua compreensível, o que
nos permite verificar como a sintaxe organiza as estruturas da língua, determinando as
possibilidades de combinação de modo a preservar o sentido. Para que essas
possibilidades possam acontecer, a sintaxe classifica todos os elementos presentes em
uma sentença e os divide em grupos maiores.
Os grupos se dividem em: grupo de termos essenciais, grupo de termos
integrantes, e o grupo dos termos acessórios, aqueles que não são essenciais para uma
oração. Se encaixam neste grupo o aposto, o vocativo, os adjuntos adverbial e adnominal;
já no grupo de termos integrantes temos o complemento verbal, complemento nominal e
o agente da passiva; e temos como termos essenciais o sujeito e o predicado.
Além dessa classificação dos termos em grupos diferentes, é preciso lembrarmos
que há um lugar em que esses termos precisam estar para serem analisados, é aí que
entram os elementos da sintaxe, que pode ser uma frase, uma oração ou um período.
Dessa maneira, a sintaxe se organiza de tal forma que é capaz de oferecer uma análise
sintática completa.
Cada um desses termos será explorado posteriormente para uma completa
compreensão, o objetivo aqui é mostrar que apenas a nomenclatura correspondente –
morfologia & sintaxe, não é suficiente para explorar esse campo da linguística. É
necessário, sim, compreender uma para compreender a outra, mas a relação que a
sintaxe estabelece com a linguagem vai muito além do simples nomear, há uma
funcionalidade necessária para que ela se estabeleça em sua completude.

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 23


4. O FUNCIONAMENTO DA ANÁLISE SINTÁTICA

No tópico anterior discutimos alguns aspectos importantes da sintaxe, vimos


que, para que trabalhe, ela separa os termos que se encontram dentro de um
determinado elemento, em grupos, sendo que esses elementos, os quais correspondem
ao lugar onde as palavras se encontram, podem estar no nível da frase, da oração ou
de um período. Desse modo, é importante termos bem definido o que são esses três
níveis, ou seja, entenderemos agora as especificidades da frase, da oração e do período.

4.1 - Período, oração e frase


De acordo com Bechara (2010), a frase pode ser classificada como a
estrutura mais abrangente, visto que ela se encaixa em vários segmentos, ela pode
representar uma parcela de um enunciado, uma expressão, uma fração da fala e assim
por diante. Porém, é preciso ter cuidado, pois ainda que a frase se encaixe em porções
menores da linguagem, para que se constitua precisa ter sentido completo. Assim,
podemos dizer que a frase é a unidade mínima do discurso, contudo plena de sentido.
É importante salientar que na construção de uma frase, seja na linguagem oral
seja na linguagem escrita, o significado de sua estrutura pode depender de outros fatores.
Dessa maneira, pode depender de algo já dito em outro momento, do contexto, das
informações anteriores a que ela se refere etc.

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 24


Dito isso, é possível afirmar que a frase pode ser constituída por apenas uma
palavra, exemplo:

Socorro!

Perceba que a frase acima é plena de sentido e não precisa de um verbo para
alcançar um significado. Poderíamos definir a frase a partir de alguns aspectos, por
exemplo, a letra maiúscula no início e os sinais de pontuação no final, mas isso limitaria
os aspectos, recusando pontos importantes para o seu sentido, como o contexto.
A frase utilizada acima poderia ter sido inserida em vários contextos: chamar
alguém que atende pelo nome Socorro, pedir ajuda por algum motivo, ser usada em
algum momento para expressar ironia e assim por diante. Isso refletirá de forma única no
seu sentido.
Nesse sentido, temos a unidade da fala representada por uma única palavra,
mas a frase também poderia ser formada por mais termos. Vejamos:

A viagem durou 3 semanas.

No exemplo anterior temos a presença de um verbo para formar a frase, mas


isso não é obrigatório. Observe:

Que calor!

Diante desses exemplos, compreendemos que uma frase pode conter um verbo,
esta se classifica como frase oracional ou verbal, ou pode não conter um verbo, esta se
classifica como frase nominal. Reiteramos que as marcas gráficas de uma frase não
são as únicas que as define, é preciso dizer ainda, que a frase é marcada, também, pela
entonação, ou seja, pela melodia que marca o fim da enunciação.

Para melhor compreensão, observe o diagrama abaixo:

DIAGRAMA 4.1 - FRASES

Frase

Nominal Oracional

Sem Com
verbo verbo

Fonte: a autora

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 25


A oração, por sua vez, é marcada sempre pela presença de um verbo e,
assim como a frase, pelo seu sentido completo. A presença do verbo, em especial, é
uma característica importante, que nos ajuda a marcar a diferença entre frase e oração.
O objetivo dessa unidade linguística da oração é de expressar algo sobre um
determinado sujeito. Desse modo, frequentemente apresenta um substantivo (nome) a
que se refere e com o qual o verbo deve concordar, assim, temos uma estrutura binária
constituída por: sujeito + predicado. Vejamos:

Maria terminou a carta.

Sujeito Predicado

Podemos ainda dizer que em um período pode haver diferentes orações, desde que
tenha sentido completo, mas atenção: nem todas as frases são oracionais. Essas orações
são denominadas orações independentes. Exemplo:

Cheguei, vi e venci.

Temos no exemplo acima três orações independentes, visto que cada verbo tem
por si só um sentido completo.
Portanto, uma oração tem por objetivo expressar um conceito sobre um sujeito.
O período, por sua vez, é constituído por mais de uma oração, assim, é uma
estrutura sintática composta por uma oração basilar aumentada por outras formações
oracionais. Portanto, um período é um enunciado de sentido completo, composto por
uma ou mais orações e marcado por uma pausa definida pela entonação na fala e por
pontos na escrita. Nessa direção temos dois tipos de períodos o simples e o composto, o
primeiro é estruturado apenas com uma oração, denominada absoluta. Observe:

A revista chegou tarde.

No período acima temos apenas um verbo, que marca a presença de apenas uma
oração. Desse modo temos neste exemplo um período simples.
Agora, observe:

Cheguei, vi e venci.

No exemplo anterior temos um período composto, visto que há a presença de


mais de uma oração.

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 26


Percebemos, ao chegar neste ponto, que frase, oração e período estão ligados
entre si, assim como tudo na língua. Assim, observe o esquema abaixo para compreender
a hierarquia e onde cada conceito desses se encaixa:

DIAGRAMA 4.2 – HIERARQUIA DE UMA SENTENÇA

Período

Frase oracional

Simples Composta

Mista:
Oração
Coordenação Subordinação coordenação e
absoluta
subordinação

Fonte: a autora.

4.2 A estrutura sintagmática do português


Desde o início desta unidade discutimos sobre o objeto de estudo da sintaxe ser
a sentença. Porém, não discutimos ainda sobre essas sentenças, as quais são
constituídas por unidades menores, conhecidas na sintaxe como sintagmas. E é
exatamente as estruturas sintagmáticas que vamos abordar agora.
O sintagma é demarcado por elementos que constituem uma unidade
significativa, dentro de uma oração. Esses elementos mantêm relações de dependência
entre si e uma determinada ordenação, organizados em torno de um elemento
fundamental, que chama-mos de núcleo. Isto é, o eixo sintagmático abrange as
combinações possíveis das palavras, as quais têm suas funções determinadas, de acordo
com o que é estabelecido entre eles. Desse modo, a análise sintática considera a
percepção e a classificação dos sintagmas através de sua composição. Observe:
a) O cachorro mordeu o gato.
b) O gato comeu o passarinho.
c) Mary é um gato.
Se pensarmos nas palavras gato, passarinho, mulher, mesa e assim por diante, no
eixo da morfossintaxe, teremos uma só definição, afinal são todos nomes, ou seja, substantivo

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 27


Agora, ao virarmos para a análise sintática, percebemos que quando selecionamos uma
dessas palavras, como por exemplo passarinho, é que temos estabelecida a função da
palavra. Desse modo, podemos inferir que é na relação com outros sintagmas de uma
determinada frase, na cadeia sintagmática, que vamos conseguir definir a função de cada
palavra.
Se olharmos para a palavra gato nos exemplos anteriores, perceberemos que
cada um tem uma função quando pensamos no eixo sintático. Na primeira sentença (a), o
termo gato está funcionando como objeto, já que se encontra depois do verbo. No segundo
exemplo (b), o mesmo sintagma passa a cumprir outra função: a de sujeito, antecedendo o
verbo e ao se associar com o artigo o. Já na terceira sentença (c), o sintagma gato em
conjunto com o artigo um, desempenha a função de predicativo.
O que isso quer dizer? Isso quer dizer que quando a palavra gato aparece sozinho,
de forma isolada, ele pode exercer diferentes funções. Porém, na relação sintagmática, ao
olharmos a posição que cada termo ocupa dentro da sentença teremos a função exata de
cada um.
Nessa perspectiva, os sintagmas apresentam uma certa composição: dois
elementos sucessivos, sendo que um desses elementos é o principal e o outro; e o
subordinado, aquele que depende do principal para funcionar. Esses elementos,
respectivamente, também aparecem na literatura com as nomenclaturas
determinadas e determinantes. Continuemos com os exemplos dados anteriormente: na
constituição do sintagma o gato, o elemento principal, isto é, o determinado é gato e o
elemento subordinado, ou seja, o determinante é o o.

Diante disso, no sintagma básico temos o sujeito e o predicado, sendo que o


termo determinado é o verbo e o que vai determinar é o sujeito, assim, sintagma é a
combinação das partes mínimas da unidade linguística, a qual é perceptível pela
linearidade das pala-vras.
Segundo Saussure (2006), há diferentes tipos de construções, porém, com
uma certa hierarquia entre elas. Temos então:

● Sintagma morfossintático: que é a combinação dos morfemas em uma


palavra. Exemplos: re-tra-tar, chá-l-eira.
● Sintagma suboracional: que é a combinação das palavras que formam um
membro oracional. Exemplos: Boa tarde, leite azedo.
● Sintagma oracional: composto por uma oração. Exemplo: A menina é
esperta.

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 28


● Sintagma superoracional: composto por duas ou mais orações. Exemplo: Se
fizer bom tempo, vou sair.
Portanto, chamamos de sintagmas a combinação dos elementos que se
estabelecem um após o outro, criando uma linearidade, tanto na oralidade como na
escrita. Assim, podemos concluir que o sintagma só é capaz de exercer sua funcionalidade
se houver uma composição entre os termos que antecedem ou seguem um termo
principal.

SAIBA MAIS

Para ampliar o seu conhecimento a respeito dos sintagmas, considere a leitura do


arquivo Tipos de sintagmas e representações arbóreas, que apresenta, de maneira
resumida e didática, os tipos de sintagmas e as suas respectivas construções em
esquemas arbóreos, facilitando a leitura da composição de cada um dos tipos de
sintagmas.

Disponível em:

Fonte: SANTOS, Saulo. Tipos De Sintagmas E Representações Arbóreas. 2018.UFMG: Belo Hori-

zonte. Disponível em: https://grad.letras.ufmg.br/arquivos/monitoria/20180523%20-%20Sintaxe%20-%20

Aula%2003%20-%20Tipos%20de%20sintagma%20e%20Representações%20arbóreas.pdf. Acesso em:

09 out. 2020.

REFLITA

“A linguística tem por único e verdadeiro objeto


a língua encerada em si mesma e por si mesma.”
(Ferdinand de Saussure, 1978).

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 29


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro aluno (a),

Percebemos, no decorrer desta unidade, que os estudos da morfossintaxe


vão além da compreensão do processo de formação das palavras, ela nos traz as
funcionalidades das palavras dentro de uma sentença, ou seja, a funcionalidade da
língua, seja ela estabelecida na oralidade ou na escrita. E isso pode nos auxiliar nas
relações que criamos com o outro, afinal só assim alcançaremos um saber qualificado e
consolidado, a respeito da estrutura da língua e também do seu uso real, do seu
funcionamento no cotidiano.
Assim, pudemos observar que para compreendermos a sintaxe é necessário
termos bem definidos os critérios morfológicos, ou seja, esses dois aspectos da
gramática estão relacionados, assim como tudo na língua.
Tivemos, ainda, a oportunidade de refletir sobre o modo como um estudioso da
lin-guagem deve estar sempre atento para as manifestações linguísticas, pois uma
expressão observada hoje como incorreta, amanhã pode vir a ser aceita, desde que
utilizada pelos falantes daquela língua, o que demandará dos seus estudiosos esforços
para entendê-la e encaixá-la dentro dos aspectos morfológicos e sintáticos, isto é, no
funcionamento da língua.

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 30


LEITURA COMPLEMENTAR

Caro aluno,
Sugerimos a leitura do artigo O DESENVOLVIMENTO DA LINGÜÍSTICA TEXTUAL
NO BRASIL, de Ingedore Villaça Koch, uma autora muito reconhecida na área da linguagem,
que, com esse artigo, nos ajuda a entender melhor o processo histórico de constituição da
linguística como ciência no contexto em que vivemos.

Tenha uma ótima leitura!


O artigo está disponível em: https://www.scielo.br/pdf/delta/v15nspe/4015.pdf.

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 31


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Prática de Morfossintaxe
Autora: Inez Sautchuk
Ano: 2010
Editora: MANOLE
Assunto: Comunicação e Linguística
Sinopse: No livro Prática de Morfossintaxe, a autora Inez Saut-
chuk associa conhecimento linguístico e experiência didática para
revelar uma metodologia de ensino de morfossintaxe possível
de ser adaptada a qualquer grau de aprendizagem. Com esse
objetivo, ao mesmo tempo em que desenvolve aspectos teóricos,
sinaliza abordagens mais práticas para o ensino da sintaxe da
língua portuguesa. Convicta de que o domínio sintático funciona
como o eixo disciplinador da qualidade de construção linguística
dos enunciados, a autora pretende mostrar que este é um bom
caminho para resolver um dos problemas mais sérios da expres-
são escrita: a falta de clareza. Prática de Morfossintaxe foi escrito,
sobretudo, para universitários da área de Letras e professores das
escolas de ensino fundamental e médio.

FILME/VÍDEO
Título: Línguas: Vidas em Português
Diretor: Victor Lopes
Produtora: Paris Filmes
Ano: 2004
Sinopse: Co-produção entre Brasil e Portugal, o documentário
Língua — Vidas em Português conta a história desse idioma que
embala as vidas de mais de duzentas milhões de pessoas ao redor
do mundo.
Poemas escritos, paixões declaradas, desavenças reveladas, se-
gredos descobertos, músicas compostas, piadas declamadas… A
Língua Portuguesa acompanha o cotidiano de pessoas no Brasil,
em Portugal, em Cabo Verde, no Japão, na França, na Índia, nos
Estados Unidos, Moçambique, Angola, entre tantos outros lugares.
Não somente como língua oficial, o Português foi uma língua am-
plamente difundida pelo mundo durante as Grandes Navegações.
Como resultado, muitos falantes nativos do português fizeram de
outros países o seu novo lar.
Para retratar tudo isso, além de personagens anônimos, o do-
cumentário também conta com a participação especial de José
Saramago, João Ubaldo, Martinho da Vila, Mia Couto e Teresa
Salgueiro para trazer um embasamento mais aprofundado com-
partilhado por pessoas que fizeram da convivência com a Língua
Portuguesa o seu modo de viver.
Língua — Vidas em Português mostra nosso idioma falado em
vários cantos do mundo, permitindo que conheçamos as peculia-
ridades de cada grupo de falantes e as formas com que o idioma
se adapta e evolui.

UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 32


UNIDADE II
Estrutura e Formação Morfológica
Professora Mestra Maraisa Daiana da Silva

Plano de Estudo:
● A estrutura da palavra;
● A formação das palavras;
● Origem do português brasileiro;
● A nova ortografia da língua portuguesa.

Objetivos da Aprendizagem:
● Entender como as palavras se estruturam;
● Compreender como ocorre a formação das palavras;
● Conhecer a construção histórica da língua portuguesa;
● Decifrar o novo acordo ortográfico.

33
INTRODUÇÃO

Seja muito bem-vindo (a) a mais esta etapa.

Na nossa língua oficial - na língua portuguesa - há incontáveis palavras que têm


características muito parecidas, essas, muitas vezes, pertencem inclusive ao mesmo
campo semântico, ou seja, carregam o mesmo sentido. Ainda assim, com todas essas
características, devemos nos atentar as suas formas, pois tais vocábulos, com pequenas
mutações, acréscimos, substituições ou reduções, podem transitar de uma classe
gramatical a outra, sem muita alteração em sua forma.
Nesse sentido, a morfologia nos auxilia a entender todas essas transformações da
palavra, afinal, a morfologia é a responsável por entender como a palavra se estrutura e se
forma, além de olhar de maneira particular para a palavra, de modo isolado, suprimindo o
seu funcionamento dentro de uma frase ou período.
Devido a essa necessidade de entender o funcionamento da nossa língua, partindo
de unidades mínimas, nesta unidade, juntos, iremos compreender quais são efetivamente
essas unidades mínimas, como elas funcionam na estruturação das palavras e na sua
formação.
Além disso, vamos discutir um pouquinho sobre a história da língua portuguesa,
mas não só da língua portuguesa, falaremos da língua portuguesa brasileira. Afinal de
contas, não é possível falar da origem da nossa língua, sem entender o que aconteceu aqui
no nosso país.
Veremos que, ainda que a língua portuguesa tenha chegado às nossas terras em
nome dos portugueses, os agentes que realmente fizeram a língua portuguesa disparar
no território brasileiro foram os índios, crioulos e mestiços, ou seja, falantes de português,
contudo não do português de Portugal, mas sim um português entranhado de influências
indígenas e africanas, por isso temos uma herança linguística tão rica e bonita.
Abordaremos ainda o resultado do acordo que tivemos entre os países que tem
a língua portuguesa como oficial, veremos que houve uma reforma nas regras de escrita
da nossa língua, com as quais devemos saber fazer uso, diante disso, passaremos pelas
principais mudanças que ocorreram com a reforma ortográfica da língua brasileira.

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 34


Esta será uma etapa de muito aprendizado e, principalmente, de muitas reflexões.
Dessa maneira, convido você a encarar junto comigo a aventura que é desvendar a língua
portuguesa a partir da sua estrutura mínima e da sua formação, além de entender como ela
nasceu e se difundiu no nosso país.

Desejo bons e produtivos estudos!

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 35


1. A ESTRUTURA DA PALAVRA

A parte da gramática responsável por estudar a estrutura das palavras é a


morfologia, e, como já sabemos, ela se individualiza ao olhar para o vocábulo de forma
isolada, desconsiderando o seu funcionamento dentro de uma frase ou período.
Nessa mesma direção, sabemos também que há na língua portuguesa inúmeras
palavras que têm suas formas parecidas, as quais, muitas vezes, concernem no mesmo
campo semântico; contudo, é preciso destacar que, dependendo da forma em que variam,
podem receber classificações morfológicas bem diferentes. Neste tópico iremos entender
como são determinadas a estrutura das palavras e os principais procedimentos que dão
origem ao vocábulo.
Para iniciarmos devemos lembrar que uma palavra é formada por unidades
mínimas, as quais possuem significado. Chamamos essas unidades mínimas de
morfemas. Observe, no quadro 1.1, abaixo, as semelhanças e diferenças na formação
das palavras, devido aos morfemas.

QUADRO 1.1 – SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS

estudar canto válido terras


estudo cantiga validez terreiro
estudante canção validade terrenos
estudantil cantoria validação térreo
estudável cantor valeu subterrâneo
estudioso encantado validar enterrássemos
reestudar desencanto invalido aterravas
estudado cantadas invalidade desterrarei
Fonte: a autora.

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 36


Ao analisarmos o quadro acima, percebemos, com certa facilidade, os morfemas,
os quais, como colocado anteriormente, trazem significados para a palavra. Outro exemplo
é quando afirmamos que a palavra queridas é um adjetivo feminino e que está no plural, ou
ainda quando falamos que a palavra cantássemos é um verbo da primeira conjugação,
que está conjugado na primeira pessoa do plural, do imperfeito do subjuntivo. Essas
declarações só são possíveis devido à presença dos morfemas.
De acordo com Bechara (2010), a palavra se constitui a partir de dois morfemas,
são eles: o radical - que expressa o significado dos elementos do mundo em que estamos
inseridos, conhecido como significado lexical ou externo – e os afixos, que são
representados pelos morfemas de flexão e os morfemas de derivação – este expressa
o sentido gramatical ou interno das palavras.
Desse modo, podemos entender o radical como o núcleo em que centra o
significado relacionado aos elementos do mundo em que vivemos: ações, qualidades,
seres, ofícios etc.; a partir do qual constitui-se às famílias morfológicas. É possível
entender o radical, ainda, como uma base que liga todas as palavras de uma mesma
família - uma base comum de significação. Para melhor compreensão observe as
palavras que seguem e a base que as compõem: terra, terreiro, terreno, térreo e assim
por diante.
Os afixos, por sua vez, são morfemas que podem ser acrescentados no início ou
no final do radical, agregando um sentido à palavra, sendo possível restringir esse sentido
ou especificar. OS afixos são subdivididos dependendo da posição em que aparecem.
Veja:

Prefixos Quando aparecem antes do radical


Afixos
Sufixos Quando aparecem depois do radical

Para exemplificar, podemos considerar:

Radical

vidraria envidraçar vidrinho

sufixo prefixo sufixo sufixo

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 37


Nessa direção, os sufixos, ao se vincularem ao radical, formam novas palavras,
pois emprestam ao radical uma ideia acessória, além de marcar a categoria da palavra:
substantivo, adjetivo, verbo entre outras. Segundo Bechara (2010, p. 502), “O sufixo se
relaciona a palavra a que se agrega aos nomes aumentativos ou diminutivos, aos nomes
de agente, de ação, de instrumentos, aos coletivos, aos pátrios, etc.”. Podemos citar como
exemplo: cadernão (aumentativo), canequinha (diminutivo), professor, agricultor, pedreiro
(agentes e ofícios), mercadejar (repetição de ação), ensino, punição, noivado (ações) etc.
Já os prefixos, ao se agregarem a uma base, dão uma significação e se relacionam
semanticamente com as preposições. “Os prefixos em geral, se agregam a verbos [...] ou
a adjetivos: in-feliz, des-leal, sub-terrâneo. São menos frequentes os derivados em que os
prefixos se agregam a substantivos; os que mais ocorrem são, na realidade, deverbais,
como em des-empate.”
Ao analisar os prefixos constatamos que eles podem aparecer como formas livres,
além de ter mais força significativa, diferente dos sufixos que adquirem valor morfológico.
Os prefixos também não podem delimitar a categoria gramatical de uma palavra, assim
como os sufixos.
Importante destacar que entre o radical e os afixos pode haver o que denominamos
de vogal temática, a qual, de acordo com Bechara (2010, p. 498) “[...] tem uma missão
classificatória, pois distingue os nomes e os verbos em grupos ou classes conhecidos por
grupos nominais (casa/livro/ponte) e grupos verbais, também chamados conjugações”.
Desse modo, quando analisamos palavras como: cant-á-ssemos, diss-é-ssemos, part-í-s-
semos, sabemos que elas pertencem, respectivamente, à 1ª, 2ª e 3ª conjugação.
Esse enlace entre o radical e a vogal temática é conhecido como tema: parte da
palavra pronta para funcionar no enunciado e receber os afixos, como em casa + s, caderno
+ s, pote + s. Porém, muitas vezes, ao receber o afixo, a vogal temática desaparece, como
é o caso de cas(a)inha. As vogais temáticas, nos nomes, são marcadas pelos morfemas a,
o e e (porta, copo, pente); já nos verbos os morfemas são a, e, e i (cantar, correr, dormir).
Concluímos, dessa maneira, que as palavras são estruturadas a partir dos
elementos que compõem os vocábulos, os quais são conhecidos como morfemas –
unidades mínimas, plenas de significados, tais como a raiz, o radical, os afixos (prefixos e
sufixos), vogal temática e assim por diante.

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 38


2. A FORMAÇÃO DAS PALAVRAS

As línguas foram criadas para suprir uma das necessidades do ser humano – se
comunicar. E para que isso seja possível, os falantes de uma língua identificam,
classificam e nomeiam coisas, objetos e elementos, sobre os quais se deseja falar, sejam
eles abstratos ou concretos, fictícios ou reais, naturais ou não. Desse modo, de acordo
com Basílio (2004, p. 9), “a língua é ao mesmo tempo um sistema de classificação e
um sistema de comunicação”.
Nessa direção, a língua apresenta estratégias linguísticas que proporcionam a
formação de novas palavras, e o léxico esta diretamente relacionado a essa estratégia,
esse que, de acordo com a mesma autora, é um banco de dados previamente classificados,
em que são depositados unidades básicas, ou seja, as palavras, as quais utilizamos para
construir sentenças.
Contudo, esse banco de dados é um sistema fechado, que não é suficiente para a
construção de enunciados completos em Língua Portuguesa. Isto porque estamos sempre
construindo e reconstruindo, conhecendo e reconhecendo, produzindo e reproduzindo
novos objetos, elementos e seres, desse modo, temos a necessidade de um sistema
eficaz, capaz de oferecer dinamismo e expansão, conforme as necessidades de novas
palavras vão surgindo.
Ao pensar nesse sistema eficaz, p odemos e ntender e sse p rocesso d a seguinte
maneira: o léxico primeiro oferece uma designação para novos objetos e, posteriormente,

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 39


a partir dessas designações, surgem novas construções, podemos citar como exemplo a
designação global, da qual houve desdobramentos e obtivemos termos tais como
globalização e globalizar. É interessante ainda, pensarmos que as palavras vão surgindo
conforme as nossas necessidades, um exemplo disso foi os desdobramentos que
surgiram com a chegada de tecnologias mais avançadas, antes falávamos em xerocar,
palavra derivada do xerox; hoje falamos em imprimir, impressão, impressora e assim por
diante.

Nessa direção, segundo Basílio (2004, p. 9),


O léxico, portanto, não é apenas de um conjunto de palavras. Como sistema
dinâmico, apresenta estruturas a serem utilizadas em sua expansão. Essas
estruturas, os processos de formação de palavras, permitem a formação de
novas unidades no léxico como um todo e também a aquisição de palavras
novas por parte de cada falante.

Todavia, o nosso sistema de comunicação – a língua – não pode ser sintetizada


apenas no que se refere ao aumento do número de símbolos, pois se assim o fosse, nós
precisaríamos decorar uma infinidade de novos símbolos, o que tornaria o sistema inapto,
além de dependente da nossa memória. O que temos, efetivamente, é a ampliação do
léxico por meio de estratégias de formação de palavras.
Nesse sentido, de acordo com Bechara (2010), o artefato lexical de uma gramática
é distribuído em duas partes: derivação e composição, por meio das quais
temos estratégias linguísticas que permitem a formação de novas palavras.
Comecemos pela composição. A composição equivale a junção de dois ou mais
elementos significativos em uma língua, sendo que essa junção resulta em uma nova
palavra, com significado único. São exemplos de palavras compostas: ponta + pé =
pontapé; plano + alto = planalto.
Quando analisamos os exemplos colocados anteriormente notamos uma paridade
– as duas palavras são formadas por outras palavras – e uma disparidade – a palavra
pontapé, ao ser formada, não sofreu nenhuma alteração, denominamos esse processo
composição por justaposição. Já a palavra planalto sofreu uma alteração no processo
de composição, uma das palavras – plano – perdeu uma letra – o –, isso acontece para
facilitar a pronúncia da palavra. Esse processo é intitulado composição por aglutinação.
Observe o esquema abaixo:

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 40


DIAGRAMA 2.1 – COMPOSIÇÃO

Composição

justaposição aglutinação
Não sofre alteração Sofre alteração

Peixe+espada = Ponta+ aguda =


peixe-espada pontiaguda
mal+me+que = outra+hora =
malmequer outrora

Fonte: a autora.

A derivação, por sua vez, é o processo que dá origem a outra, por meio de uma
única palavra já existente na língua, por meio de afixos. Assim, a palavra também pode ser
composta por meio da derivação prefixal, derivação sufixal ou ainda por meio da derivação
parassintética.
A derivação prefixal acontece quando o afixo é anexado antes da palavra de
origem (primitiva), por exemplo: reter, conter, desligar. Por outro lado, a derivação sufixal
acontece quando o afixo é anexado depois da palavra de origem, por exemplo: ruazinha,
jardinagem, capitalista. No que se refere a derivação parassintética, ela ocorre quando
temos, simultaneamente, a junção dos afixos prefixal e sufixal no radical (palavra primitiva),
por exemplo: esfriar (es + frio + ar), apaixonar (a + paixão + ar), emudecer (e + mud(o) +
ecer).
Esquematizando temos:
DIAGRAMA 2.2 – COMPOSIÇÃO

Derivação
Composicao por afixos

prefixal sufixal
Antes do radical Depois do radical
Prefixo + radical Radical + sufixo

parassintética
Antes e depois do radical
Prefixo + radical + sufixo

Fonte: a autora.

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 41


Em suma, como vimos a língua apresenta estratégias linguísticas que
proporcionam a formação de novas palavras, além disso, temos um banco de dados
previamente classificado, em que vamos depositando palavras, as quais selecionamos,
reorganizamos e reestruturamos para nos comunicar. Ademais, vimos que um sistema
fechado não é suficiente para que as necessidades linguísticas sejam sanadas, afinal a
língua está em constante transformação, exigindo que as palavras sejam revistas e
reestruturadas e, para isso, temos aliados gramaticais, como a derivação e a composição.

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 42


3. ORIGEM DO PORTUGUÊS BRASILEIRO

Não é novidade que o português não surgiu no Brasil, embora o nosso país seja
o maior do mundo que fala a língua. O português foi implantado no Brasil, devido a
colonização portuguesa, há mais de 500 anos. Neste tópico, iremos falar um pouco sobre
a origem da nossa língua.
A primeira pergunta que poderíamos colocar é: quando surgiu a língua
portuguesa? E poderíamos respondê-la com certa exatidão, se a olhássemos, assim como
os pesquisadores do século XIX, como um organismo que nasce, se desenvolve e morre,
assim como seus falantes.
Contudo, como colocado em momentos anteriores, hoje sabemos que a língua
é um organismo vivo em constante transformação, mas que não morrem, com exceção,
é claro das línguas minoritárias, como as línguas indígenas, que, ao perderem todos os
seus falantes em um curto período de tempo, além da imposição de outra língua, no caso
o português, morrem.
Nessa direção, de acordo com Ilari e Basso (2009, p. 13-14),
Não há ruptura entre a língua que os brasileiros falam hoje e a língua falada
em Portugal antes dos descobrimentos, assim como não há ruptura entre o
português do tempo dos descobrimentos e o romance português, ou seja, a
língua românica falada no norte de Portugal no final do primeiro milênio. O
mesmo vale para o conjunto das línguas românicas em relação ao latim.

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 43


Dessa forma, não é possível contar uma história da língua portuguesa brasileira,
sem considerar os 500 e tantos anos de história de desenvolvimento, adaptações e
interpretações que permeiam a constituição da nossa língua.
Quando falamos em origem da língua portuguesa, lembramos logo do latim, afinal
todos sabemos que é esta língua romana, mais especificamente dos falantes da Roma
antiga, que deu origem à nossa. Porém, não é difícil, ainda, quando ouvimos essa palavra,
nos remetermos àquela disciplina que antigamente era ensinada na escola média ou a
língua em que era usada para a celebração das missas, da igreja católica. Nessas duas
conjunturas, a língua estudada era, respectivamente o latim literário e o latim eclesiástico,
contudo, havia uma terceira variação do latim, a qual deu origem à língua portuguesa e à
todas as outras línguas românicas – o latim vulgar, sendo ele vernáculo.
A palavra vernáculo indica um modo de aprender uma língua, sendo que esse
método impugna todo o aprendizado que é ofertado pela escola e considera apenas o que
é adquirido de maneira natural, por assimilação espontânea e inconsciente, no ambiente
sociocultural em que o sujeito está inserido.
Para exemplificar podemos pensar em construções verbais, tais como: fá-lo-ei,
dir--lhe-ia, eu dormira, expressões as quais um falante de língua portuguesa brasileiro não
as conheceram, com todo certeza, de maneira espontânea, mas sim por meio do
aprendizado formal, na escola, visto que, a probabilidade de um brasileiro pronunciar tais
construções é praticamente zero, diferente de construções como: eu vou fazer isso, eu diria
isso para ele, eu vou dormir, as quais uma criança assimilaria de maneira espontânea, sem
a necessária interferência do ensino formal. Em suma, diante dos exemplos, podemos
afirmar que estas são vernáculas, enquanto que aquelas não são.
Nessa perspectiva, após conquistas militares, o império Romano manteve-se
estável por um longo período, sendo que o latim vulgar foi a língua que predominou
nesse período, isso aconteceu de tal forma que o latim vulgar foi ganhando espaço e se
uniformizando cada vez mais, e isso abrangeu uma grande parte da Europa ocidental.
Porém, esse período estável teve um rompimento, devido às invasões bárbaras,
que fizeram que a unidade linguística começasse a se desfazer. Assim, no final do século X,
o território linguístico românico começou a sofrer influências externas e cada território local,
pouco a pouco, foi conquistando um linguajar local. Segundo Ilari e Basso (2009, p. 15)
“Essa fragmentação do latim vulgar contrasta não só com a relativa uniformidade do próprio
latim vulgar durante o período imperial, mas ainda com a uniformidade do latim literário e do
latim eclesiástico, que continuaram sendo usados para outros fins, ao lado da fala popular”.

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 44


Após algum tempo, essas linguagens locais, derivadas do latim vulgar, foram
ganhando prestígio até que se transformaram no que conhecemos hoje como línguas
româncas: o romeno, o italiano, o sardo, o reto-românico (falado na Suíça e em algumas
regiões do norte da Itália), o occitano, o francês, o catalão, o espanhol, o galego e o
português.
De acordo com Ilari e Basso (2009, p. 17)
O latim vulgar e o latim literário eram parcialmente diferentes tanto em sua
estrutura gramatical quanto em seu léxico; é por isso que certas
características marcantes da frase latina, tais como as declinações, a voz
passiva sintética, a construção de acusativo com infinitivo ou o ablativo
absoluto não aparecem em todas as línguas românicas; pelo mesmo motivo
encontramos no português palavras como casa, boca ou espada em vez de
domus, os ou gladius.

Nessa mesma direção, podemos afirmar que, ainda que o português seja derivado
do latim, não temos domínio para compreender a literatura latina. O latim sempre foi uma
referência cultural e objeto de pesquisa de grandes pesquisadores, os quais buscavam
a partir do latim resgatar culturas e afins. Além do mais, o latim foi a língua mundial até o
século XVIII, quando perdeu seu lugar para a língua francesa, que, por sua vez, no século
XX, foi substituída pelo inglês.
Não é possível falar da origem da língua portuguesa, sem entender o que aconteceu
no Brasil, desde que Pedro Alvares Cabral, em 22 de abril de 1500, pôs os pés nas terras
brasileiras. No processo de colonização, os portugueses espalharam pelo nosso território
inúmeras aldeias e vilas, das quais os nomes remetiam a Coroa portuguesa.
Ainda que esse processo tenha sido realizado em nome dos portugueses, os
agentes não foram os portugueses. Nas grandes expansões territoriais, processos
econômicos quem protagonizava eram os índios, crioulos e mestiços, ou seja, falantes
de português, mas não do português de Portugal, um português entranhado de
influências indígenas e africanas, devido aos escravos que foram trazidos pelos
portugueses.
Para Ilari e Basso (2009, p. 55), “para entender a difusão da língua portuguesa no
território brasileiro, não basta pensar em tratados, conquistas e fronteiras, é
necessário também considerar a forma (ou antes, as formas) como se deu a
ocupação efetiva do espaço”.
A língua indígena que mais influenciou o português brasileiro foi a língua dos
indíge-nas que moravam no litoral: Tupinambá ou Tupi-guarani. Ao lado do português
essa língua foi usada como língua geral na colônia, já que os jesuítas, vindos para a
catequização dos indígenas, estudaram e acabaram difundindo a língua. Mas isso não
durou muito, em 1757, a Coroa portuguesa proibiu o uso da Língua
Tupi, assim, como o português já superava o Tupi, o português se tornou a língua oficial

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 45


do Brasil. E assim o português foi tomando conta do território, se espalhando cada vez
mais e esmagando as línguas indígenas que tínhamos, hoje podemos dizer que
perdemos muito com isso, tanto no que se refere a nossa identidade linguística quanto
cultural.
De qualquer maneira, ainda assim, herdamos muitas palavras das línguas
indígenas, como macaxeira, capivara, catapora, mingau etc. e também africanas como,
moleque, quitanda, fubá, entre outras, e essas culturas foram agregando na então
língua oficial, afastando o português do brasil do português de Portugal, o qual tinha,
por sua vez, a influência do francês.

Entre 1808 e 1821, a família real veio para o Brasil e nesse momento da história
o português do Brasil e o de Portugal voltaram a se aproximar, visto a grande quantidade
de portugueses presentes nas capitais. Contudo, com a independência, em 1822, houve
uma grande onda de imigração, vieram holandeses, espanhóis, entre outros, que também
começaram a influenciar a nossa língua, e isso explica o porquê de tantos sotaques e
diferenças regionais no nosso país.
Mas foi com o movimento modernista que se consagrou a normatização da nossa
língua. Esse movimento criticava a valoração excessiva que ainda se destinava à cultura
europeia e incentivou os brasileiros a valorizar o que pertencia a eles: a língua brasileira.
Tivemos, há uma década, a reforma ortográfica, resultado de um acordo entre os
países que têm a língua portuguesa como oficial. Com essa reforma algumas regras de
escrita, que diferenciavam as normas, foram revistas, contudo, no que se refere à
oralidade, podemos ter certeza de uma coisa: temos estimáveis distinções.

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 46


4. A NOVA ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

O novo acordo ortográfico da língua portuguesa não visa a modificação no nosso


modo de falar, nem poderia. O seu objetivo é uniformizar e facilitar a escrita, para que,
segundo estudiosos que defendem esse tipo de acordo, livros publicados não precisariam
mais ser revistos antes de chegar em nossas mãos e vice-versa. Isso também facilitaria o
acesso, além de Portugal, de países como Angola e Moçambique, às publicações de livros
e revistas publicadas no Brasil, o que valorizaria o mercado.
Nessa perspectiva, o novo acordo ortográfico visa, como dito anteriormente, a
unificação das regras da língua portuguesa por todos os países que a tenha como língua
oficial. Desse modo, visto a importância de estar alinhado às mudanças da nossa língua,
veremos neste tópico as principais mudanças que ocorreram na escrita do português,
propostas pelo novo acordo.
As mudanças começam no alfabeto, isso mesmo, o alfabeto que era composto
por 23 letras, das quais cinco são vogais, agora é composto por 26 letras. Antes do acordo
as letras k, y e w só eram utilizadas (ou deveriam ser) em casos de estrangeirismo e
abreviaturas. Agora, essas letras pertencem oficialmente ao nosso alfabeto.
Houve também modificações nas regras quanto às letras maiúsculas e
minúsculas. Agora, nomes de estação de ano, meses e dias de semanas devem ser
grafados com letra minúscula, desse modo temos: verão, inverno, janeiro, março,
domingo, sábado e assim por diante. Antes essas eram grafadas com letra maiúscula.
O mesmo se aplica aos pontos cardeais: norte, sul, leste, oeste, sudeste, nordeste etc.

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 47


Estes também eram grafados com letras maiúsculas antes do acordo.
Em contrapartida, agora é facultativo, ou seja, não é obrigatório, pode ser
acatado ou não, o uso de letra minúscula em termos que compõem citação
bibliográfica, com exceção do primeiro e daqueles que são, obrigatoriamente, marcados
com maiúscula. Por exemplo, antes do acordo, ao citar o nome de um livro, fazíamos da
seguinte forma:
● Memórias Póstumas de Brás Cubas;
● A Montanha Mágica;
● A Volta ao Mundo em 80 Dias.
● Agora podemos grafar da seguinte maneira:
● Memórias Póstumas de Brás Cubas ou Memórias póstumas de Brás Cubas;
● A Montanha Mágica ou A montanha mágica;
● A Volta ao Mundo em 80 Dias ou A volta ao mundo em 80 dias;

É facultativo, ainda, o emprego de letras minúsculas nos termos de tratamento ou


referência e em termos que designam crenças religiosas. Assim, temos:
Santa Clara - santa Clara
Doutor José de Alencar - doutor José de Alencar
Papa João Paulo II - papa João Paulo II
Governador João Carlos - governador João Carlos
Excelentíssimo Senhor Juiz - excelentíssimo senhor juiz

Da mesma forma, vocábulos que indicam domínios de saber e afins, podem ser
grafados com letra minúscula: português, letras, literatura, linguística, física quântica,
química, geografia humana, artes plásticas, e assim por diante.
Uma das regras que sofreu mais mudanças, de acordo com Silva (2009), foi
a acentuação, devemos considerar que:
Houve a eliminação do trema na letra u, que segue as letras g ou q e antecipa
as letras e ou i. Assim: lingüiça passou a ser grafada linguiça; liqüidaçao passou à
liquidação; lingüistica passou à linguística; agüentar passou a aguentar, conseqüência à
consequência etc.
Houve a eliminação também do acento agudo nos ditongos abertos, das palavras
paroxítonas, -ei e -oi. Como em: jiboia, anteriormente jibóia; epopeia, anteriormente
epopéia; ideia, anteriormente idéia; paranoico, anteriormente paranoico; geleia,
anteriormente geléia.

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 48


É importante ressaltar que essa queda na acentuação ocorreu apenas nas paroxítonas, nas
oxítonas, como anéis, papéis, corrói, remói, entre outras, a acentuação é necessária.
Houve a eliminação do acento agudo nas paroxítonas com as letras i ou u tônicos
antecedidos de ditongos, como em: feiura, anteriormente feiúra; boiuna, anteriormente
boiúna, cauila, anteriormente cauíla. Da mesma forma que na regra anterior, essa regra se
aplica apenas às paroxítonas, pois as proparoxítonas devem continuar sendo acentuadas,
como, por exemplo em: maiúsculo, feiíssimo, cheiíssimo e assim por diante, e ainda os que
possuem i ou u, mas não são pospostos por ditongos, como em: cafeína, saúde, saída, país
etc.
Houve a eliminação do acento circunflexo nos encontros vocálicos -oo e -ee, como
em: enjoo, anteriormente enjôo; perdoo, anteriormente perdôo; abençoo, anteriormente
abençôo; voo, anteriormente vôo; creem, anteriormente crêem; reveem, anteriormente
revêem; leem, anteriormente lêem.
Houve a eliminação dos acentos agudo e circunflexo em algumas palavras cuja
diferença era representada, justamente, pelo acento, ou seja, em palavras homógrafas,
vejamos abaixo a lista das palavras em que o acento caiu:

QUADRO 4.1 – COMPARATIVO DE PALAVRAS


HOMÓGRAFAS QUE PERDERAM A ACENTUAÇÃO

ANTES DO ACORDO DEPOIS DO ACORDO


pára (verbo parar) para : grafia para as duas
e para (preposição). classes gramaticais.
péla (verbo pelar), péla (substantivo) pela : grafia para as três
e pela (preposição). classes gramaticais.
pólo (substantivo), pôlo (substantivo) polo : grafia para as três
e polo (preposição arcaica). classes gramaticais.
pélo (verbo pelar), pêlo (substantivo) pelo : grafia para as três
e pelo (preposição) classes gramaticais.
pêra (substantivo), péra (substantivo) pera : grafia para as três
e pera (preposição arcaica). classes gramaticais.
Fonte: elaborado pela autora.

Porém, nas palavras homográficas pôr (verbo) o acento continua obrigatório, para
que não se confunda com a preposição por. A mesma regra se aplica a palavra pôde (verbo
no passado), para diferenciá-lo da palavra pode (verbo no presente). Já, na palavra fôrma/
forma, o acento é facultativo.

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 49


Outra alteração significativa que tivemos, com o novo acordo ortográfico, foi com
relação a utilização do hífen. Vejamos:

QUADRO 4.2 – A UTILIZAÇÃO, A MANUTENÇÃO E A ELIMINAÇÃO DO HÍFEN

REGRA EXEMPLOS EXCEÇÃO


Palavras derivadas Sempre utilizaremos Super-herói; anti- A palavra composta
por prefixação, em o hífen quando a herói; anti-higiênico; por sub + humano
que o segundo segunda palavra co-herdeiro; sobre- perde o h, ao se
termo inicia com h iniciar com h e tiver -humano; mini-hotel; juntar, assim,
como antecessor um etc. teremos: subumano.
prefixo.
Palavras derivadas Quando as vogais Coautor; extraesco- O prefixo co, pre,
por prefixação com do prefixo e da lar; infraestrutura; re, entre outros,
vogais diferentes palavra que o autoaprendizado; se juntará ao seu
procede forem agroindústria; radical, ainda que
diferentes, não se aeroespacial; etc. ele seja iniciado com
utiliza hífen. vagal igual. Como
em: coordenador,
preestabelecer;
reerguer.
Palavras derivadas Quando o prefixo Autocorretor; con- Qualquer consoante,
por prefixação, terminar por vogal e trarregra, minissaia; com exceção do
sendo o segundo o segundo iniciar por seminovo; microci- h. Perceba que
termo iniciado por qualquer consoante rurgia; semicírculo; para uma melhor
consoante. não utilizaremos ultrassonografia etc. pronúncia, quando
hífen o segundo termo
se inicia com s e r,
estas letras dobram.
Palavras compostas Usa-se hífen em Paraquedas;
palavras composta girassol;
que se tornaram mandachuva; _
comuns em língua pontapé; etc.
portuguesa.

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 50


REGRA EXEMPLOS EXCEÇÃO
Palavras compostas Usa-se hífen em Amor-perfeito;
Esta regra é a que
por justaposição palavras compostas quebra-pedra;
mais causou debate,
por justaposição em tenente-coronel;
visto que não
que os termos cons- ano-luz; arco-íris;
especifica,
troem uma unidade bem-te-vi, conta-
exatamente, em que
semântica, porém, -gotas; erva-doce;
casos deve haver o
com uma tonicidade guarda-chuva; etc.
uso do hífen.
própria, e ainda
os que compõe
espécies botânicas e
zoológicas.
Manutenção em Mantem-se o hífen Super-resistente;
palavras derivadas em termos derivados inter-relacionado;
por prefixação por prefixação, em pan-americano; pan-
que o prefixo termine -mágico; pré-escola;
por r e o segundo além-mar; ex-diretor;
termo inicia-se pré-natal; pró-afri-
por r; ou com os cano; grã-fina;
prefixos circum e grão-mestre.
pan com o segundo _
termo iniciando por
vogal, m ou n; ou em
qualquer condição
para alguns prefixos
(além-, ex-, sota-,
soto-, vice-, vizo-,
pós-, pré-, pró-, grã-,
grão).

Fonte: a autora.

O novo acordo ortográfico também trouxe regras quanto às letras mudas, agora
as letras mudas que não são pronunciadas devem ser eliminadas, como, por exemplo, em

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 51


ação, anteriormente grafada acção; batizar, anteriormente baptizar; direto,
anteriormente directo; objeção, anteriormente objecção; Egito, anteriormente Egipto; entre
outros.
Por fim, foi estabelecido, ainda, uma regra quanto a separação silábica. Ficou
determinado que: se, ao escrever, a linha finalizar com a separação de uma palavra que
leva consigo a grafia do hífen, este deve ser repetido na linha seguinte. Desse modo, se
estivermos escrevendo um texto a mão, por exemplo, na hora em que formos separar
as sílabas, porque ela não coube inteira naquela linha, e a palavra coincidir com o hífen,
este deve ser repetido no começo da linha seguinte. Isso tanto para os casos de
ênclise (pronome colocado após o verbo: fala-se, diz-se, come-se etc.), como para
palavras que, de acordo com a nova ortografia, devem ser grafadas com o hífen.
Podemos exemplificar da seguinte forma:
O reitor não
recebeu os ex-- alunos da
graduação.
O melhor chá é
o de erva- - doce para
acalmar.
Em Campina
Grande, fala-- se muito em
cultura.

Pelo que acabamos de ver, percebemos que o novo acordo ortográfico propõe uma
padronização parcial. Afinal, segundo Silva (2009, p. 55-56), o novo acordo ortográfico

não soluciona definitivamente o “problema” das diferenças ortográficas entre


os países lusófonos, aliás um dos principais argumentos empregados por
seus detratores. Versando sobre uma série de detalhes da escrita em língua
portuguesa, que vão da utilização do hífen à acentuação gráfica, passando
pelo emprego de letras maiúsculas ou pela separação silábica, o novo acordo
pretende, contudo, homogeneizar ao máximo a grafia dos vocábulos,
promovendo, para tanto, modificações estruturais na forma de escrever
algumas palavras do idioma. Embora o acordo pretenda manter a maior
parte dos recursos ortográficos atualmente vigentes, não resta dúvida de que
as poucas modificações propostas já são suficientes para colocar os
escritores, editores, professores, linguistas e utentes da língua em geral sob
reserva e suspeição.

Nessa mesma direção, podemos afirmar que os maiores embates, levantados


por críticos da língua portuguesa quanto ao acordo ortográfico, dizem respeito ao fato da
ausência de discussões mais democráticas e amplas sobre as novas regras, as quais,
segundo esses críticos, ficaram em volta de poucos representantes da academia
portuguesa e brasileira.

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 52


Desse modo, conforme o reconhecido gramático Evanildo Bechara (2000), é preciso
considerar, nesse novo acordo, uma série de fenômenos linguísticos (a acentuação tônica
relativa aos contrastes de timbre aberto e fechado, as variantes fonéticas de língua, o uso
do hífen etc.), a fim de se realizar um trabalho realmente condizente com as necessidades
práticas da língua escrita.
Entretanto, indo além de um novo acordo ortográfico, em que a preocupação se
respaldava em uma promoção gráfica única do idioma, na escrita, e imposta por “poucos”,
é necessário considerar que só uma política linguística responsável será capaz de alcançar
o reconhecimento da nossa língua, apenas uma política bem estruturada, que considere a
necessidade de atribuir, por meio da pedagogia e da educação formal, a competência
linguística aos seus falantes da língua portuguesa, seja portugueses, brasileiros,
moçambicanos, ou qualquer outro que a tenha como língua oficial.
Contudo, enquanto não alcançamos essas mudanças, o que nos resta é entender,
utilizar e ensinar o novo acordo ortográfico.

SAIBA MAIS

Para ampliar o seu conhecimento, leia a dissertação de mestrado, intitulada Derivação


pre ixal: um estudo sobre alguns pre ixos do português brasileiro, de Solange Mendes
Oliveira, pela Universidade Federal de Santa Catarina, para aprofundar seus
conhecimentos sobre os prefixos e sufixos em língua portuguesa brasileira.

Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/86632/203011.pdf?sequence=1

REFLITA

“O princípio fundamental da arbitrariedade do signo não impede distinguir, em cada


língua, o que é radicalmente arbitrário, vale dizer, imotivado, daquilo que só́ o é
relativamente. Apenas uma parte dos signos é absolutamente arbitrária; em outras,
intervém um fenômeno que permite reconhecer graus no arbitrário sem suprimi-lo: o
signo pode ser relativamente motivado.”

Fonte: SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. Trad. bras. Antônio Chelini et al. 20 ed.

São Paulo: Cultrix, 1995, p. 152.

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 53


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro aluno (a)!

Chegamos ao final de mais uma etapa.


Espero que esta unidade tenha contribuído para a sua compreensão de como a
estrutura e a formação das palavras da língua portuguesa acontecem. Vimos que a língua
apresenta estratégias linguísticas que proporcionam a formação de novas palavras, além
disso, temos um banco de dados previamente classificado, e m q ue v amos depositando
palavras, as quais selecionamos, reorganizamos e reestruturamos para nos comunicar.
Ademais, observamos que um sistema fechado não é suficiente para que as
necessidades linguísticas sejam sanadas, afinal a língua é viva e está em constante
transfor-mação, determinando que as palavras sejam revistas e reestruturadas e, para
isso, temos aliados gramaticais, como a derivação e a composição.
Nesta unidade também tivemos a oportunidade de discutir sobre a origem da língua
portuguesa, o que permitiu uma maior compreensão do seu surgimento, de como ela
começou a ser difundida e como chegou ao Brasil.
Isso porque, não é possível, para nós brasileiros, falar de estrutura de palavras, da
formação de palavras, enfim, de morfossintaxe, sem entender como a nossa língua chegou
e foi difundida no nosso país, até mesmo porque temos plena consciência que, ainda que
seja uma língua herdada dos portuguesa, há muitas e grandes diferenças entre o português
do Brasil e o português de Portugal, principalmente quando falamos da oralidade.
Enfim, com mais esta etapa concluída, tenho certeza que você subiu mais
um degrau na escalada do conhecimento.

Sigamos sempre em frente!

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 54


LEITURA COMPLEMENTAR

Estimado aluno,

Sugerimos a leitura da reportagem “Professor fala das origens das palavras da


língua portuguesa”, que aborda de maneira descomplicada as origens do nosso idioma,
trazendo para a discussão os termos em latim e grego, além das palavras indígenas,
africanas e árabes que constituem o nosso vocabulário.

Desejamos uma ótima leitura!

A reportagem está disponível em: http://g1.globo.com/pernambuco/vestibular-e-educacao/noti-

cia/2013/10/professor-fala-das-origens-das-palavras-da-lingua-portuguesa.html.

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MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Novo acordo ortográfico da língua portuguesa: questões para
além da escrita
Autores: Maria Eunice Moreira; Marisa Magnus Smith; Jocelyne da
Cunha Bocchese
Editora: EdiPUCRS
Assunto: Novo acordo ortográfico da língua portuguesa Sinopse: O
livro Novo acordo ortográ ico da língua portuguesa: questões para
além da escrita, organizado pelas pesquisadoras Maria Eunice
Moreira, Marisa Magnus Smith e Jocelyne da Cunha Bocchese,
oferece subsídios para a compreensão dos fenômenos linguísticos
que subjazem à celebração do Acordo ora em implantação, de
modo que este, tantas vezes sujeito a opiniões apressadas, quando
não intolerantes, possa ser avaliado em suas múltiplas facetas. As
organizadoras não visam, com a publicação deste livro, defender um
ponto de vista único ou monolítico, mas sim contribuir para reflexões
maduras e bem fundamentadas.

FILME
Título: Caramuru: A Invenção do Brasil
Ano: 2001
Sinopse: Caramuru: A Invenção do Brasil é uma produção dirigida por
Guel Arraes e escrita por ele e por Jorge Furtado, baseado no livro
homônimo de Santa Rita Durão, pertencente ao arcadismo. Porém,
apesar de trazer fatos históricos, o filme traz uma forte pegada
cômica que narra os conflitos entre portugueses e índios de uma
forma irreverente.
O jovem Diogo Álvares (Selton Mello) é um talentoso pintor
português cujo estilo busca realçar a beleza da realidade. Ele é
contratado pelo cartógrafo do rei para ilustrar os mapas que guiariam
Pedro Álvares Cabral em suas viagens marítimas.
Todavia, Diogo envolve-se com Isabelle (Débora Bloch), uma
sedutora francesa que frequenta a Corte portuguesa e que rouba o
mapa do artista. Ele, então, é deportado para o Brasil, onde conhece
as irmãs índias Paraguaçu (Camila Pitanga) e Moema (Deborah
Secco). É o início do primeiro triângulo amoroso da história do país.

UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 56


UNIDADE III
Estruturação Sintática I
Professora Mestre Maraisa Daiana da Silva

Plano de Estudo:
● Frase, oração e período;
● Os termos da oração: essenciais e acessórios;
● As classes de palavras e regência;
● Crase e pontuação: aspectos sintáticos.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e diferenciar frase, oração e período;
● Compreender os diferentes termos da oração;
● Entender como as orações se relacionam dentro de um período;
● Analisar aspectos importantes em uma análise sintática.

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INTRODUÇÃO

Estimado aluno (a),

Seja bem-vindo a mais uma unidade de aprendizagem!

Já entendemos a importância de usar, e usar bem, a língua portuguesa,


compreendemos que ela é dividida em várias partes e que cada uma corresponde a uma
área específica da gramática da nossa língua. Nesta unidade, vamos nos debruçar um
pouquinho mais sobre a sintaxe, visto que ela é uma das partes essenciais da gramática
da língua portuguesa, responsável por entender a função das palavras dentro de uma frase,
a relação que essas palavras estabelecem entre si e também a relação que existe entre
as orações dentro de um período. Opa! Vamos com calma, não é?!
Não se preocupe, nesta unidade, nós vamos, antes de qualquer coisa, entender a
diferença entre frase, oração e período, pois, como colocado, a sintaxe também é
responsável por essa relação entre as orações, as quais, se bem formuladas, vão garantir
coesão e coerência para os nossos enunciados.
Posteriormente, vamos esmiuçar as orações, vamos entender como elas são
formadas, quais os termos essenciais das orações.
No tópico três, veremos que os períodos são formados por orações, as quais podem
ser dependentes uma da outra ou não. Compreenderemos que essa relação pode trazer
diferentes sentidos para o nosso enunciado.
Por fim, vamos falar um pouquinho sobre um assunto temido por muitos – a crase
– essa temática é de fundamental importância quando pensamos nessas relações entre as
orações, por isso, vamos dar uma paradinha na análise sintática para falar dela, bem como
da pontuação, mais especificamente sobre o vírgula, a qual pode nos auxiliar de acordo
com o sentido que queremos dar aos nossos textos.
Espero que essa unidade suscite em você a vontade de aprender mais, afinal, a
gramática é imensa e só uma pessoa curiosa e com vontade de saber mais pode
desvendá-la. Aqui, nós apresentamos uma pequena amostra de como a nossa língua se
desdobra e a nossa gramática funciona.

Desejo bons estudos e muita curiosidade!

UNIDADE III Estruturação Sintática I 58


1. FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO

A sintaxe é a responsável por estudar as regras de construção de frases e também


a interação que os elementos verbais têm dentro da estrutura oracional. O termo vem do
Grego – syntáxis – e traz como significado as palavras ordenação e disposição. Nesse
sentido, de acordo com Eliseu (2008), podemos afirmar que a sintaxe existe há muito
tempo, não é um estudo novo da área da linguística, este campo de estudo teve origem
com os gregos antigos, os quais já se questionavam sobre o funcionamento do vocábulo
quando estes eram inseridos em condições concretas de comunicação, como as frases
deveriam ser divididas, considerando suas unidades semânticas, e quais eram os termos
essenciais para a obtenção da comunicação de modo efetivo.
Neste tópico iremos conhecer os termos essenciais e acessórios das orações e,
também, o modo como eles se relacionam para que haja um bom funcionamento no seu
objetivo final, que é a comunicação. Para tanto, vamos iniciar entendendo a diferença entre
frase, oração e período.
Para começar observe a frase:

portuguesa ao disciplina língua esta estudo aplica-se da

Ao analisar as palavras acima, você avalia que elas formam uma frase?

UNIDADE III Estruturação Sintática I 59


Com certeza não. Mas por quê? Fica evidente, ao analisarmos a frase acima,
que as palavras não seguem a ordem estabelecida em língua portuguesa, reconhecidas
por qualquer usuário, independente do seu grau de escolaridade. Podemos dizer que
este exemplo se configura em um amontoado de palavras, sem nenhum significado, não
cumprindo, assim, sua função, que é estabelecer a comunicação.
Agora, observe as mesmas palavras reorganizadas, de acordo com os princípios
que são exigidos pela linguística, os quais são até mesmo intuitivos para os usuários da
língua em questão.

Esta disciplina aplica-se ao estudo da língua portuguesa

Comprovamos, a partir da restruturação acima, que não basta juntar palavras


para se obter uma frase, afinal, agora sim podemos dizer que temos uma frase, não é?
Pois bem, é evidente que para termos uma frase é necessário, então, que um conjunto
de palavras comunique uma ideia, que faça sentido para alguém.
Desse modo, podemos afirmar, de acordo com Costa et al. (2013, p. 35), que
frase “é uma unidade linguística que, na situação comunicativa, expressa uma ideia;
caracteriza-se graficamente por iniciar-se com letra maiúscula e terminar com um ponto”.
Apoiados em Cegalla (2004), podemos dizer ainda que a frase funciona para
que os sujeitos de uma língua expressem seus pensamentos e também sentimentos.
Assim, a frase pode ser entendida como uma unidade plena de sentido, sendo possível
termos a construção de uma frase a partir de uma única palavra ou várias, com ou sem
verbos. O que importa, quando definimos a frase, é a sua capacidade de transmitir uma
informação, ou seja, sua capacidade de servir ao sujeito e ao outro para que estabeleçam
uma interação, um processo comunicativo.
Consideremos algumas frases, a fim de entender suas possíveis construções:

Chove…
Que chuva!
A chuva causou destruições.
A chuva causou destruições, deixou as ruas alagadas e pessoas desabrigadas.

(adaptado de Costa et al., 2013)

UNIDADE III Estruturação Sintática I 60


Nos enunciados colocados anteriormente, conseguimos notar sem dificuldade as
características de uma frase. Em todos eles conseguimos recuperar o sentido, logo,
comunicam algo, todos também apresentam os sinais gráficos necessários, como o
emprego da letra maiúscula e a pontuação. Notamos ainda que o primeiro enunciado é
constituído por uma única palavra, um verbo, já o segundo enunciado conta com mais de
uma palavra, o terceiro com um único verbo e, por fim, o quarto com mais de um verbo.
Com isso reafirmamos que para se ter uma frase não importa a quantidade de
palavras, nem se há verbos inseridos na sua construção, essas características não
influenciam na constituição da frase, desde que esta tenha sentido completo e cumpra com
o seu papel.
As frases são divididas em duas categorias: frases nominais e oração (também
conhecidas como frases verbais). A nomenclatura já nos adianta o que cada uma tem
por característica. As frases nominais são aquelas que trazem consigo apenas nomes, ou
seja, não possuem verbos. Como por exemplo:

● Bom dia, meus queridos alunos!


● Boa semana!
● Cuidado!
● Uma noite linda.
● Silêncio, por favor!
Por sua vez, as orações, que não deixam de ser frases, têm sua unidade sintática
estruturada em função de um verbo. Além do verbo, as orações também têm como
característica, em sua composição, três tipos de termos, são eles: essenciais,
integrantes e os acessórios, dos quais falaremos mais adiante.
Abordaremos esses três tipos de termos mais adiante, antes vamos entender o que
é período. considerado período a frase que tem uma ou mais orações. Segundo Costa
et al. (2013, p. 25), “frase e período não são, necessariamente, o mesmo conceito. Isso
porque, está implícita, na constituição do período, a presença de, pelo menos, uma oração.
Como nem toda frase corresponde a uma oração, nem toda frase é um período”.
Da mesma forma que a linguística divide, pedagogicamente, a frase, ela também
divide o período. Assim, temos duas classificações para o período: simples – composto por
apenas um verbo – e composto – caracterizado por apresentarem mais de uma oração em
sua composição, isto é, possuem dois ou mais verbos.
Vamos esquematizar tudo isso para melhor compreensão? Observe:

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DIAGRAMA 1.1 – DIVISÕES LINGUÍSTICAS DA FRASE

FRASE
(unidade plena
de sentido)

NOMINAL ORACIONAL
(sem verbo) (com verbo)

PERÍODO

SIMPLES COMPOSTO
(apenas um (dois ou mais
verbo) verbos)

Fonte: a autora.

Entendido as possíveis divisões da frase e correspondentes, temos agora que nos


deter nos termos da oração, já que a frase nominal não permite uma análise sintática,
por não apresentar um verbo, pois na oração, é em torno do verbo que os outros
elementos vão se organizar. Vamos no próximo tópico nos debruçar sobre esses termos.

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2. OS TERMOS DA ORAÇÃO: ESSENCIAIS E ACESSÓRIOS

Assim como na morfologia, em que temos unidades morfológicas, na sintaxe


também temos unidades sintáticas, as quais chamamos de termos da oração, que podem
ser formadas por uma ou por um conjunto de palavras que desempenham determinada
função sintática.
Podemos classificar os termos da oração de duas formas, a primeira, apresentada
por Cegalla (2004), considera os termos da oração o sujeito e o predicado. Uma segunda
alternativa, a mais utilizada pelos gramáticos, divide os termos da oração em:
● Termos essenciais
Sujeito;
Predicado;

● Termos integrantes
Complementos verbais: objeto direto e indireto;
Complemento nominal;
Agente da passiva.

● Termos acessórios
Adjunto adnominal;
Adjunto adverbial;
Aposto;
Vocativo.

UNIDADE III Estruturação Sintática I 63


Nesta unidade vamos nos deter nos termos essenciais. Vamos lá?
O primeiro termo essencial é o sujeito, que é o termo da oração que expressa o ser
de quem se fala ou de que se declara alguma coisa. Para encontrá-lo podemos fazer duas
perguntinhas básicas para a oração:
- Quem é que (verbo)?
- O que é que (verbo)?
Utilizamos essas duas perguntinhas porque devemos considerar que o sujeito pode
se referir à pessoa (quem) ou a qualquer outra coisa (que). Por exemplo:

O preço do feijão não cabe no poema.

O que não cabe no poema? O preço do feijão.


Sujeito: O preço do feijão.

O homem não foi ao cinema.

Quem não foi ao cinema? O homem.


Sujeito: O homem.

Nessa direção, como dito anteriormente, na estrutura das orações, as palavras e


expressões formam unidades sintáticas (pequenos conjuntos), os quais denominamos
termos. Ainda que esses termos possam ser formados por uma única palavra, o mais
comum é que tenha um agrupamento de elementos em volta do núcleo, o qual é a palavra
principal. Assim, tomando o exemplo anterior, temos:

Sujeito

O preço do feijão não cabe no poema.

Núcleo do sujeito

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Podemos observar que em volta do núcleo temos palavras secundárias que o
caracterizam, como o “o”, “do” e “feijão”. Sobre o núcleo do sujeito é preciso evidenciar
que ele pode se manifestar de duas formas:
1ª – Quando o sujeito está em primeira ou segunda pessoa do discurso, comumen-
te os núcleos se apresentam como pronomes substantivos. Assim, usa-se os pronomes
pessoais eu e tu, no singular e nós e vós, no plural, lembrando que as combinações equi-
valentes de nós e vós também valem, como, por exemplo: eu e tu = nós.
2ª – Se estiver na terceira pessoa do discurso, pode ter como núcleo:
a) Um substantivo;
b) Os pronomes pessoais ele(s), ela(s);
c) Um pronome demonstrativo, relativo, interrogativo ou indefinido;
d) Um numeral;
e) Uma palavra ou uma expressão substantivada;
f) Uma oração.

Diante disso podemos classificar os sujeitos em:


Sujeito simples: quando tem apenas um núcleo.
Exemplo: Ninguém compra os elementos elegíveis.
Sujeito composto: quando a dois ou mais núcleos.
Exemplo: Ele e você são os responsáveis.
Sujeito oculto: é aquele que não está grafado, marcado, mas é possível encontrá-lo
a partir da conjugação do verbo.
Exemplo: Conheço aquelas pessoas.
Sujeito indeterminado: quando não conseguimos determinar qual é o sujeito, isso
porque o verbo se apresenta conjugado na terceira pessoa do plural (eles), ou ainda na
terceira pessoa do singular quando acompanhado do pronome se.
Exemplo: marcaram os lugares.
Não se falou sobre o projeto.
Oração sem sujeito: orações que contêm apenas o predicado, as quais não podemos
confundir com as orações com sujeitos indeterminados, as quais têm um sujeito, ainda que
indeterminado. Na maioria das vezes a oração sem sujeito ocorre quando estamos
falando de fenômenos da natureza ou usando verbos impessoais.
Exemplo: Ontem choveu aqui.
Faz calor em pleno junho.

UNIDADE III Estruturação Sintática I 65


O segundo termo essencial da oração é o predicado, que é constituído por um
conjunto de enunciados que engendram o que se diz a respeito do sujeito. Segundo Lima
(2011), responsável pelas informações mais importantes sobre o sujeito, além de centrar
a significação da oração, já que é ele que traz o verbo ou a locução verbal. Nesse sentido,
de acordo com as teorias gramaticais, o verbo tem duas funções dentro da sintaxe e assim
podem ser classificados em verbos significativos e verbos de ligação. Isso é importante
porque vai determinar a intenção e o sentido das orações.
O verbo de ligação tem a função de expressar estados, sentimentos, além de ligar
o sujeito a uma característica. Exemplo:

Marcos é magro.

Sujeito Verbo de característica


ligação

O verbo “é” está, no exemplo acima, apenas ligando o sujeito à sua característica,
por isso assume a função de verbo de ligação. Há verbos que têm essa característica,
ou seja, normalmente funcionam como verbo de ligação, são eles: continuar, andar, ficar,
fazer, estar, ser, parecer e permanecer. Dois desses verbos citados, os quais funcionam
normalmente como de ligação, exigem cuidado, visto que podem ter o sentido de ação, são
eles: andar e ficar. Observe:

Verbo de ação

Eu ando no parque.
Ando cansada.
Verbo de ligação

Na primeira frase nós temos o verbo andar, conjugado na primeira pessoa


expressando a ação de andar, uma ação que o sujeito pratica. Já, na segunda frase, o
verbo, também conjugado na primeira pessoa, traz a ideia de estar cansado, ou seja, um
estado em que o sujeito se encontra, assumindo, dessa forma, a função de verbo de
ligação.
O verbo significativo, por sua vez, expressa ação ou fenômeno da natureza, não
sendo possível, diferentemente dos verbos de ligação, enumerá-los, já que a maioria dos
nossos verbos expressam a ideia de ação. Sendo assim, o verbo “ando” da primeira
frase do exemplo anterior é um verbo significativo.

UNIDADE III Estruturação Sintática I 66


Entendido o que são os verbos significativos e os verbos de ligação podemos,
então, entender os tipos de predicado que existem, já que será o verbo que vai nos dizer
se estamos falando de um predicado nominal, verbal ou verbo-nominal. Lembrando que o
predicado é tudo aquilo que diz algo sobre o sujeito, isto é, ao excluir o sujeito da oração, o
restante equivale ao predicado da oração.
O predicado nominal é aquele em que o mais importante é o nome e não o verbo.
Outra característica importante é que não existe predicado nominal de não haver na minha
oração um verbo de ligação. Tomemos um dos exemplos anteriores:

Marcos é magro.

Sujeito Verbo de característica


ligação

Perceba que temos o sujeito e o predicado, sendo que o predicado é constituído


pelo verbo “é”, que é um verbo de ligação, desse modo, esse predicado é um predicado
nominal. Perceba que a palavra mais importante do predicado é “magro”. Assim, se
trocarmos o verbo de ligação por qualquer outro significativo não teremos mais um
predicado nominal.
Enquanto o predicado nominal precisa do verbo de ligação para existir, o predicado
verbal precisa do verbo significativo. Observe o exemplo:
Sujeito Verbo significativo

Aquelas meninas brincavam felizes.

Predicado verbal

Verificamos no exemplo acima que a oração é constituída por um verbo significativo,


o que caracteriza o predicado, automaticamente, em verbal. Perceba que a palavra mais
importante nesse caso é o verbo.
Por fim, temos o predicado verbo-nominal, que se constitui por um verbo
significativo e uma característica, que pode ser do sujeito ou do objeto, ou seja, nesse
predicado temos dois núcleos importantes: um verbo e um nome. Vejamos:

Sujeito Predicado verbo-nominal

O dia amanheceu ensolarado

Verbo significativo Característica do sujeito

UNIDADE III Estruturação Sintática I 67


Assim, para resumir, compreendemos que os termos essenciais da oração se
concentram em sujeito e predicado e, também, que tanto o sujeito como o predicado
podem ter estruturas diversas, o que vai depender da relação que as palavras assumem
umas com as outras, ou seja, da função sintática de cada uma dentro da oração.

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3. AS CLASSES DE PALAVRAS E A REGÊNCIAS

Acabamos de conhecer os termos sintáticos da oração, os quais compreendem a


análise sintática interna, isto é, a análise do funcionamento desses termos. Agora,
vamos abordar a análise sintática externa, ou seja, a análise das orações em si. Isto
porque dentro de um período composto, como vimos anteriormente, podem funcionar
duas ou mais orações.
Nessa direção, os períodos podem ser compostos por: orações coordenadas,
orações subordinadas e orações mistas.
Os períodos compostos por coordenação apresentam dois ou mais verbos - cada
verbo forma uma oração - e cada parte do período, isto é, cada oração possui autonomia
e independência sintática. Dessa forma, é possível compreender as orações do período
de forma individual, elas são independentes entre si. A coordenação nos auxilia a alcançar
uma unidade no sentido que queremos estabelecer, deixando-o mais completo e
significativo.
Observe o exemplo:

Verbo Verbo

Embarquei ontem e cheguei hoje.

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Neste exemplo notamos a presença de dois verbos, temos, assim, duas orações.
Se separarmos tais orações as duas terão sentidos completos, ou seja, uma não depende
da outra. Observe:
● 1ª oração: Embarquei ontem.
● 2ª oração: Cheguei hoje.
Portanto, os períodos compostos por coordenação são estruturados a partir de
duas ou mais orações independentes entre si, mas que são ligadas dentro de um período
por uma conjunção, a qual determinará se as orações serão, aditivas, adversativas,
alternativas, conclusivas ou explicativas, a depender do tipo de conjunção que estará
ligando as orações.
O período composto por subordinação, por sua vez, compreende àqueles que
apresentam dois ou mais verbos dependentes sintaticamente, isto é, uma oração vai
depender da outra para que haja sentido, sendo uma subordinada a outra, que
denominaremos principal, assim como as gramáticas.
Por exemplo:

verbo verbo

Ele tinha certeza que ela não voltaria

Assim como na coordenação, percebemos no exemplo acima que há no período


dois verbos. Vamos separar as orações para examinarmos a construção.
● 1ª oração: Ela tinha certeza.
● 2ª oração: Ela não voltaria.
Perceba que neste caso temos uma dependência de sentido entre as frases. Se
alguém dissesse para você “ela tem certeza”, você provavelmente perguntaria: Certeza do
que? Ou seja, o “que” liga as duas orações de modo que uma fique estritamente
subordinada a outra. Se estas orações forem separadas certamente não alcançaria a
ideia final.
Já o período misto, como o próprio nome sugere, é composto pela coordenação
e pela subordinação ao mesmo tempo. Então temos os dois tipos de relação no mesmo
período o que dependência (subordinação) e de independência (coordenação).
Por exemplo:
verbo verbo verbo

Fui ao cinema e comprei os presentes que minha mãe pediu.

UNIDADE III Estruturação Sintática I 70


Observe que temos três verbos. Separando as orações, temos:
● 1ª oração: Fui ao cinema.
● 2ª oração: Comprei os presentes.
● 3ª oração: Que minha mãe pediu.
Ao analisar as orações percebemos que a primeira oração e a segunda são
independentes, ou seja, as duas são compreensíveis por si só, não há nenhum tipo
de dependência entre elas que nos impeça de entendê-las. Agora, ao olharmos para a
terceira oração percebemos que ela sozinha não tem sentido, demandando uma oração
principal. Quando olhamos para ela isoladamente nos vem a pergunta: o que sua mãe
pediu? É aí que entra a oração principal: Comprei os presentes.
Esse é o período misto, composto, então, por orações coordenadas e
subordinadas, ao mesmo tempo.
Esquematizando o período, teríamos:

INFOGRÁFICO 3.1 - SUBDIVISÃO DO PERÍODO

PERÍODO

COMPOSTO
POR ORAÇÕES

SIMPLES COMPOSTA
(1 oração/verbo) (2 ou +
orações/verbos)

ORAÇÃO COORDENAÇÃO SUBORDINAÇÃO MISTO


ABSOLUTA (Relação de (Relação de (Coordenação e
independência) dependência) Subordinação)

Fonte: a autora.

Compreendemos, até esse momento, como os períodos se estruturam.


Percebemos que podemos ter períodos coordenados, subordinados ou misto. Também
vimos que há orações em que os verbos e nomes exigem um complemento para que
tenha sentido completo. Neste tópico vamos discutir exatamente sobre a ligação que
deve ter entre o núcleo e o seu complemento. Contudo é importante voltarmos um
pouquinho na morfologia para relembrarmos as classes de palavras, visto que, para
entendermos algumas colocações, elas serão imprescindíveis.

UNIDADE III Estruturação Sintática I 71


Já sabemos que a morfologia estuda a estrutura da palavra, bem como a sua
formação e mecanismos de flexão. Mas ela também se debruça sobre as classes
gramaticais, buscando entender a função de cada palavra isoladamente. De acordo com
essa área de estudo, as classes gramaticais podem ser divididas em dez classes de
palavras, também conhecida como classes gramaticais.
Observe na tabela abaixo todas as classes gramaticais e suas respectivas definições:

QUADRO 1: AS CLASSES GRAMATICAIS

CLASSES GRAMATICAIS
Classe Função básica Exemplo
gramatical
Substantivo Nomear seres, coisas, Um lindo balão azul sobrevoou a região.
lugares, conceitos etc.

Adjetivo Caracterizar o substantivo Um lindo balão azul sobrevoou a região.

Artigo Anteceder o substantivo para Um lindo balão azul sobrevoou a região.


indeterminá-lo ou
determiná-lo
Numeral Indicar quantidade. Comprei três peixes por vinte reais.
Pronome Substituir ou acompanhar o Célia, eu te ajudarei (te🡪🡪 Célia).
substantivo.
Sabes minha opinião sobre teus planos.

Verbo Indicar um acontecimento e Um lindo balão azul sobrevoou a região.


situá-lo no tempo.
Amanhã terminaremos o trabalho?

Indicar circunstâncias Agora vivo tranquilamente aqui.


(tempo, lugar, etc.) do fato
Advérbio verbal.

Tempo Modo Lugar


Preposição Ligar duas palavras

Confio em você; fique perto de mim.

Conjunção Ligar orações Ventou muito, mas não choveu.


Interjeição Exprimir emoções e Puxa! Você vai faltar de novo?
sentimentos súbitos.

Fonte: Ferreira (2011).

UNIDADE III Estruturação Sintática I 72


Agora que relembramos as funções das palavras isoladamente, vamos entrar na
sintaxe novamente para entender como essas palavras podem nos servir em uma análise
sintática.
Já sabemos que a sintaxe é a responsável pelo estudo das relações que as
palavras assumem dentro de uma oração. E um dos aspectos mais importantes é a
regência, afinal sempre ouvimos perguntas do tipo: o correto é fui no cinema ou fui ao
cinema? E, na maioria das vezes, a resposta é dada de forma intuitiva.
Assim, para começar, é importante entendermos que a regência é a relação de
dependência que se instaura entre os termos da oração: entre os verbos e os elementos
que os complementam ou, ainda, aqueles que os caracterizam, a este tipo de relação
chamaremos regência verbal; entre os nomes e outros nomes, quando há a subordinação
pela preposição, a este tipo chamaremos regência nominal.
Dessa maneira, as preposições é uma classe de palavras que tem o poder de
mudar completamente o sentido de um período, assim, estudar as preposições é algo
indispensável quando o assunto é regência verbal e nominal. Veja o exemplo:

Cheguei no carro.
Cheguei ao carro.

No exemplo percebemos dois sentidos distintos, a primeira oração se refere ao


modo como “eu” cheguei, o meio de transporte utilizado. Já na segunda oração temos o
destino final, como, por exemplo, cheguei onde o carro está estacionado. É preciso dizer
que é comum termos divergências entre a linguagem coloquial e a linguagem padrão
quando nos referimos às regências. Você pode até ter ficado na dúvida quanto a esse
exemplo, afinal, na fala, o uso de “no carro” com a ideia de lugar para onde vou, é
utilizada.
Nessa perspectiva, os termos subordinados sempre serão os termos regidos,
ou seja, aqueles que servem como complemento a outro, completando o sentido.
Enquanto que, os termos regentes serão sempre os subordinantes, aqueles que
exigem um com-plemento. Essa relação que se estabelece, então, entre os termos
regentes e os regidos, é uma relação sintática, sendo que, na regência verbal o termo
regente sempre será um verbo, já na regência nominal o termo regente sempre será um
nome.

UNIDADE III Estruturação Sintática I 73


4. CRASE E PONTUAÇÃO: ASPECTOS SINTÁTICOS

Ao considerar a regência, há um aspecto da gramática, considerado por


muitos como um assunto não muito agradável, contudo, muito importante: a crase. A
crase se relaciona de forma direta com a regência de nomes e de verbos,
desempenhando, desse modo, um papel fundamental na estrutura sintático-semântica dos
enunciados. Ferreira nos oferece um exemplo quanto a isso, observe as duas frases:

Favor não bater a porta.


Favor não bater à porta.

Como podemos perceber, a presença da crase é fundamental para que possamos


diferenciar o sentido de cada frase. A primeira traz a ideia de fechar devagar a porta e não
deixá-la bater, a segunda traz a ideia de não chamar a atenção de alguém, por exemplo,
através de batidas na porta.
Entende-se por crase a fusão da preposição a com outro que venha logo depois
dela, sendo que a crase é representada pela letra a com o acento grave (à).
De acordo com Ferreira (2011, p. 648) “A palavra crase, que tem origem na palavra
grega krasis (mistura, fusão), nomeia um fato fonético: a fusão de dois sons iguais. O
nome do acento que., na escrita, indica a ocorrência de crase não se chama “crase”;
chama-se acento grave.”

UNIDADE III Estruturação Sintática I 74


Nessa direção, sabemos que a crase ocorre, na maior parte das vezes, pela
fusão do artigo a mais a preposição a, contudo, em algumas estruturas sintáticas, ela pode
resultar da junção de:
● preposição a + pronome demonstrativo a(s), que corresponde a “aquela(s)”.
o Por exemplo: Essa camisa é igual à que ganhei.
● preposição a + aquele(s), aquela(s) e aquilo.
o Por exemplo: Dirija-se àquele departamento, por favor.
● preposição a + a (qual), as (quais).
o Conheço a revista à qual você se referiu.
De acordo com Ferreira (2011), há um método prático que podemos utilizar para nos
certificarmos se há ou não crase nas frases. Para tanto, basta trocar a palavra feminina por
uma masculina, mas atenção, a palavra masculina não precisa ser sinônima da feminina,
mas precisa ser do mesmo tipo, como, substantivo comum no lugar de substantivo comum,
nome de cidade no lugar de nome de cidade e assim por diante. Assim:
1) Se, ao substituir o nome feminino, aparecer “ao(s)” antes do nome masculino.
Coloque crase antes do nome feminino.

O comerciante se referiu às taxas de juros.

Trocando por masculino


O comerciante se referiu aos acréscimos de juros.

2) Se, ao substituir o nome feminino, aparecer “a(s)” ou “o(s)” antes do nome


masculino. Não coloque crase antes do nome feminino.

Todos apoiaram as temáticas que apresentei.


Trocando por masculino

Todos apoiaram os assuntos que apresentei.

Para que seja possível construir um enunciado coerente, vimos que é necessário
dominar os aspectos sintáticos de uma frase, ou seja, é preciso conhecer as regras de
organização frasal. Nesse sentido, a pontuação é um elemento que funciona como um
organizador, por isso, vamos entender como podemos utilizar desse recurso para que
tenhamos um enunciado mais coeso e coerente.
A vírgula marca, por exemplo, a inversão da ordem direta de um enunciado, a
intercalação de elementos que interrompem a leitura, a elipse de algumas estruturas que podem
ser recuperadas pelo contexto e, ainda, intensifica um determinado termo, dando ênfase a ele.
Assim, percebemos que a presença da vírgula dentro das orações é imprescindível, por isso,

UNIDADE III Estruturação Sintática I 75


agora vamos discutir um pouquinho sobre elas.
Começaremos com as orações coordenadas, as quais, como estudado em
outro momento, são independentes, não exercem nenhuma função uma sobre a outra.
Essas ora-ções podem ser assindéticas ou sindéticas. O que isso significa? Significa que
as orações coordenadas podem ser ligadas por uma conjunção (sindéticas) ou podem
se ligar sem uma conjunção (assindéticas), as quais podem ser coordenadas através
de uma pausa, representada por vírgula.
Lembrando que as conjunções tem por função unir as orações, podem iniciar
as orações, neste caso, geralmente, as conjunções são antecedidas pela vírgula, ou
ainda podem ser deslocadas dentro do período, neste caso as conjunções devem vir,
necessariamente, escritas entre vírgulas.

Por exemplo:
● O professor explicou a teoria, porém os alunos não a entenderam.
o 1ª oração: o professor explicou a teoria.
o 2ª oração: os alunos não entenderam.
o Porém = conjunção.
Neste exemplo notamos claramente que a conjunção está iniciando a oração.
Agora, observe:
● O professor explicou a teoria, os alunos, porém, não a entenderam.
Neste segundo exemplo temos o deslocamento da mesma conjunção, ao deslocar
a conjunção do início para o meio da frase, é necessário colocá-la entre vírgulas.
Observando algumas conjunções temos algumas particularidades que devemos
considerar. Considere:
● As conjunções adversativas, as quais indicam oposição, como, por exemplo:
mas, porém, contudo, entretanto, no entanto, entre outras, sempre são isoladas por
vírgula e quando deslocadas aparecem entre vírgulas. Contudo a conjunção mas nunca
aparece entre vírgulas. Observe:
o Fui ao mercado, mas não consegui comprar tudo que precisava.
o Fui ao mercado, contudo não consegui comprar tudo que precisava.
o Fui ao mercado, não consegui, contudo, comprar tudo que precisava.
● Outra peculiaridade encontramos na conjunção porque, que pode introduzir
uma oração coordenada explicativa como introduzir uma causa de algum fato. Neste último
caso teríamos uma conjunção subordinativa adverbial causal. No primeiro, temos uma

UNIDADE III Estruturação Sintática I 76


conjunção coordenativa explicativa e esta deve vir sempre antecedida por vírgula. Vamos
entender a diferença entre as duas.
o Conjunção coordenada explicativa, introduz uma oração que justifica,
que explica, que esclarece a ideia do autor do texto, colocada anteriormente. Observe:
▪ Briguei, porque me irritei.
Temos neste exemplo uma explicação do porque a pessoa brigou. Por ter se irritado
a pessoa brigou.
o Conjunção subordinativa adverbial causal, introduz uma oração que
revela a causa de um acontecimento, isto é, o que provocou aquilo. Neste caso não se usa
a vírgula, já que a causa tem um vínculo lógico e sintático com o fato. Observe:
▪ A festa foi transferida porque acabou a luz.
Temos então a causa da festa ter sido transferida, a falta de luz.
● Do mesmo modo que a conjunção porque, a conjunção pois pode apresentar
dois sentidos, dependendo da posição que ocupa. Vejamos.
o Se estiver no início da oração vai ter por função introduzir uma explicação
do que foi dito antes. Terá o mesmo valor do porque e, da mesma forma, virá antecedida
por vírgula.
▪ A festa foi transferida, pois acabou a luz.
o Quando a conjunção pois vier deslocada, apresentará uma ideia de conclusão
são do que foi dito antes, tendo o mesmo valor da conjunção portanto.
▪ Era perseverante; enfrentaria, pois, muitos obstáculos.
● Por sua vez, a conjunção e, normalmente, não é precedida por vírgula, pois
muitas vezes é utilizada com valor de soma (isso e aquilo). Contudo, em casos como: unir
orações com sujeitos diferentes, quando ligar elementos em uma enumeração enfática e
quando introduzir uma oração que exprime substituição, antes do advérbio não, deve vir
precedida de vírgula. Observe:
o Maria comeu e foi embora. (junção de ideias, com sujeitos iguais)
o O espetáculo foi excepcional, e o público vibrou. (sujeitos diferentes)
o Ele ficou arrasado, e envergonhado, e triste. (enfatiza os termos)
o O professor elogiou o secretário, e não a diretora. (supressão do termo)

As orações subordinadas, por sua vez, são aquelas, como já estudado,


dependentes de uma outra oração, a qual chamamos de oração principal. Estas podem
ser divididas em orações subordinadas adjetivas e orações subordinadas adverbiais.

UNIDADE III Estruturação Sintática I 77


As orações subordinadas adjetivas exercem a função de adjunto adnominal de um
termo da oração principal, funcionam como um adjetivo na estrutura frasal. São iniciadas,
geralmente, pelo pronome relativo que antecedido por vírgula. Temos ainda uma subdivisão,
em que temos as orações subordinadas adjetivas explicativas e as orações subordinadas
adjetivas restritiva. Vamos entendê-las:
● Oração subordinada adjetiva explicativa sempre virá entre vírgulas, sendo
possível retirá-la da frase sem perder o sentido. Ela sempre vem para acrescentar uma
informação, ampliando o que já foi dito, por isso pode ser retirada sem que o sentido se
altere. Veja:
o Meus amigos, que viajaram ontem, chegaram cansados.
● Oração subordinada adjetiva restritiva vai especificar, vai restringir o nome
que se refere, restringindo seu significado a um único ser. Neste caso, não utilizamos
vírgula. Veja:
o Meus amigos que viajaram ontem chegaram cansados. (Não são amigos aleató-
rios, são aqueles que viajaram ontem, especificamente).
As orações subordinadas adverbiais vão exercer a função de adjunto adverbial do
verbo da oração principal, ocupando a mesma função do advérbio na estrutura frasal. Desse
modo, vão acrescentar à oração circunstância de modo, tempo, causa, fim, consequência,
entre outras. Estas orações vão ser iniciadas sempre ou por uma conjunção ou por uma
locução conjuntiva, e as vírgulas virão a posteriori das orações subordinadas quando estas
vierem antes da oração principal. Por exemplo:
● Se ele estivesse se esforçado, teria passado no concurso. (oração subordinada
adverbial condicional deslocada).
● Quando percebeu, já era tarde. (oração subordinada adverbial temporal
deslocada).
Estas são as principais colocações de pontuação quando pensamos em uma
análise sintática. Perceba que os nomes das orações e as classificações não são
dadas ao acaso, as nomenclaturas dizem o que cada uma tem por função; se a oração é
conclusiva, quer dizer que trará a ideia de uma conclusão, se ela for condicional, quer
dizer que ela trará a ideia de uma condição, se é coordenada, quer dizer que elas são
independentes, subordinadas, que uma depende da outra e assim por diante.

UNIDADE III Estruturação Sintática I 78


SAIBA MAIS

Prezado (a), aluno (a)!

Neste vídeo, do canal Brasil Escola, você poderá compreender um pouco mais sobre os
termos integrantes das orações em língua portuguesa. Um vídeo de, aproximadamente,
22 minutos que, com certeza, acrescentará muito na sua compreensão e familiaridade
com a sintaxe. O vídeo é intitulado Termos integrantes da oração: complementos
verbais e está disponível em: https://www.youtube.com/embed/QFBwIsUcxb8.

Aproveite!

REFLITA

“Não basta saber ler que ‘Eva viu a uva’.


É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social,
quem trabalha para produzir a uva
e quem lucra com esse trabalho.”

Paulo Freire in Moacir Gadotti, Paulo Freire: Uma Biobibliografia, 1996.

UNIDADE III Estruturação Sintática I 79


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estimado (a) aluno (a),

Chegamos ao final de mais uma unidade de aprendizagem, na qual buscamos


mostrar um pouquinho de como a sintaxe se desdobra, tanto no que se refere ao
funcionamento das palavras dentro dela como da relação que as orações estabelecem
dentro de um período.
Pudemos perceber que a gramática, tanto na morfologia quanto na sintaxe, e digo:
em qualquer outra área de funcionamento da língua, vai se desdobrando e, a cada
novo funcionamento, vai surgindo uma nova nomenclatura, que vai determinando aquele
movimento da palavra ou da oração em um enunciado. Não nego que o conteúdo é
extenso, por isso, tentamos trazer vários exemplos para que você pudesse visualizar
todo esse mecanismo gramatical da nossa língua.
Como colocado anteriormente, a língua portuguesa é muito rica e para
compreendê-la, considerando seus mecanismos, é necessário estarmos sempre em
contato com uma boa gramática. Não podemos nos iludir achando que memorizaremos
tudo que contém em uma obra, que traz todas as regras da língua, de mais ou menos,
800 páginas. Contudo, a curiosidade e a boa vontade de aprender podem nos ajudar a
aprender cada vez mais.
Por isso, meu querido (a), mãos na obra!

UNIDADE III Estruturação Sintática I 80


LEITURA COMPLEMENTAR

Caro (a), aluno (a)!

A fim de aprimorar o seu conhecimento e não ficarmos apenas na gramática


fechada, visto que, para nos comunicarmos bem, precisamos entender o funcionamento
real da língua, sugerimos a leitura do artigo Correção gramatical e clareza afetam a
qualidade do texto cientí ico?, de Tarciso S. Filgueiras.

O artigo está disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-84042010000300015&script=sci_ar-

ttext&tlng=pt. Acesso em: 31 ago. 2020.

Boa leitura!

UNIDADE III Estruturação Sintática I 81


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Moderna Gramática Portuguesa
Autor: Evanildo Bechar
Editora: Nova Fronteira
Sinopse: A mais confiável obra de consulta nos estudos da língua
portuguesa, esta Moderna Gramática chega à tão aguardada 39.ª
edição com atualizações em todo o seu conteúdo e acréscimos
valiosos.Trata-se de um porto seguro para estudiosos de todas as
idades e aqueles que precisam se preparar bem para as provas
de concurso público no Brasil. Todo o material aqui reunido pelo
autor, um dos maiores gramáticos da língua portuguesa, constitui
a mais completa soma de fatos gramaticais e soluções de dúvidas
de português. Vale lembrar que a obra está em consonância com
as regras do novo Acordo Ortográfico, do qual o Prof. Evanildo
Bechara é o atual representante brasileiro.

FILME/VÍDEO
Título: Dentro da casa
Ano: 2013
Sinopse: Germain (Fabrice Luchini) é um professor de literatura
que sente uma enorme frustração pela mediocridade dos alunos.
Ele se surpreende com a redação de Claude (Ernest Umhauer),
texto que relata os problemas pessoais de um colega de sala. Ao
mesmo tempo em que aprende literatura, o aluno escreve a
sequência de uma verdadeira obra que ganha descrições poéticas
sob o seu olhar. O grande dilema do filme é essa reflexão sobre o
certo e o errado: o professor deve incentivar a liberdade criativa do
garoto ou censurá-lo?
A história preza muito mais pelas palavras que pelas formas. O
comportamento do professor mostra o tamanho da influência da
ficção também na visão de espectador. Acontece que
consequências reais são ignoradas em nome de uma boa
história. Qual o limite da escrita? Ela deveria ter um? Muitas
perguntas

UNIDADE III Estruturação Sintática I 82


UNIDADE IV
Estruturação Sintática II
Professora Mestra Maraisa Daiana da Silva

Plano de Estudo:
● As locuções e seus sentidos;
● Termos acessórios da oração e a regência;
● Termos integrantes da oração;
● Os verbos.

Objetivos da Aprendizagem
● Conhecer a evolução da contabilidade e seus fundamentos históricos;
● Conceituar a contabilidade, seu objetivo e suas áreas de aplicação;
● Identificar os aspectos legais da contabilidade;
● Compreender as características da informação e quem as utiliza.

83
INTRODUÇÃO

Prezado (a) aluno (a),

Seja bem-vindo (a) a mais essa etapa em que vamos avançar juntos no
conhecimento.
Já percebemos que não podemos abordar a língua de maneira direta. A
linguagem, manifestada tanto na fala quanto na escrita, constitui a nossa única fonte
de acesso à realidade imaterial da nossa língua. O nosso conhecimento sobre a
estrutura linguística deve estar em constante adaptação e trabalho, pois a língua é uma
realidade mental que, em seus limites, se confunde com o próprio pensamento.
Numerosos são os estudos, as observações e os caminhos que podemos seguir
para compreender a língua. São inúmeras as teorias e métodos que podem nos
auxiliar nessa batalha, mas, para que possamos escolher uma, precisamos conhecer
todas. Contudo, é necessário que essa caminhada rumo ao conhecimento deve ser
lenta para que seja bem assimilada, por isso, nesta unidade continuaremos trabalhando
com a gramática tradicional da língua portuguesa.
Assim, nesta unidade, propusemos uma caminhada pela gramática, em que
teremos a oportunidade de entender, no primeiro tópico, os diferentes sentidos que
podemos alcançar com as locuções, conforme a sua colocação.
Posteriormente, daremos continuidade aos termos das orações, vamos
compreender que os termos acessórios, assim como os integrantes são tão importantes
quanto os termos essenciais.
Por fim, voltaremos em uma classe gramatical muito importante, abordaremos o
verbo, pois muitas vezes parece-nos tão óbvio que não paramos para observá-lo e
entendê-lo em sua plenitude, deixando escapar, muitas vezes, coisas simples, mas que
pode mudar completamente o sentido de um enunciado.
Nessa direção, convido você, querido aluno, a embarcar novamente comigo,
para desvendarmos esse mar imenso que é a língua portuguesa.

Desejo uma boa leitura e ótimos estudos!

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 84


1. AS LOCUÇÕES E OS SEUS SENTIDOS

Muitas vezes, ao escrever, nós fazemos uso de expressões, visto que


estas expressam ideias e sentidos que não conseguimos expressar em apenas uma
palavra, necessitamos, assim, fazer uma ligação entre as palavras, o que na sintaxe
chamamos de locução.
Primeiramente, é importante compreendermos que a locução é a junção de duas
ou mais palavras que resultam em uma unidade significativa, e essa unidade significativa
vai ter, dentro de uma frase, a mesma função gramatical. Desse modo, entender
esse mecanismo está diretamente ligado à compreensão de seu funcionamento
sintático, ou seja, dentro de uma frase.
Temos diferentes locuções, as quais são classificadas conforme a função que
assumem dentro de um enunciado. Veja:
● Locução adjetiva: que tem a mesma função do adjetivo;
● Locução adverbial: que tem a mesma função do advérbio;
● Locução prepositiva: que tem a mesma função da preposição;
● Locução conjuntiva: que tem a mesma função da conjunção;
● Locução verbal: que tem a mesma função do verbo;
● Locução substantiva: que tem a mesma função do substantivo;
● Locução pronominal: que tem a mesma função do pronome;
● Locução interjetiva: que tem a mesma função da interjeição.

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 85


Agora que temos uma visão ampla das locuções, vamos olhar para as principais
de maneira mais minuciosa para compreendermos como elas se comportam dentro de
uma análise sintática.

Locução adjetiva: a locução adjetiva é formada, normalmente, por meio da junção


de uma preposição e um substantivo, que vão atuar como um adjetivo, caracterizando
um outro substantivo. Assim, temos:

Preposição + substantivo

Mulher de coragem
De coragem= corajosa

De acordo com Bechara (2010), é importante dizer que nem sempre vamos
encontrar um adjetivo correspondente na mesma família de palavras e de significado
idêntico ao da locução adjetiva. O autor cita como exemplo:
● Colega de turma
● Homem sem-terra
Com esses exemplos, é fácil perceber que não podemos ficar presos, ao considerar
as locuções adjetivas, na procura por um sinônimo que expresse a mesma característica.
De qualquer maneira, podemos citar algumas locuções adjetivas com seus respectivos
correspondentes a fim de compreendermos melhor:

TABELA 1.1.1 – LOCUÇÕES ADJETIVAS

De cabelo = capilar
De cabra = caprino
De criança = infantil
De respeito = respeitoso
De anjo = angélico
De pai = paternal
Sem freio = desenfreada

Fonte: a autora.

Locução adverbial: a locução adverbial é formada, normalmente, por meio da


junção de uma preposição e um substantivo ou adjetivo, sendo que estes podem variar
em gênero e o número. A locução adverbial vai funcionar como um advérbio, ou seja,
modificando o verbo, o adjetivo ou outro advérbio. Assim, temos:

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 86


Preposição + substantivo

Apenas irei à escola de noite

Assim como os advérbios, as locuções adverbiais também podem ser classificadas


de acordo com as circunstâncias que expressam. Observe:

TABELA 1.1.2 – CLASSIFICAÇÃO DAS LOCUÇÕES ADVERBIAIS

Classificação Exemplos
Afirmação – com certeza
– por certo
– sem dúvida, etc.
Intensidade – de muito
– de pouco
– de todo, etc.
– à direita
– à esquerda
De lugar – à distância
– ao lado
– de dentro
– de cima, etc.
– à toa
– à vontade
De modo – ao contrário
– ao léu
– às avessas
– às claras, etc.
De negação – de forma alguma
– de modo algum, etc.
De tempo – à noite
– à tarde
– à tardinha
– de manhã, etc.

Fonte: a autora.

Locução prepositiva: a locução prepositiva é formada por duas ou mais palavras


que vão funcionar como uma preposição, ou seja, ligando as palavras e
estabelecendo sentidos. A última palavra dessa locução sempre será uma preposição.
Assim, temos:
substantivo + preposição

Estou perto de perder o concurso

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 87


Perceba que a locução “perto de”está ligando o verbo “estar” e o “perder”,
exercendo, dessa forma, a mesma função de uma preposição. Poderíamos citar como
exemplo de locuções prepositivas:

TABELA 1.2.1 – LOCUÇÕES PREPOSITIVAS

abaixo de
acerca de
de acordo com
defronte de
junto a
perto de
por baixo de
por trás de

Fonte: a autora.

Locução conjuntiva: a locução conjuntiva, assim como a locução prepositiva, é


formada por duas ou mais palavras que vão funcionar como uma conjunção, ligando duas
orações. Assim, temos:
Uma vez que já terminei meus estudos, já posso trabalhar.
Falei com o professor primeiro, para que ele não se irrite.
Visto a característica dessa locução, de ligar orações, as quais, como nós já
sabemos, podem ser orações coordenadas ou subordinadas, teremos dois tipos de
locução conjuntiva:
As locuções conjuntivas coordenativas, as quais podem ser aditivas,
adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas.
As locuções conjuntivas subordinativas, as quais podem ser adverbiais
causais, comparativas, concessivas, condicionais, conformativas, consecutivas, finais,
proporcionais, temporais.

Locução verbal: a locução verbal é formada pela junção de um verbo auxiliar e


um verbo principal, que vão funcionar como uma única ação verbal. Assim, temos:
Estamos indo para a casa agora.
Quero dormir antes de sair de casa.
Meu amigo tem trabalhado sem descanso.
Podemos acrescentar ainda, sobre a locução verbal, que o verbo auxiliar sempre
aparecerá flexionado em tempo, modo, número e pessoa. Já, o verbo principal sempre
estará no gerúndio, infinitivo ou particípio.

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 88


2. TERMOS ACESSÓRIOS DA ORAÇÃO E A REGÊNCIA

Vimos, em outros momentos, que a gramática nos orienta sobre os termos


essenciais, ou seja, nos conduz a uma nomenclatura específica, isso significa que temos
outros termos paralelos a esse, que são os termos acessórios.
O que seria um acessório? Pensem em uma pulseira, em um colar, em um
piercing, em um cinto ou, ainda, em um fone de ouvido, uma capinha para o celular e
assim por diante. Estes são exemplos de acessórios que utilizamos no nosso dia a
dia, para complementar um determinado efeito visual, o qual desejamos alcançar. Da
mesma forma, as orações, para que tenha um sentido completo, utilizam de
complementos que auxiliam os termos essenciais. Por exemplo:

Verbo significativo Complemento verbal

Maria mora em Natal.


sujeito Predicado verbal

No exemplo acima, temos um predicado verbal, indicado pelo verbo significativo,


que também é o núcleo do predicado, por ser o termo mais importante, contudo que
precisa de algo a mais para que o sentido fique completo. É aí que surge o termo
acessório da oração. Veja: fazemos a primeira pergunta para descobrir o sujeito –
Quem mora? R. Maria. E fazemos uma segunda pergunta para achar o complemento –
Maria mora onde? R. Em Natal. Assim, nós temos aí um complemento de lugar,
assessorando o verbo, um complemento verbal, classificado na sintaxe por adjunto que,
UNIDADE IV Estruturação Sintática II 89
apesar de ser um termo acessório, é indispensável para alcançar o sentido completo da
oração.
Assim, os termos acessórios são aqueles que acompanham substantivos,
pronomes ou verbos, isto é, o núcleo verbal, nominal ou verbo-nominal do predicado.
Eles vão informar uma característica ou uma circunstância, desse modo, fazem parte
dos termos acessórios da oração os:
● Adjunto adverbial: termo da oração que indica uma circunstância de tempo, de
lugar, de modo, de causa, de finalidade, modificando o verbo.
Exemplo: Maria mora muito longe. (Maria não mora, apenas, longe, Maria mora
MUITO longe: muito = intensificador do verbo, isto é, adjunto adverbial de
intensidade).
● Adjunto adnominal: termo que qualifica ou especifica um substantivo,
independentemente de sua função na oração.
Exemplo: A menina bonita mora em Natal. (bonita está especificando qual menina
mora longe: a menina bonita).
● Aposto: termo da oração que oferece uma explicação referente a um
substantivo, pronome, entre outros.
Exemplo: Maria mora em Natal, cidade litorânea. (litorânea está dando uma
explicação de que tipo de cidade é Natal).
● Vocativo: termo de entonação exclamativa, relacionado com o sujeito, uma
forma de chamamento.
Exemplo: Maria! Venha aqui.
Nessa direção, podemos perceber que as escolhas das palavras e a sua colocação
dentro de orações, que podem, posteriormente, compor um texto, vão nos ajudar a
expressar os nossos pensamentos, selecionamos, dessa forma, vocábulos que podem
facilitar a percepção do nosso destinatário quanto a linha de raciocínio que queremos
seguir. E os termos acessórios são os responsáveis por auxiliar-nos nessa empreitada,
pois com eles podemos caracterizar seres, determinar os substantivos e também
exprimir as circunstâncias. Portanto, eles são tão importantes quanto os termos
essenciais, afinal estes dependem daqueles.
As preposições, por seu turno, é uma classe de palavras que tem o poder de mudar
completamente o sentido de um período, assim, estudar as preposições é algo
indispensável quando o assunto é regência verbal e nominal. Veja o exemplo:

Cheguei no carro.
Cheguei ao carro.

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 90


No exemplo percebemos dois sentidos distintos, a primeira oração se refere o
modo como “eu” cheguei, o meio de transporte utilizado. Já na segunda oração temos o
destino final, como, por exemplo, cheguei onde o carro está estacionado. É preciso dizer
que, é comum termos divergências entre a linguagem coloquial e a linguagem padrão
quando nos referimos às regências. Você pode até ter ficado na dúvida quanto a esse
exemplo, afinal, na fala, o uso de “no carro” com a ideia de lugar para onde vou, é
utilizada. Nós conhecemos as regências conforme os usos do nosso dia a dia, dessa
forma nos apropriamos das regências verbais e nominais muito mais pelo uso real da
língua do que pela gramática, contudo, também temos que admitir que desconhecemos
muitas regências da norma padrão, por isso a importância de entendê-las.
Vamos começar pela regência nominal, responsável pelas situações em que
a exigência por um complemento parte do nome, o qual precisa de outras palavras para
ter um sentido completo. A relação, então, entre o nome e o seu complemento é
estabelecido por uma preposição.
Considere a oração abaixo e a discordância presente nela:

Novas tecnologias alimentam nossa confiança um futuro melhor.

Facilmente, ao lermos essa frase, notamos a falta de uma preposição – em – a


qual é exigida pelo nome “confiança”. Para chegarmos a essa preposição podemos fazer
a seguinte pergunta: Confiança EM que/quem? Perceba que a preposição se faz presente
já na pergunta. Se eu pergunto “em que”, a resposta exigirá a mesma preposição: “em”.
Assim temos que:

z z
Novas tecnologias alimentam nossa confiança em um futuro melhor.
Termo regente Termo regido

Abaixo apresentamos alguns nomes e as preposições que mais comumente


estabelecem vínculo entre esses nomes e seus complementos, de acordo com Ferreira
(2011, p. 626).

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 91


adepto de favorável a referente a
alheio a feliz de, por, em, com relativo a
ansioso por, para impróprio para residente em
apto a, para imune a, de rigoroso com, em
aversão a, por inofensivo a, para simpatia a, por
benéfico a, para inútil a, para último a, em
ciente de junto a, de união com, entre, a
composto por, de livre de vazio de
contente com, por, de paralelo a vizinho, a, de
desprezo a, por próximo a, de vulnerável a

No que concerne à regência verbal, como colocado anteriormente, ela se


estabelece na relação entre o verbo e o seu complemento, ao exigir palavras que
complete seu sentido. Essas palavras podem ser objetos diretos e objetos indiretos, o
que está ligado diretamente à transitividade verbal.
Sobre a transitividade verbal podemos afirmar que, na estrutura de uma oração,
alguns verbos podem ter sentido completo e outros incompleto, exigindo um objeto
(complemento), como já mencionado nesta unidade.
Nessa direção, os verbos podem ser classificados em:
● verbos intransitivos, os quais possuem sentido completo, não dependem de com-
plementos para indicar ação ou fato;
Por exemplo: O guarda apitou contente. (apitou = verbo intransitivo)
● verbos transitivos direto, os quais se ligam ao complemento sem a presença de
preposição. Damos o nome de objeto direto (OD) a esse complemento, visto não
precisar de um intermediário.
Por exemplo: O guarda preserva um passado feliz. (preserva = verbo transitivo
direto). Perceba que podemos achar o objeto por meio de pergunta, como, por exemplo:
O que o guarda preservava? Não há preposição na pergunta, então não há preposição na
res-posta – um passado feliz –, configurando, desse modo, em objeto direto – sem
preposição.
O objeto direto pode ser representado por um substantivo, por uma palavra
substantivada, por um pronome oblíquo átono, por um pronome ou por uma oração.
● verbos transitivos indireto, os quais se ligam ao complemento por meio de uma
preposição. Damos o nome de objeto indireto (ID) a esse complemento, visto precisar de
um intermediário.

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 92


Por exemplo: O guarda precisou de uma ajuda. (precisou = verbo transitivo indireto).
Assim como no caso anterior, ao fazer a pergunta para o verbo, percebemos a
necessidade de acrescentar uma preposição: precisou de que/quem? A resposta, do
mesmo modo, precisa da preposição: Precisou de ajuda.
O objeto indireto pode ser representado por um substantivo, por uma palavra
substantivada ou por uma oração.
● verbos transitivos direto e indireto, os quais possuem os dois tipos de comple-
mento, com e sem preposição – objeto direto e objeto indireto. Neste caso, o objeto indireto
sempre será a pessoa e o objeto direto sempre será a coisa.
Por exemplo: O guarda propiciou aos turistas uma volta ao passado. (propiciou =
verbo transitivo direto e indireto. Podemos perguntar: Propiciou a quem? (a = preposição,
OI); propiciou o quê? (sem preposição, OD).
Resumindo temos o seguinte:

TABELA 2.1 – TRANSITIVIDADE VERBAL

Classificação Características
Verbo intransitivo – VI Tem sentido completo; não exige objeto.
Verbo transitivo direto – VTD Tem sentido incompleto; exige objeto sem
preposição inicial (objeto direto).
Verbo transitivo indireto – VTI Tem sentido incompleto; exige objeto
iniciado por preposição (objeto indireto).
Verbo transitivo direto e indireto – VTDI Tem sentido incompleto; exige dois objetos:
um sem preposição (OD) e outro com
preposição (OI).

Fonte: Ferreira (2011, p. 627).

Conhecendo a transitividade verbal, consequentemente, a regência verbal você


será capaz de perceber os diferentes significados que podemos dar a um mesmo verbo,
aprimorando, assim, a sua escrita. Lembrado que muitas regências que são utilizadas de
modo coloquial, no uso real da língua, não é aceito na norma padrão da língua portuguesa,
assim, consultar um dicionário de regência, ao redigir um texto, pode ser fundamental.

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 93


3 TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO

Em unidades anteriores vimos que a oração é composta de três diferentes tipos


de termos: os termos essenciais, os termos integrantes e os termos acessórios. Tivemos
a oportunidade de compreender dois deles, os termos essenciais e os acessórios.
Agora, vamos abordar os termos integrantes, conhecidos também como complementos,
tão importante quanto os outros dois para uma boa construção de um enunciado.
Os complementos, ou termos integrantes, na maioria das vezes, são exigidos pelo
predicado, lembrando que nós podemos ter em uma oração um predicado nominal, ou um
predicado verbal ou ainda um predicado verbo-nominal, a depender do núcleo. A partir do
nome dado a esse mecanismo já podemos deduzir sua funcionalidade – assim como todas
as outras nomenclaturas que outros mecanismos sintáticos têm – os complementos tem
por função complementar o sentido da oração, visto que, muitas vezes, o sujeito e o verbo
não dão conta de expressar toda a ideia proposta.
Os complementos são classificados em três grupos: verbais, nominais e agente da
passiva.
- Complementos verbais
Os complementos verbais têm por função completar o sentido do verbo da oração.
Geralmente, esses complementos, conhecidos como objetos, são exigidos pelo próprio
verbo e se dividem em objeto direto e objeto indireto. Essa divisão é dada pela presença ou
não da preposição, o objeto direto não necessita da intervenção de uma preposição para se

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 94


ligar ao verbo, por isso recebe o nome “direto”, o objeto indireto, por sua vez, precisa, para
melhor articulação da frase, da presença de uma preposição. Abordaremos esse assunto
com mais riqueza de detalhes e exemplos mais adiante. Por agora, precisamos entender
que a função dos complementos verbais são de acrescentar sentido ao verbo e que a
função desses complementos, normalmente, é desempenhada por substantivos, contudo
numerais, pronomes ou palavras substantivadas podem desempenhar essa funcionalidade.
Observe:

verbo Objeto indireto

Ele gosta de macarronada.

sujeito Predicado

Perceba que a oração acima não teria seu sentido completo se fosse finalizada no
verbo – Ele gosta – provavelmente ao ouvirmos essa sentença perguntaríamos: ele gosta
do que? A resposta a essa pergunta nos revela o complemento da oração: de
macarronada.
Os complementos além de complementar os verbos, neste primeiro caso, ele
também pode trazer outros sentidos dentro de uma oração. Um objeto direto, por
exemplo, pode vir acompanhado de uma preposição para dar um efeito estilístico
diferente à oração, para dar ênfase a uma ideia, da mesma maneira podem desempenhar
função pleonástica (repetição), para reafirmar algo.
Observe:
Eu cumpri com a minha promessa.
Poderíamos muito bem ter organizado essa oração sem a preposição e ainda assim

teríamos o sentido completo: Eu cumpri a minha promessa. Ao acrescentar a preposição,


damos ênfase ao complemento. Temos, desse modo, um objeto direto preposicionado.
Observe outro exemplo:
Suas histórias, ouvi-las me faz bem.
Neste exemplo temos um objeto pleonástico, já que não teria a necessidade de
retomar “suas histórias” através do “las” no predicado.
Complementos nominais
Os complementos nominais se aproximam aos verbais por não serem sempre
necessários e, da mesma maneira que os complementos verbais vão depender da demanda
dos verbos, os complementos nominais vão depender da demanda dos substantivos,
adjetivos e advérbios, por isso nominais. Contudo, se afasta dos complementos nominais

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 95


sempre serão precedidos por uma preposição. Veja os exemplos abaixo:

substantivo Complemento nominal

Ele não foi fiel aos compromissos


sujeito predicado

No exemplo anterior é fácil perceber que “aos compromissos” está


complementando o substantivo “fiel”. Assim, como pudemos observar no complemento
verbal, aqui, se tivéssemos construído a oração sem o complemento não teríamos o
sentido completo que temos com ele. Faria sentido, veja: Ele não foi fiel. Mas, se
acrescentamos o complemento o sentido é completo e não deixa dúvida quanto a que
“ele” não foi fiel. Poderíamos citar como exemplo, ainda:

Ela mora perto da estação. (perto = substantivo / da estação = complemento

nominal)
Maria estava consciente de tudo. (consciente = adjetivo / de tudo = complemento
nominal)
Joao atuou favoravelmente aos amigos. (favoravelmente = adverbio / aos amigos
= complemento nominal).

Agente da passiva
O agente da passiva diz respeito à o que é ou quem se relaciono diretamente
com o verbo, ou seja, o que ou quem pratica a ação. Ele não é, necessariamente, um
complemento como nos casos anteriores, mas faz parte dos termos integrantes da oração.
O agente da passiva é a parte ativa, em uma oração de voz passiva. Observe o exemplo
para melhor compreensão:

Maria fez o bolo. (voz ativa).


O bolo foi feito por Maria. (voz passiva).
Nas orações acima, o verbo fazer é apresentado em um primeiro momento na voz
ativa (fez) e, posteriormente na voz passiva (foi feito). Na segunda oração nós conseguimos
visualizar o agente da passiva, ou seja, aquele que praticou a ação de fazer o bolo. Dessa
forma, podemos afirmar que o agente da passiva da oração é por Maria.

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 96


A voz passiva é estruturada da seguinte forma: sujeito paciente + verbo auxiliar
+ verbo principal no particípio + agente da passiva. Colocando isso no exemplo anterior
temos:

● Sujeito paciente: o bolo (aquele que sofreu a ação)


● Verbo auxiliar: foi
● Verbo principal no particípio: feito
● Agente da passiva: por Maria.

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 97


4. OS VERBOS

Nós falamos muito até agora de verbos, vimos que ele pode ser o núcleo do
predicado, percebemos a sua importância para diferenciar uma frase de uma oração,
além de outros fatores que o envolve. Todavia, até agora, não conceituamos,
minuciosamente, essa classe gramatical tão importante para o desenvolvimento de um
enunciado. Vamos falar de verbos, então?
Os verbos podem ter valor de ação (comer, caminhar, dançar), de estado (ser,
permanecer), fenômeno da natureza (nevar, trovejar) ou ocorrência (acontecer,
suceder). Como vimos na unidade anterior, o verbo, na sintaxe, exerce a função de
núcleo do predicado de uma oração, sendo que eles podem flexionar de diversas
maneiras, pois a sua conjugação é realizada por meio de variações, sendo elas: de
pessoa, número, tempo, modo.
Sobre isso Bechara (2010, p. 192, grifos do autor) nos adverte que “trabalhar e
trabalho são palavras que têm o mesmo significado lexical, mas diferentes moldes,
diferentes significados categoriais, embora se deva ter presente que este não é o simples
produto da combinação do significado lexical com o significado instrumental”.
Assim, considerando as variações dos verbos, vale lembrar que:

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 98


TABELA 4.1 – FLEXÕES DOS VERBOS

Flexão de Variação
Pessoa 1ª (eu, nós); 2ª (tu, vós) e 3ª
(ele, eles).
Número singular (eu, tu, ele) e plural
(nós, vós, eles).
Tempo presente, pretérito e futuro.
Modo indicativo, subjuntivo e
imperativo.
Voz voz ativa, voz passiva e voz
reflexiva.
Fonte: a autora.

Quando analisamos a estrutura do verbo, isto é, a morfologia dos verbos, devemos


considerar três elementos básicos, são eles: o radical, a vogal temática e a desinência.
O radical é a base do verbo, é a partir dele que as flexões ocorrem, além de carregar o
significado do verbo. Observe:

Cant – ar
radical Com – er
Dorm – ir

A vogal temática, no que lhe concerne, equivale à unidade mínima que se une ao
radical, para ligá-lo às desinências, promovendo, assim, a conjugação dos verbos. Quando
temos a junção dessas duas unidades, formando uma terceira unidade, a chamamos de
tema. Desse modo, temos: radical + vogal temática = tema. Observe o exemplo:

Vogal temática

Cant – a – r
radical Com – e – r
Dorm – i – r

Como pudemos perceber, através do exemplo acima, é a vogal temática que


determinará a conjugação a qual o verbo pertence. Se pertence à primeira
conjugação, à segunda conjugação, ou à terceira conjugação, em que a vogal temática é,
respectivamente -a, -e, -i. Exemplo:

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 99


TABELA 4.2 - CONJUGAÇÕES DOS VERBOS

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação

amar comer dormir

dançar correr sorrir


Fonte: a autora.
caminhar entender partir

Por fim, as desinências são elementos que, junto com o tema, facultam as
conjunções, podendo ser:
● Número-pessoais: apontam o número e a pessoa do discurso.
● Modo-temporais: apontam o modo e o tempo em que a ação ocorre.

Desinência que indica o tempo


pretérito perfeito do modo indicativo

Amá – va – mos

Desinência que indica a 1ª pessoa do


plural – nós.

Os verbos também têm suas classificações, não se restringem apenas a esses


que acabamos de abordar. Eles podem ser regulares, irregulares e defectivos.
Os regulares seguem o mesmo modelo de conjugação e o seu radical não altera.
Os irregulares têm variação quanto ao seu radical e não vão seguir o mesmo padrão de
flexão que os regulares. Assim, as diferenças podem aparecer no radical, nas
terminações ou nos dois. Como acontece, por exemplo, com o verbo caber e medir.
Temos ainda, uma subdivisão dos verbos irregulares, os quais chamamos de
anômalo, que são verbos irregulares que sofrem uma mudança ainda mais abrupta como é
o caso do verbo ir que acaba tendo três radicais: vou, irmos, fui.
Os verbos defectivos são aqueles em que não conseguimos conjugar em todas as
pessoas, tempos e modos, ou seja, não apresenta todas as formas, como é o caso do verbo
colorir, não existe eu “coloro”.
Segundo Bechara (2010, p. 200) “A defectividade verbal é devida a várias razões,
entre as quais a eufonia e a significação. Entretanto, a defectividade de certos verbos não
se assenta em bases morfológicas, mas em razões do uso e da norma vigentes em certos
momentos da história da língua”.

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 100


SAIBA MAIS

Prezado (a), aluno (a)!

Neste vídeo você poderá compreender um pouco mais sobre a análise sintática da
oração. É um vídeo completo, em que o professor Pasquale oferece uma verdadeira
aula de como realizar uma análise sintática de uma oração. Aproveite para treinar e
aprofundar ainda mais seu conhecimento.
O vídeo é intitulado Professor Pasquale explica: análise sintática e está disponível em:
https://www.youtube.com/embed/5IPTBXBGzSU

REFLITA

“...ensinar não é transferir conhecimento,


mas criar as possibilidades
para sua própria produção ou a sua construção”

Fonte: FREIRE, P. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA - saberes necessários à prática educativa. São Paulo:

Paz e Terra, 2003, p. 47.

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 101


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) aluno (a)!

Chegamos ao final de mais uma unidade.


Foi muito bom relembrar junto com vocês como a nossa língua portuguesa se
desdobra e faz com que nos apaixonemos cada vez mais por ela.
Isso porque, a teoria gramatical clássica estabeleceu a palavra como unidade
operacional básica de nossa língua. A morfologia e a sintaxe tradicionais foram construídas
sobre esse alicerce, em que a morfologia estudava a estrutura interna das palavras e a
sintaxe estudava a combinação desses vocábulos em orações, e isso desde os gregos e
os latinos. Há, querido(a) aluno(a), muita história por traz dessas regras lógicas que nos
presenteia a gramática tradicional, há muitos estudos.
Pudemos, nesta unidade, explorar mais um pouquinho desses estudos,
aproveitar as lógicas criadas por teóricos respeitados por todo o mundo, até hoje.
Abordamos aspectos pontuais da sintaxe e também da morfologia que vão nos
auxiliar a escolher, por exemplo, quando utilizar uma locução adjetiva ou, simplesmente
utilizar um adjetivo. A partir de agora, seremos capazes de fazer escolhas no que se
refere ao sentido que quero dar ao meu enunciado.
Passamos ainda por aspectos da oração importantes, como os termos acessórios
e integrantes, que são fundamentais para a construção de uma oração, a qual vai compor
um período, que pode compor um texto.
Fizemos uma parada, ainda, sobre um ponto basilar que é o verbo, uma classe
gramatical capaz de se desdobrar em inúmeras flexões. Um termo importantíssimo para a
construção dos nossos enunciados.
Espero que essa caminhada tenha sido muito produtiva.

Desejos de muito sucesso a você, querido (a) aluno (a).

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 102


LEITURA COMPLEMENTAR

Caro (a) Aluno (a)!

Compreendemos que o estudo sobre a língua portuguesa não pode parar,


afinal, como pudemos entender durante as unidades de ensino, ela é viva e está em
constante transformação e a nossa escrita, bem como a gramática da língua portuguesa,
deve acompanhar essa evolução. Dessa maneira sugerimos a leitura do artigo A
concordância sumiu ou evoluiu?, de Josué Machado. Um artigo muito interessante que
faz com que você reflita sobre a norma culta e sobre a sintaxe da língua portuguesa.

O artigo está disponível em:

http://estacio.webaula.com.br/cursos/cee042/galeria/aula3/docs/concordancia_su-
miu_ou_evoluiu.pdf

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 103


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Linguística Aplicada ao Português: Sintaxe
Autores: Ingedore G. Villaça Kock e Maria Cecília de Souza
e Silva
Editora: Cortez
Sinopse: Este livro, das escritoras Ingedore G. Villaça Kock
e Maria Cecília de Souza e Silva, reconhecidas escritoras da
área da linguística, apresenta a descrição das sintáticas do
português, procedendo à operacionalização para o ensino dos
conceitos da teoria linguística e gramática gerativa
transformacional. Um estudo dos principais aspectos da sintaxe
portuguesa - enfocados, também, sob o prisma da gramática
tradicional.

FILME/VÍDEO
Título: Português, a língua da Brasil
Ano: 2007
Sinopse: O documentário apresenta depoimentos de 16
Acadêmicos, membros da Academia Brasileira de Letras, sobre
o atual estado da Língua Portuguesa. A nossa realidade
idiomática é mostrada com as cores do Brasil na experiência
personalíssima de cada Acadêmico. O diretor escolheu como
cenário a Casa de Machado de Assis que, simbolicamente,
representa a Casa da Língua Portuguesa. No documentário, os
depoimentos se sucedem, registrados sempre com a presença
do próprio Nelson, o grande anfitrião deste encontro de notáveis.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=-bbT7QmdNSE

UNIDADE IV Estruturação Sintática II 104


REFERÊNCIAS

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109
CONCLUSÃO GERAL

Prezado (a) aluno (a),


Neste material, busquei trazer para você as definições de Linguística baseada
no Gerativismo de Noam Chomsky.
Na unidade I vimos as Noções de Gramática, morfologia e Sintaxe e como
ela funciona na prática. Além disso, vimos também os Estudos Pré-Gerativistas da
Sintaxe até chegar ao Surgimento da Linguística Gerativa, quem foi seu grande
percussor e quais os legados que existem para o estudo do gerativismo.
Na unidade II foram tecidas também considerações sobre a gramática gerativa
e suas características. Vimos a linguística enquanto ciência cognitiva, seus
principais representantes e como se pautaram os estudos baseados nos conceitos e
concepções gerativistas.
Na unidade III conhecemos as características da semântica, bem como os
conceitos de formal e informal e observamos quais são as propriedades da morfologia e
sintaxe para sabermos como o estudo da língua se dá. Conhecemos também questões
de estilística e variações linguísticas, a definição de cada uma delas e como elas ocorrem
de fato.
Para encerrar, na unidade IV, vimos os conceitos de Fonologia e Fonética, além
das características vimos quais são os elementos que são estudados por elas. Os
processos fonológicos também foram abordados nessa unidade, bem como o alfabeto
internacional de transcrições fonética e fonológicas explicando suas classificações e um
exemplo da transcrição.
Finalizamos nossa unidade com o Sistema ortográfico vigente e como tudo
ocorreu até que chegássemos nos dias atuais.
A linguística é uma ciência viva que estuda a língua em suas mais variadas
vertentes, e mesmo que haja descobertas recentes e maneiras distintas de aplicá-la, fica
evidente que não há uma norma fechada e uma verdade absoluta quando se trata do
estudo de algo que é social.
A partir de agora acreditamos que você já está preparado para seguir em frente
e aplicar a gramática de forma eficiente e real, que é o que podemos chamar de
semantização da gramática na prática.

Até uma próxima oportunidade. Muito obrigada!

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