Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Psicodiagnóstico em diversas abordagens
Psicodiagnóstico em diversas abordagens
ABORDAGENS
COL. CLÍNICA DE PSICOLOGIA PARA RECÉM-FORMADOS
ABORDAGEM PSICANALÍTICA
1 - O Psicodiagnóstico e a Teoria do Amadurecimento Pessoal de Winnicott
Miguel Antônio de Mello Silva
2- Psicodiagnóstico e Psicanálise de Winnicott: O Valor da Experiência Com Supervisões em Uma
Clínica Escola.
Gláucia Telles Sales
3- O Jogo dos Rabiscos no Psicodiagnóstico e na Relação da Criança Com o Analista
Josiane Cristine Ramos Ferreira
4- O Lugar dos Pais no Psicodiagnóstico: Do Manejo À Intervenção
Rita Nicioli Cerioni
ABORDAGEM COMPORTAMENTAL
5- Contribuições da Terapia Analítico-Comportamental e da Análise Funcional do Comportamento
Denise Rosolen Sanson
6- Psicodiagnóstico e a Análise Funcional do Comportamento
Gabriel Fachini
ABORDAGEM FENOMENOLÓGICA
7- Psicodrama e o Encontro Fenomenológico de Terapeutas Iniciantes no Processo de
Psicodiagnóstico Interventivo
Erika Sproesser
CONTEXTO SOCIAL
9- Intervenção da Psicologia no Contexto das Políticas Públicas: Psicodiagnóstico e Avaliação
Diagnóstica da Ação Técnica em Equipe Multiprofissional
Rita de Cássia Oliveira Assunção
Dos Autores
Miguel Antônio de Mello Silva (organizador) - Psicólogo com
Doutorado em Ciências Médicas e Mestrado em Saúde Mental pela
Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, é especialista em diversas
áreas da ciência psicológica. Atua como psicoterapeuta, supervisor clínico e
psicanalista da abordagem winnicottiana. Docente no ensino superior, leciona
em vários cursos. Contribuiu com pesquisas dentro da área psicológica e da
formação de psicólogos, com o apoio de órgãos de fomento à pesquisa. Tem
interesse pelos campos-limites da ciência psicológica e por novos paradigmas
da Psicologia, sobre os quais é conferencista e autor de livros. Há mais de
uma década, participa do grupo de estudos A Teoria do Amadurecimento de
Donald W. Winnicott, da Profa. Dra. Elsa Oliveira Dias, fundadora da
Sociedade de Winnicott. Contato: psicmello@gmail.com
Denise Rosolen Sanson - Psicóloga pela Universidade Metodista de
Piracicaba. Especialização em Análise do Comportamento – Terapia por
Contingências de Reforçamento. Possui título de Especialista em Psicologia
Clínica pelo Conselho Federal de Psicologia, área em que atua com
atendimentos a crianças, adolescentes e adultos. Atuou como responsável por
psicodiagnóstico de pessoas portadoras de múltiplas deficiências. Contato:
deniserosolen@yahoo.com.br
Erika Sproesser - Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica
de Campinas. Especialista em Psicodrama e Psicoterapia de Grupo de
Campinas. Mestre e Doutora pelo Departamento de Neurologia da Faculdade
de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas. Atuou como
docente e orientadora de Estágio nas disciplinas de estágio de
Psicodiagnóstico Interventivo, Psicoterapia Familiar e de Casal, Atendimento
Psicoterapêutico individual na abordagem Fenomenológico-Existencial e
Plantão Psicológico. Contato: erikasproesser@terra.com.br
Gabriel Fachini - Psicólogo, formado pela Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar), com Mestrado e Doutorado pela mesma instituição em
Ciências Fisiológicas, com ênfase em Neurociências e Comportamento.
Atuação na Clínica utilizando a abordagem Comportamental e é
professor/orientador de estágio de Ensino Superior na mesma orientação.
Contato: fachinigabriel@gmail.com
Gláucia Telles Sales - Graduação em Psicologia, Licenciatura,
Bacharelado e Formação de Psicólogo pela Fundação Universidade Estadual
de Londrina – FUEL. Mestra em Saúde Mental pela FCM – Faculdades de
Ciências Médicas da Unicamp. Tema: Fatores que Influenciam as Indicações
de Tratamento Psiquiátrico nas Unidades Básicas de Saúde. Especialista em
Psicodrama e Psicoterapia de Grupo pelo IPPGC – Instituto de Psicodrama e
Psicoterapia de Grupo de Campinas e ex- docente nesse Instituto no Curso de
Formação e Especialização. Membro Fundador do Grupo de Estudos A
Teoria do Amadurecimento de Donald W. Winnicott sob orientação da Profa.
Dra. Elza de Oliveira Dias (fundadora do Centro Winnicott de São Paulo e da
Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana). Membro da Sociedade de
Psicanálise Winnicottiana. Psicoterapeuta em Clínica Particular com ênfase
na Psicanálise de Donald W. Winnicott. Professora de Pós Graduação em
Gestão de Pessoas, Graduação em Psicologia, Supervisora de Clínica,
Psicodiagnóstico e Ênfase em Saúde na Anhanguera Educacional. Trabalhou
na IMF – Fundação Internacional de Mieloma – seção Brasil/ América
Latina. Autora dos artigos publicados na pagina Espaço de Vida, no site da
IMF <www.myeloma.org.br> Contato: glauciatelles@gmail.com
Josiane Cristine Ramos Ferreira - Psicóloga (UNIMEP) e
Psicanalista na abordagem Winnicottiana. Membro da Sociedade Brasileira
de Psicanálise Winnicottiana, onde faz a segunda formação como
psicanalista. Formada psicanalista pela Sociedade de Psicanálise de
Campinas (SPCAMP), grupoterapeuta pela Sociedade de Psicoterapia
Analítica de Grupo (SPAG), terapeuta de casal pelo Centro de Formação e
Assistência à Saúde (CEFAS). Especialista em Psicoterapia de Grupo
(UNICAMP) e em Psicologia Clínica pelo Conselho Federal de Psicologia
(CFP). Realiza atendimento individual, em grupo, orientação a pais, análise
de casais e de famílias. Contato: ramosjosianec@gmail.com
Priscila Camile Barioni Salgado - Psicóloga, professora,
supervisora de estágio clínico e de grupos de estudos com ênfase na
Abordagem Centrada na Pessoa. Coordenadora do curso de graduação em
Psicologia da Faculdade Anhanguera de Campinas. Pesquisadora
colaboradora do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências
Médicas da UNICAMP. Possui pós-doutorado em Ciências Biomédicas. É
estudiosa da área de interface da Neurociências, Psicologia Humanista e
Psicologia Positiva. Contato: priscila.salgado@anhanguera.com
Rita Aparecida Nicioli Cerioni - Doutoranda em Psicologia Clínica
pela USP, Psicóloga Clínica e Psicanalista, Supervisora em Intervenções
Clínicas na Universidade Paulista. Contato: ritacerioni@usp.br
Rita de Cássia Oliveira Assunção - Formação na Faculdade de
Psicologia da Universidade São Francisco de Itatiba. Atuação em clínica e
políticas públicas, especificamente na Assistência Social. Atuou como
coordenadora técnica em instituição voltada para violência doméstica,
famílias, dependência química, áreas em que possui formação. Presta
supervisão institucional e de equipes técnicas. Especialista em Psicoterapias
Institucionais (PUC-Campinas), Psiquiatria e Psicologia Forense
(UNICAMP). Contato: ritac.assuncao@gmail.com
ABORDAGEM PSICANALÍTICA
CAPÍTULO 1
O Psicodiagnóstico e a Teoria do
Amadurecimento Pessoal de Winnicott
Miguel Antônio de Mello Silva
Introdução
Sobre o psicodiagnóstico
etapa de dependência absoluta do ser, uma forma de existência do tipo dois em um. O estágio
começa na experiência do nascimento, nos estados iniciais tranquilo e excitado e, aos poucos,
a elaboração imaginativa das funções corporais vai realizando o alojamento da psique no corpo
mesmo primário (início da integração), pois ainda está envolto em grande dose de ilusão.
preocupar. Aqui já está presente uma unidade dotada de sentido pessoal e um sentido de
externalidade. Nessa fase, a função da agressão (com sentido diferente da concepção kleiniana,
merecedora de um capítulo à parte) fundamenta o uso do objeto, mas inicia-se por uma atitude
criança conceber o conflito e realizar operações de defesa, como a defesa repressiva. Visto que
pela criança. Falhas nessa etapa repercutirão na forma dos quadros de tendência antissocial
que, se não curada, evolui para os quadros de delinquência ou, se o desenvolvimento tiver se
detido mais adiante, dentro dessa etapa, tem-se então os problemas da dimensão depressiva
que pode ter um colorido mais regredido (psicótico), ou mais reativo (normal).
temas edipianos da infância através de demandas sociais a uma pessoa, ainda imatura, que
busca se isolar dos pais para adquirir um sentido real pessoal, tentando mapear a própria
potência efetiva, portando-se, por vezes, com uma moralidade ferrenha que não aceita falsas
soluções.
anos.
2. Se a 1a infância foi imperfeita, entre 2-5 anos se cria a base da ansiedade neurótica.
um tratamento ou crise.
visível.
A partir do que acabei de expor, Winnicott “esvazia” o tema da
neurose, apontando uma forma de organização psíquica muito mais básica e
importante: a psicose. Mas Winnicott (1990b), ao falar da pessoa total, a
neurótica verdadeira, a entrega para a Psicanálise tradicional e, praticamente,
se retira de cena. Em outras palavras, ele dá pouca importância à neurose (se
é que dá alguma), pois adotou como questão realmente importante a psicose e
o processo de amadurecimento que alguém percorre para poder chegar a ser
uma pessoa total, experienciar o estado unitário do ser.
Quase todos os aspectos do relacionamento entre pessoas totais foram
abordados pelo próprio Freud, e de fato é muito difícil atualmente dar a isto
qualquer contribuição, a não ser que se consiga fazer uma exposição
original daquilo que já é aceito. (WINNICOTT, 1990b, pág. 54)
Considerações finais
REFERÊNCIAS
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos
mentais. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
FOUCAULT, M. A casa dos loucos. In: ___________. Microfísica do
poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979. pág. 121.
GUNTRIP, H.(1975). Minha experiência de análise com Fairbairn e
Winnicott: quão completo é o resultado atingido por uma terapia
psicanalítica? Traduzido por Miguel Antônio de Mello Silva. Natureza
Humana. v.8, n.2, 2006. 383-411.
MÁRQUEZ, G. G. Só vim telefonar. In: ___________. Doze contos
peregrinos. Rio de Janeiro: Record, 1992.
MILROD, D. Meeting of the New York Psychoanalytic Society. Natureza
Humana. v.7, n.1. 2005. 237-242
NAFFAH NETO, A. O estigma da loucura e a perda da autonomia. Revista
Bioética. v.6 n.1. p. 81-87,1998.
PRADO, M. (dir.) Estamira. Filme longa metragem. Produzido por José
Padilha. 2005. Disponível em: https://youtu.be/KFyYE9Cssuo Acesso em: 25
de Agosto 201
WINNICOTT, D. W. O uso de um objeto. In: MILROD, D. Ata da Reunião
da Sociedade Psicanalítica de Nova Iorque de 12 de Novembro de 1968a.
Traduzido por Miguel Antônio de Mello Silva. Natureza Humana. v.7, n.1.
2005. 243-253
_____________. O uso da palavra uso [1968b]. In: ___________.
Explorações Psicanalíticas. Porto Alegre: Artmed. 199
_____________. O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre
a teoria do amadurecimento emocional. Porto Alegre: Artes Médicas,
1983.
_____________. O gesto espontâneo. São Paulo: Martins Fontes, 1990a.
pág. 122.
_____________. Natureza Humana. Rio de Janeiro: Imago, 1990b.
_____________. Dependence in infant-care, in child-care, and in the psycho-
analytic setting. In:___________. The Maturational Processes and the
Facilitating Environment. London: Karnac Books. 2005. Capítulo 23 p.
249-259.
CAPÍTULO 2
Psicodiagnóstico e Psicanálise de Winnicott: O
Valor da Experiência Com Supervisões em Uma
Clínica Escola.
Gláucia Telles Sales
Uma coisa é necessária aqui
Neste nosso mundo difícil
De sem-abrigos e desterrados.
Fixares residência em ti.
Hans Borli (1974)
Psicodiagnóstico
Conforme já informei anteriormente neste capítulo, o objetivo
primeiro do Estágio em Psicodiagnóstico era o próprio psicodiagnóstico,
tanto em relação aos seus constructos, quanto às suas variações práticas. Era
preciso estudar com os alunos esse trabalho clínico que tem por função
auxiliar o psicólogo a obter informações sobre a história de vida do paciente,
seu dinamismo psíquico, suas funções cognitivas, potencial criativo e outras
funções mentais, bem como traços de personalidade que orientam o terapeuta
na formulação de hipóteses diagnósticas. É a avaliação psicológica mais
utilizada para identificar, compreender e descrever um determinado distúrbio
(MARQUES, 1989).
Trata-se de uma prática clínica bem delimitada que pretende chegar a
uma descrição e compreensão, a mais completa possível, da personalidade
total do paciente, ou do grupo familiar, da patologia e das medidas
terapêuticas enquanto abrange os aspectos passados, presentes (diagnóstico) e
futuros (prognóstico) da personalidade do paciente (LOPES, 2002;
OCAMPO e ARZENO, 2003).
O processo começa pela solicitação de consulta feita pelo paciente e
prossegue através de etapas que se iniciam com a anamnese permeada por
entrevistas, observações clínicas, aplicação de testes psicológicos, podendo se
intercalar, também, o brincar lúdico (ludodiagnóstico) com crianças
(ARZENO, 1995).
Existem vários tipos de atuação e procedimentos clínicos como o
modelo mais tradicional que reserva a devolutiva geral resultante do processo
avaliativo para o final dos atendimentos e o que efetua intervenções durante
todo o processo. Esta proposta emprega técnicas projetivas como meios de
comunicação entre o psicólogo e o paciente e pode ser realizada de acordo
com o modelo Psicométrico, o Fenomenológico-Existencial e o Psicanalítico
(BARBIERI, 2009).
Mas os alunos queriam saber de Winnicott, aquele que tinha a sua
teoria como única companhia ao explorar um novo caso:
A única companhia que tenho ao explorar o território desconhecido de um
novo caso é a teoria que levo comigo e que se tem tornado parte de mim e
em relação à qual sequer tenho que pensar de maneira deliberada. Esta é a
teoria do desenvolvimento emocional do indivíduo, que inclui, para mim, a
história total do relacionamento individual da criança até seu meio ambiente
específico (WINNICOTT, 1984, p.14).
O Valor da Experiência
REFERÊNCIAS
AGUIRRE , A. M. B. A Primeira Experiência Clínica do Aluno: Ansiedades
e Fantasias Presentes no Atendimento e Na Supervisão. Psicologia: Teoria e
Prática, 2(1):3-31, 2000. Disponível em:
http://www.academia.edu/12792185/Psicologia_A_PRIMEIRA_EXPERI%C3%8ANCIA_
Acesso em: 10 de Agosto de 2016.
ANZOLIN, C. & SILVEIRA. Falando de psicologia: entrevista com
Guilherme Valle. Psicologia Argumento, 21 (33), abril-junho, 11-15. 2003.
ARZENO, M. E. G. Psicodiagnóstico clínico: novas contribuições. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1995.
BARBIERI, V. O psicodiagnóstico interventivo psicanalítico na pesquisa
acadêmica: fundamentos teóricos, científicos e éticos. Boletim de Psicologia,
59 (131), 209-222. 2009.
DIAS, E. O. A teoria do amadurecimento de D. W. Winnicott. Rio de
Janeiro: Imago Editora. 2003.
HALEY, J. Aprendendo e ensinando terapia. Porto Alegre: Editora
ArtMed, 1998.
LAURENTIIS, V.R.F. Corpo e psicossomática em Winnicott. São Paulo:
DWW Editorial, 2016.
LOPEZ M. A. Psicodiagnóstico: processo de intervenção. 3ed. São Paulo:
Cortez, 2002.
MARQUES, Y. M. Utilização dos elementos do psicodiagnóstico na
psicoterapia infantil em instituição de atendimento psicológico. 1989.
Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica). Psicologia Clínica, PUC, São
Paulo, 1989.
OCAMPO, M. L.; ARZENO, M. E. G. et al. Las técnicas proyectivas y el
processo psicodiagnóstico. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión
Argentina, 2003.
REIS, R. (org). O pensamento de Winnicott: a clínica e a técnica. São
Paulo: DWW Editorial, 2011.
SALES, G.T (org). Clínica de Psicologia para Recém–Formados: A
Experiência Inicial Sob os Cuidados de Abordagens Maduras. 2015.
Disponível em: https://www.amazon.com.br/CL%C3%8DNICA-
PSICOLOGIA-PARA-REC%C3%89M-FORMADOS-experi%C3%AAncia-
ebook/dp/B017LB1E6Y. Acesso em: 16 de Setembro de 2016.
WINNICOTT, D.W. O ambiente e os processos de maturação: estudos
sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1983.
WINNICOTT, D.D. Consultas terapêuticas em psiquiatria infantil. Rio de
Janeiro: Imago Ed., 1984.
WINNICOTT, D.W. Natureza humana. Rio de Janeiro: Imago, 1990.
WINNICOTT, D.W.; WINNICOTT, C.; RAY, S.; MADELEINE, D.
Explorações psicanalíticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
WINNICOTT, D.W. Tudo começa em casa. 3ª ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1999.
WINNICOTT, D.W. Da pediatria à psicanálise: obras escolhidas. Rio de
Janeiro: Imago, 2000.
WINNICOTT, Donald W. (1986 - 1971). Holding e interpretação.
São Paulo: Martins Fontes, 2001.
CAPÍTULO 3
O Jogo dos Rabiscos no Psicodiagnóstico e na
Relação da Criança Com o Analista
Josiane Cristine Ramos Ferreira
Introdução
O convite para contribuir com este capítulo foi muito importante para
mim por ter acontecido justamente quando eu estava aposentando a minha
última caixa lúdica usada para atendimento infantil. Eu não estava
abandonando o atendimento de crianças, mas passando por mudanças de
manejo que refletiam mudanças da teoria. Eis que me chega este desafio de
estabelecer uma conversa imaginária com você, leitor, sobre o jogo do
rabisco no processo psicodiagnóstico infantil, tema estritamente
winnicottiano, que pretendo abordar a partir da minha experiência clínica.
Terminei a minha graduação em Psicologia em 1996. Desde então,
atendo adultos, adolescentes e crianças. No que tange especialmente às
crianças, eu me lembro de uma supervisora de formação kleiniana que me
dizia: “nunca deixe de atender crianças, porque elas nos colocam em contato
direto e bem vivo com o mundo interno.” Isso é uma verdade mesmo.
Iniciei os atendimentos infantis totalmente baseada na teoria de
Melanie Klein. No decorrer do meu trabalho, ao atender uma criança de três
anos e meio de idade, me deparei com Winnicott. A partir disso, me dediquei
a estudar a sua teoria para compreendê-la. Atualmente, todos os meus
atendimentos seguem essa abordagem teórica.
Minha análise pessoal faz parte desse processo de mudança, pois o
meu analista é winnicottiano; e, é muito natural que, mesmo sem desejar ou
perceber, passemos a atender nos moldes de nossa análise pessoal.
Quando iniciei a minha análise, estava dando andamento à formação
na Sociedade de Psicanálise de Campinas (antigo CPCAMP), vinculado à
Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Com todas as mudanças
pessoais que vivenciei e que repercutiram nos atendimentos que eu fazia, me
aproximei da Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana (SBPW), em
São Paulo, onde hoje faço formação.
Percebo que Winnicott é um autor que mexe no mais profundo e
primitivo de nossas vidas. Ele apresentou uma teoria muito útil para nós
atingirmos um processo de integração, reparando os nossos traumas e
percorrendo uma linha pessoal de amadurecimento. Ele apresenta algo muito
diferente da Psicanálise clássica e da Psicologia de base analítica: um novo
olhar sobre a importante relação do analista com o paciente.
Winnicott, por exemplo, não faz referências à tão famosa
neutralidade, bastante prestigiada na Psicanálise clássica. Ele não afirma que
o analista deve se empenhar em se manter neutro para permitir ser o alvo das
projeções do paciente; pelo contrário, diz que o analista precisa se apresentar
como pessoa, sendo isso parte da técnica. Apresenta-se como pessoa não quer
dizer que o analista vai contar tudo de sua vida ao paciente. O sentido é o de
ser um analista verdadeiro, espontâneo e real com seu paciente.
Outro aspecto da teoria de Winnicott digno de nota é que ela é
totalmente construída sobre o amadurecimento pessoal, algo inato ao ser
humano, sendo a saúde o foco. Quando o amadurecimento não ocorre como
deveria, indica que deve ter havido falhas ou traumas que interromperam,
distorceram e dificultaram o desenvolvimento daquela pessoa.
Um outro ponto da técnica winnicottiana, eu diria que é um grande
marco, é aquilo que diz respeito ao manejo: a forma pela qual o analista lida
com o paciente. Isso fundamenta o enfoque de não ser a cura pela palavra,
mas a cura pelo cuidado.
A partir dessa descrição sobre a teoria inicial que eu seguia e aonde
cheguei teoricamente depois, posso afirmar que ocorreu a inserção de um
novo paradigma nos meus atendimentos, sendo isso sentido também no
psicodiagnóstico infantil.
Por mais de dez anos, procedi ao psicodiagnóstico infantil da seguinte
forma: primeiro atendia os pais e fazia a anamnese, em uma ou duas sessões;
depois, atendia a criança por cinco ou seis sessões, sendo que na primeira lhe
explicava o motivo de ela estar ali, que seria para ajudá-la a entender o que
estava acontecendo, sendo isso a justificativa para fazer algumas atividades
comigo.
Geralmente começava pelo teste do desenho-estória (do qual ainda
gosto), pedia para a criança fazer um desenho livre com lápis preto de
escrever em uma folha horizontal, que fizesse o melhor que pudesse, mas
sem preocupação com desempenho. Terminado o desenho, ela me contava
uma história e dava um título a ele. Então, eu lhe entregava uma segunda
folha e procedia da mesma forma. No total, eram 5 folhas, tomando por volta
de duas sessões. Na terceira sessão fazia o teste House Tree Person (HTP) e o
Teste da Família. Na quarta, fazia a Hora do Jogo.
Na Hora do Jogo ou Hora Lúdica, eu utilizava uma caixa lúdica, que
ficava aberta no chão, e brinquedos postos sobre a mesa. Eu dizia que a
criança poderia brincar como bem entendesse sem, contudo, destruir a sala ou
me bater – evitando algo que colocasse a nossa segurança em risco –
enquanto eu permaneceria observando-a. Essas instruções são bem clássicas
no trabalho com crianças feito dentro dos moldes da técnica que estou
descrevendo.
A caixa aberta tem o sentido de não torná-la um elemento
persecutório à criança sendo que, caso estivesse fechada, poderia gerar
expectativas e até temores à criança quanto ao que poderia estar ou sair de
dentro da caixa. Quando necessário, me valia de outros testes como, por
exemplo o WISC. Nesse caso, demandaria mais encontros com a criança.
Na última sessão, eu fazia a devolutiva com a criança e, finalizando o
psicodiagnóstico, a devolutiva com os pais quando, então, lhes apresentava
algumas hipóteses sobre a dificuldade da criança.
Com relação ao lugar dos pais no atendimento infantil, vivenciei algo
muito marcante durante uma supervisão de caso, durante a minha primeira
formação em Psicanálise, na qual questionei um professor que dissera que
não precisaríamos atender os pais nenhuma vez. Como assim? perguntei. Eu
me lembro dele tentando me convencer que aquilo que realmente importava
era a criança diante de mim e nada mais: nem a sua história, nem seus pais e
nem o que eles diziam sobre a criança. Em vão, rebatia: “mas eu preciso dos
pais, tanto para fazer a anamnese e conhecer a história da criança, como
depois para fazer a devolutiva, talvez algumas intervenções com os pais,
aliás, é assim que funciona o psicodiagnóstico.”
Esse assunto de “quando atender aos pais” era uma discussão
recorrente em vários grupos que participei junto do debate sobre como
envolver os pais ou sobre encaminhá-los a outro colega. São várias as
opiniões, umas bem diferentes das outras.
A experiência que tive naquela supervisão só hoje consigo entender
(não naquela época, porque certas coisas só entendemos com o tempo) que
era coerente com a teoria sobre o aparelho psíquico da criança, que era o que
interessava àquela abordagem de meu professor. Isto é, ele buscava entender
como era o funcionamento desse aparelho, os seus mecanismos, a
organização dele, aspectos inconscientes necessitando se tornar conscientes e
condicionados à melhora daquela criança, as projeções, os fenômenos
transferenciais, contratransferenciais e como intervir com interpretações
sobre o conteúdo manifesto. Observem que, segundo a linha teórica desse
professor, o ambiente não era real e que, portanto, não haveria mesmo a
necessidade de envolver os pais visto que ele considerava tudo uma
manifestação do aparelho psíquico da criança.
Winnicott, na verdade, quando fala de inconsciente, não é no sentido
de algo a ser necessariamente interpretado. Aliás, ele postula dois tipos de
inconscientes: um “reprimido”, igual ao que Freud postula, e outro
originário, que contém todas as experiências – desde as mais primitivas –
revisitadas dentro da relação com o analista.
Uma coisa que aprendi é que sempre que ouvimos algo, é preciso
saber de qual lugar a pessoa nos fala, quais os pressupostos teóricos
envolvidos na afirmação. Há situações impossíveis de ser debatidas porque
estamos falando a partir de paradigmas muito distintos. Nesses casos, resta-
nos entender e respeitar o caminho de cada um na abordagem teórica que
cada um acredita. Isso aconteceu muito com Winnicott quando trouxe um
novo “paradigma”, de não considerar o aparelho psíquico e considerar de
extrema importância o ambiente e a relação entre o analista e o paciente.
No entanto, atualmente, continuo envolvendo os pais, nem sempre no
primeiro contato: às vezes vejo a criança primeiro, às vezes os pais,
dependendo da situação. Por exemplo, pais muito ansiosos são atendidos
primeiro.
Percebam que parcialmente realizo as sessões conforme a sugestão
desse meu professor, contudo, a motivação é diferente: ela se apoia no
relacional, no ambiente e não na teoria do aparelho psíquico. A diferença
também se evidencia quando, em determinado momento, envolvo aos pais
que, para mim, podem fazer parte do tratamento, assim como nos diz
Winnicott.
Para avaliar um paciente, Winnicott não utilizava o termo
psicodiagnóstico, como habitualmente a Psicologia usa, e nem estudo de
caso, termo coloquialmente usado entre os psicanalistas para se realizar
avaliações.
Em toda sua obra, o que encontro é o termo Entrevista, Avaliação
Psicológica, Consulta Terapêutica, Avaliação de Caso, Entrevista
Reduplicada, Atendimento de Caso e Diagnóstico. Aparece bastante o termo
Entrevista para se referir ao diagnóstico, termo que escolhi para usar neste
capítulo toda vez que me referir ao “psicodiagnóstico” para facilitar a leitura.
Winnicott, num primeiro encontro, não fazia somente observações ou
diagnósticos, muitas vezes realizava intervenções efetivas, tocava em pontos
específicos e necessários que promoviam mudanças reais nos pacientes, por
vezes em apenas uma sessão, que são as chamadas Consultas Terapêuticas.
Por vezes ele utilizava uma técnica criada por ele mesmo: o Jogo dos
Rabiscos.
Winnicott fala muito de integração, desintegração e não-integração
do eu (self). Nos atendimentos, ele não utilizava a caixa lúdica. Essa postura
pressupõe que pode não haver um eu integrado, não restando sentido de
haver uma caixa lúdica representando o conteúdo desse eu. Em meus
atendimentos, agora, há brinquedos na sala, mas eles não ficam mais dentro
da caixa lúdica, ficam soltos e ao alcance da criança.
Penso que se Winnicott tivesse que opinar sobre a caixa aberta, vazia,
como dito anteriormente, ele opinaria sobre o vazio da caixa como um
disparador de agonias impensáveis.
Uma outra questão é que não se faz necessário fazer referência, via de
regra, ao paciente não machucar o analista ou não se machucar a si próprio
como uma condição de ele estar ali com o analista na sessão. A postura do
analista é de conter o paciente e intervir, se for o caso, não só com palavras,
com atitudes também. A função do analista é estar disponível para o paciente
vir a ‘existir’ como pessoa.
Para a entrevista, não há um tempo pré-estipulado, e quando se chega
a algumas hipóteses sobre a criança e sobre seu ambiente (família, escola
etc.), há uma conversa com os pais ou cuidadores e com quem for necessário
e também quantas vezes forem necessárias (e possíveis).
Os pais são boa parte do ambiente da criança e, muitas vezes, a
criança está adoentada em decorrência da doença dos pais. Isso justifica se
fazer um trabalho com os pais. No mesmo sentido, é com os outros ambientes
da criança como a escola, por exemplo, que, às vezes, precisa ser envolvida
no tratamento.
A entrevista para Winnicott, como todas as sessões, é totalmente
relacional, experiência mútua e única entre analista e paciente. Essa vivência
com a criança tem o intuito de perceber em quais momentos do
amadurecimento dela ocorreram falhas ambientais traumáticas que
obstaculizaram o seu desenvolvimento pessoal.
Perceber os tipos de medos, angústias, agonias impensáveis a que a
criança está submetida, se o self está integrado ou não e as características do
ambiente da criança são parte da preocupação na prática Winnicottiana.
Toda sua teoria é baseada na relação. Sem desconsiderar a
hereditariedade e a genética, Winnicott considera o ser humano totalmente
como sendo fruto da relação dele com o ambiente. Ou seja, uma pessoa pode
ter uma predisposição genética ou uma influência hereditária para algo, mas é
o ambiente que lhe dará o contorno e o seu real destino do amadurecimento.
Levo bastante em conta o fato de que, enquanto analistas, temos que
ser fiéis a uma teoria: já vi profissionais de outras abordagens fazendo uso da
teoria de Winnicott apenas quando lhes é conveniente ou quando não sabem
mais onde encontrar apoio teórico para as complexidades da clínica
psicológica moderna e afirmam, equivocadamente, que “partem para o
acolhimento, holding, handling...”, quando diante de pacientes mais
regredidos.
Se estamos em uma teoria, ela tem que ser a nossa base. Isso é ainda
mais verdade na teoria winnicottiana, cujo setting é composto pelo manejo,
algo totalmente diferente da Psicanálise clássica. Só o fato de não estar
focada no desvelamento do inconsciente, por exemplo, mas no aspecto
relacional, já faz toda uma diferença.
Ao fazer essas afirmações, não desmereço a base psicológica do
psicodiagnóstico. Simplesmente, tento mostrar a necessidade de estarmos
bem localizados quanto a uma teoria, que se realiza com uma técnica e que
tem meandros no manejo de situações práticas, como as que vêm a seguir.
Mudar de teoria foi algo parecido com o término da minha Faculdade
de Psicologia, claro que, com uma outra qualidade de sentimentos. Lá atrás,
quando iniciei a prática dos atendimentos, havia muitas coisas a considerar:
fazer corretamente, anotar tudo, buscar ajuda total de supervisores, ter certeza
de estar no caminho certo. Isso faz parte do desenvolvimento de bons
psicoterapeutas: praticar a clínica, estudar, fazer análise, buscar clareza
teórica na prática do trabalho, participar de grupos de estudos etc.
Ser eclética não me é confortável. Podemos e devemos conhecer
vários autores, mas temos que ter domínio do que estamos fazendo, qual
autor estamos considerando e qual tipo de intervenção ou manejo estamos
realizando.
Nessa introdução tão pessoal, gostaria de lembrar que, muitas vezes a
criança ou o adulto que atendemos precisa também de alguma avaliação e/ou
tratamento com outro profissional, e não está descartado encaminhar para o
neuropsicólogo, o médico psiquiatra, o fonoaudiólogo, o psicopedagogo,
dentre tantos que podem complementar o nosso trabalho. O diagnóstico que
recebemos de outros profissionais pode nos ajudar a entender a criança que
estamos atendendo.
Antes de passar adiante, não tenho a intenção de, neste capítulo, me
deter em teorias que abordam o psicodiagnóstico de uma maneira geral,
tampouco como seria feito psicodiagnóstico à luz da teoria de Melanie Klein,
Anna Freud, Arminda Aberastury, para citar alguns exemplos. Embora elas
tenham lugar como pioneiras no trabalho com crianças, pretendo me deter na
teoria de Winnicott, que compreende o manejo, a atitude relacional do
analista com o paciente, a relação do analista com o ambiente da criança, o
uso da técnica do Jogo dos Rabiscos e a relação que ela suscita entre a
criança e o analista. Assim, pretendo primeiro discorrer sobre Winnicott e,
por fim, sobre o Jogo dos Rabiscos.
Ele atesta que não existe nada original no Jogo dos Rabiscos e que
seria incorreto alguém sentir-se preparado para fazer uma consulta
terapêutica simplesmente porque aprendeu a usá-lo. Por isso o jogo simples
tem, em realidade, uma natureza bem complexa porque requer um
entendimento razoável da teoria winnicottiana para a aplicação e trabalho.
Em essência, o jogo se resume em o terapeuta fazer um risco a esmo
no papel, pedindo para o paciente transformá-lo em alguma coisa. Em
seguida, o paciente faz um risco qualquer, como a olhos fechados, para o
analista transformá-lo em alguma coisa. A quantidade de desenhos dependerá
da dupla.
O Jogo é uma experiência mútua. É quase como se a criança, através
dos desenhos, estivesse lado a lado com o analista, e isso a faz se sentir muito
bem quando é compreendida e ajudada.
No Jogo é preciso estar bem atento à dinâmica dos desenhos
que surgem na hora e quais revelações únicas eles possuem.
Um outro ponto importante dos desenhos, como ocorre
também na entrevista e no tratamento propriamente dito, é que a interpretação
do inconsciente não é o mais importante. Mesmo quando Winnicott fazia
interpretações, ele ainda fazia valer da relação dele com o paciente. Ele conta,
por exemplo, que quando fazia uma interpretação errada, a criança era capaz
de corrigi-lo. “Uma interpretação que não funciona significa, sempre, que a
fiz no momento errado ou da maneira errada, e a revogo incondicionalmente”
(1971a/1984, p.18,19). Ele esperava que as crianças sentissem que tinham o
direito de rejeitar o que ele dizia ou a maneira como recebiam alguma coisa
nesse relacionamento.
Afirmava ser um fato as entrevistas estarem sob o domínio da criança
e não dele; e ele tomava o cuidado de nunca fazer interpretações para seu
próprio benefício. “Interpretações dogmáticas deixam à criança apenas duas
alternativas: a aceitação do que eu disse como uma doutrina ou a rejeição da
interpretação, de mim e de toda a situação” (Ibidem p.18).
Com relação aos desenhos ainda, quando, por exemplo, uma criança
desenha uma cobra, Winnicott não relaciona o desenho como um símbolo
fálico, como é habitualmente interpretado até a senso comum. Winnicott não
desconsidera tal possibilidade, mas traz algumas outras contribuições,
(WINNICOTT, 1971a/1984 p. 18):
Se pegar o material primitivo e as raízes do que um pênis pode significar
para uma criança, ver-se-á que o desenho feito pela criança de uma cobra
pode ser a configuração do eu (self) que ainda não usa braços, dedos,
pernas e artelhos. Pode-se ver quantas vezes pacientes não conseguem
exprimir um senso do eu (self) porque o terapeuta interpreta uma cobra
como um símbolo fálico. Longe de ser um objeto parcial, uma cobra num
sonho ou fobia pode ser um primeiro objeto integral. (....)
REFERÊNCIAS
ALVES, R. Escutatória. In_______. O amor que ascende a lua. Campinas:
Papirus, 2004. p. 65-72.
AMPESSAN, A. A singularidade da Psicanálise infantil. In: MACEDO M.
M. K. e CARRASCO L. K. (Com)textos de entrevista: Olhares diversos
sobre a interação humana. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005. p. 73-84.
ANCONA-LOPEZ, S. Psicodiagnóstico: Processo de intervenção? In: _____.
(0rg). Psicodiagnóstico: Processo de intervenção. São Paulo: Cortez, 1995.
p. 26-36.
BARBIERI, V. A família e o psicodiagnóstico como recursos terapêuticos
no tratamento dos transtornos de conduta infantis. 272 f. 2002. Tese
(Doutorado em Psicologia). Instituto de Psicologia da Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2002.
_________. Psicodiagnóstico tradicional e interventivo: confronto de
paradigmas? Psicologia: Teoria e Pesquisa. Jul-Set 2010, Vol. 26 n. 3, pp.
505-513.
CARRASCO, L. K. e PÖTTER, J. R. Psicodiagnóstico: Recurso de
compreensão: In. MACEDO M. M. K. e CARRASCO L. K. (Com)textos de
entrevista: Olhares diversos sobre a interação humana. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2005. p. 181-191.
ETCHEGOYEN, R. H. Fundamentos da técnica psicanalítica. 2. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2004.
FRANÇA, E. A. e RADINO, G. Da orientação à escuta de pais no
atendimento infantil. Revista de Psicologia. São Paulo: UNESP, 1(1), 69-73
2002.
FREUD, S. Sobre o narcisismo: uma introdução (1914). In: Edição
standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.
v. XIV Rio de Janeiro: Imago, 1974. p. 85-119.
_______. Observações sobre o amor transferencial (1915). In: Edição
Standard Brasileira das Obras Completas. Vol. XII. Rio de Janeiro:
Imago. 1987.
HEIMMAN P. Sobre a contratransferência (1950). Rev. Psicanalítica SPPA.
2(1). p. 171-6, 1995.
MANNONI, M. A primeira entrevista em psicanálise. Rio de Janeiro: Ed.
Santuário, 1981.
OCAMPO, M. L. S; ARZENO, M. E. G & PICCOLO, E. G. O processo
psicodiagnóstico e as técnicas projetivas. São Paulo: Martins Fontes, 1981.
PRISZKULNIK L. A criança e a psicanálise: o lugar dos pais no atendimento
infantil. Psicologia. São Paulo: USP, v. 6, n. 2, p.95-102, 1995.
RECKER, H. Os significados e usos da contratransferência (1953). In:
_______, Estudos sobre técnica psicanalítica. Porto Alegre: Artes Médicas,
1982. p. 120-57.
ROSENBERG, A. M. S. A constituição do sujeito e o lugar dos pais na
análise com crianças. In: ________. O lugar dos pais na psicanálise de
crianças. São Paulo: Escuta, 1994. p. 21-60.
SAFRA, G. Momentos mutativos em psicanálise: uma visão
winnicottiana. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995.
SALVITTI, A. Psicose e ética do pensador na clínica de Bion: panorama dos
artigos dos anos 50. Impulso. Piracicaba, v. 21, n. 52, 2011. p. 57-64.
SOUZA J. G. E. & CAMPOS, E. B. V. (2014) A contratransferência e a
importância das capacidades do analista na prática psicanalítica
contemporânea. Impulso. Piracicaba, v. 24(60), 2014. 123-132.
TARDIVO, L. S. P. C. Psicodiagnóstico interventivo: Uma proposta de
ensino em Atendimento Clínico. Mudanças – Psicologia da Saúde, 15(2),
128-134, 2007.
TRINCA, W. Processo diagnóstico de tipo compreensivo. In: ______.
Diagnóstico psicológico: A prática clínica. São Paulo: Cortez, 1998. p. 14-
24.
WINNICOTT, W. D. O ódio na contratransferência (1947). In:_______. Da
pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 2000. p. 277-287.
ABORDAGEM COMPORTAMENTAL
CAPÍTULO 5
Contribuições da Terapia Analítico-
Comportamental e da Análise Funcional do
Comportamento
REFERÊNCIAS
GUILHARDI, Hélio José. Algumas diretrizes para melhor ação
terapêutica. Disponível em
<http://www.itcrcampinas.com.br/pdf/helio/algumas_diretrizes.pdf.> Acesso
em: 04 Mai. 2016.
REFERÊNCIAS
BARBIERI, V. Psicodiagnóstico tradicional e interventivo: confronto de
paradigmas? Psicologia: teoria e pesquisa. v. 26 (3), p. 505-513, 2010.
CABALLO, V. E. Manual de avaliação e treinamento das habilidades
sociais. São Paulo: Santos, 2003.
CASTANHEIRA, S.S. Autocontrole: a Linguagem do Cotidiano e a da
Análise do Comportamento. In: BANACO, R.A. (org.) Sobre
comportamento e cognição: aspectos metodológicos e de formação em
Análise do Comportamento e Terapia Cognitivista, 1 ed., Santo André:
ARBytes, p. 57-73, 2001.
CUNHA,J.A.; FREITAS, N. e RAYMUNDO, M.G. Psicodiagnóstico. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1986.
DEL PRETTE, Z. A. P.; Del Prette, A. Psicologia das habilidades sociais:
Terapia e educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
FERSTER, C. B. An Experimental Analysis of Clinical Phenomena. The
Psychological Record, v. 22, p. 1-16, 1972.
GUILHARDI, H.J. Conceituação de sentimentos. Campinas: Instituto de
Terapia por Contingências de Reforçamento, 2007.
LARAWAY, S. et al. Motivating operations and terms to describe them:
some further refinements. Journal of Applied Behavior Analysis, v. 36, p.
407-414, 2003.
MARTIN, G.; PEAR, J. Modificação de Comportamento - O que é e
Como Fazer? São Paulo: Editora Roca, 2009.
MICHELETTO, N.; SÉRIO, T. M. A. P. Homem: Objeto ou Sujeito para
Skinner? Temas em Psicologia, v. 2, p. 11-21, 1993.
NICO, Y.C. A Contribuição de B.F. Skinner Para o Ensino do
Autocontrole como objetivo da educação. 2001. Dissertação (Mestrado em
Psicologia Experimental: Análise do Comportamento), Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2001.
PAULO, M.S.L.L. Psicodiagnóstico interventivo em pacientes adultos com
depressão. Boletim de Psicologia, v. 56 (125), p.153-170, 2006.
SARWER, D.B.; SAYERS, S.L. Behavioral interviewing. In: BELLACK,
A.S.; HERSEN, M. Behavioral assessment: a practical handbook. Boston, p.
63-78, 1998.
SKINNER, B. F. (1971). O Mito da Liberdade. São Paulo: Summus , 1983.
_________. (1953). Ciência e comportamento Humano. São Paulo:
Martins Fontes, 2000.
ABORDAGEM FENOMENOLÓGICA
CAPÍTULO 7
O Psicodrama e o Encontro Fenomenológico de
Terapeutas Iniciantes no Processo de
Psicodiagnóstico Interventivo
Erika Sproesser
Apresentação
Considerações finais
REFERÊNCIAS
AGUIAR, M. O teatro terapêutico: escritos psicodramáticos. São Paulo:
Papiros, 1990.
ANCONA-LOPEZ, M. Psicodiagnóstico processo de intervenção. São
Paulo: Cortez, 1995.
ANGERAMI, V.A. Existencialismo e psicoterapia. São Paulo: Traço, 1984.
AUGRAS, M. O ser da compreensão. Fenomenologia da situação de
psicodiagnóstico. Petrópolis: Vozes, 1986.
BUSTOS, D.M. O psicodrama. Aplicações da técnica psicodramática. São
Paulo: Ágora, 2005.
DONATELLI, M.F. Psicodiagnóstico interventivo fenomenológico-
existencial. In: ANCONA-LOPEZ, S. (org.) Psicodiagnóstico interventivo.
São Paulo: Cortez, 2013.
FONSECA FILHO, J. Psicoterapia da relação. Elementos de Psicodrama
Contemporâneo. São Paulo: Ágora, 2000.
FOX, J. O essencial de Moreno. Textos sobre psicodrama, terapia de grupo e
espontaneidade. São Paulo: Ágora, 2002.
GARRIDO MARTIN, E. Psicologia do Encontro: J. L. Moreno. São Paulo:
Ágora, 1996.
JARDIM, L.E.F. Ação e compreensão da clínica fenomenológica existencial.
In: EVANGELISTA, P.E.R.A. (org.) Psicologia Fenomenológica-
existencial: Possibilidade da atitude clínica fenomenológica. Rio de
janeiro: Via Verita, 2013.
LIPMAN, L. O sistema triádico: sociometria, psicodrama e psicoterapia de
grupo In: GERSHONI, J. (org.) Psicodrama no século 21. Aplicações
clínicas e educacionais. São Paulo: Ágora, 2008.
MARINEAU, R.F. Jacob Levy Moreno 1889-1974. Pai do Psicodrama, da
sociometria e da psicoterapia de grupo. São Paulo: Ágora, 1992.
MENEGAZZO, C.M. et al. Dicionário de psicodrama e Sociodrama. São
Paulo: Ágora, 1995.
MORENO, J.L. Fundamentos do psicodrama. São Paulo: Summus, 1983.
_________. Psicoterapia de grupo e psicodrama. São Paulo: Psy, 1993.
_________. Psicodrama. São Paulo: Cultrix, 1997.
_________. A realidade suplementar e arte de curar. São Paulo: Ágora,
2001.
NAFFAH NETO, A. Psicodrama: descolonizando o imaginário. São Paulo:
Plexus, 1997.
NERY, M.P. Vínculo e Afetividade. Caminhos das relações humanas. São
Paulo: Ágora, 2003.
OCAMPO, M.L.S et al. O processo de Psicodiagnóstico e as técnicas
projetivas. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
PERAZZO, S. Ainda e sempre psicodrama. São Paulo: Ágora, 1994.
REIS, J.R.T. Cenas familiares. Psicodrama e ideologia. São Paulo: Ágora,
1992.
RUBINI, C.J. O conceito de papel no psicodrama. Revista Brasileira de
Psicodrama, v. 3, n. 1, p. 75-79, 1995.
TENÓRIO, C.M.D. A psicopatologia e o diagnóstico numa abordagem
fenomenológica-existencial. Universitas: Ciências da Saúde, v. 1, n. 1, p. 31-
44, 2003.
YEHIA, G.Y. Reformulação do papel do psicólogo no psicodiagnóstico
Fenomenológico-existencial e sua repercussão sobre os pais. In: ANCONA-
LOPEZ, M. Psicodiagnóstico processo de intervenção. São Paulo: Cortez,
1995.
ABORDAGEM CENTRADA NA
PESSOA
CAPÍTULO 8
O Que Eu Tenho, Doutora? - A Relevância do
Psicodiagnóstico Sob o Enfoque da Abordagem
Centrada na Pessoa
Priscila Camile Barioni Salgado
O convite para escrever este capítulo, que faz parte do segundo
volume da série “Psicologia para recém-formados”, foi recebido com muita
alegria, principalmente por saber que haverá a oportunidade de explorar
outros aspectos da prática clínica sob o olhar de diferentes abordagens.
No capítulo que escrevi no primeiro volume (SALGADO, 2015),
discorri sobre a prática clínica sob o olhar da Abordagem Centrada na Pessoa
(ACP). Nele, foi descrita a nossa visão de homem, os principais conceitos da
ACP, a teoria de um desenvolvimento saudável, a teoria do desajustamento
(desenvolvimento não-saudável) e as contribuições da prática
psicoterapêutica para o melhor ajustamento dos clientes.
A partir daquela leitura, já é possível perceber que a ACP parte de
uma premissa básica que é a tendência atualizante, ou seja, a crença plena de
que todo ser humano (aliás, todo ser vivo!) tem, inerente a si, recursos para se
autocompreender e se modificar em direções que promovam o seu
aperfeiçoamento.
Guardem isso! A compreensão e a concordância com o conceito de
tendência atualizante é crucial para o entendimento de como o ser humano se
desenvolve e também de como ele adoece.
O desenvolvimento humano ocorre por meio de um processo
dinâmico, ou seja, só acaba no dia em que morremos. Portanto, desde o dia
em que nascemos até o dia de nossa morte, estamos caminhando rumo à
melhor forma de ajustamento que somos capazes de atingir, considerando
nossa percepção dos vários obstáculos que encontramos em nossa história de
vida. Nesse sentido, dependendo de como a nossa vivência é percebida e
vivida, o nosso desenvolvimento pode ser mais ou menos desajustado em
diferentes fases da vida.
Bem, se falamos do desenvolvimento como um processo contínuo, é
claro que compreendemos que a psicopatologia – enquanto uma característica
estática e estruturada – não existe. Quando falamos em psicopatologia,
estamos compreendendo um ser humano que não está conseguindo fazer
escolhas autênticas e flexíveis no direcionamento de sua vida, o que o torna
incongruente, frágil e vulnerável.
Nesse momento de vulnerabilidade, suas escolhas estão direcionadas
a atualizar o seu self rígido e incongruente com o seu ser organísmico que
precisa distorcer ou negar qualquer percepção do mundo que seja contrária ao
seu autoconceito. A fim de continuamente atualizar o self, a pessoa utiliza
critérios condicionados ao amor e aceitação do outro, ao invés do seu eu
organísmico. Ou seja, a pessoa só percebe como sendo verdadeiro aquilo que
se encaixa no seu autoconceito. O self/autoconceito, por sua vez, desenvolve-
se de forma rígida, possibilitando apenas simbolizações de experiências que
estejam de acordo àquilo que foi valorizado positivamente e tenha
possibilitado aceitação das pessoas importantes em sua vida.
As experiências que estão de acordo com seu autoconceito passam a
ser simbolizadas corretamente em sua consciência. A simbolização de outras
experiências é distorcida ou interceptada, deixando de ser incorporada na
noção de eu. Dessa forma, se eu, por exemplo, tenho um self rígido de que
sou uma pessoa incapaz e incompetente, vou distorcer simbolicamente
qualquer experiência de sucesso que eu possa ter. Tais experiências serão
compreendidas como sorte, ou mérito de outras pessoas, mas nunca como
resultado de minha competência. Já as experiências de fracasso serão
integradas ao self e contribuirão para sua atualização. Estabelece-se com isso
um estado de incongruência entre o self e a experiência, causando
desajustamento e vulnerabilidade psicológicos. A personalidade se encontra
dividida e alienada de si mesmo. Por um lado, o autoconceito do indivíduo
passa a incluir percepções distorcidas que não representam com veracidade a
sua experiência. Por outro lado, a experiência real vivida pelo sujeito não se
encontra simbolizada em seu autoconceito.
Nesse estado de incongruência, o sujeito não consegue mais viver na
sua integralidade, pois ora seu comportamento é regulado pelo seu
autoconceito, e ora por experiências organísmicas que não têm sua
simbolização incluída nele. Essa incongruência também cria uma divergência
na tendência atualizante, que em alguns momentos irá atualizar as
necessidades do self e em outros as do organismo. Com isso, o indivíduo
passa a ter comportamentos incompreensíveis e divergentes. Essa
incongruência que vulnerabiliza o indivíduo representa o seu adoecimento
psíquico. Assim, de forma bem geral e em poucas palavras, podemos
começar a compreender o processo de adoecer humano.
No entanto, vocês podem estar se perguntando: “se acreditamos na
tendência atualizante, e a mesma descreve a tendência ao aperfeiçoamento
humano, onde entra o adoecimento?” Acho importante que tenhamos claro
que desenvolvimento e aperfeiçoamento não são contrários a sofrimento e
adoecimento. O processo de desenvolvimento inclui diversas fases e desafios
que ocorrem de forma desordenada e até simultânea. Nem sempre
funcionamos de forma ajustada, e também nem sempre fazemos escolhas
desajustadas.
Falar sobre o adoecer psíquico nos leva a pensar sobre o conceito de
psicopatologia e as formas de diagnóstico empregadas para esse
conhecimento. Por isso, é importante que, antes de qualquer coisa, possamos
nos situar historicamente sobre o processo de construção da compreensão do
adoecer psíquico e do psicodiagnóstico como um instrumento para essa
compreensão.
O conhecimento da psique como sendo algo situado além do corpo
data dos estudos do criador da Psicanálise, Sigmund Freud. Na condição de
neurologista, passou a observar que, em algumas das pacientes que atendia,
havia algo que não podia ser explicado pela ciência médica: algo fruto da
mente delas, ao invés dos seus corpos, que demandava uma ciência de outro
tipo para ser estudado. Apesar de a concepção de um corpo separado da
mente ser algo bem anterior a Freud – os pensadores gregos já falavam de
corpo e alma como entidades distintas – foi a Psicanálise de Freud que
buscou uma maneira científica de explicar a mente humana.
Se estamos empregando uma explicação originada do conhecimento
médico, é óbvio que parte da explicação do fenômeno é construída a partir da
doença. Portanto, enquanto médicos diagnosticavam enfermidades do corpo,
psicólogos passaram a buscar, através do psicodiagnóstico, a causa dos
sintomas psíquicos.
Esse movimento foi necessário para a Psicologia ser reconhecida
como uma nova ciência. Na época da construção da Psicologia, a prática do
psicodiagnóstico exigia objetividade e a utilização de métodos quantitativos
de medição de sintomas. Os sintomas precisavam ser observados e
mensurados para resultar em dados confiáveis. Foi nesse contexto que o
Behaviorismo desenvolveu sua teoria da análise do comportamento.
O desenvolvimento da Psicanálise de Freud trouxe uma visão
determinista ao psicodiagnóstico, que buscava na estória passada do sujeito a
explicação que determinava os sintomas presentes.
A abordagem humanista, surgida mais recentemente, na década de 50,
trouxe uma nova contribuição à Psicologia ao buscar compreender os então
chamados “sintomas” a partir da vivência atual do sujeito, buscando
compreender o sentido das experiências vivenciadas por ele. Sintomas
deixam de ser explicados como uma expressão comportamental de algo que
aflige a mente e passam a ser compreendidos como parte constituinte do
sujeito na sua forma de perceber e viver no mundo.
Este é o olhar que adotamos dentro da ACP: nos importa mais a
compreensão dos significados das experiências do sujeito, do que a busca de
sintomas ou classificações psicopatológicas. Isso não quer dizer que partimos
do princípio de que a psicopatologia não existe, apenas olhamos o sujeito a
partir de um outro prisma. É sob esse novo prisma que tratamos da relevância
do psicodiagnóstico no olhar da ACP.
Certa vez, conversando com uma colega psicanalista, ela comentou o
quanto as pessoas estão doentes e o quanto estava aparecendo pessoas com
sérias patologias em seu consultório. Essa fala me soou estranha, porque, no
meu consultório, atendo pessoas que entendo serem saudáveis, embora vivam
experiências de forma inautêntica. Ficamos pensando o que poderia ocasionar
essa diferença de “clientela”. Talvez fosse pelos encaminhamentos que ela
recebe de psiquiatras, e eu não. Essa seria uma hipótese a ser considerada.
Porém, acredito que seja mais uma diferença de olhar quando nos
debruçamos à prática clínica. A ACP favorece um olhar que facilita o
desenvolvimento saudável do sujeito. Nesse olhar, as potencialidades
importam muito mais do que as dificuldades.
Rogers, durante toda sua obra, não desenvolveu um estudo específico
acerca das doenças mentais. Seu enfoque sempre foi a compreensão do que
seria uma relação de pessoa para pessoa, aquela relação que Martin Buber
chamou de eu-tu (BUBER, 2012). Uma relação que considerasse o cliente em
sua totalidade sem a necessidade de enquadrá-lo em classificações
diagnósticas.
O adoecimento é, portanto, parte da dimensão existencial do ser
humano. Uma parte de si que se relaciona consigo mesmo e com o mundo à
sua volta de forma incongruente e inautêntica. Como vivemos em eterno
processo de construção e desenvolvimento, experiências inautênticas também
fazem parte de nós, assim como experiências autênticas. A situação passa a
ser considerada um problema quando a falta de congruência frente à vida leva
ao sofrimento psíquico.
A incongruência é, portanto, a única fonte para qualquer
psicopatologia, ou seja, para qualquer desajustamento. O que estou tentando
mostrar é que, qualquer que seja a forma ou comportamento na condição de
desajuste que se manifeste, sempre devemos buscar sua causa naquilo que é
incongruente na existência do ser. Acharemos então os significados que
existem por detrás desses comportamentos e as motivações que os atualizam
de forma incongruente.
Os transtornos mentais são compreendidos pela ACP como uma
condição de existência adoecida, o que ultrapassa o modelo bipolar entre
saúde ou doença, normalidade ou patologia.
O olhar da ACP, proposta por Rogers, trouxe um modelo alternativo
ao modelo médico de explicação psicodiagnóstica vigente na época. A partir
desse novo olhar, outras abordagens e teorias adaptaram seus conceitos de
doença e saúde e passaram a compreender o ser humano de formas que não
reduzem ou coisificam o cliente a um mero conjunto de sintomas.
Olhar o ser humano como um ser cindido entre corpo ou mente,
saudável ou doente deve ser coisa do passado. Se ainda não é por completo,
deveria ser! Rogers relata muito bem no texto “Ellen West - a solidão”
(ROGERS, 1977) quais seriam as consequências do psicodiagnóstico que
rotula e coisifica a existência humana. Ao descrever a estória de Ellen West,
Rogers relata como que a passagem por diferentes médicos e diferentes
psicodiagnósticos fizeram com que ela se distanciasse cada vez mais de seu
ser organísmico. Os diagnósticos não possibilitaram que Ellen se sentisse
compreendida; muito pelo contrário: a coisificaram como algo sem valor.
A ACP reluta em trabalhar com a linguagem psiquiátrica de quadros
psicopatológicos. Ela rompe com o modelo classificatório que compreende a
doença como um objeto a ser tratado. Ao invés disso, busca compreender
qual o lugar que o sujeito ocupa ao viver uma vida desajustada a si mesmo e
ao mundo à sua volta. A pessoa é uma entidade única, não podendo ser
compreendida em dimensões distintas de saúde e doença. Por isso, o
psicodiagnóstico, no seu enquadre de conhecimento e explicação de sintomas
psíquicos e da natureza das causas dos mesmos, não existe na prática clínica
da ACP.
Falar isso não significa que entendemos que o psicodiagnóstico não
seja uma prática psicológica importante para determinados recortes. Ele
somente não tem razão de existir dentro dos preceitos da ACP, como Rogers
exemplificou no caso de Ellen West (ROGERS, 1977).
Se o motivo pelo qual digo que o psicodiagnóstico não tem razão de
existir dentro da prática clínica da ACP ainda não ficaram claros para você,
podemos pensar no que um psicodiagnóstico implica. Em primeiro lugar,
para haver psicodiagnóstico, precisa haver uma psicopatologia, certo?
Depois, precisa haver algo que a anteceda, que determine a existência dela,
isto é, uma causa que possa ser determinada a partir do ato de diagnosticar. A
possibilidade de psicodiagnóstico implica também na possibilidade de
tratamento e controle das causas e sintomas. Por fim, o psicodiagnóstico
implica que exista alguém que tenha autoridade de diagnosticar e tratar aquilo
que torna o homem doente, concorda?
Certo. Vamos então refletir sobre cada um desses pontos a luz da
ACP. O meu intuito é que você seja capaz de perceber a irrelevância do
psicodiagnóstico dentro dessa abordagem. Se além disso, você perceber o
quanto ele pode, muitas vezes, ter um caráter devastador no processo de
desenvolvimento humano, eu terei atingido plenamente o meu objetivo!
Bom, vamos lá! O primeiro ponto que salientamos é a necessidade da
existência de uma psicopatologia naquele que se submete ao
psicodiagnóstico. Já falamos que não compreendemos o ser humano a partir
de qualquer denominação de psicopatologia. A partir de sua tendência
atualizante, esse ser sempre tenderá para formas de aperfeiçoamento de seu
ser. O que ocorre é que as formas que ele busca nem sempre são as melhores,
ou as que promovem maior ajustamento de seu ser organísmico. Portanto, ao
invés de olhar para a psicopatologia, Rogers sempre buscou estudar quais
seriam as formas de possibilitar ao ser humano maneiras mais ajustadas de
desenvolvimento. A simples explicação da psicopatologia serve apenas para
reduzir a existência do sujeito a um conjunto de sintomas previamente
estabelecidos e classificados segundo critérios populacionais gerais, que,
muitas vezes, não têm qualquer sentido para a pessoa que os sofre.
Nossa visão de homem como um ser integrado, sem divisão entre seu
ser individual e seu ser mundano, que possui na sua essência a motivação
constante de se atualizar, tornando-se cada vez mais integrado, mais
organizado e mais autônomo, que está sempre se projetando, escolhendo,
crescendo, transformando e desenvolvendo, não se adequa à visão estanque
de uma classificação psicodiagnóstica que identifica uma patologia ou doença
nesse contínuo processo de transformação.
Vamos ao segundo ponto. O ato de diagnosticar implica na existência
de algo que antecede, que determina a existência da psicopatologia, ou seja,
uma causa que possa ser determinada. A pergunta, para nós, soaria da
seguinte forma: “Qual é a causa do desajustamento que vive o sujeito?”. O
problema aqui é que não há uma única causa ou algumas causas que
antecedem o desenvolvimento do sintoma, ou da forma de vida desajustada.
A causa, se é que podemos chamar assim, é a maneira pela qual o sujeito
percebe e dá significado à toda a sua existência. Ou seja, a “causa” é a
própria existência do sujeito: é a sua forma inautêntica e incongruente de
vida. Toda a sua existência está relacionada à sua forma de ser. Como
diagnosticar uma existência?
Um terceiro ponto a ser considerado é o de que a possibilidade de
diagnóstico implica na possibilidade de tratamento e controle das causas e
sintomas. Vamos supor (ainda que acreditemos o contrário!) que o
psicodiagnóstico acurado do sofrimento psíquico fosse algo viável e possível.
O que faríamos com ele? De que forma ele poderia nos ajudar? Deveríamos
falar ao sujeito sobre seu psicodiagnóstico? Isso o ajudaria? A meu ver,
precipitar ao sujeito suas áreas de conflito e vulnerabilidade apenas
aumentaria seu sentimento de ameaça e a sua resistência de perceber a sua
existência a partir de outras formas. Quando o cliente encontra dificuldade
em se relacionar de forma autêntica consigo e/ou com o mundo, busca formas
que entendem serem as melhores dentre as suas possibilidades. Apontar que
ele está “fazendo errado” sem compreender empaticamente as razões pelas
quais passou a perceber os fenômenos de determinada maneira – ainda que
ela seja uma maneira que gera mais incongruência em sua vida – não irá
ajudá-lo em nada. Apenas o próprio cliente pode decidir o momento em que
se sente capaz de suportar o sofrimento de suas vivências e pode de fato
decidir o que fazer com elas.
O tratamento de sintomas, ou melhor dizendo, a abertura de
consciência para uma forma mais ajustada de vida se dá em um processo
vivencial, e não racional. A mudança só ocorre se experimentada como uma
mudança de percepção. Nesse sentido, o processo psicoterapêutico é em si,
em sua totalidade, um processo de psicodiagnóstico, feito processualmente
pelo próprio cliente. Ao tomar consciência de percepções distorcidas e
substituí-las por percepções mais adequadas e saudáveis, o cliente está
traçando o seu próprio psicodiagnóstico e tratamento.
Chegamos, então, ao último ponto de implicação do ato de
diagnosticar. O psicodiagnóstico implica que existe alguém com autoridade
para diagnosticar e tratar aquilo que torna o homem doente. Esse alguém, no
caso o psicólogo, deveria deter o saber da ciência Psi para dizer àquele que
busca ajuda qual é a razão de seu sofrimento. E aí eu pergunto: “Você acha
mesmo que pode compreender a existência de outro ser humano mais ou
melhor do que ele mesmo a compreende?”. Para mim, parece que esse
“superpoder” foi necessário na construção da Psicologia como ciência e
profissão. Hoje, porém, podemos nós ter o privilégio de estar com o cliente
de pessoa para pessoa, e, com isso, realmente ajudá-lo.
Só o próprio cliente pode conhecer por completo as suas percepções.
Só ele pode dizer sobre si de forma acurada, ainda que vivendo em um
mundo de contradições e de incongruências. O conhecimento racional de si,
promovido pelo psicólogo que “diz quem ele é” não pode ser substituído pela
compreensão vivencial de seu ser organísmico.
O papel do psicólogo é, portanto, criar condições para que o cliente
possa perceber o mundo e a si, de forma mais flexível e aberta possível e,
com isso, ser seu próprio “psicodiagnosticador” e “tratador”. É claro que essa
visão exige do psicólogo um mergulho em si próprio para que se torne cada
vez mais capaz de propiciar esse ambiente facilitador, sendo congruente,
empático e aceitando o outro incondicionalmente.
Vale ressaltar, também, que essa visão muitas vezes dificulta a nossa
relação com a equipe médica, que busca formas deterministas e específicas
para explicar o comportamento humano. Nosso linguajar é outro, assim como
nossa forma de compreender a existência saudável ou adoecida.
Não posso deixar de salientar que o psicodiagnóstico se faz necessário
em diversos contextos de avaliação psicológica, inclusive no cenário de
pesquisa científica que promove a construção e crescimento da Psicologia. A
reticência que encontramos na ação psicodiagnóstica é quando ela adota a
prepotência do saber médico sobre a existência do ser que está sendo
avaliado.
Rogers sempre compreendeu o ser humano a partir de suas
potencialidades. Transtornos severos não eram alvos de sua observação e ele
nunca trabalhou em hospitais psiquiátricos para desenvolver sua teoria.
Talvez essa vivência tivesse propiciado um olhar diferente para a
psicopatologia na ACP, mas, certamente não para o psicodiagnóstico como
um instrumento de categorização e rotulação da existência humana.
Na ACP, a saúde é expressa em um comportamento livre,
espontâneo, autêntico e fluído. A patologia, por sua vez, aparece na
cristalização de uma mesma atitude diante de qualquer experiência. O
sintoma é o resultado dessa cristalização, é sinal de incongruência e remete a
significados que possibilitam compreender a existência da pessoa.
O processo psicoterapêutico busca esses significados e sua
ressignificação. Não é possível simplesmente eliminar sintomas, pois eles
foram desenvolvidos pelo próprio organismo com a função de ajustamento do
mesmo. O importante é compreender o significado daquilo que gera o
sintoma. O homem, portanto, não tem sintoma, ele é o sintoma. É através do
sintoma que, muitas vezes, a pessoa encontra a única forma de ser no mundo.
A ressignificação dos sintomas ocorrerá somente quando eles forem
verdadeiramente trazidos e aceitos na consciência. Essa aceitação é facilitada
na medida em que o terapeuta aceita incondicionalmente seu cliente, sem
qualquer juízo de valor. No processo, a pessoa sente-se aceita em ser como é,
não precisando ajustar-se de forma incongruente para se perceber
reconhecida. Inicia-se então, um processo de desenvolvimento saudável.
REFERÊNCIAS
BUBER, M. Eu e tu. 12 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
SALGADO, P.C. Contextualizando a prática clínica sob o enfoque da
abordagem centrada na pessoa. In: Gláucia Telles Sales. (Org.). Clínica de
psicologia para recém-formados. 1 ed. Campinas: [s.n.], Kindle Edition,
2015.
ROGERS, C. Ellen West - a solidão. In: _______. A pessoa como centro. São
Paulo: EPU, 1977.
CONTEXTO SOCIAL
CAPÍTULO 9
A Intervenção da Psicologia no Contexto das
Políticas Públicas: Psicodiagnóstico e Avaliação
Diagnóstica da Ação Técnica em Equipe
Multiprofissional
Rita de Cássia Oliveira Assunção
O convite para escrever um texto que contribua com a prática
profissional de recém-formados vem ao encontro de inquietações que
vivencio na prática cotidiana, enquanto psicóloga inserida em serviço
público, cujo objetivo é viabilizar o acesso a direitos sociais por meio de
atendimento multiprofissional, e que suscita constante reflexão por parte da
equipe técnica.
A Psicologia, enquanto ciência e campo de conhecimento, tem muito
a contribuir com referenciais teóricos-técnicos e vem se inserindo em
diferentes áreas de atuação das políticas públicas no setor da Saúde, da
Assistência Social, da Educação, do Esporte, dentre outras. Dessa forma,
psicólogas e psicólogos estão sendo cada vez mais cobrados a ampliar a
forma de atuação e trazer à reflexão as exigências atuais postas aos
profissionais envolvidos na construção de novas práticas e formas de atuação
multiprofissional, cujo trabalho extrapola o âmbito individual, e de maneiras
tais que mantém a identidade profissional dos psicólogos envolvidos.
A forma de intervenção da Psicologia nesses contextos se difere do
modelo ao qual estamos acostumados a pensar essa intervenção: ela se
distancia do campo individual e do diagnóstico que define o terreno que
diferencia a saúde da doença e avança na busca da compreensão diagnóstica
que afeta planos coletivos. Igualmente, essa atuação aponta caminhos de
construção de possíveis meios de atuação diferente da clínica individual sem,
no entanto, abandonar o conhecimento psicológico.
Enquanto o processo psicodiagnóstico se caracteriza na investigação
objetiva para levantar aspectos psicológicos de um caso individual, no âmbito
da atuação social, o exercício cotidiano é buscar formas de aliar esse
conhecimento psicológico do psicodiagnóstico como uma ferramenta de
trabalho que viabilize uma compreensão de âmbito coletivo.
O processo psicodiagnóstico configura uma situação de duas pessoas
envolvidas e com papéis bem definidos. Contudo, o novo lugar de
intervenção, do qual venho falando, já não conta com papéis e participantes
tão delimitados. Isso abre caminho para que seja considerado que o processo
de investigação e de construção de diagnóstico abandone esse lugar comum à
Psicologia e se abra para uma frente de configuração inovadora em que a
posição de centralidade da figura do analista sai de cena e passa a ser
ocupado por uma equipe que, por meio do seu método de trabalho, precisa
manter a sua capacidade de investigação para subsidiar a intervenção
necessária.
Nessa nova perspectiva, muda-se o contexto no qual surgem novas
possibilidades de atores envolvidos no espaço de intervenção psicológica.
Temos a presença de equipes multidisciplinares, compostas de profissionais
variados, igualmente visando intervenção psicossocial. No entanto, não é
revogada a compreensão sobre sujeitos, mas que, dessa forma, são
contemplados dentro de uma coletividade e partilhando de fenômenos sociais
que apresentam a necessidade de um processo investigativo compreensivo
desses contextos e da necessidade de construir estratégias interventivas nas
quais a Psicologia não atua mais enquanto uma ciência isolada, mas integrada
com o objetivo último de viabilizar a percepção do sujeito interagindo com o
meio, afetando e sendo afetado por ele, compondo uma totalidade de ser.
O processo psicodiagnóstico, enriquecido de novos instrumentais,
ganha densidade em: entrevista objetivando a inserção do sujeito em serviços,
programas, benefícios sociais e projetos de políticas públicas, entrevistas de
acolhimento específicas para inserção no atendimento em serviços públicos,
preenchimento de cadastro social, dentre outros.
O processo de construção dessa nova forma e lugar de fazer da
Psicologia envolve muitas dúvidas e exige um profissional questionador
sobre suas práticas. Por vezes, observa-se uma não identificação com o
campo das políticas sociais, sendo que isso ocorre pelo entendimento de que
a Psicologia, enquanto ciência, estaria ligada apenas à área da saúde.
Portanto, é preciso romper com isso que está instituído no imaginário do
profissional psicólogo e aceitar o desafio de se ajustar o olhar ao próprio
campo de atuação – que oferece um cabedal próprio de conhecimento – e ser
capaz de assimilar diversas noções trazidas por autores variados, que
configuraram a Psicologia como contributiva no desvelar de fenômenos além
do indivíduo, ampliando-a para o âmbito social. Tudo isso requer formas
ampliadas de intervenção da Psicologia, que permitam o lançar mão de
estratégias de construção de dispositivos sociais promotores de transformação
de qualidade de vida e direcionados ao rompimento com processos de
adoecimento, ou seja, de práticas que configuram uma atenção de qualidade
psicossocial.
À Psicologia também se pede que emita parecer sobre quadros e
situações, uma vez que no atendimento vinculado a serviços ofertados em
políticas públicas – como é o caso da assistência social e da saúde – os
profissionais são solicitados a fornecer informações sobre os casos em
acompanhamento. É necessária a compreensão da necessidade de uma
prestação de serviço ofertada com clareza do atendimento pretendido e da
relação a ser estabelecida com o outro dentro desses espaços. Isso é que irá
determinar a forma de atuação.
Na relação com o sujeito atendido anteriormente, o procedimento
adotado pela Psicologia era o de manter um distanciamento, uma forma de
prática enraizada no modelo médico, cuja atuação se concentrava nos
serviços de saúde por meio de atendimentos individualizados.
O processo psicodiagnóstico não se insere mais apenas como um
coadjuvante cuja finalidade é a proposição de uma psicoterapia. Pelo
contrário, ele se apresenta como fundamental ao levantamento de
informações sobre o sujeito, como meio de aprofundamento do entendimento
da demanda e levantamento dos aspectos passados e da situação presente.
Isto é, ele é importante para ampliar a compreensão sobre aquilo no qual se
pretende intervir. É a partir disso que é possível definir o melhor
enquadramento da situação-problema e a melhor abordagem dela. A partir da
avaliação diagnóstica, se identifica os elementos presentes a fim de traçar a
forma como a equipe irá conduzir a intervenção e como será a atuação de
cada profissional. Tendo feito isso, também é importante que o profissional
se mantenha aberto para rever a sua conduta e refazê-la, para melhor atender
as exigências, que são sempre mutáveis.
A Psicologia oferece o escopo necessário para contribuir no trabalho
construído em equipe ao permitir a análise e a reflexão frente à situação-
problema, bem como a tomada de decisão para promover ações de atenção,
proteção e prevenção. No entanto, para fazer uma avaliação diagnóstica,
torna-se necessária a apropriação dessa informação.
O trabalho no campo social deve incorporar outras ações e integrar
diferentes práticas e linguagens com o intuito de aprofundar a compreensão
sobre o que se pretende intervir. É importante observar que a subjetividade é
parte do mundo interno, mas também está presente em todas as formas de
relações; ou seja, é a partir de como se dá a experiência internamente, que se
configura as relações de um sujeito com o outro. Isso equivale a dizer que
esse é um campo fértil para a inserção e a atuação da Psicologia, pois os
sujeitos são constituídos a partir de dimensões tanto subjetivas como
objetivas.
É preciso desconstruir a noção de a prática clínica ser a norteadora da
atuação psicológica por oferecer escuta de aspectos subjetivos. Mesmo em
situações diferentes da clínica, é possível fazer uma avaliação diagnóstica
sobre outras bases e outros elementos capazes de definir quais as estratégias
possíveis que permitem levantar as informações necessárias para diagnosticar
e definir as ações. Por exemplo, uma abordagem consistente seria não se ater
apenas à situação-problema apresentada, mas superá-la oferecendo
possibilidades para o sujeito realizar uma transformação individual.
Em nossa atuação cotidiana, lidamos com fenômenos complexos
multifacetados que exigem uma leitura profissional ampliada, enriquecida
com diversos tipos de conhecimento e, consequentemente, meios variados de
intervenção. Nesse sentido, a utilização de uma abordagem tradicionalmente
dicotômica e desvinculada da consideração de um contexto mais amplo dos
sujeitos e das situações pode levar a efeitos sociais perversos, como aquela
que constrói percepção na qual se busca identificar responsáveis. Ao invés
disso, seria recomendável um olhar mais atento que contemple histórias
individuais se entrelaçando com efeitos de vivências sociais que condicionam
a real natureza dos traumas. Isso pode ser descrito assim porque se considera
que o sujeito não se constitui apenas de seu mundo interno, mas também de
interferências externas.
No psicodiagnóstico, os novos modelos e as novas formas rompem a
dicotomia indivíduo-sociedade e incluem a perspectiva da vivencia concreta
dos sujeitos. É um psicodiagnóstico ampliado, que se vale de meios diversos
diferente da aplicação de testes, com uma escuta local na entrevista, mas que
se expande para outros contextos de vivência e, por fim, sem a intenção única
de fazer uma intervenção psicoterapêutica, ainda que essa possa estar
contemplada na intervenção.
Outro ponto importante a ser considerado é o de que, no atendimento
feito em serviços públicos, o sujeito não busca obrigatoriamente um
atendimento psicológico. Na maioria dos casos, ele busca ser atendido e tem
uma demanda pontual e específica ao campo no qual o serviço se insere. Ao
interagir com esse indivíduo, os psicólogos identificam que a primeira
necessidade é o estabelecimento de um vínculo que permita a continuidade e,
embora se esteja dando início a um processo de avaliação, que seja possível
identificar o início de uma intervenção. Essa característica já difere do
modelo tradicional de psicodiagnóstico que, normalmente, precede a atuação
psicoterapêutica.
Segundo Ancona-Lopez (1995), ao assumir uma postura investigativa,
o profissional se aproximando do lugar de um observador imparcial, o
processo psicodiagnóstico perde seu sentido para o outro, indo mais além ao
afirmar que em toda atuação psicológica está compreendida a ação de
intervenção peculiar ao momento vivido onde seu significado se estabelece.
A entrevista consiste em importante ferramenta de levantamento de
informações, de contato e de estabelecimento de vínculo inicial, necessário
para a continuidade do processo investigativo e processo de acompanhamento
de caso. Envolve a coleta de dados, assim como outras formas de
intervenções presentes no momento inicial da inserção do sujeito em um
processo de acompanhamento mais estreito e sistemático dentro do serviço
onde ocorre o atendimento.
Temos um lugar cuja prática força o abandono da utópica postura de
neutralidade e distanciamento, uma vez que se objetiva uma intervenção
profissional para atender a demanda inicial e também a ressignificação dessa
demanda que poderá ganhar um sentido de busca do indivíduo. Isto é,
pretende-se abrir um espaço de reflexão sobre o que originou aquela
demanda, qual o contexto mais amplo subjacente a ela, por exemplo. Para
tanto, exige-se a percepção de uma relação de confiança naquele espaço
suscitador de segurança e favorecedor de continuidade. É preciso trazer o
individuo para uma ação co-participativa no processo.
Nessa forma de processo psicodiagnóstico, nos deparamos com um
contexto que exige de psicólogos o partilhar de percepções e conhecimento
com aquele que atende e também com outros profissionais envolvidos na
manutenção de uma escuta cuidadosa e, ao mesmo tempo, aberta. Nesse
contexto, o psicodiagnóstico pode ser capaz de levar a pessoa à reflexão e à
percepção de si própria, considerando o que lhe cerca, as interferências com
as quais se depara e a sua maneira de interagir. Dessa forma, é possível se
abrir para uma nova imagem de si e descortinar o novo.
É preciso abandonar práticas engessadas para que seja possível se
abrir para o novo, atendo-se ao que se apresenta no real do cotidiano de
trabalho, vislumbrando possibilidades mais amplas que objetivam uma escuta
cuidadosa, atenta ao sofrimento que não se origina de uma causa única e sem
querer identificar um responsável pela sua existência.
Enfoca-se compreender por quais formas cada indivíduo se constituiu
internamente e os fatores externos associados, determinando uma forma de se
relacionar com o outro e os mundos internos que se multiplicam derivados
disso. É nesse esforço de compreensão que se estabelece efetivamente um
processo psicodiagnóstico com o caráter de uma investigação que não se
encerra em si mesmo, mas que traduz um dado momento de vida do sujeito.
É importante a compreensão de que a Psicologia advém de um campo
da ciência e se insere nas políticas públicas; deve constituir uma prática que
considere o contexto social de sujeitos e coletivos e possa, nesse lugar,
apresentar a interface da Psicologia, considerando a intervenção psicossocial
em equipe multiprofissional.
Considerações Finais