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Respostas:

O Feminicídio de Mércia Nakashima

Em 23 de maio de 2010, Mércia Nakashima foi assassinada. O crime, aconteceu em


uma época em que o termo 'feminicídio' ainda não era amplamente discutido. Mércia,
foi vítima de um crime passional, morta pelo ex-namorado que não aceitava o fim do
relacionamento. O caso despertou debates sobre o machismo e a posse doentia que
muitas vezes alimentam crimes contra mulheres.

A Busca pela Verdade

Quando Mércia Nakashima desapareceu, sua família não poupou esforços para
encontrá-la. Seu irmão, Márcio Nakashima, interrompeu suas atividades profissionais
para se dedicar as buscas, mobilizando amigos, familiares e até mesmo policiais.
Mesmo diante da tragedia e da falta de cooperação de algumas autoridades, a família
não desistiu da busca por respostas. Mércia, de certa forma, ajudou em sua própria
investigação ao instalar um rastreador no carro, que serviu como uma pista crucial para
a polícia. O caso revelou contradições e suspeitas em relação ao ex-namorado de
Mércia.

Inconsistências no Álibi do Suspeito

Durante o interrogatório, o suspeito mostra ter uma personalidade exibida e grosseira,


ele apresentou inconsistências em seu álibi, levantando suspeitas sobre sua participação
no crime. Pontos específicos como a falta de conhecimento sobre o rastreador do
veículo e contradições nos horários levantaram dúvidas sobre seu álibi. Com essas
dúvidas sobre o ex-namorado a investigação agora busca reunir provas concretas para
ligar o suspeito ao crime.

“Amor” e Ódio
Durante o interrogatório do suspeito, foi possível ver um perfil psicológico, ele revelou
ter uma mistura complexa de amor e ódio em relação à vítima. Ele demonstrou ter
sentimentos intensos de amor, mas também ressentimento e raiva devido à rejeição.
Com essa descoberta importante, sobre os sentimentos do suspeito, podemos entender
sua possível motivação no caso.
Mizael inicialmente negou qualquer envolvimento, mas depois alegou que não
conseguiu contato com Mércia e estava com uma prostituta durante o crime, foram
várias incoerências. Com o aprofundamento da investigação, o maior suspeito
continuava sendo o ex-namorado, ele continuava tendo várias contradições no álibi, ele
não sabia explicar o que estava fazendo em certo horário específico em que o carro
ficou parado por horas, a falta de evidências consistentes para apoiar sua versão
levantaram sérias dúvidas sobre sua inocência.

Testemunho Crucial

A persistência da família de Mércia levou à descoberta crucial do carro da advogada,


jogado na represa de Nazaré Paulista. Após um barbeiro relatar a história de um
pescador que testemunhou o incidente, o relato detalhado do pescador sobre um carro
semelhante ao da vítima sendo empurrado para uma represa é uma peça fundamental na
investigação. O pai de Mércia, determinado a encontrar respostas, seguiu as pistas até o
local. Apesar das dificuldades e da imensidão da represa, os bombeiros, comovidos pelo
pedido de ajuda desesperado do pai, realizaram uma busca minuciosa. Após horas de
mergulho, já sem esperanças, um bombeiro encontrou o veículo submerso, confirmando
as suspeitas da família. Essa descoberta foi o ponto crucial na investigação, fornecendo
evidências tangíveis que contribuíram significativamente para a resolução do caso e
para o avanço na busca pela justiça.

Uma Busca Incansável

Após uma análise minuciosa dos peritos, ficou evidente que o corpo de Mércia não
estava dentro do veículo, foi encontrado apenas um colchão no porta-malas. O corpo da
advogada foi descoberto no local no dia seguinte, o corpo da vítima já estava em
processo de saponificação, segundo o delegado encarregado do caso, o corpo de Mércia
parecia um boneco de cera, por causa do processo e sem os glóbulos oculares por causa
dos peixes.

Explicação rápida sobre Saponificação:

A saponificação é um processo que transforma a gordura dos tecidos em adipocera,


uma substância cerosa com um desagradável cheiro de queijo rançoso. Envolve a
conversão dos tecidos adiposos do corpo humano em uma substância cerosa, de cor
esbranquiçada ou acinzentada, com textura semelhante à do sabão. Geralmente, ocorre
a partir da sexta semana após o óbito, período no qual as enzimas das
bactérias começam a hidrolisar as gorduras neutras do corpo.

Detalhes Reveladores

Durante a investigação, detalhes essenciais surgem da perícia forense e da análise dos


registros telefônicos. Os investigadores descobrem que o suspeito esteve próximo ao
local do crime, por causa do rastreador que tinha no carro, o veículo ficou parado por
aproximadamente 3 horas. Além disso, os registros telefônicos revelam uma série de
ligações entre o suspeito e seu cúmplice, incluindo o planejamento do crime. A análise
minuciosa dos registros telefônicos revela informações importantes sobre o
envolvimento do suspeito no crime. Mércia ligou para esse telefone uma única vez e
não foi atendida, mas logo em seguida Mizael ligou de volta do telefone que ele
costumava usar para se falarem. Além disso, o suspeito demonstra nervosismo ao ser
confrontado com a origem de um dos telefones, Mizael usava 5 telefones, mas na
investigação constataram 6, sugerindo possível ocultação de provas. A investigação se
apoia fortemente na análise dos registros telefônicos para reconstruir os eventos
relacionados ao crime.

O Depoimento de Evandro

O depoimento de Evandro forneceu peças cruciais para desvendar o mistério em torno


da morte de Mércia Nakashima. Ele relatou ter estado presente no local do crime, a
represa de Nazaré Paulista, na noite em que Mércia foi morta. Ele relatou que no dia do
crime foi buscar Mizael na represa. Evandro descreveu a presença de Mizael na represa
naquela noite, revelando ligações telefônicas e o uso de um telefone adicional registrado
em outro nome, usado apenas no dia do crime. O depoimento de Evandro, apesar da
postura desafiadora de Mizael durante o interrogatório, foi fundamental para construir o
quebra-cabeça da investigação. Além disso, a testemunha ocular que viu o carro de
Mércia sendo empurrado para dentro d'água forneceu uma peça essencial para entender
os eventos que levaram à morte da advogada. Esses testemunhos, juntamente com
outras evidências, contribuíram significativamente para a resolução do caso.

Perícia e Evidências

A perícia realizada nos veículos e locais relacionados ao caso, assim como as evidências
encontradas, desempenharam papel fundamental na resolução do crime. A análise
minuciosa desses elementos foi crucial para a investigação. A investigação científica
desvendou detalhes cruciais, revelando que Mércia foi alvejada por dois tiros e
posteriormente jogada na represa, onde se afogou.
Detalhes forenses, como a posição dos bancos no carro, são analisados para reconstruir
os eventos que levaram ao crime. Foram feitas buscas pela roupa que Mizael usou no
dia do crime, foram encontrados fragmentos ósseos na roupa, devido ao disparo,
incluindo vestígios de uma alga específica nos sapatos de Mizael Bispo, essa alga era
encontrada na represa de Nazaré Paulista.
As provas encontradas no local do crime, conectaram Mizael diretamente à cena do
crime.
O suspeito foi bem meticuloso ao escolher o local do crime, demonstrando
planejamento e conhecimento prévio da área, já que era um local onde ele e Mércia se
encontravam.

O Desfecho do Caso Mércia Nakashima

Não foi um caso rápido e nem fácil de ser resolvido, foram meses de investigação e
anos para ter um julgamento. Apesar das provas, os desembargadores do Tribunal de
Justiça de São Paulo decidiram que Mizael e Evandro podiam responder em liberdade.
A Vara do Júri de Guarulhos, porém, decretou a prisão preventiva de Mizael e Evandro em
dezembro. Mas os dois não foram encontrados e tornaram se foragidos. Após anos de
busca, tanto Mizael quanto seu cúmplice, Evandro, foram capturados e levados a
julgamento. O desfecho do caso foi marcado pelo primeiro julgamento popular
transmitido ao vivo no Brasil, proporcionando à sociedade a oportunidade de
testemunhar o processo judicial de perto e garantir a justiça para Mércia Nakashima.

O Julgamento de Mizael Bispo

O julgamento de Mizael foi amplamente acompanhado pela mídia e se tornou o


primeiro da história do judiciário brasileiro a ser transmitido ao vivo pela TV1Apesar da
resistência e negação contínuas do réu, o veredito foi decisivo. A condenação, baseada
em evidências sólidas, finalmente trouxe um senso de justiça para Mércia Nakashima e
sua família. Ele foi condenado por homicídio.
A sentença determinou que Mizael cumprisse 20 anos de prisão. Desde então, Mizael
cumpre pena no regime semiaberto na Penitenciária 2 de Tremembé, no interior do
estado de São Paulo.
Apesar de ter sido expulso da Polícia Militar em 2022, Mizael ainda recebe
aposentadoria como cabo da PM, pois o crime ocorreu após sua reforma por invalidez
devido a um acidente que o impossibilitou de continuar trabalhando. Evandro Bezerra
Silva, condenado como cúmplice de Mizael no crime contra Mércia, cumpre pena em
regime aberto.

O Legado de Mércia Nakashima

O caso de Mércia Nakashima destacou as falhas no sistema judicial brasileiro, onde


criminosos muitas vezes são beneficiados e permanecem impunes. Sua morte trágica
inspirou a criação do Instituto Mércia Nakashima, que busca estudar e combater a
violência, especialmente casos de desaparecimento e homicídio não resolvidos. O
instituto também visa preservar a memória de Mércia, compartilhando sua história e
promovendo a conscientização sobre a violência contra as mulheres. Enquanto isso, os
culpados foram condenados, mas as penas relativamente curtas e os benefícios de
progressão penal levantam questões sobre a eficácia do sistema judicial em lidar com
crimes graves. O legado de Mércia Nakashima é um chamado à ação, instando a
sociedade a lutar por justiça e mudanças significativas no sistema legal brasileiro

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