Você está na página 1de 5

Unidade 3A origem e a evolução da sociedade caboverdiana

Apesar dos condicionalismos adversos à ocupação, do arquipélago, este revelou-se um ponto de apoio
privilegiado para a exploração da costa africana e do Atlântico sul. Como tal, era premente para a Coroa
povoar o território, razão pela qual o rei D. Afonso concedeu, através da carta régia de 1466, vários
privilégios aos moradores de Santiago, nomeadamente facilidades fiscais e comerciais que lhes permitiam o
acesso ao lucrativo comércio da Costa da Guiné. Esta medida deu algum alento ao povoamento das ilhas,
tendo surgido duas povoações, a de Alcatrazes e a da Ribeira Grande.

O encontro de povos

A sociedade e a cultura cabo-verdianas formaram-se a partir


do encontro entre povos e culturas vindos da Europa e da
África. Cada grupo que participou no povoamento das ilha.
A sociedade e a cultura cabo-verdianas formaram-se a partir
do encontro entre povos e culturas vindos da Europa e da
África.
Cada grupo que participou no povoamento das ilhas trouxe a
sua cultura.

Composição étnica

Os europeus

Para a formação inicial da sociedade de Cabo Verde contribuíram dois grandes grupos: brancos
europeus e negros africanos.
O pouco que se sabe diz respeito aos
portugueses, que detinham a soberania 1 da ilha.
Tendo os privilégios concedidos pela Coroa ao
comércio com a Guiné estado na origem do
povoamento de Santiago, é de crer que tenham
atraído comerciantes, os quais ter-se-ão
dedicado, a partir de 1472, às atividades
agrícolas.
Apesar de todos os vizinhos da ilha gozarem das
mesmas prerrogativas2, só os que detinham
consideráveis cabedais3 se encontrava
1 – autoridade
em condições de possuírem máxima
propriedade e de as explorarem com 2- privilégios
3 – bens, dinheiro
mão de obra escrava. Estes 4 – grupo que
constituíam a “oligarquia” local. detém o poder–

À medida que a sociedade se estruturou, surgiram outros agentes do grupo reinol ligados à
gestão político-administrativa (almoxarifes, escrivães, corregedores) à assistência espiritual
(missionários, padres), sanitária (prestadores de cuidados de saúde), etc.
Apesar de estarem proibidos de comerciar, devido à sua condição, estes funcionários acabavam
por se envolver em negócios e enriqueciam.
Dentro do grupo reinol, havia ainda os degredados, oficiais mecânicos e homens do mar.
Havia ainda outros europeus. Os primeiros terão sido os genoveses, referidos em 1466. Mas a
presença mais significativa é a dos castelhanos, que desfrutavam de uma boa condição
socioeconómica, graças ao seu papel no comércio com a Guiné.
Também procedentes do reino eram os cristãos-novos (judeus ou homens da nação). Dado que se
dedicavam ao comércio, a sua presença nunca foi bem aceite pelos principais das ilhas.
2
Envolvidos no comércio, os europeus concentraram-se sobretudo na Ribeira Grande, mas o seu número
nunca atingiu grandes proporções relativamente ao dos africanos, pois muitos dos europeus tornaram-se
lançados, comerciantes que viviam e faziam negócio na costa africana. Mas para a inexistência de
brancos nativos das ilhas terá contribuído essencialmente a escassa presença de mulheres brancas. É a
mulher negra ou mestiça a parceira dos residentes das ilhas. Comprovam-no as cartas de legitimação
passadas a favor dos filhos resultantes dessas uniões.

Os africanos

A documentação quinhentista não permite esclarecer cabalmente as origens étnicas dos escravos
africanos. O que se explica porque, sendo o escravo uma mercadoria, pouco importava aos agentes
envolvidos no tráfico saber se ele era jalofo, balanda, mandinga, fula ou de qualquer outra etnia.
Julga-se, no entanto, que o grosso dos escravos entrados nas ilhas provinha da costa da Guiné,
aproximadamente da margem que se estende a sul do rio Senegal até ao rio Orange, no limite norte da
Serra Leoa. António Carreira afirma que entraram “vinte e sete grupos étnicos e alguns subgrupos”.
A entrada de africanos no arquipélago na condição de homens livres parece ter-se verificado
episodicamente, mas tratou-se de casos manifestamente excecionais, devido ao risco de serem
escravizados, como atestam os pedidos de cartas de alforria feitos por africanos ao rei, antes de
partirem para o arquipélago.
A grande maioria dos escravos entrados em Cabo Verde destinavam-se a ser reexportados e não a povoar
a terra. Só assim se explica que a Coroa recomendasse aos moradores que resgatassem apenas os
escravos necessários aos seus serviços. A agricultura foi a área que mais absorveu esta mão de obra. As
“peças” que não estavam em condições de serem vendidas para fora, eram leiloadas a preços acessíveis
às posses de quase todos.

__Em Síntese____
Após a leitura do texto, realiza os seguintes exercícios.
1. Indica em que período se iniciou a formação da sociedade cabo-verdiana.
2. Quais os principais grupos étnicos que participaram nessa formação.
3. Refere o principal fator que impulsionou o povoamento da ilha.
4. Preenche o esquema, referindo a origem dos primeiros habitantes de Cabo Verde e as suas ocupações

Povoadores de Cabo Verde

Portugueses Outros europeus Africanos

Ocupações Origem Origem

Estatuto
Ocupações
3

A estrutura social da
sociedade cabo-verdiana

Fonte: www.expressodasilhas.cv, consultado em 12 de


dezembro de 2022

1. A estrutura social da sociedade cabo-verdiana


A sociedade insular era composta por três grupos distintos, com uma estrutura piramidal, definida pelos
direitos individuais de cada grupo:

Brancos

Os brancos europeus eram em menor quantidade, mas


Negros livres e forros encontravam-se no topo da pirâmide social e detinham
muitos privilégios. Os negros livres e forros e os escravos,
em grande maioria, encontravam-se na base da
Escravos pirâmide. Estamos perante uma sociedade escravocrata,
por isso, os escravos não possuíam regalias e nem
direitos.
Nota: Além destes grupos, havia os escravos fujões, que viviam
À margem da sociedade.

1.1. A estratificação interna no grupo dos “reinóis”

Os brancos provenientes de Portugal detinham o poder e constituíam a camada privilegiada, mas apresentava
uma estratificação interna.
Os nobres, nomeados para a governação das ilhas, ascendiam rapidamente económica e
socialmente, não pelos seus ordenados, mas porque o seu poder lhe permitia apoderarem-se
Fidalgos fraudulentamente de variados bens.

Comerciantes- Dedicavam-se ao comércio e, mais tarde, à agricultura. A projeção social destes


proprietários comerciantes advinha sobretudo da sua situação económica e não tanto da sua categoria
social.

Funcionários das instituições locais,


pequenos comerciantes, marinheiros, etc.

Apesar das diferenças de estatuto social dentro do grupo dos brancos, todos eles se encontram numa situação
privilegiada em relação aos africanos forros e escravos. Os africanos livres veem-se impedidos de ascenderem a
cargos públicos, bem como a outros direitos. Não era decisivo, porque não impediu que se verificassem (uns
poucos) casos de mobilidade social no seio do grupo subordinado.
4

1.3. Os africanos

- Escravos domésticos
- Escravos rurais

Na base da pirâmide encontravam-se os escravos, que, sem quaisquer direitos constituem a maioria esmagadora
da população. Constituem grupos homogéneos, sem estratos sociais. A mobilidade social é praticamente nula,
podendo, no entanto, ocorrer por vontade do senhor.

Existe, no entanto, uma diferenciação individual que é determinada pela forma como o senhor utiliza os
serviços do escravo:

- Escravos domésticos – viviam dentro de casa com o senhor e


ocupavam-se das tarefas domésticas (cozinhar, limpar, cuidar
dos filhos do senhor, cuidar dos animais...). Alguns eram
instruídos e sabiam ler e escrever (escravos ladinos. A
cumplicidade entre o escravo e o senhor é por vezes tal, que o
escravo, a mando do senhor, chega a ir sozinho à Guiné
resgatar escravos e há casos em que traz, inclusive, “peças”
para si.

- Escravos rurais ou boçais – trabalhavam no campo e eram


controlados e severamente castigados pelos feitores.

Os mestiços ou brancos da terra (por oposição aos que vinham


do reino) situam-se num plano semelhante aos dos escravos forros. Contudo, nalguns casos, os mestiços cuja
paternidade era plenamente assumida pelos pais eram mais facilmente absorvidos pela sociedade organizada.
Ficavam assim em boas condições económica, para viverem a um nível semelhante ao dos pais

Os escravos fujões obtinham a sua liberdade por via ilegal, por isso, viviam à margem da sociedade, nas
montanhas. As suas condições de vida eram precárias e por isso recorriam muitas vezes a assaltos.

Em conclusão

Podemos concluir que a estrutura social em Cabo Verde era


estratificada e hierarquizada. Havia diferentes grupos e as
pessoas eram classificadas com base nos direitos e condições
sócio económicas. O branco estava no topo e o escravo na base.

O grupo dominante era constituído por brancos que poderiam ser


do reino (Portugal) ou da terra (nascidos em Cabo Verde).

O grupo intermédio era constituído por mestiços, homens livres


e forros. Este grupo exercia grande pressão sobre o primeiro.
Cada vez mais havia menos brancos nas ilhas e os mestiços
ambicionavam ocupar cargos importantes, possuir terras e
administrar as ilhas.

O último grupo era constituído apenas por escravos, a principal mão de obra nas ilhas. Os outros grupos tinham
um grande poder sobre este.

Era um grupo sem direitos, destinado a servir os seus senhores e foi diminuindo até à sua extinção, em finais do
século XIX.
5
Fonte: História Concisa de Cabo Verde (com adaptações)

Você também pode gostar