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Psicologia Jurídica

Antecedentes Históricos e evolução:

Psicologia Jurídica
Aspectos Históricos:

A origem histórica da psicologia jurídica está


atrelada à medicina (psiquiatria)

As primeiras notificações da prática da avaliação


médico-legal são atribuídas aos hebreus, os quais
já utilizavam os serviços médicos para os casos de
anulação de casamento, esterilidade, impotência e
homicídio.

Grécia Antiga, Hipócrates, (460 a 370 a.C.),


estabeleceu a primeira classificação nosológica das
chamadas doenças mentais.

Durante a Idade Média, os loucos podiam ter uma vida


relativamente livre.
• Século XVII - os doentes mentais, indivíduos
que ameaçavam a ordem e a moral da
sociedade, passaram a ser condenados à
reclusão.
• Século XVIII, Philippe Pinel passou a liberar
essas pessoas dos manicômios, prestando-
lhes atendimento médico.

Até a Idade Média, a religião desempenhava uma função fundamental na


discriminação e julgamento das atitudes humanas. Faziam uso dos juízos de
Deus e os duelos como formas de se verificar a verdade. Na concepção do
juízo de Deus tratava-se a doença mental como entidade de possessão
demoníaca; dessa forma, os doentes mentais eram frutos de possessões de
maus espíritos, tendo como “tratamento”, a tortura

Durante a Idade Moderna foi quando a verdade da ciência se instalou, as


influências biológicas na determinação dos modelos
de comportamento humano.
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Relação entre psicologia jurídica e psiquiatria.

• O Código Criminal Carolino (1532), obrigava, em certos casos, a consulta e


audiência de médicos com peritos, associando a Alemanha ao berço da
Medicina Legal.
• Paul Zacchia, pai da medicina legal e o fundador da Psicopatologia Forense,
foi o primeiro médico que exerceu legalmente a função de opinar sobre as
condições mentais de indivíduos envolvidos com a justiça.

No início do século XIX, na França, alguns crimes foram desvendados por


médicos, requisitados por juízes que queriam compreender a razão de ações
criminosas que não eram motivadas por
lucro financeiro ou paixões, e que também não partiam de indivíduos que se
encaixavam em quadros clássicos de loucura. Esses crimes pareciam ter outra
estrutura, que se acreditava estar enraizada na própria natureza humana.

1868 Psicologia Criminal


1875 Criminologia
1950 introdução do termo Psicologia Jurídica por Mira Y Lopez

Esquirol

Psiquiatra francês, na tentativa de compreender a causa determinante dos


comportamentos chamados anormais, tais como a loucura, a perversidade, a
maldade dentre outros, criou a chamada concepção “médico‐moral”, na qual a
loucura individual estaria ligada a uma degeneração racial.

“Loucos morais” - a causa de determinados comportamentos decorriam de uma


degenerescência que gerava distúrbios morais

Prosper Despine

• Despine - com exceção de poucos casos, os delinquentes não apresentavam


enfermidade física ou mental, e que as anomalias dos delinquentes seriam da
ordem de tendências e comportamentos morais, não afetando a capacidade
mental dos sujeitos. Eles eram levados a agir daquela forma em virtude de
tendências nocivas como o ódio, a vingança, a avareza, etc.

Por volta de 1875, o estudo de criminalidade passou a ser feito por meio da
relação entre crime e criminoso, e tinham como objetivo o esclarecimento dos
atos a fim de previni-los, evitando assim a sua reincidência.

A aproximação da Psicologia com o Direto

a partir das demandas do Poder Judiciário, ficou conhecida como psicologia do


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testemunho e tinha como objetivo realizar pesquisas que pudessem indicar
parâmetros que aferissem fidedignidade (ou não) dos relatos dos indivíduos
envolvidos em processos jurídicos.

• Foram desenvolvidos testes que eram aplicados aos indivíduos a fim de


compreender os comportamentos passiveis de ação jurídica.

• A partir dos estudos relacionados aos sistemas de interrogatório, à


detecção de falsos testemunhos, às amnésias simuladas e aos
testemunhos de crianças, houve uma ascensão da psicologia do
testemunho.

• Os psicólogos clínicos começaram a colaborar com os psiquiatras nos


exames psicológicos legais.

• Com a Psicanálise e seu enfoque mais dinâmico e compreensivo do


sujeito, o psicodiagnóstico ganhou força, deixando de lado o enfoque
eminentemente médico.

• Os pacientes mais graves ‐ psiquiatras - possibilidade de internação, e os


menos graves, por psicólogos- buscar uma compreensão mais descritiva de
sua personalidade.

• Os diagnósticos de psicologia forense podiam ser melhores que os dos


psiquiatras.

A Psicologia Jurídica no Brasil

A psicologia jurídica já era praticada muito antes de a profissão de psicólogo


ser regulamentada, mas após sua regulamentação, o psicólogo pode ser
incluído nas instituições jurídicas de forma oficial. É importante que se leve em
consideração os limites da perícia, já que o conhecimento produzido por ela
constitui um recorte da realidade, não podendo ser considerada a totalidade do
indivíduo.

• A área de atuação da psicologia jurídica compreende as atividades


realizadas por psicólogos em tribunais e fora deles, dando aporte ao
campo do Direito.

Os primeiros trabalhos realizados pelos psicólogos

• no Poder Judiciário eram relacionados à elaboração de perícias, fornecendo


pareceres técnico-científicos que serviam de suporte para as decisões dos
magistrados.
• Os psicólogos ingressantes em instituições jurídicas da área penal atuam
principalmente em casas prisionais e manicômios judiciários.
• É importante ressaltar que as avaliações psicológicas, como as perícias, são
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importantes, mas essa não é a única atividade feita por um psicólogo jurídico.
• Lei de Execução Penal Lei 7.210/84 reconhece legalmente o trabalho do
psicólogo no sistema penitenciário.
• Psicólogos entraram informalmente no TJSP por meio de trabalhos
voluntários com famílias em situação de vulnerabilidade social em 1979;
• 1985 - primeiro concurso público para psicólogos no TJSP

A atuação do psicólogo junto ao juizado de menores

• ... realizando perícias psicológicas nos processos cíveis, de crime e de


adoção.
• Com a criação do ECA (1990), houve uma reestruturação das entidades
que abrigavam os menores, o “Juizado de Menores” passa a ser Juizado
da Infância e Juventude e houve ampliação do trabalho de psicólogos,
envolvendo área pericial, acompanhamento e aplicação de medidas de
proteção ou medidas socioeducativas.

Nos últimos anos, houve uma crescente demanda de atuação psicológica nas
áreas de direito de família e direito do trabalho:

• 1997 - Criação do Núcleo de Atendimento à Família (NAF) em Porto


Alegre - espaço terapêutico para auxiliar famílias com conflitos;
• Lei 11.800/02 - criação da Fundação de Atendimento Socioeducativo
(FASE) - execução de medidas socioeducativas;
• Criação da Fundação de Proteção Especial (PSE), responsável pela
execução de medidas de proteção.

Interdisciplinaridade: teoria e campo de atuação

• Apesar de o Direito e a Psicologia terem objetos de estudos distintos,


em certo ponto podem se entrelaçar. Desse modo, é muito
importante pensarmos no trabalho interdisciplinar a partir das lentes
teóricas dessas duas ciências.

• Da complexidade dos seres humanos e das relações que estabelecem


ao longo da sua vida, bem como do conjunto de normas e leis que
regulam as interações em sociedade, surge a necessidade de um
campo de trabalho interdisciplinar entre a Psicologia e o Direito.

• A psicologia jurídica advém justamente dessa necessidade de


compreensão dos seres humanos: como eles agem e sua relação com
a justiça.
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A interface entre Psicologia e Direito

• A psicologia jurídica surgiu a partir de uma demanda do Direito em relação à


necessidade de redimensionar a compreensão dos seres humanos quanto à
forma que eles agem – suas necessidades e princípios psicológicos – e à sua
relação com a justiça.
• O Conselho Federal de Psicologia pela Resolução no. 14, de 22 de dezembro
de 2000, que institui o título profissional de especialista em psicologia jurídica e
dispõe sobre as normas e procedimentos para o seu registro.
• Tanto o Direito quanto a Psicologia são áreas do conhecimento que, entre
outros objetivos, buscam a compreensão do comportamento humano.
Entretanto, na visão clássica, a Psicologia se volta ao mundo do ser,
procurando analisar os processos conscientes e inconscientes,individuais e
sociais do comportamento dos indivíduos, além de estabelecer uma relação de
causalidade. Enquanto isso, o Direito se volta ao mundo do dever ser, sendo
mais objetivo, estabelecendo relação de finalidade e procurando regulamentar
e legislar o trabalho interdisciplinar de diferentes práticas profissionais e áreas
de atuação.
• A Psicologia – a compreensão do comportamento dos indivíduos
• O Direito legisla com base no conjunto de regras que visa a regulamentar o
comportamento dos indivíduos
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Vara da Família
e Sucessões:
As Varas da Família e Sucessões são responsáveis por processar e julgar
litígios relacionados a temas como inventários, testamentos, separação judicial,
divórcio, anulação de casamento, investigação de paternidade, ação de
alimentos, entre outros. Também existe a possibilidade de se recorrer à
conciliação e mediação para solução dos conflitos, sem a necessidade de um
longo processo. Nesse caso, por meio do diálogo, as partes encontram uma
solução para a demanda juntas, com o auxílio de um mediador ou conciliador.

Maternagem e Paternagem

Maternagem: É estabelecida no vínculo afetivo do cuidado e acolhimento ao


filho por uma mãe. O modo como se dará esse cuidado dependerá dos valores
socialmente relacionados ao que é ser mulher e ao significado de um filho em
um determinado contexto cultural.

Paternagem: Vai muito mais além do registro ou relação jurídica, é algo do


domínio do afeto, de escolha, de reflexão, de presença e de envolvimento
emocional, ela vai além de um rótulo, é fruto do envolvimento ativo na busca
pela aceitação da mudança que a chegada de um filho representa na vida do
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homem. É a busca pela participação ativa no desenvolvimento e construção
dessa criança. A paternagem significa se tornar importante e fundamental para
o filho, e diferentemente de paternidade, que pode inclusive vir de uma
obrigatoriedade jurídica diante do descuido do ser humano, vem do amor, da
aceitação de todas as mudanças que a chegada de um filho representa na vida
do homem, da busca de um novo papel masculino e do desejo puro e simples
de que o filho cresça feliz e saudável

• Parentalidade: Refere-se às funções executivas de proteção, educação e


integração na cultura familiar das gerações mais novas. Estas funções
podem estar a cargo não só dos pais biológicos, mas também de outros
familiares ou até de pessoas que não sejam da família.
• Conjugalidade: Refere-se à díade conjugal e constitui um espaço de
apoio ao desenvolvimento familiar.É com a formação do casal que tudo
tem início.

Tipos de Família:

Tradicional ou nuclear: pais, mães e filhos vivem todos juntos.

Monoparental: os filhos vivem apenas com um dos pais

Recomposta ou reconstituida: o pai ou mãe voltou a se casar com outra


pessoa

Alargada ou ampliada – outros parentes (avós, tios e primos) vivem com a


família nuclear (pais e filhos).

Binuclear – composta pelos dois lares que se formam após o divórcio de


pessoas que tiveram filhos. Ambos os pais continuam responsáveis pelos
cuidados dos filhos, atendendo às suas necessidades afetivas, espirituais,
econômicas e físicas.

Homoparental
os dois ascendentes são do mesmo sexo, sejam homens ou mulheres

Família Matrimonial - decorre do casamento como ato formal, litúrgico.

Família Informal / Concubinato - conforme o Código Civil - Art. 1.727. As


relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar,
constituem concubinato.

Família Poliafetiva - é a relação afetiva entre mais de duas pessoas. Não


se trata bigamia, não são amantes, a relação entre os poliafetivos deve ser
exclusiva, como se todos fossem casados entre si. Eles podem lavrar
escritura pública para documentar a relação entre si.

Família Unipessoal
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é a composta por apenas uma pessoa.

Família Substituta – Excepcionalmente - na hipótese em que a família


natural não seja capaz de garantir direitos e garantias decorrentes do
princípio da proteção, sempre tendo em vista o melhor interesse destes,
colocar-se-á em uma família substituta (a guarda, a tutela e a adoção).

Família Anaparental: Sem pais, formadas apenas pelos irmãos.


Família Multiespécie

Dissolução e rompimento do vínculo familiar

Divórcio

• Código Civil art. 266 § 6º “ O casamento civil pode ser dissolvido pelo
divórcio”

• Art. 1.579. O divórcio não modificará os direitos e deveres dos pais em


relação aos filhos.
• Parágrafo único. Novo casamento de qualquer dos pais, ou de ambos,
não poderá importar restrições aos direitos e deveres previstos neste
artigo.
• A separação implica em fim da conjugalidade e não da parentalidade.
• O rompimento do vínculo conjugal
• é uma das experiências de vida que mais trazem sofrimento.
• consequências são diferentes para homens e mulheres.
• os homens veem na possibilidade de obter estabilidade e na criação de
uma família as principais motivações para o casamento, ele percebe seu
maior sofrimento voltado para os filhos que não ficam sob sua guarda.
• a mulher imagina o casamento como a realização de uma necessidade de
relação amorosa satisfatória, ápice de seu apaixonamento, e desse
modo suas maiores mágoas se dirigem ao homem ao qual ela credita a
razão de sua frustração.
• Essa diferença que vai configurar e alimentar as posteriores disputas.

Guarda
O psicólogo...

• Oferecer suporte às famílias a fim de criar as condições de reparação


para que os pais retomem, da melhor maneira possível, suas funções
parentais.
• Os atendimentos psicológicos para subsidiarem os estudos psicossociais
incluem entrevistas, jogos lúdicos com as crianças e observações in loco
realizadas nas residências das famílias, dependendo da complexidade
de cada caso.
• Os jogos relacionais familiares têm um tempo para se desenvolverem e
esse tempo não é cronológico, mas lógico e particular para cada família,
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o que se torna dificultador para se pensar em intervenções
padronizadas, feitas em um tempo fixo.
• Em função do excesso de demanda, os estudos são concluídos em um
número padrão de encontros da equipe com as famílias, o que gera,
muitas vezes, angústia nos profissionais quando pressentem que as
intervenções podem não ter se constituído como minimamente
terapêuticas.

Modelos de Guarda:

GUARDA ALTERNADA

a guarda é atribuída a uma única pessoa, durante período determinado.


Após decorrido esse tempo, a guarda passa para o genitor que, até então
não, a detinha.
• Possui como objetivo oferecer a possibilidade dos filhos manter uma
relação com os pais. Neste modelo de guarda, tem-se também a
unidade de exercício, ou seja, a guarda é exclusiva para um dos pais,
porém ela se dá de forma alternada no tempo e no espaço.
• Poderá ser definido por semana, mês, semestre ou qualquer escala de
tempo, o exercício da guarda será exclusiva daquele que mantém o
convívio no lar com os filhos.
• Alternância de residência.
• Ao outro cabe exercitar a visitação

Nidação ou aninhamento

Há uma residência fixa onde a criança mora, o menor, não sai da sua casa, são
os pais que deixam seu lar e permanecem determinados períodos de tempo na
residência do menor

Guarda Unilateral e Guarda Compartilhada

• Art. 1.583.§ 1º Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só


• Guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício de
direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto,
concernentes ao poder familiar dos filhos comuns

AVALIAÇÃO EM SITUAÇÕES DE REGULAMENTAÇÃO DE GUARDA


E DIREITO DE CONVIVÊNCIA

• Em caso legal o “dono do caso” é o juiz, somente ele pode determinar


uma avaliação psicológica (“estudo psicossocial”, “estudo psicológico” e
“perícia psicológica”) em casos de disputa de guarda, modificação de
guarda e regulamentação de visitas.
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• Se o psicólogo está sendo convocado a avaliar alguém, ele deve ter em
mente qual é a finalidade ou objetivo (para quê). Sem esquecer o
aspecto ético
• É consenso que a criança não será consultada para resolver essa
pendência, evitando transferir a responsabilidade dos adultos à criança.
• O psicólogo terá de avaliar pelo menos três pessoas: os adultos em litígio
e a criança, foco do processo legal.
• A estratégia da avaliação é de responsabilidade do psicólogo, que
responderá por seus resultados

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