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No fim da idade média, existiam 500 territórios políticos na Europa, no final do século XIX apenas cerca de
40/50. Os mecanismos para a diminuição dos territórios políticos foram:
● As guerras para formar Estados;
● As alianças matrimoniais (exemplo: perda de independência de Portugal, na dinastia filipina que
surgiu devido a alianças).
Dentro do mesmo país o que o rei tem de fazer é captar as fontes fiscais que não controla e passar a
controlar, desta forma os vassalos vão perdendo controlo e acabam por gerar descontentamentos o que leva,
por diversas vezes, ao início de guerras civis.
● Os reis também combatiam exteriormente para conquistar outras unidades políticas e assim aumentar o seu
território exteriormente e interiormente.
● Com a guerra dos 30 anos, o rei deixa de ser obrigado a obedecer ao Papa e passa a ser a figura superior do
reino.
Fim da idade média → transação estadual: processo histórico, politico e institucional, processo de expansão do
poder fiscal, militar, judicial e latifundiário do monarca- centralização do poder estatal.
- Expropriação de poderes pela Coroa, das entidades supras (papado, império) ou infra estaduais
(senhorios, cidades, corporações). Concentração do poder implica fim do policentrismo. A coroa,
apodera-se dos poderes e concentra-os em si.
- Estado enquanto entidade soberana monopolista, como «sociedade política», oposta a uma
sociedade expropriada desse poder, agora dita «sociedade civil»
- Centralização administrativa: apropriação de tarefas desempenhadas por órgãos periféricos;
unificação do território, língua e cultura;unificação da ordem jurídica(direitos públicos vs privados ->
direitos públicos são pertença inalienável do Estado)
➔ Não há divisão entre os 3 poderes, o poder está todo nas mãos do rei.
➔ (“administração central constituída por múltiplos conselhos com competências em matérias em princípios
distintos, mas que associavam simultaneamente atribuições que hoje em dia seriam definidas como
pertencendo ao âmbito do poder judicial, administrativa, executivo e até legislativo”).
➔ Tribunais régios como estruturas da administração central.
O monarca só tinha dois papéis na sociedade corporativa, a manutenção da paz e administração da justiça. A
Coroa foi procedendo progressivamente como um senhor do seu domínio, alargando as suas funções e
centralizando o poder.
Gerou-se descontentamento à medida que a exclusividade de poder que a nobreza detinha foi minimizado
pelos projetos do monarca. A burguesia aproveitou a oportunidade e aproximou-se do rei, com o propósito de
obter influência e recurso até então fora do seu alcance.
1
Reforma da administração Central (confirmada no Estatuto de Tomar, 1580)
➔ Tribunal supremo de administração civil do reino e administração da justiça no reino, corresponde com
corregedores (extinto em 1833, as suas funções foram distribuídas por Secretarias de Estado, Supremo
Tribunal de Justiça e juízes).
Jurisdição:
● Matérias de graça (atividades espontâneas do poder sem que a isso fosse obrigado) tocante à
justiça, por exemplo “súplicas da graça”;
● Resolução de conflitos de jurisdição entre a Casa do Cível e a Casa da Suplicação;
● Resolução de conflitos entre a coroa e os municípios.
➔ Tribunais superiores de apelação, cível e crime (reforma de Filipe II dos tribunais judiciais superiores criou a
Relação Norte e outra Sul para apelos dos corregedores e juízes de crime.
Casa da Suplicação:
Era o tribunal de justiça da Corte (podendo deslocar-se com ela) e a sua jurisdição abrangia: comarcas da
Estremadura, Algarve, entre Tejo e Guadiana, Castelo Branco, Ilhas e Ultramar (corte, centro e sul).
Casa do Cível:
A Casa do Cível ou Relação da Casa do Porto (1582), jurisdição nas comarcas de entre Douro e Minho,
Trás-os- Montes e Beira (norte).
➔ Com a criação do Erário Régio perde as competências na área económica, embora reforce as competências
jurisdicionais, afirmando-se como único tribunal judicial em matéria económica.
Competências:
● Junta e vedores da Fazenda (desde 1516);
● Tutela: Casa da Índia; as alfândegas; o despacho e as rendas das naus e armada; a Casa dos Contos
(coordenação das receitas e despesas e cobrança de rendas e tributos); a Casa da Moeda e feitores
comerciavam a favor do monarca.
2
Dinâmica da estadualização:
Noção do “Estado Polícia” (início do séc. XVIII)
O "Estado Polícia" tem uma preocupação geral com o bem-estar e segurança. (visível nas reformas
urbanísticas do pós-terramoto)
Rompe o equilíbrio e concretiza a vontade régia de centralização política e administrativa:
● A sociedade devia ser ordenada, não segundo a ordem natural, mas por certos objetivos definidos
pelo rei: bem-estar e segurança aos súbditos; -> “Welfare State”, concentração de poderes.
● A maior capacidade de intervenção e ordenadora do poder real implica nova distribuição do poder,
alargando a esfera sob controlo social, implicando novas estruturas administrativas e relações com
o centro;
● A concentração de poder altera o tipo de legitimação da autoridade, cuja essência passa para a
competência técnica e lealdade política;
● Definição dos setores de interesse público liga-se ao aumento do poder régio: impostos, estruturas
militares, desenvolvimento do comércio, da agricultura e das manufaturas. Cabe à Coroa
engrandecer a economia.
Reformas Pombalinas
● Terceira Vaga de Modernização do Estado Português rompe com o equilíbrio social que até aí tem
vindo a ser mantido e concretiza a vontade régia de centralização política e administrativa.
● Aumenta o leque de setores considerados de interesse público, juntando-se à fiscalidade, à
estrutura militar e à justiça, a instrução, a fomentação do comércio, a agricultura e a manufatura,
no contexto de promoção das atividades económicas.
O bem-estar da população era medido pela capacidade produtiva, baseada na força do trabalho. A riqueza
da nação é a capacidade defensiva, na possibilidade de armar um número elevado de homens.
Novas tecnologias de poder: censos, inquéritos à população, provedores das comarcas que fazem
mapasestatísticos, iluminação de Lisboa e inspeção de navios para detetar doenças.
3
Secretarias de Estado:
➔ Únicas estruturas que sobrevivem à revolução liberal e se mantém na administração central, sendo a sua
principal forma de organização. Transição para um sistema ministral.
➔ Alinhamento de órgãos com os quais chegamos ao fim do Antigo Regime; Poder Executivo
D. João reforma as Secretarias de Estado que passam a ser três: Negócios Internos do Reino; Marinha e
Domínios; Estrangeiros e Guerra. Estas secretarias tinham como objetivo levar ao monarca as consultas ou
petições encaminhadas pelos secretários dos concelhos e dos tribunais e expedir, posteriormente, as
resoluções tomadas, preparando para o efeito os respetivos diplomas legais.
Em 1821 passaram as ser seis secretarias: Reino, Fazenda, Guerra, Marinha, Estrangeiros, Eclesiásticos
e Justiça).
➔ Divisão administrativa (até à Revolução Liberal), traduz o sistema político do Antigo Regime. Em Portugal,
o território português no continente era organizado e administrada segundo redes independentes15 e não
sobrepostas de natureza (i) militar; (ii) judicial; (iii) fiscal.
Províncias:
● Existiam seis províncias: Minho, Trás-os-Montes, Beira Alta, Beira Baixa, Estremadura e Alentejo.
● Serviam para organizar a defesa militar do rei e foram as primeiras unidades administrativas em
Portugal.
● Eram formadas por um governo militar e nunca corresponderam a órgãos de poder situados no plano
intermédio entre poder central e poder local.
● As comarcas eram distritos judiciais administradas por um corregedor, apresentavam uma diferença de
dimensões nos territórios sendo maiores a Sul do Tejo. Dentro de uma comarca poderiam existir
pedaços de território de outra comarca, denominados de encravamentos, sendo a descontinuidade
territorial bastante comum.
4
Provedorias:
Desde XVI que a administração financeira passou dos corregedores para provedores. O Magistrado Régio
supervisiona a cobrança de impostos e finanças dos municípios, hospitais e misericórdia.
Conselhos/municipios:
Os reis foram os principais responsáveis pelo aumento dos concelhos e estes tinham objetivos militares e
fiscais. Foram criados para povoar território e contrabalançar o poder dos senhores (também concediam florais
para popular os seus domínios).
Não fazem parte da administração central do Estado, sendo-lhes concedida alguma autonomia encorajada
pela coroa que os usava para controlar o território. Contudo, a autonomia foi diminuindo com a ação dos
corregedores e provedores.
O órgão de governo concelhio era a Câmara (presididas por juízes de fora ou por um juiz ordinário).
Funções:
● Julgar em primeira instância;
● Policiamento;
● Preços dos produtos artesanais e agrícolas;
● Vigiar os mercados, pesos e medidas;
● Fiscalidade concelhia e régia.
Juízes de fora: letrados nomeados pela coroa ou donatários. Autonomia jurisdicional a nível concelhio, embora
fiscalizados a posteriori pelos corregedores. Nas terras sem juízes de fora, a justiça ficava a cargo dos juízes
ordinários (eleitos localmente de ano a ano), sem formação letrada, tutelados pelos corregedores das comarcas
(eleições indiretas que a partir de XVII ficaram restritas à nobreza das terras, resultados sujeitos a confirmação
por parte da coroa ou senhores) - predominação oligárquica da vida política municipal.
Paróquias:
Resultam da necessidade de delimitar a área para a cobrança de dízimos, tendo também a responsabilidade
de tratar do registo civil. Eram geridas pela igreja e por um pároco (letrado num mundo de analfabetos e
intermediário entre a comunidade local e exterior, incluindo o centro de poder administrativo).
Eram células básicas da organização social e antecedem a fundação do reino. As paróquias garantiam a
estabilidade territorial, sendo marcadas por relações de vizinhança e controlo social interpessoal.
➢ Tudo isto, a sobreposição de sucessivas divisões diferenciadas (províncias sobre comarcas sobre
provedorias, desconexas) e a concorrência de funções entre os seus tutelares (corregedores,
provedores, juízes ordinários...) atesta a mentalidade polissidonal ainda muito presente e as
deficiências estruturais do aparelho centralizador do Antigo Regime.
5
Limites do reformismo no Antigo Regime: a reforma de 1790
A necessidade de compromisso entre a aliança britânica e o sistema continental imposto pelo poder
napoleónico envolveu Portugal na guerra. Aquando a chega das tropas napoleónicas (1808) a corte
portuguesa foi para o Brasil, sob proteção britânica.
É na península ibérica que Napoleão é derrotado pela primeira vez- Waterloo- com as tropas de Wellington,
resultando isto na tutela britânica sobre Portugal até 1820 (Portugal passou a ser uma colónia do Brasil e um
protetorado britânico).
Revolução Liberal:
A Burguesia encontrava-se descontente com a abertura dos portos do Brasil (1808) e o Tratado com
Inglaterra (1810) que geraram uma crise económica a partir de 1817 devido ao declínio comercial, ao défice
orçamental e ao aumento da dívida. Para além disso, a elevação do Brasil a reino (1815), o abandono do rei,
a ida dos bens fiscais para as guerras de expansão do Brasil e os excessos do general Beresdford no exército
e na regência aumentaram o descontentamento.
24 de agosto de 1820
Nesta data deu-se uma revolta do exército no Porto, levando à criação da Junta Provisional do Governo
Supremo cujos objetivos eram:
● Libertar o país da opressão britânica;
● Tomar conta da regência;
● Convocar cortes;
● Adotar uma Constituição. (para isso convoca as cortes. Esta é a reação contra a centralização do
Estado no Antigo Regime)
Os revolucionários do porto não queriam destruir a monarquia, queriam apenas que d. Joao VI se voltasse
para Portugal e que tudo regressasse ao normal.
15 de setembro de 1820
Nesta data dá-se uma revolta em Lisboa com participação dos revoltosos do 24 de agosto. Dá-se uma
fusão numa única Junta Provisional, tendo como objetivos convocar Cortes e apresentação e aprovação de
uma nova Constituição.
As Cortes Constituintes foram eleitas por sufrágio indireto masculino (janeiro de 1821) e D. João VI
regressou a Lisboa após jurar bases da futura Constituição.
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Constituição de 1822:
➔ É nesta altura que surgem os conceitos de esquerda e direita. Esquerda: poder de veto
controlável; direita: a vontade do rei é incontestável.
➔ Esteve em vigência de 9/1822 a 6/1823
Princípios Constitucionais
● Igualdade de direitos perante a lei (princípios da igualdade jurídica e respeito pelos direitos pessoais);
● Soberania popular: a soberania reside na nação (princípio democrático), exercida por representantes
legalmente eleitos (princípio representativo) em cortes;
● Separação dos poderes (Montesquieu): legislativo- cortes (unicameral) sob sanção (suspensiva) régia;
executivo- reis e secretários de Estado; judicial- tribunais;
● Admissão a cargos públicos por mérito e concurso público- pretende terminar com a venalidade dos
cargos e a sua hereditariedade- meritocracia.
● Propriedade privada;
● Habbeas Corpus;
● Não ser obrigado a fazer o que a lei não manda nem a deixar de fazer o que a lei não proíbe;
● Não ser preso sem culpa formada nem julgado exceto de acordo com a lei;
● Liberdade de falar e escrever sem censura prévia;
● Abolição da tortura, do confisco de bens e castigos corporais;
● Admissão a cargos públicos de petição.
● Regime burocrático (diferença entre meritocracia e patrimonialismo)
➢ A morte de D. João VI cria um problema: o primogénito D. Pedro era Imperador do Brasil e ninguém
aceitava a união das cortes portuguesas e brasileiras. Desta forma, D. Pedro abdica da coroa para a dar
à sua filha D. Maria (7anos), na condição de se casar com o seu tio D. Miguel que assumiria a regência.
Para além disso, D. Pedro outorgou a Carta Constitucional de 1826, jurado por todos os corpos e por D.
Miguel em Viena.
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A carta Constitucional de 1826:
A Carta Constitucional de 1826 esteve em vigor durante 72 anos e apresentava-se como sendo mais
moderada que a Constituição de 1822, refletia a reação conservadora contra a promulgação da Constituição a
partir da assunção do poder constituinte pela nação através de assembleias eleitas por sufrágio popular.
Contava com mais direitos civis do que a Constituição de 1822 (direito aos socorros públicos, instrução
primária gratuita. Colégio e universidade) e, apesar da liberdade de culto não estar expressamente escrita,
ninguém podia ser perseguido por motivos religiosos desde que respeitasse a religião do Estado e a
moralidade pública.
A Carta agradava às tradicionais classes privilegiadas (nobreza, aristocracia e igreja), aos proprietários
e grandes burgueses pois concedia enormes poderes ao rei. Entre os partidários da Constituição e da Carta,
entre «avançados» e «moderados» estava criada uma fissura insarável na legitimidade do poder político, que
só seria resolvido em 1851, com o golpe da «Regeneração» e o Ato Adicional à Carta.
D. Miguel afirma que foi pressionado a assinar a carta e começa uma guerra civil. D. Pedro regressa pelo
Porto e é cercado por tropas miguelistas. As tropas de D. Pedro entram pelo algarve e passado 2 anos em
Évora-Monte, D.Miguel aceita a derrota e vai morar para Viena.
Nesta altura, as eleições não servem para escolher quem vai governar a seguir mas sim para aprovarem a
decisão da rainha (não eram eleições democráticas, até os mortos “votaram”). Existia alternância de partidos
porque a coroa queria e os partidos concordavam.
8
Guerra Civil 1832-34: o fim do Antigo Regime e a vitória do Liberalismo
Durante a Guerra Civil, o campo liberal, para atingir os inimigos da Carta (donatários, desembargadores,
fidalgos, clero, vereações municipais, oficiais e ordenanças) nos seus poderes e rendimentos, decreta o fim do
Antigo Regime nas instituições e formas de poder e relacionamento que dotavam havia séculos:
Os liberais venceram a guerra civil (exílio permanente de D. Miguel) mas o regime liberal não possuía
autoridade para impor a nova lei e a nova ordem. A Carta foi adotada, colocada no trono a rainha de apenas 15
anos.
Na província o novo regime impunha-se com dificuldade, nomeadamente à Igreja, alta magistratura, quase
toda a aristocracia titular e fidalguia rural (simpatistas miguelistas). O regime estava ainda minado por fraturas
internas do radicalismo lisboeta (plebe fora da soberania legal pelo censo da Carta). A legitimidade do regime
liberal era ameaçada, à direita, pelo miguelismo, à esquerda, pelo radicalismo urbano (absolutismo e monarquia).
➔ As províncias sofreram alterações, tal como as comarcas (extinguiram-se 14; os encravamentos diminuíram
de 85 para 22). Com a extinção dos direitos de foral foi possível unificar mais o território.
➔ A reforma de Mouzinho da Silveira foi acusada de centralismo excessivo.
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TEXTO 1 → “Território e Poder –O funcionamento do sistema administrativo em
1835”, Luís Espinha da Silveira
D. Pedro assumiu a regência do governo liberal a 3 de março de 1832 e deu início de um conjunto de
reformas legislativas, grande parte levadas a cabo por Mouzinho da Silveira, Ministro da Fazenda e da
Justiça, de modo a consolidar o liberalismo e remover as velhas estruturas do Antigo Regime.
● Reforma religiosa:
- Extinção do dízimo da Igreja;
- Abolição das ordens religiosas masculinas;
- Secularização dos conventos.
● Setembrismo (1836-42):
- Valorização dos direitos individuais, a definição da soberania como base democrática do poder;
- Bicameralismo eletivo e temporário através de eleições diretas;
- Consagração do voto censitário;
- Lançamento da pauta protecionista – marca o verdadeiro arranque industrial português;
- Fomento do associativismo empresarial;
- Reformas no ensino de instrução primária, secundária e superior.
● Cabralismo (1842-51):
- Fação liberal ultraconservadora;
- Reforma na saúde;
- Alicerçou-se nos princípios da Carta e fez regressar ao poder a grande burguesia;
- Criou-se o Código Administrativo;
- Sob bandeira da ordem pública e do desenvolvimento económico, apostou no fomento industrial,
nas obras públicas, na reforma administrativa e fiscal;
- Difundiu-se a energia a vapor;
- Criou-se o Tribunal das Contas e surgiu a Companhia das Obras Públicas de Portugal.
10
Lei de abril de 1835- descentralização:
➔ Surge como reação à reforma centralizadora de 1832 de Mouzinho. O fim da guerra civil traz grandes críticas a
esta centralização que parece, agora, desnecessária. A Legislação de 1835 atua no sentido de diminuir o poder
do centro para a periferia.
➔ Nesta época dá-se a inversão do ciclo descentralizador verificado até então, sendo confirmada a fraca
relação hierárquica entre os órgãos do sistema administrativo português da época.
11
Código Administrativo de 1842- Reafirmação da Centralização:
Em fevereiro de 1842, num golpe de Estado pacífico, foi o próprio ministro da Justiça Costa Cabral quem pôs
fim à Constituição de 1838, repondo a Carta (símbolo do liberalismo conservador português).
● O rei nomeava os magistrados a nível de concelho e distritos. Enquanto o governador civil nomeava o
regedor de paróquia;
● Aqueles que se queriam tornar deputados tinham de ter o rendimento mínimo exigido. Excluindo assim
umainteira classe social;
● O Conselho de Distrito intervinha no funcionamento dos municípios além de ser um tribunal
administrativo;
● A Junta de Paróquia assumiu apenas a administração da fábrica da Igreja e dos bens da própria
paróquia;
● A partir da lei de 27 de outubro de 1840, o rendimento reivindicado nas eleições locais e de deputados
passou a ser averiguado pelas contribuições pagas ou pelos ordenados e pensões recebidos do
Estado, permitindo, assim, um melhor controlo de recenseamento eleitoral por parte do mesmo.
Para que seja possível passar de uma centralização legal para uma centralização real, deve existir uma
“uma máquina administrativa eficiente, dispondo de meios materiais e de um funcionalismo suficiente em
números e competente”
A administração pública portuguesa institui a prática do Concurso Público para recrutar funcionários do
Estado, originária da Prússia: garantia a igualdade de oportunidade, pois a escolha era baseada no mérito e
talento de cada um, sem favorecimento pessoal.
A ineficácia do sistema administrativo português prendia-se, à data de 1852, com:
➔ Surge como solução às problemáticas anteriores: o apoio da administração periférica nas elites locais,
sendo que havia um rendimento mínimo exigido para poder eleger e ser eleito;
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Divisão administrativa:
Aspetos políticos:
● A Carta de 1826 não era bem aceite por muitos setores da sociedade, devido às restritas condições do
direito de voto e de ser eleito, à inexistência de unidade no exército (cisão entre oficiais miguelistas e
setembristas), ao aumento da dívida pública, à instabilidade política (sequência de golpes) e à existência
de pena de morte por crimes políticos, resultando numa constante de levantamentos populares.
● Golpe da Regeneração (1851): golpe militar que agiu como forma de reservar a soberania popular, sem
que tenha existido qualquer instrumentalização por parte dos partidos, procurando pacificar a vida política-
fações políticas reconciliaram-se nacionalmente);
● Revisão da Carta Ato Adicional (1852): tornando a carta aceitável para a esquerda: eleições diretas,
alargamento da capacidade eleitoral e abolição da pena de morte por crimes políticos.
O primeiro governo regenerador (1851-56) tem um programa de melhoramentos materiais, dirigido por
Fontes Pereira de Melo (Partido Regenerador). O programa era tanto económico como político. Tinham a
intenção de melhorar as estradas, por exemplo, para ajudar o comércio internacional que faria crescer a
economia que pagará mais impostos. Esta aposta numa política de “obras públicas” foi financiada através da
contração de empréstimos internos e externos, resultando numa “economia maior”.
D. Pedro V afasta Fontes e nomeia Marquês de Loulé, governando pela primeira vez o centro-esquerda
(partido histórico). O período até 1868 é de enorme agitação política e alternância entre históricos
(centro-esquerda) regeneradores (centro-direita), até se coligarem em 1865-68. Não diferiam no consenso de
regime: opção pelo progresso material e extensas obras públicas.
13
As transformações demográficas, sociais e políticas em Lisboa (década de 1860):
Aliança entre regeneradores e a “unha branca” dos históricos, liderada pelos primeiros, contra todos os
radicalismos. (os republicanos procuram organização, em detrimento do “voluntarismo”, abandonando os
métodos revolucionários violentos a favor da luta pelas consciências. Promovem a via espiritual (ensino,
moralização) em oposição à via militar/revolucionárioa). Como o consenso político assentava no programa de
fomento e melhorias materiais, nada impedia a partilha do poder. Desde 1867: manifestações contra a crise, o
novo imposto de consumo e a reforma administrativa (extinção de 4 distritos e 178 concelhos), tudo marcado
para 31 de dezembro de 1867. Esta mistura explosiva foi a “janeirinha”.
Em 1868 termina a coligação central contra o radicalismo. O povo emerge como uma força política.
Desde a fusão que a unha preta se tinha libertado do enquadramento do partido histórico. De 68 a 70, fazem
sucessivos tumultos em Lisboa, mas incapazes de criar plataforma política geral que superasse o emaranhado
de relações pessoais dos vários clubes políticos de Lisboa. Apesar da incapacidade para exprimir um protesto
uníssono e coerente, o povo tornasse uma força política e social importante e permanente.
● 1870 surge o Partido Reformista que se funde em 1876 com os Históricos para criar o Partido
Progressista, que era monárquico, embora afirmasse que queria rasgar o caminho para a
democracia.
● No mesmo ano foi criado o Partido Republicano.
● O Partido Socialista nasceu em 1875.
➔ A década de 1870 ficou marcada por uma paz social e política, pelo governo de Fontes (1871-77), contexto
económico e financeiro favorável, obras públicas, investimento, remessas de emigrantes, défice reduzido a
metade, multiplicam-se instituições bancárias em Lisboa, Porto e Províncias.
14
Rotativismo 1878-90:
Acordo dinástico:
● Instituição da rotação entre progressistas e regeneradores;
● Revisão da lei eleitoral para dar garantias ao partido derrotado de ter uma representação parlamentar
aceitável (objetivo: isolar os progressistas da sua base eleitoral radical. Garantindo que a derrota não
era esmagamento impedia-se que quem se sentia esmagado recorresse a meios extra-constitucionais
de pressão política);
● Revisão da carta através do II Ato Adicional em 1885: fim do pariato hereditário, nomeando o rei 100 e
os outros 50 sendo eleitos de forma indireta apenas por 6 anos. As reformas secavam o espaço de
reivindicação do radicalismo, alargando a legitimidade dos partidos monárquicos. (Os pares não eram
nomeados pelo povo mas sim pelos deputados que eram nomeados pelas Cortes).
Economia e sociedade
População:
● Crescimento de 3,5 milhões para 5,5 milhões em 1911.
● Crescimento urbano moderado: 11% (1864) para 16% (1900) (Inglaterra- 39% (1850) para 61%
(1890)).
● Acentua a ruralidade predominante. Exceção: Macrocefalia- Lisboa 210 mil (1820) para 430 mil
(1911); Porto 50 mil (1820) para 194 mil (1911); Lisboa + Porto de 8% do total em 1820 para 11% em
1910.
Agricultura:
● Extinção dos direitos feudais, libertando o trabalho e a terra;
● 65% população ativa;
● O produto agrícola: vinho (80%), cereais e produtos animais e cresceu ao longo da segunda metade
do século XIX, caiu até 1910;
● Manutenção das taxas alfandegárias, aliada a um elevado custo unitário de produção
(salário/produção) inviabilizam a industrialização, ou seja, a Revolução Industrial.
Redistribuição da propriedade:
● A guerra civil confiscou os bens ao inimigo (Igreja, por exemplo), sendo que, tudo foi a leilão e
comprado pelos comerciantes e industriais liberais. Bens foram comprados por uma nova classe
poderosa de burgueses proprietários que não queriam e regresso do Antigo Regime, apoiando o
Liberalismo.
O capital era investido na agricultura em vez de na indústria. Desde 1834, fim corporações e outros entraves à
liberdade de comércio e de indústria. As formas pré-capitalistas evoluíram para formas capitalistas, mas foi lenta
a superação da indústria da tradição artesanal e do trabalho artesanal, persistindo as deficiências estruturais
como falta de qualificação e de maquinaria, constrangendo o potencial produtivo do país.
O Setor Industrial cresce na sua importância mas não existe uma Revolução Industrial:
● A Indústria cresce mais do que a Agricultura na segunda metade do século XIX, ainda que limitada
estruturalmente pela forte dependência da importação de matérias-primas, acompanhada por uma
elevada dependência face ao mercado interno e colonial;
● No período do Fontismo, marcado pela famosa política de melhoramentos materiais (ou política de
obras- públicas), assiste-se a um desenvolvimento dos transportes e comunicações, resultando na
melhoria da rede de estradas, da rede de caminho-de-ferro, de portos (Porto de Leixões (1889),
maior obra pública do século XIX, um porto de águas profundas) e telégrafos;
15
➔ Existe um crescimento económico, ainda que não seja acompanhado de uma mudança estrutural:
prevalência dos setores primário e secundário na estrutura económica, contrariamente aquela que carateriza
os países mais ricos – marcada pela eficiência industrial em articulação com um dinâmico setor terciário.
➔ A ideologia liberal limitava intervenção direta dos poderes públicos, agindo apenas no sentido de remover
obstáculos ao livre-câmbio dentro e fora do país. Abolição de portagens, licenças de circulação, monopólios,
corporações, privilégios de companhias, etc. O surto comercial desenvolveu muito Lisboa e Porto.
Transportes:
● A PNB per capita aumentou de 40% a 60% entre 1840 e 1910, mas, se em 1850 era 55% dos países mais
ricos, em 1910 era apenas 40% (divergência): crescimento sem mudança estrutural (primário/secundário)
(mais ou menos ricos), baixa produtividade (analfabetismo 76% em 1878); peso comércio externo muito
baixo.
Contexto
A Regeneração, iniciada em 1851, consolidou a modernização do aparelho administrativo do Estado Liberal.
Exame crítico:
● Exagerada centralização;
● Excesso de funcionários;
● Trama labiríntica de formalidades (Administração pública prepotente, dispendiosa, corrompida
pelas lógicas particularistas e ineficiente).
Centralização administrativa
A imprensa da época revelava a opinião pública generalizada de que a centralização administrativa era
umas das «desgraças nacionais» e que anulava «a vitalidade e autonomia da vida local». A administração
passa a ter uma «configuração piramidal (...) assente em relações verticais de poder fortemente
assimétricas», gerando uma lógica de dependência da periferia face ao centro, encarada como um
obstáculo à «espontaneidade do sufrágio popular».
16
A sociedade critica o excesso de funcionários públicos, embora reconhecessem as novas necessidades
inerentes ao processo de modernização social e política. O aumento do número de funcionários é um
fenómeno comum da transição de um regime absoluto para um liberal.
A. Herculano: a doutrina contra o “regime centralista” era a matriz essencial do pensamento crítico sobre
o Estado Liberal: à centralização administrativa correlacionava e reforçava-se a centralização política.
O regime liberal criou necessidades apresentadas pelos processos de modernização social e política:
Opinião generalizada de que, em Portugal, o crescimento da burocracia era desmesurada, havendo um excesso
de empregados públicos: hipertrofia burocrática.
“Empregomania”
● Forte atração pelos empregos públicos: maior concentração de oportunidades e vantagens materiais e
simbólicas atribuídas aos funcionários públicos;
● Característica de países onde a riqueza pública está pouco desenvolvida e a iniciativa privada é pouco
ativa;
● Esta preferência prendia-se com vantagens instrumentais e objetivos de status:
● Além de bem remunerado, o ingresso nestes quadros era uma garantia vitalícia e de aposentação na
velhice; Trabalho menos pesado e suscetível de ser acumulado com outras atividades;
● Fonte de prestígio e de influência.
O número de funcionários públicos em Portugal era, porém, menor relativamente aos outros países na época.
Patrocinato vs Meritocracia
A face mais visível do patronato oficial era o favoritismo nas promoções e as purgas periódicas do
funcionalismo: verificava-se uma elevada estabilidade- os mesmos indivíduos mantinham-se em funções durante
longos períodos, incluindo os cargos superiores - porém, estes funcionários estavam sujeitos ao arbítrio
ministerial sobre a progressão na carreira e transferências forçadas.
Na administração periférica do Estado, o “patronato oficial” era facilitado pela inexistência ou tardia
introdução de mecanismos legais que regulassem o provimento dos empregos público. Apesar do mecanismo de
recrutamento meritocrático, a inexistência de regras de seleção de empregados constituía um estímulo adicional
à arbitrariedade e às práticas de favoritismo.
17
Para assegurar a igualdade de oportunidade e a competência dos funcionários públicos sobre o patrocinato
político e o favoritismo, introduziu-se o concurso público, que se materializou na seleção de candidatos através
de provas práticas específicas, assistindo-se à democratização dos métodos de recrutamento.
Resultado: A prática da meritocracia espalha-se pelo aparelho administrativo, coexistindo com o patrocinato. Os
concursos, mesmo com resultados manipulados, possibilitaram a entrada de uma maior parcela da população
para cargos da Administração Central.
O sistema burocrático cresce em qualidade (maior nível de instrução dos funcionários) e quantidade:
● O número absoluto de indivíduos que exerciam funções profissionais no Estado mais que duplicou;
● O Ministério da Fazenda manteve sempre o maior contingente pessoal;
● O Ministério do Reino sofreu uma significativa redução e o da Guerra registou uma diminuição progressiva
até 1876.
● No funcionalismo público português, na primeira fase da Regeneração, 60% dos efetivos desempenhavam
funções de caráter especializado. Os restantes 40% não tinham formação profissional específica,
desempenhando funções administrativas.
O pagamento de um salário regular ou pontual aos funcionários públicos prendia-se com a tentativa de atingir
uma maior estabilidade e lealdade no funcionalismo.
Esta alteração não foi acompanhada por uma melhoria geral dos níveis salariais e das condições de
subsistência dos funcionários públicos:
● Salários baixos e sujeitos a elevadas deduções;
● Aumentos quase inexistentes e só em certas categorias hierarquicamente superiores.
➔ A insuficiência das remunerações fixas pode ser atenuada pelas gratificações ordinárias (exercício de certos
cargos) e extraordinárias (comissões especiais), ligadas ao favoritismo pessoal.
➔ A atração pelos empregos públicos não estava relacionada com as vantagens salariais, mas talvez ao estatuto
que se interessava manter.
O vício papelista
O excesso de regulamentação e formalidades e a lenta transmissão de assuntos eram fonte de críticas
relativamente à forma como funcionava o expediente das repartições públicas.: F. da Silveira afirmava que do
excesso de “papelada” resultavam dependências e influências burocráticas poderosas, que faziam com que o
próprio ministro não pudesse dar às questões o impulso que desejava, atrasando-as- Lentidão Burocrática.
Conde de Cavaleiros propôs uma reforma urgente dos serviços públicos porque a burocracia em demasia
prejudicava o bom e rápido andamento dos negócios públicos:
● Diminuir a quantidade de “papelada”;
● Reclamar um enorme número de funcionários.
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Morfologia da Burocracia: traços fundamentais
● Revolução vintista: divisão dos poderes do Estado e fim da patrimonialização dos cargos
públicos;
● Reformas de Mouzinho da Silveira: Desmantelamento definitivo da rede institucional do Antigo
Regime, com a introdução de uma nova organização administrativa de índole centralizadora,
instituição do registo civil, hierarquização de competências e distinção efetiva das funções
administrativas das judiciais;
● Regeneração: criação das condições de estabilidade política propícia à consolidação e expansão
das capacidades administrativas do Estado, impulso modernizador dos meios da gestão
burocrática.
A antiga estrutura polissinodal foi substituída pelo moderno regime ministerial: a ação administrativa
passou a ser dirigida através das Secretarias de Estado- Ministérios.
Transformadas no centro de toda a Administração Pública, foram alvo de várias reformas destinadas a
melhorar os padrões de qualidade e eficiência dos serviços públicos, que incidiram sobre aspetos
organizativos do expediente e o provimento e garantias dos funcionários:
Estas mudanças foram acompanhadas de estabilidade política e institucional, o que provocou o aumento
das capacidades do Estado.
19
A Obra Financeira da Regeneração
No início, o Estado não pagava credores, não atraia capitais nem inspirava confiança:
● Solução política recupera credibilidade: pagar a tempo aos funcionários públicos (crucial para o
crédito externo);
● Conversão forçada da dívida pública que aumenta em valor absoluto (85000 para 90000 contos),
mas diminui encargos imediatos para o estado.
Os credores reagiram mal porque os títulos perderam cotação em Londres e organizaram-se para
defender os seus interesses, recusando-se a conceder mais empréstimos. Esta resistência inicial dos
credores viria a ser ultrapassada voltando os título a ser cotados em Stock Exchange e Portugal consegue
um empréstimo de 4500 contos.
● Criado sistema fiscal moderno: novos impostos diretos e universais, contribuição predial e
industrial;
● A despesa pública cresceu ao dobro do ritmo (2%) do PIB (17.500 para 47.500, as receitas
crescem muito menos 14000 para 41000);
● Carga fiscal baixa em termos espaciais representado a fraca capacidade do Estado: final década
de 1880: 4,4% PNB; Espanha 8,6%; Bélgica 7,5%; Itália 13%; UK 7%) - recurso à dívida pública.
Receitas Públicas
As receitas fiscais mais importantes provinham dos direitos alfandegários (até 45%), do tabaco (até 25%),
contribuição predial (até 13%) e consumo em Lisboa (até 3%).
Verificava-se um predomínio dos impostos indiretos (alfândegas de Lisboa) e do Tabaco o que revela que
o “Estado pouco enraizado no território onde exerce a soberania, parecendo escapar-lhe, na realidade, a
possibilidade de exercício do fisco, com idêntica incidência, na totalidade do território nacional”.
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Despesas Públicas
Estrutura da despesa
Défice Orçamental
No período entre 1850 e 1890, o défice orçamental cresceu sempre. Cobertura receitas/despesas sempre
abaixo dos 100%, em 1875 desce a 70% (rácio piora)
A espectativa é de um período inicial de aumento da dívida e do défice que desenvolve o país de forma a
que este aumente a riqueza gerada, e, consecutivamente a receita fiscal. Neste sentido, o Estado
endividou-se em prol do coletivo, investindo em ajudar a economia a crescer, este crescimento iria pagar a
dívida.
O modelo económico esgotou-se, nunca tendo sido autossustentável. Os impostos eram insuficientes
para cobrir a dívida, sendo necessário recorrer à emissão de dívida para pagar a própria dívida. O
pressuposto (desenvolvimento de infraestruturas económicas, fomento agrícola e industrial da iniciativa
privada) assentava no crédito interno e externo e reforma da fiscalidade. A relativa prosperidade
económica não resolveu a crise financeira permanente porque a economia não cresceu o suficiente para
fazer aumentar as receitas fiscais.
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Grandes investimentos nas obras públicas e fraco crescimento económico, em conjunto com um
sistema fiscal incipiente, produziram défices permanentes e crescimento da dívida externa que o aumento
da carga fiscal foi incapaz de compensar:
O projeto económico da Regeneração falhou do lado das receitas uma vez que o equilíbrio das contas
públicas não foi atingido e a herança financeira deixada foi de acumulação de défice orçamental e subida
acentuada da dívida pública e agravamento da dívida externa.
O modelo fontista não quebrou o duplo cerco do modelo de crescimento económico insustentável e
pouco competitivo e dos fatores de risco sobre as finanças públicas: cada vez que as más colheitas
obrigavam a mais importações ou as remessas diminuíam ou o acesso ao crédito externo complicava-se-
havia aflição, como em 1890.
No fim do séc. XIX a monarquia optou por se fechar, alternando entre os dois partidos mas fazendo leis
eleitorais que prejudicam o Partido Republicano tornando o corpo eleitoral cada vez mais pequeno (direito
de voto a cada vez menos pessoas, por exemplo homens, licenciados, com determinados rendimentos).
Portugal, na segunda metade do século XIX era um país não industrializado com um parlamentarismo
precoce, mas oligárquico. A Conferência de Berlim ameaçou o direito histórico português sobre as
colónias, substituindo-o pelo princípio da ocupação efetiva. A escalada de tensão com a Inglaterra, sua
aliada, e a independência do Brasil enfraqueceram o país ao nível interno e internacional, uma vez que se
encontrava economicamente dependente das colónias, sobretudo do Brasil.
22
Crise Financeira de 1890 (fatores de risco do modelo fontista)
● Redução das exportações de vinha, para o mercado inglês, por exemplo;
● 1898- Revolução republicana no Brasil desvaloriza o câmbio brasileiro, reduz 75% das
remessas,desequilibrando a balança de pagamentos.
● Bancarrota na Argentina retraiu crédito na Europa ou o aumento insustentável dos juros- Portugal
para investir tem de se endividar, mas a riqueza gerada não é suficiente para custear o pagamento
da dívida crescente.
● 1891: saída do padrão-ouro, dívida 75% do PIB;
● 1892: conversão da dívida, seguida de uma declaração de bancarrota parcial, com suspensão e
amortização da dívida do pagamento dos juros a 1/3)
Centenário de Camões e Pombal: procissões laicas usadas pelos republicanos para fomentar amor
pela pátria, que substituísse o vínculo da fé como cimento primordial da sociedade. Ora a pátria foi
humilhada pelo Ultimato Inglês face ao mapa cor-de-rosa e ataque a indígenas sob proteção inglesa na
África. Governo recebe ultimato inglês exigindo a retirada das forças expedicionárias e ameaça cortar
relações e o uso de força. O governo cedeu o que levou a um aumento da contestação.
O governo demite-se.
Com o Ultimato e o golpe de Estado (31/01/1891) a legitimidade do regime monárquico é posta em causa,
esta falta de legitimidade torna-o um regime fraco. Os republicanos assumem-se como os supremos
defensores da pátria e da sacralização do Império, sempre com o propósito de desorientar os partidos
constitucionais e promover a quebra do sistema político. Os republicanos organizam manifestações e
revoltas populares, fazendo o ativismo político a sua base de apoio, passa, assim, a mobilizar os seus
eleitores sem recorrer ao clientelismo.
23
“O indivíduo liberal é ficção”
O indivíduo liberal é ficção, pois está ligado a interesses e a círculos de sociabilidade naturais. Os
interesses e pertenças deviam associar-se em agremiações cuja deputação seria a verdadeira
representação orgânica da nação.
O Governo deve ser tecnocrata (formado por técnicos competentes), libertado de empecilhos
parlamentares e políticos. O poder do rei deve ser engrandecido como órgão representante da nação (por
cima da “bandalheira” dos partidos e do parlamento). Havia que governar em “ditadura” assumir funções
executivas com o Parlamento fechado. Foi o que fizera João Franco (ministro do Reino de Himtze) e D.
Carlos a partir de 1893 (caiu 1897, voltou José Luciano de Castro até 1900).
O Partido Socialista (1875) aceita não derrubar a Monarquia Constitucional (considerando que não tem
força natural) desde que existam concessões sociais- valoriza a questão social.
O Partido Republicano (1876) (diferente da Social-Democracia) apoia a mudança para uma República
e pretende a laicização do Estado e a extinção dos Sindicatos, com o propósito de diminuir a contestação
social, as manifestações e movimentos grevistas, criado inclusivamente o Tarrafal, para onde eram
enviados os sindicalistas (tolera a burguesia desde que se possa derrubar a monarquia).
A resposta católica à crise do liberalismo e socialismo através de um movimento social e não partido
político (Leão XIII 1891): aceita colaborar com os poderes constituídos e abandona a oposição ao
liberalismo e ao republicanismo, de forma a moldar, no sentido cristão, as opções políticas e legislativas de
governo. Aceita os “regimes liberais” existentes, formando partidos. São criadas instituições laicas para
ajudar os pobres e os trabalhadores industriais- Centro Académico de Democracia Cristã- com funções
formativas e recreativas.
● A crise e perda de confiança na Monarquia Constitucional conduziu à destruição do consenso quanto às
regras parlamentares e governativas;
● A Monarquia não conseguiu incorporar as massas urbanas na política, não funcionando como um sistema
de integração de massas na política: voto limitado; corpo eleitoral restrito;
● O rei pactua com as limitações representativas;
24
Poder republicano, governo provisório
➔ No imediato a República erradica os símbolos do regime: demitiram os funcionários das casas reais; aboliu
os títulos nobiliárquicos e os direitos da nobreza; adotou uma nova bandeira e hino nacional.
➔ O regime não permitiu a existência de partidos monárquicos que adotaram uma posição anti-sistémica,
encenando diversos golpes de Estado (nomeadamente a Monarquia do Norte-1919).
➔ O regime nasce cercado e não desenvolve de forma sistemática um programa de reformas assente em
coligações amplas políticas e sociais capazes de o sustentar a prazo.
O poder republicano foi colocado perante exigências elevadas. O anarco-sindicalismo dominava. A nova
legislação foi dececionante, pior apenas a nova lei da greve que proibia os piquetes e exigia um pré-aviso com
uma semana de antecedência: movimento operário sente-se enganado;
Os republicanos acham as greves inoportunas (60 entre o 5 de outubro e o final de 1910), tendo feito
manifestações republicanas contra elas (janeiro 1911). Conflito agravou-se em março de 1911 (mortes grevistas
pela GNR). Com o operariado, a república perdeu a credibilidade; Relações entre regime e movimento operário
foram sempre muito conflituosas- antagonismo movimento operário.
Antagonismo Estado/Igreja
● A república assumiu a laicização do regime e o confronto com o Vaticano. O Estado republicano subjugou a
Igreja, renunciou a religião e retirou à igreja a personalidade jurídica, o juramento religioso nos tribunais e
outros atos oficiais foram abolidos. Os jesuítas foram expulsos, conventos encerrados, introduzido o divórcio
civil e casamento como contrato de validade exclusivamente civil, consagrado o registo civil obrigatório
mandando encerrar os livros de registo paroquial, tudo na Lei de Separação e das Igrejas.
● A I República mostra-se contra as classes privilegiadas, por exemplo Igreja, ordem que viu os seus bens a
serem confiscados e vendidos em hasta pública.
Sistema de Governo
Cisão no seio do PRP (Partido Republicano Português): não havia bipartidismo rotativista como na
Monarquia Constitucional, mas multipartidarismo do partido dominante- o Democrático:
● Partido Democrático, bloco de Afonso Costa;
● Partido Evolucionista- direita;
● União Republicana- direita;
● Socialistas- partido pequeno e fraco de esquerda, não fazia concorrência.
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A Assembleia Constituinte não se dissolve e origina a primeira Legislatura
Primeiro governo Partido Democrático de Afonso Costa (1913) teve efeitos perversos, criou nas oposições
a ideia de que os Democráticos só cederiam o poder pela força. Pensando que o sistema político se fechara e
que os mecanismos constitucionais-legais eram insuficientes para contrabalançar o alegado jacobismo dos
afonsistas, os adversários do partido à direita e à esquerda optam pelo golpismo.
Enquanto Ministros das Finanças, Afonso Costa procurou expandir a educação básica e o fomento das
colónias, com o propósito de garantir um equilíbrio financeiro que lhe permitisse recuperar a credibilidade nas
praças internacionais.
Degradação da República
Importa reter a ideia de que “a República nasce cercada”, em virtude de um conjunto de decisões que
estreitam o apoio político do regime, nomeadamente devido à incapacidade para incorporar a população na
política e culminando, quase paradoxalmente, com a restrição do sufrágio, quebrando a promessa de
integração das massas no sistema político.
De paradoxos e contradições vive, no fundo, a Primeira República que, na verdade, pouco fez pelos
trabalhadores e, em última análise, pela própria ideia liberal que advogava. A oposição face aos sindicatos
ilustra esta tendência repressiva e antiliberal, que nunca conseguiu, no entanto, pese os seus esforços,
dominar o anarco- sindicalismo nem estabelecer uma ligação orgânica com os movimentos operários, como
fizera com os partidos monárquicos, ilegalizados e forçados a promover uma oposição clandestina (marcada
por tendências golpistas) e com o próprio funcionalismo público, sujeito a purgas, tendencioso e clientelar.
A I República ficou caracterizada pela instabilidade governamental. Entre 1910 e 1926 existiram 45
governos em Portugal.
Não obstante a destruição, os milhares de mortos e estropiados resultantes da I Guerra Mundial, também
se salienta, no decorrer deste conflito, a emergência e generalização de uma mudança cultural profunda,
favorecendo a figura política da mulher e ideias como a universalização do sufrágio e políticas sociais (o Estado
vai apropriar-se de tarefas como o controlo dos preços, da industria e a proteção dos retornados da frente de
batalha, quebrando o modelo ideológico segundo o qual o Estado não devia intervir na sociedade e na
economia), necessárias no contexto de uma Europa destruída social e economicamente.
Na ótica da I República, a I Guerra Mundial surgia como uma possibilidade de legitimar internamente o
regime, assegurando o controlo do sistema político e a mobilização nacionalista e patriótica, e proteger as
colónias da ameaça britânica e alemã. Durante a neutralidade Portugal interveio em combates no teatro de
guerra africano (Angola e Moçambique). Desde março de 1916, que se organizava o Corpo Expedicionário
Português, que seria enviado para o teatro europeu de guerra. A participação portuguesa na Guerra seria
marcada pela célebre batalha de La Lys (09-04- 1918), onde morreram 1300 portugueses.
No contexto da Guerra, os países dependentes do comércio internacional não podem transacionar bens, o
que resulta numa falta de produtos, que, por conseguinte, gera inflação e produz uma redução dos rendimentos
disponíveis, o que, em última instância, conduz a um quadro de instabilidade interna. A crítica à mobilização de
recursos económico-financeiros que permitiam o financiamento da Guerra foi, igualmente, um motivo de
agudização dessa instabilidade interna que o país enfrentava. Assiste-se a uma rutura entre a frente, que
enfrenta a guerra externa, onde se vive o inferno, e uma retaguarda, frente interna, cada vez mais anti belicista.
26
É, nesta lógica, que, na Primavera de 1917, se assiste à “radicalização da rua”, por parte de camadas da
população afetadas pela carestia e, em setembro do mesmo ano, à Greve Geral. O protesto social inunda as
ruas e o poder reprime: maio as garantias são suspensas; julho é declarado o estado de sítio em Lisboa, na
sequência de motins e greves; setembro é convocada a greve geral e o governo responde com a mobilização
dos grevistas – isolamento progressivo do governo.
A 5 de dezembro de 1917 deu-se o golpe vitorioso do movimento dezembrista liderado por Sidónio Pais
(República Nova): o sinodismo dissolveu o Congresso, destituiu o Presidente da República e procedeu a novas
eleições. Acaba também por alterar por decreto a constituição, impondo um sistema presidencialista com
eleição direta e universal do Presidente da República, pertencendo-lhe o exercício efetivo do governo mediante
secretários de Estado.
Sidónio ganha eleições presidenciais (57%), muito mais do que o seu Partido Nacional Republicano (ganha
eleições parlamentares 36%). O regime era Sidónio e a República Nova é ditadura pessoal, subalternizando o
parlamento e o partido, com cada vez menor institucionalização e capacidade de integração política do conflito.
● Pacifica as relações com a Igreja, repõe o status quo antes da Lei da Separação;
● Regulariza a ordem interna, repõe a censura e a polícia política;
● Integra monárquicos na República Nova, oferece-lhes postos-chave nas Forças Armadas e nas
Polícias;
● Em vários aspetos (órgãos repressivos, anti-bolchevique, etc) este regime assume carácter
fascizante, antecipando experiências europeias desse tipo. O fim da guerra (11/11/1918) força o
final do regime sidonista enquanto “regime de exceção”. Sidónio foi assassinado, a tiro, a 14 de
dezembro de 1918.
A saída da guerra e os anos 20 revelaram-se conturbados para Portugal, num cenário onde diversas
fontes de agitação trabalhavam contra a estabilidade: referindo-se, por exemplo, o regresso das tropas e a
necessidade de organizar a mobilização política do povo, mas, igualmente, a existência de uma polarização
política entre o bloco sindical progressista e o bloco conservador autoritário, o que resulta num clima de
tensão.
A tendência inflacionista manteve-se por anos, erodindo os rendimentos fixos, poupanças e impostos,
somando-os ao desemprego, gerando descontentamento social, sobretudo meios urbanos. A guerra trouxe
inflação, especulação e agravamento desigualdades sociais. A popularidade dos governos republicanos foi
afetada, assistindo- se a uma progressiva e implacável polarização política entre radicais (progressistas) e
campo autoritário, conservador (= Europa).
A I Republica ficou marcada por uma intensa Instabilidade política, no qual existiram 26 governos em
apenas 6 anos, no período entre 1919 e 1925.
Em meados da década 20 deu-se a estabilização europeia com o controlo da inflação, contudo, esta
estabilização veio a ser interrompida em 1929 pela Grande Depressão. Entre 1923 e 1925 verificou-se uma
relativa estabilidade nas medidas de reforma social:
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Por esta altura, governos conseguiram controlar os mecanismos das finanças públicas, encetando um
período de valorização da moeda e deflação. Este sucesso foi tardio uma vez que a República já tinha
perdido toda a sua credibilidade e apoios. As classes médias, funcionalismo, comércio, agrária, indústria,
exército, banca e Igreja já estavam preparados para forjar ou aceitar um novo autoritarismo.
O 28 de maio de 1926
A 28 de maio de 1926, o general Gomes da Costa parte de Braga e, Mendes Cabeçadas, em Lisboa,
exige a Bernardino Machado (Presidente) a demissão do Governo, contrariamente a 1925, ninguém defende
a República. Os setores das Forças Armadas que fizeram o 28 de maio de 1926 estavam unidos contra a
partidocracia e pretendiam demonstrar a ineficácia parlamentar e a crise das instituições. Contudo
revelavam-se também dentro do republicanismo conservador.
Este golpe culminou com a cisão das forças militares em dois grupos:
Esta cisão favorece a ascensão de Óscar Carmona a Presidente da República a 29 de março de 1928,
que se faz eleger igualmente através de plebiscito, sem que exista oposição.
● Estado Providência: Mira uma sociedade mais equilibrada do ponto de vista social e pretende
atender a situações de privação de trabalho dos assalariados bem como viabilizar o acesso a
diferentes serviços;
● Assistência social: pretende socorrer os desprovidos de meios próprios, tem um caráter supletivo
e pretende colmatar as carências;
● Estado higienista: Representou uma viragem básica nas relações entre Estado e Sociedade e
considera que todos os aspetos da vida humana e as suas condições adquirem interesse público.
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Estado-Providência:
A criação dos seguros obrigatórios teve lugar em 1919, em Portugal e Espanha e foi promulgado o primeiro
sistema de seguros sociais em Portugal no contexto de primeiro ano de paz. Esta lei sobre os seguros sociais
passou despercebida pela lei das 8h que também estava incluída no pacote de leis que o governo de
Domingos Pereira enviou para publicação.
● I República (modelo liberal): a segurança social garantia apenas as condições mínimas aos
beneficiários e estava destinada apenas às classes trabalhadoras com menores rendimentos; no
âmbito de direitos sociais era limitado, mal sucedido dada a falta de investimento financeiro e a
crise pós-guerra;
● Estado Novo (modelo corporativo e conservador): o Estado tinha um papel altamente
intervencionista em que a liberdade estava cortada, em que os direitos variavam segundo a classe
e o status quo e os seguros tinham a função de subsidiariedade.
● Pós 1974 (modelo social-democrata): a segurança social passa a promover a igualdade e a um
nível mais abrangente, não se restringindo às necessidades mínimas- transforma o acesso aos
serviços em direitos sociais.
Mutualismo
● O mutualismo começou por ser um conjunto de associações de socorros mútuos, tornando-se num
sistema de proteção social que visava criar “condições de acesso à saúde, educação e assegurar
recursos futuros em caso de necessidade, por doença, invalidez, velhice e desemprego”.
● O mutualismo era visto com bons olhos pela República e com o novo regime as relações entre o Estado
e o mutualismo institucionalizaram-se com a criação do Ministério do Trabalho e Previdência Social.
As finalidades das mutualidades eram múltiplas mas dominavam as ajudas em caso de doença, em contraste, as
ajudas em caso de deficiência eram as mais reduzidas.
Este movimento demonstrou uma elevada concentração urbana, com evolução lenta fora de Lisboa e Porto:
● Situação das mulheres: autonomia condicionada pela legislação, dependentes dos maridos para ingressar
nas associações;
● Esta limitação desaparece com o projeto de lei de 1919 que permanece na lei até 1932. Proteção da
maternidade: no pré e pós-parto, mas sem subsídio, o que levava à miséria e ao trabalho ilegal;
● Projeto de lei em 1921: previa subsídios mas nunca chegou a entrar em vigor.
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A I República
● Autonomia mutualista;
● Velhice e invalidez;
● As recomendações do congresso de 1911 revelaram a dupla preocupação no seio mutualista de
conciliar a liberdade e a intervenção do Estado, apelando à promulgação de leis sobre os
acidentes de trabalho, a criação de um fundo para as pensões de invalidez e velhice e auxílio
financeiro a viúvas e órfãos;
● Em 1918, a situação sanitária dramatizou-se devido à epidemia pneumónica, que aumentou a
mortalidade e o esforço sobre as associações mutualistas. O Estado raramente as auxiliava, ao
contrário do que acontecia noutros países, mas a inflação e a sua crescente necessidade fizeram
com que lhes fossem atribuídos subsídios consideráveis;
● As dificuldades financeiras e a concentração de associações mutualistas no meio urbano, em
contraste com a escassez do mundo rural deixava uma grande parte da população espalhada pelo
país desprotegida.
Os seguros obrigatórios
A obrigatoriedade do seguro social situou-se a dois níveis: no seio do movimento mutualista e no meio
académico. A sua conceção começara a encontrar aceitação, apesar de ter tido bastante resistência. Teve
expressão no Estado-providência, consistindo um sistema de organização social em que o Estado garante
o acesso gratuito aos serviços de saúde, educação, entre outros.
Neste contexto, Fernão Boto-Machado apresenta uma proposta de lei que abrangia os acidentes de
trabalho, doença, velhice e desemprego, discordando ativamente da implementação isolada do seguro
social limitado aos acidentes de trabalho. Após dois anos do projeto de lei, ocorre a sua promulgação, mas
em moldes diferentes dos iniciais propostos, sendo apenas contemplados os acidentes de trabalho
provocados por máquinas, com exceção dos trabalhos de minas, transportes e em indústrias com recurso
a matérias-primas perigosas.
O conjunto de leis sobre seguros resultara do trabalho efetuado por dois funcionários do Ministério do
Trabalho, Augusto Dias da Silva e João Ricardo da Silva.
Novos seguros sociais: pretendiam incluir nos beneficiários o universo dos assalariados com
rendimentos reduzidos. As contribuições variavam de acordo com o tipo de seguro. O sistema excluía os
funcionários públicos, as forças armadas e os trabalhadores que beneficiavam de sistemas sociais
privados, promovidos pelo patronato.
Reações
● Imprensa operária, de modo geral, elogiou o pacote legislativo;
● A crítica mais viva proveio do corpo médico: os médicos municipais veem estas novas funções
como uma sobrecarga e, ao mesmo tempo, alega-se que irão privar os outros médicos da sua
clientela particular. A Associação dos Médicos Portugueses põe em causa o seguro social na
doença, solicitando a sua restrição aos indigentes e a existência de tabelas de honorários
definidas pelas associações médicas, em nome da liberdade de escolha dos médicos.
Deu-se a instalação, a 24 de maio de 1919, do Instituto de Seguros Obrigatórios, presidido pelo Ministro
do Trabalho.
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Esta medida acabou por fracassar devido à inflação galopante do pós-guerra que desatualiza o escalão
que limitava a inscrição, esvaziando o universo de beneficiários. A inflação impediu a execução prática do
seguro de invalidez e velhice e os salários sofreram aumentos, apenas no domínio dos acidentes de
trabalho foi possível a aplicação da legislação de 1919. As mutualidades obrigatórias foram visíveis nos
casos de seguros de doença.
Em 1928, Salazar toma posse do Ministério das Finanças do qual dependia o Instituto Nacional de
Seguros Obrigatórios e Previdência. Este suspende diplomas por considerar demasiado estatizantes e por
desagradarem às companhias de seguros. Assiste-se também à criação do Estado Corporativo que
remeteu esta área ao domínio privado, sendo os patrões e empregados quem tomava a iniciativa.
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