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Caderno GDF - Caminhos para Uma Convivencia Saudavel
Caderno GDF - Caminhos para Uma Convivencia Saudavel
do Distrito Federal
Brasília, 2009
SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte
Organização do Projeto
Laurez Ferreira Vilela
ISBN 85-89439-50-x
CDU 316.48:614
sumário
Apresentação 5
Anexos 122
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APRESENTAÇÃO
5
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Módulo I
PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA
CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES
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A importância do desenvolvimento
saudável da criança e adolescente
Toda criança precisa de cuidados desde a sua concepção. Por isso, é necessário evitar que entre
em contato com os efeitos danosos do álcool, tabaco e outras drogas, além de um ambiente livre
de brigas.
A gestante necessita realizar o pré-natal para prevenir danos a ela e ao filho. A participação do
pai no momento das consultas, no parto e nos cuidados com a criança também é importante para
fortalecer laços afetivos e de responsabilidades.
Contar com outras pessoas da comunidade e parentes nos cuidados com a criança, principalmente
em situações excepcionais ou imprevistas, permite apoio e segurança para a família.
Além destas redes informais, deve-se identificar os serviços existentes em sua comunidade como
saúde, educação, assistência social, creche, ONGs e associação de moradores, para ampliar a rede
de apoio e garantir seus direitos.
Conhecer as fases de desenvolvimento da criança, com suas características, limitações e os
cuidados em cada etapa do infante contribui para reduzir atos de violência intrafamiliar. Os adultos
muitas vezes esperam que a criança faça ou entenda alguma coisa para a qual não está prepara-
da. Outras vezes não percebem que o seu modo de se relacionar com a criança está lhe causando
algum dano. Além disso, a família deve reconhecer a necessidade da criança de vivenciar o lúdico,
a interação afetiva com seus pais ou responsáveis, vivenciar exemplos construtivos e o respeito para
que possam se desenvolver de forma saudável.
Ao nascermos somos totalmente dependentes e temos necessidades que precisam ser supridas
pelos nossos cuidadores, mas nem sempre há um entendimento desses cuidados da maneira mais
adequada. Quer seja pela imposição de regras rígidas, quer seja em nome da distorcida “educação
do bebê” para que não fique manhoso e dependente de colo, seus responsáveis podem acabar por
negligenciar suas necessidades de carinho, de troca de roupa e até mesmo de alimentação. Há
crenças comuns como, por exemplo, as que afirmam rigidamente existir “hora ou momento” certo
para cada atividade, sem levar em conta o choro compulsivo, o medo ou a insegurança da criança.
Assim, devemos rever esses valores distorcidos e proporcionar à criança um desenvolvimento de
acordo com as suas particularidades etárias e individuais.
* Assistente Social, Especialista em Violência Doméstica contra Criança e Adolescente, Especialista em Terapia Familiar, Pós gra-
duada em Educação Sexual.
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
o adolescente. O cérebro apreende mais rápido e com consistência aquilo que vê, de tal modo que
as atitudes familiares dizem mais que as palavras, o que exige uma avaliação constante de seus
atos. Assim, devemos fazer uma reflexão e verificar quais são os valores e crenças que estamos
passando para nossos filhos.
A maneira como os pais expressam e administram sentimentos torna-se um modelo que será
lembrado por seus filhos em suas vidas. As crianças absorvem tudo que os pais fazem. Assim, quando
os pais adotam comportamentos negativos sobre tudo e todos, ensinam a não ver o lado positivo.
Um padrão de agressividade na família pode ensinar crianças que esta é uma forma natural de re-
solver conflitos. O uso de substâncias químicas, álcool, fumo, auto-medicação ou comportamento
ansioso ou discriminatório pode ser uma influência danosa para os filhos.
Quando os pais buscam apoio no cônjuge, nos amigos
e na família, e em troca proporcionam apoio e afeto,
mostram o valor da gratidão e também que precisamos
dos outros. Por outro lado, quando resolvem os proble-
mas sozinhos sinalizam que somos capazes de buscar
a solução, através de forças interiores. Esses modelos
fortalecem a criança e adolescente para lidar com adver
sidades no futuro.
O reconhecimento do que fazemos bem é uma for-
ma de motivação e satisfação pessoal. A família que
tem o hábito de elogiar as ações (tarefas domésticas
realizadas, contribuição na comunidade, escola, igre-
ja), comportamentos (generosidade, responsabilidade,
sinceridade) além de êxitos e habilidades (escolares,
esporte, artísticos, no trabalho...), possibilita fortalecer
a autoestima de seus membros e os vínculos afetivos.
A negociação que é estabelecida entre o casal, o
compartilhar tarefas domésticas, o respeito nas relações
amorosas são legados importantes para a prole, além
de modelos para os relacionamentos futuros.
Destacamos que a demonstração de afeto para com
os filhos exige atitudes. Não basta dizer “amo você”. As palavras precisam ser acompanhadas de
gestos de carinho, aceitação, afeição, apreciação e atenção ao que sentem e dizem. Crianças que
sentem que são amadas e aceitas estruturam recursos próprios indispensáveis para perseguir seus
objetivos, criar laços com outras pessoas, se defender de situações de risco, além de desenvolver
respeito por seu valor pessoal.
As crianças e adolescentes não são propriedade dos pais. São pessoas que possuem direitos e
precisam ser respeitadas de acordo com suas características e necessidades individuais. Conforme
o artigo 227 da Constituição Federal do Brasil, “É dever da família, da sociedade e do Estado asse-
gurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivên-
cia familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.”
Art. 5° – “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discri-
minação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por
ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.” Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.
Um instrumento que ajuda a fazer cumprir as leis é o Conselho Tutelar. A sociedade e a família
podem recorrer a esse órgão sempre que os direitos das crianças forem desrespeitados.
Ressaltamos que ao nascer o bebê tem direito a Certidão de Nascimento. Qualquer Cartório
de Registro Civil ou hospital com esse serviço pode emiti-la gratuitamente, garantindo o direito de
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
cidadania, que permite o acesso aos serviços de saúde, educação e outros. Nessa fase, a criança
deve ser vacinada, conforme o calendário do Cartão da Criança, para prevenir doenças.
Portanto, é de suma importância cuidar, conhecer e educar crianças e adolescentes para que
possam impulsionar seus direitos e garantir sua proteção.
Fonte: Adaptação: Cuidar sem violência todo mundo pode – Guia Prático para Famílias e Comunidades – Instituto Promundo
Concluindo, a criação dos filhos exige muito mais que alimentação e vestuário. É necessário aten-
ção, amor, proteção, monitoramento, interação com os pais, referencial construtivo, reconhecimento
e acesso aos seus direitos para o pleno desenvolvimento, nas suas diversas fases.
Referências Bibliográficas
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Comunidades para Crianças e Adolescentes. Disponível em www.promundo.org.br.
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NOLTE, D.L; HARRIS, R. As crianças aprendem o que vivenciam. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
VILELA, Laurez (coord.). Manual para Atendimento às Vítimas de Violência na Rede Pública do DF. Se-
cretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal. Brasília, 2008.
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Negligência – estratégias preventivas
Ana Lucia Correa e Castro*
“Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade
ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei”.
Art. 4º do Estatuto do Idoso.
“Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação,
exploração, maus-tratos, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação
ou omissão, aos seus direitos fundamentais”. Artigo 5° do Estatuto da Criança e do Adolescente.
“É assegurado à gestante, através do Sistema Único de Saúde, o atendimento pré e perinatal”.
Artigo 8° do Estatuto da Criança e do Adolescente
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Formas de negligência
N
o campo da Saúde: vacinas em atraso, doenças crônicas não tratadas ou com acompa-
nhamento irregular, descaso ou longos períodos sem atendimento médico, padrão de cres-
cimento deficiente, obesidade por falta de atenção, perdas constantes do cartão de saúde,
desnutrição, descaso no tratamento dentário, não se engajar no pré natal, privação de me-
dicamentos, responsáveis não realizam conduta protetiva; não acompanhamento adequado,
sendo levado apenas a serviços de emergência, acidentes repetiti-
vos, agravo passível de prevenção, danos na pele sem tratamento,
por uso de fraldas ou imobilização na cama, etc.
Na área de Educação: excesso de faltas escolares, criança/adoles-
cente fora da escola, não acompanhamento no andamento escolar,
hiper ou hipo-atividade sem cuidado, não matricular no período per-
tinente, etc.
Desleixo da família: criança com a aparência descuidada e suja,
fezes e urina pela casa, ambiente físico muito sujo ou lixo ao redor
deste, recusa de acolhimento ou expulsão de crianças/adolescen-
tes/idosos bem como a não busca para localizar a pessoa evadi-
da, a ausência de documentos, vestuário incompatível com o clima,
ausência de rotinas domésticas, roupas, alimentação ou outro indi-
cador que traduza tratamento desigual entre os filhos ou mesmo privilegiando os pais, anuên-
cia aos menores para o uso de álcool ou drogas, não acesso aos direitos de filiação, convivência
familiar, etc.
A
usência de supervisão dos responsáveis: crianças pequenas sozinhas em casa ou constante-
mente fora de casa, em festas populares, em casa de vizinhos, nas ruas, em abandono, sem
cinto de segurança, vestimentas e alimentação ina-
dequadas, pedintes nas ruas. Crianças, adolescentes
e idosos são muitas vezes deixados sozinhos por di-
versos dias ou mesmo por muitas horas, chegando a
perecer em consequência de acidentes domésticos,
inanição e desidratação; não colocar limites; gravidez
precoce; prostituição e indiferença.
A
cidentes previsíveis como:
q
uedas da cama, berço, janelas, escadas, banheiras,
carro, na casa face a tapetes, pisos escorregadios;
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
a
sfixias por objetos pequenos, brinquedos, travesseiros, fios de telefone, saco plástico, peda-
ços grandes de alimentos, cordão de chupeta e outros;
intoxicações por medicamentos, material de limpeza, veneno de rato, cosméticos, bebida
alcoólica, dentre outros;
q ueimaduras no forno quente, tomada, ferro de passar, velas, fósforos, panelas, líquidos
quentes, álcool e exposição excessiva ao sol;
a tropelamentos e afogamentos em piscinas, lagos, praias, banheiras, baldes e vasos sanitá-
rios, crianças na garupa de motocicletas ou andando no banco da frente de um carro;
O utras formas: conviver com violência a outros familiares, a permissividade, privação de con-
tatos sociais, inclusive ao lazer, mãe que protege o marido em detrimento dos filhos, substi-
tuição do afeto e proteção por bens de consumo, cuidados por terceiros às vezes desconhe-
cidos para os pais, profissional não realizar a notificação e encaminhamentos pertinentes,
assistir situação de violência sem buscar socorro, uso de drogas na gravidez.
Fatores causais
A pesar de ocorrer em todas as classes, a inadequada distribuição de renda e desigualdades
sociais gera desemprego, exclusão social e moral, e dificuldades sócioeconômicas da po-
pulação desdobrando na pobreza excessiva. Somando-se a este contexto, o pouco acesso a
informações interfere no padrão de higiene, cuidado com o ambiente e o corpo, nas escolhas
no manejo da alimentação, aumentando a situação de risco para a negligência.
D ificuldade de acesso ao registro civil, comum no interior do País.
P ouco investimento em estruturas sociais como creches, escolas com qualidade, espaço para
o contra-turno escolar, crianças abandonadas, fome, população de rua e similares.
P olíticas públicas inexistentes ou inadequadas, como valor reduzido dos programas de com-
plementação de renda, o parco ou nenhum monitoramento profissional de casos sob respon-
sabilidade técnica e ausência de intersetorialidade.
V alores, crenças e atitudes culturais e sociais da família sobre o cuidado infantil, atitudes coer
civas de manejo de conflitos e que justifiquem e naturalizem o comportamento negligente;
Modelo transgeracional, isto é, conteúdos repassados pelos ascendentes, ex: mãe – incapaci-
dade de modelo maternal por ter sido negligênciada por sua mãe.
F
alta de recursos financeiros e oportunidades de trabalho.
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Mecanismos de proteção
As principais ferramentas protetoras são a informação e o acesso. O local mais importante é
a comunidade.
I nstituir programa que permita o acompanhamento sistemático de famílias que desejem
aprendizado nesta temática, bem como famílias em situação de vulnerabilidade social;
M ontar Grupos de Instrumentalização de Pais – GIP, no mínimo um em cada Regional
de Saúde;
A mpliar conhecimento das fases do desenvolvimento infanto-juvenil e os cuidados com
crianças;
C ompreender a velhice com suas possibilidades e limites;
C ompreender os cuidados importantes na gestação e a realização do pré-natal;
G arantir um pré-natal de qualidade;
A limentação adequada para as fases de vida;
P ortadores de necessidades especiais precisam de cuidados específicos. Uma ótima alter-
nativa é buscar grupos por especificidades;
N o atendimento puerperal e perinatal, observar sinais de depressão pós-parto, expressões
pejorativas, distanciamento ou repulsa do bebê, irritabilidade, apatia, distanciamento ou
rejeição na amamentação para atendimento específico e sistemático monitoramento;
E stimular o aconchego, toque como shantala, colo, canções infantis, verbalizando o seu
sentimento;
R esgatar aspectos culturais, histórias dos idosos;
T rabalhar habilidades pessoais, familiares e na interlocução com a rede de apoio;
Investir na melhora da situação econômica das famílias, principalmente as numerosas, através
da profissionalização dos adultos e adolescentes e da sua capacitação para profissões com
melhor remuneração, de forma a que a família possa suprir as necessidades básicas;
C onstruir redes locais, formais e informais, conhecendo os serviços oferecidos e formas
de acesso de políticas públicas para construir cenário protetivo às pessoas nos diversos
ciclos de vida;
C onhecer instituições religiosas ou não que favoreçam o convívio saudável e apoio familiar;
I dentificar entidades sociais que tenham programas de melhora da moradia ou traçar es-
tratégias que favoreçam o mutirão para tal consecução;
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Estes são alguns olhares na complexidade que envolve a negligência. Buscou-se compreender as
Formas de Negligência, Fatores Causais, Características da Família em Situação de Risco e, por fim,
os Mecanismos de Proteção para o enfrentamento e consequente mudança do cenário atual da Negli-
gência. Muitas outras formas de prevenção podem ser produzidas a partir de trabalhos comunitários,
pois a população tem soluções que demandam escuta para captar as várias formas do cuidar.
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
“O que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado. Cuidar é mais que um ato; é uma atitude.
Portanto, abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo.
Representa uma atitude de ocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro”
Leonardo Boff
Referências Bibliográficas
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_____. (coord.). Manual para Atendimento às Vítimas de Violência na Rede Pública do DF. Brasília: Se-
cretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, 2008.
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Caminhos para educar sem castigo físico
Para se trabalhar prevenção à violência física não se pode falar à comunidade ou a alguém sobre
o tema sem ser autêntico. E, para alcançar a autenticidade, temos que acreditar realmente que o
caminho para prevenir a agressão física só é trilhado por intermédio da queda de barreiras inter-
nas – a começar por nós, ao mesmo tempo em que há o empenho na construção e ampliação do
diálogo e respeito ao próximo.
Um bom começo operacional para o referido trabalho pode ocorrer pela comunicação e discussão
nos grupos onde atuamos e no diagnóstico da violência física levantado pela Saúde e outros órgãos,
partindo das notificações da área. Juntos, certamente, encontraremos estratégias e alternativas de
solução para a prevenção, a atenção e o encaminhamento mais eficaz dessa problemática.
Educar não é uma tarefa fácil. Relacionamento e convivência é um constante aprendizado, par-
tindo do princípio de que cada indivíduo é único, o mundo é dinâmico e questões vão surgindo,
temos que buscar novas formas de orientação para crianças e adolescentes. O diálogo, a paciência,
a orientação respeitosa, a fixação de limites e regras de convivência na família, escola e comunidade
e a definição de papéis parentais ainda são alternativas viáveis.
Muitos pais e responsáveis buscam formas diversas para educar seus filhos, mas não têm conhe-
cimento ou prática de como discipliná-los sem o castigo físico. No entanto, existem aqueles que até
conhecem, mas por processo de estresse acentuado, e expectativas irreais sobre o desempenho de
seus filhos, não controlam sua raiva, descarregando a tensão com agressões físicas.
O castigo físico de crianças e adolescentes é transmitido em nossa cultura, de geração a geração,
como método pedagógico, sem considerar que essa prática é danosa e não resolve o problema.
A palmada, a surra, o beliscão, o puxão de cabelo e outros atos similares são considerados agres-
sões, além de um meio errôneo de educação, e ainda atentam contra os direitos fundamentais da
criança e do adolescente à vida, à integridade física e psicológica e à dignidade.
Será que bater em nossos filhos resolve?. Quando são castigados fisicamente tendem a repetir
o erro de forma velada, demonstrando a falta de resultado desse método e gerando um sentimento
de que não são amados. Algumas crianças fogem de casa por não tolerar a agressão daqueles que
deveriam protegê-las, ficando expostas a outras violências e ao uso de drogas. Segundo Azevedo e
Guerra (1996), o risco da utilização do castigo físico na educação dos filhos é a escalada da violência,
além do resultado não ser eficaz como método pedagógico. Hoje você bate na criança, amanhã ela
faz a mesma coisa. A reação é bater com mais força e chegar uma escalada para níveis de violência
mais elevados. Também afeta negativamente sua autoestima e ainda ensina a resolver os conflitos
com agressividade na família, escola e comunidade.
* Assistente Social, Especialista em Violência Doméstica contra Criança e Adolescente, Especialista em Terapia Familiar, Pós gra-
duada em Educação Sexual.
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
No entanto, outras crianças e adolescentes reagem de forma contrária ao sofrer castigo físico. Tor-
nam-se limitados, inseguros, medrosos e não conseguem reagir ou se defender de agressões. Assim, a
agressão física pode levar padrões de agressividade ou passividade e submissão para a vida adulta.
Devemos considerar que alguns pais, depois de disciplinarem fisicamente seus filhos, apresentam
sentimento de culpa, o que os leva a procedimentos permissivos na orientação de sua prole.
Muitas vezes, verificamos que as pessoas têm a tendência a dizer que sofreram punição corporal
na infância e que isto não lhes fez mal algum, querendo com isso significar que este tipo de ação
não causa dano. Segundo Straus (1992), a razão para que os aspectos danosos desta punição
sejam ignorados reside no fato de que muitas pessoas se negam a admitir que seus próprios pais
fizeram algo de errado e se negam também a admitir que estão fazendo algo de errado com seus
próprios filhos.
Consequências danosas
Fatores de Risco Caminhos para prevenir a agressão física
do castigo físico
amílias monoparentais;
F gressividade ou submissão;
A isponibilizar creches nas comunidades;
D
traumas; desilusões; iso- patia; hiperatividade ou depres-
A uscar apoio na rede primária: amigos e par-
B
lamento; estresse; dificul- são; tendências auto-destrutivas e entes no cuidado com a criança;
dades financeiras; pais ao isolamento;
e mães com histórico de ossibilitar o acesso ao planejamento familiar;
P
maus-tratos na infância; aixa autoestima; fugas de casa;
B Incentivar interação de pais e filhos através do
ravidez indesejada; de-
G edo dos pais; tristeza; uso de
M lazer;
pressão na gravidez; au- drogas; ideação e/ou tentativa de Incluir obrigatoriamente crianças, adolescentes
sência ou pouca mani- suicídio; problema de aprendiza- e famílias em situação de vulnerabilidade em
festação de afeto entre do; faltas frequentes à escola; programas de saúde, educação, renda mínima,
pai/mãe/filho; ão estimular a autonomia, nem
N erradicação do trabalho infantil, cursos de edu-
ulpar a criança pelos
C permitir elaborar normas e crité- cação profissionalizante, geração de emprego e
problemas; rios morais próprios; medo; limitar renda, microcrédito entre outros;
o comportamento, a criatividade, a ossibilitar o acesso ao atendimento biopsicos-
P
anatismo religioso;
F inteligência e os sentidos; social para pessoas com transtorno mental e
ranstorno mental;
T mbivalência de amor e ódio em
A usuários de drogas;
so de drogas.
U relação os pais/responsáveis apacitar profissionais de educação, saúde,
C
agressores; assistência social, esporte, cultura, segurança
ransgressão para chamar atenção
T pública e outros para a prevenção à violência
dos pais; física;
entimento de injustiça;
S ortalecer as competências familiares para educar
F
entimento de que não tem apro-
S sem agressão;
vação e nem amor dos pais; essignificar o conceito de educação, respeito
R
egitimar o abuso de poder dentro
L e integridade física e mental de criança e ado-
das relações familiares. lescente;
stabelecer com a criança e adolescente limites
E
claros, coerentes e consistentes, para que saibam
o que podem ou não fazer;
ompartilhar valores com a criança, de acordo
C
com a etapa de seu desenvolvimento, assim ela
terá parâmetros para definir entre o correto e o
errado;
izer aos filhos o que eles devem fazer – não
D
apenas o que não devem;
xplique suas verdadeiras razões além de mostrar
E
os riscos para eles e/ou para outras pessoas;
steja pronto para elogiar o comportamento que
E
você gostou, bem como repreender o comporta-
mento que você não gostou;
uando eles fazem alguma coisa errada, explique-
Q
lhes o que é e de que forma poderão consertá-la;
esmo quando você não aprecia o comporta-
M
mento de seu filho, nunca sugira que você não
gosta dele;
edicar um tempo do dia para ficar com eles;
D
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Consequências danosas
Fatores de Risco Caminhos para prevenir a agressão física
do castigo físico
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
e outras instituições da Rede de Proteção e sensibilizar a família a buscar apoio na rede primária
ampliada – parentes, amigos e vizinhos – como alternativas de proteção da criança e do adolescente
e de empoderamento dos pais.
Por fim, é imprescindível desenvolver ações educativas em todos os espaços, visando desconstruir
a metodologia do castigo físico e construir uma nova forma de educação, uma cultura de respeito
aos direitos individuais de crianças e adolescentes.
É possível vislumbrar um futuro sem violência se cada um de nós contribuir para novas formas
de relações sociais.
Referências Bibliográficas
ASSIS, Simone Gonçalves de. Crescer sem violência: um desafio para profissionais de educação. Rio de
Janeiro: FIOCRUZ, 1994.
AZEVEDO, M. A & GUERRA, V.N.A. A síndrome do pequeno poder. São Paulo: IGLU, 1989.
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Comunidades para Crianças e Adolescentes. Rio de Janeiro: Promundo, 2003.
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VILELA, Laurez F. (org.). Orientação para profissionais de saúde no atendimento à criança e ao adolescente
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saúde pública do Distrito Federal. Brasília: Secretaria de Estado de Saúde, 2005.
_____. (coord.). Manual para Atendimento às Vítimas de Violência na Rede Pública do DF. Brasília: Se-
cretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, 2008.
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Prevenção da violência sexual
na infância e na juventude
Laurez Ferreira Vilela*
De acordo com o Código Penal a violência sexual é crime e fere a dignidade sexual. Apesar
de estar prevista em Lei, ainda existe muita dificuldade em falar sobre o esse tipo de violência,
principalmente contra crianças e adolescentes. O mais grave é que não se fala, mas se permite,
seja por negação de que possa existir um ato tão cruel na sociedade, principalmente dentro da
família, seja por medo do agressor, medo de desestruturar a família e de reviver a história pessoal
de violência. Nesse emaranhado perpetua-se o sofrimento da vítima e o fortalecimento do agressor.
Por isso, é necessário falar desse problema para preveni-lo.
A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, aprovada em 1989 pela Assembleia Geral
das Nações Unidas, define que os países signatários devem tomar “todas as medidas legislativas,
administrativas, sociais e educativas” adequadas à proteção da criança, inclusive no que se refere
à violência sexual.
Educar é a melhor maneira de prevenir. Os pais, responsáveis, profissionais de educação, saúde
e outros que lidam com essa faixa etária devem promover contextos de proteção, além de fortalecer
as competências familiares para intervir nos fatores de risco, fortalecer os mecanismos protetores
e reconhecer formas de violência sexual para evitar maiores danos.
Conforme artigo 70 do ECA – “é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos
direitos da criança e do adolescente”. Dessa forma, a família, a sociedade e os órgãos governamen-
tais e não-governamentais devem atuar na educação e na informação junto a pessoas, grupos e à
comunidade em geral.
É uma situação em que a criança ou adolescente é usado para a gratificação sexual de um adulto
ou mesmo de um adolescente mais velho, baseado numa relação de poder, incluindo desde carícias,
manipulação da genitália, mama ou ânus, exposição de órgãos genitais à criança, toques, masturba-
ção, sexo oral, anal e genital; quando uma pessoa tem prazer em observar a nudez de crianças ou
adolescentes, ou ainda, após sua indução, observar os comportamentos masturbatórios ou sexuali-
zados de crianças ou adolescentes; uso de linguagem erotizada, em situação inadequada; exploração
sexual; pornografia e até o ato sexual com ou sem penetração e com ou sem violência física.
Esta forma de violência resulta da falta de fronteiras entre as gerações, predomínio da cultura
adultocêntrica, coisificação da infância e adolescência e abuso do poder econômico, da força física
e/ou hierarquia.
Ressaltamos que a exploração sexual de crianças e adolescentes englobam a prostituição tradi-
cional, o tráfico para fins sexuais e o turismo sexual. Geralmente, a criança e o adolescente inseridos
na prostituição já foram abusados por algum familiar, sendo também esses os aliciadores diretos
ou coniventes com a situação. Além da família, outras pessoas lucram indiretamente com essa
prática criminosa: donos de bares próximos onde adolescentes se oferecem, os donos de motéis
que permitem sua entrada, os donos de boates que toleram ou incentivam a presença de menores,
taxistas, que às vezes fazem a intermediação, entre outros.
As causas da exploração são múltiplas: o poder do adulto, a cultura de coisificação da criança e
do adolescente, o gênero feminino como objeto sexual, o mercado ascendente para o gênero mascu-
lino, a má distribuição de renda, a miséria, desestruturação familiar, falta de acesso a uma rede de
educação de qualidade, as migrações, o desemprego, o consumo de drogas e o trabalho precoce.
* Assistente Social, Especialista em Violência Doméstica contra Criança e Adolescente, Especialista em Terapia Familiar, Pós gra-
duada em Educação Sexual.
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Dessa forma, faz-se necessária uma intervenção intersetorial para desconstruir os aspectos cul-
turais, atuar nas causas socioeconômicas e realizar capacitação para profissionais que lidam com
essa faixa etária e prestadores de serviços que toleram essa prática, visando uma mudança nesse
quadro.
Destacamos que a dominação sexual perversa, exercida contra crianças e adolescentes, pode
ser incestuosa ou não, heterossexual ou homossexual. Pode ocorrer em lugares fechados como
residências, consultórios,internatos, hospitais, escolas e incluem diferentes e variadas formas de
relações abusivas.
É incestuosa quando o agressor faz parte do grupo familiar (pai, mãe, avós, tios, irmãos, pa-
drasto, madrasta, cunhados, tutor, curador, preceptor ou por qualquer outro título com autoridade
sobre ela). Nesse caso, considera-se família não apenas a consanguínea, mas também as famílias
adotivas e substitutas.
De acordo com a Lei nº 11.106, de 2005, artigo 226, II “A pena é aumentada:
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de duas ou mais pessoas;
II – de metade, se o agente é ascendente, pai ou mãe adotivos, padrasto ou madrasta, tio, irmão,
tutor, curador, preceptor, ou empregador da vítima, ou pessoa que, por qualquer outro título, tenha
autoridade sobre ela.”
Sabe-se que a maioria dos agressores sexuais é algum familiar e/ou amigo íntimo da família,
pessoas em quem a criança confia. A violência com frequência é cometida dentro ou perto da casa
da criança ou do agressor, sendo que a maioria não é denunciada por motivos afetivos, medo de ser
causador da discórdia familiar ou medo do agressor.
Segundo Azevedo e Guerra (1996), os abusadores sexuais podem ser situacionais quando não
há preferência sexual por crianças, mas se aproveitam de oportunidade para cometer o crime, ou
pedófilos, onde o desejo sexual é voltado somente por crianças.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a Pedofilia consiste na preferência sexual por crianças,
quer se trate de meninos ou meninas. É classificada como transtorno de personalidade que atinge
a esfera psicossexual.
Pedófilos violentam um número maior de crianças, uma vez que desenvolvem estratégias eficazes
para abordar suas vítimas. Muitas vezes fazem parte do círculo de amizade da família e preferem
a companhia de crianças a conversar com adultos. Outra estratégia comumente utilizada é usar a
internet para ganhar a confiança, pois entram com perfil infantil com assuntos próprios da idade
da criança, manifestando interesses a desenhos, jogos, brinquedos e outros.
É importante destacar que a criança raramente mente que é molestada. Por isso, é preciso estar
atento aos sentimentos envolvidos no momento do relato e desenvolver estratégias para sua proteção
e responsabilização do agressor.
Segundo a literatura, estima-se que no Brasil 165 crianças ou adolescentes sofrem abuso sexual
por dia ou sete a cada hora (ABRAPIA, 2002).
A violência sexual ocorre em todas as classes sociais, no entanto as estatísticas indicam que
ocorrem com mais intensidade em meninas entre 07 a 14 anos, negras e pardas, das camadas po-
pulares menos favorecidas. Cabe aqui uma discussão: se de fato ela é mais frequente nessa parcela
da população ou se apenas ela apresenta maior visibilidade, sendo mais notificada e denunciada.
Meninos também são alvos de violência sexual e, às vezes, enfrentam preconceito e a acusação de
terem uma orientação homossexual.
Muitas vezes a violência contra meninos é entendida pela família e outros como sendo uma ex-
periência de iniciação sexual importante para o adolescente.
Dessa forma, a violência passa a ser negada, dificultando sua visibilidade, seu tratamento e sua
prevenção.
As mães de classe de menor poder aquisitivo, não raramente, possuem parcas condições de fa-
zer a supervisão de suas crianças, pois não contam com creches e outras redes de apoio enquanto
trabalham, em geral, os filhos maiores cuidam dos irmãos menores. Essas mulheres muitas vezes
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
têm pouca informação sobre como abordar temas relativos à sexualidade com crianças e adoles-
centes.
Algumas mulheres dependem emocionalmente ou possuem maior grau de dependência da con-
tribuição financeira do companheiro/marido. Sendo estes os maiores agressores fica difícil para
elas denunciar o abuso.
Essa omissão tem raízes na cultura, pois até pouco tempo o homem detinha o poder familiar,
mas com a luta do movimento feminista e consequente mudanças na legislação a mulher passa a ter
os mesmos direitos na família. No entanto, pela falta de informação e pelas convenções simbólicas
que norteiam sua conduta, algumas continuam tolerantes e submissas à vontade do homem.
Diante disso, é imprescindível fortalecer a mulher em seus diferentes ciclos vitais (infância, ado-
lescência, adulta, velhice), para fazer valer seus direitos, atuar como agente de mudança em casa
e na comunidade, possibilitando a ela novas formas de educar seus filhos, pautadas em valores de
igualdade, de direitos entre os sexos, companheirismo, divisão das tarefas domésticas, flexibilida-
de e negociação entre homem e mulher. E, principalmente, não aceitar o abuso com naturalidade,
denunciar o agressor para, assim, romper o ciclo da violência.
Muitos pais foram vítimas de violência sexual na infância e quando percebem que os filhos também
estão vivendo a mesma situação ficam paralisados e não sabem protegê-los, uma vez que também
não foram protegidos. É necessário ressignificar o que é proteger para os pais e responsáveis , pois
a negligência nos cuidados pode gerar o abuso sexual por familiares, vizinhos ou desconhecidos. As
crianças não podem ficar sem supervisão soltas nas ruas ou na casa de vizinhos. Algumas famílias
por falta de espaço colocam parentes ou conhecidos adultos para dormir no mesmo cômodo que
as crianças. Isso é um risco que deve ser considerado. Portanto, é imperioso que os pais ou respon-
sáveis sejam orientados a cuidar e proteger seus filhos.
Ressaltamos que a pobreza não determina a violência, mas facilita. As condições precárias de
moradia como residir em um único cômodo, compartilhar mesma cama, ausência de porta no ba-
nheiro caracterizam a falta de limite na intimidade e são fatores de risco para o abuso sexual, pois
podem promover um ambiente promíscuo.
A prevenção deve ser realizada em rede e neste caso é necessária haver uma intervenção ime-
diata da Secretaria de Estado responsável pela assistência, para solucionar o problema da moradia
e integrar a família nos programas sociais. É necessário reivindicar direitos para que eles sejam
cumpridos.
A mídia, como veículo de informação e repasse de valores, principalmente a televisiva, trata
indistintamente as faixas etárias. Temas e conteúdos restritos aos adultos, tais como cenas eróticas,
crimes, guerras, corrupção são expostos em horários frequentados por crianças. Dessa forma, as
crianças são literalmente expulsas da infância e projetadas na idade adulta.
A música também é veículo de transmissão de valores, pois repassa conhecimentos, conceitos,
valores e estimula a afetividade. No entanto, algumas são declarações de animalização, submissão,
agressão e vulgarização da condição feminina, ensinam a meninos que eles devem vê-las, tratá-las
e usá-las como meros objetos de prazer.
Sabemos que a iniciação sexual precoce das crianças pode ser incentivada através de hábitos
aparentemente inocentes como as danças eróticas, músicas com letras de cunho sexual e vestimenta
inadequada à faixa etária, o que estimula a erotização de crianças. Ressaltamos que a iniciação sexual
prematura pode conduzir a DSTs, gravidez indesejada na adolescência, aborto e outros problemas.
A educação sexual é responsabilidade da família e da escola. No entanto, na nossa cultura falar
com os filhos sobre sexualidade não é uma prática muito comum. Por isso, a escola deve buscar
estratégias para realizar a educação sexual com uma metodologia compartilhada com os pais e
responsáveis, além de orientar que ninguém tem direito de violar seu corpo e que devem recusar
toques nas partes íntimas, vagina, pênis, anus e mamas. Essa abordagem precisa ser realizada com
naturalidade, assim como orientamos a escovar os dentes. É melhor que eles procurem tirar suas
dúvidas com seus responsáveis e com profissionais qualificados do que com estranhos. É impor-
tante informar sobre prevenção de violência sexual, doenças sexualmente transmissíveis, enfatizar
o respeito ao corpo, à sexualidade do outro e a si próprio; encorajar as crianças e adolescentes a
contar sempre para alguma pessoa de sua confiança o que lhes afligem e a dizer não quando alguma
situação não lhes é favorável. Incentivar repertório musical e televisivo que possam contribuir com
sua formação e desenvolver senso crítico para descartar apelos danosos.
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
A criança e o adolescente devem ser monitorados diariamente. Os pais precisam ficar atentos
ao que os filhos querem dizer por meio do olhar, gestos, comportamentos e somatizações, sempre
à procura de reconhecer na sua individualidade desejos e ansiedades. Se houver mudanças, os
adultos responsáveis devem perguntar o que está acontecendo e se aproximar ao máximo deles,
demonstrando cuidado e preocupação. A melhor forma de educar é conversar, elogiar, incentivar e
ressaltar tudo de bom que a criança e o adolescente faz.
Ressaltamos que para uma criança ou adolescente sentir-se fortalecido e começar a dizer não
a qualquer risco é necessário que tenha uma base que o sustente, tal como: sentir que é amado,
que tem valor, que pode contar com sua família e que ela se preocupa com seus sentimentos. Isso
contribuirá para sua autoestima e seu auto-cuidado.
Em uma família, é necessária a definição clara de papéis parentais para não haver confusão nos
relacionamentos. Filha assumindo posição de mulher do pai, filho na posição de marido da mãe, é
fator de risco para violência familiar.
O trabalho infantil, além de ilegal, é outro fator de risco para abuso sexual de crianças, uma vez
que não há o monitoramento de seus responsáveis, principalmente no trabalho doméstico. Famílias
carentes deixam suas filhas em casa de amigos, parentes e conhecidos com a finalidade de traba-
lhar para conseguir estudar, mas algumas não conseguem esse objetivo, e muitas vezes ainda são
vítimas de violência sexual pelos homens da casa.
Família usuária de drogas também coloca em risco seus filhos, pois o efeito da drogadição acarreta
confusão mental, comprometendo a percepção de dano e proteção. Com isso tanto pode abusar
ou permitir que outros cometam essa violência. Faz-se mister o acompanhamento psicossocial do
usuário e seus familiares em Centro Atendimento Psicossocial de Atendimento a Álcool e Drogas –
CAPS – AD e instituições similares.
A convivência diária de múltiplos parceiros dos pais pode colocar a saúde mental, física e
sexual das crianças e adolescentes em risco, uma vez que o vínculo é frágil pela rotatividade e falta
responsabilidade para com os menores.
Na adolescência há uma inquietação para melhorar o padrão de vida e muitos utilizam a pros-
tituição, inclusive por falsas promessas de ficarem ricos. É preciso informar que muitos são enga-
nados e terminam explorados no tráfico sexual sem nenhum ganho, além de engravidar, contrair
DST, sofrer violência física e sexual e traumas psicológicos. Dessa forma, é necessário promover
a qualificação profissional e a geração de renda para jovens para prevenir a exploração sexual.
Ressalta-se que podem ser relatadas si-
tuações de violência pessoal ou familiar nas
reuniões educativas. As pessoas/vítimas de-
vem ser acolhidas e informadas dos procedi-
mentos corretos e onde buscar ajuda, além de
os facilitadores se mostrarem acessíveis para
conversar individualmente quando alguém do
grupo necessitar.
Por fim, é imprescindível implementar
políticas de cultura, esporte, educação sexual,
creches e pré-escolas, além de intervenção
intersetorial para desconstruir os aspectos
culturais, relações de poder, atuar nas causas
socioeconômicas, capacitar atores sociais
multiplicadores para realizar prevenção e
assim fortalecer as competências familiares,
construir uma nova forma de educação, uma
cultura de respeito aos direitos individuais de
crianças e adolescentes.
Prevenir é dever de todos. Violência sexual é crime!
A seguir serão destacados alguns fatores Notificar ao Conselho Tutelar
de risco e seus mecanismos protetores: Denúncia anônima disque 100
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
“Há que se cuidar do broto para que a vida nos dê flor, flores e frutos”
Milton Nascimento e Fernando Brant
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
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Estado de Saúde do Distrito Federal. Brasília, 2008.
29
A prevenção do trabalho infantil e a
proteção do adolescente no trabalho
Ana Lucia Correa e Castro*
Entende-se como Trabalho Precoce “qualquer atividade produtiva no mercado formal ou informal,
que retire a criança e/ou o adolescente do convívio com a família e com outras crianças, prejudi-
cando, assim, as atividades lúdicas próprias da idade, por comprometer o seu desenvolvimento
cognitivo, físico e psíquico.” (Brasil, 2001). Agregam-se a este entendimento as atividades realizadas
no espaço doméstico, substituindo o trabalho do adulto incompatível com a condição de pessoa
em desenvolvimento.
No Brasil, é proibido o trabalho aos menores de 16 anos, sendo tolerável na condição de aprendiz
a partir dos 14 anos, respeitadas as determinações legais. Acima dos 16 anos, somente se garantidos
os direitos trabalhistas. Aos menores de 18 anos, está vetado o descrito na Lista das Piores Formas
de Trabalho Infantil, conforme Decreto 6481 de 12 de junho de 2008, onde se destaca a proibição
do trabalho doméstico bem como nos lixões, tráfico de drogas, prostituição e outros.
O Enfrentamento ao Trabalho Infantil vem assumindo relevância a partir do entendimento deste
fenômeno social e suas implicações extremamente danosas para a sociedade.
Tornar inaceitável o trabalho precoce é uma perspectiva que interfere positivamente na construção
de novos valores de relação social. Por tal, é importante sensibilizar sobre os riscos, com destaque
ao trabalho doméstico – crianças invisíveis (ANDI, 2003) e o de rua, tornando visíveis situações
graves como maus tratos, exploração e violência sexual (CEDECA EMAUS, 2002).
Crenças e Valores
* Assistente Social. Terapeuta Familiar. Especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes. Especialista em Saúde Mental.
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
êxito em pequenas tarefas (organizar seus brinquedos, pertences...) fortalece o senso de responsa-
bilidade, de solidariedade e contribui para a formação do ser humano. Estruturar hábitos e sistemas
de valores saudáveis é preventivo a uma série de situações futuras.
O entendimento do trabalho doméstico como responsabilidade do feminino vem contribuindo
para manter concepções distorcidas e alimentando o trabalho precoce e a violência de gênero. As
tarefas domésticas devem ser distribuídas entre os diferentes sexos respeitando as condições dos
infantes. Esta construção contribui para que as relações de gênero sejam mais equânimes e os fa-
miliares mais parceiros. Tudo isto e mais contribui para melhorar a convivência doméstica e mudar
concepções para novas gerações mais solidárias.
Fatores Protetores
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
precário. Prepara a pessoa para ser resiliente a pressões externas que conduziriam, muitas vezes, ao
comércio de drogas e prostituição, categorizados dentre as piores formas de trabalho infanto-juvenil.
Aos atores de proteção é importante aprofundar o conceito de RESILIÊNCIA e suas variáveis.
Motivar e estabelecer projeto de vida para cada fase da existência distinguindo ações individuais
das coletivas contribui para o autoconhecimento, respeito à identidade, autoestima, sentimento
de pertença a uma coletividade e a estabelecer propósitos direcionados. Passam a construir redes
que possibilitem alcançar seus intentos. Isto contribui para prevenção de uma série de prejuízos,
inclusive o engajamento no tráfico de drogas.
Faleiros e Faleiros (2008) aponta outras estratégias preventivas que passam pela educação
básica de qualidade, com acesso a creches e à pré escola, programas socioeducativos – esporte,
atividades criativas em horário inverso à escola para o desenvolvimento de competências para lidar
com o cotidiano e motivação para um contínuo processo de aprendizagem. Articulação com enti-
dades comunitárias para programas de alfabetização para crianças, jovens e adultos é sumamente
importante no enfrentamento ao trabalho infantil.
Estas estratégias exigem a preparação de profissionais para o manejo de especificidades como
crianças e adolescentes negligenciados, abandonados, condutas especiais, transtornos emocionais
e outros quadros singulares.
Levar esta temática aos Conselhos de Saúde e outros espaços de controle social possibilita o
engajamento destes atores para evitar o trabalho infantil e proteger o adolescente no trabalho.
Conhecer os cenários de vulnerabilidade e fortalecer os de proteção, para estruturar soluções mais
próximas da realidade local. Implementar parcerias com a saúde, escolas, assistência social, segu-
rança pública, igrejas, creches, sindicatos para compartilhar percepções acerca do trabalho precoce
e construir estratégias conjuntas. Em todo este coletivo, os gestores devem compreender o processo
para que possam apoiar as ações.
A rede intersetorial local deve conhecer o funcionamento e formas de acesso dos programas como
PETI, Bolsa Família, Viva Melhor (DF), Benefício da Prestação Continuada – BPC, Mais Educação,
PROJOVEM, Alfabetização e Educação Básica de jovens e adultos que possibilitem retirar do trabalho
infantil e integrar a família nos programas de proteção social.
Tornar conhecidos documentos produzidos para que algumas sugestões já pensadas possam ser
adaptadas e repensadas, no contexto local. Abaixo algumas sugestões ressaltando que os Planos
Nacionais são repensados e propostas locais são elaboradas:
Adolescentes
Aos maiores de 16 anos existem estratégias para prevenir trabalhos danosos (trabalhos penosos,
insalubres e noturnos), como a inclusão digital, formação profissional, programa primeiro emprego,
treinamento de uma profissão/ocupação para entrar no mercado formal. Divulgar em espaço de
ampla circulação (escolas, rodoviárias, unidades de saúde e de assistência) uma lista dos locais onde
jovens podem se instrumentalizar para inserir no mercado formal contribui para abrir perspectivas
e possibilitar o acesso.
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Motivar e implementar o protagonismo juvenil abre portas para que adolescentes utilizem seu
potencial para a construção de novas possibilidades cidadãs. No endereço eletrônico http://4pilares.
net/text-cont/costa-protagonismo.htm pode-se acessar uma série de orientações sobre este processo
educativo social. Aprender a identificar e utilizar as estruturas da rede local, construir um processo
de identidade grupal e de referências saudáveis para a estruturação de suas vidas e de suas famílias
são alguns dos ganhos desta forma de organização. Discutir a partir do conteúdo trazido por eles,
após acordos para tal trabalho grupal, possibilita que propostas significativas sejam trabalhadas.
No mais simples, pode ser um excelente momento de convivência, fundamental para estruturar a
existência.
Oficinas inserindo jovens portadores de necessidades especiais com outros da sua faixa etária
que abordem a descoberta de identidade, autoimagem, autoconhecimento, negociação familiar,
espaço lúdico, trabalhando temas como raça, etnia, classe social, consumo são outras estratégias
pertinentes à prevenção do trabalho precoce.
Por ser um espaço formador de opiniões, a mídia pode ser um grande aliado no enfrentamento
do trabalho precoce. Um exemplo é o realizado pela ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da
Infância – que, através do site www.andi.org.br, tem se empenhado em subsidiar profissionais da
mídia com informações para coberturas qualificadas.
Outras estratégias são materiais de campanha para os diferentes públicos com camisas, botons,
cartazes, folders e vídeos, bem como estabelecer um kit pedagógico que permita a profissionais
a compreensão deste fenômeno com bibliografias, musicas e literatura infantil que valorizem as
raízes culturais e a não violência.
Promoção de seminários locais e centrais para sensibilizar a sociedade, permitindo a visibilidade
do fenômeno, a extensão na sua localidade e compreensão dos danos relativos ao trabalho precoce
é de suma importância. Pode ser uma ação profícua a participação de atores estratégicos como
aqueles que compõem a rede de garantia de direitos juntamente com algumas pessoas que possam
interferir na mudança do cenário local, em eventos que desestimulem o trabalho infantil e resultem
em respostas concretas.
Legislação
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Bibliografia
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34
Bullying Escolar – conhecer
para enfrentar
Cléo Fante*
José Augusto Pedra**
* Pedagoga. Especialista em Bullying Escolar. Autora do programa antibullying Educar para a Paz. Consultora Educacional.
** Psicólogo.
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Os estudos sobre o bullying escolar tiveram início na Suécia, na década de 70, e na Noruega, na
década de 80, revelando altos índices de incidência. Aos poucos, os estudos vêm se intensificando em
diversos países, como Estados Unidos, Canadá, Japão, Portugal, Reino Unido, Espanha, França, etc.
No Brasil, os estudos são recentes, datam do ano de 2000, motivo pelo qual a maioria das pessoas
desconhece o tema, sua gravidade e abrangência. Estudos pioneiros realizados pela professora Cléo
Fante, na região de São José do Rio Preto, com um grupo de dois mil estudantes de escolas públicas
e privadas mostraram o envolvimento de 49% em bullying. Desses, 22% atuavam como vítimas, 15%
como agressores e 12% como vítimas agressoras, aquelas que reproduzem a vitimização.
No município do Rio de Janeiro, um outro estudo foi realizado com um grupo de 5.875 estudan-
tes, de nove escolas públicas municipais e duas escolas particulares, revelando o envolvimento de
40,5%. Desses, 17% eram vítimas, 13% agressores e 11% vítimas agressoras.
Dados mundiais revelam que o fenômeno envolve entre 6% e 40% de crianças em idade escolar.
Revelam também que os atos bullying tendem a aumentar nos próximos anos, assim como a violência
entre os jovens e na sociedade em geral. Dados coletados pelo Cemeobes-Centro Multidisciplinar
de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar indicam o envolvimento de 45% dos estudantes
brasileiros.
As consequências do bullying são graves, pois afetam o psiquismo do indivíduo e comprometem o
processo de socialização e de aprendizagem, bem como a saúde física e emocional, especialmente
das vítimas. O isolamento a que são submetidas mobiliza uma série de sentimentos negativos, que
comprometem a estruturação da personalidade e da autoestima, além da incerteza de estarem em
um ambiente educativo seguro, onde possam se desenvolver plenamente.
Dependendo do grau de exposição às formas de ataques e da intensidade das emoções vivencia-
das, as vítimas podem mobilizar elevados índices de ansiedade e estresse, podendo vir a desenvol-
ver inúmeros transtornos comportamentais, como obsessivos, compulsivos, depressão ou doenças
psicossomáticas, como gastrite, alergias, bulimia, anorexia, dentre outras.
Em casos crônicos podem tentar ou cometer o suicídio. Em casos extremos, planejam estraté-
gias de vingança contra a instituição escolar, podendo protagonizar massacres suicidas, como os
ocorridos em Paducah, Jonesboro, Springfield, Columbine, Red Lake, Virginia Tech, nos Estados
Unidos, Carmen de Patagones, na Argentina, Tuusula, na Finlândia, Taiuva e Remanso, no Brasil,
além de outros.
Quanto aos autores, seu comportamento intimidador poderá se solidificar com o tempo, com-
prometendo as relações afetivas e sociais, além da aprendizagem de valores humanos, como a
solidariedade, a empatia, a compaixão, o respeito a si mesmo e ao outro, o que afetará as diversas
áreas de sua vida. Muitos tendem à depressão, às ideias suicidas, ao envolvimento em delinquência,
ao uso de drogas e à criminalidade. Muitos, quando adultos, cometem a violência doméstica e o
assédio moral no trabalho.
Há, ainda, que se considerar os riscos para os espectadores, podendo afetar seu desenvolvimento
sócio-moral, o que contribui para a escassez da empatia, insensibilidade aos sentimentos alheios,
insegurança pessoal, medo do futuro e deficiente desenvolvimento de valores pró-sociais, dentre
outros aspectos.
Alguns fatores propiciam o bullying, sua banalização e legitimidade. As atitudes culturais, como
o desrespeito, a intolerância, a desconsideração ao considerado “diferente”; a hierarquização nas
relações de poder estabelecidas em detrimento da fraqueza de outros; o desejo de popularidade, a
manutenção do status a qualquer preço; a reprodução do comportamento abusivo como uma dinâ-
mica psicossocial epidêmica; a falta de habilidades de defesa, a submissão, a passividade, o silêncio
e sofrimento das vítimas; a conivência e o incentivo às ações cada vez mais cruéis e desumanizantes
daqueles que a assistem; a violência doméstica, a ausência de limites, a permissividade familiar, a
falta de exemplos positivos, a influência da mídia e dos jogos virtuais; a omissão, o despreparo, a
falta de interesse e comprometimento de muitos profissionais e instituições escolares; a impunida-
de, o descaso e a falta de investimentos e políticas públicas voltadas à educação e à saúde para o
tratamento e prevenção, dentre outros.
O desconhecimento do fenômeno e a dificuldade no desenvolvimento de ações eficazes – devido
à sua complexidade e identificação – têm contribuído para a disseminação em larga escala, uma vez
que 80% das vítimas tendem a reproduzir a vitimização nos mais diversos contextos, o que agrava
ainda mais o problema.
36
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Por isso, é urgente o desenvolvimento de programas anti-bullying, que envolvam toda a comu-
nidade escolar, em parceria com as diversas instituições e membros da sociedade. Este fenômeno
psicossocial não se enfrenta isoladamente, mas com a conscientização de toda a comunidade e com
estratégias que estimulem e propiciem aos jovens escolares o engajamento em ações de cooperação
e solidariedade, que promovam a tolerância e o respeito às diferenças.
Enfatizar a importância da vítima não silenciar seu sofrimento, mas procurar a ajuda dos pais,
dos amigos, dos professores, bem como de profissionais de saúde especializados, a fim de que seja
minimizada qualquer possibilidade de sequelas para o futuro.
Hoje é possível denunciar os casos de bullying pelo Disque 100, com a devida segurança ao
denunciante.
A prevenção começa pelo conhecimento, portanto, é imprescindível que as escolas conscientizem
seus alunos e profissionais sobre a gravidade desse tipo de comportamento, que são passíveis de
punição em Lei.
Créditos:
Cemeobes – Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar.
Contatos:
cleofante@terra.com.br
www.bullying.pro.br
www.cemeobes.com.br
cemeobes@terra.com.br
Indicações Bibliográficas
FANTE, Cleo. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Cam-
pinas: Verus Editora, 2005.
FANTE, Cleo & PEDRA, José Augusto. Bullying Escolar: perguntas e respostas. Porto Alegre: Artmed,
2008.
37
Prevenção da violência psicológica
Marcelle Passarinho*
38
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Contra a criança
39
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Destacamos que os principais locais onde ocorre esse tipo de violência são em casa e na escola.
Uma forma de violência psicológica que ocorre exclusivamente na escola é o bullying.
Bullying é uma palavra inglesa que significa usar o poder ou força para intimidar, excluir, implicar,
humilhar, não dar atenção, fazer pouco caso e perseguir os outros. Fante (2005) caracteriza-o
como um “conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação
evidente, de forma velada ou explícita, adotada por um ou mais indivíduos contra outro(s),
causando-lhe dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que
magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e
infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos, morais e materiais
são algumas das manifestações do comportamento do bullying” (p. 29).
O assédio moral, outra forma de violência psicológica, é a exposição dos trabalhadores a situações
humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no
exercício de suas funções. São mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas,
em que predominam condutas negativas, relações desumanas e antiéticas de longa duração, de
um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinados, desestabilizando a relação da vítima com
o ambiente de trabalho e a organização. Em geral, provocam ações humilhantes ao profissional ou
a exigência de tarefas absurdas e impossíveis de realizar com o objetivo de gerar a ridicularização
pública no ambiente de trabalho e a humilhação do profissional.
Aquele que realiza o assédio moral pode ter desejo de abuso de poder para se sentir mais forte
do que realmente é. Alguns inclusive são sádicos e provocam outras violências além da moral. Por
ser algo privado, nem sempre a vítima consegue provar judicialmente o que sofreu, principalmente
pela dificuldade de conseguir testemunhas, e por isso prefere se calar a colocar o emprego em risco.
Portanto, a violência psicológica, apesar de difícil de ser identificada, devido às sequelas invisíveis,
o agressor manipular a vítima ou por ser cultural e repetitivo na família, acarreta graves danos ao
desenvolvimento psicológico, físico, sexual e social. Podemos observar alguns desses indicadores:
Constatamos que há certa desinformação tanto em relação às formas de violência que ocorrem
no dia-a-dia, como em relação aos serviços para atendimento às vítimas. Esse desconhecimento
é maior quando se trata da violência psicológica. Parece existir uma negação de que fenômenos
como humilhação, desqualificação, críticas destrutivas, exposição a situações vexatórias, bem
como desvalorização da mulher, da criança/adolescente e do idoso constituem, de fato, formas de
violência que, muitas vezes, culminam na violência física.
40
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
A violência psicológica se inicia de uma forma lenta e silenciosa, que progride em intensidade
e consequências. Destacamos que o autor de violência, em suas primeiras manifestações, não
lança mão de agressões físicas, mas parte para o cerceamento da liberdade individual da vítima,
avançando para o constrangimento e humilhação.
O agressor, antes de poder ferir fisicamente, precisa baixar a autoestima da vítima de tal forma
que ela tolere as agressões. Por isso, é importante que o profissional de saúde possa ampliar seu
olhar e:
P
ossibilitar à pessoa se identificar como vítima ou ter condições de perceber a violência
ainda em estágio inicial. Isto é, quando a violência doméstica psicológica ainda não evoluiu
para a violência física sendo, portanto, mais fácil de frear sua evolução;
P
ossibilitar à vítima e às demais pessoas de suas relações a compreensão da violência e
dos direitos humanos, favorecendo a busca de soluções por meio de mecanismos legais e
do exercício da cidadania;
P
restar um atendimento respeitoso, de modo a contribuir para que a vítima possa se
expressar livremente, o que propiciará a clara exposição dos fatos, tendo como consequência
o entendimento da dinâmica da violência e a maior chance de solução da situação;
V
alorizar a pessoa e fortalecê-la;
P
restar um atendimento humanizado;
E
ncaminhar para os locais de referência, quando necessário e para acompanhamento
psicoterápico.
Prevenção
Destacamos que a prevenção da violência psicológica pode ser pensada como uma estratégia de
prevenção da violência de modo geral. Por ser transgeracional, uma pessoa que cresce e desenvolve-
se numa família violenta pode reproduzir um comportamento violento como forma de solução de
problemas ou simplesmente, como mais uma maneira de relacionar-se com o outro.
De acordo com o Ministério da Saúde (2002), uma política de prevenção, mesmo no nível local,
deve estar voltada para dar visibilidade ao problema, desconstruindo o conceito de que a violência
é algo que faz parte da natureza, reforçando o conceito de que a violência é cultural e por isso pode
ser eliminada da convivência social.
Pesquisas revelam que mulheres que vivenciam situações de violência de gênero procuram mais
os serviços de saúde e falam sobre as violências que sofrem, desde que se dê a elas condições de
acolhimento e de escuta. Portanto, recomenda-se que os serviços de atenção primária em saúde
criem espaços para ouvir, entender e enfrentar a violência. Tais como:
A
companhamento em visitas domiciliares semanais, quinzenais ou mensais, conforme
necessário;
P
alestras, sensibilização e comitês voltados a profissionais das diversas áreas de atendi-
mento e proteção à criança e ao adolescente, à mulher e ao idoso;
C
artilhas elaboradas para orientação acerca do fenômeno e suas implicações, divididas em
duas formas: para pais e para técnicos das áreas de atendimento;
D
istribuição dessas cartilhas/folders na comunidade;
P
romoção do acesso a serviços adequados e apoio institucional às famílias e pessoas
vulneráveis à situação de violência;
V
alorização da resolução não-violenta de conflitos.
41
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Formas de Prevenção
Ressaltamos que todo o processo de prevenção não ocorre de maneira homogênea. Existem
avanços e retrocessos, êxitos e obstáculos. É importante que as equipes estejam preparadas para
lidar com estes altos e baixos, sem desanimar. Por sua complexidade, o processo de prevenção
requer um exercício de muita paciência, perseverança e, sobretudo, a colaboração e integração dos
profissionais de diferentes áreas profissionais e da comunidade.
Rede de Proteção
42
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Bibliografia
BRASIL. Ministério da Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática em serviço. Secretaria
de Políticas de Saúde. Brasília, 2001 (Série Cadernos de Atenção Básica; n. 8).
____. Secretaria de Assistência à Saúde. Notificação de maus-tratos contra crianças e adolescentes pelos
profissionais um passo a mais na cidadania em saúde. Normas e Manuais Técnicos, série A, nº 167.
Brasília: Ministério da Saúde, 2002.
KRONBEAUER, J.F.D.; MENEGHEL, S.N. Perfil da violência de gênero perpetrada por companheiro. São
Paulo: Revista Saúde Pública [on line], vol.39 no.5, 2005.
PASSARINHO, Marcelle. “Violência Psicológica”. In Vilela, L. – coord. Enfrentando a violência na rede
de saúde pública do Distrito Federal. Brasília: Secretaria de Estado de Saúde. 2005.
SILVA, L,L; COELHO, E.B.S & CUCURULLO DE CAPO, S.N.Violência silenciosa: violência psicológica
como condição da violência física doméstica. Interface, vol. 11 nº 21, 2007. Acessado em 10/07/2009
em http://www.scielo.br.
VILELA, Laurez F. (coord.). Manual para Atendimento às Vítimas de Violência na Rede Pública do DF.
Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal. Brasília, 2008.
43
Prevenção à violência na juventude
Maria Aparecida Penso*
O Conceito de Juventude
Considera-se como jovem o sujeito com idade entre 15 Estes dados, dos quais
a 24 anos. Esta definição tem sido utilizada por diversos não temos porque nos or-
pesquisadores e instituições de pesquisa nas últimas duas gulhar, torna a violência na
décadas, e possivelmente no futuro próximo se configurará população jovem brasilei-
como uma nova fase no ciclo de vida da nossa população. ra um grave problema de
saúde pública. Isto signifi-
ca que todos os níveis de
Os Jovens e a Violência atenção à saúde precisam
estar atentos a esta situa-
As estatísticas sobre a mortalidade de jovens, especialmente ção e implantar programas
aqueles do sexo masculino, são alarmantes, principalmente as de prevenção e atenção,
mortes relacionadas a causas violentas (homicídios, suicídios e principalmente para jovens
acidentes de trânsito). Os homicídios nesta faixa etária estão, na que vivem em contextos de
maioria das vezes, relacionados com o uso de drogas e brigas risco social e pessoal, bem
de gangues. O IBGE divulgou recentemente um levantamento, como para suas famílias.
onde a violência urbana é apontada como responsável por 68%
das mortes de jovens, na faixa de 15 a 24 anos. Em 2004, a
* Psicóloga. Terapeuta Familiar. Doutora em Psicologia Clinica pela Universidade de Brasília e Professora do Mestrado e da Graduação
de Psicologia da Universidade Católica de Brasília.
44
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
UNESCO divulgou os dados da pesquisa “Mapa da Violência 4” em que se constatou que o Brasil
tem a quinta maior taxa de homicídio de jovens, entre os 67 países analisados. Jorge Werthein,
representante da UNESCO, aponta que os jovens são a parcela da população mais vulnerável à
violência em todo o mundo, mas considera como “absolutamente inaceitáveis” esses índices.
Muitos jovens convivem com a violência dentro da sua própria casa, onde aqueles que deveriam
protegê-los são os seus primeiros agressores. Esta situação inicia-se quando o jovem ainda é uma
criança e se prolonga até a sua juventude. As pesquisas mostram que na maioria dos casos quem
comete a violência é o homem (pai, padrasto, tios, avós, etc). Outra informação importante é que
a violência dentro da família é dirigida a jovens de ambos os sexos, mas se manifesta de forma
diferente. No caso dos jovens do sexo masculino, a principal forma de violência ainda é física, sendo
que no caso das jovens, prevalece a violência sexual. Mas o número de jovens do sexo masculino
que são vítimas de violência sexual também é significativo e tem crescido nos últimos tempos.
No entanto, os jovens temem fazer a denúncia, pelo preconceito que terão que enfrentar, já que
culturalmente tal situação é vista como muito vergonhosa, pois significa que o homem não soube
se defender, que é fraco. Além disso, ainda existe o mito de que, por ter sido abusado, este jovem
estará fatalmente condenado a ser homossexual. É importante ressaltar que, independente do sexo,
do tipo de violência e de quem a comete, os jovens terão a tendência de repetir o comportamento
aprendido em casa em seus relacionamentos futuros, perpetuando o “ciclo da violência”. ESTA É
UMA SITUAÇÃO INACEITÁVEL E QUE PRECISA SER ENFRENTADA POR TODOS.
45
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
As Violências Sutis
Além das violências facilmente identificáveis pelas marcas deixadas no corpo, não podemos
deixar de lembrar daquelas que nos parecem invisíveis, mas que também deixam cicatrizes
profundas na vida do jovem. Entre elas podemos citar: a prostituição na adolescência, por ambos
os sexos, o tráfico de mulheres, o autoextermínio, as propostas “irrecusáveis” para trabalhos fora
do país, as agressões verbais, a desvalorização do adolescente.
Todas estas situações devem ser pensadas como violências, às quais estão submetidas grande
parte da juventude brasileira pela falta de informações, suporte familiar, social, econômico ou
emocional.
Precisamos pensar em diversas alternativas para modificar a situação de grande parte da nossa
população, especificamente os jovens. Estas alternativas estão relacionadas ao oferecimento de
atividades de lazer, cultura e esporte que possam influenciar no seu desenvolvimento físico e
emocional, até num melhor desempenho escolar. Partimos do pressuposto de que a ocupação do
tempo dos jovens, ao oferecer novos interesses e desenvolver
novas habilidades coletivamente construídas, pode influenciar As medidas preventivas
o seu afastamento de situações de violência, uso de drogas e custam mais barato do
criminalidade. Segundo Mizne, diretor executivo do Instituto que as repressivas, como
“Sou da Paz”, além de desarmar a população, é preciso a internação de jovens em
“desarmar o espírito” e buscar novas formas de educação na unidades socioeducativas
família, na escola e na sociedade que provoquem a inclusão ou os gastos com acidentes
dos jovens no contexto sócio-familiar. Para isso, é importante a de trânsito e armas de fogo,
integração de diferentes instituições responsáveis pelo jovem são possíveis de ser realiza-
como serviços de saúde, escola, instituições de assistência das nos diferentes espaços
social e família, possibilitando o resgate de valores e de de convivência do jovem:
respeito ao próximo. escola, saúde, grupos de
Tendo como base as colocações sobre o tema, enumera- jovens, entre outros.
mos a seguir algumas sugestões práticas para a prevenção
à violência.
1–E
laboração de políticas públicas de inclusão social, a partir de projetos de vida sólidos,
geradores de segurança e confiança dos jovens na sua capacidade de construir o seu
futuro.
2–M
anutenção de atividades esportivas, de recreação e culturais para os jovens nos finais
de semana.
3 – Implantação de políticas de emprego, como a contratação de jovens monitores nos
programas culturais e esportivos dentro do projeto Primeiro Emprego.
4–C
riação de programas e atividades que ajudem a preservar os vínculos afetivos e a
transmissão de valores éticos por pais e educadores, como atividades de lazer e culturais
na comunidade. As atividades ligadas às artes, como teatro, construção de textos,
redações, pequenas obras como revistas, jornais, desenhos, pinturas, quadros etc., e aos
esportes podem dar um sentido melhor à vida dos jovens e oferecer uma percepção maior
da realidade em que vivem.
5 – Implantação de programas de orientação a pais e familiares sobre a importância do
estabelecimento de limites para os jovens, que lhes protejam dos perigos e do contato
com a violência.
6 – Incentivo ao diálogo entre jovens e responsáveis, para que estes últimos possam agir
como mediadores a respeito de informações que os adolescentes recebem, por exemplo,
46
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
pela mídia, mostrando quais são suas opiniões e seus valores em relação a determinados
assuntos como, por exemplo: prostituição na adolescência; propostas para trabalho no
exterior; suicídio; prevenção às DSTs; respeito consigo mesmo, no que diz respeito à
sexualidade.
7–D
iscussão com os jovens sobre os índices e fatores que estão contribuindo para a violência
em sua faixa etária e juntos buscar alternativas de prevenção.
8–C
riação de espaços de conversação com os jovens sobre comportamentos de risco e
formas de auto-proteção, levando-os a assumirem a posição de protagonistas críticos da
sua própria vida.
Referências Bibliográficas
47
Aprendendo a conviver para
prevenir a violência
Vanessa Canabarro Dios*
* Psicóloga do Programa Violeta da Secretaria de Saúde do DF, mestre em psicologia clínica pela UnB, terapeuta de família.
48
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Vamo-nos conhecer?
Por isso, o primeiro convite que faço a você é: vamo-nos conhecer? Vamos saber o que sentimos e
reconhecer nossas emoções? Acho que esse é o primeiro passo. Diante de uma situação de conflito
a primeira coisa a pensar é no que eu estou sentindo agora. O que essa relação está trazendo
para mim? Que sentimentos são esses? São positivos, negativos, me faz sentir-me bem ou mal?
Ninguém tem o direito de nos maltratar, portanto quando sentimos que o outro tem razão em nos
desqualificar, quando achamos que nós não somos bons o suficiente, quando achamos que uma
vida sofrida e triste é o que de melhor possa nos acontecer é porque há algo de errado acontecendo.
Se sentirmos algum incômodo, se algo não está indo bem, nesse momento é importante colocarmos
o nosso limite: “eu não aceito ser tratado assim, eu não mereço isso”. Às vezes, colocar limites é
simplesmente pedir ajuda para alguém e falar sobre o que você está sentindo. Tenho aprendido que
todas as vezes que falamos dos nossos sentimentos para alguém somos bem recebidos, as pessoas
se emocionam conosco e somos ouvidos e ajudados. Acredite, há muita gente para ajudar quem
está sofrendo e viver sofrendo não é natural.
O segundo convite que faço a você é: compartilhe o que está sentido com alguém que possa
te ajudar. E lembre-se de que sempre tem alguém que pode ajudar, seja um professor, alguém da
família, um colega, um amigo etc. Relações violentas fazem mal para a gente, se não nos cuidarmos,
adoecemos. Podemos adoecer fisicamente ou emocionalmente, quando deixamos de acreditar em
nós mesmos, quando ficamos nos sentindo para baixo ou quando começamos a nos sentir diferente
49
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Procure entender a situação do outro para que você também não aja de forma violenta. Às vezes,
quando estamos envolvidos em situações de violência, temos a tendência de sermos agressivos
também nas nossas relações. Dessa forma, cria-se uma cadeia em que a violência de um obtém
como resposta a violência do outro, a agressividade é respondida com agressividade, a briga é
respondida com a briga. Se ele me bateu, eu tenho de bater também. Para entendermos melhor
o outro, temos de treinar a vê-lo de uma maneira diferente e apresentar respostas diferentes para
conflitos antigos. Qual atitude eu posso ter diante da violência do outro? Um caminho possível e
comum, porém pouco efetivo, é responder na mesma moeda. Uma forma alternativa, inteligente e
diferente seria responder utilizando outras estratégias, como o diálogo e a negociação. Essas coisas
podem e devem ser aprendidas. Saber conversar, respeitar o outro e negociar uma situação é um
princípio básico de sobrevivência e saúde. Todos deveriam ser formados nisso, mas infelizmente
as coisas não são ainda assim. Nós podemos começar a mudar ao entender que nas relações
pessoais se um perde os dois perdem, ou seja, o conflito de um se espalha e contagia o outro que
está próximo. Então, se eu invisto na destruição do outro, na verdade estou investindo na minha
própria destruição. Em guerras, não temos ganhadores e perdedores, pois na guerra todos perdem,
até aquele que ganha.
Da mesma forma, a alegria, o bem-estar, a saúde do outro também nos atinge. Portanto, eu
tenho de lutar para que o outro fique bem, pois assim eu ficarei bem também. Então, atitudes de
valorização do outro, respeito, consideração, cooperação, solidariedade vão-nos fazer viver mais
felizes. Aproveitando esses recursos poderemos estabelecer nossos limites. Esse é um grande
passo contra a violência, e o melhor, está ao nosso alcance.
Somos seres que vivem em contato permanente com o outro. Nossa identidade é formada, tam-
bém, pelas relações que estabelecemos com as pessoas. Aprendemos ao longo da vida se somos
inteligentes, espertos, bons ou maus. Esse aprendizado inicia-se muito cedo, quando os pais come-
çam a imaginar como serão os seus filhos. De-
pois, quando os filhos nascem as expectativas
são tão grandes e diversas, e as crianças vão
aprendendo o que são quando ouvem: “como
esse menino é inteligente, olha o que ele apren-
deu hoje” “Como ela é amorosa” “Como ela é
esperta” etc. As crianças aprendem muito rá-
pido e cedo, por isso temos de tomar cuidado
com o que falamos perto delas. Se pensarmos
que ela é preguiçosa, ela vai aprender a se com-
portar dessa forma. E assim, o que pensamos
vai se confirmando à medida que a criança e
o adolescente correspondem à expectativa da
família. A identidade, nesse sentido, é co-cons-
truída, pois a partir das nossas relações sociais
e do contato com o outro vamos internalizando
emoções, comportamentos, atitudes.
Portanto, diante de atitudes violentas,
seja amoroso; diante de animosidades, seja
amigo; diante da injustiça, seja justo; diante da
descrença, tenha esperança. Procure agir da
50
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
maneira mais positiva possível, pois para muitas pessoas o início de uma boa relação depende
apenas de um pequeno sinal, e você pode dar esse primeiro passo. Não espere do outro, faça você
mesmo esse investimento para a criação de relações harmoniosas e saudáveis. Essas mudanças
podem começar dentro da própria família, faça isso com seus irmãos, seus pais, seus filhos. Depois
amplie com os amigos, colegas de escola, professores etc. Busque ter como meta a valorização do
outro, reconhecendo seus aspectos positivos.
É claro que as pessoas não são perfeitas e que todos nós temos coisas boas e coisas não tão
boas, mas o convite aqui é para que as coisas positivas possam ser ressaltadas e mais valorizadas,
dessa forma todos saem ganhando. Além disso, estamos investindo na autoestima, na auto-
confiança, na auto-valorização. Quando for preciso falar de algo que não gostamos é fundamental
que consigamos separar a pessoa do seu comportamento.
A pessoa é muito maior do que sua atitude, ou seja, existem muitas outras coisas além daquele
comportamento de que não gostamos. Esse olhar pode contribuir para o diálogo e o encontro com
o outro a partir do momento em que favorece a compreensão de que eu não me relaciono com o
comportamento do qual não gosto, mas sim com uma pessoa, cujas características extrapolam as
ações que nos magoaram.
A transformação das relações é algo que pode ser aprendido a partir do reconhecimento das
competências de cada um, a partir da valorização do outro, e a partir de um desejo nosso de tentar
fazer diferente. Com isso, estamos ensinando e aprendendo a conviver e, finalmente, construindo
a paz.
Referências Bibliográficas
51
Grupo de Instrumentalização de Pais – GIP
Uelma Araújo Azevedo*
* Assistente social e coordenadora do Programa de Prevenção aos Acidentes e Violência da Regional de Saúde Taguatinga/DF.
52
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
fortalecimento da autoridade, construção das relações amorosas entre pais e filhos, e, principalmente
formação de parcerias para prevenção da violência intra-familiar.
As reuniões são quinzenais, atualmente nas quintas-feiras pela manhã, com calendário trimes-
tral entregue em mãos aos participantes, antecipadamente. É um grupo dinâmico, tendo como me-
todologia a instrumentalização através da discussão e aplicabilidade das atitudes descritas abaixo
correlacionando-as com as dificuldades apresentadas pelos componentes do grupo, tais como:
medos, inseguranças, conflitos, incompatibilidades de valores/culturas, resgate de autoridade legí-
tima, imposição de limites, bloqueios, agressividade, baixa autoestima, abandono, etc, proporcio-
nando aos participantes principalmente compartilhar experiências positivas que de alguma forma
possam conduzir o grupo para uma reflexão sobre as suas atitudes individuais e assim oferecer a
sua mudança para mudança do outro.
ATITUDES
2) Segunda Atitude: Falando na primeira pessoa – sempre que for conversar, comece com a
palavra EU.
* Usando uma estratégia simples, mas que exige muito exercício, que é: sempre que formos
conversar com nossos filhos, companheiro, irmãos, amigos, etc, devemos usar a palavra “EU”.
Com a palavra EU, construo um diálogo, e com a palavra VOCÊ, compro uma briga.
Convidamos os pais a passar de uma comunicação racional (conselhos, sermões, orientações
baseadas na nossa experiência passada) para uma comunicação afetiva, usando a força dos nossos
sentimentos.
Finalidade: Esta atitude nos ensina e permite vivenciar e perceber as relações intersubjetivas
construídas, e identificar os significados que damos ao comportamento do outro e as emoções
que sentimos: sofrimento, preocupação, medo de perda, certeza de não ter o controle de
situação (Ajuda a trabalhar você).
Finalidade: Esta atitude nos ensina a reconhecer o outro e a nós mesmo, quando nomeamos
quem é quem na relação. Resgatar a autoridade sem gritos, ameaças, violências.
53
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Elogio: Como você é um filho cuidadoso com sua mãe, quando sai diz: Até logo mãe! Como
eu fico feliz com isso!
Bibliografia
BEZERRA, V. C. & LINHARES, A. C. B. A Arte de Construir Relações Amorosas na Família. Como criar
um canal de comunicação amoroso com os filhos e colocar limites sem culpa, mágoas ou medo de
perdê-los. Laboratório de Pesquisas Sopa de Pedra, Brasília, 2006.
CARVALHO, M. C. B. (org.) A família contemporânea em debate. 5ª edição. São Paulo: Educ./Cortez.
2003. Pág. 9-19.
54
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Módulo II
55
Orientações para a prevenção
da violência contra as mulheres
Apesar dos avanços no campo dos direitos a uma vida sem restrições e privações às mulheres,
da disseminação de programas que protegem esses direitos, da mudança de mentalidade e do re-
conhecimento jurídico de sua condição de cidadania igual à dos homens, a realidade evidencia uma
expressiva quantidade de casos em conflito permanente com tais avanços. Práticas, sentimentos e
pensamentos em número significativo ainda se mostram conservadores à aceitação e efetivação de
novas relações entre homens e mulheres.
Vemos logo que responder a esta pergunta não é uma tarefa fácil. Mas algumas pistas podem
nos auxiliar a decifrá-la:
1. As relações de gênero
* Cientista social, mestre e doutora em Antropologia, com pós-doutorado em psicossociologia. Professora e pesquisadora da Univer-
sidade Católica de Brasília (UCB), com diversas publicações e atuações a respeito da violência de gênero e contra as mulheres.
56
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
eles não são, portanto, reflexos de seus traços anatômicos, mas de interações histórico-sociais,
pautadas por imagens idealizadas que se tem deles, pela definição de papéis que lhes são atribuídos
e pelas representações vigentes a seu respeito. Trata-se de relações de gênero, as quais devem ser
o ponto de partida para aproximarmo-nos do que vem a ser homens e mulheres num grupo social
(Bandeira e Almeida, 2005).
2. A tradição patriarcal
Esse conjunto de violências surge como “produto” de uma relação entre sujeitos. Para compreendê-
lo, é necessário decifrar as relações existentes, perguntando-nos sobre o papel desempenhado pelas
simbolizações patriarcais de homem e mulher na estruturação do cotidiano privado da família e
também dos espaços públicos, tal como das instituições de saúde.
Segundo Segato (2003), a sociedade patriarcal produziu uma estrutura fixa, que mantém os
símbolos opressivos por detrás da imensa variedade de tipos de organização familiar e uniões
conjugais – espaços e cenários patriarcais em que mais ocorrem as práticas de violências de gênero
atualmente. Desse modo, confundimo-nos ao deduzir que as mudanças nas relações são efetivas e
profundas, uma vez que ainda existe o padrão de convivência baseado na ameaça, desqualificação,
ciúme, competição e intolerância para aceitar as diferenças individuais e a forma de ser das
mulheres.
57
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Nesse sentido, a ideia de vítima versus algoz também deve cair por terra, passando a ser
contextualizada na dinâmica da relação homens-mulheres. Esta se encontra para além das variáveis
individuais, sendo regida pela lógica da estrutura social predominante e articulada com o que a
cultura oferece aos homens e às mulheres ao se identificarem, em geral, com o que se concebe
como os lugares predominantes do masculino e do feminino.
Por essa perspectiva, confirmamos Suárez (2006:22): “no estudo da violência de gênero não se
tem considerado, ou não se percebeu que se deve considerar a necessidade de se estabelecerem me-
diações entre os fenômenos aos quais se atribui caráter estrutural, como o patriarcado e sua expres-
são na cultura individual”. Isto é, consideram-se a importância do espaço relacional, as interações
entre homens e mulheres por meio de gestos, sentimentos e pensamentos que levam à violência.
Resposta
Todas essas pistas nos levam a constatar que as mulheres ainda se encontram em posição
inferiorizada em diversos discursos e práticas sociais, sendo vistas pelos homens e, muitas vezes,
por elas mesmas na condição de parte integrante do cenário do patriarcado tradicional, cujos
direitos individuais não lhes são concedidos e reconhecidos. Para se alcançar outro patamar de
relações entre homens e mulheres, é imprescindível, portanto, que se criem meios de reformulação
das representações sociais vigentes, que servem de modelos para as identidades individuais e para
o estabelecimento da desigualdade de valor entre as pessoas, levando as mulheres a serem vistas
como extensão das posses, dos objetos e da honra dos homens.
Trata-se, pois, de romper com a ideia patriarcal antiga de que os homens, em suas trajetórias
pessoais, aprendem a não conviver bem com a diferença de gênero e, em paralelo, resguardam para
si a importância de relacionar-se igualmente com os grupos de homens. Esses grupos, por sua vez,
para se manterem coesos e entre os que se respeitam mutuamente, impõem exigências e regras
de pertencimento aos membros, as quais se definem exatamente pelas provas de reprodução da
dita desigualdade por meio de violências contra as mulheres. Logo, encontramo-nos diante da
segunda pergunta:
Nem todas as sociedades da história civilizatória têm qualificado os atos violentos contra as
mulheres enquanto crimes. É recente a sua percepção dessa forma1, a qual se deve à perspectiva
1 Em 07/08/2006, foi sancionado um decreto-lei – Lei Maria da Penha nº 11.340 – para tratar da especificidade desses tipos de
crimes, o qual tipifica a violência familiar e doméstica como crime, bem como a coibe.
58
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Resposta
59
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
A possibilidade de ensinar, apontar, mostrar ou facilitar o caminho para que as meninas, moças
e mulheres, com as quais nos deparamos em nosso dia-a-dia, desfrutem de melhor existência,
autonomia, boa saúde e tenham noção de seus direitos a uma vida sem violência é de responsabilidade
de todos nós, que temos informações a respeito, conhecemos as leis protetoras e desejamos uma
sociedade mais justa e equânime.
A seguir, indicamos alguns passos, ou medidas, relevantes em serem observados e adotados
enquanto orientações para prevenção dos atos violentos contra as mulheres, os quais podem ser
físicos, simbólicos, psicológicos, sexuais, patrimoniais e morais, bem como podem ocorrer na esfera
doméstica, nas relações interfamiliares, no espaço do trabalho e nas ruas, conforme esclarece o
quadro abaixo.
Violência de gênero
Normalmente, entre nós, associamos este tipo de violência àquela sofrida por alguém pelo
simples fato de ser mulher, sem distinção de raça, classe social, religião, idade ou qualquer
outra condição; produto de um sistema social que subordina o sexo feminino, equivalendo-se,
de certa forma, à violência contra as mulheres.
Violência física
Qualquer ação que machuque ou agrida intencionalmente uma pessoa, por meio de força
física, arma ou objeto, provocando, ou não, danos e lesões no seu corpo.
Violência moral
Ação destinada a caluniar, difamar ou injuriar a honra ou a reputação da mulher e das mulheres
em geral, como por exemplo a ofensa disseminada no senso comum de que mulheres loiras
são burras.
Violência patrimonial
Ato que implique em dano, perda, subtração, destruição ou retenção de objetos, documentos
pessoais, bens, valores e similares de alguém.
Violência psicológica
Ação ou omissão destinada a degradar ou controlar ações, comportamentos, crenças e
decisões de outra pessoa, por meio de intimidação, manipulação, ameaça direta ou indireta,
humilhação, isolamento ou qualquer outra conduta que acarrete prejuízo à saúde psicológica,
à auto-determinação, autoestima ou ao desenvolvimento pessoal.
Violência sexual
Toda relação sexual em que a pessoa é obrigada a se submeter, contra a sua vontade, por
meio de força física, coerção, sedução, ameaça ou influência psicológica. Este tipo de
violência é crime, mesmo quando praticado por um familiar, seja o pai, marido, namorado ou
companheiro. Considera-se, também, violência sexual o fato do agressor obrigar a vítima a
realizar alguns desses atos com terceiros. Consta, no Código Penal Brasileiro, que a violência
sexual pode se apresentar de forma física, psicológica ou sob coação, compreendendo em
atos de estupro, a tentativa de estupro, assédio sexual e ato obsceno.
60
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
A ordem em que algumas medidas para prevenção são aqui apresentadas é arbitrária, não esta-
belecendo entre elas nenhuma sequência a ser seguida. Ressaltamos, também, que tais medidas
estão altamente interligadas.
Às mulheres:
61
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Nas relações da esfera pública, algumas medidas para a prevenção da violência podem ser adotadas:
12. N
ão permitir a desqualificação intelectual das mulheres, a depreciação da sua capacidade
de discernimento e entendimento do mundo, mediante a imposição de restrições a seu
discurso ou expressão variada. Por isso, a criação de espaços livres e coletivos para a mani-
festação verbal, gestual, escrita, das mulheres é sempre importante, dentre vários aspectos,
para a manutenção da dignidade e consciência dos seus direitos.
13. A
lertar em relação ao assédio moral e sexual no trabalho, evidenciando às mulheres formas
comuns de humilhação, de dúvida sobre a competência profissional ou de insinuações
eróticas ofensivas.
Nas relações entre desconhecidos, tem-se a violência sexual e as ofensas morais como mais
frequentes, o que demanda alguns cuidados preventivos, tais como:
14. C
hamar a atenção sobre a necessidade de se andar sempre em companhia de outras
pessoas em lugares isolados e horários de menor circulação, assim como procurar definir
trajetos que andem menos a pé ou possam ter a proteção de conhecidos ou mesmo de
outras pessoas.
15. L
embrar às mulheres de terem à mão telefones úteis, para serem utilizados em momentos de
denúncia de ameaças e desrespeitos. Afinal, não devem deixar de pedir ajuda ou encaminhar
às autoridades competentes situações que pareçam ser esporádicas ou de baixo potencial
ofensivo, tal como um grito ou um xingamento.
Nas representações sociais e nos modelos divulgados para a população sobre o que é ser mulher,
encontram-se falas, imagens e brincadeiras, consideradas inocentes e engraçadas, que são fortes,
o suficiente para transmitir valores negativos e desrespeitosos. A importância de se desenvolver
um senso crítico, não só individualmente como em grupos, ajuda a enfrentar situações de violência
simbólica, tal como o menosprezo estético, que tem, como padrão de beleza, tipos físicos distantes
da maioria das brasileiras, ou a imagem da mulher objeto sexual disponível aos homens.
Aos homens:
16. Desenvolver trabalhos e atuações que visem ajudar aos homens a não mais se identificarem
com os ditados impostos acerca da mulher genérica (exemplos: “toda mulher gosta de
apanhar” e “toda mulher é safada”) e a buscarem convivência com representações e imagens
em que a liberdade da mulher não os ameacem, em que companheiros não lhes imponham
condições para pertencer ao grupo e nem lhes mostrem as mulheres enquanto extensão de
suas posses e sua honra.
62
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
17. Quebrar estereótipos machistas, tais como “homem não chora”, “não é sensível”, “não tem
compaixão” e “não relativiza”.
18. Revisar processos educativos patriarcais, ditos obrigatórias para ser homem na nossa
sociedade, a começar por assumir, por exemplo, como de sua responsabilidade, tarefas
domésticas e relativas aos cuidados com filhos.
Referências Bibliográficas
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AGENDE/ELETROBRÁS, 2005.
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Suarez, Mireya. Provocando la reflexión sobre el discurso “Violencia contra la mujer”. In: Revista
Sociedade e Estado. Depto. de Sociologia, 2006.
Trabalhando com mulheres jovens: empoderamento, cidadania e saúde – Promundo;
Salud e Gênero; ECOS; Instituto PAPAI; World Education. Rio de Janeiro: Promundo, 2008.
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Módulo IiI
Promoção da saúde do homem
versus violência
Ana Lúcia Correa e Castro*
Laurez Ferreira Vilela**
* Assistente Social. Terapeuta Familiar. Especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes. Especialista em Saúde Mental.
** Assistente Social, Especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes, Especialista em Terapia Familiar, Pós-graduada
em Educação Sexual.
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Referências Bibliográficas
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pagina=1 Último acesso em 06.12.2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática em serviço. Secretaria
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CONNELL, R. W. Masculinities. Berkeley. Los Angeles: University of Califórnia Press, 1995.
65
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
66
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Módulo IV
N
as culturas tradicionais o idoso é vis-
to como um símbolo de sabedoria e
respeito. Suas lembranças se consti-
tuem como um patrimônio, revivido perma-
nentemente com as gerações mais novas de
adultos e crianças. Desta forma, representa
a continuidade da história e manutenção dos
valores de um núcleo familiar.
No entanto, observamos uma mudança
na nossa sociedade, marcada pelo consumo
e produtividade, em que o idoso perde o seu
lugar de memória, lembrança e respeito.
Onde a experiência não tem valor.
Porém, acreditamos não só no papel
que os idosos exercem na sociedade para a
construção de sua história e memória, como
também no respeito, valorização e proteção
que devemos ter com a terceira idade.
A composição das famílias vem passando por várias alterações nas últimas décadas, principalmen-
te pela redução da natalidade e o aumento no número de anos vividos pelas pessoas. Aumentando
o número de idosos com problemas decorrentes do processo de envelhecimento.
O desconhecimento deste processo gera uma série de dificuldades: do idoso, que não aceita e não
se reconhece como tal e da família, que não se identifica com o envelhecimento e tem dificuldades
no cuidado, ocasionando o isolamento ou atitudes violentas.
Portanto, dialogar sobre este processo para que ambos, família e idoso, possam entender e
compreender esta nova fase do ciclo vital é de suma importância para evitar conflitos ou mesmo
situações de violência.
A vida em família é um processo de constantes rupturas, perdas e ganhos, apegos e desapegos,
construção e reconstrução da trajetória de uma existência compartilhada. Por isso, cultivar a
afetividade, a cumplicidade e o amor é fundamental para a solução de conflitos e fortalecimento
das relações.
Pode-se refletir a partir disso que, apesar das significativas mudanças experenciadas e vivencia-
das pela sociedade, a família pode oferecer um lugar de segurança e felicidade, independente da
idade cronológica.
67
Prevenção primária
da violência contra o idoso
Marcelle Passarinho*
No início do século XX, apenas 25% dos brasileiros atingiam idade superior a 60 anos, mas
próximo ao século XXI, 65% dos homens e 78% das mulheres ultrapassaram este patamar, tornando-
se parte significativa da população geral e fazendo planos de longo prazo: mudando o conceito do
que se entendia por velhice. A expectativa é de que em 2025 existirão 1,1 bilhão de pessoas com
mais de 65 anos e no mundo e em 2050, um quinto da população será de idosos (IBGE, 2004). Em
2020, o Brasil, que já foi considerado um país jovem, deverá ter a sexta população de idosos do
mundo – 17 milhões de pessoas, ou seja, um em cada 13 brasileiros será idoso.
O aumento dessa população nas diversas culturas pode evidenciar a separação, de forma real ou
simbólica, do idoso da sociedade, possibilitando situações de violência. Nesse contexto sabemos
que tais situações fazem parte da violência social em geral e constitui um fenômeno universal. Em
muitas sociedades, diversas expressões de violência frequentemente são tratadas como uma forma
de agir “normal” e “naturalizada”, ficando ocultas nos usos, nos costumes e nas relações entre as
pessoas (Minayo, site).
Podem apresentar-se de várias formas: desqualificação pela idade, falta de produtividade,
mobilidade, virilidade e pela aparência, perpassam as famílias e atingem a pessoa idosa na esfera
física, psicológica, sexual, patrimonial e na provisão de suas necessidades básicas.
Frequentemente a violência contra idosos é denominada como maus-tratos e abusos. Esse
conjunto de termos se refere a abusos físicos, psicológicos e sexuais, assim como o abandono, as
negligências, os abusos financeiros e até mesmo a auto-negligência.
É importante enfatizar que a negligência é uma das formas de violência contra os idosos
mais presentes em nosso país. É conceituada como a recusa, omissão ou fracasso, por parte do
responsável pelo idoso, em proporcionar-lhe os cuidados de que necessita, principalmente ao idoso
que se encontra em situação de dependência ou incapacidade. Isto ocasiona, frequentemente,
lesões e traumas físicos, emocionais e sociais.
Os dados bibliográficos mostram que 95% dos casos de violência contra os idosos ocorrem
na família, dentro da própria casa, onde o choque de gerações, problemas de espaço físico e
dificuldades financeiras costumam se somar a um imaginário social que considera a velhice como
“decadência” (Minayo & Coimbra Jr, 2002), contribuindo para o afastamento do idoso do convívio
social e familiar. Este isolamento social tem uma relação direta com a ocorrência de maus-tratos
e com a incapacidade dessas pessoas em obter ajuda de terceiros para acabar com o ciclo da
violência.
Outra forma usual que acontece dentro da família é o abuso financeiro, que ocorre quando os
familiares se apropriam da aposentadoria do idoso e não permitem que ele tenha acesso a um
recurso que lhe pertence.
O Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM) em 2000, de acordo com a FIOCRUZ,
referencia que 39,6% dos agressores eram filhos das vítimas. E estudos internacionais, como os
de Chavez (2002) e Kleinschmidt (1997), também demonstram que 90% dos casos de maus-
tratos e negligência ocorrem nos lares. Essas pesquisas revelam que cerca de 2/3 dos agressores
são filhos e cônjuges dos idosos vitimizados (Chavez, 2002; Reay & Browne, 2001; Williamson
& Schaffer, 2001). Tais dados, além de mostrar o ambiente familiar como conflituoso, abusivo
e perigoso, ressaltam o fato de a questão do idoso continuar a ser, na maioria das sociedades,
responsabilidade das famílias.
Um fator que parece contribuir para a perpetuação da violência domiciliar estaria relacionado
tanto à existência de um grande número de idosos dependentes de suas famílias, dado o aumento
68
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Como prevenir
A violência afeta a saúde, apesar de não ser um problema especifico desta área. Como afirma
Agudelo (1990), “ela representa um risco maior para a realização do processo vital humano: ameaça a
vida, altera a saúde, produz enfermidade e provoca a morte como realidade ou como possibilidade próxima”.
Ou como analisa a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em seu último documento sobre o
tema: “a violência, pelo número de vítimas e a magnitude de sequelas orgânicas e emocionais que produz,
adquiriu um caráter endêmico e se converteu num problema de saúde pública em vários países” (...)
“O setor saúde constitui a encruzilhada para onde confluem todos os corolários da violência, pela pressão
que exercem suas vítimas sobre os serviços de urgência, de atenção especializada, de reabilitação física,
psicológica e de assistência social” (OPAS, l993: 01).
A área da saúde tem concentrado seus esforços em atender as consequencias da violência: o
tratamento dos traumas e lesões físicas nos serviços de emergência, na atenção especializada, nos
processos de reabilitação, nos aspectos médico-legais e nos registros de informações. Ultimamente,
em relação à violência em todas as faixas etárias começa a haver uma abordagem mais sistemática
que inclui aspectos psicológicos e sociais tanto em relação ao impacto sobre as vítimas como nos
fatores ambientais e características da família e dos agressores.
A mensagem mais importante que se pode dar a partir do setor saúde é que, na sua maioria, os
eventos violentos e os traumatismos não são acidentais, não são fatalidades, não são falta de sorte:
eles podem ser enfrentados, prevenidos e evitados.
Por isso, é importante voltar nossa atenção para a Prevenção (ações preventivas). Para tal,
faz-se necessário a sensibilização dos profissionais para a temática da violência, estimulando a
compreensão e o reconhecimento dos fatores de risco e, como consequência, criar estratégias para
algumas causas específicas. Os profissionais da saúde, juntamente com outros setores e com as
comunidades locais, têm se mobilizado, sobretudo, na quebra do ciclo repetitivo da violência. Por
isso, é preciso despertar e manter a sensibilidade dos profissionais para com os atos de covardia e
injustiça praticados contra a vida humana.
Prevenção significa antecipação de mecanismos protetores sobre uma situação de risco. Na
área da saúde, prevenção é uma ação fundamental, tanto no que diz respeito aos fatores desenca-
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Formas de Prevenção:
70
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
O
bter lista de referência de instituições, serviços, organizações governamentais e não-
governamentais que possam receber os encaminhamentos dos casos de violência contra o
idoso, integrando uma rede de atenção e prevenção;
E
stabelecer rotinas de atuação tanto para os casos de violência quanto para indicadores
que podem desencadeá-la;
P
lanejar ações de prevenção junto à comunidade;
71
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Referências Bibliográficas
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Brasília: Secretaria de Estado de Saúde, 2008.
72
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Verônica Nascimento*
Quem pratica?
C
hefias contra seus subordinados;
E
ntre colegas do mesmo nível;
S
ubordinados em relação aos chefes.
* Assistente Social.
73
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
M
arcação sobre o número de vezes e o tempo que permanece no banheiro;
D
esvalorização da atividade profissional do trabalhador;
T
roca de horários ou turnos do trabalhador sem avisá-lo;
P
roibição de tomar cafezinho ou redução do horário das refeições;
A
dvertência em razão de atestados médicos ou de reclamação de direitos;
A
s condutas de assédio têm como alvo frequente as mulheres e os trabalhadores doentes,
ou que sofreram acidentes do trabalho, que são discriminados e segregados;
P
erseguição constante e, ao mesmo tempo, a indução das pessoas que trabalham no
mesmo ambiente a comportamentos que reforcem a discriminação.
R
econheça-se como vítima do assédio;
N
ão permita o sentimento de culpa, medo ou vergonha impostos pelo agressor;
F
aça anotações sobre as humilhações a que você vem sendo exposto(a);
F
aça um registro diário e detalhado, mas não esqueça nenhum detalhe, tais como nome
do(a) chefe, local, data, tarefa, agressão, colegas que estavam presentes;
E
xija explicações do agressor por escrito, guardando sempre comprovante do envio e da
possível resposta. Se possível, procure conversar sempre na presença de testemunhas;
74
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
C
omunique ao Departamento de Pessoal ou Recursos Humanos;
P
rocure orientação jurídica junto aos sindicatos da categoria, para denunciar o assédio
moral;
A
proxime-se de seus colegas, conte-lhes o que está acontecendo, peça ajuda de todo (a)s;
B
usque reforçar a solidariedade no local de trabalho;
P
rocure saber quem já sofreu humilhações e faça um dossiê conjunto;
B
usque apoio da família, dos amigos, nesses momentos é muito importante para o
restabelecimento da sua autoestima e equilíbrio psicológico;
S
e você está sofrendo qualquer mudança de comportamento ou se sua saúde estiver
abalada, procure ajuda médica ou psicológica;
A
credite nos sinais de alarme do seu corpo, como stress, gastrite ou depressão;
P
rocure um médico para o diagnóstico da doença.
T
estemunhas;
G
ravações das agressões;
F
ilmes de circuito interno de TV;
D
ocumentos, advertência por escrito ou outro documento encaminhado à vítima.
Sim. Os danos sofridos pela vítima podem gerar perdas de caráter material e moral surgindo
o direito à indenização. Em muitos casos, a vítima acaba por pedir demissão ou, no caso de
servidor público, exoneração, abandonando o emprego ou o cargo, o que deve ser indenizado. A
indenização por danos materiais pode abranger:
G
astos com doenças em função do assédio moral, com tratamentos médicos e medica-
mentos;
O
que a vítima deixou de ganhar, como no caso do trabalhador que pediu demissão
ocasionada pelo assédio, deixando assim de receber seus vencimentos;
D
ano moral, relativo ao sofrimento psicológico que a vítima suportou em virtude do assédio
moral.
A prática do assédio moral no Serviço Público pode gerar Punição Disciplinar (Administrativa e
Trabalhista).
75
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
O assediador pode receber punições disciplinares, de acordo com o que tiver previsto no Estatuto
do Funcionalismo Público de cada órgão governamental.
Por exemplo, a conduta do assediador pode ser enquadrada numa das punições previstas no
Regime Jurídico Único – RJU – porque afronta o dever de moralidade, podendo constituir-se em
incontinência de conduta.
Câmara Legislativa do Distrito Federal – Comissão dos Direitos Humanos Cidadania e Ética
Telefone: 3966-8700
Assédio Moral
Endereço na Internet – http://www.assédio moral.org
76
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Referências Bibliográficas
HIRIGOVEN, Marie-france. Assédio Moral – A Violência Perversa no Cotidiano. São Paulo: Editora Ber-
trand, 2000.
____. Mal-estar no Trabalho – Redefinindo o Assédio Moral. São Paulo: Editora Bertrand, 2002.
HELOANI, Roberto. Gestão e Organização no Capitalismo Globalizado / História da Manipulação Psico-
lógica no Mundo do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2003.
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trado em Psicologia Social, PUC, São Paulo, 2000.
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Sanitário para Profissionais de Saúde, Fundação Osvaldo Cruz, Rio de Janeiro 2003.
Cartilhas:
Núcleo de Combate à Discriminação e Promoção da Igualdade de Oportunidades. Assédio moral no
local de trabalho. Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro. Sem data.
Núcleo de Estudo e Ações sobre Violência no Trabalho. Cartilha Violência no Trabalho. Câmara Legis-
lativa do Distrito Federal. Brasília. 2008.
77
No caminho pedagógico da paz nas águas
Marly A. Simões e Silva*
Vera Lessa Catalão**
* Médica pediatra e acupunturista, lotada no Núcleo de Medicina Natural e Terapêuticas de Integração (NUMENATI), da Secretaria
de Estado de Saúde do Distrito Federal, na coordenação da Meditação. meditacao.ses.gdf@gmail.com
** Mestre em Educação pela UnB e Doutora em Ciências da Educação pela Universidade de Paris VIII (2002), tem como linha de pesquisa
a abordagem transversal em projetos de Educação Ambiental, especialmente sobre o tema Água e seus aspectos culturais e simbólicos.
É professora na graduação e na pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação-UnB e coordena o Núcleo da Agenda Ambiental
da UnB vinculado ao Decanato de Extensão. vera.catalao@terra.com.br
78
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
O ser humano também adoece com o isolamento; sua natureza é nutrida pela solidariedade e
pela união com os outros seres vivos.
A paz também é receptiva como um rio que a todos acolhe. A humildade é uma outra qualidade
pacifica da água, ou aquática da paz: a água coloca-se nos níveis mais baixos do relevo – quanto
mais baixo coloca seu leito, mais receptiva estende seus braços. O rio principal de uma bacia
hidrográfica é o que mais baixo se encontra e pode assim receber e incluir os demais. A modéstia
da água é louvada por S. Francisco de Assis e pelos taoístas.9
Diz o Taoismo que “Nada no mundo é mais dócil e frágil que a água. Entretanto, nada a supera para
afetar o que é rígido e forte e ninguém pode igualar-se à água em persistência”.
A paz da água é uma paz que persevera no seu intenso desejo de estar em relação e em incluir
o que está à margem.9
A água nos leva ainda a uma abordagem transdisciplinar e transversal que nos permite articular
saberes sistematizados a saberes que emergem da prática, da cultura popular, das expressões
estéticas e simbólicas presentes nas artes, mitos e religiões. A água possui uma dimensão ecológica
essencial tanto no campo das ciências da natureza e das ciências humanas, além de permitir a
ecologia dos saberes,10 incluindo o senso comum.
A sensibilidade que a água detém em seu estado original consegue captar e registrar estímulos
diversos que recebe e dá forma às influências ambientais que a envolvem5. Schwenk, estudioso
de engenharia hídrica e dos fenômenos climáticos, em sua grande obra Caos Sensível11, faz uma
afirmação inédita e ousada: “A água é tão sensível que não se restringe somente a responder às
modificações à sua volta; ela recebe também as influências sutis e imponderáveis, procedentes do
universo”.
O vídeo Water – The great mystery12 destaca pesquisas, como as de Jacques Benveniste5, sobre a
memória da água. Demonstra que a água traz para as células a informação sobre a organização dos
seres vivos e que a Água é comunicadora e guardiã da memória dos códigos da vida.
O pesquisador japonês Masaru Emoto13 aponta na mesma direção sobre a capacidade da água
em carrear informações. Vejamos uma síntese e alguns exemplos do livro de Emoto “A Mensagem
da Água”, no qual ele apresenta fotografias das moléculas congeladas da água quando expostas a
estímulos como os pensamentos e sentimentos humanos e confirmam esta sensibilidade.
A Mensagem da Água13
79
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Experiência 1
ma primeira garrafa com água recebeu uma etiqueta com a palavra “Paz”
U
Na segunda, foram escritas as palavras “Você me adoece. Eu vou matar você”
Numa terceira garrafa foram colocadas as palavras “Amor e Gratidão”
E, finalmente, uma quarta recebeu a palavra “Sabedoria”.
Assim, as quatro garrafas foram deixadas durante uma noite. Na manhã seguinte amostras
foram colhidas, congeladas e na sequência as fotografias foram realizadas.
Vejam as diferenças entre os cristais!
A experiência foi realizada inúmeras vezes e os resultados foram sempre os mesmos.
80
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Experiência 2
Poderia a água detectar diferenças entre as mensagens colocadas nos rótulos com as
seguintes palavras?
“Faça isso!” (como alguém dando uma ordem)
“Vamos fazer isso!” (como um convite para realizar uma tarefa em conjunto)
Fizeram o teste.
Observem as imagens dos diferentes cristais que se formaram!
Experiência 3
81
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Experiência 4
Experiência 5
Dos resultados desta pesquisa surgiu, em 2006, o projeto “Emoto para a Paz”, que consiste em levar,
gratuitamente, a todas as crianças do mundo a seguinte mensagem: água é vida; eu sou água;
pacificar a água é pacificar a mim mesma e pacificar o mundo. Este projeto integra as atividades
desenvolvidas para a Década Internacional da Água (2005-2015) e Década Internacional da Paz
(2000-2010), ambas promovidas pelas Nações Unidas. Um livro infantil com esta mensagem foi
criado pelo Instituto Emoto e traduzido, até o momento, para 12 idiomas. O mais recente, em
português, foi lançado em outubro de 2009, em Brasília, pelos integrantes do Centro de Estudo
Transdisciplinar da Água (CET-Água) do qual a Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal
faz parte. O evento contou com a presença do pesquisador Masaru Emoto e o livro está disponível
para reprodução e utilização nas atividades de educação em saúde promovidas pelos serviços da
SES-DF e oferecidos à comunidade.
O Núcleo de Medicina Natural e Terapêuticas de Integração (NUMENATI/GRMH/DIASE) e a Dire-
toria de Vigilância Ambiental em Saúde (DIVAL) representam a SES-DF no CET-Água, incentivando
e valorizando os múltiplos olhares sobre a Água, numa abordagem inclusiva sobre seu sentido,
propriedades e ética do uso, extrapolando a esfera do olhar utilitarista sobre este elemento que nos
dá a vida.
“Se pensarmos que mais de 70% do nosso corpo é composto por água, imagine o que nossos
pensamentos podem fazer conosco e como deveríamos tratar as pessoas e o ambiente”
(Demetrios Christofidis)
82
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Conclusão
Se queremos uma nova ordem, com mais paz, justiça, equidade e felicidade, temos que reor-
denar nossas atitudes e hábitos. Mesmo que, aparentemente, façamos pouco globalmente, muito
podemos fazer localmente. Podemos começar, por exemplo, pela racionalização do uso da água em
nossas casas e pelo consumo ético e saudável dos alimentos mais ecológicos.
Do ponto de vista da ecologia interior, também podemos contribuir para a paz e o equilíbrio
planetário ao assumir novas atitudes, fomentar e vivenciar pensamentos e sentimentos de solidarie-
dade e respeito à alteridade. Nada existe separado, a vida é relação. Quem melhor que a água para
tornar visível a teia de relações e o contexto favorável que está na origem e na manutenção da vida?
A água faz a mediação do Eu interno e o Eu externo. Ela é a matriz que nos leva a dialogar com a
nossa essência cósmica. O estado meditativo favorece o re-encontro do Ser com suas Águas.
A água pode funcionar pedagogicamente como traço de união entre a ação local e a perspectiva
global, práticas coletivas e subjetivas de grupos e indivíduos envolvidos na formação.
Uma pedagogia da Água é um convite para uma aproximação multirreferencial desse elemento:
água como bem ecológico, água como bem econômico, água como bem comum, água como maté-
ria carregada de simbolismo. Uma pedagogia da água enfatiza sobretudo a sua imensa capacidade
de estimular condutas, lançar pontes sobre a memória adormecida e latente dos estados primor-
diais que nos originaram. Pensar a água é, também, ouvi-la, senti-la em todos os seus estados,
inclusive no estado de graça.14
Se um dia a consciência reflexiva nasceu da contemplação em águas plácidas e transparentes,
podemos evocar essa lembrança arquetípica para estabelecer uma nova aliança com as águas pela
paz, por escolha, sentimento e razão.
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(Org.) ECO-AR-TE para o reencantamento do mundo. São Carlos: RiMa, 2009 [no prelo].
83
Resiliência
* Assistente Social. Terapeuta Familiar. Especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes. Especialista em Saúde Mental.
** Assistente Social, Especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes, Especialista em Terapia Familiar, Pós-
graduada em Educação Sexual.
*** Especialista em Psicologia Hospitalar.
**** Especialista em Psicologia Jurídica.
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Tipos de Resiliência
De acordo com Rutter (1990), existem três tipos de resiliência: emocional, acadêmica e social.
No desenvolvimento da resiliência emocional aponta como fatores: experiências positivas que
levam a sentimentos de autoeficácia, autonomia e autoestima, habilidade para lidar com mu-
danças e adaptações, e um repertório amplo de abordagens para enfrentamento de situações
desfavoráveis.
Com relação à resiliência acadêmica, a escola pode propiciar o aumento e o fortalecimento de
habilidades de resolução de problemas e a aprendizagem de novas estratégias, bem como capaci-
tar professores para auxiliar estudantes com dificuldades gerais.
A resiliência social apresenta como fatores protetivos o não envolvimento em delinquência, ter
um grupo de amigos de relações saudáveis e o sentimento de pertencimento ao mesmo, relacio-
namentos íntimos, bom vínculo com a escola, supervisão dos pais e familiares, família estrutu-
rada, bem como modelos sociais que promovam uma aprendizagem construtiva nas situações
(familiares, escolares) e equilíbrio entre as responsabilidades sociais e as exigências por obter
determinados benefícios.
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
CRIANÇA RESILIENTE
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Resiliência em Adolescentes
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Sabemos que a resiliência do indivíduo tem relação com o meio. A boa notícia é que se pode
transformar o curso de nossas vidas dentro de limites e possibilidades.
O sentimento de ser competente ajuda o adolescente a resolver os problemas psicossociais,
possibilitando uma satisfação pelo seu valor pessoal, facilita as relações interpessoais e impulsiona
a resultados positivos e confiança em suas escolhas no enfrentamento dos problemas.
Já o adolescente menos resiliente, resultado de uma vivência desprotegida e ambiente desfa-
vorável, apresenta confusão e indecisão, dificuldade em verbalizar problemas pessoais, insônia,
poucas amizades, desinteresse em geral, pensamentos suicidas, crítico em demasia, falta de apoio
social, sentimento de menor valia e inutilidade, relação conturbada na família, escola e na rede
social e/ou comportamentos delinquentes.
Fatores de Risco: são situações danosas que enfraquecem as pessoas e deixam marcas em
suas vidas:
A bandono
D oenças e mortes na família
A usência da mãe ou do pai por longos períodos
C onvivência com a violência, seja ela física, psicológica ou sexual
I nsegurança na comunidade onde habita
S eparação de familiares por morte, prisão, assassinato ou conflitos graves
D oenças ou acidentes de familiares e a morte de animal de estimação
A não aceitação de deficiência física ou mental na família
C onsumo de álcool e drogas por familiares, principalmente se são os genitores
A violência física, psicológica e sexual intrafamiliar traz muito sofrimento para o adolescente,
atingindo igualmente famílias ricas e pobres. Quando é praticada pelos pais, de quem se
espera afeto e proteção, o trauma pode ser ainda maior
A violência psicológica compromete o potencial de resiliência, pois com a desvalorização
sentem-se pouco capazes de superar os contextos adversos
A violência sexual, por sua vez, é ainda mais prejudicial com adolescentes quando envolve
familiares, uma vez que gera trauma e dificulta a superação de problemas
A s condições precárias de existência na família ocasionadas por desemprego, sub-emprego,
moradia inadequada, acarretam violências, pouca supervisão dos filhos e interferem na qua-
lidade de vida
A pobreza não determina a qualidade da resiliência, pois a capacidade de superar dificuldades
é uma característica tanto de pessoas pobres como ricas
O Bullying abala a autoestima do adolescente
R eprovação escolar pode provocar angústia e sentimento de incompetência
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
segurança que tende a se conservar no decorrer da vida, mesmo quando se enfrentam momentos
de doença, morte, decepção com alguém, separação na família ou qualquer situação dolorosa.
A importância de Políticas Públicas na proteção de jovens como: Saúde, Educação, Cultura, Es-
porte, Assistência, Segurança e outras com qualidade e acesso que possibilitam o desenvolvimento
de suas potencialidades.
É necessário implantar ou implementar ações para adolescentes em órgãos governamentais e não
governamentais onde o modelo de educação seja pautado no incentivo a afetividade, preservação
da autoestima, autoconfiança, autocompetência, a comunicação verbal respeitosa e o protagonismo
juvenil onde os adolescentes possam impulsionar seus direitos e garantir sua proteção, além de
engajar na comunidade para exigir serviços de qualidade de interesse comum. Exercita-se, assim,
estratégias que possam desenvolver e/ou estimular o potencial de resiliência dessa população.
O espaço de ensino fundamental, médio ou superior deve estimular a elaboração de projeto de
vida, o diálogo, valorização individual, incentivo ao trabalho coletivo, autoridade sem autoritarismo,
afeto, respeito num investimento compartilhado entre família e comunidade acadêmica. Isso pro-
porciona segurança, confiança no decorrer da vida do adolescente.
Assim, a rede social comunitária exerce um papel característico que é estimulador do potencial
de resiliência.
A espiritualidade é fator importante para fortalecer a resiliência no adolescente. Não necessa-
riamente atrelada a um dogma religioso, mas a confiança em uma força maior que o ajuda a lidar
com desafios e perdas.
Portanto, o adolescente que viveu situações adversas ao longo de sua vida, mesmo com pouco
apoio afetivo, pode se tornar uma pessoa resiliente no futuro se o ambiente em que vive lhe possi-
bilita suporte de pessoas significativas e se as instituições realizam ações voltadas para promoção
à saúde. As pessoas têm capacidade de superação e de (re)construir laços afetivos se tiverem apoio
do meio capaz de estimular as potencialidades do indivíduo.
É imprescindível que os organismos governamentais e não governamentais desenvolvam ações
que promovam a saúde dos adolescentes, estimulem a autonomia e a confiança, possibilitando a
compreensão de dificuldades com as possíveis soluções.
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Esses problemas, dependendo do momento ou situação, podem ser superados e contribuir para
potencializar a resiliência do idoso. No entanto, em contextos de fragilidade é possível que ele não
consiga superar as dificuldades sem o apoio da familia, ou da rede social e/ou institucional.
O idoso deveria ser respeitado pela experiência, sabedoria, repassador de legados, suporte a
seus descendentes no cuidado de netos e nos afazeres domésticos. Em algumas camadas sociais,
ultimamente, a pessoa idosa vem se destacando como provedora da família, através de sua apo-
sentadoria, uma vez que o mercado de trabalho para jovens é restrito e o nível de desemprego
no Brasil é alarmante. No entanto, apesar de sua importância no seio familiar, ainda é comum o
desrespeito e a desvalorização. Dessa forma, o Estatuto do Idoso foi instituído no ano de 2003,
para defender os direitos inerentes a essa faixa etária visando à melhoria na sua qualidade de vida.
Atualmente, com o aumento da expectativa de vida consequentemente do volume dessa popu-
lação, mudanças vêm ocorrendo nesse ciclo de vida. O estereótipo do “velho” que ficava em casa
fazendo tricô e aparência desleixada já não é o mesmo de outrora. Hoje em dia alguns idosos vêm
se destacando na sociedade, no mercado de trabalho e no engajamento em movimentos importan-
tes como: participação no controle social (conselhos de direitos), lideranças comunitárias e outros.
O resgate da utilidade social demonstra que podem superar as injustiças e a desvalorização que
lhes são atribuídas, além de intercorrências na saúde próprias da idade. Assim, apesar de todos os
problemas a pessoa idosa continua enfrentado as dificuldades.
“Se, diante de eventos de risco, um indivíduo desencadeia uma doença, pode ser
identificado como vulnerável, porém se consegue dominar a situação através de um
comportamento adaptativo positivo, é resiliente” (De Antoni & Koller, 2000)
A internação hospitalar do idoso decorre por várias causas, como: traumatismos, cardiopatias,
AVC e outros quadros graves. Esse momento é doloroso, pois muda sua rotina, hábitos, sai do seu
ambiente normal para um lugar muitas vezes hostil, onde o atendimento é massificado, envolvendo
expressões infantilizadas (vôzinho ou vovozinha), sendo mais um número e uma patologia, mostrando
que o sistema de saúde não está preparado para lidar com esta faixa etária. Nessa ocasião, o paciente
necessita de apoio dos profissionais para aderir ao tratamento e potencializar seus recursos internos
para superar esse quadro, assim, desenvolver ou potencializar sua resiliência.
90
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
como apoio em interesses comuns. Sluzki (1997) referencia que uma rede social pessoal estável,
sensível, ativa e confiável protege a pessoa contra doenças, atua como agente de ajuda e enca
minhamento, afeta a pertinência e a rapidez da utilização de serviços de saúde, acelera os proces-
sos de cura e aumenta a sobrevida, ou seja, é geradora de saúde.
Portanto, a resiliência seria construída pelo indivíduo perante as dificuldades da vida, e o sujeito
resiliente, ao vencer os obstáculos, surgiria mais fortalecido para enfrentar novos desafios na sua
trajetória de vida. Assim, faz-se mister aproveitar as experiências bem-sucedidas de momentos
difíceis para equacionar as situações na velhice.
Apesar das limitações, desvalorização na sociedade, perda da utilidade social e mazelas alguns
idosos continuam ultrapassando as dificuldades evidenciando resiliência em seu cotidiano.
RESILIÊNCIA EM FAMÍLIA
91
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
PADRÕES DE ORGANIZAÇÃO
4. Flexibilidade
Capacidade para mudanças: reformulação, reorganização e adaptação
Estabilidade: sentido de continuidade e rotinas
5. Coesão
poio mútuo, colaboração e compromisso
A
espeito às diferenças, necessidades e limites individuais
R
orte liderança: prover, proteger e guiar crianças e membros vulneráveis
F
usca de reconciliação e reunião em casos de relacionamentos problemáticos
B
6. Recursos sociais e econômicos
obilização da família extensa e da rede de apoio social
M
onstrução de uma rede de trabalho comunitário: família trabalhando junto
C
onstrução de segurança financeira: equilíbrio entre trabalho e exigências familiares.
C
PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO
7. Clareza
Mensagens claras e consistentes (palavras e ações)
E sclarecimentos de informações ambíguas
8. Expressões emocionais “abertas”
S entimentos variados são compartilhados (felicidade e dor; esperança e medo)
E mpatia nas relações: tolerância das diferenças
R esponsabilidade pelos próprios sentimentos e comportamentos, sem busca do “culpado”
Interações prazerosas e bem-humoradas
9. Colaboração na solução de problemas
Identificação de problemas, estressores, opções
“ Explosão de idéias” com criatividade
Tomada de decisões compartilhada: negociação, reciprocidade e justiça
F oco nos objetivos: dar passos concretos; aprender através dos erros
Postura proativa: prevenção de problemas, resolução de crises, preparação para futuros desafios.
Quadro Resumo dos processos-chave da resiliência em famílias, traduzido por Maria Angela Mattar Yunes, extraído do livro Strengthening
family resilience (Walsh, 1998), Apud: YUNES, M.A.M. – Psicologia Positiva e Resiliência: o foco no Indivíduo e na Família, 2003.
92
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
A família como local de repasse de valores e proteção deve ser trabalhada por todos os pro
fissionais que realizam atendimento a este grupo social para que ela tenha competência para de-
senvolver no seu meio sentimentos de coesão, pertencimento, solidariedade, afetividade de forma
a estimular seus membros a desenvolver seu potencial para enfrentar desafios e ter capacidade de
superação com apoio familiar ou de pessoas significativas que, aliados aos seus recursos internos,
será capaz de “sacudir a poeira e dar a volta por cima”.
A resiliência pode ser estimulada por qualquer grupo social ou instituição (escolas, comunida-
des, profissionais, famílias) no sentido de potencializar respostas positivas pelos indivíduos e/ou
famílias às dificuldades e contrariedades.
Como o profissional pode estimular e/ou potencializar a resiliência?
Após compreender o fenômeno da resiliência, ele deve ter ciência dos fatores protetores e de
risco que permeiam a situação que está sendo foco de intervenção, bem como as condições co-
munitárias que interferem em tais fatores. A atuação
técnica deve ser individual, familiar e comunitária,
Saber Viver
considerando a interface da família na comunidade
e vice-versa. É importante a geração de programas Não sei... Se a vida é curta
comunitários e preventivos específicos para a popu- ou longa demais pra nós,
lação à qual se dirigem. mas sei que nada do que vivemos
O Programa Saúde da Família (PSF) e os Agente tem sentido, se não tocamos o
Comunitários de Saúde (ACS) são de suma impor- coração das pessoas.
tância para disseminar ações que promovam uma
convivência saudável, a partir de intervenções focali- Muitas vezes basta ser:
zadas na educação de base que instrumentalizem as colo que acolhe,
famílias e seus membros para prevenir risco e poten- braço que envolve,
cializar proteção. Outro ponto importante é motivar palavra que conforta,
silêncio que respeita,
a comunidade a buscar seus direitos – articular entre
alegria que contagia,
si para buscar seus direitos fundamentais enquanto
lágrima que corre,
cidadãos.
olhar que acaricia,
As situações que envolvem violência são capazes
desejo que sacia,
de desencadear transtornos emocionais, às vezes
amor que promove.
severos, patologias psicossomáticas e outros danos.
Cabe ao profissional trabalhar de forma interdisci- E isso não é coisa de outro mundo,
plinar para contribuir com a recuperação e supe- e o que dá sentido à vida.
ração, através dos recursos internos e externos de É o que faz com que ela
cada pessoa. Dessa forma, o indivíduo pode sair da não seja nem curta,
condição de vítima e se desenvolver de forma ple- nem longa demais,
na, sem perder de vista o sofrimento proveniente da mas que seja intensa,
agressão. verdadeira, pura...
É importante realizar o atendimento individual, enquanto durar.
bem como em pequenos grupos, para contribuir na
Cora Coralina
qualidade dos resultados da ação.
Além de propiciar aos participantes a compreen-
são do conceito de resiliência individual e familiar, bem como, quais recursos podem ser utilizados
no desenvolvimento dessa capacidade. Ressaltar que a própria família possui potencialidade para
lidar com as crises e adversidades.
Clarificar o conceito de resiliência, uma vez que é confundido com invulnerabilidade, onde a
pessoa sente-se insensível aos problemas e sofrimentos. Já a resiliência é enfrentar os contextos
adversos e buscar a solução com recursos próprios e/ou apoio nas redes primárias e secundárias.
Isso não significa passar ileso ao sofrimento, mas a capacidade de superar as dificuldades.
Partindo do princípio de que a família vivencia conflitos internos, é importante eleger o valor do
afeto na ação com famílias. Trabalhar o valor afeto não é ajudar as pessoas a ocultar a miséria, a
93
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
dor e manter família unida, mas potencializar as pessoas para enfrentar a desestruturação, desor-
ganização, as contrariedades, os danos e o sofrimento.
Algumas famílias se engancham nos problemas e não conseguem avançar. Nesses casos é neces-
sário desfocalizar do cenário negativo para impulsionar mudanças. Assim, pesquisar, compreender
e fortalecer os aspectos sadios e de sucesso do grupo familiar significa identificar elementos das
experiências de vida que foram positivos que contribuam para buscar novas estratégias de se rela-
cionar para a resolução dos problemas.
É necessário discutir crenças facilitadoras e crenças restritivas que desenvolvem e evoluem nas
famílias ao longo do tempo. Um conjunto de crenças e narrativas compartilhadas que fomentem
sentimentos de coerência, colaboração, eficácia e confiança são essenciais para a superação e
domínio dos problemas.
Motivar a articulação com famílias, escola, saúde, assistência e comunidade na busca de me-
lhorias das condições de vida. Isso desenvolve a habilidade das pessoas de estabelecer relações
de confiança, de cooperação e associação de interesses comuns e ainda sentimento de pertença e
consequentemente resiliência.
Para trabalhar com adolescentes é necessário conhecer suas potencialidades e pontos fracos, a
qualidade das relações familiares e comunitárias.
Como é possível compreender e estimular em cada um o potencial de superação diante das ad-
versidades? No primeiro momento, deve-se compreender que cada adolescente é único e complexo.
No seu desenvolvimento biopsicossocial ocorrem mudanças que podem potencializar sua resiliên-
cia. Estimular a autoestima, competências, a integração, participação em redes sociais primárias
e secundárias efetivas, proporcionando a troca de experiências com seus pares, pois o apoio e
vivências semelhantes contribuem para a superação de dificuldades.
Ressaltar que os problemas podem ser equacionados com apoio de pessoas significativas. No
entanto, é importante ter o entendimento de que algumas situações não podem ser mudadas, e sim
transformadas e ressignificadas.
Complementando ao que já foi apresentado no artigo referente a essa faixa etária, o profissio-
nal deve estimular o resgate da autoestima e competências do idoso, os cuidados com sua saúde
com visitas periódicas ao médico para verificar suas condições orgânicas e também resgatar as
relações sociais como: grupo da igreja, amigos, parentes, trabalhos manuais, atividades físicas,
artísticas e outros.
Identificar hobbies e demais preferências dos idosos estimulando sua realização para desenvol-
ver ou fortalecer a resiliência.
O que se busca para se tornar o indivíduo resiliente é desenvolver as condições que já possui,
preencher e ampliar as condições que não estão completas ou, mesmo, construir as que estão
ausentes. As condições encontradas e que podem ser fomentadas são:
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
EU TENHO
Pessoas ao meu redor em quem confio.
Pessoas que não me deixam me perder.
Pessoas que sabem me mostrar o certo.
Pessoas que me ensinam a fazer coisas por
mim mesmo e vigiam o resultado.
Pessoas que me ajudam quando fico doente ou em perigo.
EU SOU
Uma pessoa que pode ser amada, querida, apreciada por outros.
Uma pessoa capaz de fazer bem para outros.
Uma pessoa respeitada por outros e posso me respeitar.
Uma pessoa responsável pelo que faço.
Uma pessoa confiante que as coisas vão dar certo.
EU ESTOU
Seguro de que tudo sairá bem.
Rodeado de companheiros e colegas que me apreciam.
Disposto a me responsabilizar por meus atos.
Triste, reconheço e mostro, mas com a segurança de encontrar apoio.
EU POSSO
Contar para os outros sobre coisas que me assustam.
Encontrar caminhos para resolver problemas que eu enfrente.
Controlar-me ao fazer algo errado ou perigoso.
Encontrar alguém que possa me ajudar quando preciso.
Encontrar o momento certo de falar ou agir.
Fazer travessuras e não perder o afeto de meus pais.
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Recursos na Criança
Recursos na Velhice Recursos na Família Intervenção Técnica
e Adolescente
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Recursos na Criança
Recursos na Velhice Recursos na Família Recursos Externos
e Adolescente
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99
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Módulo VI
Atividades Preventivas
100
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Destacamos que, além das técnicas e objetivos claros do se que quer ser alcançado, para a rea-
lização da dinâmica é importante estar atento a outros elementos tais como:
Referências Bibliográficas
AFONSO, M.L. – org. Oficinas em dinâmicas de grupo na área da saúde. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2006.
SANICOLA, L. As dinâmicas de rede e o trabalho social. São Paulo: Veras editora, 2008.
101
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Dança maluca
Procedimento:
Ao som de uma música “alegre”, dançar com as partes do corpo, uma de cada vez: com
a mão direita, a mão esquerda, com as duas mãos, a cabeça, o pé, etc. Pode ser feito em
roda ou com as pessoas espalhadas pela sala pode ser utilizada como aquecimento para
outra atividade do período. Procurar sentir o ritmo do grupo para saber o momento exato do
término da atividade.
Fonte: Fonte: Afonso, M.L. (2006) Oficinas em dinâmica de grupo na área da saúde. Casa do Psicólogo, São Paulo.
Procedimento:
Associação livre em grupo – Com caneta e papel, cada um escreve tudo que lhe vem à mente,
a partir de uma “palavra-geradora”, por exemplo, PAZ. Pode-se escrever individualmente, ou
ir passando a folha de mão em mão, no grupo, para que todos escrevam na mesma folha.
A partir do registro pode-se montar um quadro com o conteúdo levantado. Discutir.
Fonte: Adaptado de Afonso, M.L. – org. (2006) Oficinas em dinâmica de grupo na área da saúde.Casa do Psicólogo, São Paulo.
Atravessando um rio
Procedimento:
O grupo é estimulado a imaginar que a sala é um grande rio. O coordenador desenha no chão
com giz ou marca com fita crepe pedras imaginárias. A turma é dividida em duplas ou trios
e terá de atravessar o rio, de mãos dadas pulando nas pedras imaginárias sem deixar o seu
companheiro de lado. Estimula-se o cuidado e preocupação com o outro.
102
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Objetivo: identificar as formas de violência que praticamos ou que são cometidas contra nós.
Materiais necessários: barbante para o varal. Fita. Três folhas de papel (tamanho A4 ou
equivalente) para cada participante. Prendedores.
Procedimentos:
Colocar 04 varais com os seguintes títulos:
• Violências praticadas contra mim
• Violências que eu pratico
• Como eu me sinto quando pratico violência
• Como eu me sinto quando a violência é praticada contra mim
Qual é o tipo mais comum de violência que se Existe alguma violência que seja pior do que outra?
comete contra nós?
Geralmente, quando somos violentos ou quando sofre-
Como cada um se sente em ser vítima deste tipo mos violência, nós falamos sobre isso? Denunciamos?
de violência? Falamos sobre como nos sentimos? Se não, por quê?
Que tipo de violência é mais comum cometermos Alguns pesquisadores dizem que a violência é como
contra os outros? um ciclo, ou seja, quem é vítima de violência é mais
provável que cometa atos de violência depois. Se isto
está correto, como podemos interromper este ciclo da
Como sabemos se de fato cometemos violência
violência?
contra alguém?
Fonte adaptação: Da Violência para Convivência Projeto Série – Trabalhando com Homens Jovens, caderno 03 – Instituto PROMUNDO.
2008. (Realizada por Laurez Ferreira Vilela – Assistente Social)
103
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Procedimento
Solicite que cada participante amasse bem uma folha de papel. Depois que estiver bem
amassada peça para que as pessoas tentem desamassá-la totalmente, para que o papel fique
o mais liso possível.
Depois discuta o conceito de violência psicológica com o grupo e conclua que a essa forma
de violência deixa marcas, apesar de não serem visíveis, que não são possíveis apagar.
Assim como o papel.
Convivência familiar
Materiais necessários: Folhas de papel pardo formando um ou dois grandes painéis, cola,
revistas, barbante, caneta hidrocor ou similar. Filme ou texto para sensibilização dos pais.
Atividades:
O facilitador ou professor deverá refletir com o grupo sobre o que é convivência na família.
Propor que seja elaborado pela turma um painel com desenho e colagem, sobre o que
gostariam que melhorasse no convívio familiar. Explicar que será utilizado numa dinâmica
com pais/responsáveis e que, por isso, deve ser evitada a identificação nominal.
Quando concluírem, sentar em circulo para que verbalizem como se perceberam na dinâmica
e se propõem soluções. Se houver tempo, pedir para montarem um segundo painel com as
soluções.
Terminar a vivência com um aplauso coletivo pela produção do grupo.
Obs: deve-se observar se algum participante expressa um sofrimento maior em gestos,
palavras, expressões e mesmo no desenho/colagem. Este deve ter atendimento individual,
posteriormente.
104
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
sugestão de outros participantes sobre a fala de alguém deverá ser a partir de si mesmo e
não como palpite de como o outro deva agir.
Se algum integrante tiver demanda para conversar, poderá fazê-lo no grupo, ou mesmo
oferecido a escuta individual.
Para o êxito da atividade, deve-se fortalecer a competência das famílias no cuidado com
sua prole.
Terminar a vivência com um aplauso coletivo pelo compromisso dos presentes no cuidado e
atenção dos filhos e na busca por uma melhor convivência familiar.
Fonte: Ana Lúcia Correa e Castro – Assistente Social.
(*) Sugestão de filme: os produzidos pela PROMUNDO (www.promundo.org.br), em especial o “Era uma vez uma família”.
Procedimento
O facilitador ou professor coloca as crianças em círculo para uma Roda de Conversa –
Começa falar no cuidado que precisamos ter com o nosso corpo. Devemos escovar os
dentes todos os dias, lavar as orelhas, lavar os pés e mãos, lavar a cabeça, lavar nossas
partes íntimas com cuidado, que aliás somente nós podemos tocar – As crianças vão
simulando o banho no boneco do seu sexo, a partir do comando do professor/facilitador.
Importância do auto cuidado é preservar sua intimidade. Enfatizar que ninguém tem o
direito de invadir sua privacidade.
Cada um coloca o que acha ser íntimo e a conversa vai ficando animada.
Fonte: Laurez Ferreira Vilela – Assistente Social.
Procedimento
Cada participante tira uma frase da caixa de papelão e lê em voz alta. A partir disso abre uma
discussão no grupo sobre cada situação. O facilitador deve complementar cada frase depois
que o grupo se posicionar.
Sugestões de frases
Nem melhor nem pior – sou único(a)
Todos são especiais com suas peculiaridades
Todos merecem respeito
Quando alguém disser que você é diferente diga: sou mesmo, por isso sou especial!!
NUNCA ACREDITE QUANDO ALGUÉM TE DENEGRIR
Q
uando alguém zombar de seu sotaque, maneira de ser e de se vestir, diga: acho muito
legal esse meu jeito de ser!!!
Não é qualquer um que está preparado para mensurar nosso valor!
(outras frases podem ser feitas de acordo com o seu objetivo).
Laurez Ferreira Vilela – Assistente social
105
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Material: caneta, tarja de papel escrito “Todo mundo já ... menos eu” e um saco de plástico
Procedimento:
Todo mundo já ... menos eu
Cada participante do grupo completa essa frase. Escreve num papel sem assinar o nome.
Todas as frases são colocadas num saco;
Cada um retira do saco uma frase e lê em voz alta;
Abre-se um espaço para comentários e o grupo discute as situações.
Fonte: Projeto Trance Essa Rede – GTPOS Grupo de trabalho em pesquisa em orientação sexual – Adolescência Vulnerabilidade.
Textos de apoio
Influências de Grupo
Todos nós queremos SER ou FAZER PARTE de alguma coisa, para isso necessitamos ser iguais
nos costumes, no modo de vestir, falar, no corte de cabelo, nos adereços e outros.
Na adolescência a necessidade de fazer parte de um grupo e ser igual é mais acentuada, a
família deixa de ser a única referência, os companheiros são imprescindíveis.
Existe uma necessidade do SER humano em ser reconhecido e aceito pelos outros, e muitas
vezes significa despir-se de preferências e opiniões pessoais para adotar uma espécie de “re-
gra grupal”. Geralmente o grupo possui um líder que estabelece as regras, por isso é difícil
questionar o que está instituído. Dessa forma, os adolescentes podem ser conduzidos para:
uso de álcool, drogas, sexo, prostituição, crimes (furto, roubo, homicídio ...)
Sugestão: Vídeo YOUTUBE – EU SOU O PRIMEIRO – Aborda que não é necessário ter rela-
ção sexual se não está preparado(a) emocionalmente – acesso: http://www.youtube.com/
watch?v=xwn9wE7IrEE
Fonte: Laurez Ferreira Vilela – Assistente Social.
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Estudo de caso
Janaína diz que ela quer transar com Luiz. Ela tira suas roupas e está na cama com ele
quando decide que não quer mais transar. Ele a força. É violência sexual?
Resposta: Sim por que ninguém tem o direito de forçar alguém a uma relação sexual. É crime
conforme art. 213 do Código Penal.
As pessoas possuem estágios (físico e emocional) de desenvolvimento diferentes, e cada uma
deve seguir seu próprio ritmo.
Prevenção do Bullying
Procedimento:
O facilitador ou professor refletirá com o grupo sobre a tarefa explicando que a identidade
será preservada. Após anuência, entregar aos alunos uma folha de papel com um quadro
dividido ao meio. No lado esquerdo deve estar escrito ESCOLA, e do lado direto, COLEGAS.
Solicitar aos alunos desenhar, colar ou escrever algo que os incomodam ou entristecem na
escola relativo aos seus colegas e educadores (sem identificação).
107
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Por uma questão histórica as mulheres sempre foram consideradas “o sexo frágil” e incentivadas
a ser subjugadas pelo homem. Com o advento da Revolução Industrial e das duas grandes guer-
ras, o elemento feminino passou a atuar em espaços que antes eram reservados aos homens.
A mulher entrou para o mercado de trabalho e o surgimento da pílula anticoncepcional colabo-
rou para sua independência sexual e a modificação da estrutura familiar vigente. Contudo, ela
ainda tem dupla jornada (no trabalho e em casa).
A mulher acaba por aceitar seu destino porque durante anos a fio a concepção de seu papel
como submissa foi passado de geração em geração e muito pouco questionado. A violência
contra a mulher durante anos foi “normalizada”. Com a criação da Delegacia da Mulher e novas
leis como a Lei Maria da Penha, há um enfoque maior sobre este tema.
Ao longo de meu trabalho com grupos de pacientes somáticos no Hospital de Base do Distrito
Federal, fui aprendendo, inventando e aplicando técnicas que ajudam as pessoas a sentirem que
podem mudar suas vidas e que têm poder sobre si próprias (empoderamento). Muitos pacientes
com dores crônicas e doenças sérias melhoraram a ponto de não precisarem mais usar remédios,
por conta dos grupos e das técnicas que se seguem e que funcionam para qualquer pessoa.
Em primeiro lugar acho importante dizer que empoderamento, no meu ponto vista, envolve a
pessoa apoderar-se, tomar conta de si própria em todos os seus aspectos, físicos, emocionais,
sociais e espirituais. Quando o indivíduo se conhece e reconhece que colabora na construção
de sua própria vida, ele se torna mais bem preparado para enfrentá-la e conduzi-la de modo a
ser feliz.
Os seguintes exercícios que ensino, alguns cujas fontes se perderam no tempo, se praticados
todos os dias ajudam ao ser humano a realmente cuidar de si e estar no controle de sua exis-
tência. Estar em controle de si acarreta mais segurança par enfrentar sua própria vida.
Técnicas:
1) q
uando a pessoa está em uma situação difícil, é importante que se pergunte “como é que
eu estou contribuindo para esta situação da qual eu reclamo?” (importantíssimo para que
perceba que muitas vezes ela é responsável pelo que está acontecendo consigo mesma)
2) pensar em algum talento que tenha, por menor que este possa parecer, e praticá-lo
3) envolver-se na comunidade à qual pertence, ter amigos, passear, fazer algo de que goste
4) c
uidar de si como se fosse mãe e pai de você mesma – pergunte-se “se fosse meu filho pas-
sando por esta situação, o que eu lhe diria? o que eu faria?”
5) q
uando se sentir muito angustiada e não for capaz de se controlar, respire bem fundo, prenda
a respiração e imagine-se nadando debaixo d’água; solte a respiração lentamente e volte a
prender sua respiração e imaginar que está nadando, etc.. faça até se acalmar... o oxigênio é
um excelente calmante. Se você tem medo de água, respire e se imagine tomando um banho
de chuveiro onde a água está levando embora todos os seus males (sempre prendendo a
respiração e soltando vagarosamente)
6) p
ense sobre você, sua vida, e trace um plano de vida, fechando os olhos e imaginando e sen-
tindo que ele está acontecendo. Detalhe cada passo de seu projeto de vida e organizá-lo por
prioridade e facilidade de colocá-lo em prática. Quando temos objetivos na vida ela passa a
fazer mais sentido e conseguimos superar muitas dificuldades por conta deles... há pessoas
condenadas por doenças graves que acabam se recuperando por terem um plano na vida
7) e
ncarar suas dificuldades como um aprendizado de vida em que você sairá delas uma pessoa
mais preparada e rica de vivências que poderão ajudar outras pessoas também
8) a
proveitar do passado aquelas lições que lhe servem para viver melhor. Prestar atenção se
você não está repetindo alguma situação que seus pais viveram e, principalmente, “jogue fora
no lixo aquilo que não serve para nada”. Viva bem o agora, o hoje.
Fonte: Marilia Lohmann Couri – psicóloga, psicoterapeuta individual, casal e familiar, psicóloga do Hospital de Base do DF e Programa Vio-
leta do HRAS/SES/DF, especialista em violência doméstica contra crianças e adolescentes especialista e mestre em terapia familiar.
108
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
“Tempestade de idéias”
Materiais necessários: cartolina, cartaz ou quadrol, bem como pincéis atômicos ou giz.
Tempo recomendado para todas as dinâmicas: Uma hora e meia, se o grupo for aproxima-
damente de 15 pessoas.
Dicas/notas para planejamento de todas as dinâmicas: atentar-se para o fato de que algumas
pessoas são tímidas e deve, portanto, ser facilitada a sua expressão espontânea. Também,
deve-se estabelecer o acordo de que as pessoas não se julguem, escutem com respeito a
opinião alheia e não saiam do ambiente comentando o que ali ocorreu, mantendo o sigilo em
relação às falas individuais.
Procedimentos:
“Pessoas e coisas”
Procedimentos:
Divida as(os) participantes em três grupos. Cada grupo deve ter o mesmo número de
participantes. Escolha, aleatoriamente, um grupo para ser “coisas,” outro “pessoas” e o
último “observadoras(es)”. Leia as regras para cada grupo:
COISAS: As coisas não podem pensar, não sentem, não podem tomar decisões, têm que fazer
aquilo que as pessoas ordenam. Se uma coisa quer se mover ou fazer algo, tem que pedir
permissão à pessoa.
PESSOAS: As pessoas pensam, podem tomar decisões, sentem e, além disso, podem pegar
as coisas que querem.
OBSERVADORAS: Observam em silêncio.
Em seguida, peça para o grupo de “pessoas” pegar as “coisas” e fazer com elas o que quiser
em 10 minutos. Peça ao grupo que volte ao seu lugar e pergunte para as «coisas». Como
foi tratada por sua “pessoa”? Como se sentiu sendo tratada como coisa? Você se sentiu
impotente? Por que sim ou por que não? Para as «pessoas»: Como tratou sua “coisa”? Como
se sentiu tratando alguém como coisa? Você se sentiu poderosa? Por que sim ou por que não?
Por que as “coisas” obedeceram às ordens das “pessoas”? Para as(os) observadoras(es):
Houve pessoas do grupo de “coisas” ou “pessoas” que resistiram ao exercício? Em nossa vida
cotidiana, nós somos tratadas como coisas? Quem nos trata assim? Por quê? Nós tratamos
outras pessoas como coisas? Quem? Por quê?
Por fim, deve-se lançar para todo o grupo as seguintes questões: Como se sentiu no papel que
foi lhe atribuído sem dizer nada? Você gostaria de ter interferido em algo? Se sim, o que você
109
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
poderia ter feito? Na vida cotidiana, nós somos “observadores” de situações em que algumas
pessoas tratam outras como coisas? Nós interferimos? Por que as pessoas tratam os outros
dessa maneira? Quais são as consequências de um relacionamento em que uma pessoa trata
a outra como coisa? Na sua comunidade, as mulheres costumam pertencer a um desses três
grupos? A qual? Por quê? E os homens, costumam pertencer a um desses três grupos? Qual?
Como uma sociedade perpetua ou apoia esse tipo de relacionamento? O que você aprendeu
com esta atividade?
“O que é ‘gênero’?”
Objetivo: estimular a reflexão sobre como as normas e os papéis sociais de gênero influenciam
a vida e os relacionamentos de homens e mulheres. Ou seja, facilitar a compreensão de que
gênero é uma construção sócio-cultural por meio da qual certas atitudes e comportamentos
são designados às pessoas, caracterizando-as como homens ou mulheres.
Materiais necessários: papel flip-chart ou quadro; bem como pincéis atômicos ou giz.
Tempo previsto: 1 hora e meia, se o grupo for composto por aproximadamente 15 pessoas.
Dicas/notas para planejamento: atentar-se para o fato de que algumas pessoas são tímidas
e deve, portanto, ser facilitada a sua expressão espontânea. Também, deve-se estabelecer
o acordo de que as pessoas não se julguem, escutem com respeito a opinião alheia e não
saiam do ambiente comentando o que ali ocorreu, mantendo o sigilo em relação às falas
individuais.
Procedimentos:
Desenhe duas colunas e, na primeira, escreva “mulher” e, na segunda, escreva “homem”. Peça
aos participantes para falarem palavras e coisas associadas à ideia de “ser mulher”. Escreva-
as na primeira coluna. As respostas podem ter características positivas ou negativas. Repita a
mesma atividade para a coluna “homem”. Em seguida, cite características listadas em cada
coluna para reforçar o que aos participantes disseram. Troque os títulos de cada coluna, isto
é, substitua a palavra mulher pela palavra homem na primeira coluna e vice-versa.
Pergunte se as características listadas para as mulheres poderiam ser atribuídas aos homens
e vice-versa. Pergunte, ainda, sobre quais características aos participantes pensam não poder
ser atribuídas a ambos, homens e mulheres, e por quê.
Por fim, lance as seguintes perguntas para a discussão: O que significa ser mulher? O que
significa ser homem? Vocês acham que homens e mulheres são criados da mesma forma?
Por quê? Que características atribuídas ao homem ou à mulher são avaliadas como positivas
ou negativas em nossa sociedade? Como seria para uma mulher assumir características
atribuídas tradicionalmente ao homem? Seria fácil ou difícil? Como seria para um homem
assumir características relacionadas tradicionalmente a uma mulher? Qual a influência que as
nossas famílias e amigos exercem sobre percepções do significado de ser homem ou mulher?
Quais os efeitos que os meios de comunicação (televisão, revistas, rádio, etc.) têm sobre as
nossas percepções do que significa ser homem ou ser mulher? Como é que a mídia mostra o
que é ser mulher? E ser homem? Existe alguma relação entre gênero e poder? Explique. Enfim,
o que aprendemos durante esta atividade? Existe algo que poderia ser aplicado em nossas
vidas e relacionamentos?
Fonte: adaptação de “Trabalhando com mulheres jovens: empoderamento, cidadania e saúde” Promundo, 2008 (realizada por Tânia
Mara C. Almeida – Antropóloga).
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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Objetivo:
Refletir sobre “provas de coragem” e exposição a riscos para demonstrar coragem, virilidade
e masculinidade como forma de aceitação pelo grupo de pares (turma de amigos). Assim,
responder as expectativas da cultura.
Sentimentos envolvidos
Quem não o faz, é taxado de frouxo, careta ou covarde. Outras vezes, a vontade de sentir uma
emoção diferente, enfrentando situações de desafio e perigo, faz com que os jovens também
se exponham a riscos.
Algumas histórias têm um fim trágico,acabando em lesões, algumas graves e irreversíveis,
quando não em morte. O que isso tem a ver com homens jovens? Por que a necessidade de
“provar que é corajoso”?
Procedimentos:
1. F
ormar grupos menores de 4-5 participantes.
2. C
ada um dos grupos receberá uma folha de papel com o início de uma história, para que
o grupo complete a sua história da maneira que quiser, apresentando-a para os demais.
3. D
e preferência, montar uma pequena peça com a narrativa da história.
4. D
ar a cada grupo cerca de 20 minutos para completar essa tarefa.
5. P
edir para cada grupo fazer suas apresentações e depois abrir a discussão.
111
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Valorização do Idoso
Material: folhas de papel ofício recortadas em forma de coração. De acordo com o número
de participantes
Procedimento:
Ler o texto ou contar a história do “Coração partido” – Certo homem estava para ganhar o
concurso do coração mais bonito. Seu coração era lindo, sem nenhuma ruga, sem nenhum
estrago. Até que apareceu um velho e disse que seu coração era o mais bonito, pois nele
havia marcas. Houve vários comentários do tipo: “Como seu coração é o mais bonito, com
tantas marcas?” O bom velhinho então explicou que por isso mesmo seu coração era lindo.
Aquelas marcas representavam sua vivência, as pessoas a quem ele amou e que o amaram.
Finalmente todos concordaram. O coração do moço, apesar de lisinho, não tinha a experiên-
cia do idoso.
Após ler o texto o facilitador deve distribuir a cada participante um recorte de coração
(dobrado ao meio e cortado em forma de coração), revistas, cola e tesoura. Os participantes
deverão procurar figuras que poderiam estar dentro do coração de cada um. Fazer a colagem
e apresentar ao grupo. Depois cada um vai receber um coração menor e será instruído que
dentro dele deverá escrever o que quer para o seu coração na sua velhice.
Ao final o instrutor deverá conduzir o grupo a trocar os corações, entregar o seu coração a
outro. E todos devem ler para o grupo o que está no coração que pegou do colega.
Fazer a troca de cartões com uma música apropriada, tipo: Coração de Estudante, Canção
da América ou outra.
Após a troca de cartões o coordenador abre para discussão, para que o grupo fale de seus
sentimentos.
Sentimentos
Procedimento:
As pessoas fazem expressões faciais a partir de palavras-geradoras, como tristeza, raiva,
alegria, preocupação. O grupo precisa adivinhar qual é o sentimento que o colega deseja
expressar. Conversar sobre situações que nos fazem sentir tristes, alegres etc. Promover a
expressão dos sentimentos, conversar sobre as dificuldades de cada um, discutir sobre o
cuidado com o outro.
112
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Trabalhando preconceitos
Procedimento:
Cara a cara. O coordenador prepara cartões pequenos contendo com frases curtas que iden-
tifiquem situações, tais como: sou gay, sou transexual, sou portador do vírus HIV, estou muito
doente, quero ser feliz, tenho câncer, sou trabalhador, vivi violência sexual, apanhei quando
era criança, meu marido me bate, gosto da minha família, gosto de ler, adoro ir para a escola
etc. Os cartões deverão ser afixados com fita crepe nas costas dos participantes sem que eles
vejam qual é a sua frase. Os participantes deverão caminhar pela sala buscando expressar
seus sentimentos ao entrar em contato com os dizeres afixados nas costas dos colegas. Ao
mesmo tempo, cada membro do grupo deve ficar atento à reação das pessoas à sua própria
frase. Promover ao final, uma discussão sobre preconceitos, bullying, violência entre pares.
Procedimento:
Formação em círculo, um balão vazio para cada participante, com uma tira de papel que
deverá ser preenchida após o comando do facilitador.
O facilitador dirá para o grupo que aqueles balões são os problemas que enfrentamos no nosso
dia-a-dia, de acordo com a vivência de cada um: desinteresse, intrigas, fofocas, competições,
inimizade, apoio, solidariedade e outras que contribuam no contexto.
Após escrever o problema sem se identificar, o aluno será orientado a colocar o papel preen-
chido dobrado dentro do balão. Cada um deverá encher seu balão e brincar com ele jogando-o
para cima com as diversas partes do corpo, depois com os outros participantes sem deixar
a mesma tocar o chão.
Aos poucos o facilitador pedirá para alguns dos participantes deixarem seu balão no ar e
sentarem, os restantes continuam no jogo. Quando o facilitador perceber que quem ficou no
centro não está dando conta de segurar todos os problemas peça para que todos voltem ao
círculo para ajudar quem ficou sozinho e então ele pergunta:
1) a
quem ficou no centro, o que sentiu quando percebeu que estava ficando sobrecarregado;
2) a quem saiu, o que sentiu.
Neste contexto, o facilitador refletirá sobre como ficou mais fácil o grupo maior cuidando dos
problemas ou o grupo menor?
Ainda sentados, pedirá aos participantes que estourem os balões, leiam o papel e, um a um,
faça um comentário para o grupo sobre o que aquela palavra significa para ele e como poderia
contribuir para solucionar a situação descrita. O foco é que podemos compartilhar angústias
para, que juntos, resolvamos problemas que interferem no cotidiano.
Dicas de palavras – amizade, solidariedade, confiança, cooperação, apoio, aprendizado, hu-
mildade, tolerância, paciência, diálogo, alegria, prazer, tranquilidade, troca, crítica, motivação,
aceitação e outras que contribuam no contexto.
(As palavras devem ser feitas de acordo com o seu objetivo).
Fonte: Laurez Ferreira Vilela – Assistente Social
113
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Material: Cartolina para crachás; Fita crepe; Flip Chart; Canetas para Flip Chart.
Procedimento:
Observações:
Fonte: Alves, Ivanilde* e Miranda Torres, M.P.S – Manual de Técnicas Participativas – Fact/Family Heath Internacional do Brasil.
* Ivanilde Alves, Educadora, Psicanalista, Especialista em Educação Sexual.
114
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Desenho do nome
Material: Pincel atômico de várias cores; Caneta hidrocor; Gizão de cera; Papel em branco
(tipo chamex); Papel pardo; Aparelho de som; Música calma.
Procedimentos:
1. D
ispor o grupo sentado, em círculo.
2. D
istribuir uma folha de papel para cada participante, deixando o restante do material, no
centro do grupo, ao alcance de todos.
3. S
olicitar ao grupo que reflita sobre todo o seu nome e que destaque o que eles mais
gostarem (nome, sobrenome, apelido).
4. P
edir que desenhem alguma coisa que possa representar o nome ou a parte do mesmo
que foi escolhida, ou mesmo algo que possa identificá-la, lembrando a não necessidade
de um desenho artístico.
5. E
m seguida, pedir que prenda o desenho ao seu tórax, com fita adesiva, e que caminhe
na sala em silêncio, ao som da música, observando os colegas e seus respectivos
desenhos.
Observação: “Nesse momento, o facilitador deverá lembrar a importância dos sentidos
“audição” e “visão” e de como os temos utilizados. Por exemplo: escutamos, mas não
ouvimos/vemos, mas não observamos.
6. A
pós a reflexão, pedir que cada um pare ao lado de uma pessoa desconhecida ou
que conheça pouco e que juntos possam falar a respeito de seus nomes e desenhos,
apresentando-se um ao outro.
7. E
m seguida, solicitar que as duplas possam sentar-se juntas e que um apresentem o
outro ao grande grupo.
8. D
epois da apresentação, pedir para que cada membro do grupo cole o seu desenho numa
folha de papel pardo, previamente deixada no centro da sala, construindo assim, uma
“imagem” do grupo.
9. E
ncerrar a atividade, levantando a discussão sobre o trabalho em equipe, refletindo sobre
a imagem formada anteriormente.
Fonte: Alves, Ivanilde* e Miranda Torres, M.P.S – Manual de Técnicas Participativas – Fact/Family Heath Internacional do Brasil.
* Ivanilde Alves, Educadora, Psicanalista, Especialista em Educação Sexual.
115
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Mãozinhas
Material: Folhas de papel sulfite; Canetas ou lápis; Borrachas; Flip Chart; Canetas para
Flip Chart.
Procedimentos:
1. D
ispor o grupo sentado, em círculo, em cadeiras com apoio (adaptar à realidade do local).
2. D
istribuir uma folha de papel sulfite e uma caneta para cada participante.
3. S
olicitar que cada integrante do grupo contorne, na folha de papel, sua mão direita e
esquerda, utilizando para isso, também, o verso da folha.
4. P
edir que, após o desenho, cada participante escreva em um dos contornos da mão suas
expectativas em relação ao trabalho e, na outra, o tipo de contribuição que pode oferecer
ao mesmo.
5. S
olicitar, após, que seja feita a leitura individual para o grande grupo, observando em qual
das mãos (direita ou esquerda) estão as contribuições para o trabalho. Nesse momento,
anotar no flip chart as expectativas.
Observação: Medir o grau de importância entre Contribuições e Expectativas, se as
mesmas estão descritas nas mãos “direita” ou esquerda”.
6. E
ncerrar a atividade expondo os objetivos do trabalho em questão, tecendo comentários
sobre a disponibilidade interna de cada um sobre o trabalho que será realizado
Pontos para discussão: Trabalho em equipe; Disponibilidade interna; Boa vontade para reali
zação de um trabalho; Expectativas.
Sugestão: Poderá ser utilizada para trabalhar grupos de qualquer faixa etária, desde que os
mesmos sejam alfabetizados
Salada de frutas
Procedimentos:
1. D
ispor o grupo sentado, em círculo.
2. V
erificar o número de subgrupos que se deseja formar, para que o mesmo possa corres-
ponder ao número de frutas, no trabalho.
etectar no grupo quais as frutas que eles mais gostam, de acordo com o número de
3. D
subgrupos que se deseja formar.
Exemplo: 04 subgrupos (maçã, uva, morango, abacaxi)
116
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
4. D
istribuir os nomes das frutas para cada membro do grupo, solicitando aos mesmos que
não esqueçam o nome de sua fruta.
5. S
olicitar ao grupo que, ao comando do facilitador, seus integrantes com os nomes das
frutas troquem de lugar.
6. R
etirar do círculo uma cadeira, de forma que uma pessoa do grupo possa ficar de pé, no
momento do primeiro comando.
Exemplo: o facilitador dirá “maçã” e todas as “maçãs” trocarão de lugar. No momento
em que for dito “Salada de Frutas”, todas as frutas deverão trocar de lugar, ficando uma
pessoa de pé. Essa pessoa deverá comandar a brincadeira e assim, sucessivamente. Nessa
hora, o facilitador será apenas um mero observador do jogo.
7. E
ncerrar a atividade, perguntando o sentimento de cada um nas diversas fases do jogo.
Sugestão:
Poderá ser utilizada para qualquer Grupo de Trabalho, tendo-se um cuidado maior com grupo
de crianças.
Passando a bola
Objetivos: Aquecer o grupo para trabalho coletivo; Promover uma descontração no grupo;
Discutir responsabilidades dentro de uma equipe ou de uma família; Refletir sobre o trabalho
em equipe ou sobre o papel desempenhado dentro de uma família; Descontrair e estimular
a atenção.
Procedimentos:
1. D
ispor o grupo de pé, em círculo fechado.
2. P
assar a bola para um membro do grupo, solicitando que o mesmo repita o procedimento
com os demais.
3. D
eixar que a bola seja passada pelo menos duas vezes para cada componente do grupo,
inclusive para o facilitador.
ncerrar a atividade solicitando que cada um possa se colocar sobre o sentimento gerado
4. E
no jogo, conduzindo as informações para os próprios objetivos da técnica em questão.
Sugestão: Podemos utilizar esta técnica, para trabalhar o tema: Negligência, com grupo
de pais, educadores ou profissionais; – Como Técnica de Apresentação de Grupos adultos,
adolescentes, crianças ou idosos, também poderá ser adaptada.
Fonte: Alves, Ivanilde* e Miranda Torres, M.P.S – Manual de Técnicas Participativas – Fact/Family Heath Internacional do Brasil.
* Ivanilde Alves, Educadora, Psicanalista, Especialista em Educação Sexual.
117
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Balão na roda
Objetivos:
1. Encerrar atividades.
2. Refletir sobre o trabalho realizado.
3. Avaliar o grau de importância do trabalho realizado para a vida profissional e pessoal.
4. Refletir acerca dos obstáculos que se apresentam diante de todo trabalho.
5. Facilitar o processo de despedida do grupo.
Material: Balões coloridos; Papéis cortados em tamanho pequeno, em número maior que o
dos componentes do grupo; Canetas ou lápis; Aparelho de som; Música animada.
Procedimentos:
1. D
istribuir um pedaço pequeno de papel e uma caneta ou lápis para cada componente
do grupo, solicitando que os mesmos possam escrever uma mensagem bonita no papel,
dobrando-o depois em tamanho pequeno.
2. O
ferecer um balão colorido para cada um, (deixando que os mesmos possam escolher a
cor), pedindo que seja colocada dentro do balão a pequena mensagem dobrada.
3. S
olicitar que encham o balão e que seja dado um nó na ponta.
4. P
edir que todos os balões sejam jogados para cima, de maneira que todo o grupo
possa tocá-los, avisando-os de que nenhum balão poderá cair no chão. Se isso ocorrer, o
facilitador deverá estimular o grupo a jogá-los para cima.
Observação: utilizar música animada.
5. E
ncerrar a brincadeira, solicitando que cada pessoa pegue um balão de cor diferente
da sua.
6. T
rocar a música, colocando uma música relaxante.
7. D
ispor o grupo de pé, em círculo, pedindo que seja feito um exercício respiratório para
descansar.
8. S
olicitar que o balão seja estourado e que cada um pegue a mensagem de dentro.
A mesma deverá ser lida em conjunto para todos, ao som da música suave, promovendo
uma reflexão no grupo.
9. T
rocar a música e pedir para que o grupo a ouça de olhos fechados, incentivando nesse
momento uma breve avaliação, ou mesmo pedir para que deixem, uma mensagem para
o grupo. Música sugerida: “Força Estranha”. (Gal Costa).
10. E
ncerrar a técnica falando o quanto foi importante o trabalho com a equipe em questão,
motivando os mesmos para a continuidade do trabalho.
Sugestão: Esta mesma técnica poderá ser adaptada, para trabalhar dificuldades dentro de
um grupo. Exemplo: Grupos de pais, adolescentes, crianças ou educadores. Basta colocar difi-
culdades, dúvidas ou situações problemas,dentro dos balões. Após a leitura, o próprio grupo
poderá dar sugestões para as dúvidas ou dificuldades apresentadas, ficando o facilitador
com a responsabilidade de moderar a discussão e de dar respostas corretas e científicas às
dúvidas apresentadas.
Fonte: Alves, Ivanilde* e Mir‑anda Torres, M.P.S – Manual de Técnicas Participativas – Fact/Family Heath Internacional do Brasil.
* Ivanilde Alves, Educadora, Psicanalista, Especialista em Educação Sexual.
118
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
“Projeto de vida”
3ª) CRIANDO MEU PLANO DE AÇÃO: Após a realização do “meu diagnóstico”, utilize o formulário
Plano de Ação, detalhando as ações necessárias para concretizar o seu Projeto de Vida. É
importante ter consciência de que você não precisa estabelecer metas grandiosas. Inicie com
metas menores e pequenas e tente relacioná-las com as metas mais amplas que exigem maior
investimento e maior tempo. Escreva-as de maneira objetiva e detalhada, para que você possa
acompanhá-las. Lembre-se que um passo se dá atrás do outro e que para se fazer um caminho,
primeiro é preciso caminhar.
MEU PLANO DE AÇÃO
MINHA META É: ex: Comprar um terreno para a construção da minha casa
Ex: 1. Escolher o bair- Ex: 1. Imediato; Ex: 1. Discutir critérios com a Ex: 1. Conversas com companheiro (a);
ro onde quero morar; 2. 12/01/2010 família; 2. E
nvolver as crianças;
2. V
erificar o preço 3. 01/07/2010 2. C onsultar jornais, imobiliárias, 3. A
brir poupança sem facilidades de
dos terrenos; 4. Final do ano moradores, etc; saque;
3. D
efinir programas 3. Identificar todos os custos 4. N
ão retirar o dinheiro da aplicação
de poupança; fixos, abrir poupança e cortar para outros gastos;
4. D
ar entrada no gastos, 5. A
ssinar cheques pré-datados ou
terreno. 4. C ontrato com o proprietário. pagar prestações.
Fonte: Adaptação – ANTUNES, R.C. Projeto de Vida. Acessível no endereço eletrônico: http://www.scribid.com/doc./7327520/Projeto-de-Vida-
Roteiro Último acesso 07.12.2009 (Realizada por Vanessa Canabarro Dios – Psicóloga)
119
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Texto de apoio
Em 1990 havia um cavalo pangaré chamado Mumu dos Anjos que era usado por um
desses catadores de papelão para puxar carroça. Mumu era visto subindo e descendo o
morro da Favela no Rio de Janeiro, carregando o pesado e ingrato fardo de coisas velhas e
papelão usado. Esta era a vida de Mumu e o seu destino parecia terminar assim, até que seu
dono decidiu vendê-lo para pegar um dinheirinho.
Naquela região havia um Senhor que queria comprar um cavalo para dar à sua filha
adolescente que estava aprendendo a cavalgar, por esta razão nada melhor que usar um
pangaré. Aconteceu que o pai desta menina tinha outro cavalo (só que de raça) e estava
participando de um torneio na Hípica do Rio de Janeiro.
No dia anterior à competição o cavalo de raça se machucou e ficou impedido de participar
do torneio. A solução para manter-se inscrito era usar outro cavalo, foi então que colocaram o
pangaré Mumu, somente para manter o nome da equipe inscrita. Desengonçado, sem sangue
Árabe, sem treinamento, sem pedigree e sem história, Mumu era um daqueles que ninguém
acreditava, nem sequer apostava. Bom, a surpresa veio!
Mumu viu e entendeu que a vida lhe estava abrindo uma porta, e correu, correu, correu
como nunca e ganhou. Ninguém acreditou. Anos depois o preço de Mumu estava por volta de
Meio Milhão de Dólares, passando a ser transportado de avião, comendo ração importada, e
sendo tratado como um rei. Obviamente continua correndo!
A historia deste pangaré é verdadeira e foi publicada no Jornal Gazeta Mercantil em 1990.
Assim como Mumu, eu, você e muitos outros não tivemos uma família super-rica que nos
sustentasse com tudo de bom e de melhor. Isto às vezes se torna um peso para muitas
pessoas, que não lutam por acharem que não são capacitadas.
No entanto, veja que a vida de Mumu mudou a partir do dia que ele teve uma oportunidade
e entendeu que precisava correr para não continuar naquela situação. Apesar de ter uma
aparência de que nunca chegaria lá, ele mostrou ser possível.
Amigo de Deus, não importa sua idade, está na hora de largar a carroça, deixar para trás
os sentimentos de eu não consigo, sou pobre, sou feio, sou sozinho, ninguém me ajuda, não
tenho sorte etc. É hora de acordar e saber que lá fora tem uma corrida acontecendo. Se as
coisas não acontecem na vida profissional e você não é realizado, ao invés de reclamar das
bagas de milho que possa estar comendo, procure ver aquilo que está faltando.
Quem sabe você não tem feito a coisa da forma certa, um currículo mal elaborado, é
muito ansioso nas entrevistas, fala demais, não sabe ouvir, não é confiável no trabalho, falta
muito, chega sempre atrasado, vive dizendo pequenas mentirinhas, não tem educação para
falar com as pessoas ou é do tipo pavio curto? Quem sabe falta aquele – Muito obrigado –
Com licença – Por favor – Me desculpe, ou ainda um sorriso. De repente um simples sorriso
muda tudo e abre muitas portas. Um Coração alegre aformoseia o rosto, portanto deixe de
ser zangão. Lembre-se que antes de querer ser Divino é necessário ser mais Humano. Talvez
o problema seja simplesmente que você tenha que voltar à escola e terminar o ginásio, fazer
uma faculdade, uma Pós-Graduação ou quem sabe aquele curso de Idiomas.
Existem muitos cursos de ótima qualidade e que são gratuitos oferecidos pelas Prefeituras,
Associações de Comunidade e Igrejas, CORRA! Busque nos jornais de Domingo, consulte
na Internet, pergunte às pessoas que você conhece, e finalmente espalhe que você quer
correr atrás de algo que lhe falta. Certamente alguém será usado para lhe abrir a porta da
oportunidade.
Quando isto acontecer e seu nome for chamado, Levante e Corra. Mais corra, corra, corra
muito mesmo, pois esta pode ser a sua chance de largar a Carroça e ter muito sucesso
na vida.
120
Música: Tente Outra Vez
121
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Anexos
Locais na Rede de Saúde que Realizam Acompanhamento
Especializado às Vítimas de Violência
Adolescentro
(só para adolescentes)
End.: Av. L2 Sul Q. 605
Centro de Saúde nº 6
Tel.: (61) 3242-1447
(61) 3443-1855
HRC
HRAS
Hospital Regional
Hospital Regional
da Ceilândia
da Asa Sul
Tel.: (61) 3371-7550
Tel.: (61) 3445-7669
(realiza terapia ocupacional)
HRAN
Hospital Regional
da Asa Norte
Programa Margarida HRT
Tel.: (61) 3325-4249 Hospital Regional
End.: SMHN Área Especial de Taguatinga
Corredor laranja Sala 28 Tel.: (61) 3353-1159
Atendimento na
quarta-feira pela manhã.
COMPP HRPa
Centro de Orientação Hospital do Paranoá
Médico-Psicopedagógica Triagem realizada pelo Serviço Social
End.: SMHN 501 Bloco B CAPS II – Centro Atenção Psicossocial
Asa Norte End: Quadra 02 – Área Especial
Tel: (61) 3326-3201 ao lado do HRPa
(61) 3325-4945 Tel: (61) 3369-9933
122
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
HORÁRIO DE
INSTITUIÇÃO ENDEREÇO TELEFONE
FUNCIONAMENTO
3905-1349
SEPN 515 Norte, Ed. Banco do
Conselho Tutelar de Brasília 3905-1354 Horário comercial
Brasil, Bloco A, Lote 1, 2º andar
3905-1278
0800-644 2031
Conselho Tutelar de Quadra 24, Lotes 06/07 – Setor 3479-4361
Horário comercial
Brazlândia Tradicional de Brazlândia 3479-4412
Fax: 3479 4689
0800-644 2033
Entrequadra 13/17, Área Especial
Conselho Tutelar do Gama 3905-1361 Horário comercial
– Setor Oeste (ao lado da 20ª DP)
3905-1362
0800-644 2034
Conselho Tutelar do Quadra 21, Área Especial (ao lado
3905-1363 Horário comercial
Paranoá do Centro de Saúde)
3905-1364
0800-644 2027
Conselho Tutelar de Área Especial, Módulo H, nº 06, 3389-6763
Horário comercial
Planaltina Sala 11 – CDS de Planaltina 3389-5663
Fax: 3388-8235
0800-644 2060
Conselho Tutelar de QR 301, Conjunto 04, Lote 01 –
3905-1368 Horário comercial
Samambaia Samambaia Sul
3905-1369
0800-644 2032
Conselho Tutelar de Santa Área Especial, Lote B, EQ 209/309 3392-1886
Horário comercial
Maria – Santa Maria 3393-5727
3393-0572
0800-644 2026
Conselho Tutelar de Quadra 06, Área Especial, n. 03 – 3591-0660
Horário comercial
Sobradinho prédio do CDS 3487-5301
Fax: 3387-1559
0800-644 2024
3351-7133
Conselho Tutelar de C 12, Área Especial – Taguatinga
3352-8443 Horário comercial
Taguatinga Centro
3562-8532
Fax: 3352-2812
123
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
Vara da Infância e da
SGAN 909, Bloco C, Lotes D/E 3348-6600 13h às 19h
Juventude
Conselho dos Direitos da SRTVS, Q. 701, Bloco I, Ed. Palácio 9h às 12h / 14h
3322-2266
Mulher DF da Imprensa, 5º andar às 18h
Atendimento às Vítimas
de Violência (criança, 3342-1407
Denúncia via telefone 24 horas
adolescente e idoso) –
CREAS
Ministério Público
– Promotoria de Justiça 3343-9721
Ed. Sede do MPDFT, Praça
de Defesa do Idoso e do 3343-76 21 8h às 19h
Municipal, 1º andar
Portador de Deficiência
(Prodide)
Defensoria Pública do DF
3343-7612
– Núcleo de Assistência TJDFT, Bloco B, 1º andar –
3343-7470 13h às 19h
Jurídica de Defesa do Ceajur
Idoso
124
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
COORDENADOR
COSE QUANT. NOME E ENDEREÇO TELEFONE
DO COSE
COSE P. SUL
Josildo Soares Freire
EQNP 12/16, Lotes A e B, 3376-7318
8477-5640
Área Especial, Setor P. Sul
Ceilândia 04
COSE SUL
Tomé Aguiar Oliveira
QNM 15, Módulo A, Área 3371-2536
8402-4352
Especial – Ceilândia Sul
COSE SUL
Ascionara Ramalho Alves
Área Especial, Entrequadra 5/11 3556-0042
9236-3308
– Setor Sul
Gama 02
COSE OESTE
Osni das Graças Evangelho
Área Especial, Entrequadra 3556-6712
9553-4998
13/17 – Setor Oeste
Raimundo Nonato de
COSE CENTRAL 3388-4100
Planaltina 01 Sousa
Área Especial H, Lote 06 3388 -1167
8199-1660
125
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
COSE-GO
Recanto das Vargem da Benção – Estrada 3434-1031 Maria Aparecida Tiveron
02
Emas Parque Taguatinga/Gama, km 3334-1855 9972-4932
03 Recanto das Emas
COSE CENTRAL
Carla Andréa Maria Alves
Sobradinho 01 Quadra 06, Área Especial n. 03, 3591-2603
9112-9949
Lotes 06/07
126
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde
CREAS
CREAS/
ORD. ENDEREÇO/E-MAIL FONE/FAX COORDENADOR
ABRANGÊNCIA
3387-8651
SODRADINHO (Sobradinho, QD. 06, Área Especial nº 03 Marilise Costa
3387-2241
02 Sobradinho II, Paranoá, creassob@sedest.df.gov.br Freire de Oliveira
Fax: 3387-1559
Itapoá e Planaltina). 9961-1498
(Conselho Tutelar)
TAGUATINGA (SCIA/
Setor D Sul, Área Especial –
Estrutural, Taguatinga, Águas 3563-3155 Izabel Cristina
03 Tag. Sul
Claras, Samambaia, Riacho FAX: 3351-8129 9158-8256
creastag@sedest.df.gov.br
Fundo I e Riacho Fundo II).
Flávio Wilson
QNM 16, Área Especial,
CEILÂNDIA (Ceilândia e 3581-2260 Campos de
07 Módulo A – Ceilândia Norte
Brazlândia) Fax: 3373-9854 Carvalho
flaviowilson@gmail.com
8165-3301
127
“Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas,
que já têm a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos, que
nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia: e, se não
ousarmos fazê-la, teremos ficado,
para sempre, à margem de nós mesmos”.
Fernando Pessoa
Realização Apoio
Ministério
Núcleo de Estudos e Programas da Saúde
para os Acidentes e Violências
Secretaria de Estado de Saúde
do Distrito Federal
Convênio 3122/05