Entre o Sentimento de Culpa e A Depressão - Uma Nova Tradução Clinica - Muribeca

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Entre o sentimento de culpa e a depressão: uma nova tradução clínica

Entre o sentimento de culpa e a depressão:


uma nova tradução clínica
Between the guilt feeling and depression:
a new translation clinic

Maria das Mercês Maia Muribeca

Resumo
É cada vez mais frequente receber no consultório pessoas afligidas por um estado de ânimo
depressivo, imersas num torpor de angústia e dor por vezes inenarrável. Envoltas num humor
apático tecido pelos visíveis fios de sua anedonia, são cada vez mais submergidas num manto
de vazio e desesperança atordoantes. Chegam cansadas, com um olhar suplicante e uma fala
comprometida entre o sentimento de culpa que assola seus pensamentos e a tristeza que in-
vade seus anseios. No entanto, ao vir à análise buscam se agarrar à última linha do seu desejo,
no intuito de ressignificar suas perdas para lograr sair da analgesia de suas emoções. Nesse
sentido, entra em cena a análise, faz-se presente o desejo, desenha-se o inconsciente sequioso
de alumbrar-se. Portanto, é nesse cenário que enveredamos pelos fragmentos clínicos da his-
tória de uma mulher imersa num profundo sentimento de culpa e depressão, filha de uma mãe
esquizofrênica e um pai ausente, mas que, ao mergulhar em sua análise, cria um novo espaço
para viver e crescer.

Palavras-chave: Sentimento de culpa, Depressão, Psicanálise.

O ser humano é mortal por seus temores


e imortal por seus desejos.
P i tág or as

Introdução É de notório saber que o analista não faz


Escrever fragmentos de um caso clínico no uso de nenhum instrumento médico para
intuito de entrelaçar a escuta clínica com a examinar seu paciente, apenas o convida a
teoria não é tarefa fácil. A construção de um falar de seus problemas, a narrar suas angús-
caso fundamentado em uma teoria que o tias, possibilitando, com isso, a abertura de
respalda exige do psicanalista um esforço de um espaço, onde possa escutar seus sintomas
elaboração do que ocorre na intimidade do através da linguagem verbal e paraverbal de
encontro entre ele e o analisando. seu demandante.
Na exposição de um caso, o analista não só Freud ([1926] 2002, p. 214) nos disse que:
apresenta suas elucubrações mas também pro- “as palavras podiam fazer um bem indizível,
cura dar conta de sua atuação frente ao outro, assim como também podiam causar terríveis
sempre pautado na ética da escuta dos desejos feridas”. Por conseguinte, é nesse espaço em
inconscientes, isto é, na ética da psicanálise. que a fala assume um lugar de privilégio, que
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Entre o sentimento de culpa e a depressão: uma nova tradução clínica

o analista vai confeccionando, junto ao ana- Foi buscando um pouco de sentido que
lisando, uma colmeia de anéis que se entrela- Ana1 chegou ao consultório, numa espécie
çam uns nos outros e que passa a sustentar a de analgesia emocional, perdida em suas
história de vida do analisando. memórias, prisioneira em suas dores e imer-
Nesse sentido, a ferramenta de trabalho sa numa desorganização afetiva profunda.
do analista é a arte da escuta e a sapiência Vivendo numa espécie de caleidoscópio sem
da fala, no intuito de traduzir as mensagens fim, anuncia seu casamento com o sentimen-
enigmáticas incrustadas na alma, retradu- to de culpa e apresenta a depressão como seu
zindo a sintomatologia abraçada há anos, padrinho.
ressignificando lembranças de imagens
congeladas provenientes de emoções para- Fragmentos de um caso clínico
lisantes. Eis algumas das incumbências do Nesse sentido, o caso que estamos percor-
analista. rendo transita pela temática da angústia, do
Em análise, portanto, solicitamos ao pa- sentimento de culpa e da depressão. Ora, sa-
ciente que diga tudo o que vier a sua mente, bemos que um dos destinos da angústia é a
sem frear nenhum conteúdo, mesmo aqueles face da depressão e que o mal-estar psíquico
teores que pareçam carentes de importân- pode se revelar tranquilamente através dessas
cia e sentido. Um ponto fundamental a ser modalidades, as quais podem se desenhar de
observado na análise consiste em superar as maneira isolada ou em conjunto. É cada vez
resistências do paciente, que se manifestam, mais frequente receber no consultório pes-
por exemplo, através do ganho secundário soas atormentadas por um estado de ânimo
extraído de sua enfermidade. depressivo, envoltas num humor apático te-
Aqui ou alhures, o certo é que todos os cido pelos visíveis fios de sua anedonia.
dias nós fiamos e tecemos desejos, planeja- Ana chega cansada, com um olhar supli-
mos, criamos maquetes e nos alimentamos cante e uma fala comprometida entre o sen-
de nossas ilusões. Sem embargo, a vida tam- timento de culpa que assola seus pensamen-
bém tece e fia as suas intempéries em nós, tos e a tristeza que invade seus anseios. No
inexoravelmente, ela se desenha por si só e, entanto, ao vir à análise busca se agarrar à
por vezes, faz um corte avassalador em nos- última linha do seu desejo. Aos poucos, de
sos sonhos. Portanto, faz-se mister, que no ombros visivelmente arqueados e voz quase
percurso do tratamento o analisando apren- inaudível, vai narrando seus problemas com
da a lidar com suas frustrações, suas decep- a mãe desde a infância. Filha de uma mãe
ções e suas feridas narcísicas. diagnosticada com esquizofrenia e portado-
Clarice Lispector (1964, p. 4) em seu livro ra de uma depressão crônica, Ana sofria com
A paixão segundo GH narra com maestria, a a ausência materna devido às constantes in-
busca diuturna que o ser humano empreen- ternações.
de em prol de explicações para o transbor- Com muito pesar, conta que não demo-
damento de suas angústias. Um trecho que rou muito para seus pais se separarem. Seu
exemplifica a procura de um sentido existen- pai havia encontrado outra mulher, e, devido
cial é quando ela diz: ao estado de saúde da mãe, ela e seus irmãos
foram obrigados a acompanhá-lo. Não de-
[...] estou procurando, estou procurando. morou muito para Ana se aperceber sozinha,
Estou tentando entender. Tentando dar a al- carente de atenção e cuidados.
guém o que vivi e não sei a quem, mas não
quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer
do que vivi, tenho medo dessa desorganiza- 1. Nome fictício. Os fragmentos aqui narrados somam apro-
ção profunda. ximadamente treze anos de análise.

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Aos oito anos de idade já estava morando Por outro aspecto, existem acontecimen-
com seu pai e não tinha mais contato com tos em que as manifestações provenientes
sua mãe. À noite, em seus pesadelos, desper- desse sentimento se tornam patológicas, ou
tava assustada sem saber qual seria seu desti- seja, há casos em que o excesso de culpa ter-
no, temia pelo seu futuro. Infelizmente, seus mina por se transformar em algo paralisante
temores só pioraram, pois seus irmãos, não e autodestrutivo. Casos em que o sentimento
suportando mais o convívio com a madrasta, inconsciente de culpa induz o sujeito a ati-
decidiram ir embora. Seu pai, uma espécie tudes extremas. E por fim, também existem
de caixeiro viajante, mal vinha em casa. Suas casos em que os sujeitos são totalmente des-
ausências agravaram ainda mais a solidão de tituídos de culpa, possuindo um comporta-
Ana. mento maléfico e heterodestrutivo.
Em suas associações ela acredita que foi No caso de Ana, o sentimento de culpa a
por essa ocasião que começou a se sentir induziu a pensar que ela não era merecedo-
culpada pela infelicidade dos pais e pela des- ra de ser feliz. Ela explica que seus esforços
truição da família, mesmo não encontrando para não sucumbir aos encantos malignos da
lógica para isso. Com o passar do tempo, não depressão foram extenuantes, mas, ao final,
suportando mais vê-la tão fragilizada, sua tia a depressão não mais pediu licença e se ins-
decide buscá-la para morar com ela noutra taurou em sua vida. Nos primórdios da aná-
cidade. lise Ana apresentava fortes dores de cabeça,
É certo que o sentimento de culpa exis- pessimismo, dificuldade de tomar decisões,
te desde os primórdios da humanidade. As pena de si mesma e seu eterno algoz: a autoa-
pertinências desse sentimento são extrema- cusação e a culpa.
mente complexas, pois abarcam diversas sea- Ora, somos cônscios de que a depressão
ras do saber religioso, filosófico, psicológico é um distúrbio da emoção que afeta o corpo,
e jurídico, entre outros. A palavra “culpa”, o humor e o pensamento. Modifica o apeti-
significa “aquilo que carece”; “que falta”; uma te e o sono, assim como influencia na forma
“necessidade perpétua na vida do ser huma- como a pessoa se percebe. Em outras pala-
no”. Laplanche e Pontalis (2000, p. 472) afir- vras, seus sintomas costumam afetar as cinco
mam que: áreas de funcionamento: emocional, motiva-
cional, comportamental, cognitiva e física.
[...] o sentimento de culpa pode designar um A maioria das pessoas com depressão
estado afetivo consecutivo a um ato que o su- possui acentuada redução da capacidade de
jeito considera repreensível, e a razão invoca- sentir prazer (anedonia) e padrões negativos
da pode, aliás, ser mais ou menos apropriada, de pensamento. É, pois, um estado de abati-
ou ainda um sentimento difuso de indignida- mento e tristeza em que a vida parece nebu-
de pessoal sem relação com um ato determi- losa, e seus desafios, potencialmente aterra-
nado do que o sujeito se acuse. dores (Barlow; Durand, 2008).
Por essa época, Ana consultou um psi-
Nessa acepção, podemos pensar que o quiatra que lhe prescreveu Escitalopram
sentimento de culpa está diretamente ligado 10 mg diárias. No mais recente Manual
ao desenvolvimento emocional-afetivo, mes- Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
mo não sendo exclusivo de nenhuma fase do Mentais - DSM-V (APA-2013) a depres-
desenvolvimento da personalidade. Desde são está situada na Seção II, que trata dos
tenra idade o ser humano está sujeito a se Critérios Diagnósticos e Códigos. Saiu do
sentir culpado por algo, mesmo que não seja anterior capítulo dos “transtornos do hu-
o responsável pela situação que promoveu a mor” e passou a se chamar: “transtornos de-
instauração da culpa. pressivos”, distinguindo-se, doravante, dos

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Entre o sentimento de culpa e a depressão: uma nova tradução clínica

“transtornos bipolares e transtornos relacio- modo a granjear um lugar basilar na criação


nados”. e na constituição da cultura.
Nesse novo capítulo, estão inseridos o Somos conscienciosos de que uma das vi-
transtorno disruptivo da desregulação do nhetas da depressão pode ser acionada por
humor, o transtorno depressivo maior, o uma decepção na infância e que, em geral,
transtorno depressivo persistente (disti- o sentimento de culpa é proveniente de uma
mia), transtorno o disfórico pré-menstrual, ambivalência afetiva. Ana sentia amor e ódio
o transtorno depressivo induzido por subs- pela mãe. Experimentava uma profunda rai-
tância/medicamento, o transtorno depres- va por ter sido abandonada quando criança,
sivo devido à outra condição médica, outro mas era ela mesma quem se sentia culpada
transtorno depressivo especificado e o trans- por ter ido embora deixando a mãe desam-
torno depressivo não especificado. parada, sem a presença da família.
O diagnóstico formal de depressão se- Nesse aspecto, ausências reais ou imagi-
gundo esse manual passa a ser caracteriza- nárias ativam a depressão, pois, ao experi-
do pela presença de humor triste, vazio ou mentar uma perda significativa seja através
irritável, acompanhado de alterações somá- da morte ou da separação, haveria uma reti-
ticas e cognitivas, que afetam significativa- rada abrupta da afeição o que levaria a pes-
mente a capacidade de funcionamento do soa a se sentir abandonada.
indivíduo. Nesse momento poderia haver uma ten-
tativa de introjetar ou internalizar o objeto
Freud e o conceito de culpa perdido identificando-se com ele e dirigindo
Saindo do entendimento psiquiátrico e vol- sua raiva contra si própria. Em geral, o de-
tando à psicanálise, buscamos resgatar o con- pressivo é oralmente dependente e necessita
ceito de culpa em Freud, o qual está presente de constante gratificação narcísica.
em toda a sua obra, por exemplo, nos traba- Freud ([1917-1915] 2002, p. 280 em Luto
lhos: As neuropsicoses de defesa (1894); Atos e melancolia nos diz:
obsessivos e práticas religiosas (1907); Totem e
tabu (1913), O futuro de uma ilusão (1927) e Se se ouvir pacientemente as muitas e varia-
O mal-estar na civilização (1930), em que faz das autoacusações de um melancólico, não
alusão ao sentimento de culpa, destacando se poderá evitar, no fim, a impressão de que
a relevância de observarmos que esse senti- frequentemente as mais violentas delas difi-
mento nem sempre pode ser justificado pela cilmente se aplicam ao próprio paciente, mas
ação que o precedeu, já que tem suas raízes que, com ligeiras modificações, se ajustam
primitivas instaladas no inconsciente. realmente a outrem, a alguém que o paciente
A psicanálise deve se preocupar com es- ama, amou ou deveria amar.
sas experiências em que a culpa existe, mas
não é explicada apenas em função dos valo- Ainda nesse artigo, Freud destaca que a
res conscientes do paciente. Enfatizamos O melancolia é a forma patológica do luto, en-
ego e o id ([1923] 2002) quando Freud pensa sinando que sua elaboração permite ao su-
o sentimento de culpa emergindo juntamen- jeito renunciar ao objeto perdido para po-
te com o nascedouro do SUPEREU, famoso der reencontrar seu próprio investimento
herdeiro do complexo de Édipo, o que torna narcisista e sua capacidade de desejar nova-
factível a ligação entre o sentimento de culpa mente, enquanto a melancolia induz o su-
e a cultura. jeito a renunciar o seu Eu, conduzindo-o a
Em outros termos, Freud ressalta, aqui, o uma posição de abandono e de diminuição
caráter essencialmente social da culpa na ar- do desejo. Assim sendo, no luto é o mundo
ticulação da vida individual com a social, de que se torna pobre e exaurido; já na melan-

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colia é o próprio ego que se esvazia. Seu Eu Com o passar do tempo, Ana decide per-
se identifica com o objeto perdido a ponto doar o pai e convida-o a conversar. Eles se
de se perder no desespero infinito de um reconciliam, e depois dessa reconciliação ela
nada irremediável. também convence seus irmãos a ir se aproxi-
Desse modo, uma das finalidades da aná- mando dele. A depressão se dissipa, e o sen-
lise consiste em restaurar o Eu do paciente timento de culpa dá lugar à construção de
tentando reviver situações de conflitos em uma nova tradução de sua história, deixando
suas memórias, as quais são evidenciadas uma nova interpretação das emoções e das
através dos sintomas, das demonstrações de escolhas a serem desenhadas.
resistências, das transferências, dos sonhos e Ana foi reinventando sua história, crian-
das associações livres. do novas possibilidades de acreditar em seu
Ana fez de sua análise um grande traba- potencial. Começou a ascender em sua car-
lho de luto. E após alguns avanços, decidiu reira, esculpindo seu lado profissional para
em conjunto com sua tia convidar a mãe ser seu sustentáculo emocional. Seu namoro
para morar com elas. Está fascinada com a havia terminado, sua relação com a mãe me-
experiência de tê-la sob sua tutela. Com sua lhorava a cada dia. Ciente de que ninguém
autoestima mais elevada, conhece um rapaz constrói sua história sem cometer erros, sem
de seu entorno e começa a namorá-lo. se decepcionar, passar por dificuldades, su-
cumbir à dor de suas desditas humanas. Mas
O começo de uma nova trajetória também sabedora de que vida é a escrita da
André Green (1988, p. 149) nos diz com toda superação de suas mazelas, é erguer-se, acre-
propriedade que “[...] a passagem do silên- ditar, nutrir esperança na caminhada de que
cio ao discurso nunca se dá sem riscos”. Ana novos traços serão delineados.
enfrentou o risco de entrar em contato com Johann W. V. Goethe (1749-1832) nos dis-
sua própria enfermidade, com sua essência. se em seus escritos que, quando uma criatu-
Sabe que algo lhe falta, que talvez seja pre- ra humana desperta para um grande sonho
cisamente essa ausência de algo inominável e sobre ele lança toda a força de sua alma, o
que a situa em seus medos. Medo do que ela universo conspira a seu favor.
vê quando se olha no espelho e só encontra
a imagem do vazio, eco da desorganização Considerações finais:
caótica que circula em sua mente, a mais uma nova tradução clínica
nítida composição descomposta de seu ser. De alguma maneira a depressão fez de Ana
É assim que Ana fala de seus fantasmas, de uma pessoa mais forte, fazendo-a chegar ao
seus desejos, de algo que necessita incorpo- fim de suas construções em análise cônscia
rar para poder compreender. de que sua história é composta de verdades
Isso nos remete a outra colocação de e mentiras, mas acima de tudo de palavras, e
Clarice Lispector (1964, p. 5) quando tão ela aprendeu a utilizá-las para expressar tudo
bem expressa: o que nela há.
Bem diferente daquela mulher frágil e de-
Perdi alguma coisa que me era essencial, e primida de outrora, comunica que seu pai
que já não me é mais. Não me é necessária, está gravemente enfermo e decide acompa-
assim como se eu tivesse perdido uma tercei- nhá-lo em sua internação hospitalar. Alguns
ra perna que até então me impossibilitava de dias depois relata o falecimento dele e vive
andar mas que fazia de mim um tripé está- o luto dessa perda sem se desfragmentar. A
vel. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser morte de seu pai não a desintegra: ela já o
uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que havia perdoado, já não tinha motivos para se
nunca tive: apenas as duas pernas. sentir culpada.

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Entre o sentimento de culpa e a depressão: uma nova tradução clínica

“A culpa tampouco é das estrelas”, disse Referências


Ana ao sair da sessão, fazendo menção ao
filme A culpa é das estrelas, do diretor Josh
Boone. BARLOW, D. H.; DURAND, V. M. Psicopatologia: uma
Sim, nem todos que chegam a nossa vida, abordagem integrada. São Paulo: Cengage Learning, 2008.
vêm com a intenção de ficar. Nem todos que
se foram, queriam partir. Em sua análise, DSM-V. Manual diagnóstico e estatístico de transtor-
Ana confeccionou as chaves que lhe permiti- nos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2014.
ram galgar novas paragens, ter uma vida es- FREUD, S. A questão da análise leiga: conversações
tável e produtiva, sendo minimamente feliz. com uma pessoa imparcial (1926). In: ______. Um es-
Nesse ponto, os deixo, evidenciando que tudo autobiográfico, Inibições, sintomas e ansiedade, A
é preciso o sonho, a palavra e o gesto. A pa- questão da análise leiga e outros trabalhos (1925-1926).
lavra lançada ao vento de nada vale sem um Direção-geral da tradução de Jayme Salomão. Rio de
Janeiro: Imago, 2002. (Edição standard brasileira das
tempo fértil, e o gesto perde o vigor se não obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 20).
fecunda o tempo em que o sonho está apto a
se concretizar. FREUD, S. As neuropsicoses de defesa (1894). In:
______. Primeiras publicações psicanalíticas (1893-
1899). Direção-geral da tradução de Jayme Salomão.
Rio de Janeiro: Imago, 2002. (Edição standard brasileira
Abstract das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 3).
It is increasingly common, receive in the of-
fice, people afflicted by a depressive state of FREUD, S. Atos obsessivos e práticas religiosas
mind, immersed in a stupor of grief and pain, (1907). In: ______. “Gradiva” de Jensen e outros traba-
sometimes unspeakable. Wrapped in a mood lhos (1906-1908). Direção-geral da tradução de Jayme
Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 2002. (Edição stan-
apathetic tissue by visible wires your anhe- dard brasileira das obras psicológicas completas de
donia, are increasingly submerged in a man- Sigmund Freud, 9).
tle of emptiness and hopelessness stunning.
They arrive tired, with a pleading look and FREUD, S. Luto e melancolia (1917). In: ______. A
speech impaired between guilt that plagues história do movimento psicanalítico: artigos sobre me-
tapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). Direção-
his thoughts and sadness that invades their geral da tradução de Jayme Salomão. Rio de Janeiro:
wishes. However, when coming to the analysis Imago, 2002. (Edição standard brasileira das obras
seeking to hold on to the last line of his desire, psicológicas completas, 14).
in order to reframe their losses to achieve out
of analgesia of his emotions. In this sense, it FREUD, S. O ego e o id (1923). In: ______. O ego e
o id e outros trabalhos (1923-1925). Direção-geral da
comes in the analysis, it is this desire, draws up tradução de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago,
the unconscious thirsting to illuminate it. So 2002. (Edição standard brasileira das obras psicológi-
it is in this scenario that embarked on clinical cas completas de Sigmund Freud, 19).
fragments of the story of a woman immersed
in a deep sense of guilt and depression, the FREUD, S. O mal-estar na civilização (1930 [1929]).
In: ______. O futuro de uma ilusão, o mal-estar na
daughter of a schizophrenic mother and an civilização e outros trabalhos (1927-1931). Direção-
absent father, but to dip into its analysis cre- geral da tradução de Jayme Salomão. Rio de Janeiro:
ates a new space to live and grow. Imago, 2002. (Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud, 21).
Keywords: Guilt, Depression, Psychoanalysis.
FREUD, S. Totem e tabu (1913). In: ______. Totem
e tabu e outros trabalhos (1913-1914). Direção-geral
da tradução de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago,
2002. (Edição standard brasileira das obras psicológi-
cas completas de Sigmund Freud, 13).

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Entre o sentimento de culpa e a depressão: uma nova tradução clínica

GREEN, A. Narcisismo de vida, narcisismo de morte.


S. Paulo: Escuta, 1988.

LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. Vocabulário da psica-


nálise. São Paulo: M. Fontes, 1992.

LISPECTOR, C. A paixão segundo G. H. Rio de


Janeiro: José Olympio, 1964.

Recebido em: 03/11/2016


Aprovado em: 01/12/2016

Sobre a autora

Psicóloga Clínica.
Psicanalista.
Doutora em Fundamentos y Desarrollos
Psicoanalíticos - Universidad Autónoma
de Madrid-España, título
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Professora Titular de Psicologia do Centro
Universitário de João Pessoa (UNIPÊ).
Coordenadora do Curso de Especialização
em Criminologia
e Psicologia Investigativa Criminal (UNIPÊ).
Coordenadora da Pós-Graduação em Psicanálise
pelo Centro Universitário
de João Pessoa/PB (UNIPÊ).

Endereço para correspondência

E-mail: <m.muribeca@gmail.com>

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