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Unidade de Estudos 1 - Psicologias Jurídica, Forense e Judiciária: Designações
Unidade de Estudos 1 - Psicologias Jurídica, Forense e Judiciária: Designações
Unidade de Estudos 1 - Psicologias Jurídica, Forense e Judiciária: Designações
Apresentação
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer a história das interfaces entre Psicologia e
Direito, suas práticas tradicionais e as atuais. Também vai fazer uma comparação entre os campos
da Psicologia Forense, em sua tradição norte-americana, e da Psicologia Jurídica, em sua tradição
brasileira.
Bons estudos.
A Psicologia, na interface entre as ciências sociais (sob a forma de Psicologia Social) e as naturais
(sob a forma de Psicologia Individual), é entendida como uma ciência "híbrida", entre Sociologia e
Biologia e, portanto, entre Direito e Medicina.
Neste Infográfico, você vai ver como se dão as relações entre as ciências formais e as empíricas e
entre as sociais e as naturais.
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Conteúdo do Livro
Considerada ciência experimental no final do século XIX, a Psicologia foi chamada para dar a sua
contribuição para a compreensão dos comportamentos individuais no século seguinte, apesar da
descrença inicial, especialmente por parte dos psiquiatras. Foi criticada por seu papel “rotulador” e
discriminatório, naturalizando fenômenos sociais, e foi acusada de imprecisão científica, ao
relativizar determinações biológicas do comportamento humano. Por que tudo isso aconteceu?
Para entender, é preciso resgatar a história da constituição do campo das interfaces entre
Psicologia e Ciências Jurídicas e de suas vertentes, a Psicologia Forense e a Psicologia Jurídica.
Na Obra Psicologia Jurídica, leia o capítulo Psicologias Jurídica, Forense e Judiciária: designações,
base teórica desta Unidade de Aprendizagem, em que você vai conhecer as relações entre
Psicologia e Direito, no Brasil e nos EUA, com definições dos campos, questões de cientificidade e
de Ética Profissional. Você também terá acesso a documentos importantes sobre as atuações dos
psicólogos, publicados pelo Conselho Federal de Psicologia.
PSICOLOGIA
JURÍDICA
Paulo Roberto
Grangeiro Rodrigues
Psicologias jurídica, forense
e judiciária: designações
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Será que a Psicologia pode contribuir para a melhor compreensão das
causas dos desvios e comportamentos antissociais e criminosos? A Me-
dicina e a Sociologia já oferecem todas as respostas para o que ocorre
no campo das contravenções e dos crimes? Será a Psicologia necessária
para a melhor decisão de juízes, promotores e jurados?
Considerada ciência experimental no final do século XIX, a Psicolo-
gia foi chamada para dar a sua contribuição para a compreensão dos
comportamentos individuais no século seguinte, apesar da descrença
inicial, especialmente por parte dos psiquiatras. Foi criticada por seu
papel “rotulador” e discriminatório, naturalizando fenômenos sociais; foi
acusada de imprecisão científica, ao relativizar determinações biológicas
do comportamento humano. Por que tudo isso aconteceu? Para entender,
é preciso resgatar a história da constituição do campo das interfaces entre
Psicologia e Ciências Jurídicas e de suas vertentes, a psicologia forense
e a psicologia jurídica.
Neste capítulo, você vai estudar a intersecção entre a Psicologia e o
Direito, áreas definidas como psicologia forense nos Estados Unidos e
psicologia jurídica no Brasil.
2 Psicologias jurídica, forense e judiciária: designações
Fica claro que o foco inicial do trabalho do psicólogo [no Brasil] foi a com-
preensão da conduta humana quanto às motivações e possibilidades de reinci-
dência no crime. O uso de técnicas de mensuração, em evidência na década de
1960-70, não tinha tanto o objetivo de análise das funções mentais específicas
para avaliar o testemunho (realidade dos primórdios da Psicologia Jurídica
na Europa), mas, antes, trazer luz à dinâmica da produção do ato criminal.
que emigravam para cá, com a diferença de que aqui tudo ocorreu tardiamente
e com menos recursos. A Associação Brasileira de Psicologia Jurídica foi
fundada somente em 1998.
Você não concorda que, com esses princípios, é possível estabelecer uma ética em
comum entre operadores do Direito e psicólogos(as)?
Psicologias jurídica, forense e judiciária: designações 5
DIREITO
Psicologia Medicina
Jurídica Legal
Psicologia/
Psiquiatria
Forenses
PSICOLOGIA Psiquiatria
MEDICINA
A Psicologia e os direitos
Na realidade brasileira, é o próprio Código de Ética Profissional do Psicólogo
que nos leva a buscar essa meta em comum com os operadores do Direito.
O Código de Ética define, em seus dois primeiros princípios fundamentais,
o seguinte:
Cientificismo:
1. Concepção filosófica de matriz positivista que afirma a superioridade da ciência
sobre todas as outras formas de compreensão humana da realidade (religião, filosofia
metafísica, etc.), por ser a única capaz de apresentar benefícios práticos e alcançar
autêntico rigor cognitivo.
2. Tendência intelectual que preconiza a adoção do método científico, tal como é
aplicado às ciências naturais, em todas as áreas do saber e da cultura (filosofia, ciências
humanas, artes etc.)
3. Tendência a valorizar excessivamente as noções científicas, ou pretensamente
científicas, em qualquer campo da vida prática, intelectual ou moral (HOUAISS; VILLAR,
2009, p. 464).
https://goo.gl/G2vdtc
Leituras recomendadas
GARRIDO, E.; MASIP, J.; HERRERO, C. (Coord.). Psicología jurídica. Madrid: Pearson Edu-
cación, 2006.
GONÇALVES, H. S.; BRANDÃO, E. P. (Org.). Psicologia jurídica no Brasil. 3. ed. Rio de
Janeiro: Nau, 2011.
MIRA Y LÓPEZ, E. Manual de psicologia jurídica. 2. ed. São Paulo: Impactus, 2008.
SERAFIM, A. P.; BARROS, D. M.; RIGONATTI, S. P. (Org.). Temas em psiquiatria forense e
psicologia jurídica II. São Paulo: Vetor, 2006.
TRINDADE, J. Manual de psicologia jurídica. 3. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2009.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Dica do Professor
Um conceito importante da área das ciências sociais é o processo da naturalização do que é de fato
construído socialmente e que, portanto, poderia ser diferente. A naturalização nos faz entender a
sociedade e seus problemas como dados biologicamente, portanto, como imutáveis por políticas
públicas e novas práticas sociais, sustentando propostas conservadoras sobre as pessoas e as
classes sociais, ou até mesmo propondo violências como esterilização em massa ou manipulação
genética de embriões.
Na Dica do Professor, você vai ver onde são definidas as relações entre essa naturalização de
fatores sociais, os preconceitos, a exclusão e a violência.
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Exercícios
1) Na intersecção com o Direito, cria-se uma forma de Psicologia aplicada que, ainda que tenha
nomes diversos, hoje apresenta situação legalizada no Brasil e é especialidade reconhecida
pelo Conselho Federal de Psicologia. Qual nome é adotado para essa Psicologia e por quê?
A) Psicologia Forense, por ter múltiplas formas de atuação de modo a abranger os casos de
crime e atos ilícitos.
B) Psicologia Forense, por ter múltiplas formas de atuação de modo a abranger todas as áreas do
sistema judiciário.
C) Psicologia Jurídica, por ter múltiplas formas de atuação de modo a abranger todas as áreas do
sistema judiciário.
D) Psicologia Jurídica, por ter atuação apenas em áreas do sistema judiciário que exijam uma
capacitação clínica.
E) Psicologia Jurídica, por ter atuação apenas nas áreas do sistema judiciário em que o psiquiatra
está trabalhando.
2) A Psicologia Forense tem origem nos EUA e, inicialmente, trabalhou com peritos depondo
como testemunhas em casos de crimes e atos ilícitos. Qual foi a maior contribuição da
Psicologia nesses casos?
E) Os psicólogos avaliaram a aptidão mental dos réus, a fim de determinar a capacidade de estes
terem plena consciência do que fizeram e compreenderem as consequências de suas ações.
3) A Psicologia Jurídica desenvolveu-se, no Brasil, a partir de práticas em relação a menores de
idade, especialmente os de rua e os infratores. Em 1990, foi sancionado o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA - Lei 8.069/90). Quais foram as principais mudanças trazidas
pelo ECA e quais as implicações para a atividade dos psicólogos em relação a crianças e
adolescentes?
C) Deixou-se de fazer a distinção entre criança e menor , e passou-se a entender a criança como
um ser impedido para o trabalho. Assim, o psicólogo passou a defender e propiciar os direitos
previstos no ECA, com crianças em todas as circunstâncias e varas da lei.
A) Considera-se Psicologia Jurídica aquela exclusiva dos tribunais, ao passo que a Forense está
em todas as atividades do sistema judiciário.
B) Considera-se Psicologia Forense aquela exclusiva dos tribunais, ao passo que a Jurídica está
em todas as atividades do sistema judiciário.
C) Considera-se Psicologia Forense aquela fora dos tribunais, ao passo que a Jurídica está em
atividades dentro ou fora do sistema judiciário.
D) Considera-se Psicologia Forense a psicologia clínica aplicada nos tribunais, ao passo que a
Jurídica aplica outras abordagens da área, como a psicologia social.
E) Considera-se Psicologia Jurídica a psicologia clínica aplicada nos tribunais, ao passo que a
Forense aplica outras abordagens da área, como a psicologia social.
A) Tendo foco no Estatuto da Criança e do Adolescente, nos Códigos Civil e Penal e na Lei de
Execução Penal, na qual o psicólogo passou a ser reconhecido legalmente pela instituição
penitenciária.
B) Cada campo deve respeitar os limites e os objetivos do outro campo, sendo a Psicologia
auxiliar nas decisões do sistema judicial.
C) Cada campo deve contribuir conforme suas capacitações científicas e técnicas, respeitando
plenamente as atuações dos agentes.
D) Tendo foco nos Direitos Humanos, conforme instrui o Código de Ética Profissional do
Psicólogo e define a Constituição Brasileira.
E) Tendo foco na Constituição Brasileira e nos Códigos de Ética Profissional das áreas.
Na prática
Com a criação do ECA, levando em conta o fato de o adolescente ser um ser de direitos e pessoa
humana em processo de desenvolvimento, houve uma mudança de paradigma, com novas práticas
como o uso dos laudos “[...] como instrumento político de marcação de singularidade e afirmação da
diferença“ (SANTOS, 2011, p. 67).
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Saiba mais
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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Unidade de Estudos 2 - Prática
profissional: das áreas de
intervenção às competências
Apresentação
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer os locais de inserção dos Psicólogos Jurídicos,
vai estudar sobre as competências técnicas necessárias a essa especialidade e também vai conhecer
o papel do psicólogo na avaliação de famílias em conflito.
Bons estudos.
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Conteúdo do Livro
As relações entre Psicologia e Direito são complexas, recentes na história formal das áreas e
indissociáveis na sociedade moderna. A Psicologia Jurídica, como uma especialidade da ciência
psicológica, abrange diversas áreas de atuação, sendo as mais tradicionais relacionadas à atuação
nos fóruns e nas prisões.
Boa leitura.
PSICOLOGIA
JURÍDICA
Luciana Rydz
Pires
Prática profissional: das
áreas de intervenção
às competências
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
As relações entre Psicologia e Direito são complexas, recentes na história
formal das áreas e indissociáveis na sociedade moderna. A psicologia
jurídica, como uma especialidade da ciência psicológica, possui diversas
áreas de atuação, sendo as mais tradicionais relacionadas à atuação nos
fóruns e nas prisões.
Neste capítulo, você vai estudar a psicologia jurídica como uma es-
pecialidade da Psicologia relativamente recente no Brasil, conhecendo as
diversas outras possibilidades de atuação desses profissionais, bem como
as competências técnicas necessárias para ser um bom profissional. Além
disso, conhecerá o trabalho dos psicólogos jurídicos que trabalham com
a avaliação de famílias em conflito junto às Varas de Família.
Competências técnicas
A formação em psicologia jurídica é recente, tendo em vista que essa especiali-
dade foi regulamentada apenas no ano de 2000. Inicialmente, na Universidade
do Estado do Rio de Janeiro, essa área de conhecimento foi inserida no curso
6 Prática profissional: das áreas de intervenção às competências
É preciso, cada vez mais, a capacitação dos psicólogos que tenham a in-
tenção de atuar na psicologia jurídica, para que os mesmos possam compre-
ender as razões pelas quais um juiz solicitou uma intervenção, por exemplo, e
consigam, então, emitir opiniões técnicas, impressões e dados que ainda não
haviam ficado claros a esse juiz. Trata-se da capacitação técnica do psicólogo
jurídico para atuar em parceria com os profissionais do Direito, fazendo uso
da linguagem da área e compreendendo suas especificações. A facilitação
do entendimento do juiz com relação às informações que o psicólogo deseja
transmitir é de grande relevância, já que muitas vezes laudos e pareceres são
dispensados pelos juízes devido à ineficiência da comunicação.
Prática profissional: das áreas de intervenção às competências 9
A separação, ou o divórcio, é uma alternativa para casais que não estão satisfeitos nos seus
relacionamentos. Entretanto, a separação se torna complexa quando envolve filhos menores de
idade, tendo em vista que haverá novos arranjos e reorganização familiar. Trata-se de uma etapa
muito importante, pois, dependendo do acordo familiar a respeito da guarda dos filhos, poderá
favorecer o fortalecimento de vínculos, mesmo que seus membros tenham certa perda de
convivência diária.
Nesta Dica do Professor, aprenda um pouco sobre a guarda compartilhada. Complemente o seu
conhecimento e veja quais mudanças ocorreram com a nova lei e qual o papel do Psicólogo nesse
contexto.
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Exercícios
1) Como você já sabe, a atuação do psicólogo nas decisões judiciais, nas Varas de Família, se dá
por meio da realização de perícias técnicas. Essas decisões resultam da determinação de
quem?
C) Da assistente social, a fim de conhecer qual o melhor cônjuge para ficar com o menor.
3) Sobre a atuação do psicólogo como perito, nos diversos contextos da ambiência jurídica,
indique a alternativa correta:
B) Atender aos interesses de uma das partes, trabalhando com isenção e seguindo os
referenciais técnicos e éticos.
A) Quando se fala em violência familiar, podemos dizer que estamos falando sobre a violência
física e sexual, exclusivamente.
B) A falta de cuidados, alimentação e segurança dos pais para com os filhos não se configura
como violência.
C) A figura paterna não é mais forte, tendo em vista que não existe mais a submissão da mulher
e dos filhos ao marido/pai.
D) No interior da família existem muitas outras formas de violência além da física e sexual. Há o
abandono, a negligência, a violência psicológica, isto é, condições que comprometem o
desenvolvimento saudável da criança e do jovem.
E) A maioria dos casos de violência doméstica é ocasionada por padrastos ou por pessoas de
fora de casa.
Na prática
Quando a separação envolve filhos menores, a definição sobre a guarda destes é considerada um
momento importante para todo o sistema familiar, junto aos novos arranjos e reorganização da
família. Atualmente, a guarda compartilhada é o regime de guarda preferencial em casos de pais e
mães que não morem na mesma casa. Para alcançar esse objetivo, muitas vezes o psicólogo exerce
papel fundamental, de forma a conseguir mediar esse novo arranjo familiar.
Conheça, a seguir, o caso de Rafael e Cecília, que estão vivenciando esse momento durante a sua
separação.
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Saiba mais
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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Matilda (1996)
Assista ao filme MATILDA e reflita sobre as questões de negligência familiar. “Crianças deveriam
ser invisíveis. Deviam ser guardadas dentro de caixas, como grampos de cabelo e botões. Não
consigo entender porque as crianças tem que demorar tanto para crescer. Acho que elas fazem isso
de propósito.” O que podemos esperar de uma criança que cresce entre adultos que pensam assim?
A sorte da menina Matilda era ser superdotada. Nascida em uma família fútil, Matilda cresceu e
alfabetizou-se sozinha.
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Unidade de Estudos 3 - Interfaces
com outras ciências e atuação
interdisciplinar
Apresentação
Seja bem-vindo!
A partir da complexidade dos seres humanos e das relações que estes estabelecem ao longo da vida
e do conjunto de normas e leis que regulam as interações em sociedade, emerge a necessidade de
um campo de trabalho interdisciplinar entre a Psicologia e o Direito. Da necessidade de
compreender os seres humanos, como eles agem e sua relação com a justiça, surge a psicologia
jurídica, englobando diferentes áreas de atuação.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá estudar a interface entre a Psicologia e o Direito,
conhecendo os diferentes campos de atuação do psicólogo jurídico e do trabalho interdisciplinar
por ele realizado.
Bons estudos.
A atuação de psicólogos na área da psicologia jurídica teve o seu início a partir do reconhecimento
da Psicologia como profissão, na década de 60. O trabalho do psicólogo na interface com a justiça
ocorreu de maneira gradual, muitas vezes de maneira informal, por meio de trabalhos voluntários.
O título de especialista em psicologia jurídica, concedido pelo Conselho Federal de Psicologia,
atesta o reconhecimento da atuação profissional do psicólogo na interface com a justiça.
Neste Infográfico, você irá conhecer melhor as diferentes atividades relativas à atuação profissional
do psicólogo jurídico no Brasil, conforme a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO).
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Conteúdo do Livro
Apesar de o Direito e a Psicologia terem objetos de estudos distintos, em certo ponto podem se
entrelaçar. Desse modo, emerge a importância de pensarmos no trabalho interdisciplinar a partir
das lentes teóricas dessas duas ciências.
Para saber mais sobre esse assunto, leia o capítulo Interdisciplinaridade: teoria e campo de atuação,
da obra Psicologia jurídica. Neste capítulo, você vai estudar sobre a Psicologia e sua interface com o
Direito. Além disso, vai poder conhecer as diferentes áreas de atuação do psicólogo no Brasil, já
que a psicologia jurídica é uma especialidade com ampla gama de ramificações. E, por fim, terá a
possibilidade de conhecer as diferentes atividades que o psicólogo jurídico realiza no exercício de
sua profissão.
Boa leitura.
PSICOLOGIA
JURÍDICA
Luciana Rydz
Pires
Interdisciplinaridade:
teoria e campo de atuação
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Apesar de o Direito e a Psicologia terem objetos de estudos distintos,
em certo ponto podem se entrelaçar. Desse modo, é muito importante
pensarmos no trabalho interdisciplinar a partir das lentes teóricas dessas
duas ciências. Da complexidade dos seres humanos e das relações que
estabelecem ao longo da sua vida, bem como do conjunto de normas
e leis que regulam as interações em sociedade, surge a necessidade de
um campo de trabalho interdisciplinar entre a Psicologia e o Direito. A
psicologia jurídica advém justamente dessa necessidade de compreensão
dos seres humanos: como eles agem e sua relação com a justiça. Engloba,
assim, diferentes áreas de atuação.
Neste capítulo, você vai estudar a interface entre a Psicologia e o
Direito e vai conhecer as diferentes atividades que o psicólogo jurídico
realiza no exercício de sua profissão, bem como as diferentes áreas de
atuação do psicólogo no Brasil, já que a psicologia jurídica é uma especia-
lidade com uma ampla gama de ramificações. Por fim, você vai explorar
o trabalho interdisciplinar realizado pelo psicólogo.
2 Interdisciplinaridade: teoria e campo de atuação
No link abaixo, você poderá ler na íntegra a Resolução nº. 14/2000 do CFP que instituiu,
entre outras especialidades, o título de especialista em psicologia jurídica.
https://goo.gl/1eQEQ8
Campos de atuação
A psicologia jurídica corresponde a toda a aplicação do saber psicológico
às questões relacionadas ao saber do Direito, como afirma Leal (2008). O
termo psicologia jurídica é uma nomenclatura genérica; entretanto, dentro
dela existem outras áreas de especificidades com nomenclaturas próprias, de
acordo com a sua atividade e atuação profissional.
Para França (2004), o psicólogo jurídico está inserido em quase todas
as áreas de atuação. Entretanto, a mesma autora relata a existência de uma
grande concentração de profissionais atuando na psicologia penitenciária e
nas questões relacionadas à família, à infância e à juventude, em detrimento
de outras áreas que possuem carência desses profissionais, como as áreas de
psicologia do testemunho, psicologia policial e militar, direito civil, proteção à
testemunha, atendimento aos juízes e promotores, direitos humanos e autópsia
psíquica.
Já Lago et al. (2009) afirmam que os ramos do Direito que mais deman-
dam o serviço de Psicologia são o direito de família, o direito da criança e do
adolescente, o direito civil, o direito penal e o direito do trabalho. E, embora
na psicologia jurídica haja uma predominância de confecção de laudos, pa-
receres e relatórios, muitas outras atividades são efetuadas pelos psicólogos
especialistas nessa área.
Os psicólogos jurídicos podem desenvolver atividades relacionadas à seleção
e ao treinamento de pessoal, à avaliação de desempenho e ao acompanhamento
psicológico prestado a servidores, magistrados e seus dependentes dentro das
instituições judiciárias. Podem desenvolver também atividades vinculadas
aos juízos de primeira instância (fóruns dos estados) e de segunda instância
(tribunais de justiça dos estados).
6 Interdisciplinaridade: teoria e campo de atuação
De acordo com Leal (2008), existem outras áreas de atuação mais recentes
do psicólogo jurídico, como:
A interdisciplinaridade
Apesar de a Psicologia e o Direito consistirem em ciências diferentes, em certo
ponto elas se entrelaçam em função de seu objetivo comum, que é o compor-
tamento humano, mesmo que uma das partes, a Psicologia, se preocupe com
o comportamento humano, enquanto a outra, o Direito, leve em consideração
a regulação desse comportamento.
O Direito estuda o comportamento da sociedade. Porém, estudar de forma
aprofundada cada aspecto da sociedade não seria possível sem o papel de outras
áreas de conhecimento, como a sociologia e a psicologia, por exemplo. Assim,
cada disciplina auxilia o Direito a aumentar a compreensão do comportamento
humano em sociedade. A cada momento, muitas pesquisas são realizadas no
campo da psicologia jurídica, desenvolvendo métodos e técnicas diferentes de
forma a auxiliar cada vez mais os operadores do Direito nessa prática inter-
disciplinar, para que o trabalho de ambos os profissionais se complemente. O
Direito também evolui, à medida que cria legislações capazes de acompanhar
10 Interdisciplinaridade: teoria e campo de atuação
BRASIL. Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 6 jun. 2018.
BRUNINI, B. C. C. B. A intersecção da psicologia com a lei: problematizando a psicologia
jurídica na prática profissional dos psicólogos. 2016. 178f. Dissertação (Mestrado em
Psicologia). – Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho, Assis, 2016.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP nº. 014/00 de 20 de dezembro de
2000. Institui o título profissional de Especialista em Psicologia e dispõe sobre normas
Interdisciplinaridade: teoria e campo de atuação 13
Leitura recomendada
SILVA, D. M. P. Psicologia jurídica no processo civil brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Fo-
rense, 2012.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
Dica do Professor
A noção de direitos humanos sofreu um longo processo de evolução, passando por diversos
pensamentos dos povos hebreus, gregos e romanos, pelo Cristianismo e pela Idade Média, até a
atualidade. Mesmo após a assinatura da Declaração dos Direitos Humanos da ONU (1948), é
concenso a necessidade de denúncias das constantes e estruturais violações das condições básicas
de vida humana digna.
Na Dica do Professor a seguir, você vai conhecer, a partir de uma perspectiva histórica, o
surgimento dos direitos humanos. Irá compreender por que a psicologia é atuante nesta área e
reconhecer áreas de atuação que ilustram a interface entre a Psicologia e os direitos humanos.
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Exercícios
2) A psicologia jurídica é uma vertente dos estudos em Psicologia. Da interface desta com o
mundo jurídico, resultam encontros e desencontros epistemológicos e conceituais, os quais
permeiam a atuação do psicólogo jurídico (FRANÇA, 2004). Assim pensando, sobre a prática
do psicólogo jurídico, assinale a alternativa correta:
C) O psicólogo jurídico, em sua prática, chama à cena a realidade psicológica dos indivíduos de
forma a complementar a literalidade da lei.
D) O psicólogo jurídico tem o dever de orientar o juiz a seguir os princípios éticos estabelecidos
na Constituição, além de auxiliar o juiz a buscar felicidade e bem-estar no trabalho.
A) A atuação do psicólogo jurídico requer uma ação mais alinhada ao conjunto de normas
obrigatórias quando se refere aos recursos teóricos científicos contemporâneos.
C) Deve ter uma relação simplista, cabendo ao psicólogo jurídico produzir provas para embasar o
trabalho dos advogados.
D) O psicólogo jurídico, enquanto trabalhador a serviço da justiça, faz uma leitura da situação
legal dos envolvidos, tarefa que irá determinar a atuação dos promotores e juízes.
A) O psicólogo que atua na interface da psicologia jurídica com o direito do trabalho não pode
atuar como perito em processos trabalhistas.
B) O psicólogo que atua na interface da psicologia jurídica com o direito civil pode trabalhar nos
casos de interdição por meio da realização de avaliação que comprove tal enfermidade.
C) O psicólogo que trabalha com a psicologia jurídica na interface com o direito penal atua
exclusivamente com os adolescentes autores de atos infracionais.
D) O psicólogo que trabalha na interface da psicologia jurídica com o direito de família estuda a
motivação para os crimes e mede a veracidade do depoimento dos réus.
5) A Psicologia e o Direito possuem uma vasta gama de áreas de atuação, tais como:
• 1. Psicologia: escolar, clínica, trânsito, esporte, jurídica, entre outras;
• 2. Direito: penal, civil, tributário, entre outras.
A) O psicólogo pode atuar como perito nas varas cíveis, criminais, da justiça do trabalho, da
família e da infância e juventude, elaborando laudos, pareceres e perícias para serem
amplamente divulgados pelos veículos de comunicação midiáticos.
Você já ouvir falar em violência intrafamiliar? Você poderá refletir sobre a atuação do Psicólogo
inserido em uma equipe interdisciplinar, a partir de um caso de violência intrafamiliar (pai agredindo
filhos).
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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Direito e Psicologia
Este artigo busca uma reflexão sobre o estabelecimento de ligação entre as questões
presumidamente jurídicas e a Psicologia como campo de conhecimento e prática social.
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Unidade de Estudos 4 - Psicologias
do trânsito, jurídica e do esporte
Apresentação
A psicologia é uma ciência que tem como objeto de estudo o comportamento e os processos
mentais humanos. Por meio de análises e intervenções sobre as emoções dos indivíduos, o
psicólogo pode atuar para promover, proteger e reabilitar a saúde mental, visando ao bem-estar e à
qualidade de vida individual e coletiva. Além disso, o psicólogo estabelece hipóteses diagnósticas,
propondo tratamentos e auxiliando na prevenção de doenças mentais.
– a psicologia do trânsito, que estuda o comportamento dos usuários das redes viárias urbanas;
– a psicologia jurídica, que abrange o estudo dos fenômenos psicológicos que afetam ou podem vir
a afetar a conduta de uma pessoa, a ponto de levá-la a infringir as normas legais vigentes na
sociedade; e
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer a origem dessas áreas de conhecimento e as
possibilidades de atuação do psicólogo nesses contextos.
Bons estudos.
Neste Infográfico, você vai estudar os itens que estruturam a elaboração de um laudo psicológico.
Os primórdios da psicologia do esporte começaram a surgir nas décadas de 1920 e 1930. Nesse
momento, o foco era principalmente na psicologia educacional e no desenvolvimento de
habilidades motoras. Alguns estudos examinavam as diferenças individuais em termos de
habilidades físicas e mentais. Contudo, principalmente a partir dos anos de 1960, a psicologia do
esporte ganha força como disciplina no sentido de contribuir para a experiência e o desempenho do
atleta. Neste vídeo, vamos explorar a breve história da psicologia do esporte. Vamos ver também o
campo de atuação da neuropsicologia do esporte para os jogadores de futebol americano, por
exemplo.
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Boa leitura.
FUNDAMENTOS
EPISTEMOLÓGICOS
E HISTÓRICOS DA
PSICOLOGIA
Psicologias do
trânsito, jurídica
e do esporte
Andréia Oliveira Vicente
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Ao longo do tempo, a psicologia foi ampliando o seu campo de atuação, de forma
a se fazer presente nos contextos que demandam os seus conhecimentos e téc-
nicas científicas. Contextos como o do trânsito, o jurídico e o do esporte também
apresentam demandas psicológicas, que, como tais, requerem investigações e
intervenções adequadas para que essas demandas não apenas sejam identificadas,
mas compreendidas e sanadas.
Para que a psicologia possa desenvolver teorias cada vez mais específicas
para a atuação em cada contexto, ou seja, para que o psicólogo possa atuar com
instrumentos e técnicas que contemplem as especificidades de cada campo, é
necessário conhecer a fundo as áreas de interesse. Portanto, neste capítulo, você
conhecerá a história das áreas denominadas psicologia do trânsito, psicologia
jurídica e psicologia do esporte. Especificamente, será explicado como elas surgiram
e sob quais influências científicas. Além disso, serão esclarecidas as articulações
necessárias com outros campos científicos para possibilitar a atuação do psicólogo.
2 Psicologias do trânsito, jurídica e do esporte
Psicólogo do trânsito
Nesta seção, você lerá a respeito do objeto de estudo da psicologia do trânsito,
incluindo quando e como essa área surgiu. Além disso, serão apresentados
os pesquisadores que contribuíram para o seu desenvolvimento, ajudando-
-a a se consolidar como mais um campo de atuação do psicólogo. Por fim,
você verá como esse profissional atua na prática e quais conhecimentos
psicológicos pode utilizar.
A psicologia do trânsito surgiu da necessidade de desenvolver estudos
científicos que contribuíssem para o entendimento de todos os atores que
fazem parte do tráfego aéreo, marítimo, ferroviário e fluvial. O seu objeto de
estudo é, basicamente, o comportamento humano no trânsito que é construído
e movimentado diariamente pelas pessoas e está organizado por meio de
normas e procedimentos de conduta coletiva. Esses estudos buscam aperfei-
çoar a compreensão e a intervenção no ambiente do trânsito, cujos artefatos
e tecnologias estão cada vez mais diversificados, visando a melhorar as
condições de segurança. O intuito é que os riscos de acidentes possam ser
minimizados, bem como as possibilidades de ameaças à vida (CRISTO, 2019;
CRUZ; WIT; SOUZA, 2020; RUEDA; GUIMARÃES, 2021).
De um modo mais geral, os objetivos dos estudos desenvolvidos na área
da psicologia do trânsito sempre foram desenvolver teorias que descreves-
sem os fatores comportamentais que pudessem causar ou contribuir para
a ocorrência de acidentes. As pesquisas buscam investigar os processos
psicológicos associados, como a cognição e as emoções, bem como a forma
como as pessoas se comportam no contexto do trânsito, a qual reflete como
elas estabelecem as suas relações em outros contextos físicos e sociais,
considerando o contexto global no qual essas relações ocorrem. O intuito
é tentar transformar a realidade do trânsito melhorando a qualidade e o
estilo de vida das pessoas (CRISTO, 2019; CRUZ; WIT; SOUZA, 2020; RUEDA;
GUIMARÃES, 2021).
Psicologia jurídica
Nesta seção, você lerá a respeito do objeto de estudo da psicologia jurídica.
Especificamente, será detalhado como a área de psicologia e do direito se
articularam e explicados os motivos que propiciaram o surgimento da psico-
logia jurídica. Além disso, serão mencionados os pesquisadores da área da
psiquiatria que contribuíram para algumas teorias sobre personalidade e a
prática de crime no passado e analisada a atual teoria a respeito dos fatores
que influenciam os atos delituosos. Com relação à atuação do psicólogo, você
verá quais são as diferenças entre o papel do psicólogo como perito e o seu
papel como assistente jurídico.
A psicologia jurídica é uma área de conhecimento composta pelas áreas do
direito e da psicologia, que têm, em comum, o estudo do ser humano. O principal
objeto de estudo da psicologia são os processos mentais e o comportamento
humano. Assim, no âmbito jurídico, desenvolve estudos envolvendo perso-
nalidade, saúde mental, conduta criminosa e desordens comportamentais,
com o intuito de investigar, explicar, avaliar e prevenir comportamentos que
afetam a conduta dos indivíduos perante as normas legais (PINHEIRO, 2019).
Já o direito pode ser entendido como um conjunto de normas e instituições
que busca coordenar e regular o convívio e as relações sociais dos seres
8 Psicologias do trânsito, jurídica e do esporte
sociais. A partir daí, começou a ser desenvolvida uma nova área de conheci-
mento, e Pinel passou a ser considerado o pai da psiquiatria. Ele propôs que o
tratamento dos doentes mentais deveria ser voltado para a sua reeducação,
de modo que deixassem de apresentar comportamentos inadequados e
aprendessem a respeitar as normas (PINHEIRO, 2019).
Dessa forma, a psiquiatria, no século XIX, tinha uma função disciplinadora,
de forma a exercer o controle sobre as questões sociais para que o espaço
urbano fosse mantido em ordem. Assim, utilizava os conhecimentos e re-
cursos científicos desenvolvidos pelos pesquisadores da área para resolver
os problemas que poderiam causar desordens sociais, como o alcoolismo,
a prostituição, o jogo e o crime. Com relação aos pesquisadores, pode-se
citar quatro que entraram para a história da psiquiatria pelas suas teorias,
influenciando a sua época em relação não apenas à forma como a doença
mental deveria ser compreendida, mais principalmente à forma como a per-
sonalidade com tendências criminosas poderia ser identificada, ou seja,
associando crime e loucura (PINHEIRO, 2019).
Um deles foi o médico alemão Franz Joseph Gall (1758-1828), com formação
em neuroanatomia e fisiologia. Ele foi pioneiro no estudo da localização das
funções mentais no cérebro, defendendo o conceito de frenologia. Segundo
esse conceito, o caráter e as capacidades mentais estariam relacionadas
ao tamanho do crânio, ou seja, a forma da caixa craniana e o seu tamanho
possibilitariam diagnosticar personalidades socialmente inadequadas. Assim,
pela análise das irregularidades do crânio de um indivíduo, seria possível
mapear a sua personalidade, pois, para os frenólogos, cada faculdade com-
plexa da personalidade humana teria uma localização cerebral específica. Na
atualidade, porém, vários estudos comprovam que essa teoria era equivocada,
uma vez que a formação da personalidade é influenciada por vários fatores
biopsicossociais (SOUZA; SCHERER, 2020).
Por sua vez, Pinel, como já mencionado, promoveu a transformação dos
hospícios em instituições de tratamento, não meramente de isolamento,
como eram tratadas até então. Para isso, legitimou a loucura como entidade
patológica caracterizada como distúrbio no âmbito das paixões e fundou os
primeiros hospitais psiquiátricos europeus.
A hospitalização integral como forma inicial de tratamento também é um
legado de Pinel, que acreditava que o afastamento do doente do mundo ex-
terno era ferramenta para a descrição diagnóstica precisa e o distanciamento
de interferências prejudiciais. Entretanto, para Pinel, a hospitalização seria
um processo de observação completa do enfermo e cura, diferente, então,
do processo de reclusão social e morte visto até então nos hospícios. Ele
10 Psicologias do trânsito, jurídica e do esporte
Psicologia do esporte
O objetivo da psicologia do esporte é estudar os efeitos psíquicos que podem
interferir nos seres humanos antes, durante e depois de praticar um exercício
ou atividade esportiva. As suas investigações científicas estão focadas em
temas como motivação, personalidade, agressão, violência e liderança, re-
lacionamento interpessoal de equipes, bem-estar psicológico, pensamentos
e sentimentos, entre outros, de acordo com as necessidades que a área do
esporte vai demandando. Essas investigações têm o propósito de promover
a saúde e o bem-estar psicológico do atleta e de qualquer praticante de ati-
vidade esportiva, educando e promovendo o autoconhecimento na busca do
desenvolvimento de comportamentos que demonstrem equilíbrio psíquico e
melhorem o desempenho esportivo (MEDEIROS; LACERDA, 2017; RUBIO, 2002).
Na atualidade, o esporte tem um papel significativo na cultura e na socie-
dade mundial, colocando em cena emoções, sentimentos, esforços, tempo
e energia. Assim, é necessária a articulação da educação física com outras
áreas de conhecimento, como a área sociocultural, que abrange as disciplinas
de filosofia, psicologia, antropologia e sociologia do esporte, assim como
Psicologias do trânsito, jurídica e do esporte 15
Referências
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CONDE, E. et al. (org.). Psicologia do esporte e do exercício: modelos teóricos, pesquisa
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CONTRAN. Resolução Contran nº 425 de 27/11/2012. Brasília, DF: Contran, 2012. Dispo-
nível em: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=247963. Acesso em: 9 set. 2022.
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Leituras recomendadas
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critivo. Brasília, DF: CFP, 2019. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uplo-
ads/2019/12/BR84-CFP-Rel-SisPenalBrasileiro_web_vs3.pdf. Acesso em: 9 set. 2022.
CFP. Caderno de psicologia do trânsito e compromisso social. Brasília, DF: CFP, 2000.
Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2018/04/Caderno-de-
-Psicologia-do-Tr%C3%A2nsito-e-Compromisso-Social.pdf. Acesso em: 9 set. 2022.
20 Psicologias do trânsito, jurídica e do esporte
CFP. Psicologia do trânsito em trânsito pelo Brasil. Brasília, DF: CFP, 2012. Disponível
em: https://site.cfp.org.br/publicacao/psicologia-do-transito-em-transito-pelo-brasil/.
Acesso em: 9 set. 2022.
CFP. Referências técnicas para a atuação de psicólogas(os) em varas de família. Brasília,
DF: CFP, 2019. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2019/11/
BR84-CFP-RefTec-VarasDeFamilia_web1.pdf. Acesso em: 9 set. 2022.
CFP. Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) em políticas públicas de
esporte. Brasília, DF: CFP, 2019. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/
uploads/2019/09/Esporte_24_setembro_FINAL_WEB.pdf. Acesso em: 9 set. 2022.
Nesta Dica do Professor, você vai compreender como a psicologia pode contribuir para o esporte
de alto rendimento, em que, mais do que preparo físico, exige-se do atleta preparo cognitivo e
emocional, de forma que ele consiga manter o rendimento sempre em um nível alto, obtendo
ótimos resultados, mas com bem-estar e qualidade de vida.
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Exercícios
1) De acordo com Murialdo (2020, on-line), “o Brasil registrou 27.839 indenizações pagas por
acidentes de trânsito com vítimas fatais entre janeiro e outubro de 2020”. A fim de ter uma
análise mais específica das vítimas, das regiões e das causas de acidentes de trânsito, o
Governo Federal lançou, em 2021, a primeira base nacional de dados sobre esse tipo de
ocorrência no país: o Registro Nacional de Acidentes e Estatísticas de Trânsito (Renaest).
B) Condição do veículo.
C) Falha humana.
A) atuar como perito no caso em pauta, mediante autorização do responsável legal pela criança.
B) acatar a nomeação, dado que, pela idade de seu cliente, ele não está obrigado a sigilo
profissional.
C) solicitar ao Conselho Federal de Psicologia a autorização para atuar como perito no caso em
questão.
D) aceitar o encargo e deixar de atender a criança como terapeuta, a fim de eliminar o conflito
entre as duas formas de atuação.
E) se declarar impedido, pois questões de sigilo decorrentes de sua atuação como terapeuta
podem impedi-lo de comunicar informações importantes a terceiros.
3) A psicologia do esporte atua a partir de intervenções no contexto esportivo com atletas,
equipes, treinadores, dirigentes, etc. Considerando-se que as instituições esportivas, de um
modo geral, enfatizam muito mais o rendimento do atleta do que, de fato, o seu bem-estar
emocional, cabe, cada vez mais, ao psicólogo do esporte refletir sobre sua atuação nesse
contexto.
A) Muitas vezes, falta aos técnicos treinamento apropriado para aprimorar sua relação com seus
atletas. Portanto, isso também deverá ser foco da intervenção do psicólogo no que se refere à
avaliação física, técnica e tática de atletas
C) O preparo psicológico deve coincidir com os objetivos pessoais do atleta, e não apenas com
os objetivos políticos e financeiros do clube que, porventura, esteja patrocinando-o e/ou
investindo nele.
D) Uma vez que o foco é o rendimento (entendido como vitória no esporte atual), deve-se
eliminar os pontos frágeis ou negativos e maximizar aqueles considerados como positivos e
desejáveis.
E) O atleta deverá ser visto como mais uma peça de uma grande engrenagem chamada de
esporte, devendo-se testar diferentes estratégias que possam aumentar a adesão ao
exercício.
A) aplicação de normas.
B) comportamento humano.
D) entendimento da sociedade.
5)
De acordo com o Código de Ética de Psicologia, ao psicólogo, é vedado “ser perito, avaliador
ou parecerista em situações nas quais seus vínculos pessoais ou profissionais, atuais ou
anteriores, possam afetar a qualidade do trabalho a ser realizado ou a fidelidade aos
resultados da avaliação" (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2005, p. 10).
A) ser perito de uma pessoa pública, sobre a qual já leu nos jornais.
B) ser perito de seu paciente que já encerrou o atendimento e com o qual não tem mais contato.
Neste Na Prática, você vai entender melhor a atuação do psicólogo no contexto do esporte de alto
rendimento.
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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Apresentação
A psicologia hospitalar surge como um ramo da psicologia da saúde, também resultante do período
de pós-guerra, quando os efeitos dos eventos mundiais podiam ser vistos nos militares, nas famílias
e na própria comunidade. Na psicologia social, o desenvolvimento parte da tentativa do
entendimento da sociedade e das interações sociais.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender como as psicologias clínica, hospitalar e social
se desenvolveram até se tornarem o que são hoje. Você será capaz de compreender o contexto no
qual elas nasceram, os eventos que causaram modificações em sua existência e como se dá a sua
prática.
Bons estudos.
A psicologia clínica moderna tem diferentes tipos de entendimento teórico-clínico que norteiam a
prática dos psicólogos. Essas diferentes abordagens foram desenvolvidas ao longo da história da
psicologia clínica e, atualmente, separam-se em grandes categorias que as agrupam por tipo de
embasamento teórico e intervenções.
Neste Infográfico, você verá um pouco sobre as principais abordagens clínicas, as suas visões de
mundo e de ser humano e os principais conceitos atrelados a elas.
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Conteúdo do Livro
A psicologia moderna foi desenvolvida de maneira relativamente recente quando comparada com
outras áreas do conhecimento, crescendo, de fato, como área de estudo a partir do século XX,
principalmente nos Estados Unidos. Com o passar dos anos, ela foi se ramificando em áreas mais
especializadas, partindo de uma origem acadêmica e tradicionalmente "de laboratório" para
encontrar campo nos mais diversos lugares.
Boa leitura.
FUNDAMENTOS
EPISTEMOLÓGICOS
E HISTÓRICOS DA
PSICOLOGIA
Psicologias clínica,
hospitalar e social
Laura Cesar Figueiredo
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A psicologia, como área de estudo, tem uma longa história, originando-se como
uma disciplina fundamentalmente interdisciplinar, conectada a diversas áreas do
conhecimento, como medicina, biologia e filosofia, dentre outras. No entanto, tem
foco e história recentes como área de conhecimento formal, com suas práticas
se desenvolvendo, de fato, no século XIX, com Wilhelm Wundt e William James.
Dessa maneira, é necessário que os desenvolvimentos atuais da área sejam
explorados e compreendidos. Para o entendimento de como as áreas de atuação
prática funcionam e se estabeleceram, suas raízes históricas e os acontecimentos
que lhes deram forma devem ser investigados.
Neste capítulo, você vai estudar a história de como a psicologia constitui-se
enquanto uma prática clínica. Além disso, vai ver como os psicólogos começaram
a atuar em ambientes hospitalares e de que forma a sociologia, a antropologia e
a psicologia se unem como constituintes da psicologia social.
2 Psicologias clínica, hospitalar e social
Psicodinâmica O comportamento surge como Problemas psicológicos Descobrimento da causa Sigmund Freud;
reação à um conflito interno, advindos do conflito que originou o sintoma, Carl Jung;
entre desejos instintivos de interno inconsciente. A identificação de qual Alfred Adler.
caráter sexual e agressivo, e a presença de sintomas é conflito interno está
necessidade de respeitar e manter a forma de esse conflito ocorrendo. Terapeuta
regras impostas pela sociedade se fazer consciente e auxilia o paciente a
e cultura. No entanto, esses ser reconhecido pelo tornar o inconsciente
conflitos se encontram sob a indivíduo. consciente.
superfície, de forma inconsciente.
Foco em experiências passadas e
infância.
Humanista O indivíduo é um ser criativo, Problemas psicológicos Identificar, compreender Carl Rogers;
com potencial, que busca se advêm de alterações e corrigir o problema, Abraham Maslow.
desenvolver quando em condições na consciência sobre as por meio de tomada
favoráveis. O comportamento é situações ou por conta de consciência e
guiado de forma consciente. Foco de restrições impostas diminuição ou retirada
no presente. ao ser, que restringem de restrições ao
seu desenvolvimento. crescimento.
(Continua)
Psicologias clínica, hospitalar e social
5
(Continuação)
6
Comportamental De origem empírica, entende que Problemas psicológicos Modificação do John Broadus Watson;
o comportamento é aprendido em surgem como comportamento Ivan Petrovich Pavlov;
um ambiente. O comportamento comportamento aprendido por meio Burrhus Frederic
aprendido pode ser modificado aprendido, condicionado de modificações de Skinner.
ao alterar suas associações com o pelo ambiente. associações.
ambiente ao seu redor ou alterar o
ambiente em si. Foco no presente.
Cognitiva Cognições, ideias sobre si mesmo Problemas psicológicos Modificação de padrões Albert Ellis; Albert
e sobre as relações sociais afetam surgem como crenças de pensamento, crenças Bandura; Aaron
as emoções dos indivíduos. Foco desadaptativas e ideias desadaptativas, Temkin Beck.
Psicologias clínica, hospitalar e social
Ela tem seu início na Europa, mas seu desenvolvimento se dá nos Estados
Unidos durante o século XX. Na Europa, a ideia inicial para seu posterior
crescimento se dá com o início da psicologia como área de estudo formal.
Wundt planejava o desenvolvimento de duas áreas relacionadas à psicologia:
a que se tornou a psicologia experimental, proveniente da ideia de uma
Naturwissenschaft (ciência natural, em alemão), com caráter experimental e
empírico; a segunda ideia vinha do estudo dos povos, seus mitos, tradições e
organização, como uma Geisteswissenschaft (ciência do espírito, em alemão),
com a observação como método (ALMEIDA, 2012; FARR, 1998).
Existem algumas vertentes da psicologia social, mas duas em específico
serão abordadas no momento: a psicológica e sociológica. A psicologia social
psicológica foi, por muito tempo, a teoria dominante dentro da psicologia
social. Como características gerais, essa vertente estava mais interessada no
aspecto individual das pessoas, tendo uma individualização das manifestações
da sociedade. Também apresentava influências cognitivas, comportamentais
e do empirismo. Em seu desenvolvimento nos Estados Unidos, ela se tornaria
mais próxima das ciências naturais, por meio de seus métodos de estudo e
entendimento do ser humano, com a tendência de pender para o lado mais
biológico. Outra característica importante, da qual surgiriam críticas a essa
vertente, é seu a-historicismo, considerando o sujeito desvinculando da
sociedade (ALMEIDA, 2012; ÁLVARO; GARRIDO, 2003; FARR, 1998).
Em comparação, a outra vertente, a psicologia social sociológica, recebe,
inicialmente, influências da psicologia social comparativa, a partir do material
Handbook of Social Psychology, que trazia um olhar mais próximo da possibi-
lidade de existir influências sócio-históricas nas relações e interações sociais,
que são passíveis de estudo. Ela surge, em seus primórdios, no pós-guerra
da Europa, com a teoria das representações sociais, de Serge Moscovici. Os
estudos de Moscovici inspiravam-se em algumas ideias de Émile Durkheim, re-
lacionadas às representações individuais (do âmbito da psicologia) e coletivas
(do âmbito da sociologia) e ao dinamismo entre representações. A teoria das
representações sociais seria, mais tarde, resgatada para compor os trabalhos
de estudiosos da América Latina (ALMEIDA, 2012; ÁLVARO; GARRIDO, 2003).
Na América Latina, a área de conhecimento da psicologia social buscava
soluções para problemas regionais e locais, com a finalidade de desenvolver
uma tomada de consciência da população sobre as ideologias hegemônicas
e as relações de poder que poderiam ou já haviam levado à subjugação.
Ainda na América Latina, especificamente no Brasil, a psicologia social vê o
nascimento e o desenvolvimento do olhar da psicologia sócio-histórica. Isso
se deu a partir de livros e cursos na área de psicologia social, no período de
12 Psicologias clínica, hospitalar e social
levantamento de necessidades;
identificação de lideranças comunitárias e parcerias com estas;
levantamento de soluções para problemas e de recursos;
proposta de soluções, serviços e novas necessidades levantadas;
avaliação da intervenção.
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CREPOP. Brasília: CREPOP, 2022. Disponível em: http://crepop.pol.org.br/conheca-o-
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em Debate, v. 32, n. 78-79-80, p. 18-26, 2008.
Nesta Dica do Professor, você irá conhecer um pouco mais sobre a história da psicologia clínica e
dos transtornos mentais no Brasil, por meio do histórico da reforma psiquiátrica.
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Exercícios
1) A psicologia como ciência era uma disciplina focada em estudos em laboratório; a psicologia
clínica acompanhou o seu desenvolvimento enquanto também crescia como área de
conhecimento. Esse desenvolvimento ocorreu de forma mais intensa na América do Norte. A
psicologia clínica contemporânea nasceu de duas vertentes de atividades e conhecimentos,
dos testes mentais e de psicoterapias, como o treinamento psicológico de crianças, mas
outros fatores foram necessários para que se consolidasse como área de atuação.
I. O contexto pós-guerra foi importante para o desenvolvimento do campo, mas foi apenas
um de muitos fatores que, em conjunto, auxiliaram nesse desenvolvimento, como a visão
mais humanizada das pessoas com transtorno mentais.
II. Ela foi desenvolvida como área de atuação, totalmente por pedido público, nos Estados
Unidos, para o diagnóstico e tratamento dos veteranos de guerra.
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas III.
D) I e III.
E) I e II.
A) V – F – F – F.
B) F – V – V – F.
C) V – F – F – V.
D) V – F – V – V.
E) V – V – V – F.
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas III.
D) I e II.
E) II e III.
4) O psicólogo clínico contemporâneo tem uma gama de abordagens à sua disposição. Elas
foram desenvolvidas ao longo da evolução dessa área de atuação e apresentam
pressupostos, conceitos e entendimentos próprios sobre o ser humano, os transtornos
psicológicos e o seu tratamento.
I. Psicodinâmica
II. Sistêmica
III. Humanista
IV. Cognitivo-comportamental
V. Comportamental
( ) Acredita que o ser humano está sempre em conflito, entre forças internas a si e forças
externas. Esse conflito existe em diferentes níveis de consciência: inconsciente, consciente e
subconsciente.
( ) Acredita que o comportamento é aprendido e pode ser modificado por meio de mudanças
de ambiente e associação de estímulos.
( ) Acredita que o ser humano faz parte de grupos e sistemas que interagem entre si.
Comportamentos surgem como consequência das relações entre os integrantes.
A) III – I – IV – V – II.
B) I – II – V – IV – III.
C) III – I – V – IV – II.
D) V – IV – II – III – I.
E) I – IV – III – V – II.
5) O psicólogo social pode atuar em diversos campos. Ele não está restrito a apenas um local,
mas, sim, a uma gama de locais, desde que estejam conectados à sua especialidade.
( ) Políticas públicas
( ) Organizações comunitárias
( ) Responsabilidade social
A) F – V – F – V – V.
B) V – F – V – F – F.
C) V – F – V – V – V.
D) V – V – V – V – V.
E) F – V – F – F – V.
Na prática
No vídeo a seguir, você verá Na Prática como iniciar uma intervenção no contexto hospitalar ante
uma tentativa de suicídio.
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Confira abaixo, Na Prática, um relato de caso com base na atuação do psicólogo social comunitário
e as suas atividades básicas em uma OSC para crianças em vulnerabilidade social.
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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Psicologia hospitalar
A psicologia hospitalar, uma área que se ramificou da psicologia da saúde, está focada na atuação e
em intervenções psicológicas em ambientes hospitalares. Nesse local, o psicólogo, por exemplo,
desenvolve intervenções com pacientes crônicos, acolhimento de pacientes e familiares e trabalho
em equipe multiprofissional. Este vídeo explicativo aborda as atribuições de um psicólogo
hospitalar e os desafios que este pode vir a encontrar durante a sua atuação.
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Introdução à psicologia
Este livro aborda a história da psicologia, os processos psicológicos básicos, os transtornos
psicológicos e os seus tratamentos. Também traz informações sobre psicologia da saúde e
psicologia social, assim como áreas de atuação do psicólogo. Para saber mais, faça a leitura destes
capítulos: 1 (Introdução), 12 (Transtornos psicológicos), 13 (Tratamento dos transtornos
psicológicos) e 14 (Psicologia social).
Apresentação
A psicologia da saúde reconheceu, desde sempre, a importância das relações sociais na saúde.
Todavia, falta os conhecimentos sobre os processos de interação social, de funcionamento dos
grupos ou de influência social, para poder intervir de forma eficaz neste domínio. É essa lacuna que
a psicologia social da Saúde procura preencher. Parte-se do modelo biopsicossocial, reconhecendo
o papel ativo do indivíduo no processo de resposta à doença, mas vai além dele, uma vez que
aborda o indivíduo como ser social, que, em interação com outros, dá sentido ao seu estado de
saúde, toma decisões acerca da doença e vive os problemas do seu corpo.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar sobre o campo da psicologia social que atua
sobre a saúde e compreender como podem ser desenvolvidas práticas em políticas de ação e
prevenção, visando à promoção da saúde.
Bons estudos.
No infográfico, você vai estudar sobre as diferenças e atuação do psicólogo nos campos da
promoção, prevenção e atenção em saúde.
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Conteúdo do Livro
Faça a leitura do capítulo Psicologia social e saúde, base teórica desta Unidade de Aprendizagem.
Nele, você se aprofundará no universo de psicologia social e sua relação com a saúde.
Boa leitura.
PSICOLOGIA
SOCIAL
Daiane Duarte Lopes
Psicologia social e saúde
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
A psicologia sempre reconheceu a importância das relações sociais na
saúde. No entanto, a ela faltam os conhecimentos sobre os processos de
interação social, de funcionamento dos grupos ou de influência social para
poder intervir de forma eficaz neste domínio. É esta lacuna que a psicologia
social da saúde procura preencher. Ela parte do modelo biopsicossocial,
reconhecendo o papel ativo do indivíduo no processo de resposta à do-
ença, mas vai além dele, uma vez que aborda o indivíduo como ser social,
que, em interação com outros, dá sentido ao seu estado de saúde, toma
decisões acerca da doença e vive os problemas do seu corpo.
A psicologia social pode ser flexível em sua diversidade de possibili-
dades, e a sua atuação se constitui em torno da promoção e ampliação
das potencialidades de ser e existir em cada sujeito como ser social.
Neste capítulo, você vai estudar sobre o campo da psicologia social que
atua sobre a saúde e vai compreender como podem ser desenvolvidas
práticas em políticas de ação e prevenção visando à promoção da saúde.
Devir é, a partir das formas que se tem, do sujeito que se é dos órgãos
que se possui ou das funções que se preenche, extrair partículas, entre
as quais instauramos relações de movimento e repouso, de velocidade
e lentidão, as mais próximas daquilo que estamos em vias de tornar-
mos, e através das quais nos tornamos. É nesse sentido que o devir é o
processo do desejo. Esse princípio de proximidade ou de aproximação
é inteiramente particular, e não reintroduz analogia alguma. Ele indica o
mais rigorosamente possível uma zona de vizinhança ou de co-presença
de uma partícula quando entra nessa zona. Ele é da ordem da aliança
(DELEUZE; GUATTARI, 1997, p.18-19).
No livro Saber cuidar, do escritor Leonardo Boff (1999), você pode se inspirar sobre o sentido
mais profundo de escutar, olhar e compreender o outro em sua essência e integralidade.
O livro convoca uma postura ética em valores e atitudes a todo e qualquer ser existente
no planeta, além de promover uma postura mais humilde e humana perante o próximo.
Para exemplificar a prática da psicologia social da saúde crítica, podemos usar como
analogia o ato de pensar. Pensar é sempre uma soma, uma união entre conhecimentos
prévios sobre fatos e realidades, articulados em meio a projeções e análises do presente
com relação ao futuro. Assim, a atuação em psicologia da saúde crítica articula uma costura
entre os mais variados conhecimentos, associados entre as interdisciplinas em busca de uma
transdisciplinaridade, em que os organismos de saberes e conhecimentos se conectam
em suas semelhanças e diferenças, mas considerando o todo como produtor de potências.
No vídeo desta unidade, você vai conhecer o trabalho do psicólogo no Sistema Único de Saúde
(SUS), principalmente na atenção básica.
Assista!
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Exercícios
C) Uma luta por pertencimento sobre si em toda a integralidade implicada ao ser e sobre o lugar
que habita.
E) Uma técnica.
A) Tornando possível entender cada sujeito, assim como sua comunidade, acolhendo a
complexidade de suas demandas, de maneira global e em absoluto.
A) Uma teoria.
5) Para a psicologia social da saúde crítica, de que maneira o sujeito está implicado?
B) Está condicionado ao modo de viver e morrer, não podendo atuar sobre uma possível
mudança.
D) A visão de mundo do sujeito e sua consciência crítica auxiliarão no engajamento sobre sua
promoção e qualidade de vida, assim como em melhorias e transformações na sua
comunidade e sociedade.
Jonas, 16 anos, e Janete, 30 anos, procuram a unidade de saúde para conversar com a assistente
social e a psicóloga. Janete está com dificuldades em relação ao seu filho Jonas, pois ele soube, hà
poucos meses, que tem diabetes e precisará reorganizar sua alimentação e tomar insulina durante
toda sua vida. Janete relata que Jonas não tem tomado a insulina e recusa-se a seguir a prescrição
da nutricionista sobre sua alimentação. Na última semana, chamaram Janete na escola, pois Jonas
foi pego bebendo e fumando com os amigos. Janete está preocupa com o filho, pois tem medo que
sua saúde piore e que ele acabe por ser hospitalizado novamente.
Foi por meio de uma internação após um desmaio que Jonas foi diagnosticado com a doença. A
assistente social pergunta a Jonas como era sua alimentação antes de saber que estava doente.
Jonas conta que prefere comer lanches e adora refrigerante.
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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Unidade de Estudos 7 - Atuação do
psicólogo na promoção da saúde e
do bem-estar no trabalho
Apresentação
O trabalho é central e ocupa muito tempo e energia na vida das pessoas. Assim como pode
significar prazer e realização, pode transformar-se em uma fonte de sofrimento e adoecimento.
Essa não é uma dicotomia, pois o trabalho causa muitos sentimentos intercalados ou sobrepostos,
mas, quando envolve realização, tende a ser mais prazeroso e, quando não motiva ou satisfaz,
tende a ser desgastante. Quando passa a ser unicamente fonte de sustento, o trabalho provoca
alienação e desgaste físico e mental, uma vez que não permite a economia somatopsicológica,
integração entre mente e corpo (DEJOURS, 1987).
A psicologia pode auxiliar no bem-estar no trabalho — seja de forma direta, com acompanhamento
de trabalhadores e grupos em sofrimento ou conflito, seja de forma indireta, trabalhando com
gestores na construção de um ambiente de trabalho mais adequado. Será ainda melhor se a
psicologia puder atuar em ambas as frentes, tendo uma visão do todo e das possibilidades de
encontro entre as diferentes camadas e interesses de trabalhadores e organizações. São inúmeras
as possibilidades de atuação do psicólogo na busca do bem-estar no trabalho — por meio de
pesquisas, do desenvolvimento de ferramentas de diagnóstico e da condução de processos de
gestão de pessoas inclusivos e qualificantes.
Bons estudos.
No campo do trabalho, as emoções podem ser estudadas de diferentes maneiras, mesmo que elas
estejam interrelacionadas entre si. Um campo interessante de estudo é o que relaciona as relações
interpessoais, uma vez que essa é uma situação própria nas relações de trabalho, sobretudo quando
se fala do profissional de psicologia no trabalho em busca da promoção do bem-estar e da saúde
das pessoas.
No Infográfico a seguir, você vai compreender um pouco mais essas interações e os níveis que
abordam os relacionamentos entre pessoas, com foco nas expressões e nas manifestações
emocionais envolvidas nas interações, o que demanda autorregulação por parte dos envolvidos.
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Conteúdo do Livro
As pessoas dedicam muita energia ao trabalho, e isso, ao mesmo tempo que recompensa
psicologicamente, pode gerar sofrimento e adoecimento. Daí a importância da atuação do
psicólogo no ambiente laboral, onde desempenha inúmeras funções. As mais conhecidas são
relacionadas a suas funções como integrante do Departamento de Recursos Humanos, hoje mais
conhecido como Departamento de Gestão de Pessoas.
Boa leitura.
PSICOLOGIA
Atuação do psicólogo
na promoção da
saúde e do bem-
estar no trabalho
Maria Beatriz Rodrigues
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
> Explicar de que forma a psicologia, como ciência, pode promover a saúde e
o bem-estar dos indivíduos.
> Identificar atividades e ações do profissional de psicologia que promovem
o bem-estar e a saúde no trabalho.
> Exemplificar a intervenção psicológica no contexto organizacional com foco
em promover bem-estar e saúde no trabalho.
Introdução
A psicologia como prática profissional, amparada por seus estudos científicos,
é realizada em vários âmbitos, que normalmente são inseridos em três amplas
classificações: clínica, educação e trabalho. Porém a atuação do psicólogo é
cada vez mais solicitada em áreas profissionais diferentes, como esportes, co-
municação, comunidades, saúde em geral, entre outras. Independentemente do
local onde atua, a pedra fundamental do trabalho do psicólogo é a busca pela
saúde emocional (e, por consequência, física) dos sujeitos. De fato, a busca pela
saúde precisa estar presente nos locais onde as pessoas circulam e convivem,
não apenas em consultórios e clínicas de psicoterapia.
2 Atuação do psicólogo na promoção da saúde e do bem-estar no trabalho
1. neuroticismo;
2. extroversão;
3. abertura à experiência;
4. amabilidade;
5. conscienciosidade.
Figura 2. Operação do sistema da personalidade de acordo com a teoria dos cinco fatores. As
setas indicam a direção das influências causais, que operam por meio de processos dinâmicos.
Fonte: Adaptada de McCrae e Costa Jr. (1996).
mais críticos às relações entre capital e trabalho. Por sua vez, a psicopatologia
do trabalho, proposta por Christophe Dejours (1949-), é uma teoria muito
valorizada até hoje e que aborda as diversas vivências (insegurança, medo,
precariedade e repetição) que fazem parte do cotidiano laboral e impactam
de diferentes formas o corpo e a mente dos sujeitos. Ademais, temas como
estresse, burnout, assédio moral e sexual, capacitismo, racismo, sexismo,
homofobia, etc., têm sido frequentes nos estudos organizacionais. O campo
de estudos é amplo e adaptável às novas exigências sociais, mas o foco na
saúde e no bem-estar no trabalho é consensual entre as diferentes abordagens
(ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2014).
Nesta seção, você leu a respeito de algumas concepções sobre saúde e
bem-estar no ambiente laboral. O foco foi na história atual e nos estudos
conhecidos a respeito da psicologia no trabalho. Algumas abordagens foram
apenas mencionadas, então o leitor deve buscar maior aprofundamento, a
depender de seus interesses e crenças. O tema é amplo, assim como existem
muitas formas de abordá-lo. Na próxima seção, o enfoque será nas atividades
práticas que podem fazer parte do repertório do psicólogo no ambiente de
trabalho.
1. levantamento de necessidades;
2. planejamento;
3. execução;
4. avaliação.
Se uma ação de TD&E é realizada sem que haja uma demanda efetiva
que a motive, sua execução e sua avaliação podem ser impactadas. Além
da perda de recursos econômicos, um treinamento que não vá ao encontro
das expectativas e necessidades pode gerar frustrações e ser mal avaliado
pelos envolvidos. A escolha de professores adequados e de objetivos claros
a partir do levantamento de necessidades e de avaliação constante pode
favorecer o atingimento das expectativas e corrigir rotas em casos de críticas
(BORGES-ANDRADE et al., 2013).
Referências
BARRETO, L. C.; EUCLIDES, M. S.; HERNECK, H. R. “É só uma brincadeira!”: estudantes
negras e assédio nas universidades. Revista de Ciências Humanas, v. 2, n. 21, p. 118-
132, 2021.
BONOTTO, R. et al. Oportunidades de aprendizagem com apoio da comunicação au-
mentativa e alternativa em tempos de Covid-19. Revista Ibero-Americana de Estudos
em Educação, v. 15, n. 4, p. 1730-1749, 2020.
BORGES, L. O.; CARVALHO, V. Tutorização organizacional de novos empregados. In:
BORGES, L. O.; MOURÃO, L. (org.). O trabalho e as organizações: atuações a partir da
psicologia. Porto Alegre: Artmed, 2013. cap. 14.
Atuação do psicólogo na promoção da saúde e do bem-estar no trabalho 15
Leituras recomendadas
CAMPOS, K. et al. Psicologia organizacional e do trabalho: retrato da produção científica
na última década. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 31, n. 4, 2011.
GAULEJAC, V. Gestão como doença social. Aparecida: Ideias & Letras, 2007.
PUENTE-PALACIOS, K.; PEIXOTO, A. L. A. (org.). Ferramentas de diagnóstico para organi-
zações e trabalho: um olhar a partir da psicologia. Porto Alegre: Artmed, 2015.
16 Atuação do psicólogo na promoção da saúde e do bem-estar no trabalho
Nesta Dica do Professor, você vai ver uma categoria de problemas laborais chamada de violência
no trabalho, que passa por ações isoladas de incivilidade, até atuações de desrespeito mais sérias e
repetidas nos ambientes de trabalho. Alguns exemplos são o assédio moral e o burnout. O primeiro
é favorecido por relações perversas de trabalho, em que um sujeito ou grupo escolhe outro para
boicotar e cometer repetidas ações de desrespeito a ponto de o sujeito assediado adoecer. Já o
burnout é favorecido pelo tipo de gestão ou organização do trabalho que sobrecarrega os sujeitos,
que são acometidos por sensações de esgotamento e despersonalização. Esses são conhecimentos
essenciais para que o psicólogo possa monitorar e intervir nas relações de trabalho de modo a
acolher e coibir atitudes dessa natureza.
No vídeo abaixo você verá mais sobre a atuação do psicólogo em contextos de violência no
trabalho.
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Exercícios
1) Para o estudo das emoções de trabalho, é proposta uma sistematização didática com base na
noção de níveis. É possível encontrar essa subdivisão em quatro níveis de estudo sobre as
emoções no trabalho.
O terceiro nível tem como foco os “grupos” corriqueiramente presentes nos contextos
organizacionais. Considerando que as relações impactam diretamente o bem-estar e o
desempenho dos trabalhadores, leia as afirmativas a seguir:
I. O humor do líder tem influência nos membros de sua equipe de trabalho e, de certa forma,
tem impacto direto nos processos internos do grupo, ou seja, está relacionado ao conceito
de humor do grupo, o que contribui para a composição afetiva deste.
II. O humor do grupo pode estar associado à inteligência emocional dele. Um grupo em que
grande parte dos membros se caracteriza por elevados índices de inteligência emocional tem
influência das trocas interpessoais e da aprendizagem no comportamento grupal, assim
como na sua efetividade no trabalho.
A) I.
B) I, II e III.
C) I e II.
D) I e III.
E) II e III.
2) No que diz respeito às relações do trabalho, a teoria das trocas líder-membro, também
conhecida como teoria do vínculo vertical diádico, é muito utilizada e reconhecida nos
estudos que envolvem os grupos. Sabe-se da importância da comunicação por parte do líder
no que tange ao gerenciamento e à expressão emocional de sua equipe de trabalho.
Trocas ocorrem nas relações entre líder e membros de confiança do grupo (in group) para os
quais são atribuídas responsabilidades e estabelecidos acordos, diferenciando-os dos
membros fora do grupo (out group). A construção da relação entre líder e membros do grupo
passa por três estágios.
I. Avaliação inicial, que define uma qualidade de relação cujos aspectos afetivos são
essenciais.
II. Processo de construção de um vínculo, em que o líder testa a avaliação inicial e define se
o novo membro pertencerá ao in group ou ao out group.
III. Consolidação do vínculo, que permite ao líder conhecer o membro e avaliar suas
potencialidades.
A) I, II e III.
B) II e III.
C) I e III.
D) I.
E) II.
A) I e II.
B) II.
C) I, III e IV.
D) II e III.
A) I e III.
B) I, II e III.
C) I.
D) II.
E) III.
III. A satisfação geral com a vida é a avaliação global que a pessoa faz de sua vida,
constituindo-se em um componente de felicidade e na dimensão mais afetiva do
funcionamento mental positivo.
A) I, II e III.
B) I.
C) II.
D) III.
E) I e III.
Na prática
O trabalho é um aspecto central na vida da maioria das pessoas, pois está relacionado a questões
de subsistência, como sustento financeiro e acesso a bens materiais, bem como à formação da
identidade e de relacionamentos interpessoais. Pode ser tanto fonte de sofrimento e adoecimento
quanto de saúde mental.
Neste vídeo, você vai aprender mais sobre a abordagem da psicodinâmica do trabalho e como pode
utilizá-la para guiar sua atuação em organizações e instituições com vistas ao fortalecimento da
saúde mental das pessoas.
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As empresas são formadas por pessoas que produzem e se relacionam, ou seja, elementos de
grande relevância para o funcionamento e o sucesso do trabalho. São as pessoas que tornam
possíveis os processos e que alcançam os resultados. Entender e aprimorar a relação entre os
trabalhadores, bem como promover a saúde laboral, é essencial para o sucesso da empresa.
Neste Na Prática, você vai compreender por que o psicólogo é um dos profissionais imprescindíveis
na garantia dessa equação ao lidar com pessoas e tarefas.
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Saiba mais
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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Apresentação
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar sobre a crise na psicologia social, fará uma
reflexão sobre o conceito de comunidade e entenderá a prática da psicologia social comunitária.
Bons estudos.
A comunidade, seja ela geográfica (bairro ou cidade) ou psicossocial (colegas de escola ou trabalho),
é onde vivemos grande parte da vida. Todavia, o conceito de comunidade utilizado pela psicologia
social comunitária é para além de viver ou conviver no mesmo espaço geográfico ou psicossocial:
refere-se a uma metodologia de trabalho que deve identificar as necessidades vividas por um
determinado grupo/comunidade. Diante dessas necessidades, promover, por meio de intervenções
grupais, o desenvolvimento de uma conscientização coletiva e que, desse modo, esses grupos
possam assumir a autonomia, conscientes dos determinantes sociopolíticos de sua situação. Faça a
leitura do capítulo Psicologia comunitária, do livro Psicologia Social, base teórica desta Unidade de
Aprendizagem, e conheça o potencial da psicologia social comunitária na intervenção de grupos
populares.
Boa leitura.
Revisão técnica:
Caroline Bastos Capaverde
Graduada em Psicologia
Especialista em Psicoterapia Psicanalítica
ISBN 978-85-9502-524-0
Introdução
A psicologia comunitária é um ramo da psicologia social e se constitui na
resolução dos problemas sociais nas comunidades. A psicologia comunitária
busca trabalhar com sujeitos sociais em condições específicas, atentando
para as suas respectivas individualidades. Seus objetivos se referem à me-
lhoria das relações entre os sujeitos e entre estes, a natureza e instituições
sociais ou o seu empoderamento. Nessa perspectiva está todo o esforço para
a mobilização das comunidades na busca de melhores condições de vida.
A psicologia social constitui e é constituída por uma diversidade de
saberes que estimulam a problematização dos modos de viver, como as
representações sociais, os grupos e as instituições. Os campos problemá-
ticos criados a partir dos desdobramentos da psicologia social abriram
espaço para uma atuação mais efetiva da psicologia social.
Neste capitulo, você estudará sobre a crise na psicologia social, poderá
fazer uma reflexão sobre o conceito de comunidade e entenderá a prática
da psicologia social comunitária.
Implicações e atravessamentos
da crise na psicologia social
A psicologia social experimental empírico-analítica é uma abordagem da psicolo-
gia social que utiliza o método empírico analítico como ferramenta para estudar
os fenômenos observáveis do comportamento dos sujeitos e das sociedades. E
2 Psicologia comunitária
No Brasil, o golpe militar de 1964 teve influência especial na crise da psicologia social e
posterior ao surgimento da psicologia social comunitária. A década de 1960 foi marcada
por extrema repressão e violência, que promoveram um desconforto e uma comoção
aos psicólogos sociais, que passaram a questionar seu papel como produtores de
consciência e organização na sociedade (CAMPOS, 2001).
Comunidade
O termo comunidade se expressa tanto como um estado, no sentido do que é
comum ou está em concordância, como em um lugar, assumindo um sentido
de coletividade, corpo social. Assim, comunidade se assume tanto como
identidade em uniformidade e harmonia, como em conjunto, união de sujeitos
com interesses semelhantes, similarizando conceitualmente com povo, nação,
confraria, cultura (ARENDT, 1997).
4 Psicologia comunitária
Leituras recomendadas
ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1972
CASTORIADIS, C. A instituição imaginária da sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
FOUCALT, M. Microfisica do poder. 9. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1990.
GUATTARI, F. Caosmose: um novo paradigma estético. São Paulo: Ed. 34, 1993.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
Dica do Professor
Neste vídeo, você vai conhecer a dimensão política na comunidade e a importância dos líderes
comunitários para o trabalho do assistente social na comunidade.
Assista!
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Exercícios
A) Analítica institucional.
B) Empirista.
C) Institucional.
D) Experimental.
E) Analítica.
C) Um espaço criador de identidade, um campo relacional e histórico, onde é possível que cada
membro expresse a totalidade.
A) Transicionais.
B) Psicológicas.
C) Organizacionais.
D) Interpessoais e intergrupais.
E) Institucionais.
Na prática
Na cidade de Porto Alegre, alguns bairros são conhecidos por terem uma forte organização
comunitária — comunidades que conseguiram o desenvolvimento local por meio da força e
organização do coletivo.
Dentre esses exemplos, podemos citar a Vila Dique, localizada próximo ao aeroporto de Porto
Alegre, que hoje encontra-se em parte reassentada em outro loteamento, Porto Novo. A vila Dique
nasceu em 1950, às margens do Aeroporto Internacional Salgado Filho e cresceu em número de
famílias e em estrutura nas décadas de 80 e 90.
Com a ampliação do aeroporto (2011), a remoção das famílias iniciou, com modificações
importantes nas vidas dos moradores. Também, foram removidos os serviços que lá estavam e que
estabeleciam uma relação de mais de 18 anos com a comunidade nesse território.
Atualmente, parte da população está no novo território e, outra, na antiga Vila Dique — esta segue
sua luta coletiva por moradia digna, acesso a ônibus, escola e unidade de saúde, para que a
população possa receber assistência.
São realizadas, pela comunidade, assembleias para decidirem coletivamente quais serão os
próximos passos das suas reivindicações. Independentemente se a família foi ou não removida para
o novo loteamento, a luta é de todos, isto é, a consciência coletiva é maior que as necessidades
individuais.
Saiba mais
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Unidade de Estudos 9 - A psicologia
da saúde: aspectos teóricos e
campo de atuação
Apresentação
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar o campo de atuação da psicologia da saúde,
conhecer o modelo de Urie Bronfenbrenner e refletir sobre as principais tendências para estudos e
práticas nessa área.
Bons estudos.
A psicologia do desenvolvimento é uma área que estuda os principais aspectos que influenciam as
habilidades básicas do ser humano, como a cognição, a aprendizagem, a percepção, a linguagem, o
pensamento, entre outros. São os aspectos que conformam o ser humano. As teorias
comportamentais, construtivistas, a Gestalt e a fenomenologia estudam esses aspectos do
desenvolvimento.
O modelo de desenvolvimento de Urie Bronfenbrenner faz uma ruptura com a definição dessas
habilidades básicas propostas pelas teorias clássicas e recentemente, na área da saúde, vem
influenciando estudos por ser um modelo sistêmico e pragmático.
Neste Infográfico, você vai ver como funciona esse sistema e como pode ser aplicado aos campos
de atuação da psicologia da saúde.
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Conteúdo do Livro
A psicologia da saúde é um campo de atuação que começou a ser definido na década de 1970.
Portanto, trata-se de um campo relativamente novo de estudos e práticas de profissionais de
psicologia no contexto da saúde.
Bons estudos.
PSICOLOGIA
APLICADA
AO CUIDADO
Introdução
A psicologia é um campo de estudo muito antigo, a qual existia mesmo
quando o conjunto de processos psíquicos eram considerados alma,
espírito e mundo das ideias. Em épocas remotas, é provável que o caráter
psicológico, como o descrevemos hoje, não tenha sido atribuído aos estu-
dos e práticas do pensamento e dos ânimos relacionados ao ser humano
em virtude de fazer parte das crenças e dos assuntos filosóficos. Por ser
difícil a apreensão de sua totalidade e materialidade, a psicologia tornou-
-se, aos poucos, um campo vasto, obscuro, diversificado e divergente.
No entanto, apesar de a história da psicologia remontar à Antiguidade
em diversos tipos de culturas, autores modernos consideram o início da
psicologia como ciência a partir da inauguração do primeiro Instituto de
Psicologia, em 1879, em Leipzig, na Alemanha, por Wilhelm Wundt. De lá
para cá, várias correntes de pensamento, teorias e metodologias surgiram
para tentar dar conta de explicar os fenômenos desse amplo campo de
estudos, indo das mais tradicionais, como a psicologia experimental,
a psicologia cognitiva e a psicanálise, até as mais modernas, como a
psicolinguística, a psicopedagogia e a psicologia da saúde, senda esta
última o tema deste capítulo.
2 A psicologia da saúde: aspectos teóricos e campo de atuação
A psicologia humanista
A psicologia humanista surgiu no século XX (GOMES; HOLANDA; GAUER,
2004), amparada por um movimento social mundial de valorização da vida
de cada ser humano, que culminou na redação da Declaração Universal dos
Direitos do Homem e na criação da Organização das Nações Unidas (ONU),
em 1948, concretizando, juridicamente, o Humanismo enquanto campo que
toma o homem como um ser autônomo e consciente de si.
Nos Estados Unidos, entre 1930 e 1950, vários estudiosos das mais célebres
universidades, como Maslow, Allport, Murphy e Rogers, abriram espaço para
a definição de uma humanização do saber sobre o homem, a saúde e o bem-
-estar, criticando o modelo determinista biológico. Nessa época, a psicologia
humanista acreditava que o desenvolvimento era possível por meio das rela-
ções interpessoais que os seres humanos apresentam durante a vida. Maslow
destacava a importância da re-humanização da ciência; Murphy apelava
para um direcionamento do enfoque para as questões biossociais do homem;
Allport via o homem como um organismo ativo e acreditava no conceito de
motivos fundamentais, que orientam o homem para o futuro; e Rogers definiu
três níveis de intervenção do psicólogo humanista: na educação, no trabalho
organizacional e na psicoterapia. Este último inaugurou a psicoterapia centrada
na pessoa, destacando a importância central da terapia no cliente, e não na
figura do analista, não mais dando destaque à transferência psicanalítica.
No Brasil, a psicologia humanista foi inaugurada em 1970, com base nas
traduções dos estudos de Carl Rogers, na definição do aconselhamento psi-
cológico e na psicologia humanista existencial.
O texto Psicologia Humanista no Brasil (GOMES; HOLANDA; GAUER, 2004), além da história
da psicologia humanista no Brasil, trata da criação da influência da abordagem centrada
na pessoa de Carl Rogers, das vertentes que compunham os estudos e as metodologias
e do que ainda vigora em termos de prática nas diversas áreas aplicadas à psicologia.
4 A psicologia da saúde: aspectos teóricos e campo de atuação
Como visto, a partir da década de 70, houve uma grande expansão teórico-
-metodológica no campo da psicologia voltada para a área da saúde. A me-
dicina social, que vigorava desde a época inicial da Revolução Industrial, e
outras correntes que configuram o abrangente e polêmico campo de atuação
em psicologia aplicada à saúde apresentavam características comuns, no
sentido de serem tentativas de romper com o antigo modelo mecanicista
hegemônico da concepção de saúde, mas também apontavam divergências
de posicionamento, terapêuticas, concepções teóricas e práticas de atuação
nas instituições de saúde.
A medicina social surgiu como uma forma de controle da população, com
base na articulação entre medicina e estado, com o capitalismo em plena as-
censão. Estava estritamente articulada com a medicina do trabalho. Segundo
Foucault (1988 apud MONTAGNER, 2008), a medicina social seria resultado
do desenvolvimento de técnicas, maneiras e saberes cujo objeto é o mundo
social. Assim, como tecnologia aplicada às sociedades, ela surgiu como controle
dos modos de viver dos indivíduos, uma espécie de vigilância que atrelava o
saber médico ao social. Segundo Montagner (2008, p. 195), a aplicação dessa
ideia seguiu várias direções, adaptando-se “[...] às condições políticas, sociais
e econômicas de cada país onde tomava corpo [...]”.
No Brasil, a psicologia social se dividiu em diversos tipos de abordagem,
como a epidemiologia, a vigilância em saúde e a saúde coletiva. Além da ex-
pansão da medicina social, que abriu espaços para a concepção e a construção
de práticas psicológicas no campo da saúde, pode-se destacar outras principais
linhas de pesquisa da psicologia que influenciaram modelos e campos de
atuação em saúde: psicologia social, psicologia comportamental, psicologia
fenomenológica existencial e psicanálise.
Orientados por esses campos mais amplos da psicologia, novos movimentos
e tendências nas áreas médicas e de psicologia surgiram. É possível identificar
quatro modelos teórico-metodológicos de atuação em psicologia da saúde a
partir da década de 70: medicina comportamental, medicina psicossomática,
psicologia médica e psicologia hospitalar. Além disso, na prática, são utili-
zados diversos métodos aplicáveis aos estudos e práticas em psicologia da
saúde, métodos estes oriundos da sociologia, da filosofia, da antropologia,
da medicina, da psiquiatria, entre outros.
A psicologia da saúde: aspectos teóricos e campo de atuação 7
O ambiente ecológico [...] deve ser concebido topologicamente como uma or-
ganização de estruturas concêntricas, cada uma contida na seguinte” (BRON-
FENBRENNER, 1996 p.18). Esse conjunto de estruturas, que no dizer do autor
parece lembrar um jogo de bonecas russas encaixadas uma dentro da outra,
interferem mutuamente entre si e afetam conjuntamente o desenvolvimento
da pessoa. Cada uma das estruturas é chamada pelo autor de: micro-, meso-,
exo- e macrossistema (MARTINS; SZYMANSKI, 2004, p. 64–65).
Macrossistema
Exossistema
Mesossistema
Microssistema
Considerando tudo o que foi discutido até aqui sobre o conceito ampliado
de saúde, que não mais restringe a pessoa enferma a um corpo biológico
e às causas físico-patológicas de sua doença, e o modelo bioecológico de
Bronfenbrenner, pode-se compreender por que tantos autores que trabalham
em saúde pública e em psicologia da saúde vêm utilizando cada vez mais esse
modelo para sua prática, suas pesquisas, seus estudos e revisões políticas, até
mesmo na gestão em saúde.
Ao comparar o conceito ampliado de saúde — que defende que o ser
humano tem de ser pensado em uma rede de necessidades básicas humanas
que influenciam diretamente sua saúde e qualidade de vida, como habitação,
transporte público, acesso à cultura, entre outros —, o modelo bioecológico
— que defende que o ser humano se desenvolve em uma rede de inter-relações
que estabelece com os níveis de ambientes (familiar, escolar, estatal e cultural)
— e os processos proximais — que definem suas posturas e ações frente à
A psicologia da saúde: aspectos teóricos e campo de atuação 13
Medicina psicossomática
A medicina psicossomática aparece como uma especialidade médica, de-
bruçando-se sobre doenças determinadas por fatores emocionais, mas que
podem ser compreendidas à luz do trabalho analítico. Segundo Eksterman
(1975 apud ALMEIDA; MALGRIS, 2011), é possível resumir a medicina
psicossomática em alguns aspectos fundamentais: a doença é estudada em sua
dimensão psicológica, o que pode ser conseguido por meio da interpretação
dos conflitos inconscientes; o médico, psiquiatra, psicanalista ou psicólogo
A psicologia da saúde: aspectos teóricos e campo de atuação 15
O livro Psicossomática hoje, do autor Mello Filho e Burd (2009), um dos precursores
da corrente no Brasil, contempla reflexões que explicam a formação do campo da
psicossomática no Brasil, bem como o que orienta as práticas dos psicólogos na saúde.
Psicologia médica
A psicologia médica é inaugurada pelo psicanalista húngaro Balint, também
preocupado com a relação médico-paciente. Nessa linha, Schneider (1971
apud ALMEIDA; MALAGRIS, 2011), o médico/psicanalista se preocupa com
a relação médico-paciente. Mello Filho e Burd (2009) afirma que a psicolo-
gia médica desvia o foco da patologia (doença) em direção à terapêutica, à
atuação clínica. O autor afirma, ainda, que esse é um campo de estudo sobre
as relações humanas, visando à compreensão do homem em sua totalidade.
O saber do médico permanece no comando, o qual, por meio da sua terapêutica,
desvelará o diálogo mente-corpo no processo do adoecimento. Nesse sentido,
os demais profissionais de saúde estão apenas assistindo o médico, pois é o
saber médico que determina toda a linha terapêutica.
Segundo Brandt (2009, p. 51), “Balint adotava em sua clínica psicanalítica
um posicionamento de disponibilidade além do que era comum nos analistas
[...]”. Este enfoque também era defendido por Ferenczi: o paciente considerado
“difícil”, regredido, não pode ser alcançado no nível da linguagem adulta, que
prevalece no complexo de Édipo. Essa regressão básica aparece no nível da
linguagem próxima ao mundo das sensações e dos afetivos, ao passo que a
linguagem adulta soa enigmática, uma linguagem comparada com a de um bebê
que busca satisfação e com a da mãe, que também se satisfaz com essa relação.
Segundo o autor, na contramão da clínica individual proposta por Balint,
alguns adeptos criaram trabalhos em grupo. Brandt (2009) defende que o
trabalho grupal, fundamentado na contratransferência da figura do relator
como um terceiro ausente, que possibilita um insight, a compreensão das
formas de relacionamento no grupo.
A psicologia da saúde: aspectos teóricos e campo de atuação 17
Medicina comportamental
Segundo Almeida e Malgris (2011), a medicina comportamental é uma ciência
da saúde que se utiliza de técnicas de modificação de comportamento para a
prevenção, o tratamento e a reabilitação da saúde. Afirma-se que grande parte
das doenças estão associadas a comportamentos disfuncionais (maus hábitos).
Segundo Neves Neto (2004 apud ALMEIDA; MALGRIS, 2011), as linhas
de pesquisa da medicina comportamental se aplicam à cognição, à emoção
e ao comportamento humano. O autor defende, ainda, que os métodos das
teorias psicodinâmicas não são pragmáticos (úteis, relevantes e aplicáveis na
realidade), uma vez que os processos saúde e doença são determinados por
múltiplos fatores.
A medicina comportamental aposta na intervenção interdisciplinar nas
práticas em saúde, uma vez que o ser humano é visto como um sujeito biop-
sicossocial, em que o biológico é o somático, o psicológico, o comportamento,
e o social, o ambiente externo. Barletta (2010) caracteriza que o campo da
medicina comportamental surgiu com Schwartz e Weiss, em 1977. Segundo a
autora, a medicina comportamental tem por base “o estudo do comportamento
e foca na avaliação, tratamento e prevenção de doenças físicas e disfunções
fisiológicas”. A autora defende, ainda, que esse pensamento não aceita a di-
cotomia mente e corpo, entendendo o homem como um todo. Vários estudos
em medicina comportamental apontam para a relação entre comportamentos
inadequados, estilos de vida e problemas de saúde.
Matarazzo (1984 apud BARLETTA, 2010) define os comportamentos
de saúde de duas formas: alguns comportamentos são prejudiciais à saúde
(patogênicos); outros como comportamentos são de proteção à saúde. Além
disso, existem duas fontes de respostas psicológicas que influenciam os com-
portamentos saudáveis: uma direta, agindo para aumentar as habilidades de
enfrentar e manejar o estresse, a favor da proteção à saúde; e outra indireta,
a mediação cognitiva, que pode ocorrer nas tomadas de decisão e nos com-
portamentos de aceitação e adesão aos tratamentos.
As práticas em psicologia da saúde com base na medicina comportamental
aumentaram muito nos últimos anos, concorrendo com as práticas psicoterá-
picas de orientação psicanalítica e psicossomática.
18 A psicologia da saúde: aspectos teóricos e campo de atuação
Psicologia hospitalar
A psicologia hospitalar é muito praticada no Brasil e possui diversas abor-
dagens. Segundo o Conselho Federal de Psicologia (2010 apud ALMEIDA;
MALGRIS, 2011), o psicólogo hospitalar atua nos níveis secundários e ter-
ciários nas instituições de saúde, realizando atendimento individual ou em
grupo e pronto-atendimento em ambulatório, enfermarias, unidades de terapia
intensiva, psicodiagnóstico, consultoria e interconsulta.
Segundo Simonetti (2004 apud ALMEIDA; MALGRIS, 2011), a psi-
cologia hospitalar é considerada um campo científico de intervenção nos
aspectos psicológicos em torno do adoecimento ou da dimensão afetiva/
emocional relacionada a uma enfermidade. Pode ser considerada uma es-
pecialidade que atua segundo sua prática psicológica não só com pacientes,
mas também junto aos familiares e com a equipe multiprofissional. Segundo
Bruscato (2004 apud ALMEIDA; MALGRIS, 2011), o psicólogo que atua no
ambiente hospitalar deve resgatar a singularidade do paciente em situação
de enfermidade.
Mattos (1999) defende que o trabalho do psicólogo clínico no hospital geral
é oferecer escuta à subjetividade do paciente, que se encontra pulsante no
contexto da internação, mas que geralmente é silenciado pelo saber médico,
um saber que se acerca do corpo fisiológico. Além disso, o psicólogo hospitalar
trabalha na recuperação da saúde, em um trabalho interdisciplinar, podendo
oferecer escuta diferenciada também à família.
Romano e Ismael (1999, 2005 apud ALMEIDA; MALGRIS, 2011, p. 195)
afirmam que “[...] o psicólogo ainda deve conhecer a doença do paciente
a quem ele presta atendimento, além de sua evolução e prognóstico [...]”.
De acordo com essa concepção, o profissional deve acompanhar a evolução
do paciente quanto aos aspectos emocionais trazidos pela situação do ado-
ecimento. Além disso, pode atuar educando e conscientizando o paciente
e a família sobre o contexto da doença e as formas de tratamento. Dessa
forma, o trabalho do psicólogo junto a equipe de saúde é facilitar as relações
equipe/paciente/família.
A psicologia hospitalar sofre críticas com relação à sua terminologia,
pois não abrange uma concepção de campo de saber, e sim apenas um local
de atuação. Além disso, muitas linhas de pesquisa confrontam suas teorias e
práticas, não havendo um consenso quanto aos procedimentos terapêuticos e
às abordagens metodológicas.
A psicologia da saúde: aspectos teóricos e campo de atuação 19
Assim, o que se pode afirmar sobre a prática do hospitalar é que ela busca
atender os pacientes submetidos a procedimentos médicos, visando à promoção
e à recuperação da saúde física e mental. Além disso, atua em instituições de
ensino superior, centros de estudo e pesquisa, em busco do aperfeiçoamento
de profissionais ou da complementação profissional de quem trabalha na área
da saúde.
Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
Dica do Professor
Nesta Dica do Professor, você vai saber como se formou a psicologia da saúde no Brasil e algumas
atividades práticas profissionais.
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Exercícios
E) fornecer formação necessária aos diversos profissionais que trabalham no campo da saúde
para que possam realizar sua prática de forma ética.
A) Apenas no microssistema.
B) No macrossistema e no mesossistema.
C) No mesossistema e no exossistema.
D) No microssistema e no mesossistema.
E) No microssistema e no macrossistema.
5) Atualmente, o psicólogo que atua na área da saúde no Brasil no nível de assistência terciário
provavelmente vai trabalhar dentro da concepção teórico-metodológica da psicologia
hospitalar. Porém existem diversos modelos de práticas que acabam sofrendo crítica sobre o
fato de a corrente representar apenas a indicação de um lugar de trabalho. Sobre a atuação
da psicologia da saúde nos espaços hospitalares, podemos afirmar que a função do psicólogo
é:
D) atuar nos ambulatórios, enfermarias cirúrgicas, unidades de terapia intensiva, entre outros,
apenas individualmente.
Neste Na Prática, você vai ver um caso clínico em que os mecanismos transferenciais foram
analisados durante o trabalho de um psicólogo em um ambulatório hospitalar.
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Saiba mais
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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Apresentação
O mundo das organizações vem sendo impactado pelas rápidas mudanças que ocorrem no mundo,
fazendo com que as empresas atuem em um ambiente cada vez mais incerto e dinâmico, marcado
pela alta competitividade e pela necessidade de constante adaptação para sua sobrevivência. Nesse
cenário, há uma forte exigência e pressão sobre os trabalhadores que necessitam se atualizar
continuamente e têm sobre suas costas o peso da responsabilidade pelos resultados positivos das
empresas.
Bons estudos.
Com a crescente pressão sobre as empresas e os trabalhadores e com a complexidade que envolve
o trabalho atualmente, torna-se cada vez mais imprescindível monitorar o ambiente de trabalho,
visto que é crescente o aumento de doenças relacionadas a ele.
No capítulo Síndrome de burnout, do livro Qualidade de Vida e Segurança no Trabalho, você verá o
trabalho na contemporaneidade, o conceito, as causas e os principais sintomas da síndrome de
burnout e como a psicologia organizacional e a gestão de pessoas podem atuar para prevenir o
adoecimento relacionado ao trabalho.
Boa leitura.
QUALIDADE DE VIDA
E SEGURANÇA NO
TRABALHO
Introdução
O excesso de trabalho, a falta de reconhecimento pelo trabalho realizado,
problemas com a liderança, trabalhos sem significado e ambiente de
trabalho instável, somados à grande pressão por qualificação, produtivi-
dade e aquisição de novas competências e habilidades, vêm abalando a
estabilidade emocional dos trabalhadores, impulsionando o surgimento
do estresse e da síndrome de burnout, que, se prolongados, podem gerar
outros problemas de saúde, inclusive, a depressão.
Neste capítulo, você vai estudar sobre o trabalho na contemporanei-
dade, conhecerá o conceito, as causas e os principais sintomas da síndrome
de burnout e vai conhecer como a psicologia organizacional e a gestão de
pessoas podem atuar para prevenir o adoecimento relacionado ao trabalho.
O trabalho na contemporaneidade
As transformações pelas quais o mundo vem passando têm provocado mu-
danças na vida das pessoas, nas sociedades e no mundo das organizações e do
trabalho. No século XVII, com o surgimento da burguesia, que se dedicava
ao comércio, o sentido do trabalho começa a ser modificado — até então,
trabalho era considerado como uma atividade inferior destinada aos escravos.
Os avanços científicos ocorridos nesse período, a transição do feudalismo
para o capitalismo e as consequências decorrentes desses eventos fazem o
2 Síndrome de burnout
Nesse contexto, os trabalhadores vêm sendo cada vez mais cobrados pelas
organizações, visto que, para acompanhar as novas exigências que lhes são
requeridas, precisam qualificar-se mais, dedicar-se mais e envolver-se com o
trabalho que realizam. Dessa forma, o trabalho assume cada vez mais impor-
tância e significado na vida dos trabalhadores, visto que estes passam a maior
parte de seu tempo nas empresas e menos tempo com suas famílias. Assim,
é importante destacar que o trabalho, além de ser um fator de equilíbrio e
desenvolvimento pessoal, pode ser também um fator de deterioração física e
psíquica (DEJOURS; DESSORS; DESRIAUX, 1993).
Síndrome de burnout
Você viu que o trabalho, além de ser um meio de sobrevivência, é uma forma de
as pessoas se realizarem profissionalmente e pessoalmente, além de um meio de
reconhecimento e aceitação social. Ou seja, o trabalho é algo fundamental para
a existência humana, uma vez que é por meio da remuneração recebida que as
necessidades humanas de alimentação, moradia, educação, bem-estar social, entre
outras, são satisfeitas. Dessa forma, o trabalho é um elemento crítico que contribui
para o autoconceito e para a identidade pessoal (FERREIRA; LUCCA, 2015).
Nesse sentido, é importante ter em mente que um trabalho só possui signi-
ficado para um indivíduo se gerar algum valor que ele possa perceber, ou seja,
se contribui para seu crescimento profissional ou pessoal; se o resultado do
trabalho é relevante; se oferece benefícios em relação ao ambiente empresarial,
etc. O sentido que o indivíduo dá a seu trabalho, isto é, a forma como ele
trabalha e o que produz com seu trabalho, afeta-o diretamente, não somente
no ambiente de trabalho, mas fora dele também, gerando impacto sobre seu
pensamento, liberdade, consciência, comportamento e independência. Isso
significa que um trabalho que não gera qualquer interesse no trabalhador e
Síndrome de burnout 7
O neuroticismo é um dos cinco traços da teoria dos traços que constituem a persona-
lidade de um indivíduo e refere-se ao nível crônico de desajustamento e instabilidade
emocional. Os demais traços são a extroversão, a abertura para experiência, a amabi-
lidade e a consciência (PERVIN; JOHN, 2013).
A síndrome de burnout é muitas vezes confundida com estresse, o que pode dever-se
ao fato de que os sintomas do estresse estão presentes nessa síndrome (MERZEL, 2019).
Outro aspecto que deve ser destacado é que o problema que causa a síndrome
não surge em decorrência de falha pessoal, e, sim, da falta de afinidade do
indivíduo com aspectos de seu trabalho, como, por exemplo, sobrecarga de
trabalho, falta de controle, recompensas insuficientes, ruptura na comunidade,
falta de justiça e conflitos de valor. Dessa forma, o acúmulo de atividades
e de responsabilidades, bem como o alto nível de exigências e pressões por
parte das empresas, pode desencadear os primeiros sintomas da síndrome.
Nesse contexto, três aspectos principais se manifestam: o esgotamento físico
e mental; uma sensação de impotência e a falta de expectativas.
Cabe destacar que, quanto maior for a incompatibilidade entre o traba-
lhador e seu trabalho, maior é a probabilidade de desenvolver burnout. Por
outro lado, quanto menor for essa incompatibilidade, maior será o nível de
comprometimento com o trabalho (ROSSI et al., 2010).
Vamos ver um pouco mais sobre algumas incompatibilidades?
Além disso, a síndrome é preocupante porque pode gerar custos não só para
os funcionários, mas também para as empresas. Muitas vezes, os gerentes não
dão a devida importância para os sintomas de estresse e esgotamento apresen-
tados pelo trabalhador. De modo geral, ao identificar tais sintomas, os gerentes
pensam que se trata de um dia ruim na vida do trabalhador, considerando que
esse é um problema seu, e não da empresa. Muitas pesquisas revelam que o
estresse no trabalho indica uma piora no desempenho do trabalhador, proble-
mas nos relacionamentos com a família e de saúde. Por exemplo, o auge da
síndrome pode causar uma crise física e emocional que, muitas vezes, requer
um atendimento médico com intervenção medicamentosa e psicoterapia. Um
funcionário com burnout apresenta padrões mínimos de trabalho, passa a ter
12 Síndrome de burnout
forma, entendemos que não basta uma ótima estrutura, recursos materiais e
tecnológicos necessários se as empresas não puderem contar com profissionais
qualificados e comprometidos. Assim, é preciso que essas empresas cuidem
dessas pessoas, entendendo-as nesse universo e compreendendo os aspectos
relacionados à sua atuação no ambiente de trabalho.
A psicologia organizacional tem como objetivo estudar o indivíduo na
organização e a influência desta no indivíduo. Nesse contexto, além de es-
tudar a estrutura formal e informal das empresas, estuda seus processos de
recrutamento e seleção, a forma como recompensam seus trabalhadores pelos
serviços executados, como estimulam a motivação nos trabalhadores, como
esses se relacionam socialmente neste ambiente e como seu pensamento, seus
sentimentos e comportamentos são influenciados pela empresa, entre outros
aspectos (FURNHAM, 2001).
A gestão de pessoas, por sua vez, tem como responsabilidade coordenar e
equilibrar os interesses pessoais e organizacionais, com vistas a manter na orga-
nização funcionários motivados, qualificados, produtivos e comprometidos com
os objetivos da organização. Nesse contexto, o psicólogo organizacional tem como
principal função ocupar-se com a saúde emocional e psicológica do trabalhador.
Mas quais são as funções da gestão de pessoas nas organizações? Vamos
ver algumas delas a seguir (GIL, 2006).
outros, pois, para cada caso, haverá uma solução ou ação específica que deve ser
buscada com a participação do trabalhador envolvido (ROSSI et al., 2010).
Além de todas as ações apresentadas, deve ser dada uma atenção maior ao
comportamento e ao desempenho do trabalhador, ou seja, a como ele está se
relacionando com seu líder, com seus colegas e seus clientes; se a sua relação
com os outros é respeitosa; se está conseguindo executar suas atividades
diárias dentro do prazo estabelecido; se cumpre normalmente seu horário de
trabalho; se participa com contribuições significativas nas reuniões com seu
líder e equipe; se consegue atingir as metas estabelecidas, entre outros. Cabe
destacar que, se a empresa cobra tanto do profissional, deve estar atenta a
esses e outros aspectos. Por sua vez, é preciso avaliar se a empresa oferece
boas condições de trabalho e disponibiliza os recursos necessários para a sua
realização; como ela remunera, recompensa e valoriza seus trabalhadores;
se as metas estabelecidas para os trabalhadores são factíveis; se o trabalho é
significativo para o trabalhador e se este possui autonomia e responsabilidade
para sua execução; se a empresa investe e estimula relações pessoais saudáveis;
se gerencia os níveis de estresse no ambiente de trabalho; se a comunicação
com os trabalhadores é clara e transparente, etc. (ROSSI et al., 2010).
Assim, podemos concluir que a manutenção da saúde do trabalhador dentro da
empresa é fundamental, pois, além de oferecer ao trabalhador maior qualidade de
vida no trabalho, traz para a empresa maior produtividade e obtenção dos resultados
esperados, uma vez que trabalho e saúde não se dissociam. Nesse sentido, o psicó-
logo organizacional atua na prevenção de adoecimentos relacionados ao trabalho.
Leituras recomendadas
MOWDAY, R. T.; PORTER, L. W.; STEERS, R. M. Employee-organization linkages: the psycho-
logy of commitment, absenteeism and turnover. New York: Academic Press, 1982.
ROSSI, A. M. R.; MEURS, J. A.; PERREWE, P. L. Stress e qualidade de vida no trabalho: stress
interpessoal e ocupacional. São Paulo: Atlas, 2015.
Dica do Professor
Os problemas emocionais e psicológicos têm afetado cada vez mais pessoas, inclusive crianças.
Vivemos em um mundo dinâmico, com muitas atividades e preocupações diárias que, se
prolongadas, podem causar estresse e se agravar com problemas em várias esferas da vida,
principalmente no trabalho, local onde se está a maior parte do tempo.
Veja, na Dica do Professor, alguns aspectos do estresse e o que os especialistas recomendam para
equilibrá-lo.
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Exercícios
B) a centralização.
C) a padronização de processos.
D) o monitoramento de resultados.
E) a amplitude de controle.
3) Pesquisas apontam que, no Brasil, mais de 50% dos trabalhadores formais andam
insatisfeitos com seu trabalho. Essa insatisfação é algo preocupante e precisa ser
investigada, uma vez que pode gerar consequências negativas na vida do trabalhador, como,
por exemplo, doenças emocionais e psicológicas. Ao distúrbio que envolve uma reação
prolongada à tensão emocional crônica damos o nome de:
A) ansiedade.
B) depressão.
C) burnout.
D) estresse.
E) medo.
A) Estresse.
B) Exaustão.
C) Conflito.
D) Ineficácia.
E) Ceticismo.
5) O problema que causa a síndrome de burnout não surge em decorrência de falha pessoal e
sim da falta de compatibilidade do indivíduo com aspectos de seu trabalho. O acúmulo de
atividades e de responsabilidades, bem como o alto nível de exigências e pressões por parte
das empresas podem desencadear os primeiros sintomas da síndrome. Nesse contexto, um
dos primeiros sinais que se manifesta é:
A) insônia.
B) ineficiência.
C) falta de expectativa.
D) conflito de valor.
E) depressão.
Na prática
Pesquisas em torno do tema trabalho revelam que as doenças de ordem emocional ou psíquica
desenvolvidas no trabalho acontecem por conta do ambiente e das condições em que o trabalho
se dá. No entanto, algumas medidas podem ser tomadas para alterar o ambiente e as condições,
reduzindo as doenças.
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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