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A capitania-donataria
O capitão-donatário
O capitão-donatário era um cargo administrativo concedido por meio de carta de doação ou do foral. Este
era o chefe da comunidade, servindo de intermediário entre a poder político e os moradores.
Agregava, de forma indistinta, o poder político-judicial e o poder económico, cabendo-lhe:
- a administração da justiça,
- a divisão das terras pelos colonos
- a cobrança dos impostos devidos ao donatário.
- cobrar os impostos gerados pelo comércio com a costa africana
Por fatores internos e externos, os poderes do capitão donatário vão sendo limitados. Para tal, contribuíram
fatores como:
- a Coroa cria um aparelho direcionado para a cobrança dos impostos relativos ao comércio dos moradores
com a costa africana;
- o desenvolvimento dos municípios, cujos moradores contestavam os excessivos poderes do capitão-
donatário.
Progressivamente, o capitão passa a ser um morador, sendo a sua autoridade repartida pela câmara e pelo
corregedor.
O cargo de capitão-donatário era hereditário, mas apenas o filho primogénito poderia herdar a capitania.
Contudo, caso o capitão-donatário não tivesse filhos, o património poderia ser transmitido a um filho do irmão.
Outras exceções havia: sendo menor o herdeiro da capitania, reservava-se o direito de nomear uma pessoa
encarregada do governo da capitania até o capitão-donatário atingir a maioridade.
As Capitanias de Santiago
Em Santiago, foram instituídas duas capitanias: a do Sul, com sede na Ribeira Grande
(Cidade Velha) e a do Norte, centrada em Alcatrazes (São Domingos). Estas foram entregues
a homens da casa do Infante D. Fernando: o genovês António da Noli – servidor do Infante D.
Henrique e presumível descobridor da ilha - e Diogo Afonso – descobridor das ilhas do grupo
ocidental e escudeiro de D. Henrique.
A situação administrativa vigente nas capitanias foi, no início diferente:
- capitania do Sul – António da Noli envolveu-se diretamente no povoamento.
- capitania do Norte – o capitão donatário nomeou um representante, o capitão-do-
donatário.
António da Noli
Em síntese
Capitão-donatário
Documento oficial que Fatores que levam à limitação
estabelece os seus Poderes
dos seus poderes
poderes
O almoxarifado
A carta régia de 1466, que autoriza os moradores de Santiago a fazerem comércio com a costa africana,
estabelece também um organismo responsável pela fiscalização desse comércio e pela recolha dos tributos devidos à
Coroa: o almoxarifado. É a primeira ação administrativa direta do rei nas ilhas.
E, portanto, a partir de 1466 que se dá a cisão entre a justiça - entregue ao capitão-donatário e ao município
– e a tributação-fiscalização – entregue a funcionários régios. Toda a administração real montada em Cabo Verde até
aos finais do século XV vive para a tributação do comércio entre Santiago e os Rios da Guiné.
Na sua forma simplificada, expressa na carta de 1466, a organização fiscal prevê, para além do almoxarife, o
escrivão do almoxarifado. Ao primeiro compete cobrar o quarto sobre o movimento comercial e controlar o tráfico –
nomeia escrivães que acompanham os navios à costa africana para fiscalizar e registar as trocas. O segundo anota
todo o movimento do almoxarifado. A partir do momento em que as ilhas são integradas no património régio, ao
almoxarife cabe a cobrança da dízima agrícola e pecuária.
O almoxarifado movimentava uma variedade de produtos que redistribuía em função das necessidades locais
ou das ordens da metrópole. Dinheiro ou géneros iriam canalizados para o reino ou ficariam na terra, onde seriam
vendidos aos moradores ou utilizados no pagamento dos salários dos funcionários régios.
Os lucros do comércio com a Guiné eram de tal forma avultados que os funcionários régios infringiam a
proibição de nele participarem. Esta situação agravou-se quando o estado passou a nomear os habitantes da ilha para
a administração. Embora fossem funcionários da Coroa, colocavam os interesses da comunidade a que pertenciam e
os seus próprios interesses acima dos do rei, que não tinha poder para aplicar as suas interdições (proibições).
Em síntese
1. Refere a razão que levou o rei a criar o almoxarifado.
2. Explica em que medida o almoxarifado limita os poderes do capitão-donatário.
3. Indica todas as competências do almoxarifado.
4. Na tua opinião, o almoxarifado protegia os interesses do rei de Portugal?
A tentativa de controlo do tráfico da costa africana
A administração da justiça
Os capitães das ilhas foram os primeiros administradores da justiça em Cabo Verde. É, pois, a primeira
autoridade judicial em Santiago, capaz de julgar casos cíveis e criminais, salvo “morte ou talhamento de membro”.
Contudo, as comunidades recentemente formadas chamaram a si a competência para julgar a maior parte das
infrações cometidas na sua área. Dessas funções, estavam incumbidos os juízes camarários, saídos dos moradores.
Esta justiça local era desempenha por indivíduos sem grande preparação, provenientes dos estratos sociais
mais privilegiados.
Este panorama altera-se com o aparecimento do Corregedor, funcionário da administração régia formado em
Direito, com poder judicial sobre todo o arquipélago. A criação deste cargo nasce da necessidade sentida pela Coroa
de reforçar o controlo sobre o poder local e a administração do arquipélago.
Pelas leis gerais, a autoridade do corregedor era ampla. Abrangia a segurança
pública, a superintendência dos funcionários administrativos e camarários, bem como
a verificação do desenvolvimento económico. Simultaneamente, deveria tomar
conhecimento dos agravos judiciais, averiguar os crimes graves e conhecer os crimes
praticados pelos fidalgos, juízes e demais privilegiados.
Havia, no entanto, limitações ao poder do corregedor. Não podia interferir
nos agravos das sentenças dadas pelos tribunais locais em podia “dar cartas de seguro
em caso de morte, traição, aleive ou moeda falsa” (História Concisa de Cabo Verde,
p. 64). O pelourinho (Cidade Velha)
O corregedor, indivíduo estranho à terra, suscita a rejeição dos locais, que
Constituía o símbolo da autoridade
vêm com maus olhos a sua interferência em assuntos tão vitais para a vida local. Aí se apregoavam alvarás e
comunitária. Progressivamente, a oposição inicial foi-se alterando, e os grupos mandatos e se dava cumprimento aos
castigos corporais.
influentes começaram a formar alianças com os corregedores que vinham da
metrópole.
Fonte: História Concisa de Cabo Verde, Coordenação de M.ª Emília Santos
Em síntese
A Língua Crioula
Significado de “crioulo”
1. Descendente de europeus nascido nas
O crioulo é gerado, logo a partir dos primeiros anos de povoamento, antigas colónias
nos finais do séc. XV, pela necessidade inadiável de entendimento 2. Língua originada pelo contacto intenso
de uma língua europeia com as línguas,
entre os escravos, que provinham de numerosas tribos da Guiné, e os
nativas ou não, faladas numa região.
povoadores europeus, vindos sobretudo de Portugal. Muito Combina e transforma traços dessas línguas
naturalmente, o “reinol” (língua do reino – o português), foi a base e tornou-se a língua materna de uma
desta linguagem surpreendentemente simples e clara. comunidade.
3. Língua de base portuguesa falada em
O crioulo evolui do pidgin, uma língua de comunicação, transformando- Cabo Verde.
A cidade de Ribeira Grande, hoje conhecida por Cidade Velha, foi durante estes dois séculos um entreposto
de comércio de escravos. A igreja (...) procurava convertê-los à fé cristã, batizava-os e esforçava-se por
comunicar com eles e transmitir-lhes os preceitos do evangelho e mesmo algum ensino. O resultado mais
notável deste processo de evangelização foi a formação do crioulo, que se tornaria a pedra de toque da nova
cultura deste país e daqueles para onde os escravos foram sendo levados, não só em missão de trabalho como
também de povoamento, como, por exemplo, as nas Caraíbas, o Brasil e as chamadas “Índias Castelhanas”.
http://www.caboverde-info.com, consultado em 1/09/22
Variantes do crioulo
Sabias que?
Além dos crioulos de base-portuguesa (Cabo-Verde, São-Tomé, Guiné-Bissau), existem também os crioulos:
- de base inglesa (Jamaica, Seychelles)
- de base francesa (Haiti, Serra Leoa)
- de base espanhola (papiamento, nas Caraíbas)
Linguisticamente, existem alguns traços estruturais comuns a todas as línguas crioulas, dos quais se destacam os seguintes:
• o tempo, o modo e o aspeto são traduzidos por um sistema de partículas pré-verbais bem definidas
• existência de orações relativas sem relativizador
• a partícula de negação ocupa a posição pré-verbal
• a «existência» e a «posse» são expressas por um mesmo lexema verbal
• ausência de verbo copulativo
• orações interrogativas e declarativas têm a mesma estrutura
• inexistência da passiva
• possibilidade de um verbo adquirir a função de preposição