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UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA

Instituto de Ciências Humanas


Curso de Psicologia

Alberto Alonso Muñoz - D8380J9


Bruna Mendes de Aguiar - D841610
Eduardo Iecco Longo - N3455G7
Hellen Akemi Hayashida – N3499G1
Larissa Moreira Muniz – N374JE3
Melissa Soares da Silva - N3743B1
Priscila Roza dos Santos – T7476F5

PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO:


Psicologia Jurídica

Campus Paraíso
São Paulo
2023
Alberto Alonso Muñoz - D8380J9
Bruna Mendes de Aguiar - D841610
Eduardo Iecco Longo - N3455G7
Hellen Akemi Hayashida – N3499G1
Larissa Moreira Muniz – N374JE3
Melissa Soares da Silva - N3743B1
Priscila Roza dos Santos – T7476F5

PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO:


Psicologia Jurídica

Trabalho final apresentado à disciplina de


Psicologia Ciência e Profissão do curso de
Psicologia da Universidade Paulista, sob
orientação da Profª Talita Dias Miranda e Silva.

Campus Paraíso
São Paulo
2023
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4
2. DESENVOLVIMENTO ............................................................................................ 5
2.1. Breve História da Psicologia Jurídica no Brasil ......................................... 5
2.2 Caracterização do Campo de Atuação ......................................................... 6
2.2.1 Atuação do psicólogo dentro do setor técnico da vara de infância e
juventude no fórum de santo amaro ................................................................. 8
2.2. População Atendida .................................................................................... 10
2.3. Formação Profissional ............................................................................... 10
2.4. Mercado de Trabalho .................................................................................. 11
3. ENTREVISTAS ..................................................................................................... 14
3.1 Análise .......................................................................................................... 15
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 17
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 18
ANEXO 1 - ROTEIRO PARA ENTREVISTA ............................................................ 19
ANEXO 2 - ENTREVISTAS REALIZADAS COM PSICÓLOGAS NA VARA DA
INFÂNCIA E JUVENTUDE DO FÓRUM DE SANTO AMARO ................................. 21
ANEXO 3 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) ...... 61
ANEXO 4 - FICHAS ATIVIDADES PRÁTICAS SUPERVISIONADAS ..................... 65
1. INTRODUÇÃO

A atividade proposta na matéria “Psicologia: Ciência e Profissão” tem por intuito


a apresentação e contato de discentes com as diversas áreas existentes de atuação
de profissionais de psicologia, juntamente com métodos de trabalho e sua função
social.
Para o desenvolvimento deste, o grupo optou por escolher a área da Psicologia
Jurídica no Brasil como método de pesquisa, utilizando de literatura - artigos científicos
e livros - e entrevistas com quatro pessoas profissionais de Psicologia que atuam no
Tribunal de Justiça de São Paulo - TJSP, dentro do Setor Técnico da Vara de Infância
e Juventude no Fórum de Santo Amaro, tendo por objetivo o conhecimento e a
apresentação desse campo.
2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Breve História da Psicologia Jurídica no Brasil

A origem do campo da psicologia jurídica no Brasil é algo incerto, não tendo


um consenso entre os especialistas. Porém, uma das datas mais utilizadas como
marco, seria a década de 1960, com o reconhecimento da profissão no Brasil (LAGO
et al., 2009, p. 484). Esta inserção ocorreu de forma lenta e gradual, sendo muitas
vezes de maneira informal. E o início ocorreu na área criminal, com foco nos estudos
de adultos criminosos e adolescentes infratores da lei.
Contudo, apesar deste trabalho do psicólogo junto ao sistema penitenciário
existir em alguns estados brasileiros extraoficialmente por mais de 40 anos, foi
somente com a lei federal nº 7210 de 1984 que passou a existir legalmente (LAGO et
al., 2009, p.484).
O que torna a origem da psicologia jurídica tão incerta, é que além dessas duas
datas, há o fato de que mesmo antes dos anos 60, já se tentava avaliar o criminoso
de alguma forma. Aliás, é interessante observar como a psicologia jurídica surgiu no
mundo para efeitos comparativos. Antes do século XVII (SANTI, 2009, p. 42), os
loucos conviviam junto com a sociedade, sendo vistos como uma espécie de profetas,
como possuídos pelo demônio ou como bobos. Foi a partir do século XVII, e com o
advento da razão, que a loucura passou a ser mal vista, já que passou a ser vista
como algo ameaçador, já que a alma estava relacionada à razão e alguém sem razão,
estava associado a alguém sem alma, como uma espécie de animal (SANTI, 2009, p.
43). Com isto, as pessoas que tinham perdido a razão passaram a ser segregadas,
em hospícios ou cadeias.
Vários especialistas tentaram compreender o porquê isto ocorria com estas
pessoas, tentando avaliar ou aplicar testes. Isto ficou mais forte no século XIX, quando
psiquiatras e psicólogos passaram a trabalhar em conjunto, sendo os pacientes
divididos nas categorias de menor severidade e de maior severidade. Desta forma,
eram encaminhados aos psicólogos os pacientes com grau menos severo, para que
estes profissionais buscassem uma compreensão mais descritiva de sua
personalidade. Enquanto isso, os de maior severidade eram encaminhados aos
psiquiatras, para ver se era necessária internação em hospício (LAGO et al., 2009,
p.484). Devido a essa característica peculiar, muitas vezes os diagnósticos de
psicologia forense poderiam até ser mais aprofundados que o de psiquiatras. Além
disto, como os psicólogos eram “testólogos” nessa época, por aplicarem testes (algo
que ficou marcado à psicologia também em grande parte do século XX), eram vistos
como confiáveis seus diagnósticos, já que forneciam dados matematicamente
comprováveis para a orientação dos operadores do Direito. Essa característica
aproxima a psicologia do direito através da área criminal.
Porém, a psicologia também está associada à área do direito civil. No caso do
Brasil, esse começo se deu de forma não oficial no Estado de São Paulo, por meio de
trabalhos voluntários com famílias carentes, em 1979. Mas se deu de forma oficial em
1985, com concursos públicos no tribunal de justiça. Com a criação do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, este trabalho foi ampliado. Além da perícia
psicológica nos processos cíveis, de crime e nos processos de adoção, passou a
incluir atividades na área pericial, acompanhamentos e aplicação das medidas de
proteção ou medidas socioeducativas (LAGO et al., 2009, p. 485). Isto fez aumentar
muito as vagas para concursos públicos nos tribunais de justiça de cada Estado.
Portanto, o começo da psicologia jurídica se deu por meio de
psicodiagnósticos, mais precisamente de testes psicológicos, das quais as instituições
judiciárias passaram a se ocupar (LAGO et al., 2009, p.486). Contudo, com o tempo,
outras áreas de atuação, além da avaliação psicológica, foram surgindo, como
implantar medidas de proteção e socioeducativas, além de encaminhamentos e
acompanhamentos de crianças e adolescentes.

2.2 Caracterização do Campo de Atuação

O campo de atuação do profissional de Psicologia que ingressa na área


Jurídica é vasto e tem apresentado uma crescente ao longo dos anos, compondo
atividades que vão para além da intervenção e/ou avaliação (ROVINSKI; CRUZ, 2009)
e, Segundo Fiorelli e Mangini (2020), percorre áreas como: Direito Civil e Penal.
Segundo Fiorelli e Mangini (2020), a Psicologia e o Direito Civil tratam
principalmente a respeito do Direito da Família, desenvolvendo “trabalhos de perícia
ou acompanhamento às famílias” (ROVINSKI; CRUZ, 2009, p. 24):
No campo do direito de família, são reconhecidas as contribuições da
psicologia jurídica, propiciando maior compreensão da personalidade dos
atores envolvidos, do desenvolvimento da dinâmica familiar e social e dos
novos contornos e arranjos familiares (FIORELLI; MANGINI, 2020, p. 397).

A área surgiu a partir de uma necessidade da resolução de conflitos que


acabam por esgotar as possibilidades de pacificação entre as partes através de outras
vias, o que acarreta na necessidade de intervenção “do judiciário e, muitas vezes, de
uma atuação interdisciplinar, para chegar a algum tipo de solução” (FIORELLI;
MANGINI, 2020, p. 398), os conflitos em suma giram em torno de disputas, como
guarda dos filhos e/ou partilha dos bens. Destarte, os profissionais envolvidos ao
Poder Judiciário que tratam do Direito de Família, propiciam propostas com a
finalidade de um trabalho terapêutico para o núcleo familiar, com o propósito
justamente da resolução desses conflitos (ROVINSKI; CRUZ, 2009).
Já o Direito Penal, citado acima, de forma resumida, atua juntamente com a
Psicologia, no âmbito penal, em contextos específicos, como alguns assassinatos em
série e crimes violentos, como maneira de compreensão do perfil e/ou padrão de
conduta e pode ou não ter contato também com a Psicologia Penitenciária (citada
abaixo).
Rovinski e Cruz (2009), separam a atuação do Psicólogo Judiciário - para além
das mencionadas - em: Psicologia Policial (civil-militar), responsável pela “preparação
do funcionário através de cursos preparatórios e de reciclagem em academias
inseridas dentro das organizações” (2009, p. 23,), esse setor também compreende o
atendimento clínico destinado a policiais civis, militares e seus familiares; Psicologia
Penitenciária, que atua com o foco de inserir os penitenciários ao seu contexto social;
Psicologia do Testemunho, área de pouco desenvolvimento e conhecimento no Brasil,
responsável por estudos e investigações que competem a qualidade de testemunhos
e Psicologia Jurídica e Vitimologia, área em desenvolvimento atualmente no Brasil e
destinada ao atendimento à violência doméstica e abuso sexual.
Por último, mas não menos importante, a Psicologia Jurídica junto à Infância e
Juventude também é mencionada por autores diversos, sendo esta, o objeto de estudo
deste trabalho.

[...] esta é a área em que existe um maior número de profissionais


trabalhando, e se apresenta como de maior produção científica. Os
profissionais centram seu trabalho nas Varas de Infância e Juventude (Poder
Judiciário) e instituições de internação para medidas protetivas e
sócioeducativas (Poder Executivo) de todo o país; desenvolvem atividades
junto aos Conselhos Tutelares e instituições não-governamentais – como
lares de acolhida ou entidades voltadas diretamente à adoção (ROVINSKI;
CRUZ, 2009, p. 23)

Como colocado por Gonçalves e Brandão (2009), a violência na sociedade


contemporânea é “usual e cotidiana” (p. 277), tornando-se assim, algo repetido,
padronizado e muitas vezes normalizado. O contexto da Psicologia Jurídica junto à
Infância e Juventude, surge da criação de leis e da necessidade da execução destas,
frente à proteção aos adolescentes e crianças, como forma de assegurar “condições
necessárias para seu desenvolvimento” (FIORELLI; MANGINI, 2020, p. 211).

2.2.1 Atuação do psicólogo dentro do setor técnico da vara de infância e juventude no fórum
de santo amaro

De forma geral, as eventualidades sobre o exercício dos profissionais de


Psicologia dentro das Varas da Infância e Juventude abrangem uma grande gama de
aspectos, segundo a literatura, alguns deles são: a participação em discussões e
criação de medidas protetivas e socioeducativas; participação na promoção de
eventos ligados ao serviço das Varas; incentivo e campanha de ações para prevenir
o abandono, negligência e marginalização; acolhimento e abrigo; fornecimento de
subsídios técnicos ao processo para facilitar a formação de redes que possam
fornecer assistência efetiva; verificar e incentivar o cumprimento dos ECA; adoção etc
(FIORELLI; MANGINI, 2020; ROVINSKI; CRUZ, 2009; MAIA, 2015).
A partir das entrevistas, não foi possível delimitar se a equipe possui funções
pré-estabelecidas, ou seja, se todos atuam em todas as demandas presentes, ou se
existem demandas que são encaminhadas para profissionais específicos do setor. A
função compreendida com clareza, foi da gestora da equipe, que atua a frente do setor
e não mais com atendimento direto, segundo a própria:

Então, eu… eu tô na frente de uma gestão de dez psicólogos nesse momento


então eu não estou atuando como como psicóloga ali na na na… no
atendimento [...] faço as reuniões de equipe, as discussões técnicas, de
alguma forma supervisiona os casos supervisionando os os plantões, faço
discussão com as, com a rede, e e pontes né? Com projetos, por exemplo,
projeto de apadrinhamento, discussão com os parceiros (informação verbal)1

1 Informação fornecida pela Psicóloga D.M.C.M.N em 18/04/2023


As demais entrevistadas possuem falas próximas sobre o que fazem e como
fazem dentro do setor técnico, sendo este, em suma, um trabalho do setor público,
que tem como forma de contratação, concursos públicos e é voltado à proteção das
crianças e adolescentes, para a realização deste, são necessários instrumentos de
avaliação psicológica, como: entrevista, observação, discussão de caso em equipe
etc.
Se tratando de local físico, o espaço de trabalho é compartilhado entre e o setor
- e também com outros setores de atuação em conjunto, como Serviço Social - e nota-
se que a descrição das entrevistas, sobre o ambiente físico, são bem parecidas:

É um local onde tem mesas, tem cadeiras, computadores, tem diversas


cabines separadas para atendimento das pessoas. Existe uma sala lúdica
para atendimento e observação de crianças. Uma sala de espera também
lúdica, com jogos e brinquedos para que as crianças se entretenham
enquanto os adultos são atendidos. Existe uma sala de elaboração de
relatórios, setor de psicologia, copa, cozinha e locais, acessórios. E existe
também, em alguns momentos, espaços de convivência e interação com os
profissionais de serviço social (informação verbal)2

Observa-se que local de trabalho, proporciona autonomia para as psicólogas


entrevistadas, no que tange aspectos como decisões técnicas, porém, carece de
ambiente com necessidade de melhorias sobre as condições físicas e estruturais
como esboçado pela maioria das pessoas entrevistadas.

Em termos de estrutura física, eu acho que faltam condições adequadas de


trabalho, então a gente tem salas que são feitas por divisórias, não tem, por
exemplo, a preservação do sigilo de um atendimento pro outro, a gente
consegue escutar outros atendimentos que estão em curso no setor... Acho
que faltam condições de organização do espaço, por exemplo, temos
computadores antigos, que nem sempre funcionam no momento que a gente
precisa deles (informação verbal)3

(...) Dificuldades de acesso por vezes a internet ao sistema nacional de


adoção e acolhimento, os problemas no próprio sistema, a dificuldade
eventual no acesso ao site também. Que é indispensável para o trabalho.
(informação verbal)4

A gente tem um problema de vazamento de som no setor. Então todas as


salas de atendimento e as nossas salas lá em cima, elas são divididas por
divisórias finas e não são a prova de som e isso é ruim né? (...) e os
computadores do fórum, infelizmente, às vezes deixam a gente na mão.
(informação verbal)5

2 Informação fornecida pela Psicóloga J.C.P.S em 12/04/2023


3 Informação fornecida pela Psicóloga A.L.M.M em 18/04/2023
4 Informação fornecida pela Psicóloga J.C.P.S em 12/04/2023
5 Informação fornecida pela Psicóloga D.M.C.M.N em 18/04/2023
2.2. População Atendida

De acordo com as entrevistas feitas, em grande maioria, a população atendida


é de pessoas em situação de vulnerabilidade, salvo exceções que dizem respeito a
acompanhamento de habilitação para adoção. Os casos acompanhados, em sua
maioria, são encaminhados por juízes e os profissionais de psicologia atendem tanto
os familiares quanto a criança/adolescente ligado ao caso.

2.3. Formação Profissional

As profissionais entrevistadas são formadas em psicologia, algumas tendo


maior experiência na área jurídica através de estágios, estudos a parte da graduação
- cursos de extensão, especializações, etc - e trabalhos prévios em outros serviços de
acolhimento.
Segundo as entrevistadas, houve pouco ou nenhum contato com a área jurídica
na graduação cursada, sendo importante uma formação posterior ao curso de
Psicologia para melhor compreender a atuação na área.

Eu tive psicologia criminal, a psicologia jurídica era uma matéria optativa que
eu cursei por um breve período e pela qual eu não tive absolutamente contato
com nada do que eu trabalho atualmente. Eu penso que o que me auxiliou no
trabalho que eu realizo hoje foi o conteúdo que eu estudei para o concurso e
a prática anterior que eu tinha tido num contexto similar, aproximado, que era
o de serviço de acolhimento.6

Pré-requisitos acadêmicos e na época que eu fiz faculdade não tinha


psicologia jurídica na minha faculdade (...) depois que eu me formei eu fiz um
ano de cursos de aperfeiçoamento no Cets de Psicologia Jurídica (...) eu
passei pela saúde, eu passei pela Fundação Casa, esses conhecimentos são
conhecimentos bem importantes pra atuar aqui (...) possível aí é isso, é um
curso, especialização, acho que é bem importante. 7

2.4. Mercado de Trabalho

6 Informação fornecida pela Psicóloga J.C.P.S em 12/04/2023


7 Informação fornecida pela Psicóloga D.M.C.M.N em 18/04/2023
A psicologia jurídica é uma área que está ganhando destaque no mercado de
trabalho brasileiro ao longo dos últimos anos, tornando-se um campo de atuação
promissor. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2022). Porém, vale ressaltar
que mesmo com o potencial crescimento gradativo da área e da demanda, a
psicologia jurídica também enfrenta desafios e déficits de profissionais.
Segundo dados do volume 2, do Anuário de Estatísticas da Profissão de
Psicóloga(o) no Brasil, produzido pelo Conselho Federal de Psicologia (2022), em
2021, havia – dentre os participantes – 976 profissionais de psicologia, que “declaram
estar inseridos na área Jurídica [...] dos quais 242 manifestam atuar exclusivamente
na” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2022, p. 65). Cabe ressaltar que
dentre esse número, existem áreas que são mais e menos exploradas:

[...] produção de documentos psicológicos (25,5%), seguida pela de avaliação


psicológica (22,8%); a esse conjunto deve se agregar a aplicação de testes e
outros instrumentos, citada por 7,0% dos que atuam na área. Esse dado pode
nos levar a caracterizar que a inserção da Psicologia na área se dá,
sobretudo, pela tarefa de avaliar e redigir documentos para subsidiar decisões
da justiça. O segundo conjunto de atividades deste grupo apresenta
porcentagens inferiores, não chegando a 10%. Fazem parte dele atividades
como ensino (8,2%), acolhimento psicológico (8,2%) escuta (7,1%),
supervisão de colegas (6,1%), perícias (6,1%), pesquisas (5,4%), e palestras
e seminários (5,2%). As demais atividades aparecem em porcentagens
inferiores, razão pela qual não são descritas individualmente. (CONSELHO
FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2022, p. 65).

Apesar da crescente na área, identifica-se que existem especificidades de


atuação, como a produção de documentos psicológicos e a avaliação psicológica, que
podem muitas vezes, serem realizadas de forma particular. Assim sendo, alguns
campos de atuação dentro da própria área que são importantes e necessárias,
possuem um déficit de atuantes, como setores que englobam os trabalhos realizados
na Vara da Infância e Juventude:

É, assim, termos de demanda dentro do Tribunal de Justiça, a gente tem uma


demanda grande por mais profissionais da psicologia, inclusive a gente tem
uma disparidade muito grande entre o número de assistentes sociais no
estado e no número de psicólogos, que é muito menor. Então, né, em termos
de demanda, espero que o Tribunal de Justiça acompanhe essa demanda,
acho que interna, por mais concursos, ao longo do tempo, né 8

8 Informação fornecida pela Psicóloga A.L.M.M em 18/04/2023


[...] os concursos estão ocorrendo, mas talvez pudessem acontecer com
mais frequência, com mais vagas, né, porque no próprio Tribunal de Justiça,
quando uma pessoa se aposenta, não é reposto na própria comarca [...]
Então existe uma defasagem importante, né, que seria muito interessante
terem outros profissionais [...] as pessoas conhecerem, né, não só a Vara
da Infância, mas outras varas também, para atender o público melhor
também, né, para os processos andarem com mais celeridade. 9

Ainda sublinhando o Setor Técnico da Vara de Infância e Juventude, a inserção


no trabalho dispõe da necessidade de formação completa e realização de concurso
público.
Segundo fala das entrevistas: “Eu tive a noção de que era algo bastante
disputado. Era uma concorrência muito grande, acredito que em razão da
remuneração, que está acima do que a maior parte dos psicólogos que se formam
conseguem angariar de retorno financeiro”10; “[...] a psicologia jurídica é dentro do
tribunal é concurso, né? E a gente até tem tido alguns concursos, mas com um número
pequeno de chamada assim, a gente tem uma deficiência bem importante no número
das da de pessoas na equipe.”11
A disputa sobre as vagas por vezes são grandes, uma vez que alguns
concursos demoram para abrir e em alguns casos, quando abertos, possuem uma
quantidade de vagas relativamente menor para o número de pessoas que se
candidatam. Dessa forma, candidatos que se preparam para a realização dos
concursos com estudos, cursos próprios e que tenham certificações adequadas, como
pós-graduação na área, podem se destacar.
Através de uma pesquisa sobre o salário médio do Psicólogo Jurídico utilizando
o site de busca Google, é possível encontrar diversos sites falando sobre o tema, o
site Guia de Carreira por exemplo, aponta que em média, o profissional iniciante nesta
área pode ter uma salário em torno de R$1.500,00 à R$2.500,00, com aumento
gradativo que geralmente está associado a tempo de carreira e qualificações, já o site
Quero Bolsa, aborda a média salarial do profissional desta área em torno de
R$6.102,83 .

9 Informação fornecida pela Psicóloga A.C.G.A. em 26/04/2023


10 Informação fornecida pela Psicóloga J.C.P.S em 12/04/2023
11 Informação fornecida pela Psicóloga D.M.C.M.N em 18/04/2023
A partir de relatos das entrevistadas, a remuneração e carga de trabalho dentro
da Vara de Infância e Juventude giram em torno de 30 horas semanais e salário de
cerca de R$7.000,00 para profissionais ingressantes: “[...] o último concurso, que teve
agora, foi anunciado com o salário inicial de cerca de sete mil pro o psicólogo
judiciário.12”

12 Informação fornecida pela Psicóloga A.L.M.M em 18/04/2023


3. ENTREVISTAS

Foram realizadas quatro entrevistas com profissionais da Psicologia Jurídica


atuantes dentro da Vara da Infância e Juventude do Fórum de Santo Amaro, a partir
destas, foi possível compor uma maior visualização da área como um todo: Ambiente
de trabalho; campo de atuação; população atendida e outros.
A equipe da Vara da Infância e Juventude de Santo Amaro, atualmente trabalha
com uma equipe de onze profissionais de Psicologia; dez deles atuantes diretamente
com o atendimento ao público e uma responsável pela gestão do local. O trabalho,
em alguns casos, é exercido em conjunto com outras áreas, como o Serviço Social.
A 1ª, 2ª e 4ª entrevistadas, possuem atuação semelhante - a partir das
respostas das entrevistas - dentro da sessão da Vara da Infância e Juventude de
Santo Amaro. A 1ª entrevistada, J. C. P. S., formada em 2004 pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie, deu uma descrição sobre o trabalho, mais focada no
ambiente físico, porém, ao longo da entrevista, trouxe aspectos sobre trabalhos em
casos de adoção; a 2ª entrevistada, A. L. M. M., formada em 2010 pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro, trabalha realizando avaliações psicológicas e a 3ª
entrevistada, A. C. G. A., formada em 2005 pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie, apresentou uma fala que compreende-se ser o foco da atuação do
profissional da psicologia que está inserido dentro do setor: “Trabalho visando a
proteção das crianças, verificando se há alguma situação de risco, qual a medida mais
indicada, né, para que elas saiam desse risco continue no seu desenvolvimento
natural.”13
Já a 3ª entrevistada, D. M. C. M. N., formada em 1998 pela Universidade de
São Paulo, atualmente é a chefe da sessão da Vara da Infância e Juventude de Santo
Amaro, estando a frente da gestão de dez profissionais de psicologia, por tais
atribuições e responsabilidades, D, não atua diretamente com o público recebido.
O roteiro de entrevista usado foi padrão para todas as entrevistadas (descrição
nos anexos) e foi separado em 4 blocos de perguntas, referentes à compreensão de:
A. Caracterização do campo (contexto, área) de atuação; B. População atendida; C.

13 Informação fornecida pela Psicóloga A.C.G.A. em 26/04/2023


Formação profissional na graduação (Faculdade de Psicologia) e D. Mercado de
trabalho.
No que tange os aspectos sobre as respostas, foi possível observar uma
aproximação entre elas, acreditamos que devido ao campo de atuação e local de
trabalho que é igual entre todas as participantes. Sobre a caracterização da área de
atuação, como mencionado acima, a única que foge à regra sobre os afazeres é a
gestora da sessão. Mas nota-se, entre todas as falas, que existe a compreensão de
uma autonomia na realização do trabalho, com apenas algumas dificuldades técnicas
do ambiente físico deste, como estruturas tecnológicas, ademais, o serviço é realizado
em conjunto com outros setores, por se tratar de um trabalho na área pública,
destinada à população, em suma em vulnerabilidade e que engloba o trabalho visando
a proteção da criança e do adolescente.

3.1 Análise

A área Jurídica trabalha conjuntamente com diversas outras áreas e saberes,


a Psicologia e a Psiquiatria são duas delas que se juntaram ao jurídico. Dessa forma,
faz-se necessário uma melhor compreensão das especificidades dessas, dentro deste
âmbito.
Os dois campos de atuação têm por objetivo, segundo Silva e Fontana (2011,
p. 57), citando Taborda (2004), “[...] oferecer instrumentos aos profissionais da área
do Direito munindo-os de informações sobre a situação e aspectos psicológicos e
psicopatológicos dos envolvidos em um determinado caso”.
Se aproximando de cada campo, o papel da psiquiatria forense consiste em
contribuir para o aprimoramento da norma e do tecido social, defendendo um bem
moral e protegendo indivíduos que possam ser prejudicados, também compreende a
pesquisa “de indicadores e determinantes psicopatológicos, neurológicos,
educacionais e cognitivos, de maneira a conhecer e identificar o cidadão incapacitado
de exercer uma vida civil consciente de seus atos.” (SILVA; FONTANA 2011, p. 58).
Nota-se então, diante de todo o exposto do trabalho, que o trabalho da
psiquiatria e da psicologia se assemelham em alguns pontos, sendo assim, é
importante ressaltar que a diferença entre ambos está, em suma, em visões e
metodologias de trabalho diferentes. Em resumo, a psicologia jurídica se concentra
na aplicação do conhecimento psicológico para resolver problemas legais, enquanto
a psiquiatria jurídica se concentra na avaliação de problemas mentais que surgem em
um contexto jurídico para auxiliar o sistema legal na tomada de decisões informadas.
Silva e Fontana (2011, p. 58), destacam a partir de França (2004), “que a
psicologia jurídica tem diversos setores, sendo os mais tradicionais a atuação em
Fóruns e prisões além das atuações inovadoras como a mediação”, ainda segundo as
mesmas autoras, citando Freitas (2009), a “Psicologia Jurídica inicia-se pelo estudo,
passa pelo tratamento e pelo assessoramento de várias etapas da atividade jurídica,
até com os cuidados relacionados às vítimas, infratores e profissionais do Direito” (p.
58).
O campo de estudo deste, através das entrevistas, abrangeu somente um setor
de trabalho - Vara da Infância e Juventude -, como mencionado pelas autoras, um
setor tradicional de atuação e desenvolve a especificidade também citada, sobre as
etapas da atividade.
O artigo intitulado “Psicologia Jurídica: caracterização da prática e instrumentos
utilizados”, aponta um déficit de formação acadêmica desta área, apontando que boa
parte dos profissionais atuantes, não se especializam, possuindo somente graduação
(SILVA; FONTANA, 2011). Nota-se que essa crítica é uma realidade através da leitura
de outros autores e das entrevistadas, o trabalho na Vara da Infância e Juventude não
existe uma especialização, mas sim a graduação completa e passar no concurso
público.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho buscou apresentar e ter contato com profissionais da área


de Psicologia Jurídica no Brasil, juntamente com métodos de trabalho e sua função
social. Tendo como o objetivo o conhecimento e a apresentação desse campo, foram
utilizados artigos científicos, livros e realizadas as entrevistas com quatro profissionais
de Psicologia.
A área surgiu a partir de uma necessidade da resolução de conflitos que acabam
por esgotar as possibilidades de pacificação entre as partes através de outras vias.
Essa questão foi observada nas entrevistas, por meio dos relatos dos profissionais
acerca de sua atuação.
Bem como, foi possível observar em relação às condições de trabalho, que a
parte estrutural, a parte física, é um dos pontos mais problemáticos, sendo bem
precário em seus computadores, sistemas, distribuição de salas de entrevistas.
Outro ponto de dificuldade em relação às condições de trabalho se refere às
grandes demandas e poucos profissionais para as solucionarem. Deixando assim, os
profissionais que atuam nessa área, sobrecarregados e não podendo entregar o
melhor de si. Há poucos concursos públicos para o ingresso de novos profissionais
no ramo, e quando ocorre, são poucas vagas a serem preenchidas.
Além disso, em relação à parte pessoal, subjetiva, psicológica do profissional
nessa área, é um pouco variado como cada um se afeta. Há casos que tocam mais e
outros menos, sendo a experiência uma aliada para o fortalecimento pessoal em que
se consegue com mais propriedade separar o que provém do outro e o que vem de
si. Assim como a grande demanda não atendida, isso pode gerar angústia em alguns
e outros não, tendo em vista que estão fazendo o seu melhor.
Fora isso, há, nos relatos, satisfação pelo trabalho que realizam, ao dar andamento
em algum caso que estava estacionado ou ao solucionar outro, ao trabalhar com
diversos profissionais de diversas áreas.
Assim como, relatam ser uma área promissora para quem está iniciando em
relação a iniciar pela área clínica, por exemplo. Pelos casos vastos e variados, pelo
salário mais remunerado, geralmente, para quem está iniciando, pela experiência que
se terá no dia a dia e com os diversos colegas de trabalho.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Anuário de Estatísticas da Profissão


de Psicóloga(o) no Brasil - 2021: Volume 2: Perfil dos Psicólogos por Região,
Gênero, Faixa Etária, Formação e Habilitação. Brasília: CFP, 2022. Disponível em:
https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2022/12/Censo_psicologia_Vol2-1.pdf.
Acesso em: 05 maio 2023.

FIORELLI, J. O.; MANGINI, R. C. R. Psicologia Jurídica. 10º ed. São Paulo: Editora
Atlas, 2020.

GONÇALVES, H. S.; BRANDÃO, E. P. Psicologia Jurídica no Brasil. 2º Edição.


Rio de Janeiro: Nau Editora, 2009.

LAGO, Vivian et al. Um breve histórico da psicologia jurídica no Brasil e seus


campos de atuação. Estudos de Psicologia, Campinas, 2009, v. 26, n. 04, p.483-
491. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/estpsi/a/NrH5sNNptd4mdxy6sS9yCMM/?lang=pt&format=pdf.
Acesso em: 28 de abril de 2023.

MAIA, C. Y. M. A Psicologia Jurídica no Direito da Infância e Juventude. Instituto


de Educação Superior da Paraíba (IESP), 2015. Disponível em:
https://www.iesp.edu.br/sistema/uploads/arquivos/publicacoes/a-psicologia-juridica-
no-direito-da-infancia-e-juventude.pdf Acesso em: 27 abril 2023.

ROVINSKI, S. L. R.; CRUZ, R. M. C. (org). Psicologia Jurídica: Perspectivas


teóricas e processos de intervenção. São Paulo: Vetor Editora, 2009.

SANTI, P. L. R. A Construção do Eu na Modernidade. 6ª ed. Ribeirão Preto/SP:


Holos, 2009.

SILVA, M. C. R.; FONTANA, E. Psicologia jurídica: caracterização da prática e


instrumentos utilizados. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, Londrina, v. 2, n.
1, p. 56-71, jun. 2011. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2236-
64072011000100007&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 09 mai. 2023.
ANEXO 1 - ROTEIRO PARA ENTREVISTA

ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM OS PSICÓLOGOS

INFORMAÇÕES INICIAIS:
(acesso restrito ao professor e ao entrevistador)

a) Nome completo do entrevistado:


b) Universidade e data de graduação:
c) Data de início das atividades como psicólogo:
d) Telefone para o professor entrar em contato, caso necessite:

Data da entrevista:
Entrevistador(a) principal:
Outros entrevistadores presentes:

ENTREVISTA

A. Caracterização do campo (contexto, área) de atuação:


1. Descreva sua(s) atividade(s) como psicólogo(a), isto é, descreva
especificamente o que faz e como faz como profissional neste contexto.
2. Onde é e como é o seu local de trabalho?
3. Em sua opinião, quais são as condições necessárias para a realização de seu
trabalho? Você as tem? Você tem autonomia nas suas decisões relacionadas
à sua atividade?
4. Você, nas suas atividades, trabalha com outros profissionais? Se sim, quais?
5. Você se considera satisfeito com seu trabalho, atualmente? Poderia nos
explicar os motivos disso?

B. População atendida:
6. Como se caracteriza a clientela atendida por você em relação à faixa etária,
gênero, classe social, escolaridade e profissão?
7. De que maneira essas pessoas chegam até você (por ex., por iniciativa própria,
encaminhadas a você diretamente, encaminhadas à Instituição etc.)?
8. Em sua opinião, qual a imagem que a população tem do psicólogo e da
Psicologia?
9. Em sua opinião, quais são as contribuições que a profissão de psicólogo tem
dado à sociedade como um todo?

C. Formação profissional na graduação (Faculdade de Psicologia):


10. No seu ponto de vista, quais são os requisitos necessários para a formação
do psicólogo para a sua área de atuação? O curso de graduação no qual se
formou atendeu a esses requisitos?
11. Há necessidade de formação posterior à graduação para que se possa
trabalhar na sua área de atuação? Como foi com você?

D. Mercado de trabalho:
12. Qual a situação atual do mercado de trabalho na sua área (para recém-
formados e para mais experientes)?
13. E no futuro, como será este mercado, em sua opinião?
14. Como foi sua entrada no mercado de trabalho? Como chegou à posição que
ocupa hoje?
15. Em termos de remuneração, como são as condições da sua área? Você
saberia citar valores médios de remuneração?
ANEXO 2 - ENTREVISTAS REALIZADAS COM PSICÓLOGAS NA VARA
DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DO FÓRUM DE SANTO AMARO

Anexo 2 - A: Dados Iniciais Entrevista 1 - J.C.P.S

a) Nome completo do entrevistado: J. C. P. S


b) Universidade e data de graduação: Universidade Presbiteriana Mackenzie -
Dezembro/2004
c) Data de início das atividades como psicólogo: 2005
d) Telefone para o professor entrar em contato, caso necessite: (11) 9 9801-5402

Data da entrevista: 12/04/2023


Entrevistador(a) principal: Alberto Alonso Muñoz
Outros entrevistadores presentes: -
Anexo 2 - A.1: Entrevista 1 - J.C.P.S

Entrevistador
Então a primeira questão é onde e como é seu local de trabalho?

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Eu trabalho atualmente como psicóloga judiciária, mais especificamente para a Vara
da Infância e da Juventude, no Fórum de Santo Amaro. No local de trabalho é o Fórum
de Santo Amaro, na Avenida Adolfo Pinheiro e.

Entrevistador
No setor técnico, né?

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Exato no setor de Psicologia.

Entrevistador
E como é que é o seu local de trabalho?

Entrevistada 1 - J.C.P.S
É um local onde tem mesas, tem cadeiras, computadores, tem diversas cabines
separadas para atendimento das pessoas. Existe uma sala lúdica para atendimento e
observação de crianças. Uma sala de espera também lúdica, com jogos e brinquedos
para que as crianças se entretenham enquanto os adultos são atendidos. Existe uma
sala de elaboração de relatórios, setor de psicologia, copa, cozinha e locais,
acessórios. E existe também, em alguns momentos, espaços de convivência e
interação com os profissionais de serviço social.

Entrevistador
Muito bem. Quer dizer, além de vocês, tem o pessoal de serviço social que divide o
mesmo espaço.

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Isso. É um espaço compartilhado e além dos técnicos, tem a chefia técnica também.
Entrevistador
Bom, na sua opinião, quais são as condições necessárias para a realização do seu
trabalho? Você pode me dizer quais são? Se você as tem? Se você tem autonomia
nas decisões relacionadas à sua atividade?

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Sim, eu tenho bastante autonomia em termos de organização de agenda, de decisões
técnicas, de estabelecimento de prioridades em relação às condições de trabalho. As
físicas e estruturais são bastante problemáticas. Dificuldades de acesso por vezes à
internet, ao sistema nacional de adoção e acolhimento, por problemas no próprio
sistema, a dificuldade eventual no acesso ao site também, que é indispensável para
o trabalho. E em termos de condições mais subjetivas de trabalho, elas são bastante
satisfatórias, quanto à interação com colegas, interação com meus superiores,
possibilidade de elaboração de relatórios e laudos. Quanto a isso, não existem
questões muito dificultosas.

Entrevistador
Deixa eu fazer uma pergunta que não sei se está aqui na pauta, mas me interessa
particularmente, os motivos já expliquei. E a carga de trabalho de um lado e de outro
lado, o impacto subjetivo daquilo que o que você trabalha.

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Eu percebo que existe muita diferença entre a forma como eu lido com a carga de
trabalho e demais colegas. Para mim, é uma carga plausível, não é excedente.
Consigo me organizar bem no tempo, mas eu vejo que é uma exceção. Demais
colegas estão extremamente sobrecarregados e para eles tem uma decorrência muito
negativa na saúde mental, na própria disponibilidade para o trabalho, porque as coisas
acabam se acumulando, se entravando, e isso prejudica o desdobramento, o
andamento, a qualidade. Mas não é algo que eu sinta especificamente para mim. Eu
tenho bastante satisfação na realização do trabalho e acho que devo ter alguma
habilidade para organizar a agenda que facilita a minha vida nesse sentido. Você
perguntou também, doutor, do impacto subjetivo da densidade do trabalho. Existem
situações pontuais que de fato despertam sentimentos difíceis que precisam de
elaboração. Precisamos compartilhar para ajudar a processar internamente. Mas acho
que depende muito também de cada pessoa, né? Algumas pessoas se tocam mais
por algumas questões, outras lidam de maneira mais tranquila ou então até mais
enrijecida. Eu não tive, até o momento, neste trabalho atual, um impacto negativo que
prejudicasse o desdobramento do trabalho. Mas já passei por situações pontuais que
me despertaram angústias, mas que foram resolvidas e que eram inerentes à atuação
mesmo.

Entrevistador
Fale um pouco disso, de algum. Dá um exemplo.

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Eu lembro de uma vez em que eu fiquei extremamente tocada quando um casal que
estava em estágio de convivência com um bebê declinou do processo de adoção por
a pretendente ter se reconhecido sem o desejo de ser mãe, sem... não era exatamente
o desejo de ser mãe, mas sem reconhecer nela, naquele momento, a condição de
mãe daquela criança. Então, pensando que era uma criança que tinha todas as
características desejadas pela maior parte dos pretendentes, teve um impacto bem
difícil, né? E quando acontece esse tipo de situação, que é muito mais comum no caso
das crianças de faixa etária mais ampla, ou no caso dos adolescentes, acredito que
não só eu, mas qualquer técnico se pergunte era algo que eu poderia ter visualizado
antes? E aí, quando se faz essa pergunta, já tendo acontecido a situação é muito
simples você encadear uma série de falas ou de mini percepções que criam todo
aquele sentido, dando a entender que só poderia ser possível aquele desfecho. É
muito fácil prever o futuro quando já se está no futuro, mas traz uma certa angústia e
traz um aprendizado também de ficar mais alerta para outras situações. E mesmo
assim, sabendo que a subjetividade humana está sob total descontrole, não tem como
fazer previsões pontuais do que vai acontecer, o que vai ter sucesso ou não vai ter, é
sempre uma aposta.

Entrevistador
E nessas atividades você já disse que você divide com o pessoal do Serviço Social.
Fala um pouco mais. O que é isso que divide com eles? Como funciona?
Entrevistada 1 - J.C.P.S
É uma atuação bastante compartilhada. Na maior parte dos casos... Eu acredito que
para quem está assim, para quem está sendo atendido, o atendimento não difere
muito se parte do serviço social ou da psicologia, mas são olhares diferentes e que se
complementam. A equipe do Serviço Social com quem eu trabalho é muito boa, muito
capacitada, é um diálogo que sempre acrescenta, mesmo quando há discordância,
sempre é muito bem fundamentada e tem espaço para construções conjuntas.

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Então é um trabalho que acaba sendo bastante enriquecido pela parceria.

Entrevistador
Então, lá no setor tem profissionais do serviço social e psicólogos, psicólogas, um
psicólogo, todos trabalhando conjuntamente, é isso.

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Sim, apenas em alguns casos, minoria dos casos, o atendimento é feito de forma
individual, mas ainda assim, havendo a necessidade de um olhar complementar da
outra área, pode ser algo solicitado e eu acredito que sempre vai ser validado essa
solicitação.

Entrevistador
Bom, e aí, você está satisfeita com o seu trabalho atualmente?

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Eu estou muito satisfeita com o meu trabalho atualmente e bastante insatisfeita com
as condições operacionais do trabalho de computadores, mesas, cadeiras. Isso
demanda um tempo que não... Não disponho para gastar e daí vem uma certa
sensação de impotência e um desgaste que poderia ser evitado.

Entrevistador
Bom, me fala então... Vamos passar agora para a população atendida, né. Como é
que se caracteriza a clientela que é atendida lá no setor, em relação a faixa etária,
gênero, classe social, escolaridade, profissão, enfim, fala um pouco do que é o setor
e quem é essa população.

Entrevistada 1 - J.C.P.S
É absolutamente inclassificável, porque vai desde bebezinho ou recém-nascido, ou
mesmo os interesses da criança antes de nascer; atendemos gestantes também, que
vem aí dando sobre a situação dela e a do bebê, são situações conjuntas; até pessoas
de 80 anos que há casos, precisam ser entrevistadas, por mais diferentes casos, de
guarda, de... Eu já atendi requerentes de processo de habilitação com mais de 80
anos. E quanto a classe social das mais diversas também, as pessoas mais abastadas
geralmente vêm pelos processos de habilitação, adoção, as demais pelos outros
casos. Em termos de raça também. Acredito que as pessoas de pele mais clara são
geralmente as de classe mais alta, que vence a maior parte para os processos de
habilitação. Quanto mais complexa a situação em termos de vulnerabilidade social,
logicamente pela estrutura em que a gente está, são as pessoas de pele mais escura,
as pessoas pretas, pessoas tidas socialmente como pardas. E isso, né.

Entrevistador
Me diz então, como é que essas pessoas chegam até lá, até você?

Entrevistada 1 - J.C.P.S
As pessoas chegam para atendimento em razão dos processos que são movidos na
Vara da Infância e da Juventude, essa é a via. Ou não sendo por esta via, por busca
espontânea em atendimento, que é nomeado como o atendimento de plantão. Então
pode ser alguém que está com a guarda de uma criança e não tem mais interesse em
manter essa guarda e busca uma orientação. Ou pessoas que vêm até a Vara da
Infância e na verdade deveriam estar procurando pela Defensoria Pública ou pelo
Conselho Tutelar. E aí são orientadas a respeito de onde se dirigir.

Entrevistador
Bom, e na tua opinião, qual é a imagem de população tem do psicólogo e da psicologia
em geral e em relação ao setor no qual você atua? Enfim. Em geral, eu acho que até
pouco tempo o psicólogo era englobado junto ao psiquiatra, ao profissional que cuida
de louco e aí uma certa resistência e desqualificação dos diversos potencialidades
que um atendimento psicológico pode oferecer. Mas a partir da pandemia, acho que
houve uma ampliação desse entendimento e agora uma compreensão de que é um
profissional que trabalha não só em torno da doença mental, mas também da saúde
mental. E no meu campo específico de atuação, é um profissional que é visto como
aquele que está avaliando. Então, para quem tem que se portar de uma determinada
maneira, dar uma determinada resposta, porque aquilo que se for dito pode ser usado
contra... contra si. Então, por vezes as pessoas chegam com essa postura mais
defensiva e até entenderem que não precisa necessariamente ser mantida aquela
postura, porque também é um espaço de escuta, de compreensão, de acolhida,
quando se faz necessário. E isso tudo sem que se retire o aspecto avaliativo da coisa.
Eu acho que é uma... é um caminhar, é a possibilidade. A ideia é que isso seja
construído até para que a pessoa possa ser mais espontânea e legítima no seu
comportamento, na sua fala.

Entrevistador
E na sua opinião, quais são as contribuições que a profissão de psicólogo e psicóloga
tem dado para a sociedade como um todo?

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Acredito que o entendimento de que a saúde não se restringe à saúde física. Não
existe a possibilidade de separar o que é físico do que é psicológico, são pontos a
todo tempo intercalados, um perpassa o outro, um é construído sobre o outro. E acho
que é esse entendimento do ser humano, do sujeito como algo global, como algo que
que existe para além ali, só do orgânico, do bioquímico, do físico, do palpável, do
concreto e que também, além do aspecto emocional e psicológico, tem o seu lado
social, que também é entendido dentro da psicologia. Então acho que amplifica a
compreensão sobre o ser humano.

Entrevistador
Vamos para a sua formação profissional. Do seu ponto de vista, quais são os
requisitos que são necessários para formação do psicólogo na área de psicologia
jurídica? E ainda nessa pergunta você acha que o seu curso no Mackenzie te formou
para atender esses requisitos? Você tem psicologia jurídica no Mackenzie?

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Eu tive psicologia criminal, a psicologia jurídica era uma matéria optativa que eu cursei
por um breve período e pela qual eu não tive absolutamente contato com nada do que
eu trabalho atualmente. Eu penso que o que me auxiliou no trabalho que eu realizo
hoje foi o conteúdo que eu estudei para o concurso e a prática anterior que eu tinha
tido num contexto similar, aproximado, que era o de serviço de acolhimento.

Entrevistador
Trabalhar em serviço de acolhimento, trabalhar em SAICA.

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Isso, eu trabalhei em SAICA e eu não sei nem dar parâmetros do que seria a
organização de uma matéria de psicologia jurídica, porque a atuação que eu tenho é
muito específica na Vara da Infância, e eu sei que é para muito além disso, né? Então
o que eu poderia dizer seria muito específico sobre elaboração de laudos e relatórios
e realização de entrevistas na minha área, entrevista de criança, observação de bebê.
Mas eu sei que isso é muito específico e ainda é muito limitado. Tem todo um
conhecimento para além disso, que é importante algum conhecimento jurídico do
entendimento do sistema também se faz útil, é importante que tenha.

Entrevistador
Você acha que existe uma necessidade de formação posterior à graduação para
trabalhar na área de psicologia jurídica?

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Com certeza. Acho que uma pessoa que chega recém-formada da psicologia para
trabalhar na área onde eu trabalho vai se sentir extremamente perdida de início, sem
referência de por onde começar, o que fazer. Mas também entendo que é um trabalho
que se aprende muito na prática, como eu acho que a maior parte dos trabalhos né,
até porque em cada local, em cada equipe, o trabalho deve ser desempenhado de
uma forma, num ritmo, com uma prioridade. Então acho que nada melhor que a
prática. E é bom que a prática seja apoiada em atualizações, né, em capacitações
frequentes. Mas acho que a prática é o que mais manda mesmo na atuação cotidiana.

Entrevistador
Vamos para o último bloco, que é o mercado de trabalho. Qual é a situação atual do
mercado de trabalho nessa área da psicologia jurídica? Para os recém-formados, para
os mais experientes.

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Na época em que eu prestei o concurso, eu tive a noção de que era algo bastante
disputado. Era uma concorrência muito grande, acredito que em razão da
remuneração, que está acima do que a maior parte dos psicólogos que se formam
conseguem angariar de retorno financeiro. Mas eu realmente não sei como que está
atualmente em termos de remuneração na área hospitalar, na área clínica. Eu acho
que a estabilidade de ter um trabalho como servidor público ou servidora pública é um
fator positivo também, né? Trabalhando para empresa.

Entrevistador
Quantas horas.

Entrevistada 1 - J.C.P.S
São seis horas por dia de trabalho. Porém são horas que eventualmente precisariam
ser cedidas para dar conta da demanda de trabalho.

Entrevistador
E, bom, existe a possibilidade também de clinicar?

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Sim, dá para fazer. Pra clinicar.

Entrevistador
Pra quem consegue, né, que a demanda é bastante intensa, como você já disse
anteriormente.

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Sim, sim, mas eu acho que ter atividades paralelas acaba sendo talvez mais
desgastante, porque junto a atividade vai vir também uma outra cobrança, outras
situações para serem processadas. Eu acho que tem que ser avaliado esse custo
benefício emocional e financeiro.

Entrevistador
Como é que você vê o futuro para esse setor aí, na sua opinião.

Entrevistada 1 - J.C.P.S
De psicologia jurídica específica? Eu não penso sobre isso.

Entrevistador
Então tá bom (inaudível). Você já falou, mas fala, repete de novo um pouco com mais
detalhes, como é que foi a sua entrada no mercado de trabalho... Bom, mercado de
trabalho, você se formou, como é que você foi...

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Eu me formei...

Entrevistador
Como você foi trabalhar, como é que chegou a posição de hoje? Você passou pelo
SAICA, conta como é que foi.

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Eu me formei e comecei a fazer uma especialização em obesidade e transtornos
alimentares, concomitantemente, comecei a fazer os estágios referentes a essa
especialização e atendimentos clínicos. Então, profissionalmente eu comecei na
clínica, mas sempre foram atendimentos pontuais, sem muito tempo para um mesmo
caso, até é uma questão da clínica bastante difícil que é que os pacientes mantenham
os atendimentos. Então, financeiramente o retorno acaba sendo extremamente
instável, ainda mais no começo de carreira. Eu fiz alguns atendimentos em hospital
também, estagiando na área de obesidade e transtornos alimentares, então me
mantive por um tempo nesse trabalho na área clínica e comecei a ter uma estabilidade
financeira maior a partir do momento em que eu comecei a trabalhar como servidora
pública num serviço de acolhimento em Mogi das Cruzes. Depois me desliguei desse
serviço de acolhimento e trabalhei num outro serviço de acolhimento, mas agora...
que não era da prefeitura. Então era também uma situação bastante precária em
termos de condição de trabalho e de remuneração. E aí me desliguei e me preparei
para passar no concurso do Tribunal.

Entrevistador
Você se desligou e aí você estudou para o concurso. Quanto tempo você estudou?
Mais ou menos.

Entrevistada 1 - J.C.P.S
A partir do momento que saiu o edital, eu não sei quanto tempo.

Entrevistador
Então aí uns três, quatro meses, por aí?

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Acho que sim, mais ou menos isso.

Entrevistador
Bom, a última pergunta: em termos de remuneração, como é que está a sua área e
quais são os valores médios, remuneração, enfim, quanto você ganha?

Entrevistada 1 - J.C.P.S
Olha, eu acho que eu devo ganhar entre sete e oito mil. Eu sou totalmente
desconectada disso. Não tenho ideia se tem áreas que estão pagando muito mais do
que isso, eu não sei, concursos federais. Sei que colegas que se formaram comigo e
que estão trabalhando em outras áreas estão recebendo aproximadamente a isso-- o
mesmo que isso ou menos. Eu estou bem por fora. Para mim é assim, eu estou
satisfeita com isso? Estou pagando minhas contas? Eu não sou uma pessoa que tem
grandes ambições financeiras, então não gasto energia pensando isso.

Entrevistador
Brigadão.
Anexo 2 - B: Dados Iniciais Entrevista 2 - A.L.M.M.

e) Nome completo do entrevistado: A.L.M.M.


f) Universidade e data de graduação: UFRJ - Universidade Federal do Rio de
Janeiro - Dezembro/2010
g) Data de início das atividades como psicólogo: 2013
h) Telefone para o professor entrar em contato, caso necessite: (11) 9 7324-7417

Data da entrevista: 18/04/2023


Entrevistador(a) principal: Alberto Alonso Muñoz
Outros entrevistadores presentes: -
Anexo 2 - B.1: Entrevista 2 - A.L.M.M.

Entrevista com Ana Luísa de Marsillac Melsert, dia 18 de Abril de 2023.

Entrevistador:
Ok. Bom, primeiro, Ana Luísa, te agradeço a disposição e vou te fazer então quatro
blocos de perguntas. O primeiro bloco, ele tem como objetivo a caracterização do
campo de atuação no qual você trabalha.
Então a primeira pergunta é... O primeiro pedido é que você descreva a sua atividade
como psicóloga, ou seja, o que que você faz especificamente e como você faz isso
nesse contexto.

Entrevistada 2 - A.L.M.M:
Tá... Eu trabalho na Vara de Infância e Juventude do Fórum de Santo Amaro e meu
trabalho é fazer avaliação psicológica em casos que são encaminhados pro setor
técnico de psicologia no contexto de processos que correm na vara de infância. É...
Como que eu faço, quais são os instrumentos que eu uso?
Algumas questões se repetem vamos voltar, mas pode falar.
AL: Então... Então eu uso instrumentos como entrevista, observação, discussão de
caso em equipe, né; alguns casos têm o acompanhamento ao longo do tempo, assim,
mais longo, e outros são avaliações mais pontuais.

Entrevistador:
Uhum... Tá, e onde é, você já disse que é no Fórum de Santo Amaro, mas me diga
como é que é o seu local de trabalho, descreva ele pra mim.

Entrevistada 2 - A.L.M.M:
É... Fisicamente?

Entrevistador:
Eu acho que também, isso.

Entrevistada 2 - A.L.M.M:
[risos] Tá. É... Então, eu trabalho no setor técnico de psicologia de serviço social aqui
do fórum de Santo Amaro... É... É um setor composto por várias salas de atendimento,
né, onde a gente trabalha em conjunto com a equipe de serviço social também, e a
gente tem uma equipe de 12 psicólogos no momento, contando com a chefia do setor
[ininteligível][risos]

Entrevistador:
E, ao seu ver, quais são as condições necessárias para a realização do seu trabalho?
Você tem essas condições?

Entrevistada 2 - A.L.M.M:
Tá... Em termos de estrutura física, eu acho que faltam condições adequadas de
trabalho, né, então a gente tem salas que são feitas por divisórias, não tem, por
exemplo, a preservação do sigilo de um atendimento pro outro, né, a gente consegue
escutar outros atendimentos que tão em curso no setor; é... Acho que faltam
condições assim de organização do espaço, então, por exemplo, temos computadores
antigos, né, que nem sempre funcionam no momento que a gente precisa deles; acho
que tem uma questão também, acho, que de ventilação ali do espaço, assim, né, então
em termos de estrutura física a gente sente falta de condições melhores de trabalho,
que isso acaba impactando tanto a gente quanto as pessoas que a gente tá
atendendo. E em termos da organização da equipe, eu acho que a gente é uma equipe
muito bem organizada aí pra dar conta do nosso trabalho, assim, da complexidade do
volume, então acho que desse ponto de vista a gente tem as condições necessárias.

Entrevistador:
E cê tem autonomia? Nas decisões relacionadas à sua atividade?

Entrevistada 2 - A.L.M.M:
Tenho. Tenho. A gente enquanto equipe, claro, tem alguns combinados coletivos ali
da organização de trabalho, mas quando eu tô atendendo um caso, né, entrevistando
uma pessoa ou produzindo o meu relatório, eu tenho autonomia técnica pra avaliar da
forma como acho necessária, né, dentro do ponto de vista técnico e ético também.

Entrevistador:
Cê já falou, mas eu vou te pedir para você contar com quais outros profissionais você
trabalha.

Entrevistada 2 - A.L.M.M:
Trabalho acho que, em primeiro lugar, com as assistentes sociais. Eu acho que é
fundamental esse trabalho em equipe, assim, eu acho que pra mim isso dá muita força
pro nosso trabalho aqui dentro do contexto judiciário. Acho que, nem sempre, né,
enquanto psicólogo, a gente tá acostumado a trabalhar com outros profissionais, é um
trabalho de psicólogo que muitas vezes é muito solitário e, assim, eu acho que uma
das forças do nosso trabalho aqui é esse diálogo, esse aprendizado, essas trocas
constantes; e a gente trabalha, né, também, dentro do contexto judiciário, então, é, o
diálogo também, né, com o Ministério Público e com a Defensoria Pública e com os
juízes da vara, que eles que determinam também as avaliações, né, que o setor
técnico realiza.

Entrevistador:
Tá, e você se considera satisfeita com seu trabalho e, se sim, por que e se não, por
quê?

Entrevistada 2 - A.L.M.M:
Sim. Honestamente, assim, eu gosto muito do trabalho que a gente faz aqui na vara
de infância e juventude, eu acho que a gente tem uma atuação que é fundamental do
ponto de vista da sociedade, eu acho que a gente tá num lugar onde a gente
consegue, é... Impactar a realidade social de uma forma mais direta, talvez, do que
em outros campos de atuação do psicólogo; a gente encontra muitas limitações
também, mas eu acho que... que esse lugar de psicólogo da Vara de Infância permite
que a gente faça algumas articulações, inclusive com políticas de saúde, da
assistência... Eu, pessoalmente, gosto muito, assim.

Entrevistador:
Segundo bloco agora, com relação à população assistida, né, atendida. É... Você pode
me dizer como é que é a clientela atendida, em relação à faixa etária, gênero, classe
social, escolaridade, profissão…
Entrevistada 2 - A.L.M.M:
A gente atende crianças, adolescentes, no contexto de processos, de
acompanhamento da Vara de Infância e da Juventude e as famílias deles,
principalmente; também atendemos adultos no contexto de processos de habilitação
pra adoção, né... E são pessoas que tão em situação de vulnerabilidade social, então
se for falar de classe social, eu falaria que a gente atende uma população pobre aqui
na Vara de Infância e de Juventude, prioritariamente, talvez a exceção sejam os
processos de habilitação, que aí a gente pega uma parcela um pouco mais rica, assim,
da população aqui do nosso território... É... E as famílias dessas crianças são... A
gente encontra pais, familiares, muitas vezes com baixo nível de instrução escolar,
né, realmente numa situação de vulnerabilidade que eu acho que aí afeta também
essas trajetórias escolares e profissionais dessa população.

Entrevistador:
E como é que essas pessoas chegam até você?

Entrevistada 2 - A.L.M.M:
É... Elas são pessoas que fazem parte, que são acompanhadas nos processos
judiciais, então a gente atende mediante determinação judicial, são processos e
situações que são encaminhadas pra avaliação do setor técnico.

Entrevistador:
E pra você, qual é a imagem que a população tem do psicólogo e da psicologia?

Entrevistada 2 - A.L.M.M:
Nesse contexto, aqui, eu acho que do judiciário, eu acho que tem uma relação de
poder implicado na forma como eles olham pra gente, eu acho que até por causa do
próprio Tribunal de Justiça, né, então eu acho que eles chegam muito na expectativa
de que é alguém que vai decidir a vida deles, é... Que tem uma relação de poder ali
sobre o que tá acontecendo na vida deles, né, eu acho que tanto positivamente, no
sentido de pedir um auxílio ou um encaminhamento, quanto, também num sentido
mais ameaçador, né, de ter que tomar cuidado com o que tá falando porque, por causa
desse contexto do judiciário.
Entrevistador:
E pra você, quais são as contribuições que a profissão de psicóloga tem dado para a
sociedade?

Entrevistada 2 - A.L.M.M:
Eu acho que... A gente tem hoje em dia, assim, dentro até dos próprios sistemas de
conselhos de psicologia, uma direção forte de um trabalho comprometido socialmente;
e eu acho que os psicólogos que estão trabalhando no judiciário, na assistência e na
saúde, né, a gente hoje em dia entende essa profissão nesse papel, com esse
compromisso com a modificação dessa realidade social, então, eu acho que em
termos de projeto ético, político, assim, de compromisso social, a gente avançou muito
enquanto categoria, né?! Mas claro a gente encontra muitas limitações aí, na realidade
concreta, da nossa sociedade e da população que a gente atende.

Entrevistador:
Bom, pra você, quais são os requisitos necessários para a formação de um psicólogo
pra área da psicologia jurídica? A sua formação te forneceu esses requisitos?

Entrevistada 2 - A.L.M.M:
É... Acho que é importante... É... Existirem matérias específicas sobre psicologia
jurídica dentro da graduação. Eu tive matérias muito boas, assim, de psicologia
jurídica, e um professor que é o Pedro Paulo Bicalho, não sei se o senhor conhece...
Hoje ele é o presidente do Conselho Federal de Psicologia agora, né, nessa nova
gestão. Ele foi meu professor e orientador de estágio, então, eu acho que na UFRJ a
gente tem uma formação excelente pra essa área jurídica, porque é uma formação
que é critica, assim, né, de ensinar a pensar em processos sociais e em processos
institucionais... Então me considero, acho que privilegiada, nesse sentido. Ao mesmo
que eu não tive estágio, por exemplo, em psicologia jurídica, obrigatório, e eu acho é
um requisito que ajudaria na formação, e eu fui aprender na prática, quando entrei
aqui no TJ.

Entrevistador:
E pra você, você acha que tem necessidade de formação posterior a graduação, para
que se possa trabalhar na área da psicologia jurídica? Como foi pra você?
Entrevistada 2 - A.L.M.M:
É... Eu aprendi na prática, não tive nenhuma formação posterior a graduação, em
psicologia jurídica, né, eu fui me apropriando da realidade do trabalho quando
ingressei no TJ, mas com certeza ajudaria. Ao mesmo tempo que aqui em São Paulo
eu já fiz buscas, assim, por programas de pós graduação, e eu não encontro um
enfoque acho que, tão grande nessa área, né. No Rio a gente tem, por exemplo, a
gente tem a UERGI, que tem uma formação de psicologia jurídica muito boa, né, mas
em São Paulo, não encontrei até o momento nenhum programa de pós-graduação
com essa ênfase.

Entrevistador:
Último bloco agora, sobre o mercado de trabalho. Qual que é a situação atual do
mercado de trabalho na área de psicologia jurídica, pra recém-formados e inclusive
para os mais experientes?

Entrevistada 2 - A.L.M.M:
Como eu sou funcionária pública, não sei informar sobre a realidade, assim, para
outros psicólogos que atuem na área da psicologia jurídica enquanto assistente
técnico, por exemplo, né, eu desconheço, assim, como que é esse mercado. Porque
eu acho que também é mais relativo a processo de vara da família, né, na vara de
infância [risos].

Entrevistador:
Como é que você acha... Bom, você falou que cê desconhece, então como é que você
imagina e percebe a psicologia jurídica, no futuro? Em espaço? Pra concurso, né?
Pelo menos nesse ponto de visto, como que é que você imagina?

Entrevistada 2 - A.L.M.M:
É, assim, termos de demanda dentro do Tribunal de Justiça, a gente tem uma
demanda grande por mais profissionais da psicologia, inclusive a gente tem uma
disparidade muito grande entre o número de assistentes sociais no estado e no
número de psicólogos, que é muito menor. Então, né, em termos de demanda, espero
que o Tribunal de Justiça acompanhe essa demanda, acho que interna, por mais
concursos, ao longo do tempo, né. Aguardando aí, o nome dos concursados desse
último concurso que teve.

Entrevistador:
Mais uma pergunta... Que é a seguinte: como é que foi a sua entrada nesse mercado
de trabalho? Como é que você se preparou para o concurso? Como é que você
chegou na posição que você está hoje?

Entrevistada 2 - A.L.M.M:
É... Eu fiz o concurso de 2012, pra psicólogo, né. A gente foi nomeado um ano depois,
em 2013. É, me preparei estudando em curso preparatório. Fiz um cursinho, assim,
pra acompanhar, né, a literatura do concurso, estudei muito em casa também. Acho
que tinha uma disponibilidade nesse momento, que eu tava terminando o mestrado,
então pra me dedicar mais aos estudos. Acho que o que impactou também foi ter uma
formação de pós-graduação, então, por exemplo, eu também já tinha terminado o
mestrado, né, eu tinha alguns títulos que também ajudaram nesse ingresso aí, no
concurso.

Entrevistador:
E, por fim, a remuneração. Como é que é a remuneração na sua área? Você sabe
quais são os valores médios de remuneração? Bom, isso não se coloca, né, porque
você é servidora pública. Mas enfim, fala um pouco disso.

Entrevistada 2 - A.L.M.M:
É, o que eu tenho de informação é o último concurso, que teve agora, foi anunciado
com o salário inicial de cerca de sete mil pro o psicólogo judiciário... É, e aí tem uma
luta da categoria, né, por melhorar esses salários, assim, que sejam mais
proporcionais a seriedade, né, do trabalho que a gente faz aqui, e pra qualidade
também, que a gente aporta pro TJ.
Anexo 2 - C: Dados Iniciais Entrevista 3 - D.M.C.M.N.

i) Nome completo do entrevistado: D.M.C.M.N.


j) Universidade e data de graduação: USP - Universidade de São Paulo -
Dezembro/1998
k) Data de início das atividades como psicólogo: 1999
l) Telefone para o professor entrar em contato, caso necessite: (11) 9 8244-2025

Data da entrevista: 18/04/2023


Entrevistador(a) principal: Alberto Alonso Muñoz
Outros entrevistadores presentes: -
Anexo 2 - C.1: Entrevista 3 - D.M.C.M.N.

Entrevistador:
Entrevista com a Daniela, dia dezoito de abril de dois mil e vinte e três. Então,
inicialmente Dani, eu te agradeço a disponibilidade, facil a disponibilidade pra
participar da entrevista.
Bom, a entrevista tem quatro blocos, vou te fazer as questões conforme os blocos.
No primeiro bloco, pergunto pra você sobre a caracterização do campo de atuação,
tá? Então descreva pra mim como é que é a sua atividade como psicóloga, que que
você faz e como você faz nesse contexto profissional.

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
Então, na verdade eu… eu sou chefe da da sessão, né? Então, eu… eu tô na frente
de uma gestão de dez psicólogos nesse momento então eu não estou atuando como
como psicóloga ali na na na… no atendimento de… das partes das pessoas mas
como uma gestão da equipe trabalho nas… dentro nas audiências concentradas.
E faço as reuniões de equipe, as discussões técnicas, de alguma forma supervisiona
os casos supervisionando os os plantões, faço discussão com as, com a rede, e e
pontes né? Com projetos, por exemplo, projeto de apadrinhamento, discussão com os
parceiros pra pra pensar em informações de padrinhos, enfim, acho que é isso um
pouco.

Entrevistador:
E me fala onde é e como é esse local de trabalho?

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
O meu local de trabalho é no prédio do Fórum de Santo Amaro, tem uma sala que eu
ocupo e, é isso, não sei, como assim? que mais?

Entrevistador:
Descreve como é que é o local, enfim, isso vai voltar, essa questão.

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
É, na verdade é isso, né? É uma sala dentro do setor técnico da Vara da Infância de
Santo Amaro e eu fico numa sala no no no andar superior ao as salas do atendimento
técnico direto.

Entrevistador:
Pra você quais são as condições necessárias pra realização do seu trabalho? Você
acha que você tem essas condições?

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
Então eh como chefe eh eh por não tá atendendo diretamente a população né?
Fazendo as avaliações aí pra produzir laudos e tal. A minha sala é OK assim eu acho
que é, é. A gente tem um problema de vazamento de som no setor assim. Então todas
as salas de atendimento e as nossas salas lá em cima elas tem são são divididas por
com divisórias finas e não não são a provas de som e isso é ruim né? Na medida em
que as vezes até preciso fazer alguma conversa mais em particular com algum técnico
ou algum que o técnico quer conversar comigo sobre alguma questão ali mais
específica que não gostaria de ser ouvido a gente fica ali com com um desafio né?
De, de não falar num tom muito alto por exemplo e eu acho que isso é um problema
assim do da condição de trabalho da gente e os computadores né? Eu assim no final
eu fico direto a maior parte do meu tempo hoje eh no computador, né? Ou de rede ou
enfim pesquisa nos processos, parecer, as coisas todas que a gente faz e os
computadores do fórum infelizmente as vezes deixam a gente na mão.

Entrevistador:
Cê tem autonomia nas suas decisões relacionadas a sua atividade?

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
Tenho total autonomia dentro da instituição judiciário, né? Mas sim, tecnicamente eu
faço o que eu acredito mesmo

Entrevistador:
Cê trabalha com outros profissionais e quem são?

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
Trabalho. Então, trabalho com os profissionais da psicologia, como eu disse, né? Os
os a equipe técnica da psicologia com diretamente com a chefia do serviço social, com
assistente social com a equipe do Serviço Social também muitas vezes me procura
pra discutir caso então essa interface multiprofissional com o serviço social é bem
forte dentro da psicologia judiciária e é muito legal porque são são saberes que se né?
E é muito legal ter alguém ali, porque todos os a maioria dos processos, né? Deveriam
ser todos, mas são distribuídos pra atuação da psicologia e do serviço social. Então
na época que eu atendia era muito importante pra mim ter uma parceira pra discutir o
caso ficar ali sozinha na na percepção daquele fenômeno, né? Então um outro olhar
ali. E mais mais especificamente eu trabalho em conselho social e trabalho na na
interface com direito, né? Dentro da do fórum que é com com MP com a defensoria e
com os magistrados.

00:04:52 Entrevistador
E você se sente satisfeita com o seu trabalho atualmente?

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
Sim, eu gosto muito. Não, eu gosto muito de verdade do do lugar que eu ocupo assim
porque eu acho que é o judiciário é o lugar onde tudo que não deu certo né? Ou que
a rede em termos de rede de garantia dos direitos da infância não deu conta vem parar
no judiciário né? Então são casos geralmente graves e eu acho que a gente aqui em
Santo Amaro consegue fazer um trabalho bem interessante assim, de rede, de de
discussão e as audiências e eu acho que a gente acaba conseguindo aí vezes fazer
diferença na vida daquelas crianças assim de sentir do mesmo, de melhorar mesmo
né, a vida ou no retorno no caso de uma criança acolhida ou no retorno pra família
biológica de uma forma mais protegida com a rede acionada e tudo mais.
Em último caso pra o encaminhamento pra adoção.

Entrevistador:
Vamos pra pro bloco dois que a população tem dívida. Como é que se caracteriza a
que é atendida por você em relação a faixa etária, gênero, classe social, escolaridade,
profissão.

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
Então, na Vara da Infância acaba que o… uma maior… o maior público é de alta
vulnerabilidade social, né? Assim é como eu disse na na questão anterior as crianças
que vem, né? Parar aqui na vara da infância porque alguma coisa deu errado, né? O
que a rede não funcionou, alguma coisa assim. Então com relação a classe social, a
maioria delas é de alta vulnerabilidade, exceto o, a parcela dos dos dos requerentes,
os pretendentes a adoção, que essa é uma parcela diferente da da outra da população
da da das crianças, né? Que são os casais que vem demandar na vara da infância
uma habilitação no Sistema Nacional de Adoção. E com relação ao gênero é bem
diverso, não vejo uma predominância de um gênero. Tem bastantes… Se a gente for
pensar, bastante mãe em solo né? Sem assim a presença do do do pai no muitos
processos e prioritariamente o foco principal é é são as crianças a gente atende adulto
mas sempre com olhar na na questão das crianças Acho que é isso, tem mais
alguma…?

Entrevistador:
Então ainda indo nessa linha, de que maneira essas pessoas chegam até você?

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
Então, a maioria delas eh não vem por por vontade própria, né? Assim, os únicos…
As pessoas que chegam na Vara da Infância por demanda própria são os processos
de… de habilitação eh… de adoção privada ou de guarda né? As vezes e os outros
que é a grande maioria assim, pelo menos é o é o que mais ocupa né? O nosso nosso
olhar, são processos que vem através da rede, do MP não é uma demanda direta, né?
Ninguém vem aqui na porta fora a gente até atende e tal mas eh sempre o atendimento
de de de casos que estão judicializados.

Entrevistador:
Pra você, qual é a imagem que a população têm do psicólogo, da psicóloga da e da
psicologia?

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
O que eu vejo ainda, né? Dentro do escopo de trabalho atual, né? Quando a gente faz
uma audiência concentrada, a gente tenta conversar com a família ou com uma
criança, um adolescente tentando sensibilizar por um atendimento psicológico, muitos
são resistentes ainda e alguns enxergam como, associam a psicologia com loucura,
né? Com com alguma coisa assim pejorativa, não querem ir e tal. E também a maioria
dos muitos casos que a gente encaminha pra psicologia são casos de pessoas com
questões de dependência química, né? E eles tem muita resistência também de fazer
essa, esse olhar pra dentro aí.

Entrevistador:
Pra você quais são as contribuições que a profissão de psicóloga tem dado à
sociedade como um todo?

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
Hum, acho que poderia dar mais, né? Eu acho que já melhorou bastante, né? Quando
eu me formei, tinha uma, um olhar bem maior pro pro pra clínica, né? Pro consultório
e tal, eu nunca gostei muito de consultório, desde que eu me formei fui pra instituição.
E acho que a contribuição é os psicólogos terem consciência do lugar que eles
ocupam, né? Politicamente. Por exemplo, aqui na psicologia judiciária acho que fazer
pareceres implicados né e apontar a falta de política pública nas situações onde elas
existem, né? Saiu da culpabilização das dos das pessoas e e abrandando assim
ampliar o olhar né? Eu acho que isso dentro da psicologia jurídica é uma coisa bem
importante né? Na tentativa até de disparar aí alguma algum movimento do Ministério
Público, difuso, alguma coisa assim, pensando numa política pública, né? Porque a
gente lida aqui com situações de muito vulneráveis e as pessoas são vítimas de um
sistema, né? E aí chega aqui eh… as vezes acabam numa situação de revitimização,
né? Uma situação de DPF por exemplo, quando a criança acha e vai pra adoção,
situações de trans, transgênero, da transgeracionais de vulnerabilidade, situação de
rua. Acho que o psicólogo tem que dar mais voz pra isso assim
Ixi… Tá gravando?

Entrevistador:
Tá… Vamos lá, terceiro bloco, formação profissional. Pra você, quais são os requisitos
necessários pra formação de uma psicóloga pra área de atuação na psicologia jurídica
e se você teve na graduação esses requisitos.

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
Pré-requisitos acadêmicos e na época que eu fiz faculdade não tinha psicologia
jurídica na minha faculdade. Eu já tinha interesse, tentei me aproximar de alguma
forma de uma professora que tinha aí algum pezinho lá no no no judiciário, mas não
consegui e e aí depois que eu me formei eu fiz um ano de cursos de aperfeiçoamento
no Cets de Psicologia Jurídica, em noventa e nove. Paralelamente ao aprimoramento
que eu fiz no Hospital das Clínicas. Acho que o pré-requisito… ah, eu eu acho que
eu… então é difícil né? Porque acho que não dá pra exigir uma formação acadêmica
específica pras pessoas da jurídica ter pra entrar no concurso. Teria que ser uma
questão curricular, eu não sei como é que está essa questão curricular hoje. Mas eu
percebo que não acho que é um pré-requisito, eu percebo que o meu percurso
profissional faz sentido pra mim tá aqui hoje, né? Então eu passei pela saúde, eu
passei pela Fundação Casa, esses conhecimentos são conhecimentos bem
importantes pra atuar aqui, mas não dá pra exigir que as pessoas passem por tudo
isso antes de vir pra cá. Mas acho que quanto mais conhecimento, né? Se for possível
aí é isso, é um curso, especialização, acho que é bem importante. E experiência
profissional também, assim, né? Acho complicado, enfim, maturidade, talvez um
pouco, né? De uma compreensão um pouco aí maior da de disso, né? De como é
estar, ser psicólogo dentro do Tribunal de Justiça, uma instituição que ocupou um
lugar dentro da sociedade, né? Assim, tem aí várias camadas, eu acho que essa
compreensão é importante pra atuação com responsabilidade dentro do tribunal.

Entrevistador:
Bom, então cê acredita que uma formação posterior à graduação…

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
Ajuda bastante…

Entrevistador:
…É importante. Último bloco agora que é o mercado de trabalho. Primeira pergunta é
qual a situação atual do mercado de trabalho na área da psicologia jurídica, seja pra
recém-formada, seja pra experientes.

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
Então, a psicologia jurídica é dentro do tribunal é concurso, né? E a gente até tem tido
alguns concursos, mas com um número pequeno de chamada assim, a gente tem
uma deficiência bem importante no número das da de pessoas na equipe. Por
exemplo, Santo Amaro tem dez psicólogos, mais eu, onze, mas a gente precisaria, sei
lá, de o dobro pra ter uma condição de trabalho mais perto da da ideal, vamos dizer
assim né? Porque a sobrecarga de trabalho com um tema tão difícil de lidar é
desgastante, é adoecedor né? Então é uma questão. Eh… pro pro trabalhar no tribunal
precisa do concurso e é isso, o concurso depende de vontade política, de verba, de
orçamento, de várias coisas. A gente tem tido de alguma forma recorrente até
concurso. Mas dá pra trabalhar como psicólogo, dá pra trabalhar como perita, né? E
aí, é consultório particular. Aí é mais uma questão de network, né? De conhecer
pessoas que façam essas indicações, de fazendo uma carreira nesse sentido e esse
network se faz geralmente com os cursos, né? Porque você vai conhecendo as
pessoas, as pessoas vão conhecendo você e tal. Esse seria uma forma de trabalhar
dentro da psicologia jurídica sem ser funcionária pública do tribunal. Seria uma forma,
né? Ou como assistente técnica, né? Assistente técnica é vara de família, também na
linha um pouco da clínica, né? Essas duas situações geralmente acontecem em
pessoas que tem consultório. É uma possibilidade, mas depende de indicação, não é
simples. Acaba que o maior, a forma mais, né? Acaba sendo a, o concurso.

Entrevistador:
Comé que você vê no futuro esse mercado?

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
Da psicologia jurídica?

Entrevistador:
É.

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
Ah… eu acho que é um… eu acho que tende a aumentar até, né? Eu acho que… mas
eu acho que tem uma questão política de sucateamento assim da funcionário público,
né? A gente é funcionário público do estado.
Eu não sei se isso como é que vai ser, né? Se vai continuar tendo concurso público
ou não, né? O mundo tem caminhado cada vez mais pra terceirização. Então, eu não
sei aí nesse sentido, com relação a trabalhar dentro do tribunal como que vai ser no
futuro. Nesse momento tem acontecido os concursos, né? Mas é isso, fica pingando
gente. Não é um volume muito grande. O último concurso acho que aprovou vim…
acho que vai chamar vinte e cinco psicólogos pro estado inteiro.

Entrevistador:
Me diz, como é que foi a sua entrada? No mercado de trabalho, digamos, né,
psicologia jurídica, como é que você chegou aqui?

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
Na Psicologia Jurídica. Então eh… eu estou dez anos… eu fiz o concurso em dois mil
e doze.

Entrevistador:
Na verdade, antes né? Por causa da Fundação Casa.

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
É. É. É verdade, não deixa de ser psicologia jurídica, é verdade, esqueci de falar disso.
Eh então, eu me formei em noventa e oito, em noventa e nove eu fiz aprimoramento,
em dois mil eu entrei no concurso pra pra trabalhar como psicóloga na Fundação
Casa. Aí eu fiquei lá dois anos e quase três anos. Fiquei um ano como psicóloga e
depois fui pra carregada técnica. Eh aí depois disso fui pra saúde. Fiquei dez anos na
saúde depois vim pro pro tribunal.

Entrevistador:
Bom, última pergunta, em termos de remuneração. Como é que são as condições da
sua área e se você sabe os valores médios de remuneração?

Entrevistada 3 - D.M.C.M.N:
As condições da minha área, como assim? Ah, já em termos de remuneração?! Ahm.
Então eh eh eu acho que dentro da carreira da psicologia, o tribunal é um dos lugares
que paga relativamente bem em termos de concurso né? É que a, a gente aqui no
tribunal têm, a gente faz trinta horas. Eu faço quarenta porque eu estou na chefia mas
o psicólogo dentro do tribunal faz trinta horas por semana. O que não acontece em
outros lugares porque não foi aprovado as trinta horas né?
A gente trabalha quarenta, na saúde é quarenta, na Fundação Casa é quarenta, as
Assistências Sociais trabalham trinta e a gente trabalha quarenta.
Eh então eu acho que nesse sentido, por ter menos horas de trabalho, o salário, enfim,
está super defasado. Mas sei lá, acho que o salário inicial do psicólogo, eu não lembro
quanto é que está do concurso agora mas deve ser um sete mil, sete mil e meio mais
ou menos. Que é um salário bom, pensando em pessoas, por exemplo, no início da
carreira, né? A maioria das pessoas não vai tirar isso no consultório, por exemplo,
durante um bom tempo, só depois que tiver com o consultório bem rodado já. A gente
vai bastante por indicação e tal. Então nesse sentido é um é um bom filão assim, eu
acho, de trabalho.
Mas de novo, depende de concurso e os concursos são a cada dois anos, três anos
e o número de de aprovados também não é muito grande. É bem concorrido.
Então, eu acho que é isso, tá bem defasado com relação ao, a.. há dez anos atrás
quando eu entrei, pra agora, não teve as… as recomposições salariais, né? A gente
tá bem… bem defasado.
Mas ainda assim é um uma possibilidade interessante pro psicólogo, pensando na
relação tempo e salário.
Anexo 2 - D: Dados Iniciais Entrevista 4 - A.C.G.A.

m) Nome completo do entrevistado: A.C.G.A.


n) Universidade e data de graduação: Universidade Presbiteriana Mackenzie -
Dezembro/2005
o) Data de início das atividades como psicólogo: 2006
p) Telefone para o professor entrar em contato, caso necessite: (11) 9 9466-0103

Data da entrevista: 26/04/2023


Entrevistador(a) principal: Alberto Alonso Muñoz
Outros entrevistadores presentes: -
Anexo 2 - D.1: Dados Iniciais Entrevista 4 - A.C.G.A.

Entrevistador:
Teste. Tá. Entrevista com Ana Carolina Godinho Ariolli, 26 de abril de 2023.
Novamente fazendo um- iniciando novamente a gravação que a outra não estava
funcionando. Te agradeço por ter participado- ter topado participar dessa entrevista.
Essa entrevista tem quatro partes, a primeira parte tem por objetivo a caracterização
do campo de trabalho. Então, a primeira questão eu te peço pra você descrever as
suas atividades como psicóloga, ou seja, especificamente o que você faz e como
você faz isso como profissional nesse contexto?

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
Tá bom. Eu trabalho na área clínica, atendendo crianças, adultos e pais em
consultório, né, e também como funcionária pública. Sou psicóloga judiciária,
especificamente na Vara da Infância e da Juventude. Sou concursada há quase dez
anos. Trabalho visando a proteção das crianças, verificando se há alguma situação
de risco, qual a medida mais indicada, né, para que elas saiam desse risco continue
no seu desenvolvimento natural.

Entrevistador:
A segunda questão ela meio que repete a primeira, mas especifica: onde é e como é
o seu local de trabalho.

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
Na clínica eu atendo em consultório, então, né, eu alugo sala e na Vara da Infância
trabalho dentro do fórum, né, presencialmente e também em home office atualmente
em função da pandemia. Trabalho em equipe, né, dando instrumento para que o juiz
possa tomar sua decisão. Qual é o melhor interesse da criança.

Entrevistador:
Na sua opinião, quais são as condições necessárias para a realização do seu
trabalho? Você tem essas condições?

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
Olha (risos), na Vara da Infância nada é ideal, né, a gente sempre atua com o que a
gente consegue, com o que é possível, né? Então, desde as instalações, à estrutura,
né, de trabalho, de computadores, as salas que a gente atende em termos de clima,
de temperatura também, de barulho, né, para preservar o sigilo, eu acho que está
bem longe do ideal, né? Mas estamos sempre buscando melhorias.

Entrevistador:
Você diria que você tem autonomia nas suas decisões relacionadas à sua atividade?

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
Acredito que de modo geral, sim.

Entrevistador:
E nas suas atividades, você trabalha com outros profissionais, e se sim, quais são
eles?

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
Eu trabalho diretamente com assistentes sociais, né, com meus colegas psicólogos
também promotores, defensores públicos, a rede como um todo, né, que atende às
famílias onde essas crianças e adolescentes estão inseridos e com os próprios
juízes também.

Entrevistador:
Você se considera satisfeita com seu trabalho atualmente? Você pode explicar os
motivos disso?

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
(risos) Acho que eu poderia estar mais satisfeita (risos) se a demanda não fosse tão
grande e tivessem outros fóruns, menos processos para a gente conseguir se
dedicar de uma forma, né, mais aprofundada dentro do que- da complexidade dos
casos, né, da gravidade dos casos. E o salário sempre poderia ser melhor também
(risos).

Entrevistador:
Vamos para a segunda parte agora, Ana Carolina, que é sobre a população que é
atendida. Como é que você descreveria a clientela que é atendida por você em
relação à faixa etária, gênero, classe social, escolaridade, profissão e outras
características mais?

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
Tá... na Vara da Infância nós atendemos crianças, adolescentes, os familiares, os
requerentes à adoção, os guardiões... Então é um público mais diversificado, né, já
faz um tempo temos adoções homoparentais ou de casais homoafetivos. Então isso
também está acontecendo já há- já há um tempo e nas famílias que atendemos
também tem diversas configurações familiares. Não sei se tem mais alguma coisa
específica. Só queria saber...

Entrevistador:
Classe social, escolaridade...?

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
Da vara da infância de pessoas em situação de risco, geralmente são famílias mais
humildes, né, em vulnerabilidade social... em relação a requerentes à adoção já é
mais diversificado. Muitas vezes são pessoas de classe média, média alta, mas
pessoas mais humildes também.

Entrevistador:
E de que maneira essas pessoas chegam até você?

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
No caso dos requerentes à adoção eles próprios buscam, né? Então é uma busca
espontânea diante aí da motivação para a adoção. Em relação a outro público, né,
geralmente parte de alguma denúncia da rede, de algum boletim de ocorrência do
Conselho Tutelar, da escola, do CAPS, da UBS, né, quando verifica que tem um
risco potencial dentro até do hospital, né, para internação da criança e do
adolescente também.

Entrevistador:
Na sua opinião, qual a imagem que a população tem da psicóloga, do psicólogo e da
psicologia?

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
Não só no contexto judiciário? De forma geral?

Entrevistador:
Judiciário e também em geral.

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
É... acho que no judiciário as pessoas não têm tanta noção, né, então é importante a
gente divulgar esse trabalho, explicar até, perante as pessoas conhecidas, né, do
que se trata a nossa matéria. Mas no geral, talvez as pessoas tenham um pouco de
receio, né, acham que é coisa de pessoas loucas, ficam receosas de conversar... “O
que será que o outro está pensando?” “Será que está me analisando?” ou “não, não
vou no psicólogo porque isso é só para loucos”, então tem uma resistência, um pré-
conceito aí nesse sentido. Talvez um medo de se autoconhecer.

Entrevistador:
E quais seriam as contribuições que a profissão de psicóloga tem dado para a
sociedade como um todo.

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
Pensando até no contexto atual, né, de pandemia, apesar do pior período já ter
passado, atualmente a saúde mental está bastante em voga, está sendo bastante
reconhecida, né, porque os casos de ansiedade e de depressão, né, o sofrimento
muito grande durante o período mais pesado, mas agora a reverberação disso
também... nas escolas, isso tem aparecido- aparecido muito no noticiário, então, a
importância de cuidar da saúde mental como um todo... Não só o físico, né, para o
desenvolvimento das pessoas, para o bem estar, para a proteção.

Entrevistador:
Deixa eu te fazer uma pergunta, você se formou quando?
Entrevistada 4 - A.C.G.A:
2005.

Entrevistador:
Vamos pro terceiro bloco agora que é a sua formação profissional na graduação na
Faculdade de Psicologia. Para você, quais são os requisitos necessários para a
formação do psicólogo, da psicóloga na sua área de atuação que é aqui, a
psicologia jurídica? E você acha que o curso de graduação atendeu a esses
requisitos? Quais são? E se a graduação atendeu esses requisitos.

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
A graduação, ela, assim... ela tenta abarcar, né, diversas áreas. Na época que eu fiz
já tinha bastante coisa, então a parte, pelo menos a teoria, né, não só em sala de
aula, mas a partir de eventos, então psicologia jurídica, esportiva, hospitalar,
comunitária, né, porque antigamente se pensava que era mais a parte de clínica,
RH, isso foi- foi ampliando. Então tive sim, durante a graduação, mas não só nas
matérias como em eventos paralelos também, eu participava do Centro Acadêmico
que promovia eventos, trazendo profissionais de outras áreas para discussão, é...
qual que é outra pergunta?

Entrevistador:
Os requisitos necessários para uma formação em psicologia.

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
Está sempre atualizado porque a nossa área... Sim, a nossa área, tanto o
desenvolvimento pessoal como profissional, né, porque nossa matéria somos nós
mesmos, então é importante aquele tripé, né, de supervisão, de terapia ou análise,
cursos, também o networking, né, de conhecer pessoas, trocar, enfim... Pra tá
sempre assim, troca com outras áreas também com a área de ciências, neurologia,
etc. Que auxiliem a entender melhor e lidar com o ser humano.

Entrevistador:
Você acha que existe uma necessidade de formação posterior à graduação para que
se possa trabalhar na sua área de atuação? E como é que foi para você?
Entrevistada 4 - A.C.G.A:
Sim, justamente por isso, né, de às vezes o que a gente tem na faculdade é mais
uma pincelada, então a gente vai aprofundando depois, mediante um interesse, o
que for trabalhando. Eu gosto bastante de estudar, então estou sempre fazendo um
curso. Fiz uma pós-graduação tanto na área clínica, psicanalítica como hospitalar. E
cursos por fora, mais curtos ou não... E acho que a disponibilidade para- para
autoanálise, né, para estar numa terapia, numa análise, né, se conhecer, ter essa
humildade, essa disponibilidade para se conhecer e ter uma empatia com o outro, é
fundamental também na nossa área.

Entrevistador:
Vamos para o último bloco agora que é o mercado de trabalho, como é que você
caracterizaria a situação do mercado de trabalho nessa área de psicologia jurídica?
Para os recém-formados e para os mais experientes.

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
É... os concursos estão ocorrendo, mas talvez pudessem acontecer com mais
frequência, com mais vagas, né, porque no próprio Tribunal de Justiça, quando uma
pessoa se aposenta, não é reposto na própria comarca, né, pode ser que seja
reposto em outro lugar. Então existe uma defasagem importante, né, que seria muito
interessante terem outros profissionais, né, as pessoas conhecerem, né, não só a
Vara da Infância, mas outras varas também, para atender o público melhor também,
né, para os processos andarem com mais celeridade.

Entrevistador:
Como é que você vê o futuro desse mercado de trabalho?

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
Ai... Eu espero que melhore (risos), mas eu acho que é preciso um esforço conjunto,
né, para valorizar, aqui, mais especificamente na Vara da Infância- à Infância e
Adolescência, acho que já houve avanços desde o ECA, mas eu acho que é
importante um esforço conjunto de todas as instâncias para que essa área não fique
tão vulnerável, né, ainda mais vulnerável.
Entrevistador:
Me conta como é que foi a sua entrada no mercado de trabalho? Não
necessariamente na psicologia jurídica. Você se formou, como é que foi?

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
Depois que eu me formei, eu fiz a pós na área hospitalar no Incor. Então... e em
paralelo, comecei a atuar na clínica também com supervisão, com grupos de
estudo.... depois eu fiz uma pós na área da clínica psicanalítica, também atendendo
na clínica da USP, né, os estudantes que vinham buscar... cheguei a trabalhar pouco
tempo com recursos humanos, na parte de seleção de candidatos para outros
trabalhos e... E aí depois já vim aqui para a Vara da Infância, onde eu estou há dez
anos como funcionária pública, né, em paralelo, continuo com- com a clínica.

Entrevistador:
Então você chegou à sua posição que ocupa hoje... Como é que você se preparou?
Como é que foi?

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
Com- com estudo, né, com leituras, com trocas... Eu fiz também um grupo de
estudos na Sociedade Brasileira de Psicanálise sobre Adoção, e a partir disso me
despertou, né. Na época, estavam tendo reportagens sobre mães que entregam os
filhos em adoção e isso achei interessante. Até cheguei a pensar em fazer uma
pesquisa a esse respeito e logo na sequência veio o concurso, então eu decidi
prestar.

Entrevistador:
Bom, vamos para a última questão: em termos de remuneração, como é que são as
condições na sua área e se você sabe dizer os valores médios de remuneração.

Entrevistada 4 - A.C.G.A:
Não sei dizer os valores médios, até porque são de diversas áreas, né, acho que
não tem algo muito definido. Talvez o CRP, o CFP tenha, mas agora não tenho de
cabeça. Mas eu acho que é uma área, em termos de remuneração, pouco
valorizada. Acho que tinha que ser mais... mais valorizada.

Entrevistador:
Tá bom. Te agradeço muito, (nome da entrevistada).
ANEXO 3 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(TCLE)
Anexo 3 - A. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Entrevista 1 -
J.C.P.S.
Anexo 3 - B. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Entrevista 2 -
A.L.M.M.
Anexo 3 - C. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Entrevista 3 -
D.M.C.M.N.
Anexo 3 - C. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Entrevista 4 -
A.C.G.A.
ANEXO 4 - FICHAS ATIVIDADES PRÁTICAS SUPERVISIONADAS

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