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2. Justificativa
A escolha do tema foi feita com o intuito de compreender o efeito da opinião pública na
formulação e implementação da política externa de Moçambique, com maior interesse
em analisar o que a teoria nos propõe e o que a prática nos mostra. O estudo vem
igualmente preencher um vazio nos estudos sobre a Política Externa de Moçambique,
com uma contribuição que procura perceber o efeito da opinião pública sobre a política
Externa. o papel da opinião pública na política de Moçambique começa a ganhar força a
partir de 1990 com a entrada em vigor da nova constituição que veio a proclamar
valores pluralistas, trazendo transformações de fundo não só para a arena política do
país, como também para a económica. É sabido que a opinião pública apenas tem
enquadramento em sociedades democráticas, onde se valoriza as liberdades essenciais e
direitos individuais. Portanto, para que haja democracia e opinião pública, é necessário
que exista certa homogeneidade social. Quando o povo está fragmentado em facções,
que partilham de ideias adversas sobre as linhas fundamentais e os problemas essenciais
do Estado, e não estão dispostas a se respeitarem mutuamente, não se pode formar a
opinião pública (Torres et al., 2003:263 citado por Manjate,Alves 2020: 115). Como
pudemos ver a o papel da opinião pública na política de Moçambique começa a ganhar
força a partir de 1990 com a introdução da CRM. A partir desse momento começamos a
observar manifestações de vários grupos políticos e organizações não-governamentais.
Alguns com ideias que se alinham às ideias do governo e outros com ideias contrarias
ao governo, mas todos em busca de melhorar o sistema político. De 1990 a 2024 vários
grupos foram formados e, varias manifestações da opinião publica aconteceram,
3. Problematização do tema
O debate sobre a participação da opinião pública na política externa não é de hoje, ela
vem sendo discutida desde a introdução do regime liberal no Estado moderno, de um
lado temos a visão dos liberais, que defendem que a opinião pública não só participa dos
assuntos da política externa como também é capaz de influenciar os tomadores de
decisões. Segundo Nogueira e Messari (2005:65) consideram que “Para os liberais, a
manifestação da opinião pública é um elemento crucial para tornar a política externa de
um Estado mais pacífica. A base desse argumento está na crença dos pensadores dessa
tradição na razão, ou seja, na capacidade de os seres humanos decidirem racionalmente
sobre o que é melhor para a sociedade em seu conjunto.” O argumento de Nogueira e
Messari pode ser reforçado pelo argumento de Mintz e Karl (2010:129) que consideram
que a “política domestica, condições económicas e opinião pública estão entre os
factores internos mais importantes que moldam a tomada de decisões da política
externa.” Como pudemos ver na visão dos liberais a opinião pública é um factor
determinante na definição de política externa racional e moderada o que contribui para a
redução de conflitos, é influenciando os representantes do governo que se influencia as
políticas públicas. Por outro lado temos a visão dos realistas que defendem que a
política externa é feita somente pelos estados e não sofre nenhuma influência da opinião
pública, assumem que a opinião pública não tem carácter emocional estável e racional
para expressar opiniões inteligentes sobre assuntos de política externa. Segundo
Figueira (2011: 170) A influência exercida pela opinião pública em processo de
tomadas de decisões é debate antigo entre cientistas políticos, que dividem opiniões a
respeito do verdadeiro papel que ela possui ou deve possuir em sistemas democrática de
representação. Embora um dos pressupostos da democracia seja a incorporação das
aspirações dos cidadãos nas decisões políticas, muitos autores consideram que a opinião
pública é irracional, volátil e apaixonada, sendo facilmente manipulada por interesses de
minoria organizadas e que portanto, não deve participar ou influenciar em processos
decisórios. O argumento do Figueira é reforçado pelo Pierre Bourdieu citado pelo
próprio Figueira (2011:171) ao assumir que “ A opinião pública é manipulada pelos
meios de comunicação de massa que fazem com que os interesses particulares se
sobreponham aos interesses e as demandas gerais das sociedades.”
Tendo em conta a visão dos liberais e a visão dos realistas sobre a participação da
opinião pública na formulação e implementação da política externa dos Estados, pode se
assumir que Moçambique teoricamente segue a visão dos liberais, como nos é proposto
pela Constituição da República nos artigos 73,74 e 75. Por exemplo segundo o artigo 73
o povo moçambicano exerce o poder político através do sufrágio universal, directo,
igual, secreto e periódico para a escolha dos seus representantes, por referendo sobre as
grandes questões nacionais e pela permanente participação democrática dos cidadãos na
vida da nação. Por sua vez segundo o artigo 74 Os partidos expressão o pluralismo
político, concorrem para a formação e manifestação da vontade popular e são
instrumento fundamental para a participação democrática dos cidadãos na governação
do país. E finalmente segundo o artigo 75 na sua formação e na realização dos seus
objectivos os partidos políticos devem contribuir para a formação da opinião pública,
em particular sobre as grandes questões nacionais.
Como podemos observar Moçambique tem elementos que nos rementem a visão dos
liberais, embora as práticas têm-nos remetido a realidade da visão dos realistas. Com
esta reflexão a pesquisa pretende compreender: como a opinião pública pode influenciar
na formulação e implementação da política externa de Moçambique?
Política Externa
Segundo Sousa (2005:144) A política externa pode ser definida como a actividade pela
qual os Estados agem, reagem e interagem. A política externa é uma actividade de
fronteira cruzando dois ambientes o interno e o externo. Acção dos decisores políticos
situa-se, por isso, na junção destes dois meios, devendo, por isso, gerir os interesses e
oportunidades de ambos. O meio doméstico/interno constitui o pano de fundo, com base
no qual as diretrizes da política externa são delineadas.
Segundo (Rosati,1994:225) citado por Ferreiri, “politica externa é o conjunto de
objectivos, estratégias e instrumentos escolhidos pelos responsáveis governamentais
pela formulação política para responder ao ambiente externo actual e futuro”.
Opinião publica
Segundo Herbert blumer (1971: 184) citado por ruivo, mariana (2015:27). A opinião
publica deve ser entendida como um produto colectivo, porem não constitui uma
opinião unanime com a qual cada membro do publico esta de acordo, não sendo
também, forçadamente a opinião da maioria
Segundo Segundo Boniface (2001) citado por Manjate (2020:117) “a noção de opinião
pública não tem sentido real senão num regime democrático, em que a legitimidade
provém de uma adesão popular expressa nas urnas”.
Nessa definição podemos perceber que o autor reconhece que a politica externa é feita
não só pelos estados, mas por vários actores do sistema internacional, considera as
preferências internas, conjugadas por diversos actores e estruturas, nessa definição
podemos perceber que o autor reconhece que a politica externa é feita por diversos
actores e que a politica externa reconhece a importância das preferências internas,
nessas preferências podemos incluir a opinião publica que segundo Segundo Boniface
(2001) citado por Manjate (2020:117) “a noção de opinião pública não tem sentido real
senão num regime democrático, em que a legitimidade provém de uma adesão popular
expressa nas urnas”. E Moçambique é segundo a constituição da republica um estado
democrático, Segundo Guilamba (2009:16) Do ponto de vista jurídico, Moçambique é
um país cuja Constituição da República garante ser este, um Estado de Direito, baseado
no pluralismo de expressão e organização política democrática; no respeito e garantia
dos direitos e liberdades fundamentais do homem.
Teoria two level games ( jogos dos dois níveis), Robert D.putnam
A politica externa, no jogo dos dois níveis segundo figueira( 2011: 23 e 24)
A interação dinâmica entre os ambientes domestico e o internacional, na compressão da
politica externa foi sistematizada e teorizada de forma percursora por robert putman.
Nessa analise o autor busca tratar de elementos-chave para explicação de como os
negociadores internacionais jogam nas duas arenas (domestica e internacional), tentando
garantir e responder de forma equilibrada aos interesses de autores domésticos ao
mesmo tempo que tem de lhe dar com os constrangimentos e incentivos gerados pelo
sistema internacional.
Também conhecida como modelo dos “jogos dos dois níveis”, a tese de Putman, com a
finalidade de compreender o complexo jogo que envolve as negociações internacionais
e apresenta as variáveis a serem consideras para a avaliação dos dois níveis, no nivel
dois (plano domestico), as preferências dos jogadores, as coalizões domesticas, e as
instituições ganham destaque. Já no nível um (plano externo), a relevância central é
atribuída a estratégia e a barganha dos negociadores no sistema internacional.
O tamanho de win set assim denominada pelo autor a estrutura de ganhos esperados
pelos interlocutores domésticos durante o processo de negociação de acordos
internacionais, depende da distribuição do poder, das preferências dos autores, e das
possíveis coalizões, entre os constituintes do nível dois, alem do tamanho da forca
isolacionista(opositoras a cooperação internacional) e das universalistas que oferecem
suporte aos negociadores em processos internacionais). As coalizões domesticas
reforçam a posição do negociador em âmbito internacional, tornando o acordo mais
vantajoso. Mas há também situações em que acontecimentos internacionais podem
influenciar de maneira significativa a alteração das preferências internas, denominadas
concetualmente pelo autor como linkages cinergeticos. No entanto, ressalta-se a não
sobreposição de um nível sobre ao outro, pois ambos influenciam e são influenciados
mutuamente.
Contudo, o importante a reter é que todo tipo de interação entre os actores de relações
internacionais envolve um constante processo de escolhas, ou seja, um processo de
tomada de decisão. Em Estados democráticos, é direito do povo influenciar e/ou
participar em todo processo decisório; e sendo a Política Externa a área mais sensível da
política pública, pois é a projeção da política doméstica no meio externo, a participação
do povo deve ser sempre tomada em consideração. ( Manjante, Alves 2011:103)