Adam Smith - A Riqueza Das Nações

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I

ADAM SMITH

A Riqueza das Nações

Investigação Sobre sua Natureza.


e suas Causas

Com a Introdução de Edwin Cannan


CIP-Brasil. Catalogação-na-Publicaç!o
Câmara Brasileira do Uvro, SP
Volume l
Smith, Adam, 1723-1790.
S646r A riqueza das nações : investigação sobre sua na-
v.l-2 tureza e suas causas I Adam Smith ; com a Introdu-
ção de Edwin Cannan ; apresentação de Winston
Ftitsh ; tradução de Luiz João Baraúna. - São Pau- Apresentação de Winston Frítsh
lo : Abril Cultural, 1983.
· (Os econ.omistas) Tradução de Lwi João Baraúna

1. Economia 2. Smith, Adam, 1723-1790


1. Cannan, Edwín, 1861-1935. Il. Título. m Série,

CDD-330
82-1404 -330.153

fndices para ca~ogo sistemático:


1. Economia 330 1983
2. Smith, Adam : Teorias econômicas 330.153
EDITOR: VICTOR CIVITA
Introdução

O prlme!ro objetivo
da Ea:momia
A Economia Polftica, considerada como um setor da ciência própria
Polnlca t prover de um estadista ou de um legislador, propõe-se a dois objetivos dlstintos:
"'51l!nto 6 primeiro, prover uma renda ou manutenção fart.a para a população ou,
populaçlo.
mais adequadamente, dar-lhe a possibilidade de conseguir ela mesma tal
renda ou manutenção; segundo, prover o Estado ou a comunidade de
uma renda suficiente para os serviços püblícos, Portanto, a Economla Polí-
tica visa a enriquecer tanto o povo quanto o soberano.
O progresso diferenciado da riqueza, em épocas e nações diferentes,
deu origem a dois sistemas distintos de Economia Política, no tocante ao
enriquecimento da população. O primeiro pode ser denominado sistema
de cornêrcío, o segundo, sistema de agricultura. Procurarei explicar os
dois da maneira mais plena e· clara possível, começando pelo sistema de
cornêrdo. Ê esse o sistema moderno, sendo melhor compreendido em
nosso próprio país e em nossa própria época.

357
CAPITuLol

O Princípio do Sistema Comercial ou Mercantil

Que a riqueza consista no dinheiro, Isto ê, no ouro e na prata, ê uma


idéia popular que deriva naturahnente da dupla função do dinheiro, co-
mo Instrumento de comércio e como medida de valor. Pelo fato de ser lns-
bumento de comércio, quando temos dinheiro temos maior facilidade de
conseguir mais prontamente, do que por meio de qualquer outra merca-
doria, tudo aquilo de que possamos ter necessidade. Pensamos sempre
que o grande problema e o grande negócio ê ter dinheiro. Dispondo dele,
não há dificuldadealguma em fazer qualquer outra compra. Pelo fato de
ser o dinheiro a medida do valor de outras coisas, calculamoso valor de
todas as demais mercadorias pela quantidade de dinheiro pela qual po-
dem ser trocadas. Dizemosque um rico vale muito dínheíro,e que um po-
bre vale multo pouco dinheiro. Diz-se que um homem parcimonioso,ou
seja, um homem que almeja ardentemente tomar-se Jico, ama o dinheiro;
e diz-se que um homem despreocupado, generoso, ou pródigo é Indife-
rente ao dinheiro. Tomar-se rico, nesse modo de pensar, ê adquirirdinhei-
ro; em suma, a riqueza e o dinheiro, no linguajar comum, são considera-
dos como sinônimos,sob todos os aspectos. ·
Analogi,mente, oo Analogamente, supõe-se que um pafs rico - da mesma forma que
tar1an,o pensovan,
que• riqueza um indMduo rico - é aquele que tem muito dinheiro; nessa suposição,
consistisse em goch acumular ouro e praia em um pafs constitui o caminho mais rápido para
enriquecê-lo. Durante algum tempo após a descoberta da América,a pri-
meira pergunta dos espanhóis, quando chegavam a alguma costa desco-
nhecida, costumava ser esta: há ouro e praia nas imediações?Conforme
a infonnação que recebiam, Julgavam se valia a pena estabeleceruma co-
lônia ali ou se valia a pena conquistar a região. Plano Carpino,monge en-
viado como embaixador pelo rei da França a um dos filhos do famoso
Gêngis Khan, conta que os tártaros costumavam perguntar-lhese havia
muitas ovelhas e bois no reino da França. A pergunta deles tinha o mes-
mo objetivo que a dos espanhóis. Queriam saber se o país era suficiente-
mente rico para valer a pena conquistá-lo. Entre os t1rtaros, como entre
todos os outros povos de pastores, que geralmente Ignoravamo uso do di-
nheiro, o gado oonstitul o Instrumento do comêrdo e a medida de valor
das demais men:adodas. Por Isso, no conceito deles. a riqueza consistia

359
360 SISTEMASDE ECONOMIAPOLfnC>.

em gado, assim como para os espanhóis consistia em ouro e prata Das O PRJNCIP!oDO SISTEMA COMERCIALOU MERCANTIL
361
duas noções, talvez a dos tártaros estivesse mals perto da verdade.
Para l.ocM, o ouro deriam ser exportados a outros países e, ao serem vendldru lá com gran-
e • prata OQllSUIUem O Sr. Locke adverte para uma diferença entre o dinheiro e os outros de lucro, trazer de volta ao país multo mais ouro e prata do que a quanti-
e porle nJls bens móveis. Segundo ele, todos os outros bens móveis são de natureza dade que havia sido necessário exportar para comprá-los. O Sr. Mun com-
wbsmndaldA
riqueza de uma tão consumível que não se pode confiar muito na riqueza consistente ne- para essa operação de comêrcío exterior com as fases da semeadura e da
naçllo. les, e uma nação que num determinado ano tem abundância deles pode colheita na agricultura.
ter grande escassez deles no ano seguinte, mesmo sem exportá-los, sim-
plesmente em decorrência de seu próprio uso e abuso. Ao contrário, o di-
nheiro ê um amigo constante que, embora possa circular de mão em "Se conslderannos apenas [diz ele] os atos do agricultor no tempo da se-
mão, desde que consigamos evitar que ele sala do país, está pouco sujeito meadura, quando ele lança ao solo grande quantidade de cereais de boa
qualidade, consldera-l~mos mais corno um louco do que como um agricul-
ao desgaste e ao consumo. Segundo ele, portanto, o ouro e a prata consti- tor. Se, porém, considerannos seu trabalho na colheita, que representa a me-
tuem a parte mais Sólida e substancial da rlqueza móvel de uma nação; la final de seus esforços, então veremos quanto valor tiveram seus traba-
por esse motivo, no pensamento dele, o grande objetivo da Economia Po- lhos".
lítica de tal nação deve consistirem multiplicar esses metais.
Outros o.Jltmam M!l" e que a OnJca
"""us61lo possuir Outros sustentam que, se urna nação pudesse ser separada do resto mmielta de se evitar Em segundo lugàr, os comerciantes alegavam que essa proibição
multo dinheiro para do mundo, pouco importaria se nela circulasse multo ou pouco dinheiro. •••• e><pO<laçlo
manler esquadras a conslslln em zelu
não conseguiria Impedir a exportação de ouro e prata, os quais salriam fa-
ex4ldtos no exterior. Os bens de consumo que circulavam por esse dinheiro seriam apenas tro- l)Qla balança cilmente do país etravês do contrabando, em virtude de seu reduzido volu-
cados por uma quantidade maior ou menor de moedas, mas a riqueza ou comercial. me em comparação com seu alto valor. Tal exportação, dl2iam eles, só po-
pobreza reals do país dependeriam totalmente da abundância ou escassez deria ser evitada atendendo-se devidamente ao que chamavam de balan-
dessas mercadorias de consumo. Outro seria, segundo eles, o caso de par- ça comercial Sustentavam ainda que, quando a fnglaterra ei<portava um
ses que têm relações com nações estrangeiras, e que são obrigados a fa- valor superior ao que Importava, os pafses estrangeiros ficavam com ba-
zer guerras com outros povos, e a manter esquadras e exércitos em países lanço devedor em relação a ela, divida esta que necessariamenteteria de
distantes. Isso, dizem eles, só é possível enviando dinheiro ao exterior pa- pagar com ouro e prata, aumentando com isso a quantidade de ouro e
ra manter essas esquadras e exêrcltos; ora, uma nação não pode enviar prata no reino. Analogamente, se o reino importasse em valor maior do
I multo dinheiro ao exterior, a não ser que tenha multo no próprio país. que exportava, a balança comercial seria negativa para o reiio em rela-
Por Isso, toda nação colocada nessa situação deve procurar, em tempo de ção aos países estrangeiros, caso em que o reino seria obrigado a pagar
Por esse motivo, paz, acumular ouro e prata, para que, quando a necessidade o exigir, pos- com ouro e prata, diminldndo assim o estoque existente. Nesse caso, ale-
todas IIS f>llÇÕOS sa ter com que fazer guerra contra seus Inimigos de fora. gavam eles, proibir a exportação desses metais não lograria efeito; o remá-
ewop&, Em conseqOêncladesses conceitos populares, todas as nações da Eu-
l)rOallaram dío seria fazer com que tal exportação ficasse mais cara, tomando-a mais
acumula, ouro • ropa têm se empenhado, embora com pouca serventia, em descobrir to- dispendiosa. Nesse caso, o câmbio seria menos favoravel ao µiís com ba-
pnta. dos os meios possíveisde acumular ouro e prata em seus respectivos terri- lança comerdal devedora, Já que o comerciante que comprasse um título
tórios. A Espanha e Portugal, proprietários das prindpals minas que fome- no exterior seria obrigado a pagar ao banco que vendesse não somente o
cem esses metais â Europa, proibiram totalmente a exportação de ouro e risco natural, o incômodo e a despesa do envio do dinheiro ao exterior,
prata, sob penas rigorosas, ou Impuseram pesadas taxas aduaneiras â res- mas tambêm o risco extraordinário derivado da proibição. Ora, quanto
pectiva exportação. Proibição similar parece ter antigamente constituído mais o câmbio for desfavorãvel a um país, tanto mais a balança comercial
parte da política da maioria dos outros países europeus. Ela existia até on- se lhe tornara desfavoravel, Já que o dinheiro desse país necessartamente
de menos se poderia esperar: em algumas leis antigas do Parlamento esco- perde tanto mais valor, em comparação com o dinheiro do país cuja ba-
cês que proibiam, sob rigorosas penas, levar ouro ou prata para fora do lança comercial ê credora. Assim, por exemplo - alegavam esses comer-
entm,,nb:),o,
reino. Antigamente, a mesma polltica vigorava na França e na Inglaterra. ciantes -, se o câmbio entre a Inglaterrae a Holanda for 5% contra a In-
c:ome:n:Santn Quando esses pafses se transformaram em países comerciais, os co- glaterra, serão necessárias 105 onças de prata na Inglaterra para comprar
caiskle:rm merciantes consideraram diversas vezes tais proibições extremamente In-
•••• medida um título de 100 onças de prata na Holanda; conseqüentemente, 105 on-
lnccnven1cni., convenientes. Eles, mwtas vezes, tinham a possibilidade de comprar, mais ças de prata na lnglaterra valerão apenas 100 onças de prata na Holanda,
vantajosamente com ouro e prata do que com qualquer outra mercado- podendo, portanto, comprar apenas uma quantidade proporcional de
ria, as mercadorias estran,geiras que queriam, ou para Importá-las a seu mercadorias holandesas; ao conlrazio, 100 onças de prata na Holanda va-
próprio país ou para transport!-las para alguma outra nação esnangelra lerão 105 onças na Inglaterra, comprando uma quantidade proporcional
Por Isso, os comerciantes protestavam contra tal proibição, como prejudi- de mercadorias Inglesas; por consegwnte, as mercadorias Inglesas que fo..
cial ao comércio. ')
rem vendidas â Holanda o serão por preço mais baixo tanto quanto a dife-
Alegavam, de Início, que a exportação de ouro e prata para comprar rença de câmbio entre os dois pafses; e as mercadorias holandesasque fo-
mercadorias estrangeiras nem sempre gerava uma dlminulção da quanti- rem vendidas à Inglaterra o serão por preço mais alto tanto quanto a dife-
dade desses metais dentro do reino. Pelo contrário, diziam, tal exportação rença de câmbio entre os dois países; consequentemente, a pr1metra ven-
com freqOênciapoderia fazer aumentar essa quantidade, pois, se com lsso da leva para a Inglaterra menos dinheiro holandês - tanto quanto a dife-
não awnentasse o consumo de bens estrangeiros no pats, esses bens po- rença de câmbio entre os dois pafses; e a segunda venda leva para a Ho-
landa maJs dinheiro Inglês - tanto quanto a diferença de câmbio entre os
362 SISTEMAS OE ECONOMIA l'OUTICA O PRINCIPIO 00 SISTEMACOMERCIAl. OUMERCArmL 363

dois países. Ao final, portanto, a balança comerclal se tomara ainda mais dinheiro para o país, mas que as leis atuais Impediam que ele trouxesse
desfavoráve.là Inglaterra, exigindo ainda maior envio de ouro e prata à A export,ção de tanto quanto poderia trazer, se elas fossem alteradas. Por Isso 05 argu-
Holanda, para equilibrá-la. moedo estrangeira " mentos aduzidospelos comerciantes produziram o eleito desejado. A proi-
de ouro e prata em
Tais argumentos em parte eram sólidos e em parte não passavam de llngot•• foi permlllda bição de exportar ouro e prata foi limitada, na França e na Inglaterra As ·
sofismas. Eram sólidos na medida em que afirmavam que a exportação pela França, e respectivasmoedas. Foi liberada a exportação de moeda e.strangeíra ; de
lnglatem. e a
de ouro e prata por melo do comércio multas vezes é vantajosa para um e,q:,ortaslo de ouro e prata em lingotes. Na Holanda,'. e em alguns outros países libe-
pafs. Eram sólidos, também, ao afirmar que não M proibição que consiga moedaholandesa rou-se até a exportação da moeda própria do país. A atenção do Gover-
pela Holanda.
Impedir a exportação, quando os particulares vêem vantagem na exporta- no foi desviada do esforço de evitar a exportação de ouro e prata para 0
ção. Constituíam, porém, sofismas na medida em que supunham que, pa- cuidado de zelar pela balança comercial como sendo a llnica causa que
ra conservar ou para aumentar a quantidade de ouro e praia, se exigia poderia gerar aumento ou dímínuíção desses rneteís preciosos. De uma
maior atenção e controle do governo do que para conservar ou aumentar preocupação inútil, a atenção do Governo deslocou-se para uma preocu-
a quantidade de quaisquer outras mercadorias úteis, que a liberdade de pação multo mals complexa, multo mais embaraçosa e igualmente lnúHI.
comércio nunca deixa de assegurar, sem que seja necessárioqualquer cui- Tomou-se principio O blulo do livro de Mun, England's Treasure ln Foreign Trade, transfor-
dado especial por parte do governo. Possivelmente, os argumentos eram pad6coquea mou-se em um princípio fundamental da Economia Política, não somente
11qu- • obado pelo
sofismas também na medida em que afirmavam que o alto preço do câm- comtrdo""""1ot. da Inglaterra, mas também de todos os demais países comerciais. O co~
bio necessariamente aumenta o que denominavam a balança comerdal mêroo Interno, o mais importante de todos, no qual um capital Igual gera
desfavorável, ou ocasiona a exportação de quantidade maior de ouro e a renda máxima e cria o mãxímo de empregos para a mão-de-obra do
pra.ta. Na realidade, esse alto preço era extremamente desvantajoso para país, passou a ser considerado apenas como subsidiárioem relação ao co-
os comeràantes que tinham dinheiro a pagar no exterior. Pagavam assim mêroo exterior. Argumentava-se que tal comércio não trazia nenhum di-,
muito mais caro pelos títulos que os banqueiros lhes outo.rgavamno exte- nheiro de fora, como também não gerava nenhuma exportação de ouro e-
rior. ·Todavia, embora o risco resultante de tal proibição pudesse gerar al- prata.. Nessas condições, o país nunca poderia tomar-se mais rico ou mais
guma despesa extraordlnãrla para os banqueiros, não necessariamente le- pobre através desse tipo de comércio, a não ser na medida em que o pro-
varia embora mais dinheiro do país. Essa despesa seria geralmente toda gresso ou a decadência desse comércio pudesse Indiretamente Influenciar
ela Investida no país, sem contrabandear o dinheiro para fora dele, e rara- a condiçãodo comércio externo.
mente poderia acarretar a exportação sequer de seis pence além da quan- O ouro • a pn,bo Um pars que não possui minas próprias sem dúvida é obrigado a tra-
tia correspondente necessárl.a. Além disso, o alto preço do câmbio levaria - bnD(l(lados
sem nenhuma
zer de fora seu ouro e sua prata, como acontece com quem não tem vi-
naturalmente os comerciantes a se empenharem em equilibrar mais ou preocupaÇlo de nhedos própcios e tem que Importar vinhos de fora. Todavia, não parece
menos suas exportações com suas Importações, para que fosse a menor GoYmno. n~o que a atenção do Governo se voltasse mais para um objetivo
possfvel a quantia sobre a qual teriam que pagar esse alto câmbio. Outros- do que para o outro. Um pafs que tem com que comprar vinho, sempre
sim, o alto preço do cêmbío necessariamente deve ter funcionado como terá à disposição o vinho de que necessita; e um país que tem com que
uma 1axa, aumentando o preço das mercadorias estrangeirase, com Isso, comprar ouro e prata, nunca tera falta deles. Terão que ser comprad~l
diminuindo seu consumo. Por Isso, não tenderia a aumentar, antes a díml- por detemünado preço, como qualquer outra mercadoria, e assim como/
nulr, o que denominavam a balan~ comerdal desfavorávele, portanto, a o ouro e a prata representam o preço de todas as outras mercadorias, da
exportação de ouro e prata. mesma forma todas as outras mercadorias representam o preço a ser pa-
pocfmconw.= Qualquer que fosse o valor dos argumentos, o fato é que convence- go por esses metais. Com plena segurança achamos que a liberdade de
os Pi>dam.!n!os e os cornêrdo, sem que seja ·necessária nenhuma atenção especial por parte
~ ram as pessoas às quais eram dirigidos. Os argumentos eram dirigidospor
comerciantes aos parlamentos, aos conselhos de prfncipes, aos nobres e do Governo, sempre nos garantirá o vinho de que temos necessidade;!
aos aristocratas rurais; àqueles que supostamente entendiam de comércio com a mesma segurança podemos estar certos de que o livre comércio
e àqueles que tinham consciência de nada entender do assunto. Que o co- sempre nos assegurara o ouro e prata que tivennos condições de comprar(
mércio exterior enriquece o pars, a experiência o demonstrou aos nobres ou empregar, seja para fazer árcular as nossas mercadorias, seja para ou-i
e aos arlstoératas rurais, bem como aos comerciantes; mas como, ou de tras finalidades. .J

que maneira, nlnguêm o sabia com certeza. Os comerciantessabiam mul- A quantidade de uma mercadoria qualquer que o trabalho humano
to bem de que maneira o comércio exterior enriquecia a eles mesmos. TI- pode comprar ou produzir ê naturalmente regulada, em cada pars, pela
nham a obrigação de sabê-lo, pela sua própria profissão. Mas saber de demanda efetiva. ou de acordo com a demanda daqueles que estão pron-
que maneira enriquecia o país, Isso não fazia parte de seu ofrdo. Esse pon- tos a pagar toda a renda da terra, a mão-de-obra e o luao necessários pa-.
to nunca era alvo de consideração por parte deles, a não ser quando sen- ra preparar e comercializar a respectiva mercadoria. Mas nenhuma merca-
tiam a necessidade de pedir ao pats que· alterasse as leis relativas ao co- doria ~ regulada mais facilmente e com maior exatidão pela demanda efe-
mércio exterior. Nessa hora, viam a necessidade de dizer algo sobre os tiva do que o ouro e a prata; com efeito, devido ao seu volume reduzído
efeitos benéficos do comércio exterior, bem como sobre a maneira como e ao seu alto valor, não hã nenhuma outra mercadoria que possa ser
as leis então vigentes Impediam a consecução desses efeitos. Para os Juf- transportada mais facilmente de um lugar a outro, dos lugares em que ê
f - ••
zes que tinham que dar um Julgamento sobre o assunto, parecia uma ex- barala para os lugares em que é cara, dos lugares em que supera a de-
r ·Jj ':.. i•
pUcação satisfatória, quando ouviam dizer que o comêrdo exterior trazia manda efetiva para aqueles em que está aquêm desta. Se. por exemplo,
364 SISTEMAS DE EC01'/0MlA POl.tnCA

O PRINC!PIO DO SISTEMACOMERCIAL OU MERCwru.


houvesse na Inglaterra uma demanda efetiva de uma quantidade adicio- 365
nal de ouro, um navio poderia trazer de Lisboa, ou de qualquer outro lu- tes, poder-se-á comprar e vender a crédito, ou então, os diversos comer-
gar onde houvesse ouro a venda, 50 toneladas de ouro, das quais se po- dantes poderão compensar seus créditos entre si, uma vez por mês ou
deria cunhar mais de S milhões de gUinéus. No entanto, se houvesse uma uma vez por ano. Por outro lado, um sistema de papel-moedabem orga:"l
demanda efetiva de cereais do mesmo valor, a importação desse volume nizado pode suprir a falta de dinheiro em moeda, não somentesem lncon- >
exigiria, a 5 gulnéus por tonelada, um embarque total de 1 milhão de to- veniente algum, mas até, em certos casos, com algumas vantagens. Em/
neladas, ou seja, 1 000 navios de 1 000 toneladas cada um. A esquadra qualquer eventualidade, portanto, nunca a preocupação do Governo seria1
Inglesa seria Insuficientepara Isso. tão supérflua como quando está voltada para vigiar a conservaçãoou ~I
Qunndo•ua
quonlldade supera a Quando a quantidade de ouro e prata importada em um pars supera
A queixa
aumento da quantidade de dinheiro em um país. J
demanda,4 a demanda efetiva, não há vigilânciaou controle do Governo que consiga generalizadade No entanto, não há queixa mais comum do que a de escassez de di-
lmpoosíwl Impedir
1W1 exportação, Impedir sua exportação. Nem mesmo todas as leis sanguinárias da Espa- escassez de dinheiro nheiro. O dinheiro, da mesma forma que o vinho, sempre e necessaria-
nha e de Portugal sse capazes de evitar a evasão do ouro e da prata exce- signl/Jca apa,os que
ha dificuldada pan, mente será escasso para aqueles que não têm com que comprá-lo nem
entes desses países. As contínuas Importações, feitas do Peru e do Brasil, Ea,er emprésttmos. têm crédito para tomá-lo emprestado. Os que têm com que comprá-lo e

D
ultrapassam a demanda efetiva da Espanha e Portugal, fazendo com que têm crédito para tomá-lo emprestado raramente sentirão falta de dinheiro
o preço desses metais naqueles países desça abaixo do vigente nos peíses ou do vinho de que necessitam. Entretanto, essa queixa de falta de dinhei-
vizinhos. Ao oontrãrío, se em algum país a sua quantidade não fosse sufi- ro nem sempre se limita aos ·perduláriosimprevidentes.Ela por vezes é ge-
ciente para atender â demanda efetiva, de forma a fazer subir o preço des-z ral em toda uma cidade comercial e na região c!rtunvizinha. A causa disso
ses metais em comparação com os países vizinhos, o Governo não preci- geralmente é o excesso de comércio. As pessoas sóbrias, cujos projetos se
e Hlla Igualmente
lmpoa!wl Impedir saria preocupar-se em importar. E se tentasse Impedir tal Importação, não tomaram desproporcionais em relação aos capitais que possuem, estão
1ua lmportaç5o, w o conseguiria fazê-lo. Quando os espartanos tinham cem que comprar ouro tão sujeitas a não ter corn'qua comprar dinheiro e a não dispor de crédito
lomedmeto fosse
lnffflar 6 d2manda e prata, esses metais romperam todas as barreiras que as leis de Ucurgo para tomá-lo emprestado, quanto os perdulários, cujos gastos não foram
eletiva. opunham à sua entrada na Lacedemõnia. Nem mesmo todas as sangulná- proporcionaisã sua renda Antes que os projetos possam render, seu capi-
rias leis ad~neiras são capazes de Impedir a importação do chá da Com- tal se acabou e, Juntamente com ele, seu crédito. Andam por todos os la-
panhia das fnclias Orientais, da Holanda e de Gotemburgo, pois ele é algo dos em busca de dinheiro emprestado, e todos lhes dizem que não têm.
mais barato que o oferecido pela Companhia Britânica. No entanto, uma Mesmo essas queixas generalizadas de escassez de dinheiro nem sempre
libra-peso de eh~ representa aproximadamente 100 vezes o volume de provam que a quantidade de moedas de ouro e prata em circulação seja
um dos preços mais altos que se costuma pagar em prata por uma libra- Inferior ao costumeiro; provam apenas que multes dos que têm íalta des-
peso de chá, isto é, 16 xelins e mais do que 2 mil vezes o volume domes. sas moedas são precisamente aqueles que não têm com que comprá-las.
mo preço em ouro, sendo portanto exatamente tantas vezes mais difícil Quando os lucros do comércio chegam a ultrapassar o normel, o comér-
de contrabandear do que a prata e o ouro. cio excessivose toma um erro generalizado, tanto entre os grandescomer-
t essa fadtidade da
min.sportt que toma 1: em parte devido à faciUdade de transportar ouro e prata dos luga- dantes como entre os pequenos. Nem sempre exportam mais dinheiro do
o valor do ouro e da res onde há abundância para aqueles em que há falta, que o preço desses que normalmente, mas compram a crédito, tanto no pais como fora, uma
praia tllo uniforme.
metais não flutua continuamente como o da maior parte das outras merca- quantidade de mercadorias fora do normal, mercadorias que enviam para
dorias, cujo grande volume impede seu transporte ~dl, quando elas abun- algum mercado distante, esperando que o dinheiro retome antes do pra-
dam ou estão em falta no mercado. Certamente, o preço do ouro e da zo de vencimento dos pagamentos. Acontece que a demanda dos paga-
prata não está totalmente Isento de tais variações, mas as alterações a que mentos vem antes do retomo do dinheiro, e eles nada têm em mãos com
está sujeito são geralmente lentas, graduais e uniformes. Na Europa, por que possam comprar dinheiro ou oferecer alguma garantia sólida para em-
exemplo, supõe-se sem muito fundamento que, no decurso do século préstimos. Portanto, não é a escassez de ouro e prata, mas a dificuldade
atual e do anterior, o ouro e a prata baixaram constantemente de valor, que tais pessoas têm em tomar dinheiro emprestado, e que seus credores
mas gradualmente, devido às contínuas Importações das Índías Ocidentais têm em receber os pagamentos, que gera as queixas generalizadasdé falta
espanholas. Todavia, para que ocorra alguma variação repentina no pre- de dinheiro.
Odlnhetto
ço do ouro e da prata, de maneira que o preço em dinheiro de todas as npruen~apones Seda excessivamente ridiculo empenhar-se seriamente em provar
outras mercadorias aumente ou baixe de repente, de forma sensível e no- wna pequena par1e que a riqueza não consiste no dinheiro, nem em ouro e prata, mas que
~vel, seria necessária uma revolução comercial tão grande quanto a des- do capital nadon<,I.
ela consiste naquilo que o dinheiro compra e no valor de compra que ele
coberta da América. · tem Sem dúvida, o dinheiro sempre constitui uma parle do capital nacio-
Se, não obstante tudo Isso, o ouro e prata em algum momento esti- nal; mas Já se mostrou que ele costuma representar apenas uma parcela
vessem aquém da demanda efetiva, em um país que tivesse com que ~·, pequena, e sempre a parte menos rentável do capital
comprar esses rnetaís, seria muito mais fácil substituf.Jos do que Importar, !! mais ~dl comprar Se o comerciante costuma achar mais fácil comprar mercadoriascom
doquewnder,
em geral, qualquer outra mercadoria. Se houver falta de matérias-primas simplesmenie dinheiro do que com outros bens, não é porque a riqueza consistiria mais
para a 'indíistria, esta tem que parar. &l faltarem os ~neros alimenUcios, porque o dinheiro t no dinheiro do que nas mercadorias, mas porque o dinheiro é o Instru-
ln$tnimanto de
a população passa fome. Mas se faltar dinheiro, o escambo supre a sua fal- ~ mento de comércio reconhecido e estabelecido como tal, pelo qual pron-
ta, embora com muitos Inconvenientes. Para remediar esses .lnconvenien- tamente se pode trocar qualquer·outra coisa, sem que, porém, se possa,
_com presteza Igual, conseguir dinheiro em troca de qualquer OUlpl merca-
366 SISTEMAS DE ECONOMIA POL.fnCA o PRINCIPto OOSISTEMA COMERCIAL ou MERCAHTU. 367
doria. Alêm disso, a maioria dos bens são mais perecíveis do que o dinhei- o número de pane.las e caçarolas no país. A lsso se objeti prontamente
ro e, conseqüentemente, muitas vezes o comerciante pode sair perdendo que a quantidade de tais utensílios metalúrgicosé em cada país necessaria-
multo mais guardando mercadorias do que guardando dinheiro. Além do mente limitada pela utilidade que eles podem ter no pafs, e que seria ab-
mais, quando o comerciante tem as mercadorias em mãos, ele está mais surdo ter mais panelas e caçarolas do que seriam necessárias para cozi-
sujeito a dispor de pouco dinheiro para fazer pagamentos, do que quando nhar os alimentos que lá se costuma consumir; e que, se a quantidade de
tem em caixa o dinheiro elas mercadorias já vendidas. Além de tudo isso, alimentos aumentasse, juntamente com ela também aumentaria, com a
o lucro do comerciante vem mais diretamente daquilo que ele vende do mesma rapidez, a quantidade de panelas e caçarolas, empregando-se en-
que daquilo que compra, e por todos esses motivos ele costuma preocu- tão parte da quantidade adicional de alimentos para comprar essas pane-
par-se multo mais em trocar suas mercadori.as por dinheiro, do que em las e caçarolas, para sustentar um contingente adicional de operários em-
trocar seu dinheiro por mercadorias, Contudo, embora um comerciante In- pregados em sua fabricação. A- Isso deve-se retrucar, çom a mesma pronti-
dividual, que tem estoque abundante de mercadorias, às vezes possa Ir à dão, que também a quantidade de ouro e prata é em cada pafs limitada
rufna por não conseguir vendê-las em tempo, uma nação ou país não es- pela utilização que esses metais podem ter no país; que a sua utilidade
~ sujeito ao mesmo perigo. Todo o capital de um comerciante muitas ve- consiste em fazer circular mercadorias, em fonna de moedas, e em servir
zes consiste apenas em bens perecíveis destinados a comprar dinheiro. En- como uma espécie de adorno doméstico, na forma de prataria; que a

J tretanto, em se tratando da produção anual de terra e do trabalho de um


país, é apenas uma parcela mínima dela que se destina a comprar ouro e
prata de seus vizinhos. De longe, a maior parte dessa produção anual cir-
\ cula e ê consumida no seio da população; e mesmo quanto ao ex.cedente
quantidade de moedas em cada país é regulada pelo valor das mercado-
rias que elas estão destinadas a fazer circular; que, aumentando-se esse
valor, Imediatamente uma parte delas será exportada para o exterior, pa-
ra comprar, onde for possTvel, a quantidade de moedas necessáriapara fa-
\ que é exportado, a maior parte dele costuma ser empregada para com- zê-las circular; que a quantidade de prataria é determinada pelo número e
[prar outras mercadoria.s estrangeiras, que não dinheiro. Por isso, mesmo pela riqueza das familias particulares que optam por esse artigo de luxo;
que o país não consegulsse comprar ouro e prata com as mercadorias des- aumentando a riqueza e o número dessas famílias, uma parle dessa rique-
tinadas a essa finalidade, a nação, como tal, não iria à ruína. Poderia, sim, za adicional será muito provavelmente empregada em comprar, onde for
sofrer alguma perda ou transtorno e ser até forçada a recorrer a algum possível, uma quantidade adicional de prataria; que lentar aumentar a rlíl
desses meios que são necessários para suprir o lugar do dinheiro. Toda- queza de um país, Introduzindo ou mantendo nele uma quantidade desne-
via, mesmo então, a produção anual de sua terra e de seu trabalho conti- cessária de ouro e prata, é tão absurdo quanto seria tentar aumentar a
nuaria a mesma ou mais ou menos a mesma de sempre, Já que se estaria quantidade de alimentos de famfilas particula.res, obrigando-as a manter
empregando o mesmo ou mais ou menos o mesmo capital consumível, um número supérfluo de utensíllos de cozinha. Assim como os gastos pa-
para sustentar essa produção anual. E embora as mercadorias nem sem- ra comprar esses utensillos desnecessários acabariam diminuindo, ao In-
pre comprem dinheiro com a mesma rapidez com que o dinheiro compra vés de aumentar, a quantidade ou a qualidade das provisões da familia,
mercadorias, a longo prazo elas compram mais necessariamente dinheiro da mesma forma o gasto feito para comprar uma quantidade desnecessá-
do que o dinheiro compra men:adorlas. As mercadorias podem servir a ria de ouro e prata necessariamente fará diminuir, em qualquer país, a ri-
muitos outros objetivos, além de comprar dinheiro, ao passo que o dinhei- queza que alimenta, veste e dá moradia, que sustenta e dá emprego à po-
ro não serve para nenhum outro objetivo, senão comprar mercadorias. pulação. Cumpre lembrar que o ouro e a prata, quer em forma de moe-
Por conseguinte, o dinheiro necessariamente corre atrás das mercadorias, da, quer em forma de prataria, são utensflios, tanto quanto os artigos e
ao passo que estas nem sempre ou necessariamente correm atrás do di- equipamentos de cozinha. Aumentando-se sua uliliração, aumentando-se
nheiro. Quem compra nem sempre pretende revender; muitas vezes sua a quantidade de mercadorias de consumo que preàsam circular, ser adrní-
intenção é usar ou consumir o que comprou, ao passo que quem vende nlstradas e preparadas através do ouro e da prata, Infalivelmente aumen-
sempre pretende comprar novamente. O que compra multas vezes Já tar-se-ã a quantidade desses metais; entretanto, se tentannos aumentar es-
completou com isso seu negócio, ao passo que o que vende, com essa sa quantidade por meios artificiais, com a mesma certeza lnfalfvel dímínuí-
operação, nunca chega a fazer mais do que a metade do negócio que pre- remos sua utlllzação e até mesmo a quantidade, que nesses metais nunca
tendia fazer. Se as pessoas procuram dinheiro, não ê por causa do dinhei- pode ser maior do que o uso exige. Se algum dia esses metais.fossemacu-
ro em si mesmo, mas por causa daqullo que com ele se pode comprar. mulados a<j.ma dessa quantidade, seu transporte é tão fádl e a perda de-
A durabilidade de Alega-se que, as mercadorias de consumo logo perecem, ao passo
uma~nao corrente no caso de permanecerem ociosos ou sem utilização é tão gran-
constitui ·rullo para que o ouro e a prata são de natureza mais durável e, não fora a exporta- de que nenhuma lei conseguiria Impedira sua exportaçãoImediata.
11C11mular um ção continua, poderiam ser acumulados durante gerações Inteiras, aumen- Nao h4 necessidade Nem sempre ê necessário acumular ouro e prata para que um pars
eslcque maior dela de ecu.mular ouro a
doqu.o~ tando assim Incrivelmentea riqueza real do país. Por conseguinte, afirma- praia para 14! fazer possa fazer guerra contra estrangeiros e manter esquadras e ex~tos em
se, nada poderia ser mal!! prejudicial a um pars do que o comércio que gwma em poises terras distantes. As esquadras e exércitos não se mantêm com ouro e pra-
consista na lroca desses bens tão duráveis. por mercadorias tão perecíveis. dstantes, ta, mas com bens de consumo. A nação que, da produção anual de sua
Entretanto, não consideramos corno desvantajoso o comércio que consis- lndastria nacional, da renda anual proveniente de suas terras, de sua
ta na troca de ferragens Inglesas pelos vinhos franceses; no entanto, esses mão-de-obra e do seu capital consumível, tiver com que comprar esses
produtos metalwgicos constituem uma mercadoria de durabUidade multo bens de consumo em países distantes tem condiçi5es de manter guerras
grande, e não fora sua exportação contínua, também eles poderiam ser nesses países.
acumulados durante gerações seguidas, aumentando assim lnaivelmente Uma nação pode pagar um exército em um pa(s distante e comprar-
368 SISTEMAS DE ECONOMIAPOUTICA
O PRlNCIPlo 00 SISTEMA COMERCIA!. OU MERCANn!.. 369
uporiando-s«: (1 ) lhe os mantimentos necessários, de três maneiras: enviando ao exterior,
ouro e prata, (2)
manufolul'llSou (3) em primeirolugar, alguma parte de seu ouro e prat> acumulados, em se- tivesse sido feita com o nosso dinheiro, mesmo segundo tal calculo, todo
produtos brutos, gundo, parte da produção anual de suas manufaturas ou, em terceiro, par- esse dinheiro em circulação deveria ter sido enviado para fora e voltado,
te de sua produção agrícola bruta anual. novamente, no mfnimo duas vezes, em um lapso entre seis e sete anos.
OoomQa prata O ouro e prata que se pode considerar devidamente acumulados ou Raciocinando nestes termos, leríamos o argumento mais decisivo para de-
consis~mem
dinheiro drcuL>nte, estocados em um pafs podem ser de três tipos: primeiro, o dinheiro circu- monstrar quão desnecessário é o Governo preocupar-se em reter o dinhei-
pmlarl4 e dínhetrc lante; segundo, a prataria de famffias particulares; terceiro, o dinheiro que ro no país, Já que, nessa hipótese, todo o dinheiro do país deveria ter sar-
noTaowo. da e retomado a ele novamente duas vezes, em um perfodo tão breve,
se pode a.cumular em muitos anos de parcimônia, aplicando-o no Tesou-
ro do prfndpe. sem que ninguém tivesse nenhuma noção disso. O canal da clrculaç!o, no
Dodlnh<!lroem Raramente deverá acontecer que se possa retirar muito dínheíro cir- entanto, jamais esteve tão vazio do que como durante qualquer parte desse
drculaç5o, pouco ""
pede utlllzar, culante do pars, pois nele raramente pode haver grande abundância. O período, Poucos eram os que não conseguiam dinheiro, desde que tives-
valor das mercadorias anualmente compradas e vendidas em um pafs exi- sem com que comprá-lo. Na realidade, os lucros do comércio exterior fo-
ge certa quantidade de dinheiro para fazê-las circular e dlsbibuf-lasa seus ram maiores do que de costume durante todo o período da guerra, mas so-
consumidores adequados, não sendo possível empregar mais do que Isso. bretudo próximo a seu final Isso gerou o que sempre gera: um comércio
O canal da circulação necessariamente atrai uma quantia suficiente para excessivo com todos os portos da Grã-Bretanha; o que, por sua vez, gerou
enchê-lo, nunca comportando mais do que Isso. Todavia, no caso de a costumeira queixa da falta de cllnheiro, que sempre acompanha um co-
guerras externas, sempre se costuma retirar algo desse canal. Devido ao mêrcío em excesso. Muitos tinham falta de dinheiro, mas eram pessoas que
grande número de cidadãos que precisam ser mantidos fora do pafs, me- não tinham com que compra-lo nem crédito para tomá-lo emprestado; e Já
nor será o número dos que serão mantidos dentro. Dírnínuí a quantidade que os devedores encontravam dificuldade em receber empréstimos, os
de mercadorias que circulam no país, sendo necessãrío menos dinheiro credores tinham dificuldades em conseguir os pagamentos. No entanto, o
para essa circulação. Em tais ocasiões, emite-se na Inglaterrauma quanti- ouro e a prata geralmente podiam ser comprados pelo respectivo valor por
dade muito grande de papel-moeda ou de algum outro tipo de dinheiro, aqueles que tivessem com que pagar o respectivo preço.
tais como notas do Tesouro, cédulas da Marinha Mercante e títulos bancá- Por Isso, a enorme despesa da Ciltima guerra deve ter sido paga, prinn
rios. Fazendo-se com que esse tipo de dinheiro substitua o ouro e a prata cipalmente, não pela exportação de ouro e prata, mas pela exportação de
em circulação, é possfvel enviar para o exterior uma quantidade maior de mercadorias brttãnícas de várias espéáes. Quando o Governo ou aqueles
dinheiro em moeda. Tudo Isso, porém, constituiria um recurso muito insig- que agiam em nome dele contratavam com um comerciante uma remes-
nificante para manter uma guerra fora do país, que Implica em grandes sa a algum pafs estrangeiro, naturalmente se empenhavam em pagar seu
gastos e pode durar vários anos. correspondente estrangeiro, ao qual tinham entregue um título, enviando
• pra!e r1a n uru:a
Um recurso ainda mais Insignificantetem cons\stido sempre em fun- ao exterior mercadorias, preferencialmente a ouro e prata Se as mercado-
rendaumulto;
dir a prataria de famílias particulares. No início da última guerra, a França rias britânicas não estavam em demanda naquele país, procurava-se ex-
-1 portá-las a algum outro, do qual a Grã-Bretanha pudesse comprar um titu-
não auferiu desse expedlente vantagem suficiente para compensar a per-
da das peças originais. lo. O transporte de mercadorias, quando atende às necessidades do mer-
a aaunulaçllono cado, sempre gera um lucro considerável, ao passo que o transporte de
Tesourol<!m tido Em tempos antigos, os Tesouros acumulados do prfncipe proporcio-
abandonada. navam um recurso muíto maior e muito mais durável Atualmente, se ex- ouro e prata raramente acarreta lucro. Quando esses metais são enviados
cetuarmos o rei da Prússia, parece que os príncipes europeus não adotam ao exterior para comprar mercadorias estrangeiras, o lucro do comercian-
a políticade acumular Tesouros. te resulta não da compra, mas da venda das mercadorias trazidas de vol-
As guerras oxtmnM ta. Mas quando o ouro e a prata são enviados para fora simplesmente pa-
doRCulo Os fundos que serviram para sustentar as guerras externas do século
evfdmh,rncn.te nlio atual, talvez as mais dispendiosas registradas pela hístõría, parecem ter de- ra pagar uma dívida, o comerciante não recebe mercadorias de retomo,
tãm 5!do p,,gi,s com pendido pouco da exportação do dinheiro circulante, da prataria de famí- e, conseqüentemente, não aufere lucro algum. Por Isso, ele naturalmente
o dinheiroem
dttulaçllo lias particularesou do Tesouro do póndpe. A (iltima guerra contra a Fran- aciona sua criatividade para encontrar um meio de pagar suas dívidas fo-
ça custou à Grã-Bretanha acima de 90 milhões, incluindo não somente os ra, mais com a exportação de mercadorias do que com a exportaçã~ de
75 milhões de novas dívídas contraídas, mas também o acréscimo de ouro e prata. Eis por que a grande quantidade de mercadorias britânicas
10% ao imposto temtoríal, e o que foi anualmente tomado emprestado exportadas durante a ültíma guerra, sem trazer de volta retomo algum, foi
do fundo em baixa. Mais de 2/3 desses gastos foram feitos em países dis- assinalada pelo autor de nie Present State of the Nation.
Porte do ouro e Em todos os países que comerciam, existe, além dos três tipos de ou-
tantes: na Alemanh~ Portugal, Amérlca, nos portos do Mediterrâneo, nas prata em ttngotes
Índías Orientais e Ocidentais. Os reis da lnglatena não tinham tesouros que circula entre um ro e prata acima mencionados, bastante ouro e prata em lingotes, alterna-
pars • outro pode ter damente Importados e exportados para fins de comércio exterior. Esses
acumulados. Tampouco jamais ouvimos falar da fusão de extraordin&ias $ldo uflbda, mas
quantidades de prataria. Supõe-se que o ouro e prata circulante no pats d4wtersldo metais em lingotes, por circularem entre os diversos países comerciais da
não ultrapassavam os 18 milhões. Todavia, desde a o.Jtima recunhagem compradacom mesma forma que a moeda nacional circula em cada país, ~CêllllenJ ,
mm:ador!u
de ouro, aaedíta-se que foram bastante subestimados. Suponhamos, te, podem ser considerados como o dinheiro da grande "república" co- ,
pois, segundo o cômputo mais exagerado de que me lembro Jamais haver merdal internacional. A moeda nacional é mOVimentada e guiada pelas
visto ou ouvido, o ouro e prata Juntos atingissem 30 milhões. Se a guerra mercadorias que circulam dentro dos limites de cada pafs, ao passo que o
dinheiro da república comercial é movimentado pelas mercadorias que dr-
370 SISTEMASDE ECONOMIAPOLITICA
O PRlNCIP!o DO SISTEMA COMERCIALOU MERCANl1!. 371
culam entre os diversos pafses. Os dois tipos de "moeda" são emprega-
dos para facilitar os lntertambios: uma é empregada para efetuar o inter- pafs e começar a decair quando o pais voltar à sua era de prosperidade.
cambio de mercadorias entre indívíduos do mesmo país; a outra é empre- Como prova do que se acaba de dizer, basta considerar a situação em
gada para efetuar as trocas de mercadorias entre nações diferentes. Uma que se encontravam muitas manufaturas britânicas durante a última guer-
parte desse dinheiro da grande república comercial pode ter sido emprega- ra, e a situação em que vieram a encontrar-se algum tempo depois de so-
da, e provavelmente o foi, para cústear a última guerra. Em tempo de brevira paz.
guerra generalízada, é natural supor que se movimente e se dê uma desti- Nenhuma guerra muito dispendiosa ou de longa duração poderia ter
nação a esses metais em lingotes, destinação essa diferente da que se lhes sido custeada simplesmente com a exportação da produção agrícola em
dá em tempos de paz; é natural que esse tipo de "moeda" circulasse mais estado bruto. A despesa do envio de tal quantidade de produtos naturais
nos países em que se dava a guerra e fosse mais empregada em comprar da terra a um país estrangeiro, suscetível de comprar o pagamento e as
lá, e nos países vizinhos, o pagamento e as provisões dos diversos exérci- provisões de um exército, seria muito alta. Além do mais, poucos são os
tos. Entretanto, qualquer que tenha sido a quantidade desse tipo de di- países cuja produção agrfcola bruta seja muito superior àquilo de que a
nheiro da repüblica comercial que a Inglaterra possa ter anualmente em- própria nação necessita para seu consumo Interno. Conseqüentemente,
pregado dessa forma, essa quantidade deve ter sido anualmente compra- exportar uma quantidade considerável dessa produção significaria expor-
da com mercadorias britânicas ou com alguma outra coisa que, por sua tar parte da subsistência necessária à própria população. O mesmo não

t ez, havia sido comprada com elas - o q. ue nos remete novamente para
as mercadorias, a produção anual da terra e do trabalho do pafs, como
sendo os últimos recursos que nos possibilitaramfazer a guerra. Com efei-
to, é natural supor que um gasto anual tão elevado tenha sido coberto
com uma elevada produção anual. O gasto de 1761, por exemplo, ascen-
ocorre com a exportação de manufaturados. Retêm-se no país a quantida-
de necessária para a manutenção dos trabalhadores empregados nessas
manufaturas, exportando-se apenas o excedente de sua produção. O Sr.
Hume assinala repetidamente a incapacidade dos antigos reis da Inglater-
ra em fazer uma guerra externa de longa duração, sem Interrupções. Na-
deu a mais de 19 milhões. Nenhuma acumulação poderia ter sustentado quela época, os ingleses não tinham com que pagar e comprar as provi-
um esbanjamento anual tão grande. Nenhuma produção anual ,de ouro e sões para os exércitos no exterior, a não ser a produção direta da terra -
prata lhe teria feito frente. Segundo os melhores cálculos, o total de ouro da qual pouco se podia exportar, sob pena de comprometer a subsistên-
e prata anualmente Importado pela Espanha e Portugaljuntos não costu- cia da população - ou então alguns produtos manufaturados de fabrica-
ma superar 6 mllhões de libras esterlinas, quantia que, em certos anos, ção mais primitiva, cujo transporte era excessivamente dispendioso, da
mal teria sido suficiente para cobrir quatro meses de despesa da GJtlma mesma forma como seria o transporte da produção da terra em estado
guerra, bruío, Essa incapacidade não provinha da falta de dinhelro, mas da falta
Paro es,c ftm, as
As mercadorias mais adequadas para serem transportadas a pafses de produtos manufaturados mais refinados e aperfeiçoados. Na Inglaterra,
=:cadorias mab
adequadas llllo os distantes, a fim de lá comprar o pagamento e as provisões de um exército as compras e vendas eram então feitas com dinheiro, da mesma forma
produtos
ou uma parte do dinheiro da república comercial a ser empregado para que hoje em dia A quantidade de dinheiro em circulaçãodeve ter tido a
manuíal!Jradm mais
•perielçoodos. comprar isso, parecem ser os manufaturados mais finos e mais aperfeiçoa- mesma proporção com o número e o valor das compras e vendas que na
dos; podem, além disso, compor-se de tal forma que contenham um va- época se faziam em relação ao que acontece hoje; diríamos até que, na
lor elevado em volume reduzido, suscetíveis de ser exportados para lon- época, deve ter sido malor a quantidade de dinheiro em circulação, pois
ge, sem grandes despesas. Um pafs que produz um grande excedente então não havia papel-moeda, que hoje ocupa em larga escala o lugar do

1.
anual de tais manufaturados, que costuma exportar para paTses esbangei- dinheiro em moeda. Em nações em que o comércioe as manufaturas são"\
ros, tem condições de conduzir uma guena muito dispendiosa que dure pouco conhecidos, o soberano, em ocasiões extraordínmas, raramente!
muitos anos, sem exportar quantidades consíderãveís de ouro e prata, e tem condições de obter grande ajuda de seus súditos, por motivos que ex.
até sem possuí-las, Neste caso, sem dúvida, é necessário exportar uma plicarei mais adiante. t; pois, nesses pafses que o soberano geralmente
parte considerável do excedente anual do respectivo pafs, e Isso sem tra- procura acumular um tesouro, como o üníco recurso de que dispõe em
zer de volta outras mercadorias para o país, embora traga retomo para o tais em~ncias. Independentemente dessa necessidade, ele natmalmen-
respectivo comerciante, já que o Governo compra do comercianteseus tí- te está disposto, em tal circunstância,a exercer a parcimônia exigida para
tulos de países estrangeiros, para destes comprar o pagamento e as provi- acumular dinheiro. Em tais condições de simpücidade, o gasto, mesmo de
sões de um exército. Todavia, parte desse excedente pode ainda conti- um soberano, não ê ditado pela vaidade com que costuma deliciar-senos
nuar a trazer para o país algum retomo. Durante a guerra, os manufatores adereços extravagantes de uma corte, e sim o dinheiro é gasto na liberali-
têm uma dupla demanda a atender: primeiro, devem produzir mercado- dade com seus rendeiros e com a hospitalidadepara com seus clientes.
rias a serem exportadas para pagar os Utulos sacados em paJses estrangei- Ora, a liberalidade e a hospitalidade muito raramente levam à exorbitan-
ros, para o pagamento e as provisões do êxérdto; segundo, devem produ- cia, ao passo que a vaidade quase sempre leva a esses excessos. É por Is-
. zir mercadorias necessaifas para comprar as mercadorias nonnais de retor- so que todos os príncipes tãrtarcs possuem um tesouro. Afirma-se que
no, que são consumidas no pafs. Portanto, em meio à mais violenta guer- eram muito grandes os tesouros de Mazepa, chefe dos cossacos na Ucrâ-
ra externa, a maior parte das manufaturas do pais muitas vezes pode regis- nia e famoso aliado de Carlos XIL Todos os reis franceses da estirpe dos
{bar um período de grande florescimento e, vice-versa,acusar um declrnio merovfngiostambém possufam tesouros. Quando dMdiram seu reino en-
quando voltar a paz. São capazes de florescer em melo à ruma de seu tre os filhos, dividiram tambêm seus tesouros. igualmente, os prfndpes sa-
xõnicos e os pômeiros reis depois da Conquista parecem ter acumulado
372 SISTEMASDE ECONOMJAPOÚllCA
O PRINCIPtoDO SLSTI'.MA CôMERCIALOUMERCANTU.
373
tesouros. O primeiro ato de todo novo reinado con:.istia geralmente na to-
mada de posse do tesouro do rei anterior, como sendo a medida mais fun- também o preço da prataria se toma acessível a um número multo maior
de clientes, talvez a dez vezes mais que o número anterior. Assim sendo
f; mental para garantir a sucessão. Os soberanos dos países evoluídos e
merciais não têm a mesma necessidade de acumular tesouros, pois ge-
ralmente têm condições de obter de seus súditos ajudas extraordlnárlas,
pode agora haver na Europa não somente três vezes mais, senão mais d~
vinte vezes do que a quantidade de prataria que poderia existir nela mes-
mo no atual estágio de evolução e aperfeiçoamento,se jamais tlv~m si-
m ocasiões extraordinárias. Outrossim, estão menos inclinados a acurnu-
~r tesouros. Natural e talvez necessariamente, seguem a moda dos tem- do descobertas as minas da América. Dessa forma, a Europa sem dúvida
pos, e seus gastos acabam sendo detenninados pela mesma vaidade extra- adquiriu um bem real, embora certamente se trate de uma mercadoria
vagante que pauta a conduta dos demais grandes proprietários que mo- muito bivial O baixo preço do ouro e da prata toma esses metais atê me1
ram em seus domínios. A pompa de sua corte, de lnfdo Insignificante,tor- nos adequados para fins de dinheiro do que o eram antes. Para efetuar as J
mesmas compras, precisamos carregar uma quantidade maior desses me-
na-se cada dia maior, e os gastos por ela acarretados não somente Impe-
tais, tendo que levar no bolso 1 xelim, quando antes bastava um groat. 1 Ê
dem qualquer acumulação de tesouros como ainda, multas vezes, dilapl-
difícil dizer qual dos dois é mais Insignificante: esse inconveniente ou a
dam os fundos destinados a despesas mais necessárias. Da corte de vários
conveniênáa oposta Nem um nem outro poderia ter feito surgir alguma
prfndpes europeus pode-se dizer o mesmo que Dercílidas afirmou sobre a
diferença essencial da situação da Europa. Entretanto, a descoberta da
corte da Pêrsía, Isto é, que lá observou e viu multo esplendor, mas pouco
poder, muitos criados mas poucos soldados. América certamente trouxe urna diferença multo essendal' Pelo fato de
O pmdp,J bcnel!do ela abrir um novo e Inexaurível mercado para todas as mercadorias euro-
do c:ombdo exterior
A Importação de ouro e prata não é o benefício principal e multo me-
péias, deu margem a novas divisões do trabalho e aperfeiçoamentoprofis-
nlo f a lmpc,naçJo os o (mico que urna nação aufere de seu comércio exterior. Quaisquer
de OW'O • prala, ITllll sional que, no estreito círculo do comércio antigo, Jamais poderiam ter sur-
ue sejam os países ou regiões com os quais se comercializa, todos eles
aupamçJ<>de
btêrn dois benefícios do comércio exterior. Este faz sair do país aquele gido por falta de um mercado para absorver a maior parte de sua produ-
produlol acedentes
quenao ttm ~ excedente da produção da terra e do trabalho para o qual não existe de- J. ção. Melhoraramas forças produtivas da mão-de-obra e sua produção au-
demanda, ta
[manda no país, trazendo de volta, em troca, alguma outra mercadoria da mentou em todos os diversos países da Europa e, Juntamentecom ela, ã
lmpon,,çio de renda e a riqueza reais dos habitantes. As mercadoriasda Europa eram
outros qu• lfm. Igual há necessidade. O comércio exterior valoriza as mercadorias supér-
fluas do país, trocando-as por alguma outra que pode atender a uma par- quase todas novas para a América e multas mercadoriasda América eram
de suas necessidades e aumentar seus prazeres. Devido ao comércio ex- novas para a Europa. Em conseqüência, Iniciou-se uma·nova série de ln~
tercãmbíos, que nunca haviam sido Imaginados antes, Intercâmbiosesses
erior, a estreiteza do mercado Interno não Impede que a divisão do traba-
que, naturalmente, seriam Igualmente vantajosos para o Novo como para
ho seja efetuada atê à perfeição ináxlma em qualquer ramo do artesana-
o Velho Continente. Infelizmente, a Injustiça selvagem dos europeus fez
o e da manufatura. Ao abrir um mercado mais vasto para qualquer parce-
~ de produção de sua mão-de-obra que possa ultrapassar o consumo In- com que um evento que deve.ria ser benéfico para todos se tomasse preju-
dicial e destrutivopara várias dessas Infelizes naç_ões.
terno, o comércio exterior estimula essa mão-de-obra a melfiorar suas for-
produtivas e a aumentar sua produção ao máximo, aumentando as- A descoberta de uma passagem para as lndias Orientais, através do
cabo da Boa Esperança, que ocorreu mais ou menos na mesma época,
sim a renda e a riqueza reais da sociedade. O comêrdo externo presta
deu talvez uma amplitude ainda maior ao comércio exteriordo que a pró-
continuamente esses grandes e relevantes serviços a todos os países entre
pria descoberta da América, não obstante a distância maior. Havia apenas
os quais ele é praticado. Todos eles auferem grandes benefícios dele, em-
duas nações na América, sob todos os aspectos supe.riores às selvagens,
bora o maior proveito caiba, geralmente, ao país onde o comerciante resi-
que foram destruídas logo depois da descoberta do Continente. As outras
de, já que este costuma empenhar-se mais em atender às necessidades e
nações não passavam de regiões selvagens. Ao contrario, os Impérios da
aos supérfluos de seu próprio pafs do que aos dos outros. Sem dúvida, a
China, Hindustão, Japão, bem como vários outros nas fnctias Orientais,
Importação do ouro e da prata que possam ser necessários para os países
sem possuírem minas mais ricas de ouro ou prata, eram multo mais ricos
que não dispõem de minas próprias constitui uma função do comércio ex-
terior; entretanto, trata-se de uma função multo pouco Importante. Um sob muitos outros aspectos, mais bem cultivadose mais adiantados em to-
dos os ofícios e artes do que o México ou o Peru, mesmo se dermos crêdl-
país que praticasse o comêrc:lo externo s6 em função disso dificilmente
chegaria a fretar um navio em um século. to àqullo que simplesmente não merece crédito algum - os relatos exage-
A dacoborta da rados de escritores espanhóis no tocante ao antigo estado daqueles Impé-
hMrb balCfldou Se a descoberta da Amêrlca enriqueceu a Europa, não foi por causa rios americanos. Ora, nações ricas e dvili7.adas sempre têm condições de
a Eun,pa nlo por da Importação de ouro e prata. Em virtude da riqueza das minas america-
banitearoowooa lntercamblar entre si produtos de valor multo superior do que se o Inter-
nas, esses metais balxaram de preço. Pode-se hoje comprar uma baixela
ptall, câmbio for feito com nações selvagens e bárbaras. No entanto, a Europa
de prata por aproximadamente 1/3 do trigo ou 1/3 do trabalho que ela te-
ria custado no século XV. Com o mesmo custo de mão-de-obra e de mer- atê agora auferiu multo menos vantagem de seu comércio com as fndlas
cadorias por ano, a Europa pode comprar anualmente mais ou menos Orientais do que cio comércio com a América. Os portuguesesmonopoli-
três vezes a quantidade de prataria que poderia ter comprado naquele zaram para si o comêrclo com a fnclla Oriental durante aproximadamente
tempo. Mas, quando uma mercadoria ê vendida por 1/3 do que havia si- um século, sendo s6 Indiretamente e através de Portugal, que as demais
do seu preço habitual, não somente os que antes a compravam têm condi-
ções agora de comprar o triplo da quantidade que compravam antes, mas • Anaga moeda, 'vm eq1IMllml,o a 4 l)alCL (N. do Ed.)
374 SISTEMASDE ECONOMIAPOÚTICA O PRINCIPIO DO SISTEMA COMERCIAL OU MERCAMTlL 375
nações européias puderam vir a exportar mercadorias para aquele país ou Por supor que • Uma vez estabelecidos os dois princípios - que a riqueza consiste no
dele Importá-las. Quando os holandeses, no início do século passado, co- riqueza CONlsle em
ouro e p,ata, 8 ouro e prata e que, em se tratando de um pals que não possui minas, es-
meçaram a interferir no monopólio português, reservaram todo o comér- Ea>nomla Pol!Uea ses metais s6 podem entrar pela balança comercial, isto é, exportando um
cio com a Índia Oriental a uma companhia exclusiva. Os Ingleses, france- l)(<1CIJtoU redw!r as montante maior que o montante do valor importado - necessariamente
lm~e
ses, suecos e dinamarqueses seguiram o exemplo dos holandeses, de sor- "'11muw as passou-se a considerar como o grande objetivo da Economia Política dimi-
te que nenhuma grande nação européia se beneficiouaté agora de um co- export,,ções, nuir o máximo possível a Importação de mercadorias estrangeiras para
mércio com as fndias Orientais. Desnecessário apontar qualquer outra ra- consumo Interno, e aumentar ao mãximo possível a exportação de produ-
zão pela qual esse comércio nunca foi tão vantajoso como o comércio tos do próprio pais. Conseqüentemente, os dois grandes motores para en-
com a América, o qual é livre para todos os sO.ditos de quase todas as na- riquecer um país consistiriam em restringir a importação e estimular a ex-
ções européias e suas próprias colônias. Os privilégios exclusivos dessas portação.
Companhias das lndias Orientais, sua grande riqueza, o grande favor e As restriçõesà lmportaçã.o têm sido de dois tipos.
proteção que oonsegulram obter de seus respectivos governos, provoca- Primeiro, restrições à importação de produtos estrangeiros para con-
Nao i prejudldal a !am muita Inveja contra essas Companhias. Essa inveja muitas vezes tem
exi,o,1açlio de prata sumo interno que pudessem ser produzidos no próprio país, qualquer que
apresentado esse comércio como totalmente pemldoso, devido às gran- fosse a nação da qual se importasse.
"""' •• lndlaS
o.knlais. des quantidades de prata que cada ano são exportadas ãs fndias Orientais Segundo, restrições às Importações de bens de quase todos os tipos,
a partir dos países em que essas Companhias operam, As respectivas par- feitas a partir de países especfficos, em relação aos quais se supunha ser
tes retrucaram que seu comércio, por essa exportação continua de prata, desfavorávela balança comercial.
poderia tender efetivamente a empobrecer a Europa em geral, mas não o Esses diversos tipos de restrições têm consistido,às vezes, em altas ta-
pars especifico a partir do qual ela era efetuada, J.1 que, através da reex- · xas alfandegariase, outras,·em proibições absolutas.
portação de uma parte dos produtos orientais para outros países euro- A exportação foi estimulada às vezes pelos drawbacks, ãs vezes por
peus, anualmente entrava no país uma maior quantldade de prata do que subsídios, outras por tratados come.relaisvantajosos com pafses estrangei-
a exportada. Tanto a objeção quanto a resposta fundam-se na Idéia popu- ros e ainda pela Implantação de colônias em países distantes.
lar que acabei de examinar. Por isso, ê supêrfluo estender-me sobre uma Os drawbacks foram concedidos em duas ocasiões: quando os produ-
e outra. Pela exportação anual de prata às f ndias Orientais, a prataria pro- tos manufaturados do país estavam sujeitos a alguma taxa ou imposto,
vavelmente é um tanto mais cara na Europa do que poderia ser; e a prata muitas vezes no ato de sua exportação se devolvia ao exportador toda a
em moeda provavelmente compra maior quantidade de mão-de-obra e taxa cobrada ou uma parte dela; e quando se importava mercadorias es-
mercadorias. O primeiro desses dois efeitos representa uma perda muito trangeiras sujeitas a algum direito alfandegruio, para exportá-las novamen-
pequena e, o segundo, uma vantagem multo pequena, sendo que ambos te, às vezes reslltu!a-se todo esse direito ou uma parte dele, por ocasião
são excessivamente insl911Uicantes para merecer maior atenção do públi- da reexportação.
co. O comércio com as índias Orientais, por abrir um mercado para as Os subsídios têm sido concedidos para estimular certas manufaturas
mercadorias européias ou, o que equivale mais ou menos à mesma coisa, em fase de implantação ou então outras indústriasconsideradas como me-
para o ouro e a prata que se compram com essas mercadorias, deve ne- recedoras de favores especiais.
cessariamente tender a aumentar a produção anual das mercadorias euro- Através de tratados comerciais vantajosos, têm-se outorgado privilé-
péias e, conseqilentemente, a riqueza e a renda reals da Europa. Se o au- gios especiais ãs mercadorias e aos comerciantes de determinado país,

Autcnsque
-lndulndo
ü
mento até aqui tem sido tão pequeno, Isso se deve, provavelmente, ãs res-
trições às quais esse tipo de comêreío está sujeito em toda parte.
Considerei necessário, embora com o risco de cansar o leitor, exami-
além daqueles concedidos às mercadorias e comerciantes de outros paI-
ses.
Através da implantação de colônias em terras distantes, têm-se outor-
"" nqueza terras, nar detalhadamente esse conceito popular de que a riqueza consiste em gado 113.o somente privilégios especiais, mas muitas vezes um rnonopõlío
casis e bens de dinheiro, vale dizer, no ouro e na prata. Como jc1 observei, o dinheiro, na para as mercadorias e os comerciantes do país que conqulstou essas ter-
oonswno multas
Vezm se esquecem linguagem popular, geralmente significa riqueza; e essa amblgüldade de ras.
des.es.i.,,,...1os expressão nos tomou essa Idéia popular tão familiar que, mesmo aqueles Os dois tipos de restrições às Importações acima mencionados, junta-
mnls liudc. que estão convencidos de se tratar de uma idéia absurda, facilmentese ln- mente com esses quatro estímulos â exportação, constituem os seis meios
cllnam a esquecer seus próprios princípios, fazendo com que, no decurso principaispor melo dos quais o sistema comercial se propõe a aumentar a
de seu radoc[nlo, acabem por considerar essa tese como uma verdade quantidade de ouro e prata em qualquer país, fazendo com que a balança
certa e Indiscutível Alguns dos melhores autores Ingleses que escrevem comercial lhe seja favorável Passarei a considerar cada um desses meios
sobre comércio começam observando que a riqueza de um paJ.s não con- em um capítulo espec.rfico e, sem levar muito em conta sua suposta ten-
siste ape.nas no ouro e na prata, mas em suas terras, casas e nos bens de dência em trazer dinheiro para o país, examinarei sobretudo quais são os
consumo de todos os tipos. No enlanto, no decwso de sua argumenta- efeitos provc1veis de cada um deles para a produção anual do pais. Com
ção, parecem desaparecer de sua memória as terras, as casas e os bens efeito, na medida em que cada um deles tende a aumentar ou a diminuir
de consumo, e ela muitas vezes leva a supor que a riqueza consiste total- o valor da produção nacional anual, cada um deve, evidentemente, ten-
mente em ouro e prata, e que o grande objeti\lQ da manufatura e do co- der a aumentar ou a diminuir a riqueza e a renda reais do pafs.
rnêrdo da nação consiste em multiplicaresses metais.
CAPfruLOll

Restrições à Importação de Mercadorias Estrangeiras que


Podem Ser Produzidas no Próprio País

5ao muUo comuns Ao se restringir,por altas taxas alfandegáriasou por proibiçõesabso-


altas tnxas e lutas, a Importação de bens estrangeiros que podem ser produzidos no
proibições
nssegun,ndo um próprio pais, garante-se mais ou menos o monopóliodo mercado interno
monopólio para para a indústria nacional que produz tais mercadorias.Assim, a proibição
determlnQ de importar gado vivo ou gêneros alimenUcios salgados de países estran-
Indústria nacJonal.
geiros assegura aos criadores de gado da Grã-Bretanhao monopólio do
mercado Interno para a carne de açougue. As altas taxas alfandegáriasim-
postas ã importação de trigo, que em épocas de abundância moderada
equivalem a uma proibição, garantem uma vantagem similar aos cultiva·
dores desse produto. Da mesma forma, a proibição de importar lãs es-
trangeiras favorece os fabricantesde lã. A manufatura da seda, embora
empregue exclusivamente matéria-prima estrangeira, conseguiu recente-
mente a mesma vantagem. A manufatura do linho ainda não a conse-
gulu, mas estão sendo dados grandes passos nesse sentido. Analogamen·
te, muitas outras categorias de manufatureirostêm obtido na Grã-Breta-
nha um monopólio total ou quase total em oposiçãoa seus concidadãos.
A variedade de mercadorias cuja Importaçãoestá proibida na Grã-Breta-
nha, de maneira absoluta ou em certas circunstáncias,supera de muito o
que facilmentesupõem os que não estão bem familiarizados com as leis al-
fandegárias. ·
Elas estimulam a Não cabe dúvida de que esse monopólio do mercado Interno muitas
indOslJla especlJlca vezes dã grande estimulo àquele tipo especificode indústriaque se benefi-
mu nio aumenlam
a atividadegeTal cia dele, e muitas vezes canaliza-paraela um contingentemaiorde mão-de·
nem lhe asseguram obra e de capital da sociedade do que o que de outra forma teria sido em·
a melhor onentaçao. pregado nela. Entretanto, talvez não seja Igualmenteevidente que tal mo-
nopôlío tende a aumentar a atividadegeral da sociedadeou a dar-lhe a di-
reção mais vantajosa.
O número de 1 A atividade geral da sociedade nunca pode ultrapassaraquilo que o
pe$$0<1S emp,egadas capital da sociedade tem condições de empregar. Assim como o número
nlo pode exceder
certa proporç3o do de operários que podem ser empregados por uma determinadapessoa de-
capital da soóedade ve manter certa proporção ao capital que ela possui, da mesma forma o
número de pessoas que podem continuamenteser empregadaspela totali-

377
378 SISTEMAS DE ECONOMIA POúncA RES11!IÇÔES Ã IMPORTAÇÃO DE MERCADORIAS ESmANGEIRAS 379
1'
dade dos membros de uma grande sociedadedeve manter uma certa pro- ~ mercadoriasdesses outros países,para transformarseu comérciode trans-
porção com o capital total dessa sociedade, não podendo jamais ultrapas- 1
, porte em comércio externo de bens de consumo. Da mesma forma, um
sar essa proporção. Não há regulamentocomercialque possa aumentar a , ·- comercianteocupado no comércioexteriorde bens de consumo,quando
quantidade de mão-de-obra em qualquer sociedade além daquilo que o 1 _; recolhe mercadorias para mercados estrangeiros,sempre terá satisfação,
capital tem condições de manter. Poderá apenas desviar parte desse capí- j \ com lucro Igual ou quase igual, em vender o máximopossíveldessas mer-
tal para uma direção para a qual, de outra forma, não teria sido canaliza- cadorias em seu próprio país. Ele poupa a si mesmoo risco e o incômodo
da; outrossim, de maneira alguma há certeza de que essa direção artificial de exportar, sempre que, na medida do passivei,transformaseu cornér-
possa trazer mais vantagens ã sociedade do que aquela que tomaria caso cio externo de bens de consumoem comérciointerno.Se assim posso di-
as coisas camínhassemespontaneamente. ,) zer, o mercado interno é, pois, o centro em tomo do qual circulam conti-
e o Interesse de cada Todo indivíduo empenha-se continuamenteem descobrir a aplicação i j '.. nuamente os capitais dos habitantesde cada país, e para o qual tendem
Individuo leva-o a
pn:JCURJn> cmi,regD"
mais y;mtajasa de toda capital que JX)SS1ti Com efeito, o qulil o indivídu J, ~te-t~ainda qt1e, em virtl:Jde de determinadaschcw1sl.A11-
decapilAI mais tem em vista é sua própria vantagem, e não a da sociedade. Todavia, a i. cias, esses capitais possam às vezes ser desviadosdesse centro e encon-
vantaj()(() para a
sodcd.!,de.
procura de sua própria vantagem individualnatural ou, antes, quase ne- 1
,.,:; trar emprego em lugares ou países mais distantes.Ora, como 16 mostrei,
cessariamente, leva-o a preferir aquela aplicação que acarreta as maiores : ( um capital aplicado no mercado interno necessariamentemovimentaum
1
vantagens para a sociedade. ,.: contingente maior de atividadeinterna e assegurarenda e emprego a um
(1) O lndMduo Em primeiro lugar, todo indivíduo procura empregar seu capital tão 1; contingentemaior de habitantesdo país, do que um capitaligual aplicado
procura apllcar seu
capital o mais perto
próximo de sua residênciaquanto possívele, conseqüentemente,na medi- no comércio externo de bens de consumo; da mesma forma, um capital
p()5Sfvcl de sua da do possível, no apoio e fomento ã atividade nacional, desde que tal Ir
1
empregado no comércio externo de bens de consumo apresenta a mes-
reoldênc!a. aplicação sempre lhe permita auferiro lucro normal do capital, ou ao me- ma vantagem em relação a um capital Igual aplicado no comércio de
nos um lucro que não esteja muito abaixodisso. transporte de mercadorias estrangeiras.Eis por que, em paridadeou qua-
Assim, pois, em paridade ou quase paridade de lucros, todo comer- ª se paridade de lucros, todo individuonaturalmenteestá inclinado a apll-
ciante atacadista prefere naturalmenteo comércioInterno ao comércio ex- . car seu capital da maneira que ofereça as maiores possibilidadesde sus-
temo de bens de consumo e este último ao comércio de transporte de ;,e tentar a atividade Interna e assegurarrenda e emprego ao número rnáxi-
mercadorias estrangeiras.No comércioInterno,seu capital nunca está du- ' mo de pessoasde seu própriopaís.
rante tanto tempo longe de seu controle, como acontece, muitas vezes, (2) Be procura Em segundo lugar, todo individuoque empregaseu capitalno fomen-
no caso do comércioexterno de bens de consumo. Ele tem melhores con- , :0 0~ to da atividadeinterna necessariamenteprocura com isso dirigir essa ativl-
dições dê conhecer o caráter e a situação das pessoas em quem confia e, 1~ pou dade de tal formaque sua produçãotenha o mãxímovalorpossível.
se ocorrer o caso de ser enganado, conhece melhor as leis nacionais das '}. O produto da atividade é aquilo que esta acrescentaao objeto ou às
quais se pode valer para indenizar-se.Em se tratando do comércio de t matérias-primasaos quais é aplicada. Na proporçãoem que o valor desse
transporte de mercadoriasestrangeiras,o capital do comerciante está co- \. produto for grande ou pequeno, da mesma forma o serão os lucros do
mo que dividido entre dois países estrangeiros,sendo que nenhuma das t empregador. Mas, se alguém empregaum capitalpara fomentara ativida-
parcelas necessariamenteé trazidapara casa, nem fica sob sua vista e con- ir- de, assim o faz exclusivamenteem função do lucro; conseqüentemente,
trole imediatos. O capital que um comerciante de Amsterdam emprega ..•. sempre se empenhará no sentido de aplicar esse capital no fomento da-
em transportar trigo de Kõnigsbergpara Lisboa, e frutas e vinhos de Lis- -.~ quela atividadecujo produto é suscetfvel de atingir o valor máximo,isto é,
boa para Kêlnigsberg, em regra, está 50% em Kõnigsberge 50% em Lis- •· daquele produto que possa ser trocado pela quantidade máxima de dl-
boa. Nenhuma parcela desse capital entra necessariamente em Amster- Lii nheiro ou de outras mercadorias.
dam. A residência natural de tal comerciantedeve ser Kõnigsbergou Lís- Ora, a renda anual de cada sociedadeé sempre exatamenteigual ao
r'
1 ,:

boa, e somente circunstânciasmuito especiaispodem induzi-loa preferir 1


1 valor de troca da produção total anual ele sua atividade,ou, mais precisa-
residir em Amsterdarn.Todavia, a intranqililidadeque esse comerciante 1 '" mente, equivaleao citado valor de troca. Portanto,já que cada indívíduo
sente em estar tão longe de seu capital geralmente o leva a trazer parte ' ') procura, na medida do possível, empregarseu capital em fomentara ativl-
tanto das mercadoriasde Kõnigsberg,destinadas ao mercado de Lisboa, .e. dade nacional e dirigir de tal maneiraessa atividadeque seu produto te-
como parte das mercadoriasde Lisboa destinadas ao mercado de Kõnigs- . nha o mâxímo valor possível,cada individuonecessari.amente se esforça
berg, a Amsterdam; e embora isso necessariamenteo obrigue ao duplo ,~ por aumentar ao mãxímo possível a renda anual da sociedade.Geralmen-
ônus de carregar e descarregar,bem como ao pagamento de algumas ta- ·l te, na realidade, ele não tencionapromovero interessepúbliconem sabe
xas alfandegárias,não obstante isso, para poder ter sempre sob suas vis- .1, até que ponto o est.á promovendo.Ao preferir fomentar a atividadedo
tas e controle parte de seu capital, ele se submete de bom grado a esse ~;. país e não de outros países, ele tem em vista apenas sua própriaseguran-
duplo ônus extraordinário.Assim é que todo país que tenha alguma parti- !_' ça;e orientando sua atividadede tal maneira que sua produção possa ser
cipação considerável no comércio de transporte externo de mercadorias J;,' de maior valor, visa apenas a seu próprioganho e, neste, como em mui-
sempre se toma o empório, vale dizer, o mercado geral para as mercado- .Jc tos outros casos, é levado como que por mão invisível a promoverum ob-
rías de todos os diversos países cujo comércioele movimenta. O comer- j~:. jetivo que não fazia parte de suas intenções.Aliás, nem sempre é pior pa-
ciante, a fim de economizarum segundo carregamento e descarregamen- ,i.'f. ra a sociedade que esse objetivonão façaparte das intenções do indíví-
to, sempre procura vender no mercado interno o máximo que pode das ~:{ duo. Ao perseguir seus própriosinteresses,o indivíduomuitasvezes pro-
380 SlSTI:MAS DE ECONOMIA POLITICA RESIBJÇÕES À IMPORTAÇÃODE MERCADORIAS ESTRANGEIRAS 381
move o interesse da sociedade muito mais eficazmente do que quando ten- uma parte apenas - isto é, com apenas uma parte do preço das mercado-
ciona realmente promovê-lo. Nunca ouvi dizer que tenham realizado rias que a atividade empregada por um capital igual teria produzido no
grandes coisas para o pais aqueles que simulam exercer o comércio visan- país, caso se deixasse a atividade nacional seguir seu caminho natural.
do ao bem público. Efetivamente, é um artiffcio não muito comum entre Dessa forma,a·atividadedo país é desviada de um emprego mais vantajo-
os comerciantes, e não são necessárias muitas palavras para dissuadi-los so de capitale canalizadapara um emprego menos vantajoso; conseqüen-
disso. temente, o valor de troca da produção anual do país, ao invés de aumen-
Ele tem multo É evidente que cada indivíduo, na situação local em que se encontra, tar - como pretende o legislador- necessariamentediminui, por força
mals condições de tem muito melhores condições do que qualquer estadista ou legisladorde
avaliar isso do que o de cada normaque imponha tais restriçõesà importação.
esladista. Julgar por si mesmo qual o tipo de atividadenacional no qual pode empre- ÂJ vezes, em wtude Sem dúvida, tais restriçõesàs vezes permitem que possamos adquirir
gar seu capital, e cujo produto tenha probabilidade de alcançar o valor das restrlções a determinada mercadoriacom maior rapidez do que se ela tivesseque ser
Importação, uma
li m6xiroo O estacilsta....que.Jentasse_orieotar pessoas parti nídnwzífurií põdê ser h11po,tada e, depois de cetlo tempo, ela pode1a sei fabricada a preço mo
mo devem empregar seu capital não somente se sobrecarregaria com estabelecida com baixo ou até mais baixo do que a mercadoriaproduzidafora do país. Em-
malor tapldoz do
uma preocupação altamente desnecessária, mas também assumiria uma que ocorreria de bora, porém, a atividadeda sociedade possa ser dessa forma dirigida com
autoridadeque seguramente não pode ser confiada nem a uma pessoa in- oulra lorma, mu em vantagem para um canal espedfico mais rapidamentedo que de outra for-
dividual nem mesmo a alguma assembléia ou conselho, e que em lugar al- compensação o
Ddlmulo de c:op!IBJ ma aconteceria,de maneira alguma resulta que tal regulamentorestritivo
gum seria tão perigosa como nas mãos de uma pessoa com insensateze seria mais lenlo, possa jamais aumentar a soma total da atividade ou da renda do pais. A
presunçãosuficientespara imaginar-secapaz de exercer tal autoridade. atividade da sociedade só pode aumentar na proporção em que aumenta
rua11as1:axas Outorgar o monopólio do mercado Interno ao produto da atividade seu capital, e este só pode aumentar na proporção em que se puder au-
allandeganas e as nacional,em qualquer arte ou ofício, equivale, de certo modo, a orientar
prol~de mentar o que se poupa gradualmente de sua renda. Mas o efeito imediato
pessoas particularessobre como devem empregar seus capitais- o que, de todas essas restriçõesàs importações é diminulra renda do país, e o

l
Importar Induzem as
peSSOaS a e:mpregi,r em quase todos os casos, representa uma norma inútil, ou danosa. Se os que dimlnul essa renda certamente não tem muita probabilidade de au-
capital em p,roduz!r
no pefsaqullo que produtos fabricadosno pais podem ser nele comprados tão barato quanto 1 mentar o capital da sociedade mais rapidamente do que teria aumentado
poder:lam comprar 1 os importados,a medida é evidentemente inútil. Se, porém, o preço do espontaneamente,caso se tivesse deixado o capitale a atividadeencontra-
rMls bont.lo do
extertor.
~
·
1 produto nacional for mais elevado que o do importado, a norma é neces- 1 rem seus empregosnaturais.
1 sariamente prejudicial.Todo pai de familia prudente tem como princípio e o pais semJ)fe Ainda que, não havendo tais restrições às importações,a sociedade
,jamais tentar fazer em casa aquilo que custa mais fabricar do que com· podem, connnw.r
exatamente !lo rico
nunca viesse a adquirir o produto manufaturado proposto, nem por isso
'prar, O alfaiate não tenta fazer seus próprios sapatos, mas compra-os do quanto o serla se ela ficaria mais pobre, em qualquer período de sua existência Em cada
sapateiro. O sapateiro não tenra fazer suas próprias roupas, e sim utiliza nunca live5$e período de sua existência,o total do capital e da atividade do peís conti-
adquirido a
os serviçosde um alfaiate. O agricultornão tenta fazer ele mesmo seus sa- manulalUfll. nuaria a poder ser empregado, embora aplicando-o a objetos diferentes,
patos ou sua roupa, porém recorre aos dois profissionaiscitados. Todos da maneira mais vantajosa no respectivoperíodo. Em cada período a ren-
eles consideram de seu interesse empregar toda sua atividade de forma da do país poderia ter sido a mãxíma que seu capital poderia permitir, e
que aufiram alguma vantagem sobre seus vizinhos,comprando com uma tanto o capitalcomo a renda poderiam ter aumentado com a máximarapi-
parcela de sua produção - ou, o que é a mesma coisa, com o preço de dez possível.
uma parcela dela - tudo o mais de que tiveremnecessidade. Nlnguffll propõe As vantagensnaturais que um país tem sobre outros na produção de
Tanloparaum O que é prudente na conduta de qualquer famllla particular dificil- que um pa(s lute determinadas mercadoriaspor vezes são tão relevantes que todo mundo
lndMduo como patll conlr.i grandes
uma neção ê
mente constituiráInsensatez na conduta de um grande reino. Se um pais vanlllgens nalllrills, reconhece ser inútil pretender concorrer com esses outros países. Utilizan-
lruensotez produzir estrangeiroestiver em condições de nos fornecer uma mercadoria a preço ITl!IS4wnbo!m do vidros, viveiros e estufas pode-se cultivar excelentes uvas na Escócia,
absurdo lu!Dr conlra
aquilo que se pode
comprar mals barato
mais baixo do que o da mercadoria fabricada por nós mesmos, é melhor vanlllgens menores, podendo-se com elas fabricarvinhos muito bons, com uma despesa apro-
de outros. / comprá-lacom uma parcela da produção de nossa própria atividade,em· quer naturals quer ximadamentetrinta vezes superior àquela com a qual se pode importarde
pregada de forma que possamos auferir alguma vantagem. A atividadege- adquiridas. outros países vinhos pelo menos da mesma qualidade. Seria porventura
ral de um pais, por ser sempre proporcionalao capital que lhe dá empre- uma lei racionalproibira importação de todos os vinhos estrangeiros,sim-
/ go, não diminuirácom isso, da mesma forma como não diminuía ativida- plesmente para incentivara fabricaçãode vinho clarete e borgonha? Ora,
- /,
de dos profissionaisacima mencionados; o que apenas resta é descobrir a se é verdade que seria absurdo evidente canalizar para algum emprego
maneira pela qual ela pode ser aplicada para trazer a maior vantagem pos- tlinta vezes mais capital e atividade nacionais do que o necessário para
I ' sível Ora, certamente essa atividade não é empregada com o máximo de comprar de fora quantidade igual das mercadoriasdesejadas, logicamente
vantagem se for dirigida para um produto que é mais barato quando se é também absurdo, ainda que não tão gritante, mas certamente do mes-
compra do que quando se fabrica O valor da produção anual da ativida- mo gênero, canalizar para tal emprego a trigésimaou até mesmo a trigen-
de do país certamente diminui mais ou menos quando ele é artificialmen- tésima parte mais de. capitale de atividade. Sob este aspecto, não interes-
te impedido de produzir mercadorias que evidentemente têm mais valor < r 1 sa se as vantagensque um país leva sobre outro são naturais ou adquiri-
do que a mercadoria que está orientado a produzir. Segundo se supõe, a -..., 1 das. Enquanto um dos países tiver estas vantagens, e outro desejar parti-
respectiva mercadoria poderia ser comprada fora a preço mais baixo do lhar delas, sempre será mais vantajoso para este Cíltimo comprar do que
que custa produzi-la no país. Por isso, poderia ter sido comprada com .fabricarele mesmo. A vantagem que um artesão tem sobre seu vizinho,
j,
RES11UÇÕESÃ IMPORTAÇÃO DE MERCADORIAS ESTRANGElRA5 383
382 SISTEMAS DE ECONOMIA POÚllCA 1

·~
,_.l
do irlandês. Sem dúvida, pelo que se conta, o povo da Irlandaàs vezes opôs
que exerce outra profissão, é apenas uma vantagem adquirida; no entan- ;,'.~ forte resistência à exportação de seu gado. Entretanto, se os exportadores
'.>- ' to, os dois consideram mais vantajoso comprar de um outro artesão, do ., . tivessem vislumbrado alguma grande vantagem em continuar a exportar,
que cada um fazeraquilo que não é do seu ofício específico. com facilidadeteriam podido, quando a lei os favorecia,esperar essa opo-
Os comerciantes e • , f Os comerciantes e os manufatores são aqueles que auferem a maior siçãotumultuosa.
co manufato<es l vantagem desse monopólio do mercado interno. A proibição de importar Além disso, as regiões de alimentaçãoe engorda de gado sempre pre-
eu!erem o melor Ela poderla atê
benefldo das altos gado estrangeiro e mantimentos salgados, bem como as altas taxas alfan- benetider as cisam ser altamente aprimoradas,ao passo que as regiões de criaçãogeral-
talCIIS e das degárias sobre cereais importados, que em épocas de fartura moderada p1an1c1es. a custa mente são incultas. O alto preço do gado magro, pelo fato de aumentar o
proibições. equivalem praticamente a uma proibição de importar, não trazem tantas dos dlstrltos
montanhooco. valor da terra inculta, é como que um subsídio contra o aprimoramento
vantagens para os criadores de gado e os agricultoresda Grã-Bretanha acidentados. da terra. Para qualquer região que estivessebem cultivada,seria mais van-
quanto outras restrições do mesmo tipo proporcionamaos que comerciali- --Hi tajoso impos:tar&QU gado magro do que criá-lo E els por que, seg11odo se
----1za"'"'m.,_.,e_,a-os-qu~ufaturarn-es respectivasmerc:r.dorias. Os produtos-mzr- diz, a província da Holanda passou atualmente a adotar essa máxima As
nufaturados, especialmenteos de tipo mais refinado, são transportadosde montanhas da Escócia, de Gales e de Northumberland,certamente, não
um país a outro com maior facilidade do que os cereais ou o gado. Eis comportam grande aprimoramento das terras e parecem por naturezades-
por que o comércio exterior se ocupa mais com a procura e transporte de tinadas a ser regiões de criação de gado da Grã-Bretanha.A plena liberda-
produtos manufaturados. Em se tratando destes, basta uma vantagem de de Importação de gado estrangeiro não poderia ter outro efeito senão
muito pequena para possibilitaraos estrangeirosvenderem abaixo do pre- impedir essas regiões criadoras de tirar vantagem do aumento de popula-
ço aos nossos próprios trabalhadores, mesmo no mercado interno. Ao ção e do aprimoramento do resto do reino, de elevar seu preço a um ní-
contrario, requer-se uma vantagem muito grande para possibilitar-lhesfa- vel exorbitante, e de impor um imposto real às regiões mais aprimoradas
zer o mesmo no caso dos produtos naturais do solo. Caso se permitissea ~I
e cultivadasdo país.
livre importação de manufaturados estrangeiros,vários manufaturadosna- Da mesma forma, também a plena liberdade de importar mantimen-
cionais provavelmente sofreriam prejuízo, alguns deles talvez até ficas- 4 T ambtm o 1lvTc
lmpatllçlo d• tos salgados poderia ter tão pouco efeito sobre os interessesdos criadores
sem totalmente arruinados e uma parcela consideráveldo capital e da ati- gêneIOS salgados de gado da Grã-Bretanha quanto a de gado vivo. Os mantimentossalga-
pouca clllerença
vidade empregada neles seria forçada a encontrar outra aplicação. Entre- awmana para 05 dos não somente constituem uma mercadoriamuito volumosa,como tam-
tanto, a Importação mais livre da produção natural do solo não poderia criadores de gado; bém, comparados à carne fresca, constituem uma mercadoriade qualida-
ter esse efeito sobre a agriculturado país. de inferior e também mais cara, por exigiremmais mão-de-obra e gastos.
A Dvre importaçAo Se um dia, por exemplo, se desse liberdade tão grande de importar Por esse motivo, nunca poderiam competir com a carne fresca, embora ti-
de gado estn,ngeiro gado estrangeiro, a quantidade que se importariaseria tão pequena que a vessem condições de competir com os mantimentossalgados do país. Po-
não acarretana criação de gado no país pouco seria afetada com isso. O gado vivo, tal-
~ndediferençe deriam ser utilizadospara abastecer navios em viagens distantese outras
para os aiadores vez, seja a única mercadoria cujo transporte é mais caro por mar do que finalidadesdo mesmo gênero, mas Jamais constituirparte considerávelda
de gado por terra. Se o transporte for terrestre, é o próprio gado que se transporta alimentação do povo. A pequena quantidade de mantimentos salgados
da Gl'!·Bretanhe.
ao mercado. No caso do transporte maritimo, é preciso transportar, com importados da lrlanda desde que a importação foi liberada constitui uma
grandes despesas e inconvenientes, não somente o gado, mas também a !.
prova experimental de que nossos criadores de gado nada têm a temer
ração e água de que ele necessita durante a viagem. Sem dúvida, o fato dessa medida. Não há evidênciade que o preço da carne de açougue ja-
de ser pequena a dístãncía marítima entre a Irlandae a Grã-Bretanha tor-
na mais fácil a importação de gado irlandês. Entretanto, embora a livre im- lt.
eat!a livre
maislenha sido seriamenteafetado por ela.
Mesmo a livre importação de cereais estrangeirospouco poderia afe-
portação - ultimamente permitida somente por um período limitado- tar os interesses dos agricultoresda Grã-Bretanha.Os cereais representam
tenha sido autorizada para prazo indeterminado,não teria maiores efeitos
para os interesses dos criadores de gado da Grã-Bretanha. As regiões da
l'I
lmponaç!o de
cereehn!!ool~
multo 05
' arrendatArios da
uma mercadoria muito mais volumosa do que a carne de açougue. Uma
Ubra de trigo ao preço de 1 pêní é tão cara como 1 libra de carne de açou-
Grã-Bretanha que confinam com o mar da Irlanda são todas criadoras de tl%T8S. gue a 4 pence. A quantidade reduzida de cereais importados,mesmo em
gado. Nunca houve condições de importar gado irlandês para o consumo épocas da maior escassez, demonstra aos nossos agricultoresque nada
nessas regiões, devendo ele então ter sido transportado através dessas re- têm a temer dessa liberdade de importação. Segundo o multo bem infor-
giões muito extensas, com grandes despesas e inconvenientes, antes de mado autor de folhetos sobre o comércio de cereais, a quantidade média
chegar ao seu mercado apropriado. Não havia possibilidadede transpor- :1-;•• .) 1< ' importada anualmente monta apenas a 23 728 quarters de todos os tipos
tar gado gordo a tão grande distância. Portanto, só era possível importar de cereais, não ultrapassando 1/571 do consumo anual. Todavia, assim
gado magro; essa importação podia prejudicar aos interesses das regiõeS como o subsidio concedido ao trigo gera um aumento de exportação
criadoras de gado e não aos interesses das regiões de alimentação e en- maior em anos de fartura, da mesma forma deve gerar um aumento de
gorda de gado, já que para estas a importação antes traria certas vanta- importação em anos de escassez maior do que ocorreriano estado real do
gens, com a redução do preço do gado magro. O reduzido número de ca- cultivo. Desse modo, a abundância de um ano não compensa a escassez
beças de gado irlandês importadas desde a permissão de importação, de outro, e assim como desse modo a quantidade média exportada ê for-
bem como o bom preço pelo qual se continua a vender o gado magro,pa- çosamente aumentada, da mesma forma deve aumentar a quantidade im-
recem demonstrar que mesmo as regiões criadoras da Grã-Bretanha nun- portada, no estado real do cultivo. Se não houvesse subsídio,pelo fato de
ca terão probabilidade de ser muito afetadas pela livre importação de ga-
384 SISTEMAS OE ECONOMIA POLITICA RESTRIÇÕES À IMPORTAÇÃO DE MERCAOORW; ESTRA1'GEIRAS 3ó5
ê necessatta para a
se exportar menos trigo, é provável que também se importasse menos do delesa, do pois, pio, depende muito do número de seus marujos e navios. Por isso, a lei
que agora um ano pelo outro. Os comerciantes de trigo que fazem enco- como a navtga~o. sobre a navegação, com muita propriedade, procura assegurar aos mari-
que ê
mendas e se encarregam do transporte de trigo entre a Grã-Bretanha e adequadamen1e nheiros e à esquadra britânicos o monopólio do comércio de seu próprio
outros países teriam muito menos ocupação e poderiam ser consideravel- l!Slimulada pela le! país; em certos casos, através de proibições absolutas e, em outros, im-
mente prejudicados; os aristocratas rurais e os arrendatários, porém, mui- sobre a nawgaçAo,
pondo pesadas restrições à navegação de outros países. Os principais dis-
to pouco seriam afetados. Eís por que foi entre os comerciantes de trigo, positivos dessa lei são os seguintes:
mais do que entre os aristocratas rurais e arrendatários, que pude obser- Primeiro, todos os navios cujos donos, capitães e 3/4 da bipula~o
var as maiores preocupações pela renovação e continuidade do subsídio. não forem súditos britânicos, estão proibidos, sob pena de confisco do na-
Os aruiocratas rurais Para grande honra dos aristocratas rurais e arrendatários, dentre to- vio e da carga, de comercializar em colônias e estabelecimentos britânicos
e arrendn!Arlos de das as pessoas são eles os menos propensos ao mesquinho espfrito de mo- ou de participar do comércio de cabotagem da Grã-Bretanha.
rerres sao menos
nopólio. O dono de uma grande manufatura As vezes se alarma com o es- SeQUndo. nr,,nrlo ""'""..i~..i- .J __ - .~
tabelecimento de outro empreendimento do mesmo npo num raio de
. -.,w ~e biiponãçao mais volumo-
sos sõ pode ser introduzida na Grã-Bretanha por navios nas condições aci-
milhas de distância. O proprietário holandês da manufatura de lã em Ab- ma descritas ou por navios do país produtor dessas mercadorias, cujos
beville estipulou que não se estabelecesse nenhum empreendimento do proprietários, capitães e 3/4 da tripulação pertençam ao respectivo país; e
mesmo tipo no limite de 30 léguas daquela cidade. Ao contrário, os arren- quando tais mercadorias são importadas, mesmo por navios nessas condi-
datários e aristocratas rurais em geral mostram-se mais dispostos a promo- ções, têm que pagar o dobro da taxa incidente sobre importação. Se Im-
ver do que a obstruir o cultivo e a melhoria das propriedades de seus vizi- portadas em navios de quaJquer outro país, a penalidade é o confisco do
nhos. Não têm segredos, tais como os da malor parte dos manufatores, e navio e da carga Ao se promulgar essa lei, os holandeses eram, como
geralmente gostam de comunicar a seus vizinhos e de diwlgar ao máxi- continuam sendo hoje, os grandes transportadores da Europa; em virtude
mo possível qualquer nova prática que tenham constatado ser vantajosa. dessa lei, foram totalmente excluídos da r.ondição de transportadores para
Pius Questus - afirma Catão, o Velho - stabilisslmusque, minimeque in- a Grã-Bretanha ou de importar para ela mercadorias de qualquer outro
uldiosus minimeque ma/e cogitantes sunt, qui in eo studio occupati sunt..' país europeu.
Os aristocratas rurais e arrendatários, dispersos em regiões diferentes do Terceiro, a citada lei proíbe importar grande número das mercadorias
país, não têm a mesma facilidade de se associar que os comerciantes e de importação mais volumosas, mesmo em navios britânicos, a partir de
que os fabricantes, que, por viver concentrados nas cidades e por estar ha- qualquer país que não seja o país produtor, sob pena de confisco do na-
bituados a esse espírito de corporação que predomina entre eles, natural- vio e da carga Também essa restrição provavelmente visava aos holande-
mente se empenham em conseguir em oposição a seus concidadãos o ses. Tanto hoje como na época, a Holanda era o grande empório para to-
mesmo privilégio exclusivo que geralmente possuem em oposição aos ha- das as mercadorias européias, sendo que com essa lei se proibiu que os
bitantes de suas respectivas cidades. Por isso, parecem ter sido eles os prí- navios britânicos carregassem em portos holandeses mercadorias de quaJ-
meíros inventores dessas restrições à importação de mercadorias estrangei- quer outro país europeu.
ras, que lhes asseguram o monopólio do mercado interno. Foi, provavel- Quarto, o peixe salgado de qualquer tipo, barbatanas, ossos, gordura
mente, à imitação deles e para. colocarem-se em pé de Igualdade com e óleo de baleias não capturadas por navios britânicos ou não defumadas
aqueles que, em seu entender, queriam oprimi-los, que os arrendatários e a bordo deles, no caso de serem importados pela Grã-Bretanha, estão su-
aristocratas rurais da Grã-Bretanha esqueceram a generosidade resultante jeitos a pagar o dobro da taxa para ímportaçãe, Os holandeses, que ainda
de sua situação, passando a exigir o privilégio exclusivo de fornecer a hoje são os principais pescadores da Europa que se empenham em forne-
seus concidadãos trigo e carne de açougue. Talvez não se tenham dado cer peixe a outras nações, eram na época os únicos. Essa lei impós restri-
ao trabalho de considerar que a liberdade de comércio prejudica muito ções muito pesadas aos fornecimentos da Holanda à Grã-Bretanha.
uma lei s6bta,
menos os seus interesses do que os dos comerciantes e manufatores cujos mboni ditada pela Ao se promulgar a lei sobre a navegação, embora a Inglaterra e a Ho-
exemplos seguiram. . nlmosldade, landa não estivessem efetivamente em guerra, subsistia a animosidade
A proiblç&o de Proibir, por uma lei perpétua, a Importação de trigo e gado estrangei- mais violenta entre as duas nações. Ela havia começado durante o gover-
lmpor1M cereais e ros, na realidade equivale a determinar que a população e a atividade de no do Parlamento Longo que primeiro projetou essa lei, e irrompeu logo
gado estrangeiros um país nunca devem ultrapassar aquilo que a produção natural de seu
lirnlta a populaçAo. depois nas guerras holandesas, durante o governo do Protetor e de Car-
solo tem condições de sustentar. . los U. É possível, pois, que algumas das medidas decretadas por essa fa-
HA dois cases r • ' Contudo, parece haver dois casos nos quais geralmente sera vantalo- mosa lei tenham se originado dessa animosidade entre as duas nações.
excepcionais: C--C. so Impor alguma restrição à atividade estrangeira, para estimular a naoo- Todavia, essas medidas são tão sábias como se todas elas tivessem sido di-
na!. tadas pela mais prudente sabedoria. A animosidade nacional daquela épo-
(1) qwindo uma
O primeiro ocorre quando se trata de um tipo específico de atividade ca em especial visava exatamente ao mesmo objetivo que teria sido re-
atividade especifica necessária para a defesa do país. A defesa da Grã-Bretanha, por exem- compensado pela mais prudente sabedoria, Isto é, a redução do poder na-
val da Holanda, a única de poder naval capaz então de pôr em risco a se-
gurança da Inglaterra
desfavoraveJ ao
Questo, \lllrlO multo 5Õl1do e de forma alguma Invejoso; os que se dedicaram a essa ocupação (egn ·
1 •• Pio êrdo exwrlor; A lei da navegação não favorece o comércio externo nem o cresci-
cultura) de maneira~ têm rrw lnll?nçOa. .. De Rt Rustica, ad lnit. !N do T.I mento da riqueza que dele pode decorrer. O interesse de uma nação em
RESTRIÇÕES Â IMPORTAÇÃO DE MERCADORIAS ESTRANGEIPAS 387
386 SISTEMAS DE ECONOMIA POúnCA

suas relações comerciais com países estrangeiros,tanto quanto o de um que encarece a mão-de-obra que a produz. Argumentam,pois, que tais ta-
comerciante em relação a todas as pessoas com as quais comercializa, é xas são, na realidade, equivalentesa uma taxa impostaa cada mercadoria
comprar mais barato e vender o mais caro possível.Mas há para a nação específica produzida no país. Portanto, acrescentamque, se quisermosco-
maior probabilidadede comprar barato quando, através da máximaliber- locar a indústria nacional em pé de Igualdadecom a estrangeira,é neces-
dade de comércio, ela estimula todas as nações a exportarempara ela os sano impor alguma taxa a todas as mercadorias estrangeiras,taxa essa
bens que preósa comprar; pela mesma razão, terá a mãxímaprobabilida- equivalente a esse aumento do preço das mercadoriasnacionaiscom as
de de vender caro, quando seus mercados são procuradospelo maior nú- quais elas podem vir a concorrer.
mero possívelde compradores. É verdade que a lei da navegaçãonão im- mas axlste uma Mais adiante, quando tratar dos impostos, direi se as taxas Impostas
põe restrições a navios estrangeiros que exportam produtos da indústria dlfarença, aos artigos de maior necessidade, tais como na Grã-Bretanha,ao sabão,
britânica.Mesmo a antiga taxa estrangeira,que se costumavapagar sobre ao sal, ao couro, às velas etc., necessariamenteaumentam o preço da
mercadorias exportadas ou importadas, foi suprimida,através de mão-de-obra e, consequentemente, o de todas as outras mercadorias.
várias leis subsequentes, para a maior parte aos artigosae exportaçeo.c:.11- esmo aclmitindo,porém, que as taxas tenham esse eleito - como o
tretanto, se lmpedinnos os estrangeiros,por proibiçõesou por altas taxas, têm sem dúvida -, esse aumento geral do preço de todas as mercado-
de virem em nosso país, nem sempre eles poderão permitir-se vir com- rias, em decorrência do aumento do preço da mão-de-obra, consôtulum
prar de nós, já que, se vierem sem carga, necessariamenteperderão o fre- caso que difere, sob dois aspectos que passareia apontar, do aumento de
te de seu país para a Grã-Bretanha. Ao diminuirmos,portanto, o número preço de uma mercadoria específica,cujo preço aumentou em virrudede
de vendedores necessariamente reduziremoso número de compradores uma taxa específicaque lhe foi imediatamenteimposta.
e, com Isso, provavelmente não só teremos que comprar mercadoriases- pois (a) nAo hã Em primeiro lugar, é sempre possível saber com grande exatidão
trangelras mais caro, como também vender as nossas mais barato do que pDISibilldade de se quanto é o aumento de preço provocado pela taxa imposta a tal mercado-
conhecer ria; em contrapartida, nunca será possívelverificar com exatidão aceitável
se houvesse uma liberdade maior de comércio.Visto que, porém, a defe- exaiammte o efeito
sa é muito mais Importante do que a riqueza,a lei da navegaçãorepresen- das lalW sobre até que ponto o aumento geral do preço da mão-de-obra pode afetar o
ta, possivelmente,a mais sábia de todas as leis comeróals da Inglaterra.
~eras ele primeira aumento do preço de cada mercadoria específicaem que se emprega es-
necessidade.
O segundo caso, em que geralmente será vantajoso Impor alguma sa mão-de-obra. Por conseguinte, seria impossívelestabelecer uma pro-
e (2) quando e>?stt
restrição à Indústria estrangeira para estimulara nacional, ocorre quando porção razoavelmente precisa entre a taxa Impostaa cada mercadoriaes-
mxa JObre o produto
da manufatura dentro do país se impõe alguma taxa aos produtos nacionais.Nesse caso, trangeira e esse aumento do preço de cada mercadorianacional.
nacional slmlla.r.
parece razoávelimpor uma taxa igual ao produto similardo país estrangei- e (b) as Em segundo lugar, as taxas impostas a artigos de maior necessidade
ro. Isso não asseguraria à lndústlia nacionalo monopóliodo mercado in- lllM sobre ~eras têm mais ou menos o mesmo efeito sobre as condiçõesda populaçãoque
de primeira um solo pobre e um clima desfavorável.Tals taxas encarecem os gêneros
terno, nem canalizariapara um emprego especificouma parcelade capital necessidade sao
e de mão-de-obra do pais maior do que a que naturalmentepara ele seria oomo o solo pobre e da mesma forma como se fossem necessArios um trabalho e uma despesa
canalizada. Somente pelo imposto se impediriade ser desviadapara uma
o clima
desfavor6ve1: n&o
extraordinAriapara cultivá-lose colhê-los.Assim como, no caso da escas-
direção menos natural alguma parcela daquilo que naruralmenteseria ca- JU51ificam a tenllltiva sez natural decorrente da pobreza do solo e das más condiçõesclimáticas,
nalizado para esse emprego, e se deixariaa concorrênciaentre a indústria de dirigir o capital seria absurdo orientar as pessoas sobre como devem empregar seus capi-
para wna apllcaç&o
estrangeirae a nacional, depois do Imposto,o mais possívelno mesmo nl- artl6dal. tais e seu trabalho, o mesmo acontece em se tratando da escassez artificial
vel que antes. Na Grã-Bretanha, quando se impõe essa taxa aos produtos dos gêneros, decorrente de tais taxas. Nos dois casos, é evidente que o
da indústria nacional, costuma-se, ao mesmo tempo, a fim de atender às mais vantajoso para as pessoas é deixar que elas se adaptem da melhor
queixas clamorosas de nossos comerciantese manufatores- de que seus forma que puderem ao seu trabalho e sua situação, e que descubram
aqueles empregos nos quais, apesar das circunstânciasdesfavoráveis,pos-
produtos terão que ser vendidos a preço mais baixo no país -, impor
uma taxa alfandegâria muito mais pesada à importaçãpde todos os produ- sam auferir alguma vantagem no mercado Interno ou no exterior. Impor·
lhes uma nova taxa, pelo fato de já estarem sobrecarregadosde taxas, e
1
tos estrangeirosdo mesmo tipo. de que jâ pagam demais pelos gêneros de maior necessidade, fazendo-
De acordo com alguns, essa segunda limitaçãoà liberdadede comér-
Alguns dizem que
cio deveria, em certos casos, ser estendida muito além das mercadoriases- lhes pagar também demasiado caro parte das outras mercadorias,certa-
essa principio
just!Sca uma trangeiras que poderiam competir com aquelas anteriormentetaxadas no mente constituia maneira mais absurda de remediaro mal.
lmposiç!o geral de
país. Alegam que, quando se taxam os artigos de maior necessidade em Taicas sobre gêneros Tais taxas, quando atingem certo montante, representam uma praga
W<U al!andeg6rlas de prlmelra igual à esterilidade da terra e à ínclemênda do tempo; não obstante isso,
sobre lmporu,ç3o um país, é conveniente taxar, não somente os artigos de necessidadesimi- necessidade ~o
pan oontrabala.nçar lares importados de outros patses, mas também todos os tiposde mercado· mals comuns nos
tem sido nos países mais ricos e mais operosos que elas têm sido geral-
taxas NCOlhlÓ4S
rias estrangeirasque possam vir a concorrer com qualquer produto nado· pa!ses rlcoo, IA que mente impostas. Países mais pobres não conseguiriamsuportar tal desor-
Internamente sobre
gtneros de prtmelra nal. Salientam que a subsistência se toma inelutavelmentemals cara em
nenhum outro
poderia supo!IA-las.
dem. Assim como somente os organismos mais fortes têm condições de
necessidade,
conseqüência de tais taxas, e que o preço da mão-de-obra também subirá sobreviver e gozar saúde em um regime não sadio, da mesma forma so-
sempre com o aumento do preço da manutenção dos trabalhadores. Por mente conseguirão subsistire prosperar com tais taxas as nações que em
isso, toda mercadoria produzida dentro do país, ainda que não seja lm~- qualquer tipo de trabalho têm as maiores vantagens naturais e adquiridas.
diatamente taxada, toma-se mais cara em decorrência de tais taxas, Já A Holanda é o país europeu em que mais abundam essas taxas, e que,
RESTRJÇÔES À IMPORTAÇÃO OE MERCAOORIAS ES11!ANGEIRAS 389

388 SISTEMAS DE ECONOMIA POÚTICA são sempre os mesmos, mas antes compete à habilidadedesse animal insi-
em razão de circunstânciaspeculiares, continua a prosperar, não por cau- dioso e astuto, vulgarmentedenominado estadistaou político,cujos conse-
sa dessas taxas - como se tem suposto absurdamente- mas a despeito lhos se orientam pelas flutuações momentâneas dos negócios. Quando
não há nenhuma probabilidade de conseguir a supressão das medidas
\ delas. que oprimem o nosso comércio,parece ser mau método compensaro da-
Assim como hA dois casos em que geralmenteserá vantajoso impor
HA duas outms no infligidoa certas classes da nossa população, retrucandonós mesmos
exceções passiveis alguma taxa a produtos estrangeirospara Incentivar a produção nacional,
eo principio geral: da mesma forma existem dois outros em que, às vezes, pode ser matéria com retaliações prejudiciaisque não afetarão somente essas classes, mas
de deliberação:no primeiro, até que ponto é indicadocontinuar a permi- praticamente todas as categorias da população. Quando nossos viZinhos
tir a livre Importação de certas mercadoriasestrangeiras;no segundo, até prolbem a importação de algum manufaturado nosso, costumamosproi-
que ponto, ou de que maneira, pode ser aconselhévelreintroduzirtal liber- bir não somente a importaçãoda mesma mercadoria- já que somenteis-
dade de importação,depois de ela ter sido sustadapor algumtempo. to dificilmenteos afetaria muito - mas também alguma outra mercadoria
11 la reialiaçAo O caso em que às vezes pode ser convenienterefletir até que ponto deles. Sem dúvida, isso pode estimularalguma categoriade trabalhadores
--- é riconselllâvel-continuar-a..,impOrtarcertas mercadoriasestrangeirasocor- c:ton~(s.r,pot exduit alguns-d~pode-dar-lhes-a-possibili 1
re quando alguma nação estrangeira restringe,atravésde altas taxas alfan- dade de aumentar o seu preço no mercado Interno. Todavia,os trabalha-
degárias, ou através de proibições, a importação de algumas de nossas dores que sofreram com a proibiçãoimposta pelos nossosvizinhos não se-
mercadorias pelo seu pars. Nesse caso, a vingançanaturalmentedita a re- rão beneficiados pela nossa proibição. Pelo contrário,eles e quase todas
taliação, que nos leva a impor taxas aduaneirasIguais e as mesmas proibi- as outras classes da nossa população serão com isso obrigadosa pagar
ções à importação por nosso país de algumasou de todas as mercadorias certas mercadorias mais caro do que antes. Por isso, toda lei desse gênero
da respectivanação. Eis por que é raro as nações deixaremde retaliardes- Impõe uma taxa real ao país inteiro,não em favor daquela categoriaespe-
sa maneira. Os francesestêm favorecidode maneiraparticularsuas manufa- cifica de trabalhadores que foi lesada pela proibíção dos nossos vizinhos,
turas, restringindoa importação de mercadoriasestrangeirasque pudes- mas em favor de alguma outra categoria.
sem concorrer com elas. Nisso consistiugrande parte da política do Sr. O caso sobre o qual, às vezes, pode ser convenienterefletir até que
(2) pode ser
Colbert, o qual, a despeito de sua grande habilidade,nesse caso parece desej6ucl pera ponto e de que maneira é Indicadorestabelecera Uvre importaçãode mer-
ter sido vencido pelos sofismasde comerciantese fabricantes,que sempre lnlroduz!r a cadorias estrangeiras, depois de ela ter sido sustada por algum tempo,
LberdaM de
exigem monopólio face a seus concidadãos.Atualmente,as pessoas mais comtrdo, lenta e ocorre quando determinados produtos manufaturados,devido às altas ta-
inteligentes da França estão convencidas de que tais medidas de Colbert gn,da.tivamente xas ou proibições impostas a todas as mercadoriasestrangeiras que po-
não beneficiaramo pars. Mediante a tarifa de 1667, aquele ministro im- dem vir a concorrer com eles, foram ampliadosde maneira a exigir o em-
pôs taxas aduaneiras extremamente altas a um grande número de manu- prego de grande quantidade de mão-de-obra. Nesse caso, o espírito de
faturados estrangeiros. Corno ele se recusasse a mitigá-las em favor dos humanidade pode exigir que a liberdade de comércioseja restauradaape-
holandeses, estes, em 1671, proibiram a Importaçãode vinhos, conha- nas lenta e gradativamente,com boa dose de reserva e ponderação.Se
Entretanto, a
ques e manufaturados da França. A guerra de 1672 parece ter sido, em desordem gemda essas altas taxas e proibiçõesfossemabolidas de uma s6 vez, haveriao pe-
parte, provocada por essa disputa comercial. A paz de Nimega pôs fim a pela sua lntroduçJ!o rigo de mercadorias estrangeiras mais baratas do mesmo tipo invadirem
repentina seria tão rapidamente o mercado interno que imedíatarnentemuitos milhares
essa disputa, em 1678, suavizando algumasdessas taxas em favor dos ho- menor do que se
landeses que, por seu turno, suprimiramsua proibição de importações. supõe, J6 que de nossos cidadãos ficassem privados de seu emprego normal e dos
Foi mais ou menos na mesma época que os francesese inglesescomeça- meios de subsistência. Poderia certamente ser de proporções considerá-
ram a prejudicar a indústria uns dos outros, recorrendo às mesmas taxas veis o problema criado por tal medida Entretanto,é sumamenteprovável
aduaneiras e proibições,sendo que coube aos franceses.parece, ter dado que seria uma desordem multo menor do que se costuma imaginar. Isso
o primeiro passo. O espírlto de hostilidadeque passou a subsistirentre as pelas duas razões que seguem.
duas nações desde então tem impedido até agora a mitigaçãodessas me- Primeira, a liberdade total de importação de mercadoriasestrangeiras
(a l não sena alelada
didas, dos dois lados. Em 1697, os ingleses proibiram a importação de nenhuma poderia afetar muito pouco todos aqueles produtos manufaturadosdos
renda de bilros, um manufaturado de Flandres.O governo daquele país, manufatura quais uma parte costuma ser exportada a outros países europeus, sem
atualmente
na época sob o domínio da Espanha, proibiu em represáliaa importação """°rtada:
substdíos. Tais manufaturados devem ser vendidos no exterior tão barato
de lãs Inglesas.Em 1700 aboliu-se a proibiçãode importarrenda de bilros quanto qualquer outra mercadoriada mesma qualidadee espécie e, con-
na Inglaterra, sob a condição de que a importaçãode lãs inglesas pelo sequentemente, devem ser vendidos mais barato no mercado interno.
país de Flandresfosse colocada no mesmonível que anteriormente. Portanto, continuariam a manter a posse do mercado interno e, mesmo
Retaliações desse gênero podem constituirboa política quando há que uma pessoa de posição, por capricho, viesse eventualmentepreferir
pode ser boe polltk:a
probabilidade de com isso se conseguir a supressãodas altas taxas alfan- mercadorias estrangeiras,simplesmentepelo fato de virem de fora, a mer-
quando tem cadorias mais baratas e melhores do mesmo tipo fabricadas dentro do
probabilidade de degárias ou das proibições que deram motivoàs retaliações.A recupera-
garantir a abollç6o ção de um grande mercado estrangeiro,geralmente,mais do que compen- país, essa insensatez, pela própria natureza das coisas, seria tão pouco co-
das resulções mum, que não poderia ter repercussõessenslveísno empregogeral da po-
exteriores; sa o inconveniente passageiro de pagar mais caro, durante um breve ?':-
nodo, alguns tipos de mercadorias.Avaliar se tais retaliaçõestêm probab•· pulação. Mas grande parte dos diversos produtos de nossas manufaturas
lidade de produzir esse efeito talvez não seja tanto da alçada do legisla- de lã, do nosso couro curtido e das nossas ferragensé anualmenteexpor-
dor, cujas decisões devem orientar-se com base em princípiosgerais, que
390 SISTEMAS OE ECONOMIA POúTICA RESlRIÇÕES Ã IMPORTAÇÃO DE MERCADORIAS ESTRANGEIRAS 391
tada a outros países europeus, sem nenhum subsídio, e são precisamente corporações e a lel te aos soldados e aos marujos após o términode seu serviçoao rei; em
das rcsidtnclas.
essas as manufaturas que empregam o maior contingente de mão-de-o- outros termos, acabe-se com os privilégios exclusivosdas corporações e
bra. Possivelmente,a manufatura da seda seria a que mais sofreria com com o estatuto de aprendizagem- porque ambos constitueminterferên-
essa liberdade de comércio e, depois dela, a do linho, embora multo me- cias reais na liberdadenatural dos cidadãos- e suprima-setambém a lei
nos que a da seda das residências,de sorte que um trabalhadorpobre, ao perder o emprego
(b) as pessoasque Segunda, mesmo que muitas pessoas perdessem repentinamente seu em alguma ocupação ou em algum lugar, possa procurar emprego em ou-
perdessem um emprego costumeiroe a subsistênciaque lhes advém desse emprego espe- tra ocupação ou em outro lugar, sem receio de perseguiçãoou remoção,
emprego ladlmente
encontrarlem outro, cifico, em decorrência do restabelecimentoda liberdade de comércio, de e se vera que nem o público nem os indivíduossofrerão muito mais pela
forma alguma disso decorreria que seriam simplesmente privadas de todo dispensa ocasionalde certas categoriasespecíficasde operários de fábrica
emprego e dos meios de subsistência.Em virtude da redução do exército do que com a de soldados. Os nossos operários,sem dúvida, têm gran-
e da esquadra, no final da última guerra, perderam repentinamente seu des méritosface ao país, mas seus méritosnão são superioresaos daque-
is de 100 mil soldado5e mazujos número.Igual-ao =-----------t<les-que-<lefendem-a pâtria-eom-o-sangue nem tampouw metece111 me-
empregado pelas maiores manufaturas; ora, ainda que isso tenha repre- lhor tratamentoque os soldados.
sentado um certo inconveniente para eles, nem por isso toram privados Os Interesses Na verdade, esperar que a liberdadede comércioseja um dia total-
privados s&o multo
simplesmentede emprego e dos meios de subsistência. Ê provável que a poderosos para
mente restabelecidana Grã-Bretanhaé tão absurdo quanto esperar que
maioria dos marinheiros,aos poucos, tenha recorrido ao serviço mercan- pennltlra um dia nela se implante uma Oceana ou Utopia Opõem-se irresistivel-
restaun,çllo da mente a isso não somente os preconceitosdo público, mas também - o
te, conforme fossem surgindo oportunidades e necessidades, sendo que, Dberdade de
nesse meio tempo, tanto eles como os soldados foram sendo absorvidos comêrdo na que constitui um obstáculo multo mais intransponível- os interessespar-
na grande massa da população, empregando-se em uma grande varieda- Gr1i·Bretanha. ticulares de muitos indivíduos, irresistivelmente contrarios a tal coisa. Se
de de ocupações. Mudançatão grande na situação de mais de 100 mil ho- os oficiais do Exércitose opusessemcom o mesmo ardor e unanimidade
mens, todos habituadosao uso das armas, e muitos deles à rapina e ao sa- a qualquer redução do contingentede tropas com o qual os donos de ma-
que, não somente não gerou nenhuma grande convulsão no país, como nufaturas tomam posição contra qualquerlei suscetívelde aumentar o nú-
nenhuma desordem de monta. Dificilmentese pode dizer que o fato te- mero de seus concorrentes no mercado interno; se os primeirosincitas-
nha provocado em algum lugar aumento sensível do número de andari- sem seus soldados da mesma forma que os segundos incitam seus opere-
lhos; nem mesmo os salários sofreram redução em qualquer ocupação rios a atacar com violênciae afrontaquem ousar propor tais leis - se tal
que seja - ao menos quanto saiba - se excetuarmos o caso dos maru- ocorresse, tentar reduziro Exército seria tão perigosocomo se tomou pen-
jos do serviço mercante. Mas, se compararmos os hãbítos de um soldado goso atualmente tentar reduzir, sob qualquer aspecto, o monopólio que
com os de qualquer trabalhador das manufaturas, veremos que os deste nossos manufatoresconseguiramconquistarem oposição a nós. Esse mo-
últimonão tendem a desqualificá-lotanto para empregar-se em nova ocu- nopólio fez aumentar tanto o número de alguns grupos especfficosdesses
pação, quanto os do soldado o desqualificampara empregar-se em qual- manufatores que, à maneira de um grande exército permanente, toma-
quer outro trabalho. O trabalhador manufatureiro sempre esteve habitua- ram-se temíveisao governo e, em multasocasiões,intimidamos legislado-
do a procurar sua subsistênciaexclusivamenteno seu trabalho, ao passo res. Todo membro do Parlamentoque apoiar qualquer proposta no senti-
que o soldado a auferir sua subsistênciado soldo que recebe. O primeiro do de reforçar esse monopólio seguramenteadquirira não somente a re-
caracteriza-sepela aplicaçãoe pela operosidade, o segundo pela ociosida- putação de entender do assunto, mas também grande popularidadee in-
de e a dissipação.Ora, certamente é muito mais fácil para um operário fluênciajunto a uma categoriade homens que, devido ao seu número e à
mudar de uma ocupação para outra do que uma pessoa habituada à ocio- sua riqueza, adquirem grande importância Ao contrário, se esse parla-
sidade e à dissipaçãoabraçar qualquer ocupação. Além disso, como Já se mentar se lhes opuser e, mais eínda, se tiver autoridade suficientepara
observou, para a maior parte das ocupações manufatureiras existem ou- contrariá-los,nem a probidade mais reconhecida,nem a graduação hierár-
tras manufaturasafins de natureza tão semelhante que um trabalhador fa- quica mais elevada, nem os maioresserviços públicosprestados são capa-
cilmente passa de uma ocupação para outra Ana!mente, a maior parte zes de defendê-lo do vitupério e da detração mais infames, dos insultos
desses trabalhadores ocasionalmente se empregará também no trabalho pessoais e, às vezes, nem mesmo do perigo real derivante do ultrajeinso-
do campo. O capital que lhes deu emprego anteriormente em determina- lente de monopolistasenfurecidose decepcionados.
da manufatura continuará no pais, para dar emprego a um contingente O flito de a Jusllça Sem dúvida, muito sofreria o empresáriode uma grande manufatu-
exigir que H atenda
igual de pessoas, de alguma outra fonna. Permanecendo inalterado o ca- aos lntàesses cio
ra, o qual, no caso de ser mercado interno subitamenteaberto à concor-
pital do país, também a demanda de mão-de-obra será a mesma ou mais manufator que lixou rência estrangeira,fosse obrigadoa abandonar seu negócio.Talvezpudes-
ou menos a mesma, embora ela possa ser utilizada em lugares diferentes o caphal em seu
neg6clo corulllul um
se, sem grandes dificuldades,encontrar outra aplicação àquela parte de
e para ocupações diferentes. Com efeito, os soldados e os marujos, uma argumento CX)Otn, •• seu capital que ele costumava empregar para comprar materiaise pagar
vez liberados do serviço ao rei, estão livres para exercer qualquer profis- crlaçllo de novos seus trabalhadores. Contudo, a parte do capital destinada às oficinas de 1

I'
monopólios.
sobretudo se fossem são, em qualquer cidade ou lugar da Grã-Bretanha ou da Irlanda. Resti- trabalho e aos instrumentos de comérciodificilmente poderia ser vendida
abolidos os tua-se a todos os súditos de Sua Majestadea mesma liberdade natural de sem grande prejuízo. Exige assima justiça que, em atenção a tal interesse,
pnvi1'glos das
exercerema ocupação que quiserem, da mesma forma que iSSO se penni- mudanças desse gênero nunca sejam introduzidassúbita, mas lenta e gra-
392 SISTEMASDE ECONOMIA POLtr!CA

l_dualmente,e após demorada advertência. Precisamente por isso, os legis-


CAPITULO UI
ladores, se fosse posslvel que suas dellberações sempre se orientassem,
não pela clamorosa importunidade de lnteresses facciosos mas por uma
consideração global do bem geral, deveriam manter-se particularmente
atentos para não criar novos monopólios deste gênero nem ampliar os já
existentes. Toda medida desse tipo cria, atê certo ponto, uma desordem
real na estrutura do país, desordem que sera depois difícil remediar, sem
gerar outra desordem.
/ulaxaS
alfandegáda.5
Atê que ponto pode ser aconselhável impor taxas à importação de
lmposlalpan mercadorias estrangeiras, não para evitar a importação delas, mas para
recolher renda setlo elevar a receita do Governo? Considerarei isso ao tratar das taxas. As ta-
eslUd8da.s mais
adilln xas Impostas com o lnh.llto de impedir ou mesmo de diminuir a Importa- As Restrições Extraordinárias êl Importação de Mercadorias
ção constituem obviamente medidas que destroem tanto a renda prove- de Quase Todos os Tipos, dos Países com os Quais a
niente da alfândega quanto a liberdade de comércio. Balança Comercial É Supostamente Desfavorável

Parte Primeira

A Irracionalidade dessas restrições, mesmo com base nos


princípios do sistema comercial

A, restr:lçõe,, Impor restrições extraordinárias à importação de mercadorias de qua-


b~tanlcas1s
lmportaçaes da se todos os tipos daqueles pafses com os quais a balança comercial ê su-
FranÇll consUluem postamente desfavorável constitui o segundo meio através do qual o siste-
UffleXQrnplo.
ma comercial propõe aumentar a quantidade de ouro e prata. Assim, na
Grã-Bretanha, é permitido importar tecidos finos da Silésia para consumo
Interno, pagando-se certos direitos. Entretanto, proíbe-se Importar cam-
braías e tecidos finos franceses, a não ser no porto de Londres, sendo ali
estocados para exportação, Impõem-se direitos mals elevados aos vinhos
franceses do que aos portugueses ou, na realidade, aos provenientes de
qualquer outro país, Em virtude do assim chamado Imposto 1692, um di-
reito de 25% de tarifa ou valor foi lrnpostoa todas as mercadolias france-
sas, ao passo que as de todas as outras nações - a maioria delas - esta-
vam sujeitas a direitos muilo mais baixos, que raramente ultrapassam 5%.
Excetuavam-se o vinho, o conhaque, o sal e o vinagreda França, sujeitos
a outros direitos elevados, seja por força de outras leis, seja por determina-
das cláusulas da mesma lei. Em 1696, Impôs-se um segundo direito de
25% - por se considerar que a primeiro não era suficiente para desesti-
mular a importação - a todas as mercadoriasfrancesas,excetuando o co-
1 nhaque, juntamente com um novo direito de 25 libras por tonelada de vi-
\ nho francês, e um outro de 15 bbras esterlinas por tonelada de vinagre
francês. As mercadorias francesas nunca foram omitidas em qualquer des-
ses subsídios gerais, ou direitos de 5%, que foram impostos a todos, ou à
maior parte das mercadorias enumeradas no livro de tarifas. Se conside-
rarmos os subsídios de 1/3 e de 2/3 como perfazendoum subsidio com-
pleto, houve cinco desses subsídios gerais, de maneira que, antes do iní-
cio da guerra atual. pode-se estimar como sendo de 75% o direito mais re-

393
394 SISTEMA.5DE ECONOMIAPOÚTICA
AS RESTRIÇÕ€S EXTRAORDINÁRIASÃ IMPORTAÇÃODE MERCADORIAS
duzido ao qual estava sujeita a maior parle dos bens cultivados, produzi- 395
dos ou manufaturados na França. Para a maioria desses bens, no entan- vidos pelo interesse privado de determinados comerciantes. Existem po-
to esses direitos equivalem a uma proibição de importação.De sua parte, rém, dois _Critérios aos. quais se tem recorrido com freqüência em ta1s1 oca-
05 registros do
os' franceses, como acredito, trataram nossas mercadores e nossos manu- all!ndega s3o siões: .os livros de registro da alfâna~ga e o curso do câmbio. Quanto aos
faturados exatamente com a mesma dureza, embora eu não esteja bem fa- lnutl!ls, registros da alfândega, admite-se comumente hoje - assim acredito _
millarizadocom o rigor especíãco das taxas por eles impostas a tais produ- que constituem um crttêrío muito pouco seguro, devido à lnexaticl.ào com
• o amo do câmbio
tos. Essas restrições mútuas puseram fim a quase todo o comércio eqüitati- é um pouco molhor. que a maior parte das mercadorias são neles avaliadas. Talvez se possa di-
vo entre as duas nações, sendo atualmente contrabandistasos principais zer mais ou menos o mesmo quanto ao critériodo curso cambial.
Importadores de mercadorias britânicas na França ou de mercadorias fran- Quando o câmbio entre dois lugares, por exemplo; Londres e Paris
T nl.s restrtçõe:s sl!o
lzr.uo.ivt!l.s com base
esas na Grã-Bretanha. Os princTplos que examinei no capítulo anterior está ao par, aârme-se constituir isso um sinal de que os débitos de Lon~
nos princípios cio rig!naram-sedo Interesse privado e do esplrito de monopólio;os que pas- dres em relação a Paris são compensados pelos débitos de Paris em rela-
s1st,11,,.,merc.onlil,
P<>ls
sarei a examinar no presente capftulo originaram-sedo preconceito e da ção a Londres. Ao contrário, quando em Londres se paga um prêmio por
n!mos!dade entre as nações. Por Isso, como se poderia esperar, são aín- um título de Paris, aârma-se que Isso é um sinal de que os débitos de Lon-
a mais Irracionais. E assim o são mesmo com base nos princípios do síste- dres em relação a Paris não são compensados pelos débitos de Paris em
~ a comercial relação a Londres,· devendo-se então enviar de Londres uma compensa-
CI ) se o livre Em primeiro lugar, ainda que fosse certo que no caso de um comér- ção em dinheiro, sendo que o prêmio é exigido e pago pelo risco, pelo tra-
COm4!rdo com a
França, gerasse wna cio lívre entre a França e a lnglaterra, por exemplo, a balança comercial balho e pela despesa de exportar essa compensação em dinheiro. Afirma-
balança comercial fosse favorável à França, de forma alguma se poderia concluir que tal co- se que o estado normal de débito e crédito entre essas duas cidades deve
desíavoraveJ com •
França, pod"'1a nllo mércio sería desvantajoso para a Inglaterra, ou que, com isso, a sua balan- necessariamente ser regulado pelo curso normal das transações comer-
ocorrer isso 11m ça comercial, no conjunto seria mais desfavorável.Se os vinhos da França ciais efetuadas entre elas. Quando nenhuma das duas Importa da outra
•elaçao ao mundo
em sera!; forem melhores e mais baratos que os de Portugal, ou os linhos franceses um montante superior ao que para ela exporia, os débitos e créditos de
melhores e mais baratos que os da Alemanha, seria mais vantajoso para a cada uma das duas podem compensar-se mutuamente. Todavía.. quando
Grã-Bretanha comprar da França o vinho e o linho estrangeiros de que uma delas importa da outra um valor superior ao que para ela exporta,
necessitasse, do que comprar de Portugal e da Alemanha. Embora com necessariamente a primeira fica devendo à segunda um montante maior
Isso se aumentasse multo o valor das importações anuais da França. dírnl- do que o devido pela segunda à primeira: nesse caso, os débitos e crêdl-
nulria o valor total das importações anuais, na proporçãoem que as mer- tos de cada uma delas não se compensam mutuamente, devendo então a
cadorias francesas da mesma qualidade fossem mais baratas do que as cidade, cujo débito supera o crédito, exportar dinheiro. Conseqüentemen-
dos dois outros países. Isso ocorreria mesmo na suposiçãode se consumir te se o curso normal do câmbio constituiu uma Indicação do estado nor-
na Grã-Bretanha todas as mercadorias francesas importadas. mal do débito e do crédlto entre dois lugares, ele deve também ser lndJca-
Em segundo lugar, grande parte dessas mercadorias poderiam ser livo do curso normal de suas exportações e Importações, Já que estas obri-
reexportadas a outros países, onde, sendo vendidas com lucro, poderiam gatoliamentedeterminam esse estado.
Umc!mblo Contudo, mesmo admitindo-se que o curso normal do câmbio consti-
trazer à Grã-Bretanha um retomo talvez igual ao valor do custo prímãrío lawnil'l!lcom
de todas as mercadorias francesas importadas. O que muitas vezes se tem detmn!nndopa!s tua uma indicação suficiente do estado normal de débito e crédito entre
dito do comércio com a lndla Oriental talvez pudesse ocorrer também em nlol)IOlla wni, dois lugares, disso não decorreria que a balança comercial fosse favorável
balança comertial
relação ao comércio com a França. Isto i!: embora a maior parte das mer- fawmlA!!com«- àquele lugar que tivesse a seu favor o estado normal do débito e do crédi-
cadorias da Ínclla Oriental fosse comprada com ouro e prata, a reexporta- pals. to. Nem sempre o estado normal de débito e crédito entre dois lugares é
ção de uma parte delas a outros países trouxe de volta mais ouro e prata Inteiramentedeterminado pelo curso normal de suas transações comecials
ao país importador do que o custo primário do montante total No mo- mútuas, senão que, multas vezes, é Influenciado pelo curso normal das
mento atual, um dos setores mais Importantes do comércioholandês con- transações comerciais de cada um dos dois lugares com muitos outros.
siste no transporte de mercadorias francesas a outros países europeus. Até Se, por exemplo, os comerciantes da Inglaterra costumassem pagar as
uma parte do vinho francês consumido na Grã-Bretanha i! clandestina- mercadorias que compram de Hamburgo, Danzig, Riga etc. com títulos
mente importada da Holanda e da Ze.làndla. Se houvesseHberdadede co- da Holanda, o estado normal de débito e crédito entre a Inglaterra e a Ho-
mércio entre a França e a Inglaterra, ou se as mercadoriasfrancesas pu- landa não seria detemúnado inteiramente pelo curso normal das transa-
dessem ser importadas pagando-se somente os mesmos direitos exigidos ções comerciaisvigentes entre esses dois pafses, mas seria lnOuenciadope-
das mercadorias!pr,ocedentes de outras nações européias,e se fosse permi- lo curso nonnal das transações comerciais da Inglaterra com esses outros
tido aos exportadorés recuperar essas trocas no ato da exportação, a Ingla- locais. A Inglaterra pode ser obrigada a enviar anualmente dinheiro à Ho-
terra poderia ter alguma participação· nesse comércio, que se considera landa, embora suas exportações anuais para esse pafs possam ultrapassar
tão vantajoso para a Holanda. de muito o valor anual de suas Importações da Holanda, embora o que
Em terceiro e (llttrno lugar, não existe nenhwn critério seguro pelo se denomina balança comercial seja altamente favorávelà Inglaterra.
qual possamos detennlnar para que lado pende o que se denomina balan- Altrn disso, da maneira como se tem até agora computado a parida-
ça comercial entre dois países, ou qual dos dois exporta o valor maior. Os de de câmbio o curso normal do câmbio não tem condições para se!Vir
princípios que geralmente ditam nosso julgamento em Iodas as questões como indi• suficiente de que o estado nonnal de débito e crédito é fa-
referentes a isso são o preconceito e a animosidade nadooais, sempre mo- vorável ao pais que parece ter a seu favor - ou que se supõe ter a seu fa-
vor - o cwso normal do câmbio; em outras palavras, o câmblo real pode
396 SISTEMAs DE ECONOMIA POÚTICA
AS RESTRIÇÕFSEXlRAORDINÁRl.*.S À IMPORTAÇÃO DE MERCADORIAS
397
ser - e na realidade é, muitas vezes - tão diferente do câmbio computa-
do, que em muitos casos não se pode tirar nenhuma conclusão segura do dinheiro francês, contendo certo peso de prata pura, vale mais do que
curso deste último em relação ao curso do primeiro. uma quantia de moeda inglesa contendo peso Igual de prata pura exigin-
Quando, por uma soma de dinheiro paga na Inglaterra - contendo, do-se mais prata em hngotes ou quantidade maior de outras mer::adorias
de acordo com o padrão da Casa da Moeda Inglesa, um certo número de para comprá-la. Por conseguinte, ainda que a moeda corrente dos dois
onças de prata pura - se recebe um titulo correspondente a uma soma países estivesse igualmente próxima dos padrões das respectivas Casas da
em dinheiro a ser paga na. França, contendo, segundo.o padrão da Casa Moeda, determinada quantia de dinheiro Inglês dificilmente poderia com-
da. Moeda francesa, um número Igual de onças de prata pura, afirma-se prar uma quantidade de dinheiro francês contendo um n<imero ig.Ja) de on-
que está ao par o câmbio entre a Inglaterra e a França. Quando se paga ças de prata pura, e, conseqUentemente,um titulo francês no valor corres-
mais, supõe-se que se paga um prêmio, dizendo-seentão que o câmbio é pondente à mencionada quantia. Se, por tal titulo, não se pagasse nenhu-
desfavorável à França. Quando se paga menos, supõe-se que se recebe ma soma adicional, além do suficiente para compensar a despesa da cu-
um prêmio, di2endo-se então que o câmbio é desfavorávelà França e fa- nhagem francesa, o cambio real poderia estar ao par entre os dois países,
vorável à Jnglaterra. seus débitos e créditos poderiam compensar-se mutuamente, enquanto 0
(l)mulw-.so Todavia, primeiro cumpre observar o seguinte: nem sempre pode- câmbio computado seria muito favorávelà França. Se pelo citado título se
dlnh<!!ro est4 abaixo pagasse menos, o câmbio real poderia ser favorávelà Inglaterra, e o cam-
de seu padr8o mos detennlnar o valor da moeda corrente de palses diferentes com base
nomlnnl; no padrão de suas respectivas moedas. Com efeito, em alguns pafses a bio computado favorável à França.
e (3) dinheiro Em terceiro e último lugar, em algumas cidades, como Amsterdam,
moeda está mais usada e desgastada ou de qualquer forma mais desvalori- bondrlo comporta
zada, em relação ao seu padrão original, e em outros está menos. Ora, o umAglo. Hamburgo, Veneza etc., pagam-se letras de câmbio estrangeiras com o
valor da moeda corrente de cada país comparado ao da moeda de qual- que se chama bilhete de banco, ao passo que em outras, como em Lon-
quer outro é proporcional não à quantidade de prata pura que deveria dres, Lisboa, Antuérpia; Uvomo etc., elas são pagas em moeda corrente
conter, mas à quantidade que efetivamente contêm. Antes da reforma da normal do pars. O assim chamado bilhete de banco sempre vale mais do
moeda de prata na época do rei Guilherme, o câmbio entre a Inglaterra e que a mesma quantia nominal de moeda comum. Por exemplo, 1 000 flo-
a Holanda, computado da maneira usual de acordo com o padrão das rins no Banco de Arnsterdam valem mais do que 1 000 florins em moeda
duas respectivas Casas da Moeda, era 25% desfavorávelà Inglaterra. En- corrente de Amsterdam. A diferença entre os dois valores ê denominada
tretanto, como disse o Sr. Lowndes, o valor da moeda corrente inglesa, ágío bancário, o qual, em Amsterdam, geralmente é de cerca de 5%. Na
na época, estava na realidade mais do que 25% abaixo de seu valor pa- suposição de a moeda corrente de dois países estar igualmente próxima
drão. Por conseguinte, o câmbio real, mesmo naquela época, pode ter si- ao padrão das respectivas Casas da Moeda, e de que uma pessoa pague
do favorável à Inglaterra, não obstante o câmbio computado ser-lhe Ião títulos estrangeiros nessa moeda corrente, ao passo que outra os paga em
desfavorável; um número menor de onças de prata pura, efetivamente pa- bilhete de banco, é evidente que o câmbio computado pode ser favorável
gas na Inglaterra, pode ter comprado um tftulo por um número maior de àquela que paga em bilhete de banco, embora o câmbio real seja favorá-
onças de prata pura a ser pago na Holanda, sendo que uma pessoa que vel àquela que paga em moeda corrente, pela mesma razão que o câm-
supostamente estava pagando o prêmio, na realidade poderia estar rece- bio computado pode ser favorável àquela que paga em dinheiro melhor,
bendo o prêmio. Antes da recente reforma da moeda-ouro Inglesa, a moe- ou seja, em dinheiro que está mais próximo ao seu próprio padrão, embo-
da francesa estava muito menos desgastada do que a inglesa, estando tal- ra o câmbio real seja favorável àquela que paga em dinheiro pior. Antes
vez dois ou três por cento mais próxima de seu padrão. Se o cãmbto com- da recente reforma da moeda-ouro, o ~bio computado cos!umava ser
putado com a França não fosse mais do que dois ou três por cento desfa- desfavorável a Londres, em relação a Amsterdam, Hamburgo, Veneza e,
vorável à Inglaterra, o câmbio real poderia ter sido favorável à Inglaterra. segundo acredito, em relação a todos os outros lugares que pagam com o
Desde a reforma da moeda-ouro, o câmbio tem sido constantemente favo- assim chamado bilhete de banco. TodaVia, de forma alguma isso significa
rável â Inglaterra e desfavorável à França. que o câmbio real seja desfavorávela Londres. Desde a reforma da moe-
(2)bwnsa
Em segundo lugar, em alguns países, a despesa da cunhagem é paga da-ouro, tal câmbio tem sido favorável a Londres, mesmo em relação a
moeda t aumentodo
pela taxa -i oobra pelo Governo, ao passo que em outros ela é paga pelas pessoas privadas essas cidades. O cambio computado tem sido geralmente favorável a Lon-
a cunhagem admlo que levam seu metal em lingotes à Casa da Moeda, e o Governo chega dres, em relação a Usboa, Antuérpia, lJvomo e, se excetuarrnas a Fran-
cb valor do Bl1!lOle ça, ãcredito que também em relação à maior parte das cidades da Europa
meU!lco conadã no até a auferir alguma renda da cunhagem. Na Inglaterra, a cunhagem ê pa-
inoed<o; ga pelo Governo e se alguém levar uma bbra-peso de prata-padrão à Ca- que pagam em moeda corrente; e não é lmprovãvel que também o câm-
sa da Moeda recebe de volta 62 xelins, contendo uma bbra-peso da mes- bio real fosse favorável a Londres.
ma prata pàdrão. Na França, deduz-se uma taxa de 8% para a cunha-
gem, o que não somente cobre a despesa da mesma como ainda propor-
dona pequena renda ao Governo. Na Inglaterra, pelo fato de a cunha-
gem n!o custar nada, a moeda corrente nunca pode valer multo mais do
que a quantidade de metal que ela contém efetivamente. Na França, on- DIGRESSÃOSOBRE OS BANCOSDE DEPósITO, ESPECIAi.MENTE
de se paga o trabalho da cunhagem, esse trabalho sé acrescenta ao valor SOBRE O DE AMSTERDAM
da moeda, da mesma forma como o trabalho executado para se obter a
prataria aumenta o valor da prataria oabalhadà:-Por Isso, uma soma em
A moeda corrente de um grande país, como a França ou a Inglaterra,
398 SJsm.!As DE ECONOMlA POÚTICA AS RESTRIÇÕESEXTRAORDINÁRIASÃ IMPORTAÇÃODE MERCADORIAS 399
geralmente consiste quase inteiramente em sua própria moeda. Por Isso, to era denominado bilhete de banco, o qual, por representardinheiro exa-
se esta moeda em algum momento desgastar-se ou de qualquer forma tamente segundo o padrão de Casa da Moeda, sempre tinha o mesmo va-
desvalorizar-se abaixo de seu valor-padrão, mediante uma reforma de sua lor real, e intrinsecamente valia mais do que a moeda corrente. A.o mes-
moeda, o pars poderia eficazmente restabelece.rovalor de sua moeda. En- mo tempo, determinou-se que todas as letras emitidas ou negociadas em
tretanto, moeda corrente de um país pequeno, tais como Gênova ou Amsterdam, em valor Igual ou superior a 600 florins, fossem pagas com
Hamburgo, raramenteconsiste exclusivamenteem sua própria moeda, de- bilhete de banco, o que imediatamente eliminou toda e qualquer insegu-
vendo compor-se, em grande parte, de moedas de todos os países vizi- rança quanto ao valor desses títulos. Em conseqüência dessa medida le-
nhos com 05 quais seus habitantes mantêm intercâmbio comercial conti- gal, todo comerciante era obrigado a manter urna conta com o banco a
nuo. Por isso, tal país nem sempre tem condições de estabelecer o valor
de sua moeda, reformando seu dinheiro. No caso de se pagarem letras de
ftm de pagar suas letras de câmbio estrangeiras, o que forçosamente ge-
rou uma certa procura de bilhete de banco.
cambio estrangeiras com essa moeda, o valor Incerto de qualquer quan- o cllnhe!ro no bon<0 O bilhete de banco, além de sua superioridade em relação a moeda
tia, de algo que por sua própria natureza é tão Incerto, fará com que o nlo somente atava
nlwlodo ao padrão, corrente e do valor adicional que por força lhe advém da citada deman-
câmbio seja sempre multo desfavorável a esse país, Já que sua moeda, mas tambm, .,,. da, apresenta algumas outras vantagens. Ele é assegurado contra fogo,
em todos 05 países estrangeiros, ê necessariamente avaliada atê abaixo seguro e t..dlmente roubo e outros acidentes; a cidade de Amsterdam garante esse bilhete;
do que vale. lranslerfvel, .S.
1111llll!lri! que com ele podem-se efetuar pagamentos através de uma simples transferên-
A fim de remediar tal Inconveniente, ao qual esse câmbio desfavorá- comportava wn, 6glo cia, sem o Incômodo de contá-lo, e sem o risco de transportá-lo de um lu-
vel deve ter sujeitado seus comerciantes, esses países pequenos, quando gar a outro. Em conseqüência dessas diversas vantagens, parece que des-
começaram a cuidar dos Interesses comerciais, multas vezes decretaram de o Início ela comportou um ágio e geralmente acredita-se que todo o di-
que as letras de câmbio estrangeiras de um certo valor fossem pagas, não nheiro originalmente depositado no banco podia nele permanecer, sem
em moeda corrente comum, mas por uma ordem contra determinado que ninguém se preocupasse em requerer pagamento de um débito que
banco ou por uma transferência às contas de um determinado estabeleci- linha condições de vender no mercado por um prêmio. Ao requerer paga-
mento bancário, criado com o crédito e sob a proteção do Estado, sendo mento do banco, o possuidor de um crédito bancãno perdia esse prêmio.
esse banco sempre obrigado a pagar, em dinheiro bom e verdadeiro, exa- Assim como um xelim recém-saldo da Casa da Moeda não comprara no
tamente de acordo com o padrão do país. Ao que parece, os bancos de mercado mais mercadorias do que um dos nossos xelins comuns desgasta-
Veneza, Gênova, Amsterdam, Hamburgo e Nuremberg foram todos, origi- dos, da mesma fonna o dinheiro bom e autêntico que poderia passar dos
nalmente, fundados com essa finalidade, embora alguns deles possam cofres do banco aos de uma pessoa privada, por mesclar-se e confundir-
posteriormente ter sido utilizados para outros objetivos. Pelo fato de o di- se com a moeda corrente do país, não terla mais valor do que essa moe-
nheiro desses bancos ser melhor que a moeda corrente do país, necessa- da corrente, da qual não poderia mais ser prontamente distinguido. En-
riamente comportava um ágio, maior ou menor, conforme se supunha es- quanto esse dinheiro permanecia nos cofres do banco, sua superioridade
tar a moeda corrente mais ou menos abaixo do padrão do país. O ágio era conhecida e garantida. Ao passar para os cofres de uma pessoa priva-·
do banco de Hamburgo, por exemplo, que, segundo se afirma, costuma da, sua superioridade não poderia ser bem certificada, senão com um
ser aproximadamente de 14%, constituJ a suposta diferença entre o bom maior esforço que talvez não valesse a diferença. Além disso, ao ser retira-
dinheiro padrão do pais e a moeda usada, desgastada e desvalorizada de do dos cofres do banco, esse dinheiro perdia todas as outras vantagens ca-
todos os Estados vizinhos, que flui no país. racterísticas do bilhete de banco: sua segurança, sua transferibllidade fácil
e segura, sua utilidade ao pagamento de letras de câmbio estrangeiras.
Antes de 1609, a grande quantidade de moeda estrangeira usada e Além de tudo, esse bilhete não podia ser retirado dos cofres do banco, co-
desgastada, trazida a Amsterdam pelo amplo comércio do país com todas
mei se verá mais adiante, sem antes ser efetuado o pagamento por tê-lo
as regiões da Europa, reduziu o valor da moeda de Amsterdam aproxima-
guardado.
damente 9% abaixo do valor da boa moeda recêm-sa!da da Casa da Moe-
O banoo recebe - Esses depósitos em moeda, ou esses depõsitos que o banco era obri-
da. Tal dlnheiro, logo que aparecia, era Imediatamente fundido ou levado tanto metal em gado a restituir em moeda, constitu!am o capital original do banco ou o
embora, como sempre acontece em tais circunstâncias. Os comerciantes llngota quanlD
valor total do que era respresentado pelo que se denomina bilhete de ban-
moeda, &ndo em
com multo dinheiro nem sempre conseguiam encontrar uma quantidade troca um bilhew de co. Atualmente, supõe-se que esse bilhete constituiapenas uma parte mul-
suficiente de dinheiro bom para suas "Jetras de câmbio; e o valor dessas le- banco
corresponden!E a to reduzida do capital A fim de facilitar o comércio de metal em lingotes,
tras tomou-se em grande parte incerto, a despeito de várias medidas ado-
tadas para evitá-lo. 95" do valor. o banco, durante esses vários anos, tem adotado a prática de conceber
crédito, em sua escrituração, sobre depõsltos de ouro e prata em lingotes.
A fim de remediar tais Inconvenientes, fundou-se em 1609 um banco Esse crédito costuma ser em tomo de 5% abaixo do preço do metal em
sob garantia da cidade de Amsterdam. Esse banco recebia tanto moeda lingotes na Casa da Moeda. Ao mesmo tempo o banco ~ o que se cha-
estrangeira como moeda desgas1ada, com peso abaixo de seu padrão e ma um certlftcado, habilitando a pessoa que faz o depósito ou o portador
em seu valor real intrínseco, no bom dinheiro-padrão do país, deduzindo a retirar novamente o metal em lingotes, a qualquer momento dentro de
apenas o necessanc para cobrir a despesa da cunhagem e as demais des- seis meses, mediante retransferênda ao banco de uma quantidade de bi-
pesas de administração. Após efetuar essa pequena dedução, o banco lhete de banco igual aquela pela qual foi concedido o crêdito em sua escri-
concedia um Crédito em suas contas pelo valor remanescente. Esse aédi- turação, ao ser feito o depõslto, e medlante pagamen~o de 0,25% por tê-
400 SISTtMAS DE ECONOMIA POLITJCA
Pralll • 0,.5% pelo AS RESTRIÇÕESEXT'RAORDINÁRJASÀ IMPORTAÇÃODE MERCADORIA$
lo guardado, se o depósito foi em prata e de 0,5%, se foi em ouro; ao 401
°""'· mesmo tempo o banco declara que, não ocorrendo tal pagamento e ao rem a propriedade do banco ao preço pelo qual foram recebidos ou não
expirar esse prazo, o depósito pertencerá ao banco ao preço ao qual foi os retirando antes do término dos seis meses, ou deixando de pagar 0
recebido ou pelo qual se deu o crédito nas contas de transferência.O que 0,25 ou 0,5% a fim de obter um novo certificado para outros seis meses.
é assim pago pela guarda do depósito pode ser considerado como uma es- Entretanto, embora isso aconteça raramente, afirma-se que por vezes
pécie de aluguel de armazenamento. Têm-se ventilado Várias razões para acontece, e com malor freqüência em relação ao ouro do que à prata, de-
Justificar por que motivo esse aluguel de armazenagem deve ser tanto vido ao aluguel de armazenamento maís alto que se paga pela guarda do
mais caro para o ouro do que para a prata. Assinalou-seque a pureza do O depo,ltant.e metal mais precioso.
ouro é mals diffcíl de ser certificadado que a da prata. As fraudes são pra- cootuma desfazer-se
de seu certiftcado. A pessoa que, efetuando um depósito em Ungotes de ouro ou praia,
ticadas com mais facilidade e ocasionam perda maior no metal mais pre- obtém tanto um crédito bancário quanto um certificado, paga suas letras
cioso. Além disso, sendo a prata o metal-padrão, salientou-seque o Esta- cfe câmbio com seu crédito bancário, à medida em que elas vão ven-
0.cortlllcados
do deseja estimularmais os depósitos de prata do que os de ouro. cendo; quanto ao certificado, vende-o ou conserva-o, conforme julgar
smilmente ""lem Os depósitos de ouro e prata em lingotes são feltos na malori.a dos ca- que o preço do Ungote tem probabilidade de subir ou baixar. O certifica-

-
algo,Htldo sos quando o preço é algo mais baixo do que de ordinário, e novamente
renovados ao do e o crédito bancários raramente permanecem Juntos por multo tempo,
· 14rm!node cada •els retirados quando o preço sobe. Na Holanda, o preço de mercado da bar- não havendo necessidade de que isso ocorra A pessoa que tem um certifi-
ra está geralmente acima do preço da Casa da Moeda, pela mesma razão cado e que deseja retirar ouro ou prata em barras sempre encontra bas-
que assim aconteceu na Inglaterra antes da última reforma da moeda-ou- tante crédito bancérto ou moeda bancária à venda, ao preço normal; e a
ro. Afirma-se que a diferença costuma oscilar entre aproximadamente seis pessoa que possui moeda bancária e deseja retirar as barras também en-
e dezesseis stiuets1 por marco, ou oito onças de prata de onze partes de contra sempre certificadosem igual abundância.
prata pura e uma. de liga rnetãlíca O preço do banco ou o créclito que ele o ~e!ro bardrio Aqueles que têm créditos bancários e os portadores de certificados
dá por depósitos de tal prata (quando feitos em moeda estrangeira, cuja e o urt!Jlcado se
Igualam e.m lllllor ao constituem dois tipos diferentes de credor em relação ao banco. O porta-
pureza é bem conhecida e certificada, como dólares mexicanos) é de 22 mo!J\l deposilado em dor de um certificado não pode retirar as barras em troca das quais o reci-
florins por marco; o preço da Casa da Moeda é aproximadamente de 23 Bngoia
bo é dado, sem pagar novamente ao banco uma soma de moeda bancá-
florins, e o preço de mercado é de 23 florins e 6 stiue,s atê 23 florins e 16 ri'a Igual ao preço pelo qual recebeu em barras. Se ele não tiver moeda
stiuers, ou de 2% a 3% acima do preço da Casa da Moeda.2 As propor- de banco próprio, tem que comprá-la de quem a tem O possuldor de
ções entre o preço do banco, o preço da Casa da Moeda e o preço de · moeda bancária não pode retirar as barras sem apresentar ao banco certi-
mercado do ouro em barras são mais ou menos as mesmas. Uma pessoa ficados pela quantidade que deseja. Se ele não os possuir dele mesmo,
geralmente pode vender seu certificado pela diferença entre o preço do deve comprá-los de quem o tiver. O portador de um certificado, quando
hngote na Casa da Moeda e o preço de mercado. Um certificado para lin- compra moeda bancária, compra o poder de retirar uma quantidade de
gotes quase sempre vale alguma coisa, e por Isso é muito raro acontecer barras, cujo preço na Casa da Moeda está 5% acima do preço do banco.
que alguém deixe expirar seu certificado, isto é, deixe seus lingotes passa. Por isso, o ágio de 5% que ele costuma pagar é pago não por um valor
Imaginário mas por um valor real O possuidor de moeda bancária, ao
comprar um certificado, compra o poder de retirar uma quantidade de ou-
1 Anlfga mo«la holandaa de pequono qb,_ (N. do Ed.J ro ou prata em banas, cujo preço de mercado geralmente está entre 2 e
• Sllo os H!llllntes .,. preços pelos quais o Banco de Amsterdam JQ!be, a!IJalmente (selillnbto de 1775),
owo e prata em borras. • moeda de c!iwesoo llpos: 3% acima do preço da Casa da Moeda O preço que ele paga pelo certifi-
cado, portanto, também é pago por um valor real. O preço de um certifi-
PRATA
cado e o preço da moeda bancária perfazem, conjuntamente, o valor total
dõlares ll'ICldcanos } llodns ou o preço total das banas.
coroes "-5
moeda lng1esa em p,ata B-22 por man:o
Por depósito em moeda corrente ao pais, o banco dá certificadobem
cl®itama:lamoumnouaau,hagem ...•..•. 21 10 como créditos bancários; entretanto, esses certilicados muitas vezes não
ducalõa •••.•.•••••••••••••••..•.••••.••• 3
dólants r1l<" •• • • .• • •• . • • . . . • •• • . •• • • . • • •• •• 2 8 têm nenhum valor, não encontrando preço no mercado. Por ducatões,
A
llobana
dadosde5 prata
buis.conlando J 1112 • de prata pu,8, 21 por mota> •, nesta prl)pOl'çlo, ato! 114 pura, pela qual por exemplo, que na moeda corrente circulam por três florins e três sti-
&nas puas, 23 por lll<lla). vers cada, o banco dá um crédito de apenas tr~ florins, ou 5% abaixo do

~~}
gulndus
lufses de OIW OOIIOS
B-310pormarto
valor corrente. O banco dá também um certilicado que habilita o porta-
dor a retirar o número de ducatões depositados a qualquer momento,
dentro de seis meses, pagando 0,25% por tê-lo guardado. Esse recibo
fdem, velhos • . • • • • •• • . • • •• •• •• •• • . •• •• •• •• 300
Ducados- •.......•..•.......••.•..•• 4 19 8porducado.
multas vezes não encontrará preço no mercado. Três florins de moeda
luabe.a owo em bai!ll ou lingote em ~ i sua puma, com~ com a moedade OIJl'O es- bancária geralmente se vendem no mercado por três florins e três stiue,s,
wr,gcn oc:bna ll'llllldonada. Pam b.mas 11,,as o banco P"9D 340 mon:co. Em gmt. ponn,, J'11911-M por valor pleno dos ducatões, se fossem retirados do banco; e, antes de se po-

••••
moeda de pwva conhecida am pou,:o mais do que por owo e prata, em boms, cuja pureza .O podo w der retírã-los, deve-se pagar 0,25% pela guarda, que representaria pura
cm11ftadamedianteum - de fusão e M6llsc.
• 0.,,,0hllneçlo
os '4culos XVI e de
XIX.al9w1* moedu de prata volaido = de 1 cl6m, que c:lmdavam III Eurcs,e mire perda para o portador do certificado. Todavia, se o ágio do banco cair em
j
algum momento a 3%, tais certiflcados conseguiriam obter algum preço
no mercado, podendo ser vendidos por 1,75%. Entretanto, sendo o ágio
402 SISTEMASDE ECONOMIA POÚTICA AS RESTRJÇÕESEXTRAORDINÁRIASÀ IMPORTAÇÃODE MERCADORIAS 403
do banco atualmente de aproximadamente 5%, com freqUência se deixa
que esses certificados expirem, ou seja, como se diz, caiam nos· cofres do l1 sem apresentaç.!o
de cenifiaiclos
Nesse caso, os portadores de certificados, que não possulam bilhete de
banco, devem ter recebido entre 2 ou 3% do valor do depósito pelo qual
banco. Com freqüência ainda maior, Isso acontece com os certificados da- o banco havia emitido os rezpectívos certificados, Nesse caso, afirma-se
dos por depósitos de ducados de ouro, Já que, antes de poder retirá-los que o banco não teria nenhum escrúpulo em pagar com dinheiro ou com
novamente, é preciso pagar um aluguel mais elevado de armazenamento, metal em barras o valor pleno da soma creditada em seus livros contábeis
isto ê, 0,5%, pela guarda respectiva. Os 5% que o banco obtém quando aos possuidores de bUhete de banco que não conseguiam certificados; e
se deixam depósitos de moeda ou de barras passarem para a propriedade pagaria, ao mesmo tempo, 2 ou 3% aos portadores de certificado que
do banco podem ser considerados como o aluguel que se paga pelo ar- não possuíssem aquele bilhete, já que este seria o valor total que, Justifica-
mazenamento perpétuo de tais depósitos. damente, lhes seria devido em tal situação.
Asllm1 M uma toma Deve ser bem consíderável a quantia de bilhete de banco correspon- Nos Ol1!mol5 imos, o Mesmo em tempos normais e tranqüilos, os portadores de certifica-
conslo~el d" dente a certificados que expiraram. Abrange todo o capital original do baoce iam """P"' dos têm interesse em fazer baixar o ágio, seja para comprar muito mais ba-
bdhele de h<lll<'.o vendido bilhete de
cujos cerlllicados banco, o qual, como geralmente se supõe, permitiu-se permanecer no ban- benco a S'll. de '91<>, rato bilhete de banco (consequentemente, o metal em barras, que seus
expiraram., porm1 co desde o momento de seu primeiro depósito; sem que ninguém se preo- comprancb-o a 4'1.. certificados os habilitariam então a retirar do banco), seja para vendê-lo
el~ nlo rep<oseolal
uma grande cupasse em renovar seu certificado ou retirar seu depósito, uma vez que, mais caro àqueles que possuem bilhete de banco e que desejam retirar
J)OfOOllll!gem em pelas razões já Indicadas, qualquer uma dessas duas operações representa- metal em barras tão mais caro; isto porque o preço de um certificado cos-
relação ao toll'll tuma ser igual à diferença entre o preço de mercado do bilhete de banco
ria uma perda. Entretanto, qualquer que seja o montante dessa soma,
acredita-se ser muito pequena a porcentagem representada por essa quan- e o do da moeda ou das barras pelo qual se concedeu certificado. Ao con-
tia em relação ao total dos bilhetes de banco. O banco de Amsterdam trário, os proprietários de bilhete de banco têm interesse em fazer subir o
tem sido, durante esses vários últimos anos, o grande depósito da Europa ágio, seja para vender seu bilhete tanto mais caro, seja para comprar um
para ouro e prata em barras, cujos certificados muito raramente se deixa certificado tanto mais barato. Para evitar os truques de especulação na
expirarem, ou, como se costuma dizer, caem na posse do banco. Supõe- (, bolsa que esses interesses opostos poderiam às vezes gerar, o banco ado-
se que a maior parte dos bilhetes de banco ou dos créditos nas contas do tou, nos íiltimos anos, a decisão de vender sempre bilhete de banco por
banco originou-se durante esses muitos anos decorridos desses depósitos moeda corrente, a 5% de ágio, e recomprá-lonovamente a 4% de ágio.
que os comerciantes de ouro e prata em barra estão continuamente efe- Em decorrência dessa resolução, o ãgio nunca pode subir além de 5%
tuando e retirando. nem descer abaixo de 4% e que a proporção entre o preço de mercado
Ess. nllo pode ser Só se pode requisitar pagamento ao banco contra apresentação de do bilhete de banco e da moeda corrente sempre é mantida multo próxi-
rei!rado do banco. ma da proporção entre seus valores intrínsecos. Antes que se tomasse es-
um certificado. O volume menor de bilhete de banco correspondente a
certificados expirados mescla-se e confunde-se com o volume muito ta resolução, o preço de mercado do bilhete de banco às vezes chegava a
maior correspondente aos certificados ainda em vigor; isso de tal forma subir até 9% de ágio, e às vezes a descer tão baixo quanto ao par, confor-
que, embora possa ser considerável a quantia de bilhetes de banco para a me a influência eventualmente exercida sobre o mercado pelos interesses
qual não há certificados, não existe nenhuma quantia ou porção especifi- opostos.
ca de bilhete de banco cujo pagamento não possa ser exigido a qualquer O banco eleg<1 não O banco de Amsterdam declara não emprestar nenhuma parte do
emprestar nenhuma que é nele depositado, mas, para cada florim a que concede crédito em
momento por um certificado. O banco não pode dever a mesma coisa a ~ doo depõsltos.
duas pessoas e aquela que possui bilhete de banco e que não tem certifi- sua escrituração contábil, conservar o valor de um florim em dinheiro ou
cado não está em condições de exigir pagamento do banco antes de com- em barra. Dificilmente se pode duvidar que o banco conserve em seus co-
prar algum. Em épocas normais e tranqüilas, a pessoa não encontra ne- fres todo o dinheiro ou barras para os quais há certificados em vigor, di-
nhuma dificuldade em comprar certificado a preço de mercado, o qual, nheiro e barras esses que podem ser exigidos pelos portadores de certifica-
geralmente., coincide com o preço pelo qual pode vender a moeda ou o dos a qualquer momento, e que, na realidade, são continuamente deposi-
metal em barras que o certificado lhe posslbllitaretirar do banco. tados e retirados dos cofres do banco. Entretanto, talvez não seja tão cer-
Assim, ••• todos os A situação poderia ser diferente em tempos de calamidade pública, to que o banco faça o mesmo em relação à parte de seu capital cujos certi-
portadores de
por exemplo, no caso de uma Invasão, tal como a dos franceses, em ficados Ja expiraram hã muito tempo, dinheiroesse que, em tempos nor-
bilhetm de bi,r,co
daejassemlrod-los 1672. Pelo fato de todos os proprietários de bilhetes bancários quererem mais e tranqüilos, não pode ser exigido e que, na realidade, muito prova-
por moeda e IMtal ansiosamente retirá-lo do banco; para tê-lo em suas próprias mãos, a pro- velmente permanecerá no banco para sempre enquanto subsistirem os Es-
em~.os tados das Provindas Unidas. Em Amsterdam, no entanto, não existé
cerllllcadoo cura de certificados podería ter feito aumentar seu preço a um nível exor-
podmlomwkr um bitante. Nessas condições, os portadores de certificado podem ter alimen- artigo de fé mais firme do que este: por cada Oorirn que circula como bi-
p.-eço uorbllante; lhete de banco existe no tesouro do banco um florim correspondente em
tado expecta.tivas fora do comum e, ao Invés de exigir 2 ou 3%, ter exigi-
do a metade dos bilhetes de banco para o qual se havia dado crêdítc com ouro ou prata. A cidade é uma garantia de que assim deve ser. O banco
base nos depósitos pelos quais o banco havia dado os respectivos certüica- está sob a direção dos quatro burgomestres remantes, substituídos a cada
dos. O Inimigo, sabedor da constituição do banco, poderia até comprar to- ano. Cada novo quadrunvirato de bwgomestres visita o tesouro, compa-
dos esses certificados, a fim de evitar a drenagem do tesouro. Supõe-se ra-o com a escnturação contábil, recebe-o sob Juramento e o entrega,
que, ém tais emergências., o banco passaria por cima da norma comum com a mesma espantosa solenidade., aos quatro burgomestres que lhe su-
de só efetuar pagamento aos portadores que apresentassem certincado. cedem; e, nesse pars sóbrio e religioso, os Jwamentos até ~gora não têm
404 SISTEMASDE ECONOMJAPOÚTICA AS RESTRJÇÔESOORAOROINÁRIASÀ IMPORTAÇÃODE MERCADORIAS 405
sido desrespeitados. Uma rotatividade desse tipo constitui, por si só, uma vorável aos segundos. Os primeiros pagam com um tipo de dinheiro cujo
garantia suficientecontra quaisquer práticas inconfessáveis. Em meio a to- valor intrínseco é sempre o mesmo e que equivale exatamente ao padrão
das as revoluções geradas no governo de Amsterdam pelas dissensões de suas respectivas Casas da Moeda; os segundos pagam com um tipo de
partidárias, a parte vencedora nunca acusou seus predecessores de des- 1
dinheiro cujo valor Intrínseco varia continuamente,estando quase sempre
lealdade na administração do banco. Nenhuma acusação poderia ter afe- mais ou menos abaixo desse padrão.
tado mais profundamente a reputação e o destino da parte perdedora, e
se tal acusação pudesse ter sido comprovada, podemos estar certos de
que ela teria sido apresentada. Em 1672, quando o rei francês estava em
Utrecht, o banco de Amsterdam pagou com tanta prontidão que não res-
tou dúvida sobre a lealdade com que havia observado seus compromis-
sos. Algumasdas moedas que foram retiradas dos cofres do banco naque- Parte Segunda
la época parecem ter sido chamuscadas pelo incêndio ocorrido no prêdlo,
logo depois da criação do banco. Conclui-se, pois, que essas moedas de-
vem ter permanecido nos cofres do banco desde aquela êpoca A Irracionalidade dessas restrições extraordiniirlas, com
Omontanla do Durante multo tempo os curiosos vêm especulando no sentido de sa- base em outros princípios
""°"io do banco é ber qual é o montante do tesouro encerrado nos cofres do banco. Quanto
tlllllfrta~
<OnJectu...._ a isso não há nada além de conjeturas. Calcula-se que há aproximada- Na primeira parte do presente capitulo procurei mostrar, mesmo com
mente 2 mil pessoas que mantêm contas com o banco; supondo-se que base nos principies do sistema comercial,o quanto é desnecessário Impor
cada uma possui o valor de 1 500 libras esterlinas em suas respectivas restrições extraordínãrías à importação de mercadoriasdos pafses com os
contas (uma suposição muito generosa), o total dos bilhetes de banco e, quais a balança comercial, segundo se supõe, é desfavorável.
conseqClentemente,do tesouro do banco, devera aproximar-se de 3 mi- Em >WI fnteg:a, D No entanto, não há nada mais absurdo que toda essa teoria da balan-
lhões de libras esterlinas, ou seja, ao cambio de onze florins por libra es- teoria sobre a ça comercial, na qual se baseiam não somente as referidas restrições, mas
balança com~(!
terlina, 33 milhões de florins; montante elevado, suficiente para operar obswda_ também quase todas as demais normas sobre o comércio.Quando dois lu-
uma circulação bem ampla, porém muito Inferior às somas descomunais gares ou cidades comercializamentre si, essa teoria supõe que, se a balan-
Imaginadaspor alguns. ça comercial entre os dois estiver em equilibrio,nenhum dos dois ganha
A c:ldede aufere uma A cidade de Amsterdam aufere uma renda considerável do banco. ou perde, ao passo que, se a balança pender, em qualquer grau, para um
renda coruldmwl dos lados, uma delas perde e a outra ganha, na proporção em que a ba-
dos d.__~ Além do que se pode denominar o aluguel de armazenagem suprarnencío-
do banco. nado, cada pessoa, ao abrir a primeira conta do banco, paga uma taxa de lança se desviar c'e seu ponto exato de equllibrio. Ambas as suposições
dez florins e, por outra nova conta, três florins e três stiver.;; por nova são faisas. Com -ocurarei mostrar mais adiante, um comércio que é foi=
transferência, dois stivers; e se a soma transferida for Inferior a 300 H.orins, çado por subsfdios e monopólios pode e costuma ser desvantajoso pa-
pagam-se seis stluers, a fim de desestimular a multiplicação de pequenas ra o pa[s que acredita estar-se beneficiandocom essas medidas. Ao contra-
transações, A pessoa que deixa de fazer balanço de sua conta duas vezes rio, o comércio que, sem violência ou coação, é efetuado com naturalida-
ao ano paga uma multa de 25 florins. A pessoa que solicita uma transfe- de e regularidade entre dois lugares, sempre traz vantagem para os dois la-
rência de uma soma superior ã que possui em sua conta é obrigada a pa- dos, ainda que essa vantagem não seja sempre igual para ambos.
gar 3% sobre a soma sacada a descoberto, e seu pedido é desprezado na Por van~. 1 ou ganho entendo não o aumento da quantidade de
transação. Além disso, supõe-se que o banco aufere lucros conslde.ráveis ouro e prata, mas o aumento do valor de troca da produção anual da ter-
vendendo moeda ou barras estrangeiras que passam a pertencer ao ban- ra e da mão-de-obra do país, ou seja, o aumento da renda anual de seus
co por vencimento dos certificados, dinheiro que sempre é conservado, habitantes.
até poder ser vendído com lucro. Aufere lucro também vendendo bilhete Onde existir uma Se a balança comercial estiver em equilíbrio, e se o comércio entre
de banco a 5% de' ágio e comprando-e a 4%. Estes diversos emolumen- balança em os dois lugares consistir exclusivamente no intercâmbiode suas mercado-
equittbrio,eo
tos representam um montante bem superior ao necessário para pagar os tntmamblO conslslir rias nacionais, na maioria dos casos não somente os dois auferirão vanta-
salárlos dos funcionários e para cobrir as despesas de administração. Acre- lotalmmm em gem, senão que o ganho sera Igual ou quase Igual: nesse caso, cada umj
meraidotlas
dita-se que o que se paga pe.la guarda do ouro e prata em barras sob oertí- r>adonah.os dois oferecera um mercado para uma parte do excedente de produção do ou-
Bcado, por si s6 representa uma renda IIquida anual entre 150 mil e 200 pafsas que tro; cada um repora um capital que fora empregado em cultivar e prepa-
mil florins, Não obstante Isso, essa Instituição bancária teve como objetivo comerdallzam enlrv rar para a comerdalização essa parte do excêdente de produção do outro,
li tet!o ganhos mais
original a utilidade pública e não a renda. Seu objetivo era llvrar os comer- ou manco Iguais. e que havia sido distribufda entre eles proporcionandorenda e sustento a
ciantes do lncõmodo de um câmbio desvanteíoso. Não se previa a renda um certo m1mero de seus habitantes. Por isso, parte dos habitantes de ca-
que o banco geraria, podendo-se considera-la como acidental Já é tem- da um auferira Indiretamente sua renda e seu sustento do outro. Assim co-
po, todavia, de encerrar esta longa digressao, ã qual fui Imperceptivelmen- mo supostamente também as mercadoriastrocadas são de valor Igual, da
te levado, no empenho de explicar as razões pelas quais o câmbio entre mesma forma serão na maioria dos casos também Iguais ou quase Iguais
os pal'ses que pagam com o chamado bilhete de banco e os que pagam os captlais empregados pelas duas partes no comércio; e pelo fato de se-
em moeda corrente geralmente parece ser favorável aos primeiros e desfa. rem os dois capitais empregados para produziras mercadorias nacionais
406 SISTEMASDE ECONOMIAPOLITICA
AS RfSTRJÇÕESEXTRAORDINÁRIASÀ IMPORTAÇÃODE MERCADORIAS
dos dois países, iguais ou quase iguais serão a renda e o sustento que a 407
dlsbibuição dessas mercadorias proporcionará aos habitantes dos dois per- caso ":1mo no prece?ente, tal npo de comércio geraria alguma renda para
ses. Essa renda e esse sutento, proporcionados mutuamente dessa forma, os habitantes dos doís países: mais para os da França e menos para os da
serão maiores ou menores, conforme a extensão das transações entre os Inglaterra. Geraria, sim, alguma renda para a população da Inglaterra O
dois patses. Se, por exemplo, elas representarem um montante anual de capital anteriormente empregado para produzir as mercadorias inglesas
100 mil libras, ou então 1 milhão de cada lado, cada um dos dois países com as quais se comprou essa quantidade de ouro e prata, o capital que
Propcrcionará aos habitantes do outro uma renda anual, no primeiro ca- fora distribuído a certos habitantes da Inglaterra e lhes proporcionara ren-
s.. un, dos dois sõ
<'l<JIOrtauc
so, de 100 mil libras esterlinas, e no segundo de 1 milhão. da seria reposto com este comércio, possibilitando-lhecontinuar esse em-
mercadorias
Se o comércio entre os dois países for tal que um deles só exporta ao prego. O capital total da Inglaterra não sofreria com essa exportação de
outro mercadorias nacionais, ao passo que o segundo s6 exporta ao pri- ouro e prata uma diminuição malor do que a que sofreria com a exporta-

U
llllCiooa!s, t O OOln,
16 ""J:IO<tasse meiro mercadorias estrangeiras, ainda nesse caso seria de supor que a ba- ção de um valor igual de quaisquer outras mercadorias. Ao contrário, na
~ ança comercial entre os dois estaria em equilibrio,Já que as mercadorias maioria dos casos, esse capital total aumentaria. Não se exportam ao ext~
0$lrongejras, •mbos
l!"nharlam, mas o são pagas com mercadorias. Os dois estariam ganhando, nesse caso; mas ríor senão mercadorias cuja demanda supostamente é maior no exterior
prirnetro g;,nhorta
mais. o ganho não seria igual; os habitantes do país que só exportasse mercado- do que no próprio país, e cujos retornos, consequentemente - assim se
lias nacionais estaria auferindo a renda máxima do comêrdo. Por exem- acredita -, terão mais valor no país do que as mercadorias exportadas.
plo, se a Inglaterra só importasse da França mercadorias produzidas por Se o fumo que na Inglaterra vale apenas 100 mil esterlinos, ao ser expor.'."
aquele país, e, não possuindo ela mesma as mercadorias inglesas em falta tado ã França, comprar vinho que, na Inglaterra, vale 110 mil libras esterli-
na França, pagasse anualmente suas Importações francesas enviando A nas, a troca fará com que o capítal da Inglaterra aumente de 10 mil libras.
França grande quantldade de mercadorias estrangeiras, suponhamos fu. Se, da mesma forma, 100 mil libras de ouro inglês compra vinho francês
mo e mercadorias das fndias Orientaís, esse tipo de comércio, embora pro- que na Inglaterra vale 110 rníl, essa troca Irá aumentar igualmente o capi-
Porcionasse alguma renda aos habljantes dos dois países, produziria para tal da Inglaterra em 10 mil líbras. Assim como um comerciante que tem
os habitantes da França uma renda superior à que produziria para os habi- • t: 110 mil esterlinos de vinho em sua adega é mais rico do que o que possui
tantes da Inglaterra. Todo o capital francês empregado anualmente nesse somente 100 míl esterlinos em fumo em seu armazém, da mesma forma
cornérdo seria anualmente distribuído entre a população da França Ao ele é mais rico do que aquele que só possui 1000 esterlinos em ouro e
prata em seus cofres. Ele tem condições de movimentar um volume

J
contrário, só seria anualmente distribuída entre a população da Inglaterra
a Pê!rte do capital Inglês empregada em produzir as mercadorias inglesas maior de trabalho, e proporcionará renda, sustento e emprego a um con-
com as quais foram compradas as referidas mercadorias estrangeiras ex- tingente maior de pessoas do que os dois outros. Ora, o capital do pafs
Portadas à França. A malor parte desse capital Inglês reporia os capitais igual à sorna dos capitais de todos os seus habitantes, e a quantidade de
empregados na Virgínia, no lndostão e na China - capitais que propor- trabalho que o pafs tem condição de sustentar anualmente é igual ao volu-
cionariam renda e sustento aos habitantes desses longínquos paises. Por me total de trabalho que pode ser mantido pela soma de todos esses capi
Isso, se os capitais fossem Iguais, ou quase Iguais, esse emprego do capital tais Individuais. Assim, necessariamente, esse tipo de comércio fará geral
francês aumentaria muito mais a renda da população francesa do que o mente aumentar tanto o capital do país como o volume de trabalho que o
em.prego do capital Inglês aumentaria a renda da população da Inglaterra. país tem condições de sustentar anualmente. Sem dúvida, seria mais van-
Nesse caso, a França estaria efetuando com a Inglaterra um cornêrdo ex- tajoso para a Inglaterra se ela pudesse comprar os vinhos da França com
terior direto para o consumo próprio, ao passo que a Inglaterra estaria efe- suas próprias ferragens e tecidos grosseiros do que com o fumo da V'Jigf-
tuando um comércio do mesmo tipo com a França, mas Indireto. Ora, já nla ou com o ouro e praia do Brasil e do Peru. Um comércio exterior dire~
expUcamos exaustivamente a diferença de efeitos produzidos por um capi- to de bens de consumo sempre traz vantagem malor do que um cornêrcío
tal empregado no cornêrcín exterior direto de bens de consumo, e os pro- indireto. Entretanto, um comércio exterior indireto de bens de consumo,
dUZidos por um capital empregado no comércio exterior indireto de bens efetuado com ouro e prata, não parece ser menos vantajoso do que qual-
de consumo. quer outro comércio exterior Indireto de bens de consumo. Analogamen-
Na realidade, provavelmente não existe, entre dois países quaisquer, te, um pais sem minas próprias não tem maior probabilidade de ter exauri-
um comércio que consista exclusivamente na troca de mercadorias nado- das suas reservas de ouro e prata, exportando anualmente esses metais
~ais dos dois lados, ou exclusivamente na troca de mercadorias nacionais, do que um país que não cultiva fumo tem probabilidade de esgotar suas
e um lado, e de mercadorias estrangeiras, do outro. Quase todos os pai· reservas de fumo, exportando anualmente esse produto. Assim como um
~. trocam, entre si, em parte mercadorias nacionais e, em parte, merca- pafs que tem com que comprar fumo Jamais permanecerá muito tempo
0nas estrangeiras. Ganhará mais sempre o pats que exportar o máximo em falta dele, da mesma forma não permanecerá por muito tempo em fal-
. 9~ .mercadorias nacionais e o mínímo de mercadorías estrangeiras. ia de ouro e prata um país que tiver com que comprá-los.
F Se a Inglaterra pagasse as mercadolias anualmente irnpcrtadas da Afirma-se constituir uma perda o neg6clo que um trabalhador efetua
rança, não com fumo e mercadorias lmportadas das Jndlãs Orientais, numa cervejaria, diz-se, outrossim, que o comércio que uma nação manu-
ma_s com ouro e prata, supõe-se que. nesse caso, sua balança comercial 6- fatora efetuasse naturalmente com um pais produtor de vinho pode ser
~a desequilibrada, já que as mercadorias Importadas da França não se- considerado uma perda. Respondo que o negõclo com a cervejaria não
am pagas com mercadorias, mas com ouro e prata E no entanto, nesse acarreta nl!O!SSaliamente uma perda para quem o efetua. Em si mesmo,
tal negócio ê tão vantajoso quanto qualquer outro embora, talvez, esteja
408 SISTEMASOE ECONOMIA POÚTICA AS RESlRIÇÕESEXTRAOROlNÁRIASÀ IMPORTAÇÃODE MERCADORIAS 409
um tanto mais sujeito a abusos. A ocupação de um fabricante de cerveja, nossos manufaturados do que os franceses, devendo portanto ser estimu-
e mesmo a de um varejista de bebidas fermentadas são dívisões de traba- lados, de preferência aos franceses. Afirma-se que, da mesma maneira
lho tão necessárias como quaisquer outras. Geralmente, será mais vantajo- ()sarttflclo,, que os portugueses nos tratam, assim devemos tratá-los. Dessa forma os
astuciosos dos
so para um operário comprar do fabricante de c11rveja a quantidade de comcrdante.:s artifícios astuciosos de comerciantes subalternos são transformados'em
que precisa do que fabricá-la ele mesmo e, se for um operário pobre, ge- subalt..rnoo lêm sido máximas pollticas para a conduta de um grande Império; com efeito, são
ralmente lhe será mais vantajoso comprar a cerveja do varejista, pouco a lnlmfonMdos em somente os comerciantes mais subalternos que transformamem regra utili-
principies pollllcos, e
pouco, do que adquirir uma grande quantidade diretamente do fabricante ocom4rclo5e zar os serviços prin_cipalmente de seus próprios clientes. Um grande co-
de ceiveja. Sem dúvida, ele pode comprar demais de ambos, como pode tomou uma lont.. de merciante sempre compra suas mercadorias onde elas são mais baratas e
d!sc:6rdlo, em wz de
comprar demais de qualquer outro comerciante da sua vizinhança, por melhores, sem atender a pequenos Interessesdesse ~nero.
exemplo, do açougueiro, se for glutão, ou do negociante de fazenda, se ~n=.161 Foi por meio de tais máximas, contudo, que se ensinou às nações
desejar aparecer como um galã entre seus companheiros. Entretanto, é que seu interesse consiste em mendigar Junto a todos os seus vizinhos.
vantajoso para o grande conjunto de trabalhadores que todos esses tipos Fez-se com que cada nação olhe com Inveja para a prosperidade de todas
de comércio ou ocupações sejam livres, embora todos possam abusardes- as nações com as quais comercializa,e considere o ganho dessas nações
sa liberdade, conquanto, talvez, o abuso seja maior em uns do que em ou- como urna perda para ela mesma. O comércio, que deveria naturalmente
tros. Embora, às vezes, determinados indivíduos possam arruinar sua sor- ser, entre as nações como entre os indiv!duos, um traço de união e de
te consumindo bebidas fermentadas em excesso, não parece haver perigo amizade, transformou-se na mais fecunda fonte de discõrdla e de animosi-
de que tal aconteça com uma nação. Ainda que em todo país existam dade. A ambição extravagante de reis e ministros, durante o século atu
multas pessoas que gastam mais do que podem com bebidas alcoólicas, e o passado, não tem sido mais fatal para a tranqllilidadeda Europa do
sempre existem multas mais que gastam menos. Merece destacar-se tam- que a Inveja impertinente dos comerciantes e dos manufatores. A violên-
bém que, se recorrermos à experiência, o baixo preço do vinho não pare- cia e a Injustiça dos governantes da humanidade constitui um mal antigo
ce ser a causa da embriaguez, mas antes da sobriedade. Os habitantes dos - 1 para o qual receio que a natureza dos negócios humanos díficilmenteen-
pafses produtores de vinho costumam ser as pessoas mals sóbrias da Euro- contre um remédio. Entretanto, embora talvez não se possa corrigir a ~
pa, como o testemunham os espanhóis, italianos e os habitantes das pro- capacidade e o espírito monopolizador dos comerciantese dos manufato-
víncías do sul da França. Raramente as pessoas consomem em excesso res que não são nem deveriam ser os governantesda humanlclade, pode-
produtos por elas produzidos em sua faina diária. Ninguémse mostra libe- se com multa facilidade impedi-los de perturbar a tranqllilldade de pes-
ral e bom companheiro tendo bebidas alcoólicas em abundância tão bara- soas que não sejam eles mesmos.
tas quanto uma cervejinha. Ao contrario, nos países em que, devido ao ca- Os 50ftsrnas dos Não cabe dúvida de que foi o esplrito de monopólioque originalmen-
lor ou ao frio excessivo, não há viticultura, e onde, por conseguinte, o vi- comm;lanta. te inventou e propagou essa teoria; e os primelros que a ensinaram de for-
Inspirado& pelo
nho é caro e conslitui raridade, a embriaguez é um vfdo genera.l.lzado, co- e,pldto de ma alguma eram tão insensatos como os que nela acreditaram. Em ca~
mo nas nações setentrionais e entre aqueles que vivem nos trópicos, os monopólio, têm país, sempre é e deve ser de interesse do grande conjunto da populaçãocom-
conlundldo o JensO
negros, por exemplo, da costa da Guiné. Ouvi multas vezes dizer que, commnda ' prar tudo o que quiser, daqueles que vendem a preço mais baixo. A pro-
quando um regimento francês vem de algumas provínciassetenbionals da hUrT111nlc!Ado. posição é de tal evidência, que parece ridículo empenhar-se em demons;;
França, onde o vinho é um pouco mais caro, e fica aquartelado nas pro- trá-la; e ela jamais poderia ter sido questionada, se os sofismasinteressei-
víncias do sul, onde ele é muito barato, os soldados de Inicio se entregam ros dos comerciantes e dos manufatores não tivessemconfundido o senso
a exageros pelo baixo preço e pela novidade do bom vinho; entretanto, comum da humanidade. Sob este aspecto, o interesse deles ê diretamen:"\.
após alguns meses de residência, a maior parte deles se toma tão sóbria te oposto ao do grande conjunto da população. Assim como é InteresseJ
anto os demais habitantes. Suprimir de uma vez as taxas aduaneiras dos homens livres de uma corporação impedir os demais habitantes de

g e gravam os vinhos estrangeiros, e os impostos de consumo sobre o


elte, a cerveja . comum e a cerveja Inglesa, poderia Igualmente tomar a
mbriaguez bastante generalizada e temporária na Grã-Bretanha entre as
lasses rnêdía e Inferior da população, a qual, porém, provavelmente, lo-
seria seguida de uma sobriedade pe.rmanente e mais ou menos total.
Atualmente, a embriaguez de'forma alguma constituio vfcio de pessoas de
empregar outros trabalhadores afora eles mesmos, da mesma forma é do
interesse dos comerciantes e dos rnanufatores de cada pais assegurar para
si mesmos o monopólio do mercado Interno. Dar, na Grã-Bretanha e na·
maloria dos demals países europeus, os direitos descomunais exigidos de
quase todas as mercadorias importadas por comerciantes estrangeiros.
Daí os elevados direitos e proibições impostas a todas as manufaturas es-
posição ou daqueles que facilmente podem comprar as mais caras bebi- trangeiras que podem vir a concorrer com as nossas próprias mercadorias.
das alcoólicas. Di6cilmente se tem visto entre nós uma pessoa de posição Dar também as pesadas restrições Impostas à importação de quase todos
embriagar-se com cerveja inglesa. Além disso, as restrições ao comércio os tipos de men:adorias dos países em relação aos quais se supõe ser des-
de vinhos na Grã-Bretanha não parecem devidamente bem elaboradas favorável a balança comercial,ou seja, dos países contra os quais a animo-
para Impedir as pessoas de freqüentarem a cerve)ar!a, se assim posso me sidade nacional é mais tnflamada.
\llzinbog doos
expressar, mas antes para evitar que freqüentem os lugares em que po- iq,resenlam uma No entanto, a riqueza de uma nação vizinha, embora seja perigosa~
dem comprar a melhor bebida e a mais barata. Favorecemo comércio de wnll!gem para uma na guerra e na poUtica, certamente é vantajosa para o comércio. Em esta-
nação, uslm como do de hostilidade, essa riqueza dos vizinhos pode possi'bilitar aos nossos
vinhos com Portugal e desestimulam o comércio de vinhos com a França. no Cll50de
Efetivamente, afuma-se que os portugueses são melhores clientes para os 1ndlvlduos. Inimigos manterem esquadras e exércitos superiores aos nossos; mas em
410 SISTEMAS DE ECONOMIA POLfnCA
AS Rf.STIUÇÕES EXmAORDINÁRIAS A IMPORTAÇÃO OE MERCADORIAS 411
do de paz e de comércio essa rlquezá também pode possibilitar-lhes tro, cinco ou seis vezes o contingente de pessoas, em relação ao que po-
ocar conosco um valor maior de mercadorias, e proporcionar-nos um deria movimentar um capital igual, empregado na malor parte dos outros
[ ercado melhor, seja para a produção direta do nosso próprio país, seja setores de comércio exterior. Entre as regiões francesas e britânicas mais
ra tudo aquilo que se compra com essa produção. Assim como uma afastadas entre si, poder-se-iam esperar retornos no mlnírno uma vez por
pessoa rica provavelmente será um cliente melhór para as pessoas opero- ano, e mesmo esse comércio, sob tal aspecto, daria no mínimo a mesma
sas de sua vizinhança do que uma pessoa pobre, o mesmo acontece com
uma nação rica. Com efeito, um lndivfduo rico, se for um manufator,
constitui um vizinho multo perigoso para todos os que comerciam da mes-
vantagem que a maior parte dos demais setores do nosso comércio exter-
no europeu. Esse comércio seria, no rnlnimo, três vezes rneís rentável
que o tão decantado comércio com as nossas colônias norte-americanas
d1
ma maneira. Todavla, todos os demais vizinhos - que constituem a gran- onde o retomo raramente demora menos de três anos e muitas vezes re'
de maíoria - tiram proveito do bom mercado que os gastos do rico lhes quer no mfnimo quatro ou cinco anos. Além disso, a França tem, ao qu_
proporcionaram. Eles tiram proveito até mesmo vendendo a preço mais se supõe, uma população de 24 milhões de habitantes. Nossas colônias
baixo que os trabalhadores mais pobres que negociam do mesmo modo norte-americanas nunca tiveram, ao que se calcula, mais do que três mi-
que ele. Da mesma forma, os manufatores de uma nação rica podem sem lhões. E a França é um país muito mais rico do que a América do Norte
dúvida ser rivais multo perigosos para os de seus vizinhos. Entretanto, es- embora, devido à maior desigualdade no tocante à distribuição das rique-
sa própria concorrência é vantajosa para a maioria da população que, zas, exista muito mais pobreza e rnendlcãnda na França do que na Améri-
além disso, lira grande proveito do bom mercado que os grandes gastos ca do Norte. Por isso, a França poderia oferecer um mercado no mínimo
de tal nação rica lhe proporciona de qualquer outra forma. As pessoas par- oito vezes mais amplo e, em razão da freqüência maior dos retornos, um
ticulares que desejam fazer fortuna nunca pensam em dirigir-se às provín- mercado 24 vezes maís vantajoso do que o mercado que as nossas colôni-
cias longínquas e pobres do pals, antes vão para a capital ou para alguma as norte-americanas· Jamais nos conseguiram oferecer. Igualmente vanta-
das grandes cidades comerciais. Sabem que onde circula pouca riqueza joso para a França seria o cornércío com a Grã-Bretanha e, em proporção
pouco podem .conseguir, mas que, onde se movimenta uma grande rique- com a riqueza, a população e a proximidade dos dols países, o comércio
za, têm condições de partilhar de parte dela Assim, as mesmas regras que da França com a Grã-Bretanha teria exatamente a mesma superioridade
devem dirigir o senso comum de um, de dez ou de vinte índívíduos, dé- sobre o comércio que a França mantém com suas prõprias colônias. Tal é
vem orientar o Julgamento de um, de dez ou de vinte milhões, e fazer a enorme diferença existente entre esse comércio - que o bom senso
com que uma nação Inteira veja as riquezas de seus vizinhos como uma ,1 das duas nações considerou conveniente desestimular - e o comércio
provável causa e oportunidade para ela mesma adquirir riquezas. Uma na- ·atualmente existente, que as duas naçõeso têm favorecidoao máximo.
ção que se enriquecesse com o comércio externo certamente teria maior Entretanto, os Ora, exatamente as mesmas circunstancias que teriam tomado tão
probabilidade de se enriquecer quando seus vizinhos são todos nações ri- comerdanles da
França eda vantajoso para as duas nações um comércio aberto e Uvre entre elas têm
[cas, operosas e comerei.antes. Uma grande nação, cercada de todos os la- l~lmal.Qm consliturdo os obstáculos principais para esse comércio. Sendo vizinhas, a
'aos por selvagens nômades e pobres bárbaros, certamente poderia adqui- dOmaun.sdos Grã-Bretanha e a França são necessariamente Inimigas entre si e, por esse
oulros.
rir riquezas com o cultivo de suas próprias terras e com seu próprio ccmêr- motivo, a riqueza e o poder de cada uma delas se tomam tanto mais temí-
do interno, mas não com o comércio externo. Parece ter sido dessa for- veis à outra; e aquilo que poderia aumentar a vantagem da amizade nacio-
ma que os antigos egfpcios e os modernos chineses adquiriram sua gran- nal serve apenas para Inflamar a violência da animosidade n_acional. Tra-
de ríqueza, Segundo se diz, os a.ntigos egípcios negligenciavamo comér- ta-se de duas nações ricas e operosas; e os comerciantes e os manufatO.:
cio exterior, e os chineses modernos, como se sabe, o desprezam ao máxl- res de cada uma delas têm medo da concorrência, da habilidade e ela ati-
mo, e dificilmentese dignam a dar-lhe a proteção conveniente das leis. As vidade dos comerciantes e dos manufatores da outra Excita-se com Isto a
modernas regras do comércio exterior, ao visarem ao empobrecimento de rivalidade mercantil, inflamando pela violência a animosidade nacional e
{todos os nossos vizinhos, longe de conseguirem o efeito desejado, tendem sendo por ela Inflamada. E os comerciantes dos dois paf ses anunciaram,
a tomar esse comércio exterior Insignificantee desprezível. com toda a apaixonada confiança da falsidade Interesseira, a certeza da
o camArào<om. Foi em conseqüência dessas regras que o comércio entre a França e ruína de cada uma delas, em conseqüência dessa balança comercial desfa-
França, N nao
houws.seos a Inglaterra, nos dois países, tem estado sujeito a. tantos desestímulos e vorável que, segundo alegam, constituiria o efeito infalível de um comér-
rutrlções. lena tantas restrições. Entrelanto, se esses dois países considerassem seu Inte- cio sem restrições entre as duas.
multo mais
vanta)ooopara o resse real, sem rivalidade nem animosidade nacional, o comércio da Fran- Jamais uma balança Não existe nenhum pars comercial europeu cuja ruína Iminente não
Grl-Bre1anha do ça poderia ser mais vantajoso para a Grã-Bretanha do que o de qualquer comerc!.,I
dafa~vel fez um tenha sido muitas vezes predita pelos pretensos doutores desse sistema
que o com4ldo Cl)ffl outra nação e, pela mesma razão, o mesmo aconteceria com o comércio
"Am4"ce. pois empobrecer, e mercantil, como decorrência de uma balança comercial desfavorável. No
britânico, em relação à França. A França é o vizinho mais próximo da os poises que lêm a entanto, depois de todas as preocupações e temores que levantaram em
Grã-Bretanha. No comércio entre á costa meridlonal da Inglaterra e as me1or nberdade de
commio lllo os que tomo desse assunto, depois de todas as tentativasvãs, por parte de quase
costas setentrional e noroeste da França, poder-se-Iam conseguir retor- mais •• todas as nações comerdals, no sentido de fazer com que essa balança co-
nos, da mesma forma que no comércio interno, quatro, cinco ou seis ve- erulqueceram com o
comfzdonlmlor. meràal lhes fosse favorável e desfavorável a seus vizinhos, não M sinais
zes por ano. Por conseguinte, o capital empregado nesse comércio pode- de que alguma nação européia, sob qualquer aspecto, tenha empobreci-
ria,· em cada uma das duas nações, movimentar quatro, cinco ou seis ve- do por esse motivo. Ao contrário, cada cidade e cada país, na medida em
zes o volume de trabalho, proporcionando. emprego e subsistência qua- que abriram seus portos a todas as nações, ao Invés de serem arruinados
412 SISTEMAS DE ECONOMIA POLtnCA

por esse comércio livre - com, nos Induzíríam a crer os princípios do sis-
tema comercial -, enriqueceram com isso. De fato, ainda que haja na Eu-
ropa algumas cidades que, sob alguns aspectos, mereçam o nome de por-
tos livres, não hê:'i nenhum país em que exista tal Uberdadede comércio. A
Holanda é, talvez, o pais que mais próximo está dessa pratica, embora ain-
da bem longe dela; ora, reconhece-se que a Holanda aufere do comércio
exterior não somente toda a sua ríqueza, como também grande parte de
sua subsistência.
A pro5peó:f4de e o
declínio de um p>!s ( Na verdade M urna outra balança, que já foi expllcada, e que é mui-
dependanda ) to diferente da balança comercial - esta sim, conforme for favorável ou
balança
produçllo<cnsumo, 1 desfavorável, necessariamente gera a prosperidade ou o dedínio de uma
/!lação. É a balança de produção e consumo anuais. Jê:'i observei que, se o
valor de troca da produção anual superar o valor de troca do consumo
anual, o capital da sociedade deve aumentar proporcionalmentea esse ex- Índice
cedente. Nesse caso, a sociedade vive nos Omites de sua renda, e o que
anualmente se economiza dessa renda é naturalmente acrescentado a seu
capital e empregado para aumentar ainda mais a produção anual. Ao con-
trê:'irio, se o valor de troca da produção anual for Inferior ao consumo
anual, o capital da sociedade deve diminuir anualmente em proporção a
essa diferença ou Insuficiência. Neste caso, a despesa da Sociedade supe- Apresentação de Winston Fritsch .
ra sua renda, interferindo forçosamente em seu capital. Por Isso, seu capi- vrr
tal necessariamente diminui e, Juntamente com ele, o valor de troca da
produção anual de sua atividade.
qu• êmL!l!o
d!!em1te dll l:alar,ça Essa balança de produção e consumo é totalmente diferente da as- A RlQUEZA DAS NAÇÕES
COfM!dal, sim chamada balança comercial. Ela poderia ocorrer em uma nação que
não tivesse nenhum comércio exterior, mas estivessetotalmente separada Introdução de EdwinCannan ' ······ .
do resto do mundo. Ela pode ocorrer no mundo inteiro, cuja riqueza, po- 3
• poc1 • ...,
pulação e desenvolvimento podem estar gradualmente aumentando ou Introdução e Plano da Obra .
oorulanl..,,.,.Jc gradualmente decllnando. A balança de produção e consumo pode ser 35
iavcdllla! a l!fflll
n.,çl!o, quanéo StJa
b,úmç<1oomerclol
IMtdcsia"<:dwL
D onstantemente favoravel a uma nação, ainda que a chamada balança co-
mercial lhe seja geralmente contrê:'iria. É possível a uma nação importar
um valor superior ao que exporta, e Isso talvez durante melo século contí- LIVRO PRlMEIRO- As Causas do Aprimoramento das Forças Pr0-
nuo; é possível que o ouro e a prata que entram nesse país durante todo dutivas do Trabalho e a Ordem Segundo a qual sua Produção
esse tempo sejam imediatamente enviados para fora; sua moeda circulan- é Naturalmente Distribuída Entre as Diversas Categorias do
te pode diminuir gradualmente, sendo substitufdapor diversos tipos de pa- Povo ···· .. ··········
pel-moeda; podem até aumentar gradualmente dívidas que o país contrai
39
CAP. 1-ADivlsãodo Trabalho . 41
junto ãs principais nações com as quais comen:ializ.a; não obstante Isso, a CAP. ll- O Princípioque Dá Origem à Divisãodo Trabalho . 49
riqueza real desse país, o valor de troca da produção anual de suas terras CAP. m - A Divisão do Trabalho Umitada pela Extensão do
e de seu trabalho podem, durante esse mesmo período, ter aumentado Mercado . 53
em uma proporção muito maior. A situação das nossas colônias norte- CAP. IV -A Origem e o Uso cio Dinheiro . 57
americanas e do comércio que efetuavam com a Grã-Bretanha, antes do CAP. V - O Preço Real e o Preço Nominal das Mercadorias ou
Início dos atuais distúrbios, pode servir como prova de que isso de forma · seu Preço em Trabalho e seu Preço em Dinheiro .
alguma representa uma suposição impossível. CAP. VI-Fatores que Compõem o Preço das Mercadorias ~
CAP. VIl - O Preço Natural e o Preço de Mercado das Mercado-
rias : . 83
CAP.VIll-OsSaláriosdo Trabalho . 91
CAP.IX-OsLucrosdoCapital . 109
CAP. X - Os Salãríos e o Lucro nos Diversos Empregos de
Mão-de-Obrae de Capital ............................•... 117
Parte Primeira - Desigualdades decorrentes da natureza dos
própriosempregos , .......• , · .. - ...•. 117
Patte Segunda - Desigualdadesoriundasda política na Europa ... 132

413
1
L.J
112 SISTEMAS OE ECONOMlAPOÚTICA

mo dos de primeira necessidade, toda vez que os empregados da Compa- CAPfTuLo vrn
nhia quiserem comercializá-los, àquilo que esses empregados podem per-
mitir-secomprar e esperar vender com o lucro que lhes aprouver.
O Interesse do< Também em virtude da natureza de sua situação, os empregados ne-
emingo,dos da cessariamente estão mais inclinados a apoiar com rigorosa severidade seu
Companhia nJo se
lda\l!ftcacomo próprio interesse contra o do pafs que governam, do que seus patrões em
inteieswdopafl, apoiar os interesses oficiais da Companhi.a. O- país pertence a seus pa-
cerno 11cool.eee. com
oi,,teru,•realda trões, que não podem deixar de ter alguma consideração pelo interesse
Companhla. daquilo que lhes pertence. Entretanto, o pais não pertence aos emprega-
dos da Companhia. O interesse real de seus patrões, se estes fossem capa-
zes de entendê-lo, identifica-se com o do pars, 1 e se os patrões violam es-
se interesse, é sobretudo por Ignorância,e devido ã mediocridade do pre-
conceito mercantil. Entretanto, o interesse real dos empregados da Com- .
panhía de forma alguma é o mesmo que o do país, e nem a mais autênti- Resultado do Sistema Mercantil
ca Informação poria fim, necessariamente, às opressões deles. Em conse-
qüência, as normas emanadas da Europa, embora multas vezes tenham si-
do frágeis, de modo geral parecem bem-Intencionadas. Mais Inteligência,
e, talvez, intenções menos apreciáveis têm, por vezes, se revelado nas nor-
mas estabelecidas pelos empregados da Companhia das lndías Orientais.
Não deixa de ser bastante singular um governo em que cada membro da O dstemo maanW Conquanto o estímulo à exportação e o desestfmulo à Importação
desestimula a
admlnlstração deseja sair do país e conseqüentemente, não desêja ter ~do constituam os dois grandes Instrumentos com os quais o sistema mercantil
mais nada a ver com o governo, tão logo que puder, sendo totalmente in- materlals pm11 propõe enriquecer cada pars, ainda assim, no tocante a algumas mercado-
monufatura, • cio rias específicas, ele parece seguir um plano oposto: desestimulara exporta-
diferente para com o Interesse dele - no dia seguinte àquele em que dei- lrulrummtos de
xou o pafs e levou consigo toda a sua fortuna - mesmo que todo o país trabalho. ção e estimular a importação. Pretende ele, porém, que seu objetivo últi-
seja arrasado por um terremoto. mo seja sempre o mesmo, Isto é, enriquecer o pais mediante uma balança
o. males ptOYtmdo Com tudo o que acabo de dizer, porém, não tenciono fazer nenhu- comercial favorável. Desestimula a exportação dos materiais para manufa-
-.ia, e MO do ma Insinuação odiosa ao caráter geral dos empregados da Companhia turas, bem como dos lnstrumentos de trabalho, a fim de proporcionar aos
cm ter dos homens nossos próprios operários uma vantagem e capacitá-losa vender !ais ma-
(lU" o aclm!nlstruL das lndlas Orientais, e muito menos ao caráter de quaisquer pessoas em
particular. O que tenciono censurar ê o sistema de governo, a situação nufaturas mais barato do que outras nações, em todos os mercados es-
em que os empregados se encontram, e não o caráter daqueles que agi- trange.iros; e ao restringir, dessa forma, a exportação de algumas poucas
ram no caso. Agiram conformê naturalmente os obrigou a situação e pro- mercadorias, de preço não elevado, o sistema mercantil propõe-se provo-
vavelmente os que mais reclamaram contra eles não teriam agido melhor. Elt esllmula • car uma exportação muito maior e de mais valor de outros artigos. O siste-
lmportaçSode ma estimula a Importação dos materiais para manufaturas a fim de que
Na guerra e nas negociações, os conselhos de Madras e Calcutá em várias m111C11alsllindJlque
ocasiões se conduziram com coragem e sabedoria tão decididas, que te- nJo de Instrumentai nossos próprios trabalhadores tenham a possibilidade de processá-las a
de trabalho. preço mais baixo, evitando assim uma importação maior e mais valiosa
riam honrado o senado de Roma dos melhores dias da RepOblica. Toda-
via, os membros desses conselhos haviam sido Instruídos para profissões das mercadorias manufaturadas. Não encontro, ao menos em nosso Códi-
multo diferentes da guerra e da polltica. Somente sua situação, sem edu- go Civil, estfrnulo algum dado à importação de Instrumentosde trabalho.
cação, experiência ou mesmo exemplo, parece te-los moldado de repente Quando as manufaturas atingiram certo nível de grandeza, a própria fabri-
para as grandes qualidades que a profissão exigia, e haver-lhes inspirado cação de Instrumentos de trabalho se toma objeto de grande número de
capacidades e virtudes que eles mesmos não tinham plena consciência de manufaturas muito Importantes. Conceder algum estímulo peculiar à Im-
possuir. Se, pois, em algumas ocasiões, a profissão os animou a atos de portação de tais Instrumentos significaria lnterferlr excessivamenteno Inte-
magnanimidade que dificilmente se poderia esperar deles, não devemos resse dessas manufaturas. Tal Importação, portanto, ao Invés de ser esti-
admirar-nos se em outras os levou a atitudes de natureza algo diferente. mulada, com freqüêncía foi proibida Assim, o Estatuto 3 de Eduardo IV,
Essas companhias exclusivas, portanto, são danosas sob todos os as- proibiu a ímportação de cardas de lã, a não ser as da lrlanda ou quando
pectos; são sempre mais ou menos.Inconvenientes para os países em que importadas como mercadorias de navios naufragados ou tomadas à força;
são criadas e destrutivas para os países que têm a Infelicidade de cair sob essa proibição foi renovada pelo Estatuto 39 de Isabel, e leis subseqüen-
o seu governo. tes a prolongaram e a tomaram perpétua.
A importação de materiais para manufaturas às vezes foi estimulada
por uma Isenção de taxas alfandegárias impostas a outras mercadorias, e,
ãs vezes, por subsídios.
A importação de lã de ovelha de vários países, de algodão em rama
de todos os países, do linho não cardado, da maioria dos corantes, da

113

i
114 SJSTEMASDE ECONOMIAPOUTICA RfSULTADO 00 SISTEMA MERCANTIL 115
maioria dos couros não curtidos da Irlanda ou das colônias britânicas de nefído dos pobres e dos Indigentes é, com excessiva freqüência, negligen-
peles de foca da índüstría de pesca da Groenlândia Britânica,de ferro fundi- ciado ou então sobrecarregado. ·
do e ferro em barras das colônias brilllnicas, bem .corno a de vários outros Essa isenção • Tanto no subsídio â exportação de linho como a isenção de taxas al-
tvnbêm o subsídio A
materiais para manufaturas, tem sido estimulada pela isenção de todas as ~ode linho fandegárias na importação de fio ~~ngeiro - que foram concedidos so-
taxas alfandegãrlas., desde que esses produtos dêem devidamente entrada são concedldos por mente para quinze anos, porém revalidados através de duas prorrogações
na alfândega. É possível que o interesse privado dos nossos comerciantes uma lei tomporaria. - expiram com o término da sessão do Parlamento que terá lugar imedia-
e manufatores tenha extorquido dos legisladoresessas isenções, bem co- tamente ná data de 24 de junho de 1786.
mo a maior parte das nossas outras medidas comerciais. No entanto, es- Os subsídiosaos O estimulo concedido â importação dos materiais para manufaturas
sas isenções são perfeitamente Justas e razoáveis e se, em consonância m11teriolst~
!oram concedidoo mediante subsídio foi limitado sobretudo aos Importados das nossas colô-
com as necessidades do Estado, elas pudessem ser estendidas a todos os sobretudo a nias americanas.
outros materiais de manufaturas, certamente o público sairia ganhando. J:l(Odutct
americanos, lllls
Os primeiros subsídlos desse gênero foram os conceclldos, por volta
O fio, embora M?J• Todavia, a avidez dos nossos grandes manufatores ampliou, em al- como matodals do in!do do século atual, à Importação de materiaisnavais da América. Es-
um artigo guns casos, essas Isenções bastante além daquilo que com Justiça se pode navais,
monurarurado, é sa denominação englobava madeira adequada para mastros, vergas e gu-
Isento d4 llucas d4 considerar como matérias brutas para seu trabalho. O Estatuto 24, cap. rupés, além de cânhamo, alcatrão, piche e terebintina. Todavia, o subsi-
lmportaç!IO. 46, de Jorge I~ impôs uma pequena taxa d.e apenas um pênl por libra-pe- dio de 1 libra por tonelada, para a importação de madeira de mastreação
so à Importação de fio de linho castanho estrangeiro, ao invés de taxas e o de 6 libras por tonelada para a importação de cânhamo foram estendi-
muito mais altas às quais esse artigo estava sujeito anteriormente, isto é, dos também a esses materiais, quando importadospela Inglaterra da Escó-
de seis pence por libra-peso, para fio de vela de um xelim para libra-peso cia. Esses subsídios continuaram, sem variação, com a mesma taxa, até
í'.
para todos os tipos de fios da França e eia Holanda, e de 2 13s 4 d sobre expirarem por várias vezes: o subsidio relativo ao cânhamo, a 1.º de Janei-
112 libras de todo coro ou Bo da Moscóvia. Mas essa redução não satisfez ro de 1741, e o relativo à madeira de mastreação no término da sessão
por muito tempo aos nossos manufatores. Até mesmo essa pequena taxa do Parlamento que se senguíu imediatamente à data de 24 de Junho de
alfandeg~ria Imposta â Importação de fio de linho castanho ío! eliminada 1781.
pelo Estatuto 29, cap. 15, do mesmo rei - a mesma lei que concedeu Os subsiclios à importação de alcatrão, piche e tereblntina sofreram
um subsldío à exportação de linho britânicoe irlandês, cujo preço não ul- durante sua vigência vãrías alterações. Inicialmente, o subsídio para a Im-
trapassasse 18 pence a Jarda. Entretanto, nas diferentes operações neces- portação de alcatrão era de 4 libras por tonelada, o relativo à Importação
~rias para a preparação do fio de linho, emprega-se bem mais trabalho de piche, Idem, e o relativo à importação de terebintina era de 3 libras
do que na operação subseqüente de preparar o tecido de linho a. partir do por tonelada. O subsfdio de 4 libras por tonelada de alcatrão foi depois li-
fio de Unho. Para não falar do trabalho dos cultivadores e dos cardadores mitado ao alcatrão preparado de um modo peculiar, e o subsídio à impor-
de linho, necessita-se ,10 mínimo de três ou quatro fiandelros para conser- tação de outros tipos de alcatrão de boa qualidade, limpo e comercializá-
var constantemente ocupado um único tecelão; por outro lado, na prepa- vel, foi produzido parai: 2 4 s por tonelada. Também o subs!dío à impor-
ração do fio de linho emprega-se mais de 415 do volume total de trabalho !'.
tação de piche foi reduzido para 1 libra, e o relativo à terebintina para 1
necessário para a preparação do tecido de linho; ora, nossos fiandelros 10 s por tonelada.
pofQue os flando!ros 53.o pessoas pobres, geralmente mulheres, espalhadas em todas as diver- aril das colõrilas, O segundo subsídio concedido a Importânciade quaisquer materiais
*c!e,sprotegldAs,
pessoas pobres,
e os
sas regiões do país, desprovidas de amparo ou proteção. Não é da venda para manufaturas, na ordem cronológica, foi o outorgado pelo Estatuto
mestra tecelões silo do trabalho delas que os nossos grandes patrões manufatores auferem 21, cap. 30, de Jorge ll, relativo à Importação de índigo das colônias britâ-
mo. e po<kroSOd. seus lucros, mas da venda do produto acabado dos tecelões. Assim como nicas. Quando o índigo das colônias valia 3/4 do preço do índigo francês
eles têm interesse em vender o manufaturado acabado ao preço mais alto da melhor qualidade, esse Estatuto lhe concedeu um subsídío de 6 pence
possível, da mesma fonna têm Interesseem comprar os materiais o mais por libra-peso. Esse subsídio concedido, como a maioria dos demais, por
barato possível. Extraindo dos legisladoressubsídios para a exportação de um período limitado, foi prorrogado v!rias vezes, mas reduzido para 4
seus próprios linhos, altas taxas aduaneiras para a Importação de todos os pence por libra-peso. Ele expirou com o ténnlno da sessão do Parlamen-
linhos estrangeiros e uma proibição tola! de consumo lotemo de alguns ti- to que se seguiu a 25 de maio de 1781.
pos de linho francês, os manufatores procuram vender suas próprias mer- cAnhamo ou llnho O terceiro subsfáio desse gênero foi o concedido (bem próximo da
n8o c:otdado,
cadorias o mais caro possfvel Estimulando a importação de fio de linho época em que estávamos começando, por vezes, a cortejar nossas colô-
estrangeiro e, com Isso, fazendo-o concorrer com o fio feito pelos nossos nias e, por vezes, a brigar com elas) pelo Estatuto 4, cap. 26, de Jorge m,
próprios trabalhadores, procuram comprar o trabalho das pobres fiandei- à importação do cânhamo ou linho não cardado das colônias britânicas.
ras o mais barato possível. Seu Intento é manter baixos tanto os salários Esse subsídio foi concedido para 21 anos, de 24 de junho de 1764 a 24
de seus próprios tecelões como os ganho das pobres fiandeiras; por outro de iµnho de 1785. Para os primeiros sete anos, o subsídio devia ser de 8
lado, não ~ de fonna alguma em beneíídc dos operários que procuram libras por tonelada, para os sete anos seguintes, de 6 libras, e para os ou-
ou levantar o preço do produto acabado ou baixar o das matérias-primas. tros sete, de quatro libras. O subsfdi.o não foi estendido ao cânhamo Im-
O que o nosso sistema mercantil estimula, antes de tudo, é o trabalho exe- portado da Escócia, cujo clima {êmbora por vezes lá se cultive esse produ-
cutado em benefício dos ricos e poderosos. O trabalho executado em b€- to, em quantidades pequenas e de qualidade Inferior) não é multo Indica-
116 SISTEMAS DE ECONOMIA l'OúrtCA
RESULTADO OOSISTEMAMERC>XTU.. 117
do para a produção. A concessão de tal subsídlo à importação de linho es- til sequer por qualquer gasto que tivéssemos com elas. Estàs nos perten-
cocês pela lnglate.rra teria representado um desestimulo excessívo para a ciam, sob todos os aspectos, sendo, pois, uma despesa investida no apri-
produção nativa da região sul do Reino Unido. moramento de nossa própria propriedade, e para o emprego rentável de
madeira nme:rtc:ana1 O quarto subsídio desse gênero foi o concedido pelo Estatuto 5, cap. nossa própria gente. Segundo entendo é supé:rBuo, no momento, acres-
45, de Jorge III, à importação de madeira da América. Ele foi outorgado centar algo maís para expor a insensatez desse sistema, que a experiência
para nove anos, de V de janeiro de 1766 atê l. de janeiro de 1775. Du-
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fatal acaba de comprovar suficientemente.Se as nossas colônias america-
rante os três primeiros anos, o subsfdío deveria ser de 1 libra para cada nas tivessem constituído realmente uma parte da Grã-Bretanha,esses sub-
120 pranchas de boa qualidade, e para cada carga contendo 50 pés cúbi- sídios poderiam ter sido considerados como subsídios a produção, e
cos de outras madeiras esquadriadas de 12 xelins. Para os três anos se- estariam ainda sujeitos a todas as objeções a que estão expostos, mas a
guintes, o subsídio deveria ser, para pranchas, de 15 xelins e para outras nenhuma outra.
madeiras esquadriadas deveria ser de 8 xelins; e para os últimos 3 anos,
deveria ser, para pranchas, de 10 xelins, e, para outras madei.ras esqua- A exportação de materiais para manufaturas é desestimulada, ora
dríadas, de 5 xelins. por proibições absolutas, ora por altas taxas alfandegárias.
seda bTUta, O quinto subsídio desse tipo foi o concedido pelo Estatuto 9, cap. A mcpo<taçJo de 1' • Os nossos manuíatores de lã têm tido mais sucesso do que qualquer
de~vtvasê
38, de Jorge III, à Importação de seda bruta das colônias brit.An!cas. Ele prdblda, sob penas
outra categoria de trabalhadores em persuadir os legisladores de que a
wveru; prosperidade da nação dependeria do êxito e da extensão de sua ativida-
foi outorgado para 21 anos, de l. de }aneito de 1770 atê 1.º de Janeiro
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de 1791. Durante os primeiros sete anos, o subsídio deveria ser de 25 li- de específica. Não somente obtiveram um monopõlio contra os consumi-
dores, mediante total proibição de Importar tecidos de lã de qualquer país
bras para cada 100 libras de valor do produto; para os sete anos seguin-
estrangeiro, como também conseguiram outro monopólio, contra os cria-
tes, de 20 libras; e para outros sete anos, de 15 libras. A criação do bicha- dores de carneiro e produtores de lã, por semelhante proibição da expor-
da-seda e a preparação da seda exigem multa mão-de-obra e trabalho e tação de carneiros vivos e de lã. Hã queixas muito justas contra a severida-
isso é tão caro na América que mesmo esse grande subsídio, conforme fui de de multas das leis promulgadas para garantir a renda, por Imporem ri-
Informado, não tinha probabilidade de produzir nenhum efeito consíderã-
vel. gorosas penas a atos que, antes dos estatutos que os declararamcomo cri-
mes, tinham sempre sido considerados inocentes. Contudo, ouso afirmar
O sexto subsídio desse gênero foi o concedido pelo Estatuto 11, cap.
que a mais cruel das leis da Receita silo suaves e brandas, em compara-
50, de Jorge Ili, à Importação de pipas, quarteias, aduelas e materiais pa-
ção com algumas leis arrancadas dos legisladores pelo clamor dos nossos
ra tampos de barril das colônias britanlcas. Foi concedido para nove anos,
comerciantes e manufatores, em apolo de seus próprios monopólios ab-
de 1. • de janeíro de 1772 até l.° de Janeiro de 1781. Para os três primei-
surdos e opressivos. Como as leis de Drãcon, pode-se dizer que todas es-
ros anos, o subsidio devia ser de 6 libras esterlinas por determinada quan-
sas leis foram escritascom sangue.
tidade de barris ou tampos; para os três anos seguintes, de 4 libras, e para
os últimos 3 anos, de 2 libras.' onttg,,mente, a Em virtude do Estatuto 8, cap, 3, de lsabel, o exportador de ovelhas,
mutilaçlo e. a morte,
cânhamo INtndb. O sêtímo e último subsídio desse tipo foi o concedldo pelo Estatuto cordeiros ou carneiros, na ocorrência da primeira infração, tinha que en-
19, cap. 37. de Jorge III, para a importação do cânhamo da Irlanda. Igual- tregar todos os seus bens para sempre, passar um ano na prísão, e depois
mente, ao subsídio dado para a importação de cânhamo e de linho não disso sofrer a amputação da mão esquerda, em uma cidade em que hou-
cardado da América, ele foi concedido para 21 anos, de 24 de Junho de vesse mercado, e em um dla de mercado, sendo pregada a mão amputa-
1779 até 24 de junho de 1800. Também esse prazo está dividido em três da em local público no mercado; na segunda infração, era Julgado o réu
perfodos de sete anos cada, e em cada um desses períodos a taxa de sub- de crime capital, sendo, portanto, punido com a morte. Evitar que a raça
stdío para o produto irlandês é a mesma que a vigente para a do produto das nossas ovelhas se propagasse em países estrangeiros,tal parece haver
americano. Contudo, ele não se estende à Importação de linho não carda- sido o objetivo dessa lei Os Estatutos 13 e 14, cap. 18, de Carlos Il, de-
do, como ocorre com o subsídio à Importação da América. Isto teria cons- cretaram que também a exportação de lã fosse julgada como crime capi-
tituído um desestimulo excessivo ao cultivo dessa planta na Grã-Breta- ta!, estando o exportador de lã sujeito ãs mesmas penas e multas de con-
nha. Quando se concedeu esse subsídio, os legisladores britânicos e irlan- fisco que o réu de crime capital
deses não mantinham entre si relações melhores do que as anteriormente Em atenção ao senso de humanidade da nação, era de se esperar
existentes entre os brítânlcos e os americanos. Mas esse benefício à Irlan- que nenhum desses dois estatutos jamais fosse cumprido. No entanto, atê
da, como era · de se esperar - foi concedido sob auspícios multo mais onde sei, o primeiro deles nunca foi diretamente revogado, e o sargento
afortunados do que todos os benefícios outorgados à América. Hawkins parece considera-loainda em vigor. Todavia, talv~ ele possa ser
Emas mertadoda5
atavam IU)ellu o As mesmas mercadorias para as quais concedemos subsidias, quan- considerado como virtualmente revogado pelo Estatuto 12, cap. 32, sec.
ta,cas~ do Importadas da América, estavam sujeitas a taxas alfandegárias conside- 3, de Carlos II, o qual, sem supômlr expressamenteas penalidades impos-
quando vinda do
países emah~ rãveís, quando Importadas de qualquer outro pats. Considerou-se que o tas por estatutos anteriores, estabelece uma nova penalldade, isto é, a de
Alegava-wqueo Interesse das nossas colônias americanas é o mesmo que o da rnãe-pãtría, 20 xelins por ovelha exportaQaou que se tenha tentado exportar, Junta-
ln""'-&rs Sua riqueza foi considerada como sendo nossa. Segundo se afirmava,
colõnias cda mente com o confisco das ovelhas e da parcela do proprietário do navio.
m3e•p4b1a ••• o qualquer dinheiro que fosse enviado a essas colônias voltava totalmente à O Estatuto 14 de Carlos O foi expressamente revogado pelos Estatutos 7
mesmo. mãe-pátria pela balança comercial, e jamais empobreceríamos de um cei- e 8, cap. 28, see, 4, de Guilhermelll, o qual declara:
RESULTADO DO SISTEMA MERCANTn- 119
118 SISTEMAS DE ECONOMIAPOLITICA
lato escrito ao oficial mais próximo da alfândega, indicando o número de
"Considerando que os Estatutos 13 e 14 do Rei Carlos 11, contra a expor- seus veios e o local onde são guardados. E, antes de retirar desse local
tação de lã, entre outras coisas mencionadas na lei supra, decreta que este qualquer quantidade desses veios, deve enviar, igualmente, relatório Indi-
ato deva ser considerado como crime capital; considerando que, em razão cando o número e o peso dos veios, bem como o nome e o domicilio e
da severidade da pena Imposta, o processo dos transgressores não tem sido da pessoa à qual são vendidos e o lugar para o qual se tenciona transpor-
executado com a devida eficácia, fica estatuído pela autorldade supra que se- tá-los. No ralo de quinze milhas, nenhuma pessoa nos citados condados
ja revogada e tomada nula a parte do estatuto supra que declara dever ser
considerada corno crtme capital a mencionada infração". pode comprar lã, antes de comprometer-se com o rei a não vender a ne-
nhuma outra pessoa, no raio de quinze milhas- ?º mar, qualquer porção
Sem embargo, ainda são suficientemente severas as penalidades im- de lã assim comprada. Se nos mencionados condados se constatar que a
c,3 xebns para cada lã está sendo transportada para a costa marttima, a menos que a mercado·
hbra-peso de la, postas por esse Estatuto mais benigno, ou então as que, conquanto impos-
al4mdeou~ tas por estatutos anteriores, não são revogadas por esse, além do confisco ria tenha entrado na alfândega e tenha sido dada a supramencionada se-
~multas e
das _mercadorias, o exportador Incorre na multa de 3 xelins por líbra- gurança, a carga é confiscada e além disso o infrator paga 3 xelins por li-
pen...Udad~. bra-peso. Se alguém armazenar qualquer lã sem tê-la registrado conforme
peso de lã exportada ou que tiver tentado exportar, Isto é, aproximada-
mente quatro ou cinco vezes o valor. Qualquer comerciante ou outra pes- acima indicado, no ralo de quinze milhas do mar, a lã deve ser apreendi-
da e confiscada; e se, depois dessa apreensão, qualquer pessoa reclamar
soa declarada culpada dessa infração perde a capacidade de exigir, de
qualquer agente ou outra pessoa, o pagamento de qualquer divida ou a lã, deverá garantir ao Tesouro que, se for vencido em ju!zo, pagará o tri-
conta a ele pertencente. Seja qual for sua fortuna, se for ele capaz ou não plo dos custos, além de todas as outras penalidades.
Se ao comércio interno se Impõe tais restrições, é de crer que o co-
de pagar essas pesadas multas, a lei tenciona arrulná-lo por completo. To- restriçõeulmllare!
saolelmsao mércio costeiro não pode ter multa liberdade. Todo proprietário de lã que
davia, como a moral do conjunto da população ainda não está tão cor- com4rdoco<te!ro. transportar ou fizer transportar qualquer porto ou lugar da cosia marítima,
rompida como a dos planejadores desse estatuto, ainda não ouvi falar de
para que a lã seja transportada dali, por mar, a qualquer outro lugar ou
nenhuma vantagem que se tenha auferido dessa cláusula. Se a pessoa de-
porto da costa, deve primeiro obter uma autorização nesse sentido no por-
clarada réu dessa Infração não for capaz de pagar as multas dentro de três
to do qual tenciona transportar a lã, contendo o peso, as marcas e o nú-
meses depois do julgamento, ela deve ser deportada durante sete anos e,
mero de pacotes, antes de colocá-la a cinco milhas desse porto, sob pena
se retomar antes da expiração desse prazo, está sujeita aos castigos Impos-
de lhe ser confiscada à carga, bem como os cavalos, carroças e outras car-
tos ao crime capital, sem beneffdo do clero. O proprletári9 do navio que
ruagens; e, além disso, sofrer as penalidades e as multas estipuladas pelas
tiver conhecimento dessa infração perde direito ao navio e a seus equipa-
demais leis em vigor contra a exportação de lã. Contudo, essa lei (Estatu-
mentos. Ao capitão e aos marujos que tiverem conhecimento dessa Infra-
ção são confiscados todos os haveres, sendo punidos com três meses de to 1, cap. 32, de Gullhenne [Il) ê tão indulgente, a ponto de declarar que
prtsão. Um estatuto posterior Impõe ao capitão seis meses de prisão. "isto não lmpedirâ ninguém de transporlar sua lã para casa, do lugar da
A fim de evitar a exportação, Impõe-se a todo o comércio Interno de tosquia, ainda que seja no ralo de cinco mllhas do mar. desde que, dentro
lã restrições bem onerosas e opresslvas. A lã não pode ser embalada em de dez dias a contar da tosquia, e antes ele remover a lã, de próprio punho,
caixas, barris, pipas, malas, baús ou qualquer outro tipo de embalagem, declare ao o6clal maiS próximo da alfãndega o verdadeiro nümero de veios
mas somente pacotes de couro ou de pano de ambalagem nos quais de- e o local onde a lã está guardada e nao a remova sem antes certificar esse
vem estar marcadas, na parte externa, as palavras lã ou fio, em letras gran- oficial, de próprio punho, sua lntenç;;o de removê-la, três días antes".
des, de comprimento não Inferior a 3 polegadas, sob pena de ser confisca-
da a carga e a embalagem com o pagamento ainda de 3 xelins por Ubra- Ê dever dar garantia de que a lã a ser transportada em direção à COS·
peso, a serem pagos pelo proprietário ou embalador. A lã sô pode ser car- ta será descarregada no porto especifico para o qual foi registrada para fo-
regada em cavalo ou carroça, ou transportada por terra dentro de cinco ra; e se alguma porção dessa lã for descarregada sem a presença de um
milhas de costa, entre o nascer e o pôr do sol, sob pena do confisco da oficial, não somente se confisca a lã, como acontece com outras mercado-
carga, dos cavalos e das carroças. O distrito mais próximo à costa marítí- rias, como também se incorre na costumeira multa adicional de 3 xelins
ma, a partir do qual ou através do qual a ta for transportada ou exporta- por Ubra-peso.
da, paga 20 libras, se o valor da lã for Inferior a 10 líbras; e, se o valor for Os nossos manulatores de lã, no Intuito de Justificar sua exigência
acima disto, pagará o triplo desse valor, juntamente com o triplo dos cus- dessas restrições e leis extraordinárias, têm afirmado com segurança que a
tos a serem judicialmente exigidos dentro de um ano, devendo a execu- lã inglesa é de qualidade especial, superior à de qualquer outro país; além
ção ser contra dois quaisquer dos habitantes, aos quaJs as sessões devem disso, asseguraram ser Impossível transformar a lã de outros países, sem a
reembolsar por uma tributação sobre os outros habitantes, como nos ca- ela se misturar lã inglesa, em qualquer artigo manufaturado de qualidade
sos de roubo. E se qualquer pessoa fizer um ajuste com o distrito oom aceitável; que não é possível fazer (ecidos de qualidade fina sem lã Ingle-
uma pena Inferior a essa, deve sofrer pena de prisão de cinco anos; e sa; e que, portanto, caso se conseguisse impedir totalmente a exportação
qualquer outra pessoa pode Instaurar processo. Essas normas têm vigên- de ta inglesa, a Inglaterra poderia monopolizar quase todo o comércio de
cia em todo o reino. lã do mundo e, assim, por não ter concorrentes, teria condições de ven-
Nos condados espedficos de Kent e Sussex, porém, as restrições são dê-la ao preço que quisesse, conseguindo em pouco tempo o mais lncrí-
ainda rnaís Incômodas. Todo proprietário de lã em um raio de dez milhas vel grau de riqueza, através da mais favorável balança rometdal Essa teo-
da costa rnarítírna deve, três dias após a tosquia das ovelhas, enviar um re-
RESULTADO DO SISTEMA MERCANTIL

trabalhadas e cultivadas, tanto o interesse dos proprietários da terra como o


120 SISTEMAS OE ECONOMIA POLITICA dos arrendatártos nl!io pode ser muito afetadopor esses detalhes, embora Is-
ria, como a maioria das outras propaladas com segurança por um número so lhes Interesse como consumidores, devido ao aumentodo preço dos man-
considerável de pessoas, foi implicitamenteconsiderada como certa - e timentos.
continua a ser assim considerada - por um número multo maior; por
quase todos aqueles que não estão familiarizados·com o comércio da lã Na linha desse raciocínio, portanto, essa diminuição do preço da lã
ou que não se deram ao trabalho de pesquisar o assunto mais a fundo. não ê suscetlvel, em ·um pars desenvolvido e cultivado, de provocar algu-
Entretanto, é absolutamente falso aflnnar que a lã inglesa seja, sob qual- ma diminuição da produção anual dessa mercadoria, a não ser na medida
quer aspecto, necessária para fazer tecidos finos; pelo contrário, ela não em que, aumentando o preço da carne de carneiro ela possa diminuir um
se presta em absoluto para Isso. Os tecidos finos são inteiramente feitos pouco a demanda desse tipO espeàal de carne de açougue, e, conseqüen-
de lã espanhola. A lã inglesa nem sequer se presta para ser misturada à lã temente, também sua produção. Todavia, mesmo nessa eventualidade,
espanhola de modo a entrar na composição, sem estragar e desvirtuar, provavelmente não é muito considerável o efeito dessa queda do preço
atê certo ponto, a textura do pano. da lã.Talvez se pense, porém, que, conquanto não possa ter sido muito
A, mll<ildas leg,11, Na primeira parte desta obra mostrei que o efeito dessas medidas le-
considerável o efeito da queda do preço de lã sobre a quantidade da pro-
&enim ball<ar o gais foi fazer diminuir o preço da lã Inglesa, não somente abaixo do que dução anual, seu efeíto sobre a qualidade deve necessariamente ter sído
preço da lã, con,o
.,,,.d~ado, seria naturalmente o preço atual, mas também muito abaixo do preço ele- multo grande. Talvez se suponha que a queda da qualidade da lã Inglesa.
tivo na época de Eduardo III. Segundo se afirma, o preço da lã escocesa se não abaixo da que era anteriormente, ao menos abaixe da que teria si-
foi aproximadamente reduzido à metade, quando ela foi sujeita às mes- do naturalmente, na condição atual de desenvolvimento e de cultivo das
mas restrições legais, em decorrência da união. O Rev. Sr. John Smith, terras, deve ter sido quase proporcional à queda do preço. Ê muito natu-
exatlsslmo e lnteligentisslmoautor dos Memo!rs of Wool, observa que o ral imaginar que, uma vez que a qualidade depende da raça, das pasta-
preço da lã Inglesa da melhor qualidade, na Inglaterra, está geralmente gens, do trato e da higiene das ovelhas, durante todo o processo da pro-
abaixo dó preço ao qual se costuma vender, no mercado de Amsterdã, dução dos veios, a atenção a essas circunstâncias nunca possa ser maior
urna lã de qualidade multo Inferior. O propósito declarado desses regula- do que em proporção à recompensa qu'e o preço dos velos pode oferecer
mentos foi fazer baixar o preço dessa mercadorla abaixo daquilo que se pelo trabalho e pelo gasto eidgido por tal atenção. Ocorre, porém, que a
Pode denominar seu preço natural e adequado; ora, parece não pairar dtl- boa qualidade dos veios depende, em grande parte, da saúde, do cresci·
vida alguma de que eles produziramo efeito que deles se esperava. mento e do tamanho do animal; ora, a mesma atenção necessária para
mas Isso nllo fez Poder-se-la talvez pensar que essa redução do preço, pelo fato de de- melhorar a carcaça do animal é, sob certos aspectos, suficiente para me-
dlmlnulr multo a sestimular a cultura da lã, deve ter felto diminuir muito a produção anual
quanlklade de Ili lhorar a qualidade dos velos de lá. Não obstante a diminuição do preço,
podltdda. dessa mercadoria, se não abaixo do nlvel anterior, pelo menos abaixo da- afirma-se que a lã inglesa melhorou consideravelmente, mesmo no decur-
quilo que provavelmente teria sido, nas atuais circunstânciasse. em conse- so do século atual Possivelmente, a melhoria teria sido maior se o preço
qUêncla de um mercado aberto e livre, se tivesse deixado o produto atin- tivesse sido mais compensador; entretanto, ainda que o baixo preço pos-
gir o preço natural e adequado. Entretanto, inclino-me a crer que esses re- sa ter dificultadoa melhoria da qualidade, certamente não a Impediu total-
gulamentos não podem ter afetado multo a quantidade da produção
anual - ainda que a possam ter afetado um pouco. A produção da lã mente.
Por conseguinte, a violência dessas normas não parece ter afetado a
não constitui o objetivo principal que o criador de ovelhas tem em vista quantidade nem a qualidade da produção anual de ~. tanto quanto se po-
ao empregar nisso seu trabalho e seu capital Ele espera auferir seu lucro, deria ter esperado (embora pessoalmente eu considere provâvel que pos-
não tanto do preço dos veios de lã, mas antes do preço do carcaça do ani- sa ter afetado bem mais a segunda do que a primeira); por outra parte,
mal sendo que o preço rnêdio ou normal deste deve atê, em muitos ca- embora essas medidas possam ter prejudicado até certo ponto o Interesse
sos, compensar-lhe qualquer prejulzo que lhe possa advir no caso de o dos produtores de lã. parece que, de um modo geral, esse prejuf20 foi
preço rnêdío ou normal da lã ser mais baixo. Na parte predecente desta
multo menos danoso do que se poderia Imaginar.
obra observei o seguinte: Essas considerações, porém, não justificam a proibição absoluta de
exportar lã. Justificam.sim, plenamente a Imposição de uma taxa alfande-
Todas as medidas que tendem a lazer baixar o preço da I! ou dos couros gária considerávela esse tipo de exportação.
abaixo do que serla o preço natural, devem, em um pa[s desenvolvido e cul- Lesar, em qualquer grau que seja, os Interesses de qualquer catego-
tivado, tender de alguma forma a aumentaro preço da carne de açougue. O ria de cidadãos, siml)lesmentepara promover os de alguma outi:a catego-
preço do gado, de grandee pequenoporte, que é criado em terras trabalha- ria, evidentemente ê contrário àquela justiça e Igualdade de tratamento
das e cull!vadas, deve ser suficiente pata pagar ao proprietário da terra a ren- que soberano deve dispensar a todas as categorias de seus südítos, Mas, a
da e ao locatário o lucro que têm o direito de esperar de urna terra tratada e
cull!vada- Se assim não for, logo deixar!o de alar gado. Ora, toda parcela refenda proibição certamente lesa, em certo grau, os Interesses dos produ-
desse preço que não for paga pela lã e pelo couro deve ser paga pela cerca- tores de lã, simplesmentepara favorecer aos Interesses dos manufatores.
ça_ Quanto menosse pagar pela lã e pelo couro, tanto rnaís se deverápagar Todas as categorias de ódadãos estão obrigadas a contrlbulr para a
pela e.ame. Desde que o dono da tetra e o arrendatário recebam o preço de- manutenção do soberano ou do Estado. Uma taxa de 5 ou até de 10 xe-
vido, não lhes intetesSa de que maneira os componentes do preço são subdi-
vididos entre a lã, o couro e a carne. Por isso, em um pars onde es temS são
122 SISTEMAS OE ECONOMIA POI.ÍllCA
RESULTADODO SISTEMA MERCANTlL 123
Uns na exportação de cada tod' de lã geraria uma renda bem considerável
para o soberano. Ela lesaria os Interesses dos produtores de lã um pouco da, sendo que as duas profissões insignificantes de fabricante de objetos
menos do que a proibição, pois, provavelmente, não faria baixar tanto o de chifre e de fabricante de pentes desfrutam, sob esse aspecto, de um
preço da lã. Ela asseguraria uma va_ntagem su6ciente para o manufator, monopólio contra os crísdores de gado.
fio de 14 e ulambre,
pois, embora não podendo ele comprar sua lã tão barato como quando leddosbrol'ICOO, As restrições, se,ía através de proibições, seja através de taxas adua-
da proibição de exportar, mesmo assim teria condições de comprá-la, no caixas d~ relõg!o neiras, a exportação de mercadorias manufaturadas apenas parcialmenle,
etc., e tambo!m não se limitam à manufatura de couro. Enquanto restar algo a ser feito pa-
mínimo, 5 ou 10 xelins mais barato do que qualquer manufator estrangei-
ros, além de economizar o frete e o seguro que os manuíatores estrangei- ra colocar alguma mercadoria em cond.Jções de uso e consumo Imediatos,
ros seriam obrigados a pagar. Dificilmente se pode imaginar outra taxa nossos manufatores pensam que cabe a eles fazê-lo. A exportação de fio
que pudesse gerar uma renda considerável para o soberano e que, ao de lã e de fio de lã penteado é proibida sob as mesmas penas que a da lã.
mesmo tempo, acarretasse Inconveniente tão tnslgnlficantes para quem Até os tecidos brancos estão sujeitos a uma taxa na exportação e, sob es-
quer que seja. se aspecto, nossos tintureiros conseguiram um monopólio contra nossos
A proibição, a despeito de todas as penalidades que pretendem ga- fabricantes de roupas. Estes últimos provavelmente teriam podido defen-
rantir seu cumprimento, não Impede a exportação de lã Como se sabe, der-se contra esse monopólio, mas acontece que a maioria dos nossos
ela é exportada em grandes quantidades. A grande diferença entre o pre- principais fabricantes de roupas são também tintureiros. Proibiu-se a ex-
ço no mercado interno e no mercado externo representa uma tentação portação de caixas de relóglos de parede e de bolso, estojos de relógios e
tão grande para o contrabando que nem mesmo todo o rigor da lei conse- mostradores de relógios de parede e de bolso. Ao que parece, nossos fa-
gue impedir a exportação. Essa exportação Uegal s6 traz vantagem. para o bricantes de relógios de bolso e de parede não querem que o preço des-
contrabandista. Ao contrário, uma exportação legal sujeita a uma taxa al- ses artefatos aumente em virtude da concorrênciaestrangeira
alguntmelals.
fandegária, que proporciona uma renda para o soberano e, com isso, pou- Por força de alguns antigos estatutos de Eduardo 111, Henrique VIII e
pa a Imposição de algumas outras taxas ou impostos, talvez mais onero- Eduardo VI, fora proibida a exportação de todos os metais. Excetuavam-
sos e Inconvenientes, poderia ser vantajosa para todas as diversas catego- se apenas o chumbo e o estanho, provavelmente em decorrência da gran-
rias do Estado. de abundância deles; ali!s, era na exportação desses metais que consistia
À cxpo,1aç1o de a maior parte do comércio do reino, naquela época. Para estimular a mi-
~d •• pi..iro À exportação de greda ou argila de písoelro, produto supostamente
lmpu,enun. •• aJ necessário para preparar e limpar as manufaturas de lã, foram impostas neração, o Estatuto 5, cap. 17, de Guilhenne e Maria, Isentou dessa prot-
mamas pe,,alldados mais ou menos as mesmas penalidades que a exportação de lã. Mesmo a bição o ferro, o cobre e a pirita metálica felt.a de minério britânico. Poste-
ciue a apo,1açao do ríormente, os Estatutos9 e 10, cap. 26, de Guilherme Ili, pennttíram a ex-
15. argila para cachimbo de fumantes, embora reconhecidamente se diferen-
cie da greda de pisoelro, apesar disso, em virtude da semelhança entre as portação de todos os tipos de barras de cobre, tanto estrangeirascomo bn-
duas, e porque a greda de pisoelro pode, às vezes, ser exportada como ar- lânlcas. Ainda continua proibida a exportação de latão não manufatura-
gila para cachimbo de fumantes, foi sujeita às mesmas proibições e penali- do, do assim chamado bronze de canhão, sinos de amálgama de cobre e
dades. estanho e metal para detectar moeda falsa Os manufatorados de latão de
Os Estatutos 13 e 14, cep, 7, de Carlos Il, proibiram a exportação todos os tipos podem ser exportados isentos de taxas aduanelras.
lmpõem-utaxas
não somente de couros crus, como também de couro curtido, a não ser alfandegarias A exportação de materiais para manufaturas, quando não ê Inteira-
na fonna de botas, sapatos ou chinelos; e a lei deu um monopólio aos consldoravei, à mente proibida, 6ca em muitos casos sujeita a taxas alfandegáriasconside-
nossos sapatei.ros, tanto de botas como de sapatos, não somente contra e,q:,orta~ de 1/!rlo, ráveis.
OUlroo mahniolo pera
nossos criadores de gado, mas também contra nossos curtidores. Em virtu- manulAh.ns. · O Estatuto 8, cap. 15, de Jorge 1, Isentou totalmente de taxas a ex-
de de estatutos posteriores, os próprios curtidores Hcaram Isentos desse portação de todas as mercadorias produzidas ou manufaturadas na Grã--
monopólio, com o pagamento de um pequeno Imposto de apenas 1 xe- Bretanha, às quais estatutos anteriores tinham Imposto quaisquer taxas.
lim sobre 112 libras de couro curtido. Obtiveram também o drowback de Foram excetuadas, porém, as seguintes mercadorias: alume, chumbo, mi-
213 dos impostos de consumo prescritos para a sua mercadoria, mesmo nério de chumbo, sulfato ferroso, carvão, cardas, couro curtido, tecidos
exportando sem ulterior manufatura. Todas as manufaturas de couro po- brancos de lã, /opis calominaris, peles de todos os tipos, cola, pele ou lã
dem ser exportadas sem pagar direitos alfandeg!rlos, e o exportador além de coelho, lã de lebre, pelos de todos os tipos, cavalos, e litargírio de
disso, tem o direito ao reembolso de todos os impostos de consumo. Nos- chumbo. Se excetuarmos os cavalos, todos os Itens citados constituem
~s criadores de gado continuam ainda sujeitos ao antigo monopólio. Os materiais para manufatura, ou manufaturas inacabadas (que podem ser
criadores de gado, separados uns dos outros, e cl!spersos por todos os can- consideradas como materiais para manhlatura u1terlor) ou então Instru-
tos do país, s6 com grandes dificuldades conseguem associar-se, quer pa- mentos de comércio. O mencionado estatuto os deixa sujeitos a todas as
ra impor monopólios aos seus concidadãos, quer para livrar-se de monõ- antigas taxas a eles já impostas, o antigo subsídio e 1 % de Imposto de ex-
líos que lhes foram impostos por outros. Ao contrario, os manufatores de portação.
todos os tipos, associados em numerosas entidades em todas as cidades O mesmo estatuto Isenta a importação de um grande nllmero de co-
grandes, têm essa facilidade. Atê a exportação de chlfres de gado é proibi- rantes estrangeiros de todas as taxas. Entretanto, a exportação de cada ~
um deles ê posteriormentesujeita a uma certa taxa, não multo alia, na ver-
• Anllga mcdid4 bl9lesa de pao usada para ~ li, equivalente a cm::a dQ 28 lbtas. (N. do T.) dade. Ao que parece, os nossos tintureiros, ao mesmo tempo que conside-
ravam de seu Interesse estimular a Importação desses coranles, com ísen-
124 SISTEMAS OE ECONO!-\JA POlJTICA
RESULTADO DO SISTEMA MERCAl'ffil 125
ção de todas as taxas, ac -dítavarn ser também de seu Interesse desesti- subsídio, representando apenas 2 pence. Essa taxa Imposta à importação
mular um pouco sua ex, 1ação. Entretanto, a avidez que sugeriu esse de materiais tão importante para as manufaturas havia sido considerada
alo incomum de perspicácia mercantil muito provavelmente desapontou . muito elevada e, no ano de 1722, a taxa íoi reduzida a 2 xelins e 6 pen-
os Interessados. Inevitavelmente, a medida ensinou os importadores a se- ce, o que reduzia a taxa de Importação a 6 pence, sendo que disso somen-
rem mals cuidadosos do que caso contrário, poderiam ter sido, para que te a metade tinha que ser reembolsada na exportação." O êxito obtido na
sua Importação não superasse o necessãrlo para suprir o mercado Inter- mesma guerra colocou o maior pais produtor de castores sob o domínio
no. A medida havi.a de ter como conseqüência provável um abastecimen- da Grã-Bretanha e, figurando as peles de castor entre as mercadoriasenu-
to mais escasso do mercado interno; além dlsso, sempre havia a probabili- meradas, sua exportação da América foi conseqüentemente limitada ao
dade de que as mercadorias fossem um pouco mais caras do que o te- mercado da Grã-Bretanha. Logo os nossos manufatores pensaram na van-
riam sido se a liberdade de exportar fosse tão Uvre como a de importar. tagem que poderiam auferir dessa circunstância e, ·no ano de 1764, a taxa
Em virtude do mencionado estatuto a goma erábtca, pelo fato de figu- sobre a Importação de peles de castor foi reduzida a 1 pênl, mas a taxa de
rar entre os corantes enumerados, podia ser Importada sem taxas alfande- reexportação foi aumentada para 6 pence por pele, sem nenhum reembol-
gárias. Na verdade estavam sujeitas a uma pequena taxa por libra esterli- so da taxa cobrada na Importação. A mesma lei impôs uma taxa de 18
na de apenas 3 pence por 100 libras na reexportação. Naquela época, a pence por libra-peso à exportação de lã de castor ou pentes, sem fazer ne-
França detinha o comércio exclusivo com a região que mais produzia es- nhuma alteração na taxa de Importação dessa mercadoria, a qual, quan-
ses artigos, a que fica nas proximidades do Senegal, sendo que o merca- do importada por cidadãos britânicos e em navios britânicos, na época re-
do britânico não podia abastecer-se facilmente com a Importação direta
deles do local de produção. Por Isso, o Estatuto 25 de Jorge II permitiu Im-
e
presentava entre 4 5 pence por peça.
e a de carvão, 5 O carvão pode ser considerado tanto como material de manufatura
portar goma arábica (contrariando as disposições gerais da lei sobre nave- xelins por tcnclada. como instrumento de comércio. Em razão disto, Impuseram-setaxas one-
gação) de qualquer parte da Europa Todevía, uma vez que a lei não ten- rosas à sua exportação, que atualmente (1783) montam a mals de 5 xe-
cionava encorajar esse tipo de comércio, tão contrário aos princlplos ge- lins por tonelada, ou a mais de 15 xelins por chaldrorr3; medida de New-
rals -da politica mercantil da Inglaterra, impôs uma taxa de 10 xelins por castle - o que, na maioria dos casos, representa mais do que o valor ori-
. 112 libras na sua lmporta.ção, e na reexportação não concedia nenhum ginal da mercadoria na mina de carvão, ou mesmo no porto de embar-
reembolso das taxas pagas na Importação. O êxíto obãdo na guerra Inicia- que para exportação.
da em 1755 deu à Grã-Bretanha o mesmo direito exclusivo de comêrdo Contudo, a exportação de Instrumentos de trabalho propriamente di-
com essas regiões, de que a França desfrutava anterionnente. Tão logo so- tos é comumente restringida, não por altas taxas, mas por proibiçõesabso-
breveio a paz, nossos manufatores procuraram valer-se dessa vantagem e lutas. Assim, os Estatutos 7 e 8, cap. 20, sec. 8, de Guilherme Ili, proí-
criar um monopõllo a seu favor, tanto contra os cultivadores como contra bem a exportação de caixilhos ou engenhos para tecer luvas ou meias,
os Importadores desta mercadoria. Por Isso, o Estatuto 5, cap. 37, de Jor- sob pena não somente do confisco desses caixilhos ou engenhos que se
ge 111, llmltou à Grã-Bretanha a exportaçãÔ de goma arábica dos domí-
nlos de Sua Majestade na Abica, sendo esse c.:rtigo sujeito a todas as mes-
mas restrições, regulamentos, conflscos e penalidades que a exporta@o
l. tenha exportado ou tentado exportar, mas também de uma multa de 40 li-
bras, destinando-se a metade desse valor ao rei e a outra a quem infor-
mar ou mover processo. Da mesma forma, o Estatuto 14, cap. 71, de Jor-
das mercadorias enumeradas das colônias britânlcas na Amêríce e nas ln- ge Ili, prolbe a exportação, a pafses estrangeiros, de quaisquer utensílios
dlas Ocidentais. Sua Importação, de fato, foi sujeita a uma pequena taxa utilizados nas manufaturas de algodão, linho, lã e seda, sob pena, não so-
de 6 pence por 100 libras, mas sua reexportação â enorme taxa de !: 1, mente de confisco desses utensílios, mas também do pagamento de 200 li-
10 s por 112 Ubras. A intenção dos nossos manufalores era que toda a bras, a serem desembolsadas pela pessoa que cometer a Infração e outras
produção desses pafses fosse Importada pela Grã-Bretanha e, para que 200 a serem pagas pelo capitão do navio que, tendo conhecimento do fa-
eles pudessem comprá-la a seu prõprio preço, e que nenhuma parte dela to, admitir que seu navio receba a bordo ta! mercadoria.
fosse reexportada, a não ser a um custo gue desestimulasse tal exporta- Slm!lannente. Se à exportação de Instrumentos de trabalho Inanimados se impuse-

-
ção. Como em muitas outras ocasiões, porém, também essa avidez deles corutltul graw ram penalidades tão pesadas, não se poderia esperar que fosse lívre a ex-
lhes resultou em .desilusão. Essa exorbitante taxa Imposta à exportação re- ln/nçlo lndudr um
art!&aolreo portação do Instrumento vivo, o artftice. Els por que, segundo o Estatuto
presentava uma tentação tão grande para o contrabando que se exporta-
. raro clandestinamente grandes quantidades do produto, provavelmente a . 5, cap. 27, de Jorge l, quem for declarado culpado de induzir qualquer ar-
tífice britânico ou qualquer cidadão empregado em qualquer manufat.wa
todos os países manufatores da Europa, mas pa:rt!culannenteà Holanda, da Grã-Bretanha, a deslccar-se para qualquer país estrangeiro, a fim de
não somente da Grã-Bretanha, mas também da África. Por esse motivo, praticar ou ensinar sua profissão, na primeira lnfraçl!o estara sujeito a pa-
o Estatuto.14, cap. 10, de Jorge m, reduziu essa taxa de exportação a 5 gar qualquer multa até 100 libras e a 3 meses de prisão até o P.<tsamento
xelins por 112 libras. da multa; na segunda infração, o rãu poderá estar sujeito a qualquer mul-
. No Uvro de Tarifas, segundo o qual se recolhia o antigo subsídio, as ta, a critério do tribuna~ e ser condenado à prisão durante 12 meses, até
peles de castor eram estimadas a 6 xelins e 8 pence por peça., e os cllver- o pagamento da multa. O Estatuto 23, cap. 13, de Jorge II, agrava a pena-
sos subsídios e tarifas que haviam sido impostos à sua importação antes
de 1722 ascendlam à ~ da tarifa, ou seja, a 16 pence por peça, sendo 2 Es1alulo 8, cap. 15, de .lorgo L
que na exportação se reembolsava o total, excetuada a metade do antigo , M.:llde de cape,dd.od& pua o carvlo, equMlcnte • 36 busJwJL (X do T.)
RESUI. TACO DO SISTEMA MERCA.'<111.. 127
126 SISTEMAS DE ECONOMIA POúnCA
É completamente em benefício do produtor que se concedemsubst-
oco,rendo o mesmo
!idade: na primeira infração, para 500 libras para cada artífice assim Induzi- com os subsfdlos a dios à exportação de alguns de seus produtos. O consumidorinterno é
do e para 12 meses de prisão, até o pagamento da multa; e na segunda e,cportaçlo. obrigado a pagar, primeiro, a taxa necessári.apara cobrir o subsídioe, se-
infração, para 1 000 libras e para 2 anos de prisão, atê o pagamento da gundo, o Imposto ainda maior que necessariamente deriva do aumento
multa. do preço da mercadoria no mercado interno.
De acordo com o primeiro dos citados estatutos, comprovando-se e com 115 rmdidas
Em virtude do célebre tratado de comércio com Portugal,impede-se
que qualquer pessoa Induziu algum artífice ou que algum artífice prome- conllc!M no Tralado o consumidor,)nediante altas taxas, de comprar de um pais vizinho uma
teu ou assumiu o compromisso de ir ao exterior para o referido fim, W ar- Melhuoin: mercadoria que o nosso próprio clima não tem condições de produzir,
tífice pode ser obrigado a apresentar garantia, a crítêrio da Corte, de que sendo obrigado a comprá-la de um país distante, embora se reconheça
não atravessará os mares, podendo ser punido com prisão até apresentar que a mercadoria do país distante é de qualidade inferior à do país próxi-
tal garantia. mo. O consumidor interno é obrigado a submeter-se a esse inconvenien-
Se algum artfflce atravessou os mares e estíver exercendo ou ensinan- te, a fim de que o produtor possa introduzir em país distantealguns de
poruindo-se ord,nar
6 wlia ao pai$ cio do sua profissão em qualquer pafs estrangeiro, e qualquer dos agentes de seus produtos a preços mais vantajosos do que de outra formapoderia fa-
art!llca q1111 e,w,:e Sua Majestade ou de seus cônsules no exterior, ou ainda um dos secretá- zê-lo. Além disso, o consumidor é obrigado a pagar qualquer aumento do
ou ensina seu ol!cto preço desses mesmos produtos que essa exportação forçada possa provo-
noexlcmor. rios de Estado de Sua Majestade no momento o tiver advertido, e ele não
voltar ao reino dentro de 6 meses a partir da advertência, e se, a partir car no mercado Interno. ·
de então, não residir e permanecer constantemente domiciliado no reino, No sistema de leis estabelecido para a administração de nossas colô-
a partir desse momento será declarado incapaz de receber qualquer lega- nias americanas e das Índlas Ocidentais, o Interesse do consumidorinter-
do ou herança a ele adjudicado dentro do reino, ou de ser executor testa- no tem sido sacrificadoem benefício do Interesse do produtor, multomais
mentário ou administrador de qualquer pessoa, ou de receber quaisquer do que em todos os demais regulamentos comerciais. Implantou-seum
terras, dentro do reino, em virtude de descendência, testamento ou com- grande império para o único fim de criar uma nação de clientes obrigados
pra. Além cllsso, ser-lhe-ão confiscadas, em benefício do rei, todas as ter- a comprar nas lojas dos nossos diversos produtores todas as mercadorias
ras, bens e haveres e ele será declarado alienígena sob todos os aspectos, que estes possam fornecer-lhes. Em atenção a esse pequeno aumento de
sendo excluído da proteção do rei. preço que o referido monopólio poderia proporcionar aos nossos produto-
Considero supérfluo observar que tais medidas contrariam fundamen- res,-tern-se onerado os consumidores internos com toda a despesa para a
talmente a tão decantada liberdade dos cidadãos, da qual aparentamos manutenção e defesa daquele Império. Para esse fim, e somente para ele,
ser tão ciosos - liberdade essa que nesse caso, contudo, é totalmente sa- nas duas líltimas guerras, gastaram-se mais de 200 milhões, contraindo-se
crificada aos interesses fúteis dos nossos comerciantese manufatores. uma nova dívida de mals de 110 milhões, além de tudo aquiloque se gas-
O motivo elogiável de todas essas medidas legais é ampliar nossas tara em guerras anteriores, com a mesma finalidade. Os Juros dessa dívi-
Oobjedwê
depiec:laras próprias manufaturas, não por meio do seu próprio aperfeiçoamento, mas da, por si sós, ultrapassam não somente todo o lucro extraordinárioque
monufal>JroS dos depreciando as manufaturas de todos os nossos vizinhos, e pondo fim, na jamais se teria lmaglnado auferir com o monopólio do comérciocolonlal,
nossos lilz!nho,. mas também o valor Integral desse comércio ou o valor total das mercado-
medida do possível, à molesta concorrência de rivais odiosos e desagradá-
veis. Nossos mestres manufatores consideram razoável possuirem eles rias em média exportadas anualmente às colônias.
mesmos o monopólio da perspicáda de todos os seus concidadãos. Embo- Não parece muito difícil detennínar quem foram os planejadoresde
Os planejadores do
ra, por limitarem em algumas profissões o número de aprendizes que po- lodo o siJtama todo esse sistema mercantil: podemos crer que não foram os consumido-
dem ser empregados de uma vez, e por Imporem a necessidade de longo mercanlll fomm os res, cujos interesses têm sido totalmente negligenciados,mas os produto-
produta<a,• res, cujos interesses vêm sendo atendidos com tanto cuidado; i entre a ca-
aprendl7.ado em todas as profissões, todos eles procurem restringir o co- sobretudo 05
nhecimento de seus respectivos ofícios ao mfnimo possível de pessoas; comerciantes • as tegoria dos produtores, nossos comerciantes e manufatores têm sido, de
manufllroros. longe, os principais arquitetos. Nos regulamentos mercantis comentados
não obstante Isto, não querem que qualquer parte desse pequeno coníín-
gente va Instruir estrangeiros no Exterior. neste capítulo, atendeu-se mais particularmente ao interesse dos nossos
O consumo é 0 único objetivo e propósito de toda a produção, ao manufatores; e, o Interesse, não tanto dos consumidores; mas de algumas
passo que o Interesse do produtor deve ser atendido somente na medida .. outras categoriasde produtores, a ele foi sacrificado.
em que possa ser necessário para promover o interesse do consumldor. O
prínclpio ê tão õbvío que seria absurdo tentar demonstrá-lo. Ora, no siste-
ma mercantil, o Interesse do consumidor é quase constmtemente sacrifica·
e,
do ao do produtor ao que parece, ele considera a produção, não o con-
sumo, como 6m e objetivo prectpuos de toda atividade e comêrdo.
.1 Nas restrições ã Importação de todas as mercadorias estrangeiras que
possam vir a competir com as de nossa própria produção ou manufatura,
o Interesse do consumidor interno é evidentemente sacrificado em favor
do Interesse do produtor. É totalmente em beneffcio deste altimo que o
consumidor é obrigado a pagar o aumento de preço quase sempre provo-
cado por esse monopõlió.

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