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O SISTEMA BRAILLE

Primeiramente, antes de entender o que é o sistema Braille, é importante conhecer um pouco da


história de seu criador. Louis Braille (1809-1852) nasceu em Coupvray, nas imediações de
Paris e ficou cego aos três anos após um acidente na oficina de seu pai. Aos dez anos de idade
ele foi estudar no Institut Royal des Jeunes Aveugles de Paris, fundado por Valentin Häuy
(1745-1822), um dos primeiros a criar um método de leitura para cegos, em um papel
grosso com gravação de alto relevo e letras grandes. Era um sistema rudimentar, apenas para
leitura, e não possibilitava a escrita, porque a impressão das letras era uma costura no
papel.
Em 1784, Haüy fundou a primeira escola para cegos em Paris - Instituto Real dos Jovens Cegos,
onde os alunos tinham acesso apenas à leitura.
E então, Charles Barbier (1767-1841) entra na história! Ele era um capitão do exército francês e
precisava usar uma lamparina para iluminar seus trabalhos de escrita e leitura durante a noite.
Movido por esta necessidade, ele chegou a desenvolver um sistema (Figura XX) que era
constituído por uma série de 12 pontos salientes no papel, que ficou conhecido como
sonografia ou escrita noturna. Porém, esse método foi rejeitado pelos militares pela sua alta
complexidade. Então, durante uma visita ao Instituto Real dos Jovens Cegos, em Paris, ele
propôs o sistema, porque pensava que seria útil para os cegos, e seu método foi introduzido
como um recurso auxiliar.
Figura XX – Quadro de sonografia de Barber
Fonte: La vie l’oeuvre de Louis Braille (1952). Os pontos negros representam as partes em relevo da
matriz de pontos. Para cada som, o número de pontos da esquerda corresponde ao número da linha, o
número de pontos direita corresponde ao número da coluna.

A partir do sistema criado por Barbier, Louis Braille e outros alunos perceberam algumas falhas
nesse método que se baseava nos 36 sons do alfabeto francês e não possibilitava a ortografia
ou pontuação. Louis tinha apenas 13 anos e durante três anos trabalhou para refinar este
código, que também usava pontos, seis precisamente, de uma simplicidade e elegância notórias.
Porém, seu sistema foi rejeitado pelo sucessor de Häuy e proibiu o uso pelos estudantes e
professores do Instituto. No lugar desse sistema, foi adotado um sistema que era utilizado nos
Estados Unidos e na Escócia chamado de Boston Line Type, pois era considerado mais eficaz
que o método de Louis.
Em 1844, Joseph Guadet que apoiava o método de Braille (figura XX) fez uma demonstração
para o público – mostrando um livro sobre o método de Louis – e ganhou reconhecimento e
levou à sua aceitação em todo o mundo.
Figura XX – Sistema de Braille atual de Louis Braille
Fonte: Kumari, 2020.

O BRAILLE NO BRASIL
No Brasil, a partir dos anos 1970, especialistas ligados ao Instituto Benjamin Constant e à
Fundação Dorina Norwill para Cegos, começaram a refletir sobre as vantagens de se ter uma
unificação de códigos em Matemática e nas Ciências. Havia uma tabela, a Tabela Taylor,
adotada desde 1940 (porém, ela não estava atendendo às transcrições em Braille).
Podemos observar que no Brasil, o sistema Braille passou por três períodos mais importantes,
de acordo com Lemos e Cerqueira (2014, p.26-27):

 1854 a 1942: o Instituto Benjamin Constant (antigo Imperial Instituto dos Meninos
Cegos) foi a primeira instituição na América Latina a adotar o Braille. E em 1929,
passou a empregar o Código Internacional de Musicografia Braille.
 1942: Para atender à reforma ortográfica portuguesa de 1942, o sistema adotado no
Brasil, que era francês, teve que ter algumas modificações, principalmente na
representação de símbolos indicativos de acentos diferenciais.
 1945: foi estabelecido o Braille Oficial para uso no Brasil.
 1962: foram oficializadas as convenções para uso na leitura e escrita dos cegos, o que
trouxe dificuldades para acordos internacionais, quando especialistas brasileiros alteram
os conteúdos para unificação do sistema.
 1963 a 1995: em 1963 foi assinado um convênio entre Brasil e Portugal, para
padronização do Braille integral (grau 1) e para a adoção de símbolos do código de
abreviaturas de Portugal
Ler o método Braille tem como princípio passar a ponta dos dedos sobre os pontos em
relevo, normalmente a mão direita, ao passo que a mão esquerda busca o início da próxima
linha.
Uma célula Braille completa consiste em seis pontos levantados dispostos em duas fileiras
paralelas, cada uma com três pontos. Sessenta e quatro combinações são possíveis, usando um
ou mais destes seis pontos. Uma única célula pode ser usada para representar uma letra do
alfabeto, número, ponto de pontuação ou mesmo uma palavra inteira. (AMERICAN
FOUNDATION FOR THE BRAILLE).

 Vinte e seis sinais são utilizados para o alfabeto;


 Dez sinais da primeira linha do método Braille são para os sinais de pontuação de uso
internacional, localizados na parte inferior da cela Braille: pontos 2-3-5-6.
 Os vinte e seis sinais restantes são destinados às necessidades especiais de cada
língua (letras acentuadas, por exemplo) e para abreviaturas (Ibidem)
Segundo o Guia, o conjunto de seis pontos em relevo é chamado de sinal fundamental e o
espaço que ele ocupa é a cela Braille - ou célula Braille. Muitos especialistas consideram que
este espaço, quando vazio, é um sinal, portanto, o sistema é composto por 64 sinais, numa
análise combinatória.
A universalidade do Braille abrange línguas e escritas diversas, uma vantagem pelo fato de
que as pessoas cegas também podem escrever. No entanto, com a difusão da tecnologia digital ,
devem ser pensadas outras maneiras de escrita e leitura em Braille. De acordo com as
condições da população em questões econômicas e físicas, ainda é imprescindível este sistema
manual, principalmente no desenvolvimento das habilidades, como por exemplo a leitura de um
painel de um elevador ou obter informações de determinados produtos.

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